Evangelho segundo S. Lucas 7,1-10. - cf.par. Mt 8,5-13 Quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm. Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvarlhe o servo. Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.» Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: 'Vai', e ele vai; e a outro: 'Vem', e ele vem; e ao meu servo: 'Faz isto', e ele faz.» Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde. Concílio Vaticano II Constituição sobre a Igreja « Lumen gentium », 16 Jesus encontra a fé num centurião romano Finalmente, aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma forma ou outra orientados para o Povo de Deus. Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (cf. Rm 9, 4-5), povo que segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cf. Rm 11, 28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e connosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem; já que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais (cf. Act. 17, 25-28) e, como Salvador, quer que todos os homens se salvem (cf. 1 Tm. 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida recta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes, os homens, enganados pelo demónio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a verdade de Deus pela mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador (cf. Rm 1,21 e 25), ou então, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação final. Por isso, para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja, lembrada do mandato do Senhor: «pregai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões. Basílio de Selêucia (? - cerca de 468), bispo Homilia sobre o centurião "Diz somente uma palavra" "Senhor, o meu servo está de cama, paralizado, e sofre muito. Embora seja escravo, não é por isso menos homem o que foi atingido por este mal. Não olhes pois para a pequenez do escravo mas antes para a grandeza do mal". Assim falava o centurião. E que lhe diz a Bondade suprema? "Eu vou contigo e curá-lo-ei. Eu que, por atenção aos homens, me fiz homem, eu que vim para todos, não desprezarei ninguém. Curá-lo-ei". Com a rapidez da sua promessa, Cristo aguça a fé: "Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa". Estás a ver como o Senhor, como se fosse um caçador, fez sair a fé escondida no segredo do coração? "Diz somente uma palavra e o meu servo ficará curado do seu mal, liberto da servidão da sua doença. Porque eu, que estou sujeito a superiores, também tenho soldados à minha ordem e digo a um 'Vai' e ele vai, e a outro 'Vem' e ele vem. Foi deste modo que conheci a força do teu poder: a partir do que tenho, reconheci aquele que me ultrapassa. Vejo os exércitos das curas, vejo os milagres como uma tropa à espera das tuas ordens. Envia-os contra a doença, envia-os tal como eu envio um soldado". Jesus encheu-se de admiração e disse: "Nunca encontrei tão grande fé em Israel. Este aqui, que era estrangeiro à vocação, que não fazia parte do povo da aliança, que não tinha participado nos milagres de Moisés, que não tinha sido iniciado nas suas leis, que não tinha conhecido as palavras proféticas, este ultrapassou os outros pela sua fé". S. Francisco de Assis (1182-1226), fundador dos Frades Menores Primeira Regra, 17 "Não sou digno de te receber" No amor que é Deus, suplico a todos os meus irmãos – àqueles que pregam, àqueles que rezam, àqueles que trabalham manualmente, cléricos e leigos – que cultivem a humildade em tudo; que não se glorifiquem, achem satisfação ou se orgulhem interiormente com as palavras ou boas acções que Deus, por vezes, diz ou realiza neles ou através deles. De acordo com a palavra do Senhor: «Não vos alegreis por os espíritos maus se submeterem a vós» (Lc 10,20). Estejamos disto firmemente convencidos: De nosso, só temos as faltas e os pecados. Alegremo-nos sim pelas provas, quando temos de suportar, na alma e no corpo, toda a espécie de tribulações deste mundo, tendo em vista a vida eterna. Irmãos, guardemo-nos pois de todo o orgulho e de toda a vã glória; guardemo-nos da sabedoria deste mundo e da prudência egoísta. Aquele que é escravo das suas tendências egoístas aplica-se muito em produzir discursos, mas muito menos em passar aos atos. Em lu gar de buscar a religião e a santidade interiores do espírito, deseja uma religião