0 ROSANE JAEHN TROINA MULHERES QUE VIVENCIAM A SORO

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ROSANE JAEHN TROINA
MULHERES QUE VIVENCIAM A SORO POSITIVIDADE AO VÍRUS
HIV/AIDS NO MUNICÍPIO DE VALENÇA-BA
VALENÇA-BAHIA
2012
1
2
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO
04
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 PERFIL DOS INDIVIDUOS VULNERÁVEIS À INFECÇÃO PELO
VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV).
3
METODOLOGIA
05
05
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
11
5
CONCLUSÃO
14
REFERENCIAS
16
10
3
MULHERES QUE VIVENCIAM A SORO POSITIVIDADE AO VÍRUS HIV/AIDS NO
MUNICÍPIO DE VALENÇA-BA
Rosane Jaehn troina1
RESUMO
Este estudo teve como objetivo identificar aspectos do comportamento sexual de mulheres
portadoras do vírus da imunodeficiência humana HIV positivas em relação ao uso do
preservativo, analisando sob a perspectiva de gênero. Trata-se de um estudo descritivo com
abordagem quantitativa. Para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada. Na
análise dos dados utilizou-se a técnica de análise temática como procedimento da análise de
conteúdo. Entre os resultados ressalta-se que a percepção da AIDS acontece, em sua maioria,
após a sintomatologia da doença oportunista; os resultados indicam necessidades de cuidados
que busquem alcançar indivíduos que parecem estar mais vulneráveis à contaminação pelo
HIV, dando-lhes o direito de obter informações concretas que lhes permitam a livre escolha
de mudanças no padrão de seu comportamento sexual. É plausível ressaltar a importância de
práticas educativas que permitam educar para o uso consciente e adequado do preservativo,
mesmo que este método seja passível de falhas, pois é ainda o único que pode minimizar
comprovadamente o risco da infecção pelo HIV.
Palavras-chave: Soropositivas. Sintomatologia. Preservativo. Trajetória. HIV.
ABSTRACT
This study aimed to identify aspects of sexual behavior of women with human
immunodeficiency virus HIV positive in relation to condom use, analyzing from the
perspective of gender. This is a descriptive study with qualitative approach. To collect data
we used the structured interview. In the data analysis used the analysis technique as a
procedure of content analysis. Among the results we emphasize that the perception of AIDS
occurs mostly after the symptoms of opportunistic infection, the results indicate that care
needs to seek to reach individuals who seem to be more vulnerable to HIV infection, giving
them the right to specific information to allow them to free choice of changing patterns of
sexual behavior. It is plausible to emphasize the importance of educational practices that
allow for education about the wise use and proper condom, even though this method is likely
to fail because it is still the only proven they can minimize the risk of HIV infection.
Keywords: HIV positive. Symptoms. Condom. Trajectory, HIV.
Graduada em Pedagogia pela FACE- Faculdade de Ciências educacionais -Valença-Ba
Especialista em Gestão de Pessoas pela FAZAG- Faculdade Zacarias de Góes- Valença-Ba
4
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo geral analisar através de pesquisa
documental a trajetória da infecção pelo HIV/AIDS entre mulheres em um município do
interior da Bahia. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e natureza quantitativa que
utilizou dados secundários e retrospectivos. Tomou como fonte os dados constantes nos
prontuários clínicos de pacientes soropositivos para o HIV/AIDS, cadastrados na Secretaria
de Saúde do município selecionado, o caso de Valença, na região do Baixo Sul da Bahia.
A infecção pelo HIV e a proliferação da AIDS no Brasil nos últimos anos vem
apresentando importante transição epidemiológica caracterizada pela heterossexualização,
feminização e interiorização da epidemia. Portanto, Trindade (2001) apud Bueno et al (2008)
P.24 ressalta que “a feminização diz respeito à crescente participação das mulheres no total de casos
de AIDS registrados no país”.
Para Almeida et al (2008). A AIDS é atualmente retratada como uma pandemia
que tem trazido múltiplas transformações nos conceitos e comportamentos dos indivíduos.
Este estudo teve como objetivo específico identificar o índice de mulheres no período fértil
que adquirem HIV no município de Valença-Ba, analisando sob a perspectiva de gênero.
