Normal e Durkheim patológico em Normal e patológico em Durkheim Por Cristiano das Neves Bodart Duas classificações dos fenômenos sociais são importantes e interligadas no pensamento de Durkheim: o fenômeno social normal e o fenômeno social patológico. O que seria normal e o que seria patológico para esse sociólogo? Essa pergunta é bastante pertinente, na medida em que na busca pela diferenciação torna-se mais fácil compreender essas duas classificações sociológicos. Em síntese, Durkheim (1983) considera que os fenômenos sociológicos (e também biológico) podem ser classificados em dois tipos básicos: aqueles que são comuns a toda espécie e “[…] encontram-se senão em todos os indivíduos, pelo menos na maior parte deles e apresentam variações de um sujeito para outro compreendidas entre limites muito próximos” (p. 114) e os fenômenos excepcionais, que, “[…] além de surgirem em minorias, muitas vezes chegam a durar a vida inteira dos indivíduos ” (p.114). Com base nesses dois tipos de fenômenos, normais e excepcionais, Durkheim (1983, p.114) estabelece um tipo médio, que serve como norma genérica. Para ele o tipo médio seria: “[…] o ser esquemático que resultaria da união num mesmo ser, numa espécie de individualidade abstrata, das características mais frequentes da espécie e das formas mais frequentes destas características, poder-se-á afirmar que o tipo normal se confunde com o tipo médio, e que qualquer desvio em relação a este padrão de saúde é um fenômeno mórbido”. (DURKHEIM,1983, p.114). Durkheim (1983, p. 118) afirma que a classificação do fenômeno em normal ou patológico está relacionada à sua frequência na sociedade. Formula, então, três critérios para distinguir o normal do patológico. Assim, apresenta três critérios para distinguir o normal do patológico: “1° – Um fato social é normal para um tipo social determinado, considerado numa fase determinada de desenvolvimento, quando se produz na média das sociedades desta espécie, consideradas numa fase correspondente de desenvolvimento; 2° – Os resultados do método precedente podem verificar-se mostrando que a generalidade do fenómeno está ligada às condições da vida coletiva do tipo social considerado; 3° – Esta diversificação é necessária quando um fato diz respeito a uma espécie social que ainda não cumpriu uma evolução integral”. Em suma, para Durkheim (1983, p. 110) a sociedade “[…] confina duas ordens de fatos bastante diferentes: aqueles que são os que devem ser e aqueles que deveriam ser diferentes daquilo que são, os fenômenos normais e patológicos”. Nessa direção, patológico é compreendido como um problema que deve ter suas causas compreendidas e caberia ao sociólogo colaborar para apresentar soluções e, com isso, retomar a normalidade. É importante estarmos atentos ao fato de que não há um regra universal para distinguir que é normal e o que é patológico, o que deve ser pensado em relação ao tipo de sociedade em que o fenômeno ocorre, assim como a fase do desenvolvimento histórico desta. Assim, o que é patológico em uma sociedade pode não ser em outra; o que foi anteriormente normal em uma sociedade pode se tornar hoje ou amanhã patológico. Referências DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Trad. de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Abril Cultural, 2a. edição, série “Os Pensadores”. Seleção de textos de José Arthur Gianotti. 1983. … … … … Usou esse texto? Como citá-lo? BODART, Cristiano das Neves. Normal e patológico em Durkheim. Blog Café com Sociologia. 2015. Disponível em:<http://www.cafecomsociologia.com/2015/09/normal-e-patolog ico-em-durkheim.html>. Acesso em: dia, mês e ano. O Suicídio em Durkheim: alguns apontamentos O Suicídio em Durkheim: alguns apontamentos Por Cristiano das Neves Bodart Durkheim define “suicídio” como toda morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo da própria vítima e que esta esteja ciente que produz esse resultado. “Chaque société est prédisposé à fournir um contingent déterminé de morts volontaires. Cette prédisposition peut donc être l’objet d’une étude spéciale et qui ressortit à la sociologie”. Para Durkheim o suicídio é um Fato Social quando trata-se de um conjunto de suicídios em certa sociedade e em certo período; quando é total (que não é a soma de unidades independentes), um fato novo e sui generis. Para ele, as sociedades têm, em cada momento, uma disposição definida para o suicídio. “A taxa de suicídios constitui, portanto, uma ordem de fatos única e determinada; é o que demonstram, ao mesmo tempo, sua permanência e sua variabilidade. Já que esta permanência seria inexplicável se ela não se devesse a um conjunto de caracteres distintivos, solidários uns com os outros, que, apesar da diversidade das circunstâncias ambientes, se afirmam simultaneamente; e esta variabilidade testemunha a natureza individual e concreta destes mesmos caracteres, uma vez que variam como a própria individualidade social”. (Durkheim, 1986, p.14) Na obra “O Suicídio”, Durkheim buscou identificar as causas sociais de suicídio e os seus tipos. Sua metodologia consistiu, grosso modo, em classificar as causas para categorizar os tipos. Para esse sociólogo, conhecida as natureza das causas podemos deduzir à natureza dos efeitos. Uma pergunta de Durkheim