Projeto e Análise de um Sistema Gerador de Ozônio para Remoção de Cor de Efluente Têxtil 1 G. J. Schiavon, 2C. M. Andrade, 2L. M. M. Jorge, 2P. Paraíso 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR 2 Universidade Estadual de Maringá – UEM [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo – Este trabalho apresenta o projeto e desenvolvimento de um módulo gerador de ozônio, utilizando bobina automotiva no conversor de alta tensão. O gerador projetado é baseado no princípio de descarga corona e pode ser aplicado em processos oxidativos em geral, para tanto, basta associar a quantidade necessária de módulos para alcançar a potência e produção de ozônio necessária para a aplicação. A etapa de potência é constituída por uma fonte convencional e um conversor chaveado em alta frequência do tipo flyback. São apresentados os estágios de potência, o controle e o reator desenvolvido. Os resultados experimentais de funcionamento e aplicações em remoção de cor de efluente têxtil apresentados são obtidos a partir do protótipo implementado, comprovando experimentalmente a funcionalidade da técnica desenvolvida. Palavras-chave – Descarga corona, conversor CC/CC, remoção de cor, gerador de ozônio. Abstract – This paper presents the design and development of a ozone generator module using automotive coil in high-voltage converter. The generator is designed based on the principle of corona discharge and can be applied in oxidative processes in general, therefore, simply involving the number of modules required to achieve and power production of ozone necessary for the application. The power stage comprises a conventional source and a converter switched at high frequency of the flyback type. It will be presented the power stages , controller and reactor developed. The experimental results and applications running on color removal of textile effluent produced are obtained from the prototype implemented, confirming experimentally the functionality of the technique developed. Keywords – Corona discharge, DC/DC converter, color removal, ozone generator. I. INTRODUÇÃO Atualmente o ozônio tem sido muito estudado para aplicações em tratamento de água, efluentes domésticos e industriais, na medicina, entre outros. A aplicação de ozônio é um campo muito crescente o que torna fundamental a melhoria na geração em sistemas geradores de ozônio. Em estações de tratamento de água que empregam exclusivamente o processo de cloração, a formação de organoclorados (trihalometanos), subprodutos indesejáveis por serem cancerígenos, pode ocorrer na fase de pré-tratamento. O processo de ozonização, em função de sua baixa ação residual, tem sua principal aplicação nesta etapa. Outra atuação importante do ozônio é como agente na remoção de cor e turbidez da água (Armaroli, 2007). Atualmente o ozônio é conhecido como o segundo mais poderoso agente oxidante que pode ser utilizado em escala para aplicações em tratamento de água e vem sendo adotado por diversos países e em milhares de sistemas de tratamento. A Tabela 1 apresenta uma comparação de agentes oxidantes. Tabela 1. Comparação de agentes oxidantes (SNatural & Naturaltec, 2011). Agente Oxidante Flúor Ozônio Peróxido de H Ácido Hipocloroso Cloro Potencial de Oxidação 3,06 2,07 1,77 1,49 1,36 Poder Relativo de Oxidação 2,25 1,52 1,30 1,10 1,00 O ozônio pode ser produzido de três formas principais: por eletrólise, ultravioleta e descarga corona. Nos geradores comerciais, o ozônio é produzido principalmente por descarga corona e radiação ultravioleta. A radiação ultravioleta, todavia, não atende as necessidades de produção requeridas pela indústria. Assim a descarga elétrica do tipo corona é o método mais utilizado para se obter ozônio em quantidades significativas (Almeida et al, 2004). No processo de descarga corona, o ozônio é gerado por uma descarga elétrica em um tubo de inox chamado de reator de ozônio. Através deste tubo aplica-se uma descarga elétrica de alta tensão juntamente com um fluxo de ar, no qual o oxigênio faz um escoamento laminar e incompressível passando por um processo de descarga elétrica pulsante (descarga corona), gerada por meio de um conversor flyback elevador de tensão. Quando esta tensão excede o potencial de ionização do material dielétrico, os elétrons livres são impulsionados a altas velocidades, rompendo por meio do impacto as duplas ligações das moléculas de oxigênio (O2) presentes no ar. Após o processo de quebra, as moléculas se agrupam