000719280_20180401.

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RESSALVA
Atendendo solicitação da autora, o texto
completo desta tese será
disponibilizado somente a partir de
01/04/2018.
Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”
Instituto de Química - Campus Araraquara
Investigação de Plantas Africanas
Viviane Raïssa Sipowo Tala
Araraquara
2013
Viviane Raïssa Sipowo Tala
Investigação de plantas Africanas
Tese
apresentada
ao
Instituto
de
Química,
Universidade Estadual Paulista, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de Doutor em
Química.
Orientador: Prof. Dr. Wagner Vilegas
Co-Orientador: Prof. Dr. Nkengfack Augustin E.
Araraquara
2013
DADOS CURRICULARES
1. Dados pessoais
Nome: Viviane Raïssa Sipowo Tala
Filiação: Tala Jean e Menom Tala Suzanne
Nacionalidade: Cameronesa
E-mail: [email protected]
2. Formação acadêmica
Graduação
Instituição: Universidade de Ngaoundere - Faculdade de Ciências
Local: Ngaoundere - Camarões
Curso: “Química Aplicada”
Período: 1998 – 2002.
Pós-graduação:
Mestrado
Instituição: Universidade de Iaundê 1, UY1, Faculdade de Ciências. Mestre em Química.
Titulo da dissertação: «Contribution à l’étude Phytochimique des ecorces des racines d’une
plante médicinale du Cameroun: Calliandra portoricensis (Mimosaceae)».
Área de Concentração: Química Orgânica
Orientador: Prof. Dr. Nkengfack Augustin E.
Co-orientador: Prof. Dr. Folefoc G. N.
Local: Iaundê - Camarões
Periodo: 2002 – 2004
Doutorado
Instituções: Universidade Paulista “Julio de Mesquita Filho”, UNESP, Instituto de Química e
Universidade de Iaundê 1, UY1, Faculdade de Ciências
Titulo da tese: Investigação de Plantas Africanas
Área de Concentração: Química Orgânica
Orientador: Prof. Dr. Wagner Vilegas
Co-orientador: Prof. Dr. Nkengfack Augustin E.
Bolsista: TWAS-CNPq (período 03/2009 – 02/2013)
Local: Araraquara SP
Período: 2009 – 2013
3. Disciplinas cursadas no Doutorado
Tόpicos
- Espetrometria de Massas de produtos Naturais
Conceito A
- Métodos Espectrométricos I
Conceito B
- Teoria e Métodos de Separação, Isolamento e Purificação de Compostos Conceito B
Orgânicos
- Estereoquίmica e Reatividade de Compostos Orgânicos
Conceito B
- Química Orgânica Avançada
Conceito B
Tόpicos especiais
- Alcalóides
Conceito A
- Introdução à Espectroscopia de RMN: Procesamento e Análise de Dados Conceito A
Multivariáveis
- Atribuição de Configuração Absoluta em Compostos Orgânicos por RMN Conceito B
e CD
- Metabolômica como Ferramenta para Pesquisa em Produtos Naturais
Conceito B
4. Supervisão Científica
Supervisão de Iniciação Cientίfica do aluno Diego Carneiro Camara. Investigação de
plantas Africanas: Estudo Químico e Farmacólogico de Rumex abyssinicus (Polygonaceae)
iniciada em 31/03/2010 – 14/12/2011. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC.
5. Participação em Eventos Científicos:
SIPOWO, T.V.R.; VILEGAS W. Perfίl quίmico do extrato hidro-alcoόlico das raίzes
de Parkia biglobosa (Jacq) Benth (Mimosaceae). 17º Encontro Regional da Sociedade
Brasileira de Química (SBQ) - Regional Interior Paulista Waldemar Safiotti, 18 a 20 de
Outubro de 2009, Araraquara - São Paulo - Brasil.
Biota Fapesp International Workshop on Metabolomics in the Context of Systems
Biology: A Rational Approach to Search for Lead Molecules from Nature, 25 a 26 de
fevereiro de 2010, São Paulo - Brasil.
