"gestão no ensino/aprendizagem da física".

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1- INTRODUÇÃO
Há décadas o cenário hospitalar em todos os seus aspectos tem‐se encontrado em
descrédito constante por toda a população que necessita dos serviços de saúde. Esse agravante
trouxe preocupações aos gestores hospitalares, seja na esfera pública ou privada, em virtude
dos graves problemas advindos do déficit financeiro, da insuficiência de pessoal para
atendimento, da falta de leitos, das péssimas condições de higiene e de estrutura física e da
grande maioria de hospitais em nosso país (DIAS, 2005).
Em virtude desse ambiente ameaçador à saúde pública, aos empreendimentos privados
e a ordem social, nota‐se que ultimamente há uma grande mobilização, muito mais que no
passado, da classe civil organizada e dos governos para modificar esse quadro danoso e
deteriorante do sistema de saúde, embora com efeitos isolados, porém merecedores de
louvores (RODRIGUES, 2007).
O hospital é um local de ações complexas, onde as atividades de atendimento, cirurgia,
exames, pronto‐socorro, enfermaria e outros ambientes se misturam com a ansiedade,
impaciência, desespero e angústia dos pacientes e familiares, necessitando de um equilíbrio
emocional entre os profissionais que prestam serviços e as pessoas que por eles são atendidas.
A frieza da rotina e o dogmatismo na área da saúde para diagnosticar e atender a
clientela (paciente) nas suas mais variadas necessidades de saúde deve ser ‘tratada’ como
moléstia e risco a qualidade do serviço hospitalar (ROCHA, 2001).
Conforme Rodrigues (2007) no ambiente médico a situação é caótica
“(...), pois as tragédias são muitas. Excesso de cirurgias, exames
desnecessários, choque anafilático, septicemias, medicamentos que
viciam e desestabilizam a vida orgânica e emocional de pessoas que
sequer optaram conscientemente por se drogar.”
Foi realizada uma leitura de trabalhos, artigos, dissertações e teses produzidas no
Brasil. Essa opção foi feita, pensando-se na contextualização pontual deste artigo e na
caracterização de um panorama nacional da assistência específica tendo como objetivo
principal conhecer a humanização hospitalar e a inserção dos leitos psiquiátricos em hospitais
gerais e podendo assim mostrar aos profissionais de saúde como lidar com a rotina de um
hospital geral e como tratar os pacientes, principalmente os psiquiátricos.
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2- AMBIENTE HOSPITALAR
Antes de iniciar os conceitos sobre o ambiente hospitalar deve‐se definir o que é
ambiente. No âmbito geral, ambiente é definido como o meio em que o indivíduo está
localizado, propício ou não para o seu funcionamento, desenvolvimento, bem‐estar e
sobrevida. Para Rocha (2001) é aquilo “que cerca ou envolve; (...) ou o meio em que se vive.”
O ambiente pode ser ainda entendido como um meio interior e exterior, sendo uma soma de
todas as condições e influências externas que afetam o desenvolvimento e a vida de um
organismo.
Já o ambiente hospitalar é o conjunto das condições humanas, técnicas, físicas,
químicas, biológicas, econômicas e sociais que influenciam a saúde do indivíduo. É
importante também destacar a origem da palavra hospital, de acordo com Watanabe (2007):
“(...) tem relação com o significado de acolhimento no Latim e vinculado principalmente à
religião.”
Quando se faz referência ao ambiente hospitalar segundo os critérios estabelecidos
pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2007), no que diz respeito aos
cuidados com o ambiente, abordam‐se principalmente os seguintes itens: Condições do ar;
Infecções; Riscos ambientais; Radiações; Ruídos; Odores; Efeitos visuais; Água;
Temperatura; Alimentos; Resíduos e dejetos; Controle de insetos e roedores.
