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Viabilidade do uso de telados para produção de alface em larga escala
Cícero Alexandre Leite1 Maria Ângela Fagnani1 Flávio Tamaoka2 Iran J. O. da Silva3
1
UNICAMP-FEAGRI. Fac. de Eng. Agric. Cid. Univ. “Zeferino Vaz” C. Postal 6011, 13083-970,
2
[email protected]. Tamaoka hortaliças,
3
ESALQ-USP, depart. Eng, Rural, NUPEA
RESUMO
A produção de alface no Brasil tem apresentado dificuldade, principalmente em locais
com verões chuvosos. Para evitar o impacto das gotas de chuva e controlar o excesso de
temperatura e de radiação foi montado um experimento com várias malhas no campo em
substituição ao uso de ambiente protegido com plástico transparente. As malhas testadas
foram: 1. termo-refletora; 2. malha com transmissão de luz na faixa do vermelho e vermelho
distante; 3 malha de transmissão de luz na faixa do azul e por fim a testemunha a campo
aberto. A malha com transmissão de luz azul foi prejudicial ao cultivo tornando-o pior que a
testemunha, a campo aberto. Em contrapartida a malha termo-refletora e a malha de
transmissão no vermelho mais vermelho distante incrementaram a produtividade no verão.
No inverno, época que falta luz, estas duas malhas não diminuíam a produtividade.
Palavras-chave: Lactuca sativa, espectro solar, cultivo protegido
ABSTRACT
Viability of use uf shade house to production of lectuce in broad scale
The production of lectuce in Brasil in the summer is very difficult, mainly, if the summer
is rainy. To avoid the impact of the drops from rain, and for control the temperature and
excess of radiation it was made a test with nets replacing the use of impervious plastic
covering. It was proved: 1. thermal reflect screen; 2.Red and Far red transmission net, blue
transmission net and padron at open field . The blue net turn the lectuce worst than the
padron in open field, but the termal reflect screen and red plus far red net improve a big
increase of productivity in the summer and in the winter, the shade was not reduce the yield.
Keywords: Lactuca sativa, solar spectrum, greenhouse
Vários são os sistemas de produção de hortaliças folhosas como alface no Brasil.
Desde o campo aberto, ao cultivo em solo sob ambiente protegido com polietileno até o
cultivo hidropônico. A mudança de um sistema para outro é um paradigma no sentido de que
as tecnologias utilizadas são muito diferentes e o cultivo em estufa é de difícil emprego para
produção de larga escala ou grandes áreas. No entanto, é comprovado que a radiação solar
direta, o risco de granizo e a ação de chuvas pesadas prejudica muito o cultivo de campo
promovendo perdas e gastos excessivos com defensivos agrícolas. Tendo em vista que os
sistemas de cultivo de hortaliças no Brasil é diametralmente oposto em termos de proteção
contra intempéries, o presente trabalho visou comparar o sistema de plantio de alface em
telado e em campo aberto, comparando com vários tipos de malhas diferenciadas com
relação à qualidade do espectro de luz transmitido.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em propriedade comercial no município de Mogi-dasCruzes-SP. Utilizou-se uma área de 16 x 16 metros para cada tratamento totalizando 256m2
com 10 canteiros de 1,2 m de largura por 16 de comprimento. As três primeiras e três
últimas ruas foram descartadas da avaliação para evitar o efeito de bordaduras, bem como
os 4 primeiros e últimos metros dos canteiros. Os tratamentos foram: 1.malha termorefletora; 2.malha foto-conversora vermelha; 3.foto -conversora azul; 4.testemunha. As
malhas apresentavam sombreamento ao redor de 40%.
Para verificação da curva de crescimento foram observadas 10 plantas ao acaso em
cada tratamento. Estas foram marcadas com uma pequena placa de plástico inserida no
solo adjacente à planta e foram medidas em seu diâmetro e altura por quatro vezes até o
fim do ciclo. Para averiguação do peso fresco, por ocasião da colheita, foram sorteadas ao
acaso 10 plantas em cada tratamento.
A safra de inverno/primavera foi semeada em estufa em 17/07 e transplantada na
área experimental em 13 de agosto. Foram feitas avaliações de diâmetro e altura da planta
nos dias 20/08/2002, 27/08/2002, 09/09/2002 e 30/09/2003, quando da colheita. A safra de
primavera/verão foi semeada em estufa em 19/102002 e transplantada na área experimental
em 23 de novembro. Foram feitas avaliações de diâmetro e altura da pla nta nos dias
29/11/2002, 13/12/2002, 20/12/2002 e 03/01/2003, quando da colheita.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uma vez que o nível de sombreamento era o mesmo (de 40%) e os resultados tanto
em diâmetro e peso da planta foram diferentes entre os tratamentos com malha de
transmissão vermelha e vermelho distante e com malha termo-refletora em relação à malha
azul (Figura 1B), pode-se deduzir que o efeito do espectro de luz transmitido foi o causador
das diferenças de produtividade entre as malhas que transmitem cores específicas. Como
no verão os índices de produtividade da alface crespa sob termo-refletora foi semelhante
àquele
alcançado
pela
malha
foto-conversora
vermelha,
e
sob
malha
azul
foi
significativamente menor, presume-se que a planta pode chegar a produtividades
semelhantes por vias diferentes: uma por estímulo da qualidade da luz, outra por apresentar
maior diferencial de temperatura de folha em relação ao ar propiciando um déficit de pressão
de vapor mais adequado sob a malha termo-refletora, assim como encontrou Medina et
al.(2002) trabalhando em casa de vegetação com e sem malha termo-refletora. Um efeito na
morfologia da planta foi observado (Figura 2B), onde as plantas sob malha vermelha
apresentavam-se com maior diâmetro. Durante o inverno (Figura 1A), o efeito da maior
superfície coberta da malha vermelha parece ter influído negativamente em produtividade.