CARNEIRO, C.D.; SIPOWO, T.V.R.; SANTOS, L.C.; VILEGAS, W. Perfil químico
do Extrato Etanólico das Folhas de Rumex abyssinicus (Polygonaceae). XXII Congresso de
Iniciação Científica da UNESP (1ª etapa). 29 a 30 de setembro de 2010, Araraquara - São
Paulo - Brasil.
SIPOWO, T.V.R.; EYONG, K.O.; FOLEFOC, G.N.; SANTOS, L.C.; NKENGFACK,
A.E.; VILEGAS, W. Constituintes químicos de Calliandra portoricensis (Jacq.) Benth
(Mimosaceae). XXI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, 14 a 17 de setembro de 2010,
João Pessoa - Paraíba - Brasil.
SIPOWO, T.V.R.; CARNEIRO, C.D.; SANTOS, L.C.; VILEGAS, W. Perfil químico
e avaliação da atividade antiradicalar de Parkia biglobosa (Mimosaceae), uma planta
Africana. 34ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 23 a 26 de maio de 2011,
Florianópolis - Santa Catarina - Brasil.
Participação no VII Simpósio e VII Reunião de Avaliação do programa Biota e IV
Reunião de avaliação do programa Bioprospecta, 3 a 10 de Julho 2011, Universidade de São
Paulo. São Carlos - São Paulo - Brasil.
SIPOWO, T.V.R.; CARNEIRO, C.D.; SANTOS, L.C.; VILEGAS W. Chemical
Profile of Barks from the African Plant Parkia biglobosa (Jacq.) G.DON (Mimosaceae). xx
italo-latinamerican Congress of Ethnomedicine, 19 a 22 de setembro de 2011, Fortaleza Brasil.
CARNEIRO, C.D.; SIPOWO, T.V.R.; VIEIRA J.R., G.M.; SANTOS, L.C.;
VILEGAS W. Estudo Fitoquímico de Rumex abyssinicus (Polygonaceae). XXIII Congresso
de Iniciação Científica da UNESP (1ª etapa), 18 a 19 de outubro de 2011, Araraquara - São
Paulo - Brasil.
SIPOWO, T.V.R.; CARNEIRO, C.D.; SANTOS, L.C.; VILEGAS W. Identification of
Secondary Metabolites of the ethyl acetate fraction of roots from Parkia biglobosa (JACQ.)
G.DON (Fabaceae) by direct flow injection electrospray ionization tandem mass
spectrometry. 4° Congresso Brasileiro de Espectrometria de Massas - BrMass, 10 a 13 de
dezembro de 2011 - Campinas Sp - Brasil.
SIPOWO, T.V.R.; SANTOS, L.C.; VILEGAS, W. Secondary Metabolites from
Parkia biglobosa(Jacq.) G. Don. (Fabaceae) species. VIII Brazilian Symposium on
Pharmacognosy and I International Symposium on Pharmacognosy, 18 a 22 Abril de 2012 Ilhéus, BA – Brasil.
SIPOWO, T.V.R.; VIEIRA J.R., G.M.; SANTOS, L.C.; NKENGFACK, A.E.;
VILEGAS, W. Estudo fitoquímico das raízes de Parkia biglobosa (Jacq.)G.Don (Fabaceae).
35ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 28 a 31 maio de 2012 - Água de
Lindόia - Brasil.
6. Publicação
TALA,V.R.S.; CANDIDA da SILVA, V.; RODRIGUES, C.M.; NKENGFACK, A.E,
CAMPANER dos SANTOS, L.; .VILEGAS, W. Characterization of proanthocyanidins from
Parkia biglobosa(Jacq.) G. Don. (Fabaceae) by flow injection analysis — Electrospray
Ionization Ion Trap Tandem Mass Spectrometry and Liquid Chromatography/Electrospray
Ionization Mass Spectrometry. Molecules, v.18, n. 3, p.2803-2820, 2013.
7. Idiomas
Francês: Língua materna.
Português: Fala, Lê, Escreve.
Inglês: Fala, Lê, Escreve.
ofereço este trabalho
À Deus, que me deu Paz, Saúde, e Amor, que permitiu
que eu chegasse até aqui, e que sempre esteve e estará
comigo nos momentos alegres e principalmente nos mais
difíceis.
