A Sociologia de Durkheim (1858-1917) “(...) cada indivíduo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade tem todo interesse em que essas funções se exerçam regularmente. Assim, se estes fatos não fossem sociais, a sociologia não teria um objeto que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir-se-ia com os da biologia e da psicologia. Mas na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado de fenômenos que se distinguem por características distintas dos estudados pelas outras ciências da natureza. Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou cidadão, quando satisfaço os compromissos que contraí, cumpro deveres que estão definidos, para além de mim e dos meus atos, no direito e no costume. Mesmo quando eles estão de acordo com os meus próprios sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta não deixa de ser objetiva, pois não foram estabelecidas por mim, mas sim recebidas através da educação (...) os fiéis, quando nascem, encontram já feitas as crenças e práticas de sua vida religiosa: se elas existiam antes deles é porque existiam fora deles. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema monetário que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha profissão etc. funcionam independentemente do uso que deles faço. Tomando um após outro todos os membros de que a sociedade se compõe, pode repetir-se tudo o que lhe foi dito, a propósito de cada um deles. Estamos pois em presença de modos de agir, de pensar e sentir que apresentam na notável propriedade de existir fora das consciências individuais.” (Durkheim - As regras do Método Sociológico) “(...) maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, não poderiam ser confundidos com fenômenos orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem com os fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos indivíduos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais.” (Durkheim- idem) 2 I- Introdução David Émile viveu em uma época marcada por acontecimentos históricos que marcaram profundamente a nação francesa tais como a derrota de Sedan (1º de setembro de 1870); a, a capitulação diante das tropas alemãs (28 de janeiro de 1871); a insurreição da Comuna de Paris (18 de março a 28 de maio de 1871); a proclamação da chamada “III República”, com a formação do governo provisório de Thiers até a votação da Constituição de 1875 e a eleição do seu primeiro presidente (Mac-Mahon). Thiers fora encarregado tanto de assinar o tratado de Frankfurt como de reprimir os communards, até à liquidação dos últimos remanescentes. Por outro lado, a vida de David Émile foi marcada pela disputa franco-alemã: em 1871, com a perda de uma parte da Lorena, sua terra natal tornou-se uma cidade fronteiriça; com o advento da Primeira Guerra Mundial, ele viu partir para o front numerosos discípulos seus, alguns dos quais não regressaram, inclusive seu filho Andrès, que parecia destinado a seguir a carreira paterna. Tais acontecimentos, por certo, influenciaram a obra de Durkheim. O ambiente histórico foi, por vezes, assinalado por ele de “vazio moral da III República”, marcado seja pelas conseqüências diretas da derrota francesa e das dívidas humilhantes da guerra, seja por uma série de outros temas políticos, dentre os quais a lei Naquet, que instituiu o divórcio na França (1884), após longos debates e a introdução da educação laica questão levantada na Assembléia em 1879, por Jules Ferry, encarregado de implantar o novo sistema, como Ministro da Instrução Pública, em 1882. Foi quando a escola se tornou gratuita para todos, obrigatória dos 6 aos 13 anos, além de ficar proibido formalmente o ensino da religião. O vazio correspondente à ausência do ensino de religião na escola pública tenta-se preencher com uma pregação patriótica representada pela disciplina que ficou conhecida como “instrução moral e cívica”. Outro tema importante, também de notáveis repercussões políticas era a denominada “questão social”, ou, em outras palavras, as disputas e conflitos decorrentes da oposição entre o capital e o trabalho (burguesia e proletariado). Um marco dessa questão foi a criação, em 1895, da Confédération Générale du Travail (CGT). A bipolarização social preocupava profundamente tanto a políticos como a intelectuais da época, assumindo, muitas vezes, uma dimensão perturbadora. Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita nas instituições e o quanto valoriza o papel do Estado, tendo destacado suas funções. Isto o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental: o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras, sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da 3 criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência, inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia. Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de “Socialização”, a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse “tudo” ele chamou de “Fatos Sociais”, e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia. Durkheim acreditava que as sociedades têm prioridade lógica sobre os indivíduos, porque se a solidariedade mecânica precede a solidariedade orgânica, não se pode explicar a diferenciação social a partir dos indivíduos, pois a consciência de individualidade não pode existir antes da solidariedade orgânica e da divisão do trabalho social. Acreditando em duas formas de solidariedade social podem ser constatadas: A Solidariedade mecânica típica das sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. A solidariedade orgânica, característica das sociedades complexas, onde, através da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições etc. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes e necessários, como os órgãos de um ser vivo. Assim, continuava dando efeito na divisão do trabalho não um aumento da produtividade, mas a solidariedade que continuaria a gerar entre os homens.Durkheim deixa claro que, o importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica interiorizada e não meramente mecânica. Daí que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade, e não a coletividade pelos fenômenos individuais. Onde a divisão do trabalho ser um fenômeno social que só pode ser explicado por outro fenômeno social, como a combinação do volume, densidade material e moral de uma sociedade, sendo que o único grupo social que pode proporcionar a integração dos indivíduos na coletividade é a corporação profissional. Ao final do século XIX e começo do século XX, de qualquer maneira, foram marcados por uma certa euforia e crença desmedida nas virtudes do “progresso”. Foi um período de grande esperança no futuro. Mesmo que os êxitos econômicos não permitissem esquecer as sucessivas crises, as inovações tecnológicas da época provocavam repercussões imediatas. Foi a era do aço e da eletricidade, do 4 início do aproveitamento do petróleo, formas de energia que contrastavam com o carvão e que descortinavam novos horizontes. Muitas outras invenções, como o avião, o submarino, o cinema, o automóvel, impressionavam a todos. As rotativas e o linotipo, por seu turno, barateavam o custo dos impressos e permitiam atingir públicos cada vez maiores. Tudo isso refletia um avanço da ciência, marcada pelo advento da teoria dos quanta, da relatividade, da radioatividade, da teoria atômica, além do progresso em outros setores mais diretamente voltados à aplicação, como a das ondas hertzianas, das vitaminas, do bacilo de Koch, das vacinas de Pasteur etc. Surgem, no mesmo período, medidas tendentes a aumentar a produtividade do trabalho, como o “taylorismo” (1912). Também a Igreja se volta para o problema, com a encíclica Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, que difunde a idéia de que o proletariado poderia deixar de ser revolucionário na medida em que se tornasse proprietário. É a chamada “desproletarização” que se objetiva, tentada através de algumas "soluções milagrosas", tais como o cooperativismo, corporativismo, participação nos lucros etc. Pretende-se, por várias maneiras, contornar a questão social e eliminar a luta de classes, espantalhos do industrialismo. Enfim, estamos diante do “espírito moderno”. Na École Normale Supérieure, o jovem David Émile tivera oportunidade de assistir às aulas de Boutroux, que assinala os principais traços característicos dessa época: progresso da ciência (não mais contemplativa, mas agora transformadora da realidade), progresso da democracia (resultante do voto secreto e da crescente participação popular nos negócios públicos), além da generalização e extraordinário progresso da instrução e do bem-estar. Como corolário desses traços, o mestre neokantiano ressalta as correntes de idéias derivadas, cuja difusão viria encontrar eco na obra de Durkheim: aspira-se à constituição de uma moral realmente científica (o progresso moral equiparando-se ao progresso científico); a moral viria a ser considerada como um setor da ciência das condições das sociedades humanas (a moral é ela própria um fato social) ; a moral se confunde enfim com civilização o povo mais civilizado é o que tem mais direitos e o progresso moral consiste no domínio crescente dos povos cuja cultura seja a mais avançada. Durkheim nasceu em Épinal, Departamento de Vosges, que fica exatamente entre a Alsácia e a Lorena, a 15 de abril de 1858. Morreu em 1917. De família judia, seu pai era rabino e ele próprio teve seu período de misticismo, tornando-se porém agnóstico após a ida para Paris. Durante os anos em que ensinou Filosofia em escolas da província, volta seu interesse para a Sociologia. A França, apesar de ser, num certo sentido, a pátria da Sociologia, não oferecia ainda um ensino regular dessa disciplina, que sofreu tanto a reação antipositivista do fim do século como uma certa confusão com o socialismo (havia uma certa concepção de que a Sociologia constituía uma forma “científica” de socialismo). 