Riscos ao adentrar em subestação elétrica sem cuidados básicos com a segurança Autora Patrícia Lins de Paula, revisado por Marcelo Jucá Uma subestação elétrica abrigada, como as presentes em prédios comerciais, independente do nível de tensão, mantém em sua instalação diversos painéis, equipamentos e dispositivos elétricos, com a finalidade de proteger, monitorar, seccionar ou distribuir a energia elétrica através de circuitos elétricos na instalação. A simples existência destes painéis, equipamentos e dispositivos elétricos energizados instalados na subestação é suficiente para criação de campos elétricos e magnéticos, que em alguns casos é inclusive responsável pelo funcionamento dos equipamentos (como o campo magnético girante induzido das correntes que fluem pelos enrolamentos do estator de um motor elétrico trifásico ou o fluxo magnético inerente à magnetização de um núcleo de transformador). Estes campos dos equipamentos inclusive se influenciam mutuamente, razão pela qual a adoção de medidas de proteção para promover a compatibilidade eletromagnética entre eles se fazem necessárias. Afinal, segundo a Lei de Biot-Savart, comprovado pelo experimento de Oersted, dado um condutor energizado (através do qual flui uma corrente elétrica alternada) é formado um campo magnético em seu entorno. Neste ínterim, mesmo uma simples inspeção visual ou visita técnica na subestação representa por si só risco para o observador ao adentrar a sala elétrica, pois, há perigos inerentes à própria instalação existente, mesmo que a própria ação não compreenda riscos adicionais por não ser prevista a intervenção nas instalações elétricas. Um exemplo deste perigo da instalação é a existência de um barramento energizado não blindado que alimente eletricamente um transformador de potência; este condutor ioniza o ar, alterando as propriedades dielétricas do mesmo ao seu derredor, favorecendo a ocorrência de arcos elétricos. Essa é inclusive uma das razões pelas quais é proibido adentrar salas elétricas portando quaisquer adornos metálicos, que funcionam como uma extensão – condutora - do seu corpo (como chaves, correntes, brincos, argolas, relógios, adereços metálicos nos cabelos, anéis, pulseiras) e foi uma das causas imediatas de um acidente ocorrido na Petrobras em 2009, resultando em morte de um engenheiro da Companhia. Usar botas isolantes ao adentrar salas elétricas é essencial. Cuidados comportamentais adicionais ao adentrar uma subestação são igualmente necessários, como evitar apontar para instalações e equipamentos; isso porque num condutor, as cargas tendem a se espalhar uniformemente pela superfície, e em especial em regiões pontiagudas, a densidade superficial das cargas elétricas é maior do que em regiões planas ou arredondadas, o que é conhecido como poder das pontas, e é o princípio básico da operação dos para-raios. Outro cuidado importante é não tocar na carcaça metálica dos equipamentos, mesmo julgando-os aterrados. Outro perigo inerente à instalação de uma subestação é o risco real de formação de arco no ar, principalmente uma vez que suas propriedades dielétricas estejam comprometidas, como em dias mais úmidos. As ocorrências de pequenos arcos no interior dos equipamentos são previstas na sua operação normal, sobretudo nas partes onde ocorrem seccionamento de contatos elétricos, como câmaras de extinção de arco de disjuntores de média tensão; nestas seções do equipamento, geralmente imersas em meio isolante, como SF6, vácuo, óleo isolante ou até mesmo o ar, ocorrem as chamadas descargas parciais, pois quando é aplicada uma tensão aos terminais de uma carga isolada, irão ocorrer “descargas” na abertura do disjuntor em carga ou em curto-circuito. Até mesmo quando tratamos de condutores elétricos é necessário ter cautela, como os cabos elétricos com isolação em EPR/HEPR/PVC/XLPE; é sabido que a disposição física dos condutores altera o fluxo magnético das linhas de campo inerentes ao condutor (em caso de dobras em cabos, enrolamentos de cabos), assim como as interações eletromagnéticas entre eles (no caso de não estarem dispostos em trifólio, ou com espaçamento regular). Além disso, descontinuidades ou falhas na isolação dos cabos podem representar perigo adicional se houver contato inadvertido com partes elétricas energizadas. Para que se tenha uma idéia mais clara da real utilidade das interações eletromagnéticas, existem manutenções preditivas realizadas em equipamentos elétricos como os motores elétricos, que compreende analisar a assinatura elétrica dos equipamentos, através de uma técnica não invasiva são utilizadas leituras de tensão e corrente para detectar falhas como: assimetrias ou desalinhamentos rotóricos e estatóricos, distorções em excitações elétricas, análise de THD (Distorção Harmônica Total). Assim, um desalinhamento mecânico no eixo do motor ou falhas na isolação mudam as interações eletromagnéticas do equipamento, como o fluxo no entreferro (air gap), o que pode ocasionar até sobreaquecimentos e perdas no equipamento. Ainda em se tratando de cabos, devido à influência de fatores ambientais como umidade e contato com produtos químicos, ocorre nestes o fenômeno chamado arborescência elétrica que compreende a degradação das propriedades isolantes dos condutores. Mesmo para os casos em que estejam implementadas na prática as condições de equipotencialização e aterramento de massas metálicas, pelo fato de não haver como assegurar, numa visita técnica local, a continuidade e integridade destas conexões, não há garantia absoluta que ao tocar estas massas não há o risco do choque elétrico. Por isso a premissa de segurança da Companhia sempre válida: Teste antes de tocar. E em especial para os casos de inspeção visual e visita técnica na subestação, vale a premissa: Não toque ou se encoste em nada. Além de todos esses perigos, embora menos frequente, tem-se o de choque elétrico por tensão de passo, que compreende a passagem de corrente pelo corpo devido à diferença de potencial elétrico formada entre os dois pés do indivíduo, quando no solo há a formação curvas equipotenciais de níveis diferentes, por descargas elétricas absorvidas pela malha de aterramento da subestação devido a descargas atmosféricas ou curtocircuitos no sistema elétrico. Por fim, o conhecimento dos raios de delimitação de zonas de risco, controlada e livre, previstos na NR-10 é imprescindível, mesmo que na subestação não haja a informação visual destes limites no piso. É importante manter sempre uma distância segura dos equipamentos, transitando pela área livre (na prática, a partir de 1,4 m da fonte de risco, para níveis de tensão até 15 kV, é uma distância segura). Tabela de raios de delimitação de zonas de risco, controlada e livre. Figura 1 - Distâncias no ar que delimitam radialmente as zonas de risco, controlada e livre Figura 2 - Distâncias no ar que delimitam radialmente as zonas de risco, controlada e livre, com interposição de superfície de separação física adequada. ZL = Zona livre ZC = Zona controlada, restrita a trabalhadores autorizados. ZR = Zona de risco, restrita a trabalhadores autorizados e com a adoção de técnicas, instrumentos e equipamentos apropriados ao trabalho. PE = Ponto da instalação energizado. SI = Superfície isolante construída com material resistente e dotada de todos dispositivos de segurança. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segurança é um compromisso de todos. Não adentre locais restritos sem autorização ou com desconhecimento dos perigos da instalação. Informe-se com o Setor de Segurança e Saúde, que está à disposição para assessorar a força de trabalho nestas questões. Na dúvida, abstenha-se.