Dedico esse trabalho com muito carinho
Aos meus pais, Tala Jean e Menom Suzanne, pelo carinho,
amor, e por terem me apoiado em todos os momentos de
minha vida.
À minha avό paterna, Nkengmogne Pauline, por sempre
acreditar em mim e nos meus sonhos
À toda minha família
Agradecimentos
Em especial ao meu querido orientador Prof. Dr. Wagner Vilegas, que me proporcionou grandes
oportunidades de aprendizado, e que, apesar das dificuldades encontradas durante este aprendizado,
conseguiu, no fim, mostrar-me a beleza da Química. Merci beaucoup............................................
Ao meu estimado co-orientador Prof. Dr. Augustin E. Nkengfack, pela oportunidade oferecida desde
meu mestrado, ensinando-me os primeiros passos na Química de Produtos Naturais.
À Profª. Drª. Lourdes C. dos Santos, que me apoiou durante esta formação, fazendo-me lembrar a todo
instante de levantar a cabeça e seguir em frente.
A todos meus professores do Departamento de Química Orgânica da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” do Instituto de Química de Araraquara e os do Departamento de Química
Orgânica da Faculdade de Ciências da Universidade de Iaundê 1, pela formação recebida.
À Banca examinadora.
Ao Dr. Nivaldo Boralle e ao Dr. Alberto Alécio, pela obtenção dos espectros de RMN e MS.
A todos os funcionários, graduandos e pós-graduandos dos Departamentos de Química Orgânica,
Seção de Pós-Graduação, SAEPE e da Biblioteca, que de forma direta ou indireta contribuíram para a
realização deste trabalho.
À Prof. Drª. Tais Bauab, da FCF-Unesp, pela realização do ensaio de atividade antimicrobiana.
À Prof. Drª. Clélia A. Hiruma Lima e sua orientada, Catharine Massucato, do IB-Botucatu, Unesp,
pelo ensaio de atividade antiofídica realizado com a espécie Parkia biglobosa.
A todos os colegas que passaram pelo laboratório nestes anos. Obrigada pelo convívio, troca de
experiências e momentos de descontração, em especial à Ana Lucia M. Nasser, Clenilson Rodrigues,
Viviane Cândida, Daniel Rinaldo, Juliana Severi, Juliana Rodrigues, Fabiano, Adriana, Mariana,
Leonardo, Maria do Socorro, Lima Neto, Cláudia, Magela, Marcelo Tangerina, Cassia, Fabiana,
Michelle, Carlos, Natália, Silvia, Aline, Marcelo José, Felipe, Aninha, Diego, Jessica, Carol, Cintia,
Leonice, Marcelo Amorin, Maiara, Tiago, Samara, Luiza e Trina.
A todos os meus colegos do laboratόrio da Universidade de Iaundê 1 pelos momentos inesquecíveis de
trabalho, de alegrias e de penas. Lembro-me de quando nós paramos nossas colunas por falta de
solventes por meses e meses, e de quando nós não podíamos concentrar nossas soluções por falta de
água ou de luz, semanas e semanas. Mas sempre havia uma solução no horizonte. Um agradecimento
especial a Anatole G. B. Azebaze, Pierre Mkounga, Kenneth Eyong, Jean R. Nguemeving, Blandine
Ouahouo, Marie C. Yindjo, Basile Tchize, Carly Nono, Gesquière Tiani, Maurice Tsaffack, Guy
Kwouamo, Mireille Podie, Gilles Nekam, Cyprien Tchanko, Aristide Kollat, Edwige Fodja, Valerie
Sielinou, Brigitte Ndemangou, Lazare e Armelle Tsamo.
Aos meus colegos de república, que no dia-a-dia me ensinaram lições valiosas da vida: Fabiano, Dani,
Marcos, Terezinha de Jesus, Aline Santana, Mery E. Pinto, Andrezi, Josi, paola, Rute, Amanda, Luiza
e Trina.
À Terezinha de Jesus, Mery E. Pinto, Rute, Dusère e Atchana Jeanne, minhas amigas e irmãs de
coração, que me fazem acreditar que não importa a quantidade de amigos que temos, pois se forem
verdadeiros já podemos nos considerar pessoas afortunadas.