É importante destacar que o nível informacional desse e de outros aspectos, referente à
segurança no ambiente hospitalar, deva ser cumprido junto aos órgãos reguladores e
fiscalizadores do ambiente de saúde, mas também disponibilizado em forma de manual para
os pacientes e seus familiares, como forma de apresentá‐los o local e os elementos envolvidos
naquele ambiente, departamento, setor ou ala, para que os mesmos tenham condições de
entender o funcionamento básico das atividades hospitalares e o nível de segurança
empreendido pela empresa (ROCHA, 2001).
E tudo isto está relacionado de forma direta, ou indireta, com as instalações,
operacionalização das atividades hospitalares, controles administrativos, técnicos e de
infecções hospitalares.
O ambiente hospitalar pode ser favorável ou desfavorável ao paciente; propício ou
nocivo; amigável ou hostil; contaminado ou não. Do ponto de vista psicológico fala‐se do
mau ou bom ambiente, segundo as características humanas das pessoas que prestam serviços
técnico‐científicos, de enfermagem ou administrativos, que torna agradável ou desagradável a
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permanência no hospital para o paciente e seus familiares.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2006) a saúde é um estado de bem
estar físico, mental e social, e não somente a ausência de defeito ou doença. Daí a necessidade
para um atendimento de qualidade não somente aos pacientes, mas a todos os familiares.
Cabe a administração do hospital – pela natureza das funções que executa e pelas
condições das pessoas atendidas, afetadas pelas patologias mais diversas, o cuidado pelo
planejamento, execução e controle das idéias lançadas para qualificar o atendimento
humanizado (organização, regulamentação, vigilância, educação continuada de todos os
colaboradores) englobando desde a estrutura física até a responsabilidade sobre o bem‐estar
do indivíduo (RODRIGUES, 2007).
Por essas considerações, é imprescindível destacar o papel da hotelaria hospitalar no
contexto da humanização, do atendimento de qualidade e bem estar físico, mental e social do
paciente e seus familiares.
3- HOTELARIA HOSPITALAR
Hoje a velocidade das informações e o aperfeiçoamento das técnicas e atividades
empresariais favoreceram um ambiente competitivo mais acirrado, exigindo dos profissionais
envolvidos maior comprometimento, inovação e ética (DIAS, 2005).
O hospital sendo parte integrante desse ambiente empresarial deverá necessariamente
atentar‐se aos aspectos teconológicos, físicos, estruturais e, principalmente, o aspecto humano
como hospitalidade e qualidade no atendimento (CHANNE, 2006).
No caso dos hospitais particulares, o cliente é exigente quanto à qualidade dos
produtos e serviços disponibilizados, bem como da estrutura apresentada (condições de
acomodação, higienização, controle de infecções etc.), a fim de permitir uma internação mais
agradável aos pacientes e seus acompanhantes.
Dias (2005) atesta que “qualquer organização tem como objetivo a sua continuidade e
para isto, necessita ter lucro e ser competitiva no mercado e o hospital não foge a essa regra.”
No aspecto financeiro é importante entender que a hotelaria também gera receitas, assim a
administração precisa gerir os seus recursos de forma equilibrada, procurando manter um
controle permanente das suas despesas/custos.
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“Isto parece lógico, mas como muitos hospitais acreditam que isto
não é possível ou não vêem este serviço como um centro de negócios,
então não buscam este equilíbrio e daí através do prejuízo buscam
justificar o não investimento.” (CHANNE, 2006).
Conforme estudos da autora, pode‐se constatar que na década passada, a via para
encontrar um diferencial competitivo era a preocupação com a tecnologia; ou seja, o hospital
que tinha equipamentos de ponta estava muito à frente dos demais. E hoje, como a grande
maioria dos hospitais tem acesso a essa tecnologia foi imprescindível buscar novos
diferenciais competitivos. Nesse contexto, surge a hotelaria hospitalar para proporcionar um
ambiente acolhedor e agradável, que transmita ao cliente segurança e bem estar.
A hotelaria hospitalar...