5 Apesar de certa familiaridade com a literatura filosófica e sociológica alemã, Durkheim não chegou a tomar conhecimento da obra de Weber – e foi por este desconhecido também. Isto não impede a Nisbet de dizer que Durkheim, em companhia de Weber e Simmel, tenha sido responsável pela reorientação das ciências sociais no século XX. Achava-se, portanto, plenamente habilitado para iniciar sua carreira brilhante de professor universitário, ao ser indicado para ministrar as aulas de Pedagogia e Ciência Social na Faculté de Lettres de Bordeaux, de 1887 a 1902. Foi este o primeiro curso de Sociologia que se ofereceu numa universidade francesa, tendo sido, pelo prestígio que lhe emprestou Durkheim, transformado em chaire magistrale em 1896. Aí o jovem mestre encontrou condições adequadas para produzir o grosso de sua obra, a começar por suas teses de doutoramento. A tese principal foi “Sobra a divisão do trabalho social” (De la division du travail social), que alcançou grande repercussão e foi publicada em 1893. Logo após, em 1895, publicou As Regras do método sociológico” (Les régles de la méthode sociologique) e, apenas dois anos depois, “ O Suicídio” (Le suicide). Assim, num período de somente seis anos, foram editados praticamente três quartos da obra sociológica de Durkheim, o que demonstra uma extraordinária fecundidade teórica. Surpreende em sua trajetória intelectual não só sua fecundidade, mas, sobretudo, o fato de ter produzido suas obras mais importantes em um período onde era relativamente jovem. Tinha se deslocado para Bordeaux aos 30 anos incompletos e, no decorrer de uma década, já havia feito o suficiente para se tornar o mais notável sociólogo francês, depois que Comte criara esta disciplina (é preciso não esquecer que, em sua época, prestígio intelectual era algo exclusivo dos mais velhos). O tema da solidariedade constitui o ponto de partida de sua teoria sociológica. Suas primeiras questões são: como pode um grupo de indivíduos formar uma sociedade? Como se chega a esta condição social que é o consenso? Quando chega a Paris, é nomeado assistente de Buisson na cadeira de Ciência da Educação na Sorbonne, em 1902. Quatro anos após, com a morte do titular, assume esse cargo. Mantém a orientação laica imprimida por seu antecessor, mas em 1910 consegue transformá-la em cátedra de Sociologia que, pelas suas mãos, penetra assim no recinto tradicional da maior instituição universitária francesa, consolidando pois o status acadêmico dessa disciplina. Suas aulas na Sorbonne transformaram-se em verdadeiros acontecimentos, exigindo um grande anfiteatro para comportar o elevado número de ouvintes, que afluíam por vezes com uma hora de antecedência para obter um lugar de onde se pudesse ver e ouvir o mestre, já então definitivamente consagrado. O ambiente intelectual foi para Durkheim o mesmo que a água para o peixe, o que ele herdou de seu pai e transmitiu aos seus filhos. Seu filho, morto na guerra, preparava um ensaio sobre Leibniz. Sua filha casou-se com o historiador Halphen. Seu sobrinho Marcel Mauss tornou-se um dos grandes antropólogos, colaborador e co-autor de “De quelques formes primitives de classification”. A família 6 praticamente se estende aos seus discípulos, que se notabilizaram nos estudos sobre a Grécia (Glotz), os Celtas (Hubert), a China (Granet), o Norte da África (Maunier), o direito romano (Declareuil). Os mais numerosos tornam-se membros da que ficou conhecida como Escola Sociológica Francesa: além de Mauss, Fauconnet, Davy, Halbwachs, Simiand, Bouglé, Lalo, Duguit, Darbon, Milhau etc. etc. II – Sua obra Durkheim tratava a Sociologia como “uma ciência essencialmente francesa”, dado seu nascimento com Augusto Comte. Mas, morto o mestre, a atividade intelectual sociológica de seus discípulos foi sobrepujada pelas preocupações políticas. E a Sociologia imobilizou-se durante toda uma geração na França. Durkheim é severo no julgamento do período que o antecedeu de imediato: fala mesmo de uma “acalmia intelectual que desonrou o meado do século e que seria um desastre para a nação”. O revigoramento da Sociologia se teria iniciado com Espinas, que introduziu o organicismo na França, ao mostrar que as sociedades – organismos distintos dos puramente físicos – são organizações de idéias. Mas para Durkheim tais formulações são próprias de uma “fase heróica”, em que os sociólogos procuravam abranger na Sociologia todas as ciências. “É tempo de entrar mais diretamente em relação com os fatos, de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e sua especificidade, a fim de diversificar os próprios problemas, de os determinar