A temática do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e da AIDS consiste em um
dos grandes problemas contemporâneos da Saúde Pública, trazendo implicações para a
sociedade em suas diversas dimensões, perpassando por aspectos objetivos e subjetivos. Deve ser
ressaltado que se convive com duas epidemias distintas, embora relacionadas. A primeira referese à do HIV, a qual, apesar de possuir maior magnitude, caracteriza-se pela sua
considerável invisibilidade. A segunda é a da AIDS, frequentemente descrita pela sua
magnitude estimada em termos de impacto social.
Entre os resultados ressalta-se que a percepção da AIDS acontece, em sua
maioria, após a sintomatologia da doença oportunista. Observou-se a diminuição da libido e da
valorização do sexo após a contaminação pelo HIV. As relações de gênero estão
constantemente imbricadas na vivência da sexualidade. A vida dos soropositivos é permeada por
sentimentos ambíguos frente a sua condição atual.
O alastramento da epidemia do HIV, no Brasil e sua crescente feminização,
evidencia a necessidade pelo desenvolvimento de medidas efetivas de acordo, sobretudo de
prevenção, que estejam especificamente voltadas à população feminina. O HIV é uma doença
causadas por vários tipos de agentes. É transmitida, principalmente, por contato sexual sem o
uso de preservativo (“camisinha”). O vírus pode ser transmitido da mãe infectada para o bebê
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durante a gravidez ou durante o parto. Podem provocar, assim, a interrupção espontânea da
gravidez ou causar graves lesões ao feto.
Outro objetivo específico deste estudo é traçar a trajetória da infecção pelo
HIV/AIDS entre mulheres interioranas, especificamente as residentes no município de
Valença-Ba, identificando se as variáveis sexo e raça/cor influenciam na vulnerabilidade de
mulheres do interior à infecção pelo HIV/AIDS.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA / AIDS) é causada pelo Vírus
da Imunodeficiência Humana (HIV). Este surgiu em 1980 e transformou-se rapidamente em uma
pandemia com altos índices de morbi-mortalidade. Desta forma, a infecção trouxe consigo
vários estereótipos (doença incurável, altamente contagiosa e letal, predominante entre
homossexuais masculinos e ricos, que moravam em grandes centros urbanos). Essa
categorização contribuiu para construção de uma imagem estigmatizadora que, infelizmente,
permanece até os dais atuais, dificultando melhores resultados nas ações de prevenção e
controle da epidemia (ROCHA, 1999).
Assim, a infecção apesar de já ter alcançado sua maioridade, apresenta-se em
contínuo processo de transformação. Há quase três décadas, o campo da Saúde Pública tem
investido em ações com enfoque na prevenção e controle dessa infecção. No entanto, nota-se que
embora a mortalidade por AIDS tenha diminuído, graças ao uso dos medicamentos antiretrovirais
disponíveis, a incidência de infecção pelo HIV continua aumentando.
A AIDS provoca no indivíduo uma fraqueza de preconceito e isolamento, pois
envolve não apenas os aspectos da medicina, como também questões sociais e culturais.
Mesmo não se tendo encontrado a cura para a doença, nota-se um avanço considerável no que diz
respeito ao tratamento.
Vários são os problemas trazidos pelo diagnóstico de uma DST ou propriamente
dizendo da contaminação pelo HIV e pelo estabelecimento da AIDS, as pessoas
sofrem preconceitos que se apresentam em diferentes esferas, indo da sociedade,
perpassando pela própria família indo até os profissionais de saúde (PEREIRA, et al.
p.5.2011apud KNAUTH, 2002).
2.1 PERFIL DOS INDIVÍDUOS VULNERÁVEIS Á INFECÇÃO PELO VÍRUS DA
IMUNODEFICIENCIA HUMANA (HIV)
Inicialmente, a infecção pelo HIV/AIDS foi associada de forma estigmatizadora
aos chamados grupos de risco, a exemplo de homens com prática homo/bissexual,
profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis. Pelo fato de ter concentrado-se,
inicialmente, entre os homosexuais (HSH), ou seja, entre os homens que fazem sexo com
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outros homens, a AIDS foi chamada durante algum tempo de “peste gay”. No Brasil, a doença
seguiu a mesma trajetória. Este perfil, até os dias atuais, contribui para uma das mais fortes
representações sociais sobre a AIDS.