“... é uma tendência que veio para livrar os hospitais da ‘cara de
hospital’ e que traz em sua essência uma proposta de adaptação à nova
realidade do mercado, modificando e introduzindo a nova realidade do
mercado, modificando e introduzindo novos processos, serviços e
condutas.” (TARABOULSI, 2003).
Segundo Dias (2007) a hotelaria hospitalar não fazia parte do contexto do hospital
brasileiro até há menos de 10 anos. Desde que o médico fosse competente e o hospital
aparentemente limpo, nada mais importava para o paciente. Nesse período, quem buscava o
hospital para cuidar da saúde era também o paciente, significando que ao entrar no ambiente
hospitalar ele deixava de ser cidadão, de ter vontade própria, de ter direitos e passava a ser
passivo (daí o nome, paciente), obedecendo às ordens médicas e da enfermagem.
Esse tempo passou. Agora quem busca o hospital não é mais paciente: é um cidadão
que sabe de seus direitos e suas responsabilidades. Ele vai à procura de solução para seus
problemas e sente‐se com direito de ser bem atendido. É um cliente que vai comprar um
produto, que é o tratamento e a assistência que o hospital oferece.
Para a autora com a implantação desse novo conceito a primeira ação foi revisar todo o
fluxo de atividades, estrutura física, nutrição, paisagismo, dietética, tecnológica e o
processamento dos serviços.
Watanabe (2007) conceitua hotelaria hospitalar como sendo:
“a satisfação de todas as necessidades do paciente bem como a
integridade física, a privacidade, a individualidade; respeitando aos
valores éticos e culturais, com o máximo de confidencialidade de toda
e qualquer informação pessoal.”
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De acordo com a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro
(2006), “a hotelaria hospitalar objetiva oferecer aos clientes condições de bem‐estar,
assistência, segurança e qualidade no atendimento tornando o ambiente hospitalar o mais
próximo possível do ambiente familiar dos clientes.”
A estrutura da hotelaria hospitalar altera‐se de um hospital para outro, porque não é
um serviço inteiramente sedimentado, portanto, não faz parte do cenário comum de todo
hospital. Mas para que tudo isso ocorra satisfatoriamente não se pode apenas transformar um
hospital em um hotel, a adaptação de uma instituição de saúde para um aparente hotel é um
processo de médio a longo prazo e de alto investimento (DIAS, 2007).
Levando em conta as características de cada atividade, principalmente a hospitalar que
não cabe vícios e hábitos. A implantação dos serviços de hotelaria nos hospitais solicita
bastante estudo e habilidade. Pois certas mudanças quebram paradigmas e essas
transformações precisam de tempo para que todos os colaboradores correspondam
qualitativamente aos novos comandos, do contrário muito investimento pode acarretar
prejuízos humanos, operacionais e financeiros (WATANABE, 2007).
Um simples erro em um destes setores pode ser fatal na concepção do paciente,
transmitindo‐lhe uma terrível visão da Instituição, onde a falha ocorrida não é costumeira,
mas para aquele cliente em especial foi um experiência que deverá ser apagada, ou lembrada
quando necessitar de novos serviços para não incorrer na mesma falha. E este não poderá
voltar mais à instituição pela má impressão deixada na última passagem do mesmo.
Channe (2006) alerta que:
“um cliente insatisfeito faz referências negativas ao serviço mal
prestado. Fidelizar é necessário em qualquer negócio, mas nos
ambientes hospitalares temos diferenciações. Alguns tratamentos
serão finalizados, outros não, porém todos os momentos em que os
clientes de saúde permanecem dentro da Instituição serão lembrados.”
