Capitulo 7: Tecnologia do DNA recombinante (aulas 1,2,3 e 4 - 2º semestre) A tecnologia do DNA recombinante revolucionou o estudo da célula. Hoje o DNA é a macromolécula mais fácil de analisar e sequenciar: é possível excisar segmentos específicos, multiplica-los, determinar a sua sequência, modificá-la e mesmo inseri-los no genoma de outros organismos (engenharia genética). Estas técnicas têm implicações médicas: permitem analisar cromossomas e genoma de células humanas na procura de mutações causadoras de doenças; permitem a produção de células humanas em bactérias para posterior utilização terapêutica (ex. insulina); e inserir genes saudáveis nas células de doentes com mutações desfavoráveis (terapia génica). Técnicas mais importantes: 1. Clivagem do DNA por enzimas endonucleases de restrição: isolar genes ou outras sequências específicas. 2. Sequenciação rápida dos nucleotideos de um fragmento tornando possível identificar genes e deduzir a cadeia de aminoácidos da cadeia especificada. (permite estabelecer os limites de um gene e do aminoácido que ele codifica) 3. Hibridização de ácidos nucleicos: possibilita encontrar uma sequencia especifica de DNA ou RNA através de outra complementar – a sonda – de entre todas as outras sequencias não complementares. 4. Clonagem de DNA: permite que uma molécula de DNA seja multiplicada criando um número ilimitado de cópias (vectores de clonagem por PCR). 5. Engenharia de DNA: sequências de DNA modificadas e reintroduzidas em organismos, criando versões modificadas de genes e proteínas. 6. Monitorização da expressão de genes numa células através de hibridização dos mRNAs presentes no seu citosol com sondas complementares de DNA. Fragmentação de moléculas de DNA: Um gene é uma pequena região de uma molécula de DNA muito maior, constituída por sequencias de apenas 4 nucleotideos – logo não é possível separá-los com base em diferenças de carga e especificidade de ligação com as proteínas. O único modo de separá-los é através de fragmentação seguida de separação de acordo com diferenças do tamanho de fragmentos. Contudo a fragmentação tem de ser previsível isto é, tem de produzir fragmentos com a mesma sequência e tamanho todas as vezes que for efectuado, de modo que um gene fique sempre em determinado fragmentado de determinado tamanho. Este problema é resolvido pelas enzimas endonucleases de restrição. Estas enzimas são produzidas e purificadas de bactérias cujo DNA é protegido de clivagem por metilação – adição de grupos CH3 às bases de DNA – as endonucleases não conseguem clivar DNA metilado. Cada endonuclease de restrição cliva sempre o DNA em sequências especificas de 4 a 8 nucleotideos, ou seja, corta sempre nos mesmos sítios, determinados pela sequencia local. Logo determinada hélice-dupla de DNA é sempre clivada da mesma forma todas as vezes, produzindo vários fragmentos de restrição de tamanhos diversos. A maior parte das endonucleases cliva, uma fita de DNA e a fita complementar da mesma hélice-dupla em locais afastados alguns nucleotideos (clivagens assimétricas) produzindo fragmentos de hélice-dupla com extremidades de cadeia simples não emparelhadas – extremidades coesivas. Estas podem ligar-se em condições adequadas com outros fragmentos (ex. de outro genoma) de extremidades Página 1 coesivas complementares produzidas pela mesma enzima (endonuclease de restrição), e através da formação de ligações covalentes por outra enzima – a DNA ligase – formar DNA recombinante (fragmentos de DNA de origem diferente unidos formando uma única molécula) Separação dos fragmentos de DNA Os segmentos podem ser separados de acordo com o seu tamanho por electroforese em gel (ex: de policrilamida (mais pequenos), de agarose (maiores)), submetidos a campo eléctrico constante que arrasta o DNA para o pólo positivo devido à carga negativa dos fosfatos dos nucleótidos. Como os fragmentos menores avançam mais no gel, forma-se uma série de bandas de fragmentos com cada banda mais avançada formada por fragmentos sucessivamente menores. Estas bandas são incolores logo tem que ser coradas ou marcadas por fluorescência ou radioactividade As moléculas radioactivas emitem radiação detectável em película fotográfica sobreposta, enquanto as fluorescentes emitem luz visível se expostas a radiação UV. Se se sabe o tamanho do fragmento de DNA onde está determinado, pode-se purificar o gene do restante genoma pela electroforese. E electroforese em campo pulsado (muda periodicamente a direcção do