em exatamente três de oxigênio (O), assim formando o ozônio (O3), um gás com alto poder oxidante. Os geradores de ozônio apresentam melhor eficiência quando alimentados por oxigênio puro. O reator de ozônio utilizado é composto por dois eletrodos de inox e um dielétrico de vidro em um arranjo de cilindros coaxiais, sendo o eletrodo externo submetido ao potencial de aterramento, seguido por um espaçamento por onde o ar/oxigênio escoa e o meio dielétrico em contato com o segundo eletrodo submetido à alta tensão. A Figura 1 apresenta o esquema de geração de ozônio por meio de descarga corona utilizado. Figura 1. Geração de ozônio por descarga corona (Rice et al, 1986, adaptada). Para estabelecer uma concentração constante de ozônio na saída dos geradores que utilizam o efeito corona alguns cuidados são necessários, tais como, manter a tensão de saída (da ordem de kV) constante, uma vez que a concentração de ozônio é dependente da tensão aplicada no reator (Alonso et al, 2005), manter a corrente secundária constante, manter a vazão de ar/oxigênio em um ponto predeterminado e um controle de temperatura. Neste contexto, o presente trabalho trata-se do projeto e desenvolvimento de um sistema gerador de ozônio modular para tratamento de resíduos da indústria têxtil. Para o desenvolvimento do gerador de ozônio foi utilizado uma fonte convencional e um conversor CC/CC, do tipo flyback. Para o controle do conversor foi utilizada a modulação por largura de pulso (PWM) gerada por meio de um circuito integrado bastante comum e de baixo custo, um CI555 operando no modo astável. O gerador projetado possui sinalizações e proteções para maior confiabilidade do sistema, tais como sensor de temperatura com duas ações sendo a primeira o acionamento de um sistema de refrigeração ventilado, ajustado em 50°C e a segunda o acionamento de um alarme ajustado em 60°C. Apresenta-se na Figura 2, o diagrama de blocos do gerador de ozônio proposto. aquisição, garantia da qualidade quanto ao isolamento elétrico, fácil instalação, baixo custo e alta durabilidade. Como o ozônio é um gás que possui uma meia vida relativamente curta (cerca de 15 minutos, à pressão atmosférica e temperatura de 25°C), o seu armazenamento é inviável. Por razões práticas, necessita ser gerado no local de sua aplicação, tendo um alto poder de desinfecção e oxidação sendo altamente solúvel em água. Um timer digital foi adicionado ao sistema para operação de forma automática, conforme programado. A corrente de entrada do conversor flyback é limitada em 1,5 A, protegendo desta forma a bobina automotiva. II. FONTE CONVENCIONAL A fonte convencional é constituída por um circuito retificador de onda completa em ponte com filtro capacitivo, alimentado por um transformador de 24V/5A. A alimentação do enrolamento primário do transformador pode ser realizada em 127 V ou 220 V, selecionado por meio de uma chave seletora de tensão. A saída desta fonte convencional é utilizada para alimentar o conversor flyback, o qual opera com uma bobina automotiva. O circuito da etapa de potência da fonte convencional é apresentado na Figura 3. Figura 3. Circuito de potência da fonte convencional. A etapa de controle, proteções e sinalizações é alimentada por um nível de tensão de 12 V, devido às características dos circuitos integrados utilizados. Para isto, foi utilizado um circuito regulador de tensão fazendo uso do circuito integrado LM317, tendo sua saída ajustada em 12 V, conforme apresentado na Figura 4. Figura 2. Diagrama de blocos do gerador de ozônio. A estratégia apresentada na Figura 2 é justificada pela adoção de uma bobina automotiva para o conversor flyback, o qual será alimentado por um nível de tensão de 34 V, também pela facilidade de Figura 4. Circuito regulador de tensão. III. CONVERSOR FLYBACK A tensão de saída da fonte convencional (34 V) é utilizada como alimentação pelo bloco conversor flyback, que tem a função de gerar a alta tensão (aproximadamente 2,5 kVrms) para estabelecer a descarga corona no reator de ozônio, para tanto, utiliza-se uma bobina automotiva comum, assim como em Schiavon et al. (2012). A Tabela 2 apresenta as especificações técnicas para o conversor flyback. Tabela 2. Especificações para o conversor flyback. Vin = 34 V Iin_máx = 1,5 A Fpwm = 1 kHz Bobina: Bosh F 000 ZS0 105 Vout = 2,5 kVrms Iout_máx = 20 mA Vds = 1 V A frequência de chaveamento do conversor flyback é de 1 kHz. O circuito completo deste conversor é apresentado na