Essa concepção sobre a AIDS adotada pelo senso comum há muito tempo já era
questionada, conforme explicitou Guimarães (1996, p.90):
A concepção que associava a epidemia da Aids a grupos de risco tais como
homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis, prostitutas, hemofílicos,
começou, então, a ser questionada, surgindo uma nova expressão para definir a
forma de contágio epidêmico do HIV/AIDS: comportamento de risco ou, ainda,
situação de risco e status social, estariam vulneráveis à infecção pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana.
Este padrão do processo de contaminação predominou por quase toda a década de
1980, porque enquanto se procurava explicações para a síndrome desconhecida, criou-se no
imaginário social a vinculação da AIDS ao homossexualismo e a crença de que ser portador de
AIDS correspondia a uma condição de ser homossexual.
No entanto, com o passar dos anos observou-se que a “epidemia” não estava
limitada aos “grupos de risco”, àquelas pessoas que possuíam os chamados “comportamentos
desviantes”, isto é, àqueles que fogem dos padrões normais de comportamento social, no caso,
os homossexuais, os usuários de drogas e profissionais do sexo, dentre outros. Com isso
resultou em demora na implementação de ações que impedissem o avanço da contaminação.
Segundo Santos; e Paiva (1982, p. 5):
O perfil da epidemia, até meados da década de 80, apresentava predominância de
transmissão sexual, principalmente entre homo/bissexuais que possuíam
escolaridade elevada. No período de 1987 a 1991 apareceu como fatores de risco o uso
de drogas injetáveis e a transfusão sanguínea. Nesta fase já havia evidências de início
da transição epidemiológica que caracterizava a juvenização, pauperização,
interiorização e tendência e feminização da epidemia.
Neste sentido ficam claras as dificuldades que as mulheres soropositivas
enfrentam no que diz respeito ao lidarem com a doença, as quais tiveram um aumento
significativo de registros de infecção, em situação de enfrentamento do problema da infecção do
vírus pelo próprio parceiro. Adicionando a isso, fica exposto o risco de infecção vertical em
caso de gestação, como consequência acabam abandonando o trabalho com receio de serem
vítimas de preconceito.
Portanto, esses fatores provocaram mudanças significativas no comportamento do
estudo da AIDS, fazendo surgir uma nova concepção sobre a doença, levando em
consideração as diversas características ligadas à pessoa, espaço físico e também ao tempo,
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fazendo surgir o conceito de vulnerabilidade, isto é, o fator de risco em que as pessoas se
encontram. Um ponto positivo ao controle da “epidemia” é essa necessidade de mudanças
sociais nas relações de poder e dominação, a vulnerabilidade social e individual das mulheres
quanto à proliferação da doença.
Analisar a complexidade do avanço da contaminação pela AIDS e outras Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DSTs) em mulheres significa colocar em foco as relações
desiguais entre os gêneros e as disparidades socioeconômicas que atingem as mulheres
brasileiras.
A presença cada vez mais marcante da mulher no quadro da epidemia de AIDS traz a
necessidade de melhor explorar a temática, pois trata-se de um segmento com
especificidades distintas da população masculina e que apresenta desvantagens no que
se refere à prevenção, ao controle e tratamento da infecção (PEREIRA et al. 2011
Apud TAKAHASHI, 1998, p.60 )
Em todas as sociedades, há diferenças entre os papéis sociais desempenhados por
homens e mulheres, contudo a análise dos diferentes contextos mostra que as atribuições de
poder desiguais entre homens e mulheres influenciam no acesso aos recursos produtivos e na
autonomia para tomar decisões, incluindo decisões sexuais e reprodutivas. Historicamente, tais
diferenças se expressam de forma desfavorável às mulheres.
Ayres et al. (1999, p. 57) apud Pereira (2001), referindo-se à vulnerabilidade
enfatizam três pressupostos:
I)e todo indivíduo é, em algum grau, vulnerável à infecção pelo HIV e as
consequências, e essa vulnerabilidade pode variar ao longo do tempo em função dos
valores e recursos que lhes permitam ou não obter meios para se proteger;
II) Os
indivíduos infectados pelo HIV têm seu potencial de vulnerabilidade à
morbidade, invalidez ou morte variável em função inversa ao amparo social e
assistência à saúde de que dispuseram;
III) As condições que afetam a vulnerabilidade individual são de ordem cognitiva
(informação, consciência do problema e das formas de enfrentálo),
comportamentais (interesse e habilidades para transformar atitudes e ações a partir
daqueles elementos cognitivos) e sociais (acesso a recursos e poder para adotar
comportamentos protetores).