campo) permite a separação de moléculas de DNA extremamente longas, ao contrário da electroforese em campo eléctrico constante, na medida em que nesta última as moléculas migram uniformemente independentemente do seu tamanho por se encontrarem espiradas (?) devido à acção do campo eléctrico. No campo pulsado, como há mudança de direcção, isto vai forçar as moléculas a reorientarem-se sendo que esta orientação é tão mais morosa e difícil quanto maior for o tamanho da molécula, e portanto, as mais longas migram menos. Sequenciação do fragmento de DNA: Há duas técnicas para determinar a sequência exacta dos fragmentos de DNA (e portanto do genoma): método químico e método enzimático. Estes são rápidos e fáceis logo são utilizados até para adivinhar a sequência de proteínas a partir da sequência do seu gene, já que a sequência de aminoácidos é mais difícil. O Método químico consiste em tratar quatro amostras do DNA com reagentes que destroem uma das 4 bases. Por exemplo, a 1ª amostra com um reagente que cliva o DNA nas adeninas, o 2ª com reagente que cliva as timinas, o 3ª as citosinas, e 4 as guaninas. Como o tratamento é brando, cada molécula de DNA apenas é clivada em dois fragmentos (só é destruída numa das 4 bases), em média. Seguidamente marcam-se os fragmentos com fosfato radioactivo (com a enzima endonuclease cinase) e procede-se a electroforese de cada uma das quatro amostras lado a lado. A amostra tratada com reagente que cliva as timinas, vai aparecer na electroforese com fragmentos de vários tamanhos, cada um dos quais começa ou termina. Se esse fragmento por apenas ligeiramente maior (banda ligeiramente mais atrás) que uma banda de amostra ao lado (ex: tratada com reagente clivador de citosinas) que termina numa citosina, há indicação que nessa porção do DNA uma citosina se segue a uma timina, deste modo pode ser determinada toda a sequência. O método enzimático é o procedimento mais utilizado hoje. O DNA a ser sequenciado é usado como molde para análise da cadeia complementar in vitro pela DNA polimerase. São adicionadas além de quatro bandas normais, a cada Página 2 uma de 4 amostras, 1 de 4 bases alteradas (dideoxirribonucleotideos) que bloqueiam a progressão da polimerização. Assim se na amostra com didesoxiadenina a DNA polimerase encontrar uma timina no molde, ela pode integrar na cadeia uma adenina normal, e a polimerização prossegue, ou, por acaso, uma didesoxiadenina, e a polimerização pára. Logo, são formadas cadeias complementares de tamanhos diferentes, cada uma terminando numa amostra, em determinada base (ex: na amostra 1 todas as cadeias bloqueadas, em diferentes pontos, pela dideoxiadenina, na amostra 2 pela dideoxicitosina, etc). Por electroforese lado a lado podem se comparar os tamanhos das cadeias terminadas. Se uma cadeia da amostra 2 for ligeiramente maior que uma da amostra 1, significa que nessa porção a uma C se segue uma A. O método automatizado consiste na aplicação do método enzimático por máquinas especializadas. --Hibridização e sondas de DNA ou RNA Desnaturação: as ligações entre cadeias complementares rompem-se a altas temperaturas (100ºC) ou pH (↑). É reversível por descida da temperatura ou pH – hibridização de cadeias complementares (a 65%). Cadeias com sequências complementares podem hibridizar mesmo tendo origens diferentes. Sonda de DNA ou RNA: cadeia simples com fosfato radioactivo ( 32P) ou outro grupo facilmente detectável (ex: fluorescente brometo de etideo) que pode ser usada para encontrar e quantificar concentração de uma sequência complementar na amostra. Método sensível que permite detectar uma única cadeia complementar de entre muitas. Também é possível detectar, com sondas de DNA, mRNA complementar no citosol da célula ou in vitro), de modo a quantificar o nível de expressão ou actividade de um gene na célula. Permite ainda determinar sequências de intrões através da excisão e determinação das partes da sonda DNA-genómico que não emparelham com o mRNA – SPLICING. Há três técnicas de marcar fragmentos de DNA (ex. sondas) radioactivamente ou com grupos fluorescentes: nick translation, marcação aleatória de primers e end labelling. End labelling: nesta técnica o fragmento de DNA (sonda) que se pretende marcar é incubada com uma enzima DNA cinase na presença de fosfato radioactivo adicionado. A enzima adiciona os fosfatos radioactivos às extremidades 5’ marcando a sonda. Como cada sonda de DNA só tem dois fosfatos radioactivos emite pouca radiação, pode ser