parece ter sido central em seu estudo: Quais são as situações dos diferentes meios sociais (religião, família, sociedade política, grupos profissionais) em função dos quais o suicídio varia? Durkheim buscou identificar a relação entre suicídio e religião, examinando a relação entre a taxa de suicídio e as confissões religiosas. Ao comparar alguns países, identificou que nos países católicos a prática do suicídio era menor. Embora a “natureza dos sistemas religiosos” protestantes e católico proibissem o suicídio, Durkheim encontrou alguns elementos importantes para entender a diferença nas taxas dessa prática. Para ele, no Catolicismo o sistema hierárquico de autoridades é mais rígido, as doutrina é pronta e inquestionável, sendo marcada por grande interação e as crenças e práticas são comuns aos fieis. Já no protestantismo existiria pouca hierarquia e uma multiplicidade de seitas, sendo o crente mais autor da sua fé, havendo pouca integração; ou seja, menos crenças e práticas comuns entre eles. Essa menor integração é, para Durkheim, motivado pelo fato do protestantismo admitir um maior livre exame do livro sagrado. Para Durkheim a causa do livre exame estaria na necessidade da liberdade face à falência das crenças tradicionais (e não o inverso); perda da eficiência das ideias e sentimentos tradicionais irrefletidos para dirigir a conduta, sem um novo sistema de crença comum. Segundo esse sociólogo, o gosto pela instrução se aspira quando as crenças tradicionais se enfraquecem, expandindo o individualismo. Para ele, o gosto pela instrução era maior entre os protestantes. Nesse contexto de crise das tradições, a ciência não é o mal, mas vista como o único remédio. A ciência não teria influências dissolventes, mas seria a única coisa que teríamos para lutar contra a dissolução de que ele resulta. Durkheim defende que silenciar a ciência não vai restaurar a autoridade das tradições desaparecidas. No caso específico do papel da religião, o homem comete o suicídio, segundo Durkheim, porque a sociedade religiosa de que faz parte perdeu a coesão. Argumenta Durkheim que a religião exerce uma ação profilática sobre o suicídio, isso por possuir uma conjunto de crença e práticas tradicionais e obrigatórias, exercendo a função de integração, criando situações coletivas que integram a comunidade. Quanto mais integrada esta, maior sua virtude de preservação. Para Durkheim, o protestantismo é superior em taxas de suicídios por ser menos integrador. Quanto menos vínculo com outros indivíduos, mais propício ao suicídio estará o indivíduo. Eis ai a dimensão moral do suicídio egoísta destacado por Durkheim. Durkheim analisa também a relação entre o Judaísmo e o suicídio. Para ele as perseguição contra esse povo foi fonte de fortalecimento da solidariedade, tendo sua identidade fortalecida. O Judaísmo estaria marcado por um corpo de práticas que regulamentam minunciosamente os detalhes da existência, deixando pouco espaço para o julgamento individual. A ciência não teria tido, afirma o sociólogo, um impacto contrário a essa religião, isso porque sua tradição estava muito bem consolidada. Desta forma, o Judaísmo seria uma evidência de que a ciência não destrói a tradição. Os judeus tiveram acesso à ciência e sua tradição continua sólida, argumentava Durkheim. Durkheim buscou destacar que o suicídio é uma doença da época. Para ele a anomia seria a causa principal. A anomia seria um estado marcado pela falta de regulamentação, paixões ilimitadas, horizontes infinitos e tormento: cenário potencializador da prática de suicídio. Os sinais de morbidades destacadas por Durkheim foram: necessidades ilimitadas; ultrapassagem infinita dos meios que se torna um fim, descontentamento; ligação tênue com a vida; paixão pelo infinito; situação onde nenhuma conquista vale por si mesmo etc. De acordo com Durkheim os indivíduos que não acumulam experiências reais, torna-se fracos e diante de um problema real não suportam a pressão, tendendo a cometer suicídio. Outro elemento potencializador da prática de suicídio são às crises econômicas. Para ele, a crise promove o suicídio por ruptura de equilíbrio, seja de prosperidade ou de pobreza. Mas como explicar que a melhoria da vida leve a uma maior desapego por ela? Para o sociólogo, as necessidades humanas não dependem do corpo; os desejos do indivíduo são ilimitados. Uma sede inextinguível é um suplício perpetuamente renovado. As paixões têm que ser limitadas pela força moral da sociedade que regula e modera as necessidades, atendendo ao bem comum. Para ele, as paixões devem ser limitadas, caso contrário, torna-se um tormento. Quando a sociedade é perturbada por crises ou mudanças repentinas, a pressão moral perde força, os indivíduos não se ajustam a suas posições, o valor das forças sociais permanece indeterminado, sem regulamentação as ambições são superexcitadas, causando o sofrimento e, consequentemente, crescimento do suicídio. O desenvolvimento da indústria e ampliação indefinida do mercado fortalece o desencadeamento dos desejos e a busca desenfreada por conquistas, o que consequentemente, favorece a ampliaçao das taxas de suicídios. O restabelecimento da ordem moral não é possível de forma rápida. Atualizar a educação moral não é algo instantâneo. Por isso, Durkheim