Discutir vulnerabilidade leva à compreensão de que o risco da infecção não
depende somente das informações e da postura individual, mas de vários fatores como
condições socioeconômicas, políticas, culturais e jurídicas. Assim, a partir do início da década
de 1990, o número de casos da infecção pelo HIV/AIDS em mulheres, que até então se
encontrava escamoteado, passou a aumentar progressivamente (GALVÃO, 2002).
A infecção pelo HIV/AIDS no Brasil, embora tenha experimentado mudanças em
sua forma de contaminação, continua guardando características do seu início, principalmente
no que diz respeito ao preconceito e à discriminação das pessoas que vivem com AIDS.
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Desde 1980 até meados de 2006, no Brasil, foram notificados 433.067 casos de portadores de
AIDS, com proporção entre os sexos masculino e feminino de 1,5:1, respectivamente. Hoje,
as estimativas indicam que cerca de 600 mil pessoas são portadoras do HIV e AIDS no Brasil.
Consta que atualmente este número permanece estável desde 2000 (BRASIL, 2006).
Desta forma, pode-se considerar, conforme Paiva (2000, p.2), quando chama
atenção que:
A AIDS trouxe consigo também o preconceito e a discriminação. Inicialmente ela era
igualada, tanto pelas autoridades sanitárias, quanto pela sociedade, a uma doença de
transmissão sexual propiciada por atividades homossexuais masculinas. E, neste
particular, ela fez uma viagem de volta ao fim do século passado, quando as doenças
sexualmente transmissíveis apresentavam alta incidência.
Neste contexto, as representações sociais ancoradas em relação à infecção pelo
HIV/AIDS, relacionavam-se às “doenças venéreas” que acometiam pessoas com
“comportamento sexual promíscuo”. Assim, as mulheres com parceria fixa eram vistas como
protegidas, não sendo alvo de campanhas e/ou programas com enfoque na prevenção e
controle passando a integrar, cada vez mais, a estatística de incidência da infecção.
Para Villela (1996) a infecção pelo HIV/AIDS em mulheres implica em risco
silencioso devido à crença de que as mulheres estariam imunes à infecção e a maior demora
no diagnóstico resulta em retardo na intervenção e, consequentemente, em redução no tempo
de vida.
Neves (2003) enfatiza que a feminização da AIDS constitui-se num problema
mundial, principalmente pelo risco progressivo de transmissão vertical, já que muitas
mulheres soropositivas encontram-se sexualmente ativas, em fase reprodutiva e, portanto,
predispostas a uma gravidez, o que está demonstrado nos dados epidemiológicos brasileiros,
desde o primeiro caso de transmissão vertical notificado em 1985.
A transmissão do vírus ao concepto, que como é sabido, pode ocorrer durante a
gravidez, intra-útero; durante ou após o parto, através do aleitamento materno. No
Brasil, a taxa de transmissão vertical varia entre 1 a 20%, a depender das ações de
controle adotadas. No ano de 2004, estimou-se que cerca de 12.000 parturientes
estavam infectadas pelo HIV no Brasil (PEREIRA, B. S.p.5 et al.apud PEREIRA,
COSTA, 2006)
Desde a identificação dos primeiros casos de AIDS importantes, avanços técnicos
e científicos têm sido observados e contribuíram significativamente para a descoberta de
recursos terapêuticos e diagnósticos, como também para a compreensão da evolução da
infecção pelo HIV/AIDS. No entanto, lamentavelmente, o preconceito e a falta de
informações contribuem para que a infecção pelo HIV/AIDS, ainda hoje, seja percebida como
“doença do outro”.
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O baixo grau de escolaridade contribui para a falta de acesso às informações
adequadas e, por isso, tem sido utilizado como variável indireta no intuito de expressar o
perfil socioeconômico dos casos notificados. Segundo dados do Ministério da Saúde, até o
ano de 1982, a totalidade dos casos notificados com escolaridade conhecida, era de nível
superior ou de nível médio. Nos anos subsequentes, a frequência de notificações em pessoas
com pouca escolaridade passou a aumentar progressivamente, situação que vem se mantendo
até o presente momento.
Assim, a população fica exposta ao conhecimento inerente à sabedoria popular
que, muitas vezes, traz consigo estereótipos e fantasias que dificultam a compreensão da
vulnerabilidade e, consequentemente, a sensibilização para a necessidade da adoção de uma
prática sexual protegida.