Houve um benefício da luz vermelha, mas, em contrapartida, ocorreu, o que promoveu
nenhuma diferença estatística em relação à testemunha durante o inverno.
É possível perceber que, ao longo do desenvolvimento, todas as malhas propiciaram
maior altura e diâmetro da planta em relação à testemunha. Somente no final do ciclo podese observar diâmetro notoriamente maior das plantas sob malha vermelha em relação às
outras malhas. Oren-Shamir et al (2001). encontraram alterações morfológicas em hastes de
pitosporum com a mesma malha, porém de 50% de sombra. Kasperbauer et al (1995)
explica que com alta quantidade de vermelho e vermelho distante, a pla nta pode responder
diferenciando-se para ter vantagem competitiva, o que seria no caso da alface, expansão do
limbo foliar.
Apesar de as plantas sob malha termo-refletora apresentarem diâmetro e altura
ligeiramente menor que as plantas sob malha transmissora de vermelho e vermelho distante
não houve diferença no peso fresco, indicando maior espessura das folhas sob malha termorefletora “Aluminet”1.
Durante o inverno, a malha transmissora de luz azul propiciou plantas de diâmetro
menor que a testemunha (Figura 2A). As plantas sob esta malha apresentaram menos peso
(Figura 1A) indicando condições adversas de cultivo, não devido ao sombreamento, mas ao
tipo de luz transmitido. A malha vermelha não diferiu significativamente da testemunha no
inverno, indicando que o espectro de luz transmitido compensa a falta de radiação solar
global. A malha termo-refletora propiciou peso da planta significativamente maior no inverno
possivelmente devido à manutenção de maiores temperaturas noturnas e do bloqueio do
excesso de irradiação nas horas mais quentes do dia.
Pode-se concluir que devido ao grande benefício propiciado pelas malhas vermelha e
termo-refletora durante o verão é recomendável o uso dessas malhas. Durante o inverno,
apesar do benefício em produtividade não ter sido tão grande, só o fato de não prejudicar o
cultivo já um resultado positivo pois possibilita a não ser necessidade de retirada da malha
da estrutura, o que geraria mais gastos com mão-de-obra. Além disso, no caso de geadas,
principalmente a malha termo-refletora pode contribuir significativamente para evitá-la devido
a sua característica de reflexão de ondas térmicas.
LITERATURA CITADA
MEDINA, C.L.; SOUZA, R.P.; MACHADO, E.C; RIBEIRO, R.V.; SILVA, J.A.B. Photosyntetic
respons of citrus growing under reflective aluminized polypropilene shading nets. Sci. Hort. n.
96, p115-125, 2002.
KASPERBAUER, M.J. Light and plant development. In:
Plant environment interactions. (
Wilkinson, R. E., Ed.) . Marcel Dekker Inc., NY, USA, p.83-123, 1994.
OREN-SHAMIR, M., GUSSAKOVSKY, E.E.., SHPIEGEL, E., NISSIM-LEVI, A.,RATNER, K.,
OVADIA, R., GILLER, YU.E. AND SHAHAK, Y. Coloured shade nets can improve the yield
and quality of green decorative branches of Pithosphorum variegatum.
J. Hort. Sci.
Biotech. v.76 p. 353-361, 2001.
A
600
550
650
500
600
450
550
400
500
350
450
300
400
Termo-refletora
Aluminet
Figura1
B
700
Foto-conversoraVermelha
FotoconversoraAzul
Termo-refletora
Aluminet
Testemunha
Foto-conversoraVermelha
FotoconversoraAzul
Testemunha
Produtividade de alface crespa (peso fresco por planta) sob diferentes malhas durante o verão (A) e
durate o inverno (B) em Mogi-das-Cruzes-SP.
Termo-Refletora
Foto-conversora Azul
Foto-conversora Vermelha
Testemunha
Figura 2
5
24
/09
/02
17
/09
/02
0
10
/09
/02
03
/01
/03
27
/12
/02
13
/12
/02
06
/12
/02
20
/12
/02
10
0
20
15
10
03
/09
/02
20
30
25
27
/08
/02
Diâmetro da planta ( cm)
30
B
40
35
20
/08
/02
50
40
29
/11
/02
Diâmetro da planta (cm)
A
Termo-Refletora
Foto-conversora Azul
Foto-conversora Vermelha
Testemunha
Diâmetro da planta de alface crespa durante sob diferentes malhas de sombreamento durante
o inverno (A) e durante o verão (B).
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