difícil de detectar na película fotográfica. Nick translation é um método baseado na acção de três enzimas no DNA, num tubo de ensaio com desoxirribonucleotideos trifosfatados com fosfato radioactivo. A enzima desorribonuclease I remove bases aleatórias na cadeia de DNA, criando “nicks” (regiões onde há uma base desemparelhada por a outra ter sido removida). A segunda enzima: DNA polimerase 1- exonuclease, remove os nucleótidos a partir do “nick”, e simultaneamente a terceira enzima DNA polimerase I, restabelece a dupla hélice de DNA a partir da cadeia intacta com nucleotidos radioactivos. Página 3 Marcação aleatória de primers: oligonucleotideos cm 6-8 bases em sequências variadas aleatórias (todas as possíveis de 6 ou 8 bases) são produzidos artificialmente por métodos químicos. De seguida estes oligonucleotideos são adicionados em solução a 65º C ao fragmento desnaturado (por elevadas temperaturas) (em cadeia simples) do qual se quer fabricar sondas complementares, juntamente com desoxirribonucleotideos trifosfatados radioactivos ou fluorescentes, e a enzima DNA polimerase I. Alguns destes oligonucleotideos de sequência aleatória são complementares às cadeias do fragmento, logo poderão hibridizar com ela e servir de primers à DNA polimerase, que sintetiza cadeia complementar com as bases radioactivas ou fluorescentes. Esta nova cadeia, a sonda, é separada da cadeia molde por novo aquecimento a 100ºC, e pode ser usada para identificar o mesmo fragmento de entre todos os outros na folha de nitrocelulose em um blotting. Hibridização in situ é a introdução de sondas de ácidos nucleicos marcadas (ex: radioactivas ou com grupos reconhecidos por anticorpos com grupos fluorescentes) em o 1. Células vivas para detecção e seguimento dos RNA’s intracelulares; ou o 2. Fora de células para identificar a posição de determinadas sequências (ex: genes) no cromossoma inteiro (cujo DNA foi temporariamente separado nas suas cadeias simples por exposição a pH alto) com sondas de DNA com grupos químicos reconhecíveis por anticorpos fluorescentes – chromossome painting. Northern, western e southern blotting Blotting é o processo de transferência de partículas (de RNA no northern blot, DNA no southern blot, proteínas no western blot) submetidas a electroforese, do gel usado no processo para uma membrana de nitrocelulose. Consiste em colocar o gel com as bandas de partículas numa esponja em tampão liquido abundante e papel absorvente. À medida que o papel absorve o tampão liquido, este passe pelo gel levando o RNA, DNA ou proteínas consigo. Estas ficam retidas na membrana de nitrocelulose acima, conservando a estrutura em bandas. Northern Blotting: técnica para examinar RNA’s celulares: RNA celular é separado dos restantes componentes celulares. E então submetido a electroforese em gel, separando-se em bandas de acordo com tamanhos. Estes tamanhos são comparados pela electroforese, ao lado, de outra amostra de RNA de tamanhos já conhecidos (padrões de RNA). De modo a permitir acesso a sondas é permitido o blotting. Após o blotting, a folha de nitrocelulose é incubada a 65ºC com uma solução que contém as sondas de cadeia simples de DNA com fosfato radioactivo ou com grupos fluorescentes ligados. Estas sondas ligam-se aos RNA’s complementares (hibridização) identificando-os. A folha de nitrocelulose é então lavada com tampão para remover sondas não ligadas e revelada por película fotográfica em câmara escura (se sondas marcadas por fosfato radioactivo) ou iluminação por UV (se sondas com grupos fluorescentes). As bandas com o RNA procurado são assim identificadas. (Northern blotting – electroforese + blotting + sondas de DNA). Southern Blotting é um método de identificação idêntico ao northern blotting só que com DNA celular em vez de RNA. O DNA é clivado com enzimas de Página 4 restrição (endonucleases) e submetido a electroforese. O resto do método é idêntico ao do northern blotting, com identificação de sequencias por sondas de DNA. (Southern blotting – electroforese de DNA + blotting + sondas de DNA) Western Blotting é uma técnica de análise de proteínas semelhante aos outros dois blots. As proteínas são tratadas com o detergente SDS ( que as “soltam” das membranas), submetidas a electroforese e transferidas para folha de nitrocelulose por blotting. Seguidamente a folha de nitrocelulose é incubada com anticorpos (em vez de sondas de DNA) radioactivos ou fluorescentes específicos das proteínas que se procura, com os quais os anticorpos