À minha Mãe, pela grande mulher que sempre foi e pela grande amiga que é e que me ensina a cada
dia a dar valor à vida e aproveitá-la como se cada dia fosse o último de minha vida, amando e
respeitando todos à minha volta. Mãe, com você ao meu lado não desistirei nunca. Te amo!
Ao meu Pai, que sempre me mostrou que todo o tempo que gastamos em buscar conhecimento, não
importa onde for, não é um desperdício, pois tudo que aprendemos é útil, tanto as coisas boas quanto
as ruins. Pai, obrigada pelo apoio e por me mostrar que tudo pelo que passei só serviu para que eu
caminhasse mais e mais.
Ao Bertrand Tematio, pelo apoio antes e durante esta formação doutoral.
A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a conclusão deste trabalho, cujos nomes
não caberiam nestas poucas linhas, meus sinceros agradecimentos.
Agradeço à TWAS-CNPq pela bolsa concedida.
Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do
que o homem fez no mundo teve início de outra
maneira. Mas tantos sonhos já se realizaram,
que não temos o direito de duvidar de nenhum.
Monteiro Lobato
Investigação de Plantas Africanas
RESUMO
Este trabalho visa contribuir com a caracterização de espécies vegetais presentes na África,
investigando seu potencial químico-medicinal. Dentre as espécies com particular interesse,
foram investigadas a espécie Parkia biglobosa (Fabaceae), usada na medicina popular contra
diarréia e dores de estômago, e Rumex abyssinicus (Polygonaceae), usada para tratar a prisão
de ventre e a sarna. As espécies foram coletadas em Camarões e os extratos
diclorometano/metanol (1:1, v/v) das cascas e raízes de P. biglobosa e etanólico das folhas e
raízes de R. abyssinicus foram preparados por maceração, particionados com acetato de etila
e/ou clorofórmio e água. Em seguida, foram fracionados usando técnicas cromatograficas
convencionais (permeação em gel, MPLC, HPLC). As substâncias isoladas foram
identificadas através de métodos espectroscόpicos e espectrométricos (RMN, UV e EM). Com
este estudo, foram identificados nas raízes de P. biglobosa um triterpeno, dois derivados do
ácido gálico e seis derivados da (epi)catequina. As análises por [HPLC]-ESI-IT-MSn
apontaram perfis químicos qualitativamente semelhantes entre as cascas e as raízes de P.
biglobosa, o que levou à detecção de proantocianidinas, bem como de seus derivados
galoilados e glucuronilados, algumas delas em diferentes formas isoméricas. Com este
método, as proantocianidinas em m/z 785 e 937 foram caracterizadas pela primeira vez. Este
estudo também possibilitou o isolamento de quatro antraquinonas, dois flavonόides e dos
ácidos trans e cis-para-cumárico das raízes e folhas de R. abyssinicus. Em relação as
atividades biolόgicas investigadas, verificou-se que o extrato diclorometano/metanol das
cascas e raízes de P. biglobosa e/ou as frações semipurificadas e os extratos etanólico das
folhas e raízes de R. abyssinicus apresentaram atividades antiradicalar, antiofídica e
antimicrobiana. A presença dos derivados de (epi)catequinas, proantocianidinas, flavonόides,
antraquinonas e demais compostos fenόlicos pode justificar os efeitos biolόgicos atribuídos às
espécies, confirmando assim as indicações de uso popular.
Palavras-chave: Parkia biglobosa, Fabaceae, (epi)catequinas, proantocianidinas, Rumex
abyssinicus, Polygonaceae, antraquinonas, flavonόides.
Investigação de Plantas Africanas
RESUME
Le présent travail a pour objectif d’apporter notre contribution à l’étude de quelques plantes
africaines en investiguant leur potentiel chimio-médicinal. Parmi les espèces ayant un intérêt
particulier, ont été étudiées dans le cadre de ce travail, deux plantes médicinales
camerounaises choisies en raison de leurs vertus thérapeutiques: la première, Parkia
biglobosa (Fabaceae), est utilisée en médecine populaire contre la diarrhée et les maux
d'estomac tandis que la seconde, Rumex abyssinicus (Polygonaceae), est utilisée dans le
traitement de la constipation et de la gale. Les extraits au mélange dichlorométhane/méthanol
(1:1, v/v) des écorces et des racines de P. biglobosa ainsi que ceux à l’éthanol des racines et
des feuilles de R. abyssinicus ont été, chacun, préparés par macération, partitionnés à de
l’acétate d'éthyle et/ou chloroforme et de l'eau puis fractionnés moyenant des techniques
chromatographiques usuelles (gel de perméation, MPLC, HPLC). Les substances isolées ont
été identifiées à l’aide des méthodes spectrométriques et spectroscopiques (RMN, UV et MS).