Por isso a importância da hotelaria hospitalar, mas para alcançar essa transformação de
forma eficaz, o hospital deve buscar uma adaptação coerente com o seu porte de atendimento,
partindo do princípio de que hospital e hotel são organizações que hospedam, e “(...) o
hóspede é a pessoa que está fora de seu domicílio e necessita abrigo e alimentação; o cliente
do hospital, além de ter também essas mesmas necessidades, está buscando um produto muito
específico, que é o atendimento aos seus problemas de saúde. (DIAS, 2007)
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4- HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR
O processo de humanização está intimamente ligado à qualidade de vida. Quando se
refere ao comportamento dos indivíduos, seu modo de pensar e agir, ao longo dos anos,
percebe-se que os mesmos se tornaram mais solidários, pensam mais nas questões sociais, em
busca do desenvolvimento coletivo, no próximo, assim se estabelece uma relação que também
interfere na sua qualidade de vida (PEDRÃO, 1990).
Mas não foi sempre assim, a assistência ao ser humano com transtornos mentais tem a
sua trajetória histórica marcada por processos de exclusão, isolamento, segregação, e anulação
do indivíduo enquanto portador de direitos.
Segundo Tundis (2000), antigamente não se pensava em doença mental, as pessoas
que tinham comportamento diferente do habitual, especialmente quando se tornavam agitadas
ou agressivas, eram consideradas loucas. E a sociedade, sem compreendê-las, colocava-as em
celas ou masmorras, onde eram abandonadas.
Em outro momento acreditou-se que essas pessoas estavam possuídas pelo demônio,
eram então usadas práticas de exorcismo para expulsá-lo. Enfim, considerava-se que elas
haviam perdido sua condição humana; assim, ficavam excluídas, acorrentadas, expostas ao
frio e mal-alimentadas (PEDRÃO, 1990).
A partir das idéias do Iluminismo durante a Revolução Francesa no final do século
XVIII - Igualdade, Liberdade e Fraternidade - e a declaração dos Direitos Humanos, cresceu o
movimento de denúncias contra as internações de portadores de transtorno mental; as mortes,
as torturas disfarçadas sob a forma de tratamentos médicos, aos quais os indivíduos eram
submetidos, fizeram com quem alguns médicos, como Pinel na França, Tuke na Inglaterra,
Chiaruggi na Itália, Todd nos EUA, entre outros, repensassem e iniciassem um movimento de
reforma em seus tratamentos, assim, essa clientela passaria a receber cuidados psiquiátricos
sistemáticos, de acordo com Lyra (2004).
Dentre os médicos mencionados, Botega e Schechtman (1997) colocam que se podem
distinguir dois pólos de pensamentos, a do médico Philippe Pinel – pai da psiquiatria - na qual
o louco passa a ser visto como um doente que deveria ser submetido a um tratamento,
propiciando-lhes melhores condições de vida, mas lidava com o tratamento mental como
forma de julgamentos, seus gestos eram vigiados, baseados na disciplina rígida. E o outro
pólo, formado pelos outros médicos, que transformaram a violência franca em violência
velada da ameaça e das privações.
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Para esses, os “loucos” deveriam aprender a viver na sociedade, e para isso eram
ameaçados e maltratados, com o intuito de esses métodos os modificassem. Os pacientes
passaram a serem internados em espaços para serem reeducados passando a ter sua vida
organizada; eram observados e classificados, para que seus desvios fossem corrigidos, uma
concepção que para alguns perdura até hoje.
Em 1793, Pinel realizou a primeira reforma, denunciando as condições desumanas dos
asilos da época, propondo uma nova lógica para a tutela: o tratamento moral e educativo
voltado para a saúde mental, e na sua concepção o isolamento era necessário para a
recuperação e socialização do doente.
Como enumera Delgado (1997), as principais operações feitas por Pinel que
fundamentavam a prática asilar, era três: 1º- Isolamento do mundo exterior, de forma que o
alienado pudesse ser dominado e não dominar; 2º- Constituição da ordem no asilo, com uma
estrutura hierárquica a ser obedecida, bem como de uma disciplina em relação ao uso do
tempo e do espaço; 3º- Relação de autoridade e soberania entre o médico-auxiliares e o
alienado por intermédio da vigilância.