e aplicar-lhes um método que seja imediatamente apropriado à natureza especial das coisas coletivas”. Nada disso podia fazer o organicismo, que não oferecera uma lei sequer. Sua preocupação foi orientada pelo fato de que a noção de lei estava sempre ausente dos trabalhos que visavam mais à literatura e à erudição do que à ciência: “A reforma mais urgente era pois fazer descer a idéia sociológica nestas técnicas especiais e, por isso mesmo, transformá-las, tornando realidade as ciências sociais” 7 A superação dessa “metafísica abstrata” exigia um método, tal como o fez em “As Regras do Método sociológico”. Mas estas não surgiram de abstrações: “desses filósofos que legiferam diariamente sobre o método sociológico, sem ter jamais entrado em contato com os fatos sociais. Assim, somente depois que ensaiamos um certo número de estudos suficientemente variados, é que ousamos traduzir em preceitos a técnica que havíamos elaborado. O método que expusemos não é senão o resumo da nossa prática”. A tarefa a que se propôs era, pois, conscientemente da maior envergadura. Ela se tornou possível no final do século XIX devido à "reação científica" que estava ocorrendo. Nesse sentido, a França retoma seu papel preponderante no desenvolvimento da Sociologia. Dois fatores favoreciam isso: primeiro, o acentuado enfraquecimento do tradicionalismo e, segundo, o estado de espírito nacionalista. A França era o país de Descartes e, apesar de sua concepção ultrapassada de racionalismo, para superá-lo era mais importante ainda conservar os seus princípios : “Devemos empreender maneiras de pensar mais complexas, mas conservar esse culto das idéias distintas, que está na própria raiz do espírito francês, como na base de toda ciência”. Eis-nos portanto diante de um renascimento do iluminismo, na figura desse Descartes moderno que foi Émile Durkheim. Sobre o crime e a anomia Numa primeira fase, a criminologia debruçou-se sobre a pessoa do delinqüente, servindo-se de métodos próprios da biologia e da psiquiatria — aquilo que alguns autores designaram por “criminologia clínica”. Numa fase mais avançada da reflexão criminal, o criminólogo deslocou o seu estudo para o meio social onde se gerou a prática delitiva — a acentuação deste aspecto da criminologia deu lugar à sociologia criminal que apareceu também como um novo ramo da sociologia. A partir do momento em que se compreende que não existe sociedade sem crime, não só não é concebível uma sociologia que ignore este fenômeno, como não é possível estudar o crime, considerado em abstrato, sem evocar o meio social onde se desenvolve. A obra de Durkheim deve uma grande parte da sua importância ao fato de ter compreendido esta relação entre o crime e a sociedade numa altura em que as escolas positivas se refugiavam por detrás das concepções individualistas. Este autor compreendeu que a sociedade não era simplesmente o produto da ação e 8 da consciência individual, pelo contrário, “as maneiras coletivas de agir e de pensar têm uma realidade exterior aos indivíduos que, em cada momento do tempo, a elas se conformam e, mais que isso, “são não só exteriores ao indivíduo, como dotados dum poder imperativo e coercivo em virtude do qual se lhe impõem”. O tratamento do crime como um fato social, de caráter normal e até necessário, permitir-lhe-á reabilitar cientificamente o fenômeno criminal e demonstrar que a prática de um crime poderá depender não tanto do indivíduo que, de acordo com esta concepção, age e pensa sob a pressão dos múltiplos constrangimentos que se desenvolvem na sociedade mas, diversamente, poderá apresentar em abstrato uma ampla raiz de imputação social. A consideração sociológica da anomia, que etimologicamente não significa senão “ausência de normas”, apesar dos vários desenvolvimentos que conheceu, em Merton, Cloward, Ohlin, Parsons, Dubin e Opp, remonta aos estudos desenvolvidos por Durkheim, particularmente em “A Divisão do Trabalho Social” e em “O Suicídio”. O fato de o ser humano não viver num ambiente de eleição, mas sujeito a uma ordem “imposta”, permite a Durkheim formular a sua concepção da anomia e estabelecer as condições da produção do crime. Para Durkheim, o crime é tão-somente a transgressão do que se estabeleceu como norma em uma sociedade determinada. Neste sentido, Sócrates foi um criminoso – em sua época e em sua sociedade, assim como um assaltante o é modernamente. Para ele a punição do criminoso não tem a função de desencorajar a prática do delito (dissuasão), mas sim prestar um tipo de satisfação á consciência comum das pessoas que, diante da punição, sentem-se respeitadas pelo Estado. Em sua concepção, o crime é sociologicamente uma ocorrência normal em qualquer sociedade, não uma aberração, ou um resultado de sociopatias. Sobre o Suicídio Durkheim não é um “contratualista”. Ele acredita que nas sociedades