Dans cette étude, ont été isolés et caractérisés, d’une part, des racines de P. biglobosa: un
triterpène, deux dérivés de l’acide gallique et six dérivés de l’(épi)catéchine. Les analyses
effectuées utilisant la technique [HPLC]-ESI-IT-MSn montrent des profiles chimiques
qualitativement similaires entre l'écorce et les racines de P. biglobosa, analyses qui a conduit
à la détection des proanthocyanidines et de leurs dérivés galoïdiques et glucuronidiques,
certaines d'entre elles sous plusieurs formes isomères. Au moyen de cette technique, les
proanthocyanidines de m/z 785 et 937 ont été caractérisées pour la prémière fois. Des extraits
des feuilles et des racines de Rumex abyssinicus, ont été isolés et caractérisés, quatre
anthraquinones, deux flavonoïdes et les acides trans et cis para-coumariques. L’évaluation
biologique des extraits au mélange dichlorométhane/méthanol des écorces et des racines de P.
biglobosa et/ou les fractions semi-purifiées, d’une part, et celle des extraits éthanoliques des
racines et feuilles de R. abyssinicus, d’autre part, ont montré des activités anti-radicalaires,
antiophidique et antimicrobienne. La présence des dérivés de l’ (épi)catéchines, les
proanthocyanidines, les flavonoides, les anthraquinones et d'autres composés phénoliques
peuvent expliquer les effets biologiques atribués aux espèces étudiées, confirmant ainsi
l’utilisation de ces plantes en médécine traditionnelle.
Mots-clés: Parkia biglobosa, Fabaceae, (épi)catéchines, proanthocyanidines, Rumex
abyssinicus, Polygonaceae, anthraquinones, flavonoides
28
Investigação de Plantas Africanas
INTRODUÇÃO
O uso de plantas medicinais tem uma longa história de uso, seja em países
desenvolvidos ou em desenvolvimento. Por isso, há uma grande aceitação popular. Em
contrapartida, o uso nos sistemas públicos de saúde ainda é incipiente quando comparado
àqueles convencionais baseados em fármacos sintéticos. Outro fator que contribui para sua
aceitação popular é o fato de apresentarem menos efeitos colaterais e serem mais baratos.
Além disso, diferentemente dos fármacos sintéticos, as plantas são fontes renováveis, seu
cultivo favorece o meio ambiente, não provoca poluição e pode ser fonte de renda para muitas
famílias (VERMANI; GARG, 2002).
A África é um continente onde a grande maioria da população ainda está muito
distante da custosa medicina ortodoxa. Ali, o uso de plantas medicinais é a base de muitas
terapias.
Estudos etnofarmacológicos revelaram que em Camarões existem muitas plantas
medicinais usadas para o tratamento sintomático de úlceras pépticas, as quais podem ser
provenientes de infecções por Helycobacter pylori. Assim, é possível que essas plantas
possuam constituintes com atividade antibacteriana. Uma vez que esses microrganismos são
profundamente heterogêneos, é também justificável que sejam usadas plantas de diferentes
espécies (NDIP et al., 2007). Portanto, há uma convergência entre o saber popular e o fato de
que é importante dispor de um diversificado arsenal de drogas baratas para que se possa
contornar o problema da resistência.