se ligam. Após lavagem para retirar anticorpos não ligados em excesso, é feita revelação das bandas por película fotográfica ou exposição a radiação UV. (western blotting – electroforese de proteínas + blotting + sondas de anticorpos. RFLP’s, VTR’s e microsatelites: Diferenças na cadeia de nucleotideos em indivíduos são chamadas mutações se raras ou polimorfismos se comuns. -- Diferenças em determinados nucleotideos podem ser suficientes para uma endonuclease de restrição clivar a amostra de DNA proveniente de um individuo mas não de outro (formando um fragmento maior ou dois menores). Delecções ou inserções do DNA num individuo significa que nesse individuo determinados fragmentos de um mapa de restrição serão maiores ou menores que noutro. Estes polimorfismos detectáveis através de electroforese e comparação dos tamanhos dos fragmentos de restrição entre dois indivíduos são RFLPs (restriction fragment Lenght Polymorfisms). Há tipos de RFLP que são muito variáveis na população humana, se se sabe que um gene normal está em geral acompanhado num fragmento de restrição por um RFLP de determinado tamanho enquanto o alelo correspondente à doença é acompanhado em geral no seu fragmento por um RFLP de outro tamanho, é possível deduzir qual o gene presente efectuando uma electroforese do fragmento (marcado pró sonda) de um paciente comparando a posição da banda onde está o gene com os de pessoas saudáveis ou com mutação. Um VNTR (variable number of tandem repeats) é um tipo muito utilizado de RFLP muito comum e altamente variável no genoma humano. É constituída por um conjunto de bases de DNA que se repete várias vezes seguidas, como GTTGTTGTTGTT, e que faz parte da porção não codificante do genoma. Um VNTR em que a sequencia se repete é menor do que 4 bases é denominado um microsatelite. Como o número de repetições é altamente variável, um indivíduo num determinado VNTR pode ter cinco repetições seguidas da sequncia, enquanto noutro poderá haver 10 nesse local e 7 noutro. Logo, se se examinar vários sítios de VNTR simultaneamente, combinação do número de repetições em cada um deles é altamente especifico do individuo, como um código um impressão digital – DNA fingerprint. (É portanto uma característica do individuo que está relacionada com o número de repetições das bases de DNA em cada VNTR). Como um filho recebe metade do seu DNA do pai, também é possível confirmar a paternidade examinando se pelo menos metade das repetições em vários VNTR’s do filho são idênticos aos do pai. Técnica para examinar para examinar se os locais VNTR’s tem repetições em número igual ou diferente: se a sequência em redor do VNTR for conhecida, Página 5 pode ser efectuado PCR com adição de primers para ampliar apenas determinadas regiões onde se sabe estarem VNTR’s altamente variáveis. Esta ampliação é feita para o DNA do pai e do filho; ou do suspeito e cabelo encontrado na cena do crime. Se um indivíduo tiver nessa região ampliada 20 repetições no VNTR’s, os fragmentos ampliados terão tamanho maior do que noutro que só tenha 5. Logo estas diferenças de tamanho podem ser detectadas por electroforese das regiões de VNTR, ampliadas do genoma pela PCR, seguida da hibridização com sondas que detectam os VNTR’s ou seja SOUTHERN BLOOTING (electroforese de DNA + sondas de DNA) Clonagem de DNA A clonagem de DNA consiste na inserção de um gene ou sequencia de interesse no genoma de um elemento genético auto-replicativo como uma bactéria, vírus bacteriófago ou cromossoma artificial eucariótico em célula funcional – o vector de clonagem. Esta sequência é então multiplicada juntamente com o resto do genoma do vector, do qual pode ser mais tarde obtida em maior número de cópias ou estudado o seu efeito no organismovector ou as proteínas produzidas a partir dela. Um fago ou bacteriófago é um vírus que infecta bactérias nas quais injecta o seu genoma. Alguns bacteriófagos em determinado ciclo de vida não matam as bactérias injectam, limitando-se a introduzir o seu DNA no cromossoma bacteriano, que é reproduzido juntamente com a bactéria. Com mudança de ciclo o vírus pode matar a bactéria e utilizar os seus recursos para se autorreplicar. São portanto bons vectores para introduzir e replicar DNA em bactérias. Um plasmideo é um pequeno circulo de DNA de cadeia dupla helicoidal bacteriano, distinto do grande cromossoma circular genómico principal e que normalmente contem genes de adaptação a condições especiais como os da resistência antibiótica. As