Neste sentido, concorda-se com Villela (1996) ao salientar que a discussão sobre
sexualidade e AIDS é difícil devido aos aspectos éticos, morais e comportamentais que
permeiam a questão. Para esta autora, em relação ao sexo feminino a problemática é maior
porque a prevenção da AIDS requer o uso do preservativo, o que depende fundamentalmente da
concordância e colaboração do parceiro.
Pensar sexualidade feminina no contexto da reprodução leva à desvalorização da
sexualidade como forma de prazer o que dificulta a compreensão do ato para si. Há
de se considerar, também, que a construção da sexualidade feminina no sistema
sexo/gênero passa a ser exercida em função da paixão e da satisfação das
necessidades do outro. Isso traz como consequência a não percepção da importância
da prevenção (VILLELA, 1996 apud SANTOS; PAIVA 1982, p. 4).
Sendo assim, entendemos ser necessário um novo olhar sobre a problemática,
com enfoque nas questões relativas às desigualdades de gênero no contexto socioeconômico,
político e cultural, visando uma melhor compreensão da entrada das mulheres na cadeia de
transmissão. Isto por que:
(...) gênero é um construto social e cultural que estabelece valores diferenciados para
homem e mulher e as formas como eles (homens e mulheres) se relacionam na
sociedade [...]. Este poder diferenciado entre os gêneros está articulado de forma
complexa na vivência da sexualidade (DINIZ, 1997, p.7).
A distribuição espacial dos casos de AIDS no Brasil demonstra, ainda, um
aumento da participação dos casos de contaminação em pequenos municípios do país ao
longo dos anos, ocorrendo uma expansão no sentido “litoral-interior” do país. Outra
característica importante dessa distribuição da contaminação por HIV/AIDS, nos últimos
10
anos, segue as rotas dos sistemas de transporte, além do deslocamento sazonal de
trabalhadores entre os diversos municípios brasileiros (BRASIL, 2002).
Essa reflexão permite interpretar que o “padrão da contaminação” pelo HIV está
difundindo-se também entre os grupos marginalizados da sociedade brasileira, situação que
nos primeiros anos da série histórica podem ter sido “disfarçados”. Isso faz com que o padrão
de contaminação sofra reflexos em sua construção social por ignorar os determinantes
culturais e sociais do processo, destacando-se entre estes as questões de gênero e de raça, cor
e etnia.
Em algumas regiões do país a exemplo do Nordeste e do estado da Bahia,
aparenta ser ainda mais complicada devido ao estereótipo que visualiza os nordestinos e os
baianos como geralmente pobres, ignorantes, preguiçosos, servis (ALBUQUERQUE JR.,
2007).
A situação epidemiológica da AIDS na Bahia é relevante. Atualmente, a
incidência de contaminação pelo HIV chega a 5.400 casos por ano, sendo a capital do estado
(Salvador) o sétimo município com maior número notificações no ranking nacional.
Segundo Guimarães e Consoni (2000), um olhar sobre as questões de gênero
demonstra que as mulheres são as mais atingidas pela pobreza e discriminação, possuindo
geralmente menores salários do que os homens. As estatísticas para a variável “cor/raça/etnia”
apontam que essa problemática é ainda mais fortemente presente entre as mulheres negras.
Em nosso país, e na Bahia especialmente, existem poucos estudos que apresentem a
variável raça/cor/etnia, fato que implica em dificuldade de analisar a saúde da população afrodescendente, particularmente das mulheres, no conteúdo biológico, socioeconomico ou
ambiental (SACRAMENTO, 2005).
3 METODOLOGIA
O seguinte estudo foi realizado através de pesquisas bibliográficas e pesquisa de
campo, com abordagem qualitativa e quantitativa, para alcançar os objetivos. A abordagem
teórica foi feita em livros, revistas científicas, artigos e sites de internet.
Este estudo foi desenvolvido abordando alguns autores e estudiosos do tema HIV, a
revisão literária partiu das bases de dados. A revisão foi realizada através de busca em outras
fontes, tais como documentos e estatísticas de saúde.
Foram utilizados dados secundários de portadores da infecção pelo
HIV/AIDS, referentes à série histórica (ano) elaborada a partir de 60 fichas epidemiológicas
(disponibilizadas pela Secretaria de Saúde do município de Valença -Ba) e análise de 60
11
prontuários clínicos de pacientes cadastrados na Secretaria de Saúde do município, no
decorrer do ano de 2011.