Figura 5. Figura 6. Circuito de controle PWM. O sinal de temperatura é proveniente de um sensor de temperatura NTC10k montado na placa de potência, conforme apresentado na Figura 7. Este sinal de temperatura é responsável por duas ações, acionar um ventilador na placa de potência em 50°C e acionar um alarme sonoro e visual de temperatura alta em 60°C. Figura 5. Circuito completo do conversor flyback (Schiavon et al, 2012). IV. CIRCUITO DE CONTROLE E PROTEÇÕES Figura 7. Circuito sensor de temperatura. O bloco circuito de controle, proteções e sinalizações é o bloco inteligente do gerador de ozônio e tem a função de controlar e monitorar todo o sistema, gerando os pulsos PWM para o conversor CC/CC, monitorando e controlando os níveis de temperatura e fornecendo os sinais visuais e sonoros da condição atual do gerador de ozônio. Para a parte de controle de chaveamento do conversor flyback foi utilizado um circuito oscilador operando no modo astável, montado com um circuito integrado 555, operando em uma frequência em torno de 1 kHz. A Figura 6 apresenta o circuito de controle projetado para o conversor flyback. O sinal de saída ventilador da Figura 7 tem a função de acionar, via transistor, um ventilador na ocorrência de temperatura elevada, enquanto esta permanecer fora dos níveis normais. O circuito de acionamento do ventilador é apresentado na Figura 8. Figura 8. Circuito de acionamento do ventilador. O sinal de alarme da Figura 7 é enviado para a placa de potência, que aciona via transistor, um buzzer e um led vermelho responsáveis pela indicação de temperatura alta. O circuito de acionamento do alarme é apresentado na Figura 9. Diâmetro do cilindro interno: 4,5 cm. Comprimento dos cilindros: 30 cm. VI. REMOÇÃO DE COR DE EFLUENTE TÊXTIL Figura 9. Circuito de acionamento do alarme. V. REATOR DE OZÔNIO O bloco reator de ozônio é o responsável pela quebra da molécula de oxigênio e consequente geração do ozônio em ambiente de descarga elétrica (Schiavon et al, 2012). Uma geometria adequada para campo não uniforme e que frequentemente é usada na construção de dispositivos de alta tensão é o arranjo cilindros coaxiais. Escolhendo-se corretamente as dimensões radiais dos cilindros é possível otimizar tal sistema para se obter uma descarga corona máxima, livre de ruptura (Kuffel et al, 2000). Nesta configuração a distribuição do campo é simétrica com referência ao eixo central do cilindro. As linhas de força são radiais e o campo E é função apenas da distância x do centro do cilindro. A Figura 10 (Kuffel et al, 2000) apresenta a configuração utilizada para a confecção do reator de ozônio. Figura 10. Configuração cilindros coaxiais. Os cilindros possuem superfície uniformemente carregada com uma carga por unidade de comprimento Q/l. Se uma tensão V é aplicada aos dois eletrodos, usando a Lei de Gauss, a intensidade do campo E(x) é dada pela equação (1). E (x ) = Q l 1 V 1 = 2πε x ln (r2 / r1 ) x O tratamento do efluente têxtil pelo processo de ozonização foi avaliado por meio de análises físicoquímicas em três campanhas de amostragem temporal no período de 15/09/2011 a 05/03/2012. Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Saneamento da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Campo Mourão. As coletas das amostras dos efluentes foram realizadas no tanque de equalização (entrada) e na calha Parshall (saída) da Estação de Tratamento (ETE), sendo coletados 10 L de efluente em cada ponto (Trevizani et al, 2012). O efluente bruto, coletado na entrada da ETE, foi ozonizado durante 5 h, com medições de cor a cada 15 min, de temperatura, pH, turbidez e condutividade a cada 30 minutos e DQO a cada uma hora. As determinações de alcalinidade a bicarbonato, ácidos voláteis, sólidos totais, sólidos suspensos e sólidos dissolvidos foram feitas em amostras do início e final do processo de ozonização. O efluente tratado, coletado na saída da ETE, foi ozonizado durante duas horas, com determinações dos mesmos parâmetros avaliados para o efluente. As metodologias utilizadas para realização das análises foram obtidas do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (Eaton et al, 2005). Os parâmetros alcalinidade a bicarbonato e ácidos voláteis foram determinados de acordo com metodologias reportadas por Dillalo e Albertson (1961) e Ripley et al. (1986), respectivamente. O gás ozônio foi injetado na linha de tratamento por meio da utilização de um tubo venturi, o qual nas condições dos