As duas linhas de pensamentos eram efetivamente praticadas, mas ao longo dos anos,
percebeu-se que nenhuma das duas atendia aos interesses dessa clientela e dificilmente
propiciavam sua melhora; seus direitos não eram respeitados, além do que, eram isolados da
sociedade.
Assim, surgiu a idéia da reforma psiquiátrica, na qual o intuito era fazer com que o
tratamento demorasse o menor tempo possível e que os “doentes” deixassem as instituições
psiquiátricas e voltassem ao convívio familiar e social.
5- A REFORMA PSIQUIÁTRICA
Desde o início da Idade Média os portadores de transtornos mentais tiveram suas
vozes anuladas, abafadas, desvalorizadas e sem importância. Eles eram descartados da justiça,
da responsabilidade de um ato ou de um contrato, e até mesmo a comunhão na Santa Missa,
segundo Tundis (2000).
Somente no século XIX as pesquisas da medicina avançaram nos estudos sobre a
Biologia, a partir da qual a doença mental começa a ser entendida como sendo de ordem
neurocerebral, ou seja, os processos mentais seriam explicados com base no sistema nervoso,
de acordo com Pedrão (1990). Desta forma, a loucura passou a ser medicada.
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As degenerescências que os pacientes sofriam poderiam ter diversas causas:
hereditariedade, influências sociais, doenças congênitas, entre outras, passando a ser vista não
mais como distúrbio moral e sim como anormalidade. Assim, nasce a psiquiatria sendo uma
doença específica, portanto, requer um saber médico específico, técnica e métodos também
específicos, como explicita Tundis (2000).
Para esses tratamentos específicos, os “loucos” passam a ter um espaço isolado para
eles – manicômios - que viria a ser uma reclusão da sociedade externa, eram então,
individualizados e disponibilizados para estudos. Assim, esses locais constituíram o que se
pode chamar de prática médica, onde o foco do objeto de estudo da psiquiatria era a doença
mental.
A internação e o isolamento eram colocados como uma necessidade urgente e
absoluta, tanto para a segurança do próprio doente, como da família e da sociedade, que para a
tranquilidade da população em geral, esta necessidade era ainda mais urgente para os
indivíduos que pertencessem às classes sociais economicamente menos favorecidas, fruto do
puro preconceito.
Ao decorrer do tempo, ainda de acordo com estudos de Tundis (2000) foi constatado
que esses espaços – manicômios - excluíam os doentes do mundo, não lhes permitindo os
mínimos direitos, e dificilmente propiciavam a reconstrução da pessoa e o tratamento eficaz
da doença, pois uma vez que o paciente recebia a tão sonhada alta voltava em pouco tempo a
ser internado novamente. O que se verificou, ao longo do tempo, é que a influência, sobretudo
repressora e alienante dessas instituições provocava, muitas vezes, novos sintomas, que
levavam os doentes a cronicidade. Portanto, era preciso transformá-la e reformá-la.
Nos últimos anos, a Reforma Psiquiátrica brasileira tem avançado vigorosamente na
reformulação da atenção em saúde mental, desconstruindo conceitos e práticas baseadas no
isolamento e na exclusão social como formas de tratar a loucura.
Através de ações incisivas na cultura e da ampliação dos atores sociais envolvidos, o
Movimento da Luta Antimanicomial extrapola o contorno das ações institucionais e de
assistência e passa a difundir a crítica ao manicômio e as discussões sobre o tema da Reforma
Psiquiátrica, chamado a sociedade a reconstruir sua relação com o louco e com a loucura
(Tenório, 2002), condição fundamental para o sucesso das iniciativas de reabilitação
psicossocial.
Tais ações na cultura foram fatores estratégicos e potencializadores do processo de
desistitucionalização, já que se tratava não apenas de desospitalizar os paciente, mas de
romper com o saber psiquiátrico enquanto ideologia (Basaglia, 1985) e desconstruir todo um
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aparato manicomial que se estende às atitudes sociais, à intolerância frente às diferenças, às
relações de poder, dominação e exclusão que se estruturam em torno da loucura
(AMARANTE, 1995).