se preocupará em reformar o ensino francês: laica, pública, gratuita (organizado pelo Estado que representa o geral e não o particular). Sem uma educação homogênea há uma tendência de anomia (se cada família educasse seus filhos, haveria uma desregulamentação moral). A causa do suicídio, estaria, grosso modo, na “ausência da sociedade” na vida do indivíduo. O Suicídio egoísta é marcado pela ausência da coesão coletiva, o desprovimento de objetivos e significados. Suicídio anômico é marcado pelo efeito da falta de regulamentação individuais. moral que limita as paixões Durkheim aborda o papel do casamento sobre as taxas de suicídio. Para ele, o casamento age em sentido contrário sobre o homem e sobre a mulher. Como pais têm o mesmo objetivo, mas como cônjuges os interesses seriam diferentes e muitas vezes antagônicos. Durkheim identificou, por meio da estatística, que só os homens casados contribuem para a maior taxa de suicídio nas sociedades com divórcios frequentes; nestas as mulheres cometem menos suicídio. Como nossa vida depende do quanto estamos integrados à sociedade, o divórcio, para o homem teria um impacto muito grande sobre a prática de suicídio, assim como a maior taxa de suicídio estaria entre os homens solteiros. Para Durkheim, o divórcio determina o suicídio pelas ações que exerce no casamento. Para ele, o casamento é uma regulamentação das relações entre os sexos, abrangendo instintos físicos e os sentimentos de todo tipo que a civilização enxertou sobre a base dos apetites materiais, regulando toda a vida passional, principalmente o casamento monogâmico. O casamento impõe ao homem uma disciplina salutar (mesmo que o costume lhe dê privilégios que permitem atenuar o rigor do regime). O divórcio enfraquece a regulamentação matrimonial, enfraquecendo a imunidade do homem casado e fazendo com que se aproxime das condições dos solteiros. Durkheim teria identificado que nada disso atinge a mulher (lembrando que a mulher não tem acesso a escola). Estando ela mais próxima da natureza, seus desejos naturalmente são mais limitados. Mais instintiva, segue os instintos em paz e com calma. Sendo ela tradicionalista, regula o comportamento pelos credos estabelecidos, sem grandes necessidades intelectuais. Para o sociólogo os interesses dos sexos são apostos, um precisa de coerção, o outro de liberdade. Para Durkheim (ao contrário da visão comum, que acredita que o casamento protege a mulher e sacrifica o homem), o casamento proporciona proteção ao homem e exige sacrifício da mulher, por isso o divórcio teria um impacto maior sobre o homem e, consequentemente, Durkheim suicídio coerção. tal tipo levando-o a praticar o suicídio. deixa uma nota de rodapé indicando a existência do fatalista, que seria aquele causado pelo excesso de Embora mencionado, o sociólogo não se debruça sobre de suicídio. Fontes DURKHEIM, E. Le suicide. Paris: PUF, 1986. GARCIA, Sylvia Gemignani. Aula do curso de Sociologia I. Universidade de São Paulo/USP. Mai. 2012. (fonte oral). Como citar essa fonte: BODART, Cristiano das Neves. O Suicídio em Durkheim: alguns apontamentos. Blog Café com Sociologia. 2015. Disponível em: <http://www.cafecomsociologia.com/2015/12/o-suicidio-em-durkh eim-alguns.html>. Acesso em: dia mês ano. Normal e Durkheim patológico Normal e patológico em Durkheim Por Cristiano das Neves Bodart em Duas classificações dos fenômenos sociais são importantes e interligadas no pensamento de Durkheim: o fenômeno social normal e o fenômeno social patológico. O que seria normal e o que seria patológico para esse sociólogo? Essa pergunta é bastante pertinente, na medida em que na busca pela diferenciação torna-se mais fácil compreender essas duas classificações sociológicos. Em síntese, Durkheim (1983) considera que os fenômenos sociológicos (e também biológico) podem ser classificados em dois tipos básicos: aqueles que são comuns a toda espécie e “[…] encontram-se senão em todos os indivíduos, pelo menos na maior parte deles e apresentam variações de um sujeito para outro compreendidas entre limites muito próximos” (p. 114) e os fenômenos excepcionais, que, “[…] além de surgirem em minorias, muitas vezes chegam a durar a vida inteira dos indivíduos ” (p.114). Com base nesses dois tipos de fenômenos, normais e excepcionais, Durkheim (1983, p.114) estabelece um tipo médio, que serve como norma genérica. Para ele o tipo médio seria: “[…] o ser esquemático que resultaria da união num mesmo ser, numa espécie de individualidade abstrata, das características mais frequentes da espécie e das formas mais frequentes destas características, poder-se-á afirmar que o tipo normal se confunde com o tipo médio, e que qualquer desvio em relação a este padrão de saúde é um fenômeno mórbido”. (DURKHEIM,1983, p.114). Durkheim (1983, p. 118) afirma que a classificação do fenômeno em normal ou patológico está relacionada à sua frequência na sociedade. Formula, então, três critérios para distinguir o normal do patológico. Assim, apresenta três critérios para distinguir o normal do patológico: “1° – Um fato social é normal para um tipo social determinado, considerado numa fase determinada de desenvolvimento, quando se produz na média das sociedades desta espécie, consideradas numa fase correspondente de