as pessoas firmam contratos e exercitam suas vontades, mas que o fazem mediante um extraordinário constrangimento social. Os fatos sociais são coercitivos e mais fortes que os indivíduos. Durkheim produziu um estudo que exerceu um forte impacto em sua época sobre o tema do suicídio. Com este tema, procurou, primeiro, demonstrar que a felicidade entre os seres humanos não aumentava necessariamente por conta do aumento da produção de bens matérias e com o progresso. Mas com o estudo, queria, fundamentalmente, provar que o suicídio – aparentemente um fenômeno individual, que só poderia ser compreendido por razões psicológicas – obedecia a determinadas regularidades e era, de fato, um fenômeno social. Pela observação de estatísticas oficiais, ele observou que o suicídio era mais freqüente nas comunidades protestantes que nas comunidades católicas, fenômeno que explicou através da noção de integração religiosa. No mesmo sentido, Durkheim 9 verificou que o suicídio ocorria menos entre os indivíduos casados que entre os celibatários, viúvos e divorciados, situação que, segundo ele, se explicaria através da noção de integração familiar. Neste trabalho, notou ainda que a taxa de suicídios diminuía em períodos de grandes acontecimentos políticos, como nas guerras, por exemplo, períodos em que aumentava a coesão sócio-política em torno da idéia de nacionalidade. A partir destas observações, o sociólogo francês pôde assim concluir que o suicídio variava na razão inversa do grau de integração da sociedade religiosa, familiar e política. As causas do suicídio não estão, portanto, nos indivíduos – e naquilo que eles declaram no momento desesperado em que abraçam a morte. Os indivíduos apenas sucumbem à tendência suicidogênea disseminada na sociedade enquanto um estado geral, isto é, como um fator exterior aos indivíduos e independentes deles. Em suas palavras: “As razões com que se justificam o suicídio ou que o suicida arranja para si próprio para explicar o ato, não são, na maior parte das vezes, senão as causas aparentes. Não só não são senão as repercussões individuais de um estado geral, mas exprimem-no muito infielmente, dado que permanecem as mesmas e que ele difere. Estas razões marcam, por assim dizer, os pontos fracos do indivíduo, através dos quais a corrente que vem do exterior para incitá-lo a destruir-se se introduz mais facilmente”. Em suma, são as condições sociais que explicam, por exemplo, que o fenômeno suicida se manifeste diferentemente nas diversas sociedades . Isto explica também porque o número de mortos voluntários e a sua distribuição entre as diversas faixas etárias e grupos sociais se mantém constantes em cada sociedade específica e que só se modifique este quadro quando mudam as condições sobre as quais se sustenta a sociedade. A relação entre o indivíduo e a sociedade determina as correntes suicidogêneas. “Eis portanto o ponto essencial em que divergem as opiniões do clínico e do sociólogo. O primeiro só vê os casos particulares, isolados uns dos outros. Assim, constata muitas vezes que a vítima era um nervoso ou um alcoólico e explica o ato por um destes estados psicopáticos. Num certo sentido tem razão; porque, se o sujeito se matou mais cedo do que os seus vizinhos, é freqüentemente por este motivo. Mas não é por este motivo que, de uma maneira geral, há indivíduos que se matam, nem, sobretudo, é por este motivo que se matam, em cada sociedade, e num espaço de tempo determinado, um número definido de indivíduos. A causa produtora do fenômeno escapa necessariamente a quem só observa os indivíduos; porque ela é exterior aos indivíduos. Para a descobrir é necessário ir além 10 dos suicídios particulares e aperceber o que determina a unidade destes” (Durkheim) Durkheim identificou em sua obra três tipos de suicídio: Egoísta- quando as pessoas não estão integrados em um grupo social, vivem isoladas e alimentam desejos irrealizáveis Altruísta – casos onde as pessoas põe fim a suas vidas por uma razão que acreditam boa para outros. A viúva indiana que aceita ser queimada com o corpo do marido morto – aqui, ao invés de excesso de invidualismo, há uma negação do indivíduo – O comandante do navio que afunda com seu barco para afirmar sua honra, etc. . “Quando desligado da sociedade, o homem se mata facilmente, e se mata também quando está por demais integrado nela”, afirma Durkheim. Anômico – tipo que mais interessa a Durkheim porque mais característico das sociedades modernas. Tipo de suicídio ligado às crises econômicas e, surpreendentemente, também aos períodos de grande prosperidade e ao aumento da taxa de divórcios. Durkheim observa, surpreso, que os suicídios diminuem na vigência de grandes acontecimentos políticos como, por exemplo, durante as guerras. Durkheim não desconhece a existência de uma pré-disposição ao suicídio em certas