O município de Valença-Ba, cenário do estudo, localiza-se na região: Costa do
Dendê distância: 262 km (BR-324 + BR-101 + BA-542) /104 km (BA-001) via ferry boat de
Salvador, capital do estado. Possui área de 1.294 Km2 e população de 147.202 habitantes).
Predominantemente primária agrícola e com base produtiva bastante diversificada. Foram
examinados 60 prontuários, o que corresponde à totalidade dos casos notificados.
O instrumento de coleta de dados foi um roteiro elaborado no sentido de
apreender as variáveis pertinentes ao ano de diagnóstico, sexo, idade, raça/cor, escolaridade e
profissão. Após a coleta dos dados, houve uma análise estatística e após analise os dados
foram apresentados em gráficos e tabelas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre os casos existentes atualmente no município de Valença, os resultados
apontam uma equiparação da transmissão entre o gênero masculino e feminino. Apesar do
provável atraso de notificação e do grande número de casos ainda em investigação pela
Secretaria Municipal de Saúde, podemos constatar um crescimento da epidemia da AIDS
entre as mulheres (figura1).
Figura 1 - Total de pessoas portadoras do HIV no município de Valença.
Homens
Mulheres
Fonte: O autor
Para Guimarães (1996) o aumento da incidência entre as mulheres passou a se
destacar a partir de 1996, época em que também a categoria heterossexual de transmissão teve
aumento considerável.
Foi possível observar que a faixa etária em que se concentra a maioria das
mulheres infectadas, corresponde à idade reprodutiva e de sexualidade ativa. Assim, emerge a
percepção de que a juvenização da infecção também está acontecendo no interior (tabela1).
12
Quanto a variável escolaridade notou-se que persiste a concentração de 100% dos
casos entre pessoas com poucos anos de estudo (Ensino fundamental incompleto).
O baixo nível de escolaridade feminina representa um dos maiores obstáculos no
enfrentamento da epidemia por dificultar o acesso e/ou compreensão das informações
recebidas. Há de se considerar ainda que a pouca escolaridade implica em vínculos
empregatícios de baixa remuneração, levando a dependência econômica e que a pobreza
dificulta o acesso aos serviços de saúde para diagnosticar/tratar as Doenças Sexualmente
Transmissíveis- DST e aquisição de preservativos. Desta forma, a não percepção do risco
constitui fator de vulnerabilidade feminina à infecção.
As mulheres de classe social media, na maioria dos casos não procuram a
secretária de saúde, eles vão diretamente para o Centro de Educação e Assessoria PopularCEDAP, é uma organização da sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos e
apartidária. Lá eles realizam atendimento protetivo e desenvolvem projetos de educação para
a cidadania junto a adolescentes, jovens, adultos e suas famílias, favorecendo o fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários e estimulando estratégias coletivas de participação e
transformação da realidade social e ambiental, tendo como valores fundamentais a
democracia e a solidariedade.
Essas mulheres dão endereços de Salvador ou outra localidade e com isso a
secretária acaba não tendo informações concretas sobre a quantidade certa de mulheres
portadoras da AIDS.
Tabela 1- Perfil das portadoras que seguem o tratamento de HIV
Perfil das portadoras que
seguem o tratamento
de HIV
Faixa etária
20 a 30
30 a 40
40 a 55
Classe social
Baixa
Escolaridade
Fundamental Incompleto
(%)
34%
46%
20%
100%
100%
Fonte: O autor
O número de casos de AIDS em mulheres que dão sequência ao tratamento
notificado à Secretaria de Saúde da cidade de Valença Estado da Bahia totaliza 15 casos. Esse
número representa todos os casos notificados entre 2001 a 2012 em indivíduos do sexo
13
feminino, com 20 anos de idade a 55, no momento do diagnóstico. As mulheres com menos de
20 anos não foram contempladas nessa análise por não haver dados suficientes.
Os dados aqui apresentados foram analisados a partir do banco de dados da
Secretaria de Saúde. A ficha individual de investigação é o instrumento de investigação e
notificação de casos de AIDS e contêm os dados clínicos e epidemiológicos básicos
necessários para a investigação e a notificação de casos confirmados de AIDS.