desenvolvimento; 2° – Os resultados do método precedente podem verificar-se mostrando que a generalidade do fenómeno está ligada às condições da vida coletiva do tipo social considerado; 3° – Esta diversificação é necessária quando um fato diz respeito a uma espécie social que ainda não cumpriu uma evolução integral”. Em suma, para Durkheim (1983, p. 110) a sociedade “[…] confina duas ordens de fatos bastante diferentes: aqueles que são os que devem ser e aqueles que deveriam ser diferentes daquilo que são, os fenômenos normais e patológicos”. Nessa direção, patológico é compreendido como um problema que deve ter suas causas compreendidas e caberia ao sociólogo colaborar para apresentar soluções e, com isso, retomar a normalidade. É importante estarmos atentos ao fato de que não há um regra universal para distinguir que é normal e o que é patológico, o que deve ser pensado em relação ao tipo de sociedade em que o fenômeno ocorre, assim como a fase do desenvolvimento histórico desta. Assim, o que é patológico em uma sociedade pode não ser em outra; o que foi anteriormente normal em uma sociedade pode se tornar hoje ou amanhã patológico. Referências DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Trad. de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Abril Cultural, 2a. edição, série “Os Pensadores”. Seleção de textos de José Arthur Gianotti. 1983. … … … … Usou esse texto? Como citá-lo? BODART, Cristiano das Neves. Normal e patológico em Durkheim. Blog Café com Sociologia. 2015. Disponível em:<http://www.cafecomsociologia.com/2015/09/normal-e-patolog ico-em-durkheim.html>. Acesso em: dia, mês e ano. Fato Social em Durkheim Fato Social em Durkheim Por Cristiano das Neves Bodart O que é um “Fato Social”? Eis uma pergunta muito comum na disciplina de introdução à Sociologia. Proponho uma reflexão inicial para começarmos a entender esse conceito desenvolvido por Émile Durkheim em sua obra “As Regras do Método Sociológico”, de 1895. Nós agimos a partir de três formas básicas: instinto, costumes e racionalidade. Há coisa que fazemos que é inerente a espécie humana, em seu estado biológico, como comer, andar, emitir sons usando a boca e a garganta. Essas ações não são “fatos sociais”. Outra coisa que não é um fato social é uma atitude racional, pensada, mas que seu sentido seja desconhecido pelos outros indivíduos, como por exemplo, se eu criasse uma linguagem desconhecida de todos de minha sociedade. Nesse contexto, minha linguagem não teria sentido social; logo, isso também não seria um “fato social”. Dito o que não é fato social, vamos ao que seria um fato social. Para pensarmos em fato social não podemos ignorar a dimensão cultural do homem, ou melhor, dos grupos sociais. O conceito “Fato social” está ligado necessariamente ao elemento “cultura”. Tal conceito é uma categoria desenvolvida por Durkheim para definir do que a sociologia deveria se ocupar. Como a Sociologia surge para pensar os fenômenos sociais, logo tornou-se necessário definir uma categoria para classificar o que deveria ou não ser estudado por esta ciência que estava se organizando e ganhando seu espaço. A partir dessa necessidade, Durkheim criou o conceito categorizador denominado “Fatos Sociais”, o que utilizaria para classificar os fenômenos que seriam ou não objeto de estudo da Sociologia. Para Durkheim se enquadraria em “fato social” o fenômeno dotado de três características básicas: i) generalidade; ii) coercitividade; iii) externalidade. Nota-se que tais características são elementos próprios da cultura de todos os grupos humanos, embora Durkheim possivelmente estivesse pensando nas sociedades de cultura europeia. Os fatos sociais possuem uma força coercitiva que se dá pelas sanções legais ou espontâneas a que o indivíduo é submetido (são coercitivos). Outro aspecto dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre o indivíduo independente de sua vontade (são exteriores). Os fatos sociais são gerais, se repetindo entre quase todos os indivíduos de um dado grupo, existindo em distintas sociedades, ainda que em um determinado momento ou ao longo da sua História. É importante lembrar que o que é fato social em uma sociedade, pode não ser em outra. O que é fato social hoje, pode não ser no futuro. Em suma, podemos dizer que o fatos sociais são gerais (generalização), ou seja, estão presente em quase toda a sociedade em análise. São coercitivas (coercitividade), pois fazem parte de um conjunto de normas sociais e que somos pressionados para realizá-los. Os fatos sociais possuem externalidade (externalidade) por existir antes do indivíduo e ser independente dele. A título de exemplo, tomemos o fato de estudar. Antes de nascermos já estava estipulada a norma que todos devem estudar, e isso independe de minha ou sua vontade. Somos coagidos a estudar, caso contrário somos discriminados e pressionados a retornar para a escola. Estudar é uma ação geral, pois praticamente todos os indivíduos estudam. Logo, estudar é “Fato Social”. Como citar essa fonte: BODART, Cristiano das Neves. Fato Social em Durkheim. Blog Café com Sociologia. 