UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COORDENADORIA DE CONCURSOS – CCV Evento: Concurso Público para Provimento de Cargo Técnico-Administrativo em Educação Edital N° 142/2016 PARECER A Comissão Examinadora da Prova de Língua Portuguesa efetuou a análise do recurso administrativo e emitiu seu parecer nos termos a seguir. Questão 01 A questão 01 trata de leitura interpretativa. É correta a alternativa (A). No trecho “Era um show de Truman voluntário, uma bolha de registros milimetricamente calculados” (linha 11), a autora alude ao filme “Show de Truman”, realçando a artificialidade das situações que observava no restaurante: “Ninguém comia sem antes registrar a comida, ou matava a sede antes de clicar o drink apoiado na mão e com o bar ao fundo” (linhas 09-10). Tal como no filme, mas de forma voluntária, tudo se passa como se a vida fosse um grande cenário, uma representação. As pessoas se comportam como se estivessem representando. Esse caráter da artificialidade em contraponto com a espontaneidade se evidencia especialmente na metáfora “uma bolha de registros milimetricamente calculados”, ou seja, totalmente artificiais, antinaturais. As demais alternativas são falsas por não serem amparadas pelo contexto. A alternativa (C), por exemplo, é falsa porque a alusão ao filme no referido trecho não enfatiza a questão do paradeiro das fotos. Aliás, o texto sequer trata dessa questão, portanto, não poderia “realçá-la”. Note-se que “uma bolha de registros milimetricamente calculados” (linha 11) não se relaciona ao “desconhecimento do paradeiro das fotos” e muito menos destaca esse aspecto. Trata-se de realce à artificialidade da situação, como se depreende da expressão “milimetricamente calculados”, ou seja, eram registros fotográficos afetados totalmente planejados, ensaiados, sem espontaneidade. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 02 A questão 02 trata de leitura, especialmente, item 11 do Programa “Reconhecimento dos efeitos de sentido decorrentes do emprego de recursos expressivos”. É correta a alternativa (B). Em várias passagens do texto para simular uma interação, antecipando reações do leitor e expressando as suas, a autora recorre ao emprego frequente de comentários paralelos entre parênteses e travessões, como em “no funeral (!)” (linha 13), em que a autora recorre ao uso do sinal de exclamação entre parênteses para mostrar o absurdo da selfie em funerais. Note-se que a alternativa apresenta esse trecho do uso de parênteses como um exemplo e não como o único exemplo. Neste trecho e noutros, a autora recorre ao uso de parênteses, já em outros trechos recorre ao uso de travessões como se observa nos exemplos a seguir: “(sou do tempo em que “fotinha” era retrato)” (linha 06) “Quase ninguém olhava para os músicos — que tocavam um samba de gafieira —“ (linha 08) “após o sexo (sim!, tem isso agora), com o cachorro (milhares com o cachorro, meu Deus)” (linha 13-14) “uma vez que sua popularidade havia crescido — pasme! — 17.000% em 365 dias” (linhas 16-17) Portanto, o que está em foco na alternativa é o fato de a autora recorrer a “comentários paralelos frequentes”. Para tanto, ora usa travessões, ora usa parênteses. Ao usar a palavra “como”, a alternativa demonstra tratar-se de um exemplo de uso, sem pretensão de apresentar uma lista exaustiva, inviável em uma alternativa. As demais alternativas são falsas, pois apresentam recursos que não se relacionam ao efeito de sentido de simular interação. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 03 A questão 03 aborda Leitura e requer que o candidato compreenda o efeito de sentido decorrente da ordenação dos termos. É correta a alternativa (D). No trecho “com roupa de festa, com roupa íntima, sem roupa alguma (!), virado do avesso” (linhas 14-15), há uma gradação crescente de intimidade no sentido de interior, privado. “Roupa de festa” conota algo menos íntimo, mais social, mais público menos privado. “Roupa íntima” já apresenta um grau de intimidade maior, pois se usa roupa íntima diante de pessoas íntimas, familiares, por exemplo. “Sem roupa alguma” é um grau ainda maior de intimidade, pois só se apresenta sem roupa, sem proteção alguma, a pessoas muito íntimas. A última expressão “virado do avesso”, naturalmente um exagero, conota um grau máximo de intimidade, de privacidade, de interioridade. A ordenação dos termos alude a uma crescente exposição que vai do mais social, menos íntimo ao mais privado, mais íntimo, como se a perda da privacidade fosse crescente, na medida em que se perde a proteção do corpo: roupa social: totalmente vestido, protegido; roupa íntima: um primeiro grau de revelação, de privacidade, como se é debaixo da roupa social; sem roupa alguma: um grau maior de revelação: como se é sem a roupa de baixo; virado do avesso: o máximo de revelação, como se é por dentro do que apresenta o corpo sem roupa. As demais alternativas são falsas porque não condizem com a sequência destacada no enunciado da questão. A alternativa (C), por exemplo, é falsa, porque não há uma escala crescente de “banalidade” nos termos usados. Não se pode dizer que uma roupa de festa ou roupa íntima é menos banal que uma pessoa sem roupa alguma. Muito menos que um indivíduo “virado do avesso” é mais banal que vestido de roupa de festa. Se roupa de festa poderia ser tido como menos banal, por ser roupa usada em ocasiões especiais, não se pode dizer que uma pessoa “virada do avesso” seja mais banal. Logo, não há gradação crescente de banalidade na sequência de termos, em análise. