A) Um tal home sei eu, ai bem talhada, que por vós tem a sa morte

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A)
Um tal home sei eu, ai bem talhada,
que por vós tem a sa morte chegada;
vedes quem é (e seed' ém nembrada):
eu, mià dona.
Um tal home sei [eu] que preto sente
de si [chegad' a] morte certamente;
vedes que[m] é ([e] venha-vos em mente):
eu, mià dona.
Um tal home sei [eu], aquest' oíde,
que por vós morr', e vó-lo [ém] partide;
vedes que[m] é ([e] nom xe vos obride):
eu, mià dona. (Dom Dinis)
B)
Sobre vós, senhora, eu quero dizer verdade
Sobre vós, senhora, eu quero dizer verdade
e não já sobre o amor que tenho por vós:
senhora, bem maior é vossa estupidez
do que a de quantas outras conheço no mundo
tanto na feiúra quanto na maldade
não vos vence hoje senão a filha de um rei
Eu não vos amo nem me perderei
de saudade por vós, quando não vos vir.
(Pero Larouco)
C)
Conheceis uma donzela
por quem trovei e a que um dia
chamei de Dona Beringela?
nunca tamanha porfia
vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enjoado,
assim o céu me defenda:
um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
quanto mais achar-se pode,
pela Virgem gloriosa!
um homem que cheira a bode
e cedo morra na forca
quando lhe cerrava a boca
chamou-lhe Dona Gondrode. (Dom Afonso Sanches)
D) Ben me cuidei eu, María García,
en outro día, quando vos fodí,
que me non partiss'eu de vós assí
como me partí ja, mão vazía,
vel por serviço muito que vos fiz;
que me non destes, como x'homen diz,
sequer un soldo que ceass'un día.
Mais desta seerei eu escarmentado
de nunca foder ja outra tal molher,
se m'ant'algo na mão non poser,
ca non hei por que foda endoado;
e vós, se assí queredes foder,
sabedes como: ide-o fazer
con quen teverdes vistid'e calçado.
Ca me non vistides nen me calçades
nen ar sej'eu eno vosso casal,
nen havedes sobre min poder tal
por que vos foda, se me non pagades;
ante mui ben e máis vos én direi:
nulho medo, grado a Deus e a el-Rei,
non hei de força que me vós façades.
E, mia dona, quen pregunta non erra;
e vós, por Deus, mandade preguntar
polos naturaes deste logar
se foderan nunca en paz nen en guerra,
ergo se foi por alg'ou por amor.
Id'adubar vossa prol, ai, senhor,
c'havedes, grad'a Deus, renda na terra.
( Afonso Eanes de Coton)
Ai, flores, ai, flores do verde pino
Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
Ai, Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai, Deus, e u é? ( Don Dinis)
RENASCIMENTO
"A experiência é a madre de todas as cousas,
per ela soubemos radicalmente a verdade...“
Torre de Belém (1514-1520), Francisco Arruda, Lisboa
MAR PORTUGUÊS (Fernando Pessoa)
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
http://www.youtube.com/watch?v=SVu1C7E4bIA&feature=fvwrel
http://www.youtube.com/watch?v=-uHpVfstnfY&feature=related
O Renascimento em Portugal refere-se à influência
e evolução do Renascimento em Portugal, de
meados do século XV a finais do século XVI.
O movimento cultural que assinalou o final
da Idade Média e o início da Idade Moderna foi
marcado por transformações em muitas áreas da
vida humana.
Embora o Renascimento italiano tenha tido um
impacto modesto na arte, os portugueses foram
influentes no alargamento da visão do mundo
dos europeus, estimulando a
curiosidade humanista.
Como pioneiro da exploração europeia, Portugal
floresceu no final do século XV com as
navegações para o oriente, auferindo lucros
imensos que fizeram crescer a burguesia
comercial e enriquecer a nobreza, permitindo
luxos e o cultivar do espírito. O contacto com o
Renascimento chegou através da influência de
ricos mercadores italianos e flamengos que
investiam no comércio marítimo. O contato
comercial coma França, Espanha e Inglaterra era
assíduo, e o intercâmbio cultural se intensificou.
O crescimento das cidades permitiu o
desenvolvimento de atividades como o
comércio, artesanato e a ciência. Invenções
como a pólvora, o relógio e o mapa-múndi
aproximaram o ser humano das leis da natureza,
desvendando-a e criando uma imagem crítica
sobre ela. O início do Renascimento mostrou,
além de uma crítica ao modo de viver da idade
gótica, uma volta à antiguidade romana feita
pelos humanistas, baseada no princípio de que o
homem deveria ser "a medida de todas as
coisas".
Esse novo estilo, baseado em pensamentos
humanistas, transformou os artistas, antes
anônimos e considerados servos, em senhores,
conhecedores da arte. Assim, quando em 1436
com o término da construção da cúpula da
catedral de Florença, projetada por Fillipo
Brunelleschi, o período Gótico dava lugar a um
novo período, o Renascimento.