2013. Disponível em: <http://www.cafecomsociologia.com/2013/10/fato-social-de-durk eim.html?showComment=1443742057611#c1484495291996423799>. Acessado em: dia, mês e ano. Algumas premissas teóricometodológicas de Émile Durkheim. P { margin-bottom: 0.21cm; }P.western { } Por Wemerson Ferreira* Durkheim (1858-1917), importante teórico na história do pensamento sociológico, mantém sua importância e consegue influenciar, mesmo hoje, vários intelectuais. O primeiro sociólogo a ocupar uma cátedra de sociologia em uma universidade, um dos pais fundadores da sociologia moderna e militante durante o processo de institucionalização desta em âmbito acadêmico, tal autor é indiscutivelmente importante a quem deseja conhecer e se aprofundar no pensamento social científico. Apresentar algumas premissas teóricas e metodológicas deste grande intelectual expondo aspectos de suas três principais obras, consciente da impossibilidade de exaustão do assunto, constitui-se no objetivo deste texto. O pensamento durkheimiano, como aponta Aron (1999), pode ser compreendido a partir do desenvolvimento de três principais etapas. Num primeiro momento, Durkheim define o fenômeno estudado – um fato social tratado como coisa. Na segunda etapa ele refuta as interpretações anteriormente dadas como causas de tal fenômeno. E, por último, é-nos apresentada uma explicação propriamente sociológica. Émile Durkheim se utiliza do desenvolvimento metodológico anteriormente apresentado em suas três maiores obras: Da Divisão do Trabalho Social (1894); O Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912). É importante ressaltar que, em ambas as obras, as explicações refutadas o foram por se tratarem, também ambas, de explicações individualistas e psicologizantes. Vamos, então, a seguir, abordar cada obra separadamente. Em Da Divisão do Trabalho Social (1894), Durkheim critica interpretações deste fenômeno – divisão do trabalho – que possuem sentido progressista em que a diferenciação social, provocada pela divisão social do trabalho, é resultante de mecanismos individuais e psicológicos, como, por exemplo, o desejo de aumento da produtividade, busca pelo prazer e felicidade e desejo de superação do enfado. Criticadas tais interpretações, Durkheim nos dá sua explicação propriamente sociológica: em primeiro lugar há a superioridade da sociedade sobre os fenômenos individuais. Em segundo, e em suma, são o volume e as densidades material e moral que resultam na diferenciação social, e não o que foi proposto pelos teóricos anteriores. São tais fatores, inclusive, que reverberam também na solidariedade orgânica, característica das sociedades industriais na qual existe a dada divisão do trabalho. Na obra O Suicídio (1897) são refutadas as interpretações nas quais o suicídio é causado por fatores individuais, psicológicos, loucura e alcoolismo. Como explicação sociológica e cientificamente válida, Durkheim apresenta a corrente suicidógena, um fenômeno social que, como o próprio nome diz, por tratar-se de uma corrente [como as de ar, por exemplo,] passa e atinge aos indivíduos que dispõe de tendência social ao suicídio manifestada por circunstâncias individuais. Em sua obra volta à religião – As Formas Elementares da Vida Religiosa (1913) –, e que marca uma mudança de interesses na produção intelectual de Durkheim, são excluídas as proposições que tratam do fenômeno religioso como animismo ou naturismo; visões estas essencialmente individualizantes. E, estudando as sociedades tribais australianas, nas quais, segundo Durkheim, há a forma religiosa elementar, o totemismo, é definido o fenômeno religioso como exaltação coletiva provocada pela reunião de indivíduos em um mesmo lugar de forma a transcendê-los. É, na verdade, a própria sociedade que os indivíduos adoram sem que o saibam. A religião consiste na divisão do mundo em sagrado e profano e é ela, como conclui Durkheim, o elemento fundante da sociedade. A concepção durkheimiana de sociedade vê esta enquanto um todo, ordenado, moralizado e coeso, composto por indivíduos, mas que ao mesmo tempo os transcende impondo-lhes condutas, regras e valores. Em toda a sua obra Durkheim tenta comprovar essa visão na qual a sociedade é isenta de conflitos; e, se estes existem, tratamse apenas de patologias. Não podemos negar que tal ponto de vista custou caro a Émile Durkheim, sendo alvo de inúmeras críticas. Todavia, sua importância para a sociologia não diminui nem tão pouco diminuiu. Referências ARON, Raymond. Émile Durkheim. In: ______. As etapas do pensamento sociológico. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 288-365. DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ______. As regras do método sociológico. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ______. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. *Graduando em ciências Sociais pela Universidade federal de Alagoas. O Suicídio em Durkheim: alguns apontamentos O Suicídio em Durkheim: alguns apontamentos Por Cristiano das Neves Bodart Durkheim define “suicídio” como toda morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo da própria vítima que esta esteja ciente que produz esse resultado. “Chaque société est prédisposé à fournir um contingent déterminé de morts volontaires. Cette prédisposition peut donc être l’objet d’une étude spéciale et qui ressortit à la sociologie”. Para Durkheim o suicídio é um Fato Social quando trata-se de um conjunto de suicídios em certa sociedade e em certo período; quando é total (que não é a soma de unidades independentes), um fato novo e sui generis. Para ele, as sociedades têm, em cada momento, uma disposição definida para o suicídio. “A taxa de suicídios constitui, portanto, uma ordem de fatos única e determinada; é o que demonstram, ao mesmo tempo, sua permanência e sua variabilidade. Já que esta permanência seria inexplicável se ela não se devesse a um conjunto de caracteres distintivos, solidários uns com os outros, que, apesar da diversidade das circunstâncias ambientes, se afirmam simultaneamente; e esta variabilidade testemunha a natureza individual e concreta destes mesmos caracteres, uma vez que variam como a própria individualidade social”. (Durkheim, 1986, p.14) Na obra “O Suicídio”, Durkheim buscou identificar as causas sociais de suicídio e os seus tipos. Sua metodologia consistiu, grosso modo, em classificar as causas para categorizar os tipos. Para esse sociólogo, conhecida as natureza das causas podemos deduzir à natureza dos efeitos. Uma pergunta de Durkheim parece ter sido central em seu estudo: Quais são as situações dos diferentes meios sociais (religião, família, sociedade política, grupos profissionais) em função dos quais o suicídio varia? Durkheim buscou identificar a relação entre suicídio e religião, examinando a relação entre a taxa de suicídio e as confissões religiosas. Ao comparar alguns países, identificou que nos países católicos a prática do suicídio era menor. Embora a “natureza dos sistemas religiosos” protestantes e católico proibissem o suicídio, Durkheim encontrou alguns elementos importantes para entender a diferença nas taxas dessa prática. Para ele, no Catolicismo o sistema hierárquico de autoridades é mais rígido, as doutrina é pronta e inquestionável, sendo marcada por grande interação e as crenças e práticas são comuns aos fieis. Já no protestantismo existiria pouca hierarquia e uma multiplicidade de seitas, sendo o crente mais autor da sua fé, havendo pouca integração; ou seja, menos crenças e práticas comuns entre eles. Essa menor integração é, para Durkheim, motivado pelo fato do protestantismo admitir um maior livre exame do livro sagrado. Para Durkheim a causa do livre exame estaria na necessidade da liberdade face à falência das crenças tradicionais (e não o inverso); perda da eficiência das ideias e sentimentos tradicionais irrefletidos para dirigir a conduta, sem um novo sistema de crença comum. Segundo esse sociólogo, o gosto pela instrução se aspira quando as crenças tradicionais se enfraquecem, expandindo o individualismo. Para ele, o gosto pela instrução era maior entre os protestantes. Nesse contexto de crise das tradições, a ciência não é o mal, mas vista como o único remédio. A ciências não teriam influências dissolventes, mas seria a única coisa que teríamos para lutar contra a dissolução de que ele resulta. Durkheim defende que silenciar a ciência não vai restaurar a autoridade das tradições desaparecidas. No caso específico do papel da religião, o homem comete o suicídio, segundo Durkheim, porque a sociedade religiosa de que faz parte perdeu a coesão. Argumenta Durkheim que a religião exerce uma ação profilática sobre o suicídio, isso por possuir uma conjunto de crença e práticas tradicionais e obrigatórias, exercendo a função de integração, criando situações coletivas que integram a comunidade. Quanto mais integrada esta, maior sua virtude de preservação. Para Durkheim, o protestantismo é superior em taxas de suicídios por ser menos integrador. Quanto menos vínculo com outros indivíduos, mais propício ao suicídio estará o indivíduo. Eis ai a dimensão moral do suicídio egoísta destacado por Durkheim. Durkheim analisa também a relação entre o Judaísmo e o suicídio. Para ele as perseguição contra esse povo foi fonte de fortalecimento da solidariedade, tendo sua identidade fortalecida. O Judaísmo estaria marcado por um corpo de práticas que regulamentam minunciosamente os detalhes da existência, deixando pouco espaço para o julgamento individual. A ciência não teria tido, afirma o sociólogo, um impacto contrário a essa religião, isso porque sua tradição estava muito bem consolidada. Desta forma, o Judaísmo seria uma evidência de que a ciência não destrói a tradição. Os judeus tiveram acesso à ciência e sua tradição continua sólida, argumentava Durkheim. Durkheim buscou destacar que o suicídio é uma doença da época. Para ele a anomia seria a causa principal. A anomia seria um estado marcado pela falta de regulamentação, paixões ilimitadas, horizontes infinitos e tormento: cenário potencializador da prática de suicídio. Os sinais de morbidades destacadas por Durkheim foram: necessidades ilimitadas; ultrapassagem infinita dos meios que se torna um fim, descontentamento; ligação tênue com a vida; paixão pelo infinito; situação onde nenhuma conquista vale por si mesmo etc. De acordo com Durkheim os indivíduos que não acumulam experiências reais, torna-se fracos e diante de um problema real não suportam a pressão, tendendo a cometer suicídio. Outro elemento potencializador da prática de suicídio são às crises econômicas. Para ele, a crise promove o suicídio por ruptura de equilíbrio, seja de prosperidade ou de pobreza. Mas como explicar que a melhoria