pessoas, mas, para ele, o que ocorre é que há nas sociedades “correntes suicidógenas” que agem sobre os indivíduos, impulsionando-os a cometer o suicídio. Durkheim desenvolveu um importante estudo sobre as religiões (As formas elementares da vida religiosa ,1912) – até hoje uma referência teórica importante – e um trabalho específico sobre método sociológico (As Regras do Método Sociológico). Neste último trabalho, surge a famosa consigna: -“É preciso considerar os fatos sociais como coisas”. “Fato Social” para Durkheim “É toda maneira de fazer suscetível de exercer uma coerção externa sobre os indivíduos”. Assim, se reconhece um fenômeno social na medida em que ele se impõe aos indivíduos. (a vingança praticada por uma turba, a moda, a etiqueta, os hábitos, o direito, as crenças, a educação, a família, etc. são, neste sentido, fenômenos sociais). Para ele, todo fato social possui como causa um outro fato social. As explicações históricas ou psicológicas não podem oferecer, com segurança, a causalidade de nenhum fenômeno. III - Concepção de Ciência e de Sociologia 11 Dentro da tradição positivista de delimitar claramente os objetos das ciências para melhor situá-las no campo do conhecimento, Durkheim aponta um reino social, com individualidade distinta dos reinos animal e mineral. Trata-se de um campo com caracteres próprios e que deve por isso ser explorado através de métodos apropriados. Mas esse reino não se situa à parte dos demais, possuindo um caráter abrangente: “porque não existe fenômeno que não se desenvolva na sociedade, desde os fatos físico-químicos até os fatos verdadeiramente sociais” (“La Sociologie et son domaine scientifique.”) Nesse mesmo artigo (datado também de 1900), Durkheim fala também de um reino moral, ao concluir que: “a vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor, o conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo” . Aproveita para esclarecer o que entende por fenômenos morais: “Qualificando-os de morais, queremos dizer que se trata de meios constituídos pelas idéias; eles são, portanto, face às consciências individuais, como os meios físicos com relação aos organismos vivos”. No início de sua carreira, Durkheim empregava o termo "ciências sociais", paulatinamente substituído pelo de “sociologia”, mas reservando aquele ainda para designar as “ciências sociais particulares” (i. é, Morfologia Social, Sociologia. Religiosa etc.), tomados como divisões da Sociologia. Ao iniciar suas funções em Bordeaux, foi convidado a pronunciar a aula inaugural do ano letivo de 1887-88, publicada neste último ano sob o título de “Curso de Ciência Social”. Ele corresponde na verdade a um programa de trabalho e serve para expressar suas concepções básicas. Sua preocupação dominante é a de limitar é circunscrever ao máximo a extensão de suas investigações. Nesse 12 sentido, a Sociologia constitui “uma ciência no meio de outras ciências positivas”. E por ciência positiva entende um “estudo metódico” que conduz ao estabelecimento das leis, mais bem feito pela experimentação: “Se existe um ponto fora de dúvida atualmente é que todos os seres da natureza, desde o mineral até o homem, dizem respeito à ciência positiva, isto é, que tudo se passa segundo as leis necessárias” . Desde Comte, a Sociologia tem um objeto, que permanece entretanto indeterminado: ela deve estudar a Sociedade, mas a Sociedade em si mesma não existe. Após repassar os principais autores que lidaram com essa disciplina, conclui: “Ela [a Sociologia] tem um objeto. claramente definido e um método para estudá-lo. O objeto são os fatos sociais; o método e a observação e a experimentação indireta, em outros termos, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar os quadros gerais da ciência e assinalar suas divisões essenciais. (...) Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão quando é dividida e subdividida, quando compreende um certo número de problemas diferentes e solidários entre si”. Para Durkheim, “a ciência só aparece quando o espírito, fazendo abstração de toda preocupação prática, aborda as coisas com o único fim de representá-las” (id., ibid. p. 113). Porque estudar os fatos unicamente para saber o que eles são implica uma dissociação entre teoria e prática, o que supõe uma mentalidade relativamente avançada, como no caso de se chegar a estabelecer leis. Ora, com respeito à Sociologia, Durkheim concebe que as leis não podem penetrar senão a duras penas no mundo dos fatos sociais: “e isto foi o que fez com que a Sociologia não pudesse aparecer senão num momento tardio da evolução científica”. Fica evidente que, apesar do seu desenvolvimento tardio, a Sociologia é fruto de uma evolução da ciência. Ela nasce à sombra das ciências naturais. A Sociologia não corresponde a uma simples adição ao vocabulário, a esperança e a de que “ela seja e permaneça o sinal de uma renovação profunda de todas as ciências que tenham por objeto o reino humano”. 