experimentos, injetava a mistura ozônio/oxigênio a uma taxa de 8 L/min. Nestas condições a produção de ozônio era de aproximadamente 1200 mgO3/h, produzido por ar ambiente, resultado medido pelo método de titulação iodométrica. O aparato utilizado para o tratamento pode ser observado na Figura 11. (1) Quando o nível de tensão no cilindro menor atingir o nível de ruptura, ocorrerá na sequência uma descarga corona estabilizada ou ruptura completa (Kuffel et al, 2000). A configuração ótima deve ser definida em termos de segurança para não romper, e não no ponto de máxima tensão para descarga. O reator projetado possui as seguintes dimensões: Diâmetro do cilindro externo: 5 cm. Figura 11. Esquema utilizado no tratamento. VII. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Neste tópico serão apresentados os resultados obtidos experimentalmente para a fonte convencional, conversor flyback, produção de ozônio na saída do reator medida pelo método de titulação iodométrica e resultados da remoção de cor do efluente têxtil. - FONTE CONVENCIONAL A tensão medida na saída da fonte convencional foi de 34 V com baixo nível de ruído devido à etapa de filtragem de saída, conforme apresentado na Figura 12. Figura 14. Amostra da tensão de saída do conversor flyback. A Figura 15 apresenta uma fotografia do protótipo do gerador de ozônio desenvolvido neste trabalho. Figura 12. Sinal de saída da fonte convencional. Figura 15. Protótipo desenvolvido com dois reatores. - CONVERSOR FLYBACK - PRODUÇÃO DE OZÔNIO A Figura 13 apresenta o sinal de saída do circuito astável, ou seja, uma onda quadrada com frequência de aproximadamente 1 kHz e 12 V de amplitude, utilizada para acionar o FET do conversor flyback. Os ensaios de produção de ozônio foram realizados em duplicata, pelo método iodométrico, por meio de titulação indireta, segundo APHA (1998), método 2350E. A Figura 16 apresenta a produção de ozônio do equipamento em função da vazão do ar alimentador. Na condição dos ensaios de produção de ozônio por titulação iodométrica, o gerador apresentava em sua saída uma tensão eficaz de aproximadamente 2,5 kV, consumindo uma potência em torno de 26 W. Figura 13. Sinal de saída do circuito astável. Uma amostra do sinal de alta tensão da saída do conversor flyback é apresentada na Figura 14. O valor eficaz medido é de aproximadamente 2,5 kV. Figura 16. Produção de ozônio na saída do gerador - REMOÇÃO DE COR DO EFLUENTE TÊXTIL amostragem temporal, como pode ser observado na Figura 17. 2500 2000 Cor (UPC) Observa-se na Figura 16 que o gerador obteve a maior produção de ozônio quando submetido a uma vazão de ar alimentador em torno de 9 L/min, permanecendo praticamente constante para maiores vazões. Os resultados de produção de ozônio foram praticamente mantidos, com relação aos alcançados por Schiavon et al. (2012), isto é justificado devido a utilização do mesmo circuito conversor flyback. 1500 1000 500 0 A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos após o processo de ozonização do efluente têxtil bruto (entrada da ETE). Os parâmetros como cor, temperatura, turbidez, condutividade e DQO foram analisados com relação ao tempo exposto ao ozônio. Pela Tabela 3, é possível notar que o valor médio obtido de temperatura apresentou aumento no decorrer do processo de ozonização, com temperatura média de 23oC (antes do ozônio) e máxima de 33oC (depois do ozônio). Este aumento de temperatura provavelmente pode estar associado ao processo de turbilhonamento do efluente durante o tratamento pelo ozônio (Trevizani et al, 2012). Na Tabela 3 é possível notar que os valores médios de pH e condutividade foram de 8,6 ± 0,6 e 6,2 ± 0,7 µS/cm e de 8,9 ± 0,1, 5,4 ± 0,6 µS/cm antes e depois do processo de ozonização, respectivamente. Os valores médios de pH e a condutividade não apresentaram diferenças significativas nas amostras durante a exposição do ozônio. Para o efluente bruto obteve-se diminuição de aproximadamente 46% na turbidez em relação ao tempo de exposição ao ozônio. Faria (2005) investigou a aplicação do ozônio a uma concentração de 0,6 mg L-1 na água bruta proveniente da zona rural com finalidade de abastecimento doméstico; verificou uma redução na turbidez de aproximadamente 32% até os primeiros 15 min de exposição ao ozônio, e em seguida aumento desse parâmetro em aproximadamente 4%. O parâmetro cor apresentou diminuição significativa em média de 84% em relação ao tempo de exposição de ozônio nas três campanhas de 