da vida leve a uma maior desapego por ela? Para o sociólogo, as necessidades humanas não dependem do corpo; os desejos do indivíduo são ilimitados. Uma sede inextinguível é um suplício perpetuamente renovado. As paixões têm que ser limitadas pela força moral da sociedade que regula e modera as necessidades, atendendo ao bem comum. Para ele, as paixões devem ser limitadas, caso contrário, torna-se um tormento. Quando a sociedade é perturbada por crises ou mudanças repentinas, a pressão moral perde força, os indivíduos não se ajustam a suas posições, o valor das forças sociais permanece indeterminado, sem regulamentação as ambições são superexcitadas, causando o sofrimento e, consequentemente, crescimento do suicídio. O desenvolvimento da indústria e ampliação indefinida do mercado fortalece o desencadeamento dos desejos e a busca desenfreada por conquistas, o que consequentemente, favorece a ampliaçao das taxas de suicídios. O restabelecimento da ordem moral não é possível de forma rápida. Atualizar a educação moral não é algo instantâneo. Por isso, Durkheim se preocupará em reformar o ensino francês: laica, pública, gratuita (organizado pelo Estado que representa o geral e não o particular). Sem uma educação homogênea há uma tendência de anomia (se cada família educasse seus filhos, haveria uma desregulamentação moral). A causa do suicídio, estaria, grosso modo, na “ausência da sociedade” na vida do indivíduo. O Suicídio egoísta é marcado pela ausência da coesão coletiva, o desprovimento de objetivos e significados. Suicídio anômico é marcado pelo efeito da falta de regulamentação moral que limita as paixões individuais. Durkheim aborda o papel do casamento sobre as taxas de suicídio. Para ele, o casamento age em sentido contrário sobre o homem e sobre a mulher. Como pais têm o mesmo objetivo, mas como cônjuges os interesses seriam diferentes e muitas vezes antagônicos. Durkheim identificou, por meio da estatística, que só os homens casados contribuem para a maior taxa de suicídio nas sociedades com divórcios frequentes; nestas as mulheres cometem menos suicídio. Como nossa vida depende do quanto estamos integrados à sociedade, o divórcio, para o homem teria um impacto muito grande sobre a prática de suicídio, assim como a maior taxa de suicídio estaria entre os homens solteiros. Para Durkheim, o divórcio determina o suicídio pelas ações que exerce no casamento. Para ele, o casamento é uma regulamentação das relações entre os sexos, abrangendo instintos físicos e os sentimentos de todo tipo que a civilização enxertou sobre a base dos apetites materiais, regulando toda a vida passional, principalmente o casamento monogâmico. O casamento impõe ao homem uma disciplina salutar (mesmo que o costume lhe dê privilégios que permitem atenuar o rigor do regime). O divórcio enfraquece a regulamentação matrimonial, enfraquecendo a imunidade do homem casado e fazendo com que se aproxime das condições dos solteiros. Durkheim teria identificado que nada disso atinge a mulher (lembrando que a mulher não tem acesso a escola). Estando ela mais próxima da natureza, seus desejos naturalmente são mais limitados. Mais instintiva, segue os instintos em paz e com calma. Sendo ela tradicionalista, regula o comportamento pelos credos estabelecidos, sem grandes necessidades intelectuais. Para o sociólogo os interesses dos sexos são apostos, um precisa de coerção, o outro de liberdade. Para Durkheim (ao contrário da visão comum, que acredita que o casamento protege a mulher e sacrifica o homem), o casamento proporciona proteção ao homem e exige sacrifício da mulher, por isso o divórcio teria um impacto maior sobre o homem e, consequentemente, levando-o a praticar o suicídio. Durkheim deixa uma nota de rodapé indicando a existência do suicídio fatalista, que seria aquele causado pelo excesso de coerção. Embora mencionado, o sociólogo não se debruça sobre tal tipo de suicídio. Fontes DURKHEIM, E. Le suicide. Paris: PUF, 1986. GARCIA, Sylvia Gemignani. Aula do curso de Sociologia I. Universidade de São Paulo/USP. Mai. 2012. (fonte oral). A Sociologia de Durkheim: alguns apontamentos Por Cristiano Bodart Buscarei destacar de forma breve alguns dos pontos de um ator clássico da Sociologia: Émile Durkheim. Durkheim nasceu em Épinal, Paris, em 15 de abril de 1858, vindo a falecer em 15 de novembro de 1917. Ao longo de sua vida, escreveu quatro obras de grande impacto para a consolidação da Sociologia enquanto Ciência Social. Em 1893 publicou “Da divisão do Trabalho Social. Em 1895 Regras do Método Sociológico. No ano de 1897 publicou “O Suicídio”. Já em 1912, foi publicado “As Formas Elementares da Vida Religiosa”. Émile Durkheim se alimentou profundamente do contexto social de seu tempo, buscando demonstrar como a Sociologia é capaz de estudar, explicar, identificar, e propor soluções para os problemas sociais. Para Durkheim, os Fatos sociais devem ser abordar como coisas, sendo uma dimensão da realidade objetiva, como leis próprias. Objetiva no sentido de independer dos indivíduos. Nesse sentido, Fatos Sociais são “maneiras de agir, penar e sentir que existe fora das consciências individuais”. #O todo tem propriedades que não estão nas partes. O todo é maior que as partes. Um de seus objetos, o suicídio, é um