Apesar dessa riqueza étnica, não há dúvidas de que todos os dias ocorrem perdas de
valiosas informações provenientes das culturas populares. A Prostratina (princípio ativo usado
no tratamento contra HIV), por exemplo, foi isolada da planta Homalanthus nutans
(Euphorbiaceae) a partir de um estudo etnobotânico realizado em Samoa e dirigido para
atividade anti-viral. Todos os indivíduos que transmitiram essa informação já faleceram. Isso
significa que hoje seria muito baixa a probabilidade de um pesquisador identificar H. nutans
como um potencial agente anti-HIV. A perda desse conhecimento tradicional é difícil de ser
avaliada. Mais evidente é a perda da biodiversidade vegetal, que alcançou mais de 30% da
floresta mediterrânea desde a década de 50 e o declínio de 0,6-0,8% dos biomas tropicais a
cada ano (BUENZ, et al., 2005).
Contudo, muitas vezes, não há informações escritas sobre a origem e o modo de
preparação dos fitopreparados, o que é um fator extremamente negativo do ponto de vista
29
Investigação de Plantas Africanas
científico para o uso terapêutico. Assim, é necessária a validação do modo de preparação e
administração dessas drogas (preparações), de forma a garantir a dose administrada e,
portanto, a eficácia do tratamento.
Foram estudos científicos usando abordagens etnofarmacológicas que levaram à
descoberta de vários compostos bioativos, dentro os quais a Maprouceanina (isolada de
Maprounnea africana), que é usada contra diabetes (CARNEY et al., 1999). Outras plantas
forneceram protótipos para toda uma geração de novos fármacos, como o Verapamil (antihipertensivo), derivado da papaverina, um relaxante muscular obtido de Papaver somniferum
(FABRICANT & FARNSWORTH, 2001).
Existem muitas informações sobre a composição química de plantas medicinais. Em
muitos casos, a determinação estrutural é um fim em si. A atividade biológica não é avaliada
e, por isso, muitas moléculas promissoras podem ter sido perdidas. Por outro lado, muitos
extratos brutos já foram avaliados biologicamente sem o isolamento das substâncias
responsáveis pela atividade. Essa última abordagem pode levar a erros grosseiros: Um
exemplo é a forte atividade anti-fúngica observada em extratos da planta africana Cyrtanthus
suaveolens que, na verdade era resultante da aplicação de um fungicida comercial, e não de
uma substância ativa do extrato. É evidente, portanto, que os estudos devem ser
interdisciplinares (MULHOLLAND, 2005).
Em contraposição à sua exuberante biodiversidade e riqueza de informações
etnofarmacológicas, na África a falta de recursos para pesquisa científica é exacerbada pela
instabilidade política, guerras, fome, condições sanitárias desfavoráveis e infecção pelo vírus
HIV (MULHOLLAND, 2005), o que faz com que as prioridades sejam desviadas para outras
áreas governamentais.
A República de Camarões é, na maior parte, coberta por florestas tropicais, estepes,
montanhas, planaltos e planícies. Devido à diversidade de relevo e clima, engloba
praticamente toda a variedade de flora existente na África Tropical. Estima-se em cerca de 8
mil espécies distribuídas em densas florestas tropicais ao longo da costa e savanas ao norte e
nordeste. As florestas constituem parte importante do país, já que elas cobrem 42% de sua
superfície. Na sua parte meridional, elas são densas e espessas. O governo de Camarões
almeja criar empregos e renda, o que seria possível com a exploração comercial da floresta,
porém ele deve responder às preocupações do Estado visando a proteção de sua
biodiversidade e meio ambiente.
30
Investigação de Plantas Africanas
Uma das principais causas de mortalidade na África [e no mundo todo] são as doenças
causadas por protozoários, como malária, doença do sono, Chagas e leishmaniose, que
contaminam um número astronômico de pessoas, ultrapassando os 500 milhões de casos
(WORLD..., 1998, 2002a, 2002b). O tratamento dessas doenças tem sido dificultado, não
somente pela alta toxicidade dos fármacos utilizados, mas também pela baixa eficácia devido
à crescente resistência microbiana.
Ao se considerar a perspectiva de obtenção de novos fármacos, dois aspectos
distinguem os produtos de origem natural dos sintéticos: a diversidade molecular e a função
biológica. A diversidade molecular dos produtos naturais é muito superior àquela derivada
dos processos de síntese, que, apesar dos avanços consideráveis, ainda é limitada. Além disso,
devido às diversas similaridades com o metabolismo dos mamíferos, os produtos naturais
muitas vezes exibem outras propriedades além das antimicrobianas a eles associadas
(PHILLIPSON et al., 2001). Sendo assim, a pesquisa fitoquímica auxilia no conhecimento
dos constituintes químicos de espécies vegetais, e pode indicar os grupos de metabólitos
secundários de interesse farmacológico. O conhecimento dos constituintes químicos de
diversas partes da planta favorece o seu uso sustentável e contribui para sua preservação.
