paisagem e identidade: algumas abordagens

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759
PAISAGEM E IDENTIDADE: ALGUMAS ABORDAGENS
MIRANDA, Everton
NABOZNY, Almir
Introdução
A relação entre paisagem-identidade constrói-se um jogo sem fim, onde as identidades
são construídas ao longo do tempo-espaço, levando em conta as características do espaço de
vivência do indivíduo. Mas, também esta identidade está ligada a cultura, e, preenchida de
imagens, sentidos e memórias (...) formando assim, um conjunto (sistema) de representação
mental e cultural. Assim, a paisagem estará carregada de símbolos e memórias, imaginada e
vista a partir das perspectivas dos seus indivíduos envolventes. Deste modo, as paisagens
culturais atreladas as ‘representatividades’ são carregadas de valores identitários e culturais,
sendo expresso pelas ações e produções dos indivíduos. Em que as afetividades serão o lócus
destas paisagens.
Objetivos
O objetivo deste trabalho é abordar a relação entre a paisagem e a identidade. Onde a
primeira será quem irá produzir e constituir à segunda, através das memórias, afetos e
vivências. E está relação produzirá as paisagens identitárias e/ou paisagens culturais, em que o
indivíduo será o seu lócus produtor, a partir de seus espaços de vivências.
Metodologia
O trabalho constitui-se em leituras sistemáticas de artigos de revistas brasileiras de
Geografia, além de artigos de livros, e também tendo os anais da Rede NEER (Núcleo de
Estudos em Espaço e Representações) como base teórico-epistemológica para a reflexão
envoltória da paisagem e identidade.
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Resultados e discussões
Para entender a relação entre paisagem-identidade, Holzer (1999, p.154) utiliza-se da
concepção de Sauer (1938, p.322) onde este comente que “(...) tem sua identidade baseada
numa constituição reconhecível, em limites e em relações genéricas com outras paisagens”,
em relação à questão de identidade da (na) paisagem.
Não obstante Mota (2009, p.194) traz a concepção de Castells (2002), onde este fala
que a “identidade é uma fonte de ‘significados e experiências’”. Mostrando uma relação na
questão de relacionamento entre os sujeitos e as paisagens, exposta na concepção de Sauer de
forma indiretamente, mas percebida.
Percebemos que os sujeitos (indivíduos) criam as identidades da paisagem através de
suas relações afetivas e vivenciais com outros sujeitos que estão em paisagem, através de
laços comunitários. E estes laços vão constituir as paisagens culturais, que sua identidade se
afirmará a partir da relação com outras paisagens e também diante de olhares de outros
sujeitos externos a ela, mostrando que sua identidade está ligada a imagem e a representação
da própria para outros olhares.
Na paisagem encontraremos a relação do indivíduo-paisagem e a do indivíduopaisagem-territorialidade, estas relações se dão mediados por símbolos, memórias e vivências,
através dos espaços de vivências dos sujeitos, que em outras palavras, são os modos de vida
dos próprios. E não obstante irá implicar com as características identitárias dos indivíduos e
da paisagem, produzindo e criando as paisagens culturais e/ou paisagens identitárias. Assim, a
“identidade como uma essência, é expressa pela vivacidade de seus valores e crenças”
(CLAVAL, 1999 apud MOTA, 2009, p.195).
A relação entre paisagem e identidade envolve em muitos casos a questão de
representação, que estará associada a imagens das próprias. Onde esta paisagem será regida
por signos e símbolos, e que iram refletir na paisagem a relação entre ela e seus indivíduos
formando os significados identitários.
Pensando nesta relação, (LOWENTHAL, 1968 apud HOLZER, 1999, p.156) comenta
que “as paisagens são formadas pelas preferências paisagísticas. As pessoas veem seu entorno
através das lentes da preferência e do costume, e tendem a moldar o mundo a partir do que
veem”. Mostrando que a percepção da paisagem se dá por imagens, e também pelas tradições,
pelos afetos, símbolos e significados. Refletindo em paisagens de dentro para fora, onde as
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pessoas olham e depois a constroem, mostrando uma paisagem que é fundamental para o
‘Ser’ regida de símbolos e memórias.
Ainda na relação paisagem-indivíduo-identidade, Holzer (1999, p.160) aborda a
“paisagem como espetáculo e como espaço vivido”, onde a paisagem passa a ser sentida e
percebida, mostrando a criação do pertencimento de seus envolvidos. Enquanto espetáculo,
podemos pensá-la na hora de eventos culturais e em seus atributos naturais, mas mesmo sendo
assim, a própria estará sendo vivida em seus espaços (espaço vivido). Entretanto como espaço
vivido, a paisagem arremete a um olhar mais ligado às essências culturais, mostrando que ela
é criada e recriada ao longo do tempo-espaço, em que seus símbolos e memórias estarão
permeando-a, e isto, refletirá nas vivências das paisagens.
Dentro desta perspectiva, Vargas (2006) aborda a paisagem como uma construção
sociocultural, mostrando uma compreensão da percepção ambiental e do espaço vivido.
Traduzindo isto, a paisagem é um produto das relações sociais e o meio que compõem a
cultura que é expressa na própria paisagem pelas experiências de percepção ambiental e
espaço vivido. Articulando de forma indiretamente ou diretamente com a concepção de
Holzer (1999) sobre a paisagem. Ainda a autora aponta a paisagem como uma paisagem
cultural, tendo a paisagem pantaneira como base, coloca que a própria gente pantaneira é o
protagonista desta beleza através do espaço vivido que imprime os afetos, símbolos e valores.