exemplo claro de sua proposta de estudar os fenômenos sociais como um Fato Social. Durkheim buscou destacar que a Sociologia é a ciência da gênese e funcionamento das instituições. Para ele instituições são entendido como crenças e comportamentos instituídos pela coletividade. A sociologia de Durkheim estava marcado por teorias de médio alcance sobre as causas sociais que operam sobre os grupos sociais, formulando problemas determinados para uma parcela restrita do campo social, em busca de causas definidas, para as quais apresenta provas. Um conceito importante à Sociologia desenvolvido por Durkheim é “Consciência Coletiva”. Trata-se de uma “força social” exercida sobre os indivíduos coagindo-os a pensar e agir de acordo com as normas sociais. A Consciência coletiva é marcada por representações que transcendem a esfera individual, sendo fruto de pequenas contribuições individuais, que no todo formam tal consciência. Trata-se de um “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria”. Para esse sociólogo, a sociologia produz resultados objetivos impessoais, que independem de seu autor, suscetíveis de transmissão e crítica, sendo a história, e etnografia e a estatística são disciplinas auxiliares. Durkheim traz, ainda, a estatística para auxiliar a Sociologia. Como exemplo, do uso da Estatística, destacamos sua obra “O Suicídio”, onde demonstra a natureza da instituição social do casamento monogâmico e sua relação com o suicídio. Destaco uma citação do autor onde fica claro suas preocupações em relação à Sociologia que estava propondo: “em lugar de tratar a Sociologia in genere, nós nos fechamos metodicamente numa ordem de fatos nitidamente delimitados salvo as excursões necessárias nos domínios limítrofes daquele que exploramos, ocupamo-nos apenas das regras jurídicas e morais, estudadas seja no seu devir e sua gênese [cf. Division du travail] por meio da História e da Etnografia comparadas, seja no seu funcionamento por meio da Estatística [cf. Le suicide]. Nesse mesmo círculo circunscrito nos apegamos aos problemas mais e mais restritos. Em uma palavra, esforçamo-nos em abrir, no que se refere à Sociologia na França, aquilo que Comte havia chamado a era da especialidade” (DURKHEIM, 1970, p. 126). Para o sociólogo, a educação cria no homem um ser novo, o ser social, que o torna humano, sendo o indivíduo humanizado a medida que vive em sociedade. Torna-se humano, isto é, um ser moral, quando é socializado incorporando o sentimento de dever, da lei, da autoridade coletiva e da disciplina. A sociedade é entendida, por Durkheim, como um poder moderador e coercivo que faz com que o homem supere sua condição de animal. Referências Bibliográficas DURHKEIM, Émile. Sociologie et Philosophie. Prefácio de C. Bouglé. Paris, F. Alcan. Trad. de J. M. de Toledo Camargo. Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1970. ________________. De la division du travail social [1893]. Paris, F. Alcan. 7ª ed. PUF, 1960. ________________. Les règles de la méthode sociologique [1895]. Paris, F. Alcan. Trad. port. de Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1972 ) ________________. Le suicide. Étude sociologique [1897]. Paris, F. Alcan. (11.a ed. PUF, 1969) Trad. port. de Nathanael C. Caixero e revisão téc. de Antônio M. Guimarães Filho. Rio de Janeiro, Zahar, 1982. Tragédia em Realengo: leitura a partir concepções durkheimiana Uma das Foto: Portal G1 Ontem, uma aluna me perguntou sobre a tragédia ocorrida nesta semana no Rio de Janeiro (o assassinato de várias crianças em uma escola pública do Rio), porém sua pergunta estava relacionada a aula que ministrava: “As contribuições de Durhkeim para a compreensão da sociedade”. Iniciei a resposta dizendo: Se Durhkeim fosse hoje dar uma entrevista em rede nacional talvez ele inicia-se afirmando que tal fenômeno social é normal e benéfico à sociedade. Normal por se tratar de algo que esperamos que acontecesse. Isso por que Durkheim define como normal aquilo que ocorre com certa freqüência ou que nós esperamos que acontecesse. Se não fosse desta forma, não teríamos tal fenômeno previsto em lei (mesmo que a lei não descreva em detalhes o fenômeno a ser repudiado e punido – isso devido a multiplicidade de fenômeno indesejável). Assim, tal fenômeno não estaria fora da normalidade social. Benéfico à sociedade por fortalecer a consciência coletiva (embora muito ruim para as vítimas, familiares e mamigos). Frente à acontecimentos como esse a sociedade acaba refletindo seus princípios éticos e morais. Nesse momento ampliam-se alguns sentimentos desejáveis, como a solidariedade e a compaixão. Atos como esse, ao fortalecer a consciência coletiva, proporcionam um estado de valorização do respeito entre os indivíduos, sobretudo a vida dos outros. Eu particularmente, afirmei a aluna que prefiro, nesse caso, me apropriar das contribuições de Max Weber, onde o foco de análise deixa de ser o fenômeno social para ser a ação social do indivíduo e suas intencionalidades, mas essa é outra aula! Biografia de Émile Durkheim Vídeo em desenho animado encontrado no youtube. Aborda basicamente a biografia do Sociólogo Durkheim. Émile Durkheim Trabalho realizado pelos meus alunos do 1º ano B, da Escola Professora Filomena Quitiba, Piúma/ES. Ano letivo de 2010.