Essa reforma almejada por alguns seguimentos, pode ser analisada através de um
tratamento multidisciplinar na qual uma equipe de profissionais de diversas áreas atuaria de
maneira a estimular as relações e atividades que os pacientes teriam, estimulando a qualidade
de vida em um ambiente “hostil”, além de otimizá-lo.
6- GESTÃO HOSPITALAR
O conceito de gestão apesar de ter evoluído muito ao longo dos anos, existe algum
consenso relativamente que este deva incluir obrigatoriamente um conjunto de tarefas que
procuram garantir o atendimento eficaz de todos os recursos disponibilizados pela
organização de acordo com os objetivos pré‐determinados. Ou seja, cabe à gestão otimizar o
funcionamento dos setores e departamentos da organização através da tomada de decisões
racionais, fundamentadas em dados e informações de suporte relevante e, por essa via,
contribuir para o seu crescimento e a satisfação de todos os envolvidos (MALAGÓNLONDOÑO, 2003).
Sendo o gestor alguém pertencente à organização e a quem compete à execução das
tarefas confiadas à administração, torna‐se agora mais fácil encontrar um conceito que o
identifique. Conclui-se que o gestor é alguém que desenvolve os planos estratégicos e
operacionais que julga mais eficazes para atingir os objetivos propostos, concebe as estruturas
e estabelece as regras, políticas e procedimentos mais adequados aos planos desenvolvidos e,
por fim, implementa e coordena a execução dos planos através de um determinado tipo de
comando de controle (PEREIRA, 2005).
Entre outros aspectos, a gestão hospitalar visa o trabalho de gestores atualizados para
administrar a área da saúde, desenvolvendo trabalhos de níveis analíticos e sistêmicos na
administração dos hospitais, policlínicas e clínicas médicas através do planejamento integrado
dos diferentes serviços, e ainda, com o uso das tecnologias adequadas. (UNIVERSIDADE
ESTÁCIO DE SÁ, 2006)
Segundo Malagón‐Londoño (2003):
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“A criação de um hospital não deve obedecer a conveniências
individuais ou de grupos, mas às necessidades reais de uma
comunidade de dispor deste recurso insubstituível com eficiência e
qualidade”.
O mesmo autor destaca, ainda, alguns requisitos básicos para o planejamento
hospitalar, são eles: Definição epidemiológica que justifique tal projeto; Estudo econômico de
custos e recursos reais e potenciais; Estudo geopolítico para a definição do local a ser
implantado o projeto; Condições ambientais do lugar pré‐selecionado e Facilidades de
serviços básicos.
Esses requisitos serão imprescindíveis e oportunos para um planejamento eficiente,
pois vislumbra necessidades reais que vão desde um planejamento da estrutura física até o
impacto das condições ambientais efeitos sócio‐econômicos. A elaboração de um
planejamento estratégico que vise à criação do futuro organizacional, por outro lado, implica a
construção efetiva de algumas fases, como instrumentos úteis do processo e daquilo que
desejam atingir.
O que deve ser feito é: Construção da visão estratégica; Determinação do
planejamento estratégico e operacional e Construção do futuro.
Por fim, é importante destacar a estrutura organizacional como descrição dos
principais setores de um organograma básico hospitalar e as suas intenções para facilitar o
planejamento funcional das atividades, e o impacto destas na atividade de hotelaria hospitalar.