bactérias têm mecanismos para absorver plasmideos que sejam colocados no seu meio de cultura. (são por isso, também muito bons vectores para introduzir e replicar o DNA em bactérias) Um vector plasmideo ou bacteriófago só pode inserir fragmentos relativamente pequenos de DNA. Para fragmentos grandes é necessário usar cromossomas artificiais eucarióticos, com centrómeros e telómeros, como vectores, os YAC’s (yeast artifical chromossomes – cromossomas artificias de levedura), MAC’s (c. a. de mamíferos) ou HAC’s (c. a. humanos) que são introduzidos juntamente com o fragmento integrado em células eucarióticas onde são replicados pela célula juntamente com os restantes cromossomas. Um banco de DNA é uma colecção de fragmentos de DNA de um genoma distribuídos por células de um vector. Um fragmento por cada célula do vector (ex: uma bactéria com plasmideo, vírus bacteriófago ou uma célula eucariótica com cromossoma artificial). Há dois tipos de banco de DNA: genómico e de cDNA Um banco genómico de vectores plasmideos é formado pelo tratamento de plasmideos e todo o genoma que se quer analisar com a mesma endonuclease de restrição. Esta cria fragmentos do genoma a plasmideos clivados com extremidades coesivas complementares. Quando se criam condições para a hibridização do DNA alguns plasmideos vão hibridizar, pelas suas extremidades coesivas, com um fragmento do genoma formando círculos de DNA hibridizado que são covalentemente selados por uma enzima adicionada ao tubo de ensaio Página 6 – a DNA ligase. Em seguida os círculos de DNA são transfectados para bactérias tornadas temporariamente permeáveis a eles. Como os plasmideos são geralmente portadores de genes de resistência a antibióticos, as bactérias que foram transfectadas com plasmideos são seleccionadas pela adição de um antibiótico ao meio de cultura – apenas elas sobrevivem. Os plasmideos replicam-se juntamente com as bactérias. Cada bactéria com determinado fragmento e todas as suas bactérias-filhas (com o mesmo fragmento) formam uma colónia com esse fragmento. Um banco de cDNA é um banco de DNA clonado contendo apenas os genes ou sequencias traduzidas em mRNA em determinada célula, ou seja, excluindo as partes do genoma que não são transcritas nessa célula. É formado através da recolha dos mRNA de uma célula e sua transcrição reversa em cDNA pela enzima transcriptase reversa (dos retrovírus). Após formação da complementar de DNA polimerase, este cDNA são inseridos em plasmideos e bactérias – criando clones de cDNA. Os bancos de cDNA contem apenas DNA complementar dos mRNA produzidos em determinada célula, logo não contém a maioria do DNA genómico não codificante, intrões, ou genes não expresso nesse momento pela célula. ---------Se se pretende obter ou estudar determinado gene, é preciso descobrir qual ou quais as colónias de bactérias do meio de cultura que contém o fragmento (clone) que contém o gene de interesse. Isto é feito através da retirada de algumas bactérias do meio de cultura com uma folha de papel à qual algumas bactérias de cada colónia aderem (formando um “mapa” das colónias simétrico à disposição das colónias no disco de petri de cultivo). Seguidamente procedese à lise (rebentamento da membrana) das bactérias no papel, separação da dupla hélice em meio alcalino (=desnaturação do DNA) e inserção de uma sonda complementar ao gene ou a uma outra porção do fragmento procurado no papel revelando a posição da colónia pretendida (por película fotográfica se a sonda for radioactiva ou exposição a UV se for fluorescente). Também se pode fazer hibridização in situ (sondas de DNA/RNA são usadas com anticorpos para localizar sequencias especificas de ácidos nucleicos “in situ”), ou pela análise das proteínas produzidas pelas bactérias, por anticorpos específicos de proteína procurada. Cromossome walking é um método para obter a localização de um gene no cromossoma ou sequenciar cromossomas – ou seja para descobrir a posição de um fragmento de restrição relativamente aos outros no cromossoma. Após criação de dois bancos genómicos do mesmo cromossoma, obtidos por clivagem de duas amostras do cromossoma cada uma por uma endonuclease de restrição diferente, uma colónia bacteriana de um dos bancos, com determinado fragmento do cromossoma, é seleccionada. O fragmento é sequenciado e purificado das bactérias da colónia e é fabricada uma sonda complementar a uma extremidade do fragmento. Esta sonda é utilizada para identificar a colónia do segundo banco que contém