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Tempo (h) Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Figura 17. Variação da cor em função do tempo no efluente bruto tratado pelo processo de ozonização. De acordo com a Figura 17 é possível notar que o parâmetro cor apresentou média de 1602 UPC antes do processo de ozonização e média de 250 UPC após o término do processo de ozonização. A eficiência de remoção de cor em relação às três campanhas de amostragem temporal foi em média de 84% de remoção de cor do efluente. Segundo Somensi (2006), várias pesquisas efetuadas em escala de laboratório tiveram como resultado a descoloração em até 90% do efluente. Outro parâmetro importante no qual o ozônio teve resultados interessantes foi na remoção de DQO. Esta teve diminuição a cada hora, com valor máximo de 436 mg/L e mínimo de 236 mg/L, ou seja, com remoção de aproximadamente 46% no efluente bruto. Somensi (2006) tratou por processo de ozonização três amostras de efluentes com diferentes DQO em por tempos diferentes, sendo a primeira amostra com DQO de 671 mg/L durante 150 min, a segunda amostra com 545 mg/L durante 180 min e a terceira amostra com 880 mg/L durante 210 min. O autor obteve valores de DQO final de 520 mg/L, 437 mg/L e 602 mg/L, respectivamente para as três amostras, e eficiência de remoção média de 22,5%. O mesmo autor afirma que diversas outras pesquisas em escala de bancada tiveram como resultado redução da DQO na ordem de 15%. Assim como para o efluente bruto os parâmetros como cor, temperatura, turbidez, condutividade e DQO foram analisados com relação ao tempo exposto ao ozônio. Pela Tabela 4, é possível notar que o valor médio obtido de temperatura apresentou aumento no decorrer do processo de ozonização com temperatura média de 22oC (antes de ozônio) e máxima de 33oC (depois do ozônio). O aumento de temperatura do efluente tratado foi menor do que do efluente bruto devido ao tempo de exposição ao ozônio e turbilhonamento ser de apenas 2 horas. Na Tabela 4 é possível notar que os valores médios de pH e condutividade foram de 8,2 ± 0,2 e 4,1 ± 0,3 µS/cm e de 8,8 ± 0,2, 3,9 ± 0,6 µS/cm antes e depois do processo de ozonização, respectivamente. Assim como para o efluente de entrada da indústria o pH e a condutividade oscilaram durante o tempo de tratamento, porém mantiveram-se constantes sem alterações significativas. Para o efluente tratado a turbidez oscilou e obteve uma média de 16 NTU (antes da exposição ao ozônio) e de 23 NTU (depois da exposição ao ozônio um aumento, porém não muito significativo). Esse aumento pode estar relacionado com o turbilhonamento durante o processo de ozonização. O parâmetro cor apresentou diminuição significativa em média de 90% em relação ao tempo de exposição de ozônio nas três campanhas de amostragem temporal como pode ser observado na Figura 18. Cor (UPC) A alcalinidade a bicarbonato reduziu de 581 mgCaCO3/L para 480 mgCaCO3/L após o processo de ozonização nas campanhas de amostragem temporal, com diminuição média de 34%. As concentrações de ácidos voláteis resultaram em média de 18 mgHac/L antes do processo de ozonização e de 27 mgHac/L após o término do processo de ozonização. A concentração média de sólidos totais resultou em 3719 mg/L e 3590 mg/L antes e após o processo de ozonização. A concentração média de sólidos dissolvidos foi de aproximadamente 3623 mg/L e de 3512 mg/L antes e após o processo de ozonização, respectivamente. A concentração média de sólidos suspensos apresentou diminuição média de aproximadamente 18% com a ozonização. Na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos após o processo de ozonização do efluente têxtil tratado (saída da ETE). 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Tempo Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Figura 18. Variação da cor do efluente tratado. A média máxima das medições de cor na campanhas de amostragem temporal do efluente tratado foi de aproximadamente 337 UPC, antes da ozonização. A média mínima após a exposição ao ozônio foi de aproximadamente 33 UPC, removendo aproximadamente 90% da cor do efluente. A remoção de DQO com a ozonização foi de aproximadamente 48%, com média máxima de 75mg/L e média mínima de 39mg/L. A alcalinidade bicarbonato foi menor após o tratamento com ozônio com média máxima de 363 mg CaCO3/L e média mínima de 252 mg CaCO3/L, com remoção de aproximadamente 31% da alcalinidade inicial. Já os ácidos voláteis mantiveram a