Figura2- Percentual de mulheres que dão sequência ao tratamento
Fonte: O autor
Essas mulheres informaram a data de nascimento e seguem o tratamento correto,
as demais não foi possível saber, pois elas vão direto para salvador por conta própria e as
secretária não se preocupa em fazer uma busca dessas mulheres para ter controle de
tratamento. Não foram encontradas anotações sobre a variável raça/cor, reiterando a pequena
valorização dada ao seu preenchimento nos registros em saúde. Por esta razão, a análise da
tendência de enegrecimento da epidemia ficou impossibilitada.
Em relação ao estado civil nota-se que permanece o solteiro para ambos os
sexos. Há de se considerar que muitas pessoas que convivem maritalmente se autodeclaram
solteiras por não haver união judicial. Entre os resultados ressalta-se que a percepção
da AIDS acontece, em sua maioria, após a sintomatologia da doença oportunista; observou se
que as relações de gênero estão constantemente imbricadas na vivência da
sexualidade; a vida dos soropositivos é permeada por sentimentos ambíguos frente a sua
condição atual; a conscientização atrelada à importância do preservativo na prática do sexo
protegido, informação dada pela enfermeira entrevistada pela maioria dos entrevistados,
ocorreu somente após a descoberta da infecção.
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Os resultados indicam necessidades de cuidados que busquem alcançar indivíduos
que parecem estar mais vulneráveis à contaminação pelo HIV, dando-lhes o direito de obter
informações concretas que lhes permitam a livre escolha de mudanças no padrão de seu
Comportamento sexual.
educar para o
Ressaltando a importância de práticas educativas que permitam
uso consciente e adequado do preservativo, mesmo que este método seja
passível de falhas, pois é ainda o único que pode minimizar comprovadamente o risco da
infecção pelo HIV.
As relações de gênero estão constantemente agregadas na vivência da
sexualidade; a vida dos soropositivos é permeada por sentimentos ambíguos frente a sua
condição atual; a conscientização atrelada à importância do preservativo na prática do sexo
protegido, pela maioria dos entrevistados, ocorreu somente após a descoberta da infecção.
A Secretaria de Saúde oferece para estas mulheres como meio de incentivo a
continuar o tratamento e no controle de novas contaminações e a distribuição liberada da
quantidade ilimitada de camisinha, dependendo da necessidade de cada uma. Também são
doadas uma sexta básica para que elas possam se alimentar, pois devido a medicação ser
muito forte é necessário que as portadoras da doença estejam bem alimentadas.
Também acontecem palestras educativas, com apoio dos profissionais da unidade
para que eles possam sanar suas dúvidas, Na maioria das vezes só aceitam fazerem o
tratamento por conta de não perderem o benefício da cesta básica.
A enfermeira ao ser questionada sobre o que o município oferece para as mulheres
portadoras de HIV/AIDS
sinalizou
primeiramente
equipamentos sociais com os quais podem contar.
o “médico
e
remédio”,
como
os
Porém, acrescentou que as mulheres
usuárias de drogas não valorizaram o tratamento e só dão sequência, visando a cesta básica, pois
é uma exigência da Secretaria.
A enfermeira relatou que deveria haver uma relação de respeito, de acolhimento e de
escuta dos médicos e profissionais com o objetivo estimular essas mulheres a terem os
devidos cuidados com a própria saúde.
Ribeiro, Castanha, Coutinho e Saldanha (2005)
referem que a AIDS, exigiu uma modificação nas práticas em saúde especificamente no
atendimento, acentuando a necessidade de unificação do conhecimento tecnocientífico e as
demandas psicossociais bem como as questões afetivas. A AIDS trouxe consigo a necessidade de
reformulação da estrutura de autoridade médica, impondo a necessidade de atenção ao
paciente como um todo e não apenas examinar o órgão doente.
15
Esse artigo irá colaborar a apontar especialmente a urgência da qualificação da
relação entre as usuárias dos serviços de saúde da cidade de Valença e dos profissionais que
trabalham com HIV/AIDS para que possamos avançar rumo à consciência da opressão das
normas de gênero. Afinal ainda são as mulheres que se destacam nesse processo de
conscientização e superação histórica.
Os desafios existente hoje incluem além
dos
profissionais de saúde, todo o contexto social, ou seja, a necessidade de trazer os homens para
essa discussão a fim de que passem a participar de forma responsável e solidária das questões
que envolvem a sexualidade do casal. Nas questões da prática, vimos que é importante
reintroduzir o preservativo na vida sexual, resultando na proteção das pessoas. Temos que
levar em consideração as questões de gênero, pois exercem grande influência nas relações de
soberania, sendo as mulheres subordinadas frente aos homens. Culturalmente na sociedade em
que vivemos o controle das relações sexuais ainda pertencem ao homem. Portanto torna-se
mais difícil de negociar o uso dos preservativos e práticas sexuais mais seguras, contribuindo
assim para a vulnerabilidade feminina à infecção.