13 IV - O método O trabalho “As regras do método sociológico” (1895) constitui a primeira obra exclusivamente metodológica escrita por um sociólogo e voltada para a investigação e explicação sociológica. Importante ressaltar sua própria posição cronológica: publicada depois da “Divisão do trabalho social” (tese de doutoramento em 1893), seus princípios metodológicos são inferidos dessa investigação (ainda que não fosse trabalho de campo); tais princípios por sua vez são postos à prova e aplicados numa monografia exemplar que é “O Suicídio” (1897), em que a manipulação de variáveis e dados empíricos é feita pela primeira vez num trabalho sociológico sistemático e devidamente delimitado. Simultaneamente com a elaboração dessa monografia em que utiliza o método estatístico, Durkheim organiza uma outra de menor porte em 1896: “A proibição do incesto e suas origens” (“La prohibition de l'inceste et sés origines.”) onde o método de análise de dados etnográficos é aplicado numa perspectiva sociológica. Esta linha de investigação tem prosseguimento na sua não menos importante monografia publicada em 1901-02 “De quelques formes primitives de classification”, elaborada em parceria com Mauss. Estas duas monografias antecipam a última fase metodológica de Durkheim, que culmina com a publicação relativamente tardia de “As formas elementares da vida religiosa” (Les formes élémentaires de la vie religieuse- 1912). Essa fase é de grande originalidade do ponto de vista metodológico, na medida em que a manipulação de dados etnográficos permite a análise de representações coletivas, que são encaradas, num sentido estrito, como representações mentais ou, melhor dito, representações simbólicas que, por sua vez, são imagens da realidade empírica. Em outros termos, Durkheim empreende os primeiros delineamentos da sociologia do conhecimento. Sua originalidade consiste em que, através da análise das religiões primitivas – o totemismo como sua forma primeira e mais simples –, se pode perceber como os homens encaram a realidade e constroem uma certa concepção do mundo e, mais ainda, como eles próprios se organizam hierarquicamente, informados por tal concepção. Como se viu, a sucessiva introdução de elementos enriquecedores da análise adquire um significado metodológico especial, pois constitui – ao lado de conhecimentos positivos que proporciona, clara demonstração do processo de indução científica. Em “De quelques formes primitives de classification”, Durkheim e Mauss escrevem: “Todos os membros da tribo se encontram assim classificados em quadros definidos e que se encaixam uns nos outros. Ora, a classificação das coisas reproduz essa classificação dos homens” (DURKHEIM). 14 Essa é, em última análise, a tese de “As formas elementares da vida religiosa”, naquele mesmo texto, é igualmente enunciada como segue: “Em resumo, se não estamos bem certos de dizer que essa maneira de classificar as coisas está necessariamente implicada no totemismo, e, em todo caso, certo que ela se encontra muito freqüentemente nas sociedades que são organizadas sobre uma base totêmica. Existe pois uma ligação estreita, e não apenas uma relação acidental, entre esse sistema social e esse sistema lógico”. A questão epistemológica que se levanta é da maior relevância científica e do maior interesse sociológico. Em síntese, não é apenas através das verbalizações que o homem procura representar a realidade: ele o faz até mesmo pela maneira como se dispõe territorialmente face à realidade. E suas formas organizacionais da vida social, além de mediações empíricas, são portadoras de uma ideologia implícita, que forma um arcabouço interno quase disfarçado - não fora a agudeza de penetração do espírito científico do investigador - sustentador virtual do sistema social. É necessário um método apurado, tal como desenvolveu Durkheim, para que se possa ver, descrever e, o que é mais importante do ponto de vista científico, classificar a(s) realidade(s). Essa nos parece uma das mais notáveis contribuições científicas da Sociologia, cujos méritos devem ser prioritariamente creditados a Durkheim. Na “Introdução” de “As Regras...” Durkheim chama a atenção para o fato de que os sociólogos se mostram pouco preocupados em caracterizar e definir o método que aplicam. Comte havia lhe dedicado um só capítulo de seu Cours de philosophie positive, “o único estudo original e importante que temos sobre o assunto”. Se nesse capítulo Comte se mostra largamente influenciado por Bacon e parcialmente por Descartes, pode-se perceber como este também influenciou Durkheim, tanto quanto Montesquieu. Com respeito a Descartes, a vinculação é menos evidente, mas não se pode deixar de assinalar certa semelhança na formulação de As Regras...com as Règles