REVISTA MENSAL DO JAZZ • SETEMBRO 2008 POR PEDRO CARDOSO REVISTA MENSAL DO JAZZ Músicos, Nascimentos, Músicas, Fatos, Curiosidades “DO OUTRO LADO DO JAZZ” é uma seqüência de textos resultantes de trabalho de pesquisa de MÁRIO JORGE JACQUES (autor do livro “GLOSSÁRIO DO JAZZ”, 1ª Edição, 2005, 350 páginas, Editora Papel Virtual), que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los para inclusão periódica na “REVISTA MENSAL DO JAZZ” e dentro do site da “TRADITIONAL JAZZ BAND BRASIL”. DO OUTRO LADO DO JAZZ ▪ # 24 A DANÇA E O JAZZ - PARTE III - FINAL Faltou-nos dizer que o casal “Irene e Vernon Castle” foco da anterior “Revista Mensal do Jazz” de Agosto/2008, foi objeto do longa metragem de 1939 “A História de Irene e Vernon Castle”, tendo Fred Astaire e Ginger Rogers nos papéis principais (93 minutos, direção de H.C.Potter, preto-e-branco, U.S.A.). Talvez a primeira manifestação de dança afro-americana tenha sido o “CONGO” (não confundir com a conga cubana, de origem mais recente), uma dança negra das Antilhas de caráter dramático encontrada também na Louisiana. ”CONGO SQUARE” foi uma designação popular e oficiosa de um campo vizinho da Rampart Street em New Orleans, onde se reuniam os escravos aos domingos com permissão para dançar suas tradições e ritos africanos como o congo e o “voodoo”. Empregavam tambores improvisados de todos os tipos e curiosos objetos como a “queixada de burro”. Dançavam também a “bamboula”, dança de movimentos eróticos acompanhada por um tambor primitivo de mesmo nome muito usado pelos negros da Lousiana. Em 1885 existiam descrições de negros de Nova Orleans dançando tão lascivos quanto possível, as mulheres rodando sem tirar os pés do chão enquanto os homens pulavam no ar. Não se deve presumir que damas e cavalheiros das antigas Virginia e Louisiana dançassem de maneira tão desenvolta e desinibida. Acontece que existem episódios na história da dança em sociedade em que uma mesma maneira ou tipo de dança existe simultaneamente em dois níveis, assumindo uma forma polida e decorosa na sociedade refinada e manifestando caráter grotesco e licencioso no seio “popularesco”. As canções e as danças dos negros das fazendas constituíram, a princípio, entretenimento também para os proprietários rurais e suas famílias. Mais tarde, imitações feita por brancos que pintavam os rostos de preto levaram as “coon songs” e os “cakewalks” a divertir todo os EUA através dos imensamente populares “minstrel shows”. A música saltitante, sincopada, passou a ser um enorme sucesso em todos os níveis sociais, sendo criados inúmeros passos de dança calcados em formas rítmicas e coreográficas, imitando certas danças de origem européia como as quadrilhas, polcas, “cotillons”, “lanciers”, mazurcas e outras e que foram modificadas dentro da mais pura tradição negróide. Textos originais de MÁRIO JORGE JACQUES, que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los. PÁGINA 1 DE 2 REVISTA MENSAL DO JAZZ • AGOSTO 2008 POR PEDRO CARDOSO Em tempos idos encontrava-se o “cakewalk”, também o “schottisch” que reporta-se a antiga dança de salão talvez proveniente da Hungria, em compasso binário e, portanto, semelhante à marcha e cujos passos se aproximam dos da polca (no Brasil era conhecida como a “escocesa”). Estas músicas junto com as do minueto e da quadrilha francesa, todas cultivadas no sul da América do Norte no século XVIII, formaram o elo europeu do Ragtime. Depois vieram as variações como o “one-step”, “two-step”, o “charleston” e surgiram ainda as danças que acompanhavam o swing tais como o “shimmy”, “lindy-hop”, “black bottom”, “jitterburg” e outras... Talvez a mais marcante tenha sido mesmo o “Fox-Trot”, muito popular desde o final dos anos 10 e até os anos 20 e 30 e que se utilizava também de música de Jazz. Sua popularidade foi tal que passou a assinalar até os anos 50 a música em tempo rápido (“hot” e sincopada) tocada pelas orquestras para dançar (“big.bands”), fosse ou não exatamente Jazz. Quando o tempo era lento, uma balada por exemplo, chamava-se de “slow-fox”. O “Fox-Trot”, literalmente o trote da raposa, possuiu inúmeras variações também relacionadas com animais como o “buzzard-lope” (galope de urubu), “turkey-trot” (trote do peru), “grizzly bear” (urso pardo), “camel walk” (passo do camelo), “horse-trot” (trote do cavalo), “honey-bug” (percevejo amável) e outros tantos passos “zoológicos”. O “Camel-Walk” por exemplo refere-se a uma dança derivada do “Fox-Trot” com música de Jazz bastante popular entre 1917 a 1927, empregando movimentos de ombros e um vai e vem com as costas que imitava o andar do camelo. “Charleston” era o nome de uma dança inicialmente negra com origem na cidade de mesmo nome, na Carolina do Sul e popularizada a partir de 1923, após o grande sucesso da composição de nome “Charleston South Caroline” do pianista James Price Johnson que foi usada no musical intitulado “Runnin’ Wild”. Foi um sucesso universal até mais comercial do que jazzístico, tendo sido adotada pelos brancos em seus salões. A característica da dança eram os passos rápidos com cruzamento dos pés para dentro e para fora; o “Charleston” foi praticado em todo o mundo contribuindo sobremodo para difundir o rítmo sincopado da música de Jazz, particularmente das bandas “dixieland”. Ressalte-se, de passagem, que o Jazz chegou a New York por várias vias, mas no ano de 1917 uma banda branca de New Orleans, a “The Original Dixieland Jass Band”, se apresentou no sofisticado Restaurante e Café Reisenweber com entusiástica aceitação, tendo sido inclusive a primeira banda que gravou um disco sob a chancela de música de Jazz neste mesmo ano = vide “Revista Mensal do Jazz” de Agosto/2007. Apesar de constituída por bons músicos, não possuía o "feeling" negróide, executando um Jazz algo mecânico sem as características marcantes da música negra; contudo e por serem brancos tiveram a oportunidade de se apresentar junto a um público mais refinado, melhor dotado financeiramente e assim implantar em seu meio o "vírus" do Jazz, através de uma música extremamente dançante que foi e ainda é o “Dixieland” e que mais tarde contaminou o mundo todo. *** Segue na “Revista Mensal do Jazz” de Outubro/ 2008, com a última parte da série “Do Outro Lado do Jazz”. Textos originais de MÁRIO JORGE JACQUES, que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los. PÁGINA 2 DE 2