5 CONCLUSÃO
Ao analisar os dados pode-se identificar nesse estudo que falta as necessidades
básicas de cuidados e serviços prestados a portadores do HIV/Aids
na cidade de Valença,
principalmente as mulheres que vivenciam uma certa dificuldade de procurar a Secretaria de
Saúde. É fundamental avançar não somente em números de atendimento, mas em qualidade de
atenção às mulheres nos diversos momentos de abordagem da questão das DST/HIV/AIDS e da
saúde sexual e reprodutiva.
Esse é um dado relevante para a saúde pública do município de Valença, na
medida em que aponta o pouco conhecimento que temos sobre o que significa viver com
HIV/Aids. Deve-se, assim, ressaltar a importância de realizar novos estudos sobre essa
temática de forma que possamos compreender melhor quais são os aspectos que merecem
mais atenção na prevenção da doença em mulheres na idade fértil, bem como a adesão ao
tratamento.
Apesar de alguns avanços alcançados pelas mulheres ao longo dos anos, da luta
dos movimentos feministas, faz-se necessário pensarmos sobre quais os dispositivos
referentes às políticas públicas, principalmente para resgatar a importância de seguir nas
discussões da conquista de espaços para o gênero feminino no município em questão. No que
diz respeito a cidadania não visualizamos nenhuma proposta de resgate da equidade para as
mulheres, mas sim uma identificação delas como responsáveis pela educação dos filhos, um
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confinamento aos papéis de cuidadoras, provedoras, mães e pacientes. Como o estudo
mostrou, é comum as pessoas se preocuparem mais com o enfrentamento da doença do que com
o cuidado clínico, fator que pode estar relacionado com as necessidades humanas básicas de
sobrevivência do indivíduo, sendo que a falta de rendimento suficiente para sobreviver ainda
prevalece frente a epidemia
Como possibilidade de enfrentamento da epidemia, essas mulheres referem à
necessidade de apoio, um emprego como garantia principal para qualidade de vida, a
informação como dispositivo de enfretamento positivo da feminização da AIDS, bem como
do preconceito. As condições socioeconômicas seguem sendo a fonte maior de dificuldades
dessas mulheres, o que não as torna muito diferentes de todos, o HIV apenas torna tudo mais
urgente.
A tarefa e a responsabilidade de tomar conta dos filhos, do companheiro e não apenas de si,
colabora para que as mulheres acabem descuidando de sua própria saúde, deixando-se em
ultimo plano.
Há uma necessidade urgente de abrir espaços nas metas das políticas públicas,
principalmente para as menos privilegiadas, para que essas mulheres rompam o isolamento,
desta forma ampliando sua cidadania e qualidade de vida. As políticas não são neutras. É
preciso indagar também o modo como são construídas e a quem beneficiam, além de observar a
lógica tradicional do Estado que tende à fragmentação das ações.
A execução de ações de prevenção e controle desnuda a necessidade de
empoderar as mulheres para o combate à infecção, o que só poderá se efetivar na prática, a
partir do momento em que as mulheres passarem a ter percepção dos riscos à que estão
expostas. Diante disso, compete também aos serviços de assistência a saúde da mulher, traçar
plano operacional que considere a complexidade da questão.
Os resultados indicam necessidades de cuidados que busquem alcançar indivíduos
que parecem estar mais vulneráveis à contaminação pelo HIV, dando-lhes o direito de obter
informações concretas que lhes permitam a livre escolha de mudanças no padrão de seu
comportamento sexual.
É plausível ressaltar a importância de práticas educativas
que
permitam educar para o uso consciente e adequado do preservativo, mesmo que este método
seja passível de falhas, pois é ainda o único que pode minimizar comprovadamente o risco da
infecção pelo HIV.
É urgente o incentivo a vida, para que essas mulheres possam levar uma vida
normal, mais com limitações de vícios entre outros e que elas mudem alguns tipos de rotina,
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como fazer sexo sem camisinha, ter cuidado pra não transmitirem a doença, entre outras
informações.
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