De acordo com o autor é possível descrever algumas informações dos principais
departamentos, como segue: Fundo especial de medicamentos e Materiais, que garante a
aquisição de medicamentos e insumos; Vice‐direção de Atenção à Saúde, que leva este nome
em razão do aumento da complexidade de especialidades médicas e outras áreas que integram
este grupo; Vice‐direção Administrativa, que perde a denominação de departamento, pois
trabalha em conjunto com especialistas em administração financeira para dar apoio logístico
às atividades da instituição; Setor de planejamento, cuja finalidade é fornecer dados para os
chefes de departamento e serviços se programar, executar e avaliar as atividades de cada um e
assim delegar a responsabilidades aos respectivos chefes pra alcançar os objetivos da
instituição; Setor jurídico assessora a Direção do Hospital para assinar contratos, convênios de
maneira a evitar transtornos futuros acarretando em ações judiciais que podem ser evitadas
contra a Instituição e seus funcionários; Comissão de Infecção Hospitalar tem como papel na
Instituição se encarregar de prevenir, controlar e tratar as infecções hospitalares; Comissão de
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Ensino tem como propósito dar educação continuada no ambiente hospitalar, também te o
propósito de identificar e obter locais propícios para o ensino médico e demais áreas de saúde,
estabelecer os mecanismos de ensino e avaliar os resultados obtidos; Comissão de Suporte
Nutricional, grupo que envolve áreas na qual possa obter mais rapidamente sua recuperação e
As funções de Vice‐diretores de Atenção à Saúde e Administrativo são facultativas, ou seja,
podem ser usadas ou não dependendo da complexibilidade ajustada pela direção da
Instituição.
Todo esse contexto visa chamar atenção para o seguinte ponto: Toda organização é
formada por recursos físicos, materiais, humanos, financeiros e tecnológicos. Portanto, esses
elementos influenciam e sofrem influências do meio onde estão, e assim quanto mais ético e
responsável for à ação empresarial, maior será o seu retorno sobre os seus investimentos.
Conforme Pereira (2005) “a empresa é geralmente definida como um grupo humano
de produção que, dispondo de um patrimônio e de autonomia, exerce uma atração sobre o seu
meio ambiente e cujo futuro depende da venda do produto de sua atividade.”
E com a demanda dos seus serviços e da necessidade de resultados, as Instituições de
saúde perceberam que uma boa administração é fundamental para a sua manutenção e
consolidação no mercado.
7- CONSIDERAÇÃO FINAL
O ato de administrar já é um trabalho árduo para qualquer profissional que assume
funções estratégicas, quando se trata de administrar um hospital ou um ambiente parecido os
administradores tem que ter a conscientização que um erro por mais fútil que possa parecer
acaba se tornando um grande problema, causando danos irreparáveis para o profissional,
empresa e para o cliente (paciente).
Esse desafio torna‐se mais perceptível no momento em que outras atividades vão
surgindo, novas rotinas implantadas, ou reestruturações dos serviços, como é o caso da
hotelaria hospitalar, que além de impactar no fluxo geral das atividades de nutrição,
paisagismo, dietética, recepção, tesouraria, entre outras, altera também a estrutura física,
cultural e informacional do hospital; toda essa transformação justificada pelo equilibro entre
atender com qualidade e ampliar as fontes de receitas hospitalares.
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A hotelaria hospitalar busca primordialmente a satisfação de todas as necessidades do
paciente enquanto o mesmo está hospedado no hospital, oferecendo condições de bem estar,
assistência, segurança e qualidade no atendimento, proporcionando‐lhe um ambiente próximo
ao familiar.
Para alcançar esse nível, o hospital em parceria com seus colaboradores (médicos,
diretores, funcionários etc.) terão que mudar a sua cultura e comportamento para atender com
ética e responsabilidade os anseios dos pacientes internados. Outros fatores como: Gestão e
readequação das atividades administrativas, financeiras, de planejamento operacional e
estratégico serão prioritárias para alavancar o crescimento sócio‐econômico do hospital e
favorecer um atendimento de qualidade baseado na humanização.
As unidades psiquiátricas em hospital geral não serão a salvação da reforma
psiquiátrica, porém é inegável sua contribuição no estabelecimento de uma relação de
tolerância com o doente mental, num espaço de tratamentos preferencialmente ocupado pelos
demais sujeitos acometidos por patologias clínicas.
.
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