155
Investigação de Plantas Africanas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal objetivo deste trabalho foi o de investigar a composição química dos
extratos das cascas, raízes e folhas de P. biglobosa e de R. abyssinicus, associado à avaliação
do potencial biolόgico das mesmas.
Apesar de seu vasto uso popular e dos ensaios farmacolόgicos previamente descritos
na literatura, a espécie P. biglobosa era ainda pouco investigada do ponto de vista
fitoquímico.
Fracionamento cromatográfico do extrato CH2Cl2:MeOH (1:1, v/v) das raίzes
possibilitou o isolamento e a identificação de nove substâncias: o lupeol (PB1), ácido gálico
(PB2), galato de metila (PB3), 4’-metilgalocatequina (PB4), 4’-metilepigalocatequina (PB5),
epicatequina (PB6), galocatequina (PB7), epigalocatequina (PB8), epigalocatequina galato
(PB9) e as análises por [HPLC]-ESI-IT-MS levaram à detecção de proantocianidinas e de
seus derivados galoilados e glucuronilados. Com este método, as proantocianidinas em m/z
785 e m/z 937 de novas estruturas e não ainda descritas na literatura, foram determinadas.
Em relação aos estudos farmacológicos, o ensaio antimicrobiano evidenciou efeito
potente a fraco do extrato CH2Cl2:MeOH (1:1, v/v) das cascas e das raízes de P. biglobosa
contra tudos os microrganismos testados. As frações semipurificadas provenientes do
fracionamento do extrato das raízes principalemente as frações J e L exibiram CIM ainda
menores particularmente contra S. aureus. Isso sugere que a epigalocatequina, a galocatequina
e a epigalocatequina galato podem ser responsáveis por tal atividade, confirmando a
potencialidade das subtâncias isoladas desta espécie.
No teste da atividade antiofídica, observou–se que os extratos apresentaram uma
neutralização das metaloproteinases do veneno de Bothrops jararaca, o que novamente pode
estar relacionado com a presença de derivados de catequinas (ASUZU et al. 2003). Esses
autores relatam a atividade antiofídica das cascas dessa espécie contra o veneno das serpentes
Naja nigricollis e de Echis ocellatus.
Os extratos e frações de P. biglobosa apresentaram também atividade antiradicalar
principalmente nas frações aquosas. Esse resultado provavelmente está relacionado à presença
de catequinas e derivados, principalmente das proantocianidinas (YONG et al., 2011). Do
ponto de vista da relação estrutura–atividade, estudos sobre as proanticianidinas têm mostrado
que a presença de grupos galoil na posição C-3 da (-)-epicatequina e da (-)-epigalocatequina,
bem como de seus dímeros, está relacionada à atividade antiviral (HASHIMOTO et al., 1996;
156
Investigação de Plantas Africanas
VLIETINCK et al., 1998; DE BRUYNE et al., 1999; YAMAGUCHI et al., 2002), à atividade
anti-inflamatόria (DE-XING, et al., 2007) e aos efeitos sobre a atividade pancreática
(MASAAKI, et al., 2005). A literatura apresenta ainda inúmeras atividades biológicas
relacionadas aos taninos condensados, tais como anti-microbiana, anti-cancer, anti-tumoral e
hepatoprotetora (JAYAMATHI et al., 2011). A glucuronidação de algumas catequinas
mantém as atividades das agliconas originais no sequestro dos radicais livres e na inibição da
liberação do ácido araquidónico a partir de células humanas cancerigenas HT-29 (LU et al.,
2003). Esses resultados justificam o uso popular de P. biglobosa no tratamento contra a
diarréia e o tifo, atividades que podem ser atribuídas novamente à presença dos taninos (RAY,
et al., 2006).