OS ARTISTAS MAIS FAMOSOS DO
RENASCIMENTO
http://www.youtube.com/watch?v=xib3Y0bZR
do
RENASCIMENTO PORTUGUÊS
Como pioneiro da exploração europeia, Portugal floresceu no final do século XV
com as navegações para o oriente, auferindo lucros imensos que fizeram crescer
a burguesia comercial e enriquecer a nobreza, permitindo luxos e o cultivar do
espírito. O contacto com o Renascimento chegou através da influência de ricos
mercadores italianos e flamengos que investiam no comércio marítimo. O
contato comercial com a França, Espanha e Inglaterra era assíduo, e o
intercâmbio cultural se intensificou.
Terra Brasilis de Lopo Homem ePedro Reinel
Em 1475 fora impressa pela primeira vez uma tradução
em latim da Geographia de Ptolomeu (século II),
ilustrada com mapas derivados das suas informações,
adoptada como a referência clássica na geografia. Mas
a exploração portuguesa cedo revelou lacunas no
conhecimento clássico: em 1488, ao passar o Cabo da
Boa Esperança, Bartolomeu Dias provou errada a visão
de Ptolomeu, de que não havia passagem para o
Índico. Em 1492, após a estadia Portugal, Martin
Behaim construiu em Nuremberga o primeiro globo
terrestre conhecido e partilhou com o médico e
humanista Hieronymus Münzer as últimas novidades
em matéria de descobrimentos marítimos: África tinha
forma peninsular, Europa e Ásia estavam separadas por
um único oceano. Visão que nesse ano Cristovão
Colombo testou, inspirado nas cartas do
florentino Toscanelli ao rei de Portugal em 1472.
CLASSICISMO
Em Arte, o Classicismo refere-se, geralmente à
valorização da Antiguidade Clássica como
padrão por excelência do sentido estético, que
os classicistas pretendem imitar. A arte
classicista procura a pureza formal, o
equilíbrio, o rigor - ou, segundo a
nomenclatura proposta por Friedrich
Nietzsche: pretende ser mais apolínea que
dionisíaca.
Características gerais do Classicismo
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Individualismo
Universalismo
Racionalismo
Antropocentrismo
Paganismo
Neoplatonismo
Estudo, imitação e emulação da cultura grega
Fusionismo: mitologia pagã e cristã
Simplicidade, clareza e concisão
Equilíbrio, harmonia e senso de proporção (Rigor e perfeição formal)
Mimese = (imitação da Natureza: Aristóteles)
Soneto (2 Quartetos e 2 Tercetos)
Versos Com Até 10 Sílabas Métricas (Estilo doce novo & Medida nova)
Rimas consoantes, por vezes até ricas
Luís Vaz de Camões .1524 —
Lisboa, 10 de junho de 1580) foi
um poeta de Portugal, considerado
uma das maiores figuras
da literatura em língua portuguesa e
um dos grandes poetas do ocidente.
A POESIA LÍRICA
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
http://www.youtube.com/watch?v=ZVhVGJq8pWI
http://www.youtube.com/watch?v=ctAWPmcHoF8
http://www.youtube.com/watch?v=AKqLU7aMU7
M
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
no Mundo grandes tormentos;
e pera mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
assim que, só pera mim,
anda o Mundo concertado.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce
canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte".
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver
desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
Os Lusíadas é considerada
a epopeia portuguesa por excelência. O
próprio título já sugere as suas intenções
nacionalistas, sendo derivado da antiga
denominação romana de
Portugal, Lusitânia. É um dos mais
importantes épicos da época moderna
devido à sua grandeza e universalidade.
A epopeia narra a história de Vasco da
Gama e dos heróis portugueses que
navegaram em torno do Cabo da Boa
Esperança e abriram uma nova rota para
a Índia. É uma epopeia humanista,
mesmo nas suas contradições, na
associação da mitologia pagã à visão
cristã, nos sentimentos opostos sobre a
guerra e o império, no gosto do repouso
e no desejo de aventura, na apreciação
do prazer sensual e nas exigências de
uma vida ética, na percepção da
grandeza e no pressentimento do
declínio, no heroísmo pago com o
sofrimento e luta.[O poema abre com os
célebres versos:
PROPOSIÇÃO
As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
.....
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte
INVOCAÇÃO
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
DEDICATÓRIA
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor supremo,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
NARRAÇÃO
O Velho do Restelo
Mas um velho d'aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito
—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
EPÍLOGO
Final d'Os Lusíadas- após um
momento de desalento quanto
ao estado da nação, Camões
dirige-se a D. Sebastião
recomendando-lhe os súditos
em geral, as classes que mais
diretamente contribuem para o
projeto imperial em particular e,
finalmente, a si próprio e a sua
Arte.
Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.
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