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 04 A questão 04 trata de leitura interpretativa. É correta a alternativa (A). No sexto parágrafo, a autora comenta o vazio existencial. No trecho “É hora de engolir a câmera e deixar que ela registre o que há de mais importante, mas quem tem realmente coragem para fazer essa viagem?” (linhas 34-35), ao perguntar retoricamente “quem tem realmente coragem para fazer essa viagem?”, depreende-se que ninguém, ou quase ninguém, tem realmente coragem de fazer “essa viagem”, ou seja, as pessoas evitam o autoconhecimento. A mesma ideia está presente na reflexão: “Talvez estejam sobrando registros externos e faltando os internos, num mundo com menos autorretratos e mais autoanálises” (linhas 33-34), em que a autora modaliza a informação de que faltam autoanálises, ou seja, autoconhecimento. As demais alternativas são falsas por não terem apoio no sexto parágrafo. A alternativa (B), por exemplo, é falsa, porque o texto fala justamente o contrário: há mais autorretratos que autoanálises. O trecho “..., num mundo com menos autorretratos e mais autoanálises” (linhas 33-34) alude a um mundo desejado e não ao mundo presente. A alternativa (C) também é falsa, pois, como se depreende do trecho: “O crescimento exponencial do ego costuma carregar uma mortalha pesada: o vazio existencial. Nunca se esteve tão frágil e tão exposto ao mesmo tempo. Está aí a depressão — o mal do século — para comprovar.” (linhas 31-33), o texto não diz que a depressão provoca exposição excessiva, mas que a exposição excessiva, o crescimento exponencial do ego caminha paralelo à depressão (“O crescimento exponencial do ego costuma carregar uma mortalha pesada: o vazio existencial” (linha 31). Não há afirmação de uma relação de causa e efeito entre depressão e exposição. No máximo, pode-se concluir que a exposição excessiva provoca depressão e não o inverso. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 07 A questão 07 trata de morfologia, item 3.11 do Programa: “decomposição dos vocábulos em suas unidades mínimas de significação”. É correta a alternativa (C). O vocábulo imaginando é formado de raiz, vogal temática e desinência de gerúndio: imagin – a – ndo. As demais alternativas são falsas, porque decompõem incorretamente o vocábulo em suas unidades mínimas. A alternativa (B), por exemplo, é falsa, porque o vocábulo retratar é formado de prefixo, raiz, vogal temática e desinência de infinitivo: re-trat-a-r. Destaque-se que a questão cobra a decomposição em elementos mórficos, unidades mínimas de significação e não divisão silábica, que separa o vocábulo em unidades não significativas: as sílabas. A separação: i-ma-gi-nan-do, por exemplo, apresenta as sílabas de que o vocábulo imaginando é formado e não as suas unidades significativas. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 08 A questão 08 aborda morfologia, item 3.2. do Programa “identificação das flexões nominais e verbais”. É correta a alternativa (E). O verbo sublinhado, no trecho “Talvez estejam sobrando registros externos” (linha 33), encontra-se no presente do subjuntivo, mesmo tempo e modo do verbo sublinhado na frase “e deixar que ela registre o que há...” (linhas 34-35). As demais alternativas são falsas por o verbo encontrar-se em outro tempo e/ou modo distinto do verbo da frase do enunciado. A alternativa (C), por exemplo, é falsa porque os dois verbos encontram-se em formas distintas do verbo da frase do enunciado. O verbo poder encontra-se no presente do indicativo e o verbo procurar encontra-se no gerúndio. Por fim, cabe ainda salientar que a ausência de destaque a um dos verbos da alternativa (C) não invalida a questão, porque nenhum deles encontra-se no mesmo tempo e modo do verbo sublinhado na frase do enunciado: “Talvez estejam sobrando registros externos” (linha 33). A questão solicita que o candidato identifique “a alternativa cujo verbo se encontra no mesmo tempo e modo verbal que o sublinhado em “Talvez estejam sobrando registros externos” (linha 33). O verbo sublinhado está no presente do subjuntivo e a única alternativa que contém verbo no presente do subjuntivo é a alternativa (E). Portanto, ainda que, em todas as alternativas, os verbos não estivessem sublinhados, a alternativa verdadeira seria facilmente identificada pelo candidato que soubesse reconhecer a flexão do verbo destacado no enunciado. Na alternativa (A), há dois verbos: um no imperfeito do indicativo e outro no infinitivo. Na alternativa (B), há apenas um verbo e está no presente do indicativo. Na alternativa (C), há dois verbos, um no presente do indicativo e outro no gerúndio. Na alternativa (D), também há dois verbos um no infinitivo e outro no presente do indicativo. Na alternativa (E), há dois verbos, um no infinitivo e outro no presente do subjuntivo. Logo, a única alternativa que atende ao solicitado no caput da questão é a (E). Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 10 A questão 10 trata de sintaxe, item 4.1. do Programa “reconhecimento dos termos da oração”. É correta a alternativa (E). Na frase “Talvez estejam sobrando registros externos” (linha 33), o termo “registros externos” tem a função sintática de sujeito. As demais alternativas são falsas porque classificam incorretamente o termo grifado. A alternativa (D), por exemplo, é falsa, porque o termo “inesquecível” em “e foi um martírio inesquecível” (linha 24) é adjunto adnominal e não predicativo do sujeito. A frase não é “Um martírio foi inesquecível”, mas “Isso foi um martírio inesquecível”, com a elipse do sujeito como se depreende do contexto, “Precisava obter algumas para uma divulgação e [ISSO = conseguir uma boa selfie segurar um carão] foi um martírio inesquecível”. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Fortaleza, 22 de agosto de 2016. Profa. Maria de Jesus de Sá Correia Presidente da Coordenadoria de Concursos – CCV