um fragmento com sobreposição parcial ao primeiro, ou seja, com parte da sequência complementar, que também é sequenciado. Desta segunda colónia é fabricada uma sonda complementar ao extremo oposto desse fragmento, a qual é por sua vez utilizada para determinar a colónia do primeiro banco com sobreposição Página 7 parcial a essa extremidade, que é sequenciado, e cuja extremidade oposta é usada para fabricar uma nova sonda, etc., até todo o cromossoma estar sequenciado. Clonagem posicional é uma técnica utilizada quando se sabe que determinada doença é genética (causada por mutação de um gene) – através de um estudo das arvores genealógicas de famílias onde a doença é frequente, mas não se sabe qual exactamente o gene em causa, para descobrir qual é e onde se encontra esse gene no genoma humano. O DNA de um doente e dos seus familiares é estudado de modo a determinar quais os RFLP’s co-herdados com a doença. E portanto presumivelmente com o gene mutado (que terá de estar no mesmo cromossoma perto do RFLP’s ou de outro modo não seria co-herdado com esses RLP’s pois provavelmente já se teriam separado por crossingover. São fabricados dois bancos de clones genómicos diferentes de todo o DNA entre os RFLP’s herdados que se julga flanquearem (?) o gene, e que são usados pelo método chromossome walking para sequenciar toda a região; Determina-se as porções importantes do DNA entre os RFLP’s através de comparação com DNA de cobaias: como 99% dos exões de cobaias são praticamente iguais aos dos humanos mas os intrões são diferentes (porque não são importantes e os seus mutantes não sofrem selecção natural) é possível adivinhar quais os exões que existem perto desses RFLP’s comparando essa região do genoma humano com a região correspondente nas cobaias: as zonas que forem muito parecidas são provavelmente exões – alguns dos quais provavelmente correspondem ao gene procurado. Determinação da expressão do DNA em mRNAs: se a doença genética só se exprime em determinado tecido do doente (ex: na pele) o gene procurado expressa-se em mRNA apenas nesse tecido. Logo, examinando os mRNA’s numa célula desse tecido do doente e comparando-os através de sondas aos exões possíveis para o gene (determinados no passo anterior) podem eliminarse de consideração aqueles exões que não correspondem a mRNA’s no doente e que portanto não são expressos – esses não podem corresponder ao gene causador da doença; detecção por southern blotting de delecções ou inserções nessas sequências importantes que possam inviabilizar o gene: quando exões possíveis para o gene já são poucos porque as outras sequências perto do RFLP’s já foram eliminadas pelos passos anteriores, basta comparar esses exões nos doentes e nas pessoas normais: aqueles que estiverem alterados apenas nos doentes corresponderão ao gene causador da doença procurado. PCR ou polymerase chain reaction: técnica que permite clonar ou amplificar (multiplicar) um fragmento de DNA ilimitadamente sem recorrer a vectores ou células vivas. É necessário que pelo menos parte (as duas extremidades) da sua sequência já seja conhecida. A sequência dos dois extremos (primers) é utilizada para sintetizar artificialmente pequenos oligonucleotideos (moléculas de DNA com 6-8 bases) complementares, numa extremidade, a uma das cadeias, e no outro à segunda cadeia da dupla hélice do fragmento. Esses oligonucleotideos são necessários para servir de iniciadores da enzima DNA polimerase que não consegue iniciar a polimerização sem eles. Num tubo de ensaio é colocado o fragmento a ampliar + grande quantidade de dois iniciadores (primers) um para cada cadeia) + DNA polimerase + ribonucleotideos-trifofatados (DNTP’s ?). Após aquecimento até 100ºC a dupla hélice do fragmento separa-se; depois com arrefecimento até 65ºC há Página 8 hibridização: como existem muitos iniciadores na solução cada cadeia do fragmento associa-se com o iniciador complementar e vai servir de molde – são criadas duas cadeias complementares novas pela DNA polimerase. Com novo aquecimento as 2 duplas-hélices separam-se, com arrefecimento hibridizam novamente com iniciadores e são replicadas dando origem a 4 duplas hélices. Cada aquecimento e arrefecimento e polimerização pela DNA polimerase duplica o número de hélices idênticas. Este procedimento é actualmente automatizado e cada ciclo demora cerca de 5 min. É possível detectar e ampliar quantidades minúsculas de DNA – mesmo uma única molécula – até grandes quantidades em pouco tempo. Página 9