De R. abyssinicus foram isolados e/ou identificados quatro antraquinonas: crisofanol
(RAr1), fisciona (RAr2), emodina (RAr3) e emodina-8-glucopiranosideo (Rar4), duas
flavonas: orientina (RAf3) e isoorientina (RAf4) e dois ácidos fenόlicos: os ácidos trans e cisp-cumárico (RAf1) e (RAf2).
A avaliação do potencial biolόgico evidenciou que os extratos etanólicos das folhas e
raízes da espécie R. abyssinicus apresentaram baixa atividade antiradicalar quando
comparados aos padrões, e uma atividade antimicrobiana moderada ou fraca contra os
microrganismos testados, o que pode estar relacionado com o tipo e a proporção de
compostos fenólicos contido nos extratos (MILLOGO-KONE et al., 2009).
Existem varios relatos sobre as atividades biológicas dos derivados de antraquinonas.
O crisofanol exibe atividades anti-bacteriana (COOPOOSAMY & MAGWA 2006) e
hepatoprotetora (ZHAO et al., 2009). A capacidade anti-inflamatória foi relatada por KIM et
al., 2010. A fisciona apresenta um vasto número de efeitos biológicos, incluindo o efeito
hepatoprotetor (ZHAO et al., 2009), anti-inflamatório (GHOSH et al., 2010), anti-bacteriano
e anti-fúngico (TAMOKOU et al., 2009). A emodina é uma molécula com um amplo valor
terapêutico, possui efeitos protectores em hepatócitos e colangiocitos (ZHAO et al., 2009),
propriedades anti-cancerígenas (HUANG et al., 2007), atividade anti-inflamatória (GHOSH
et al., 2010), a atividade anti-angiogênico (HE et al., 2009), atividade virucida e fungicida
(BARNARD et al., 1992; KIM et al., 2004). Além disso, os derivados de antraquinonas,
geralmente sob a forma de glicosídeos ou rhamnosídeos, são os componentes ativos em um
número de drogas que possuem propriedades purgativas. A emodina (com outras
antraquinonas e os seus derivados) é a base de uma gama de purgantes naturais, e é utilizada
como um laxante desde os tempos antigos. Acredita-se que a presença de grupos hidroxila na
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Investigação de Plantas Africanas
posição 1 e 8 no sistema do anel aromático é essencial para a ação purgativa (PANEITZ &
WESTENDORF, 1999). Devido à sua estrutura química, o glicosídeo da emodina (e também
outras antraquinonas) em mamíferos é encaminhado não absorvido para o intestino grosso,
onde é metabolizada pela flora intestinal para obter as agliconas ativas. Estes efeitos ligados à
presença das antraquinonas e principalmente da emodina-8-glucopiranosídeo e de sua
aglicona pode justificar o uso tradicional de Rumex abyssinicus como laxante. A moderada
atividade antimicrobiana observada também pode contribuir para o uso medicinal de Rumex
abyssinicus .
Apesar da existência de muitos relatos sobre a atividade anti-inflamatória dos
flavonόides em geral, são poucos os relatos relacionados com esta atividade para os
flavonóides C-glicosilados. A isoorientina, principal componente da fração butanólica,
apresenta atividade anti-inflamatória em ratos no modelo de modelo de edema de pata
induzido por carragenina (KUEPELI et al., 2004). Estudos in vitro também a indicam como
inibidora da síntese do tromboxano B2 (ODONTUYA et al., 2005). Quanto à orientina, a
literatura relata atividade antiviral (LI et al., 2002), antimicrobiana (HUMA & SAVITA,
2012) e antifúngica (CAMPOS et al., 2005), além da potente atividade antioxidante
observada em ambas as flavonas nos ensaios de DPPH e β-caroteno (ABRAHAM et al.,
2010).
Este estudo permitiu obter uma visão um pouco mais aprofundada sobre a composição
química de plantas africanas. Os resultados permitem estabelecer uma correlação positiva
entre a composição química e a atividade biológica das duas espécies investigadas. Portanto, a
valorização da cultura popular africana é um elemento que pode contribuir para o uso racional
e sustentável dos recursos naturais e demonstra que as plantas africanas têm um potencial
inexplorado que merece ser investigada cientificamente.
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