Pensando na relação paisagem-identidade, Kashiwagi (2009) trabalha com a
‘paisagens, identidade e significações do universo caiçara’. Comenta que “o modo de vida
desse povo é revestido de significações e de saberes patrimoniais, recheados de crenças,
misticismo e lendas” (KASHIWAGI, 2009, p. 334), percebemos que esta relação apontada
por Kashiwagi, não é muito diferente da do Holzer (1999), e ainda tem uma grande relação
com a concepção de identidade de Claval (1999) e Castells (2002). No universo caiçara,
teremos o povo apegado a terra através de valores e crenças que são expressos num lugar e
representados na paisagem e pelo espaço vivido.
Kashiwagi (2009, p.335) aborda sobre a linguagem caiçara, que “produz a
identificação de signos que constituem uma nova espacialidade, uma paisagem a partir do
imaginário e os significados da identidade local”, e, isto reflete em uma nova percepção do
espaço de vivência e da ressignificação da paisagem.
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Ela compreende que os signos caiçaras e seus significados constituam uma
territorialidade construída por ações socioculturais e limites imaginários, onde esta
territorialidade é cercada por valores, crenças e afetos entre os indivíduos, constituindo assim
a cultura e a identidade local.
Argumentado sobre a paisagem, Torres (2013) comenta que a paisagem é composta
por símbolos, ele conecta a paisagem com a memória e a identidade, que neste é a identidade
religiosa que o próprio observou através da paisagem cultural. Na paisagem religiosa
encontramos elementos sagrados e profanos que possuem uma relação através da fé.
A partir das relações sociais o indivíduo constrói uma identidade marcada por
experiências, percepções e memórias. Vemos aqui uma forte relação com a concepção de
identidade de Castells (2002). Torres (2013, p.95) comenta que “as relações entre a percepção
e a memória ajuda na construção da identidade religiosa, que implica na espacialidade
religiosa por meio do espaço de ação do ser religioso”. Isto nos mostra um jogo entre a
percepção e a memória, que ajuda a montar a paisagem e a paisagem sagrada onde temos as
espacialidades e as territorialidades dos elementos sagrados e profanos que compõem uma
identidade imbricada em sua paisagem, que é à base de suas relações sociais-religiosas.
Vemos que a paisagem é um componente do sujeito, onde temos as memórias, os
valores e as imagens. Sendo construída de dentro para fora onde a própria se manifesta e se
transforma a partir das relações sociais entre as pessoas, entretanto, esta paisagem está
carregada de sentimentos e símbolos de um ‘Ser’ servindo-a de chão para os seus prazeres.
Assim formando as territorialidades implicadas nas memórias e percepções em uma interação
conjunta.
Podemos refletir que, as paisagens constituem os indivíduos e os indivíduos produzem
as paisagens (...) transformando-as e ressignificando-as através das territorialidades (espaço
de vivência), imagens, memórias, entre outros. Enfim, é um jogo mútuo onde os valores e as
memórias vão se sobressair em relação à esta construção de paisagem cultural, ou seja, a
relação entre indivíduo-paisagem.
Então os indivíduos vivenciam e representam os elementos de suas paisagens, através
de suas experiências e vivências sejam construídas, armazenadas e ressignificadas pelas suas
memórias e afetos, que contribuem para a construção de suas identidades. Partindo desta
reflexão Torres (2013, p.104) argumenta que “as paisagens da memória, constroem-se a partir
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das experiências, vivências e valores compartilhados pelas pessoas, o que abarca os processos
que envolvem tanto o indivíduo, como também a coletividade”.
(Não) concluindo
Como percebemos a relação paisagem-identidade é muito dinâmica e mútua,
formando um jogo sem fim. Assim, as identidades não são mais que vivências, sendo
construída pela própria. Sendo que estas vivências podem ser: percebidas, marcadas e
experimentadas.
Nesta relação, vemos a construção de paisagens culturais e/ou paisagens identitárias.
Onde a paisagem cultural em cito é contemplada pelos valores, espaços vividos e os sentidos
(...) onde seus indivíduos a constroem a partir de suas perspectivas. E que dentro da paisagem,
encontraremos várias ‘territorialidades’ que estarão ligadas ao espaço de vivência das pessoas.
Mostrando uma paisagem construída de dentro para fora, que muitas vezes está relacionada a
questão de representação, articulando a imagens da paisagem. Manifestando uma paisagem
ligada ao imaginário dos indivíduos, ressaltando o seu pensar, seus olhos e suas memórias, e
ainda, o seu espaço de vivência.
Referências
HOLZER, Werther. Paisagem, imaginário, identidade: alternativas para o estudo geográfico.
In: ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato. (Orgs.). Manifestações da cultura no
espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999, p.149-168.
KASHIWAGI, Helena Midori. Paisagens, identidade e significações do universo caiçara. In:
Anais do III Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaços e Representações.
Porto Velho: NEER/UNIR, 2009, p.334-340.
MOTA, Rosiane Dias. Folias de Reis em Goiânia: uma discussão sobre a cultura, identidade e
território. In: Anais do III Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaços e
Representações. Porto Velho: NEER/UNIR, 2009, p.192-199.
TORRES, Marcos Alberto. As paisagens da memória e a identidade religiosa. RA’EGA,
v.27, 2013, p.94-110.
VARGAS, Icléia A. de. Paisagem e representações do Pantanal Mato-Grossense. In: Anais do
I Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações. Curitiba:
NEER/UFPR, 2006 (CD-ROOM), p.01-05.
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