mesma concentração inicial durante a exposição de ozônio. Os sólidos totais antes do ozônio tiveram uma média de 2127 mg/L, e após o ozônio sua média diminui para 2057 mg/L. As concentrações de sólidos dissolvidos foi de aproximadamente de 2096 mg/L (antes do ozônio) e de 2018 mg/L (depois do ozônio). Já os sólidos suspensos apresentou média de 31 mg/L (antes do ozônio) e de 39 mg/L (depois do ozônio). A Figura 19 mostra uma fotografia com o resultado obtido em um ensaio paralelo, realizado para remoção de cor de um volume de 50 L de água com corante de cor azul. Nesta figura é possível constatar o resultado do tratamento por ozônio na remoção de cor, nas amostras coletadas em intervalos de 10 minutos durante duas horas de tratamento. Figura 19. Remoção de cor de uma mistura têxtil contendo corante azul. VIII. CONCLUSÃO Ao final dos ensaios de titulação com dois reatores, constatou-se que a maior produção alcançada foi com uma vazão de alimentação de ar ambiente de 9 L/min, o que produziu em torno de 20,8 mgO3/min ou 1,25 gO3/h, conforme mostrado na Figura 16, ou seja, cada reator tem capacidade para produzir em torno de 625 mgO3/h. De acordo com a literatura, se o gerador de ozônio for alimentado com oxigênio puro, a produção de ozônio na saída do reator aumenta consideravelmente. A diferença de potencial gerada pelo conversor flyback nos reatores foi de aproximadamente 2,5 kV. Os resultados de produção de ozônio mostraram que o equipamento desenvolvido é uma alternativa viável para geração de ozônio para remoção de cor de efluente têxtil, e que os conversores projetados satisfazem as necessidades de tensão e corrente para geração de descarga corona estabilizada. Para maiores volumes de efluente a ser tratado, basta adicionar reatores ao equipamento, conforme necessidade de produção de ozônio; para cada reator adicional é necessário um novo conversor flyback. Os parâmetros mais importantes com relação a efluentes têxteis são a cor e a DQO, e ambos tiveram remoção significativa com o tratamento de ozonização 87% e 47%, respectivamente. Os resultados foram melhores para o efluente tratado da indústria devido aos menores valores dos parâmetros analisados, facilitando assim a ação do ozônio. Sendo a remoção de cor um dos principais problemas a serem enfrentados em uma estação de tratamento de efluente têxtil, é possível considerar o processo de ozonização como uma forma eficiente e promissora para esta área. No presente estudo notou-se remoção de cor do efluente tratado de aproximadamente 90%, similar ao citado na literatura técnico-científica. Ocorreu um aumento da temperatura durante o processo de ozonização por conta do turbilhonamento e tempo de exposição. O pH e condutividade oscilaram durante o processo mas não tiveram mudanças significativas. A remoção da turbidez depende do tempo de exposição e das características iniciais do mesmo, para o efluente bruto da indústria a remoção foi de 54% enquanto para o efluente tratado houve um aumento de 44%. As concentrações de sólidos totais e dissolvidos apresentaram diminuição para ambos os efluentes durante o processo de ozonização. As concentrações de sólidos suspensos variaram de acordo com o efluente; ocorreu uma diminuição para o efluente bruto e um aumento para o efluente tratado. Para os valores de alcalinidade a bicarbonato houve uma diminuição para ambos os efluentes coletados. Já o parâmetro ácidos voláteis aumentou para o efluente bruto e manteve-se constante para o efluente tratado. Em todas as amostras do efluente tratado a cor foi mínima chegando a 0 nas campanhas de amostragem temporal, o que nos leva a considerar possibilidades de reuso, até então descartadas, devido a coloração existente no efluente. É importante desenvolver mais estudos com relação à ozonização para possibilitar seu uso em grande escala nos tratamentos de efluentes têxteis, melhorando assim a qualidade da água a ser despejada, possibilitando seu reuso e, consequentemente, diminuindo o consumo deste recurso. REFERÊNCIAS ALMEIDA, E.; ASSALIN, M. R.; ROSA, M. A.; DURÁN, N.; Tratamento de efluentes industriais por processos oxidativos na presença de ozônio. Química Nova, v. 27, n.5, p.818–824, 2004. ALONSO, J. M.; GARCIA, J.; CALLEJA, A. J.; RIBAS, J.; CARDESIN, J.; Analysis, design, and experimentation of a high-voltage power supply for ozone generation based on current-fed parallelresonant push-pull inverter. 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