pour la direction de l‘esprit, uma espécie de manual inacabado de metafísica e publicado post-mortem. A primeira regra cartesiana poderia servir perfeitamente como epígrafe das Regras de Durkheim: 15 “Os estudos devem ter por finalidade dar ao espírito [ingenium no original latino] uma direção que lhe permita conduzir a julgamentos sólidos e verdadeiros sobre tudo que se lhe apresente” (DESCARTES) Apesar de Descartes utilizar a aritmética e a geometria nas suas exemplificações e demonstrações, fica claro que suas regras não se limitam às matemáticas, ali tomadas como protótipo das ciências. O tratamento dos fenômenos “como coisa” é uma constante nesse trabalho de Descartes, tal como no de Durkheim. Assim, a Regra XV (de Descartes) recomenda que, ao se tomar a figura de um corpo, devese traçá-la e apresentá-la ordinariamente aos sentidos externos. Na Regra V, Descartes define o método: “Todo método consiste na ordem e arranjo dos objetos sobre os quais se deve conduzir a penetração da inteligência para descobrir qualquer verdade”. E na Regra VI faz uma recomendação: distinguir as coisas mais simples daquelas mais complexas e que, como todas as coisas podem ser distribuídas em séries, e preciso discernir nestas o que é mais simples. Na Regra XII essa colocação é retomada, para mostrar todos os recursos necessários para se ter uma intuição distinta das proposições simples, seja para fins classificatórios, seja para fins comparativos. Tais colocações estão também presentes nas recomendações básica de Durkheim. Ao concluir “As regras...”,ele sintetiza seu método em três pontos básicos: a) é independe de toda filosofia; b) é objetivo; c) é exclusivamente sociológico e os fatos sociais são antes de tudo coisas sociais. “Fizemos ver que um fato social não pode ser explicado senão por um outro fato social e, ao mesmo tempo, mostramos como esse tipo de explicação e possível ao assinalar no meio social interno o motor principal da evolução coletiva. A Sociologia não e, pois, o anexo de qualquer outra ciência; é, ela mesma, uma ciência distinta e autônoma, e o sentimento do que tem de especial a realidade social é de tal maneira necessário ao sociólogo, que apenas uma cultura especialmente sociológica pode prepará-lo para a compreensão dos fatos sociais” (DURKHEIM). 16 Para o sociólogo funcionalista americano Parsons, a metodologia de Durkheim é a do "positivismo sociologista". Identificando-o como “herdeiro espiritual de Comte”, seu positivismo implica “o ponto de vista de que a ciência positiva constitui a única posição cognitiva possível” do homem face à realidade externa. Parsons ressalta que a originalidade de Durkheim está em diferenciar-se de seus antecessores, para quem a tradição positivista tinha sido predominantemente individualista. Ele elevou o “fator social” ao status de elemento básico e decisivo para explicar os fenômenos que tinham lugar no “reino social”, e que o social só se explica pelo social e que a sociedade é um fenômeno sui generis, independente das manifestações individuais de seus membros componentes. Podemos dizer que o método sociológico de Durkheim apresenta algumas idéias centrais, que percorrem toda a extensão de sua visão sociológica. São elas: Contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade: A filosofia possui um método dedutivo de conhecimento, que parte da tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da natureza do indivíduo. Os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos: a sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana, mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na verdade, produto da própria sociedade. Os fenômenos sociais são considerados por Durkheim como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interação dos fatos sociais. Os fatos sociais são uma realidade objetiva: ou seja, para Durkheim, os fatos sociais possuem uma realidade objetiva e, portanto, são passíveis de observação externa. Devem, desta forma, ser tratado como "coisas". O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção) sobre o indivíduo: Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas pela sociedade por meio da coerção. Para Durkheim estamos no caos devido à falta de moral na sociedade. A moral está ligada ao consciente coletivo, e só através deste podemos moldar nossa atuação social, particular, intelectual e econômico, encarando a moral como social. Assim, existem regras morais a serem seguidas pelos indivíduos, pela sua maneira de ser e de agir e podem ser coagidos pelo fato social, a reações inversas exercidas pela falta de moral. Seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. 17 Para Durkheim, fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova fatos. São fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas, sistemas, maneiras agir, costumes, etc. ao os de de