e uma santidade exteriores e bem visíveis aos olhos dos homens. É acerca desses que o Senhor diz: « Em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa» (Mt 6,2). Pelo contrário, Aquele que é dócil ao espírito do Senhor deseja humilhar o que é egoísta, vil e abjecto na carne. Esse cultiva a humildade e a paciência, a pura simplicidade e a verdadeira paz de espírito; aquilo que deseja sempre e acima de tudo é o temor filial de Deus, a sabedoria de Deus, o amor de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Evangelho segundo S. Lucas 7,11-17. Em seguida, dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região. Santo Ambrósio (cerca de 340 - 397), bispo de Milão e doutor da Igreja Sobre o Evangelho de S. Lucas, V O choro de uma mãe A divina misericórdia deixa-se dobrar facilmente aos gemidos desta mãe. Ela é viúva; os sofrimentos ou a morte do seu filho único esmagaram-na... Parece-me que esta viúva, rodeada pela multidão do povo, é mais do que uma simples mulher que merece pelas suas lágrimas a ressurreição de um filho, jovem e único. É a própria imagem da Santa Igreja que, com as suas lágrimas, em pleno cortejo fúnebre e mesmo junto ao túmulo, obtém a graça de trazer de volta à vida o jovem povo deste mundo... Porque à palavra de Deus os mortos ressuscitam, reencontram a voz, tal como a mãe reencontra o seu filho: ele foi chamado da tumba, foi arrancado ao sepulcro. Que é esta tumba para vós, senão a vossa má conduta? O vosso túmulo é a falta de fé... Desse sepulcro, é Cristo quem vos liberta; saireis do sepulcro se escutardes a palavra de Deus. E, se o vosso pecado for grave demais para que as lágrimas da vossa penitência o possam lavar, que intervenha em vosso favor o choro da vossa mãe Igreja... Ela intercede por cada um dos seus filhos, como por tantos outros filhos únicos. Com efeito, ela está cheia de compaixão e experimenta uma dor espiritual de mãe quando vê os seus filhos arrastados pelo pecado para a morte. Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja Tratado sobre o Evangelho de S. Lucas, 5, 89, 91-92 “Jovem, Eu te ordeno, levanta-te” Mesmo que os sintomas da morte tenham afastado por completo a esperança de vida, mesmo que os corpos dos defuntos jazam perto do túmulo, ainda assim, à voz de Deus, os cadáveres preparados para a decomposição voltam a erguer-se, recuperam a fala; o filho é devolvido a sua mãe, é chamado do túmulo, é arrancado ao túmulo. Que túmulo é o teu? Os teus maus hábitos, a tua falta de fé. É deste túmulo que Cristo te liberta, é deste túmulo que ressuscitarás, se ouvires a Palavra de Deus. Ainda que o teu pecado seja tão grave, que não consigas lavar-te a ti mesmo pelas lágrimas do arrependimento, a Igreja tua Mãe chorará por ti, Ela que intervém a favor de todos os seus filhos, qual mãe viúva por seu único filho. Porque se compadece, por uma espécie de dor espiritual que lhe é natural, ao ver os seus filhos serem conduzidos à morte por pecados fatais. […] Que Ela chore, pois, esta Mãe piedosa, e que a multidão a acompanhe; que não seja apenas uma multidão, mas uma multidão considerável, a compadecer-se desta Mãe terna. Então ressuscitarás do túmulo, dele serás libertado; os carregadores deter-se-ão, começarás a falar como um vivo e todos ficarão estupefactos. O exemplo de um só servirá para corrigir muitos, que louvarão a Deus por nos ter concedido tais remédios para evitar a morte. Sto. Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja Sermão 98 «Jovem, eu te ordeno, levanta-te». Que ninguém duvide, se é cristão, que mesmo agora os mortos ressuscitam. Por certo que todo o homem tem olhos, pelos quais pode ver mortos a ressuscitar, ao modo como ressuscitou o filho desta viúva que vem citado no evangelho. Mas nem todos podem ver ressuscitar os homens que estão mortos espiritualmente; para isso é preciso já estar ressuscitado interiormente. É melhor ressuscitar alguém que deve viver para sempre do que ressuscitar alguém que deve morrer de novo. A mãe do jovem, esta viúva, exultou de alegria ao ver o seu filho ressuscitar. A nossa mãe, a Igreja, alegra-se também ao ver todos os dias a ressurreição espiritual dos seus filhos. O filho da viúva estava morto pela morte do corpo; mas aqueles, pela morte da alma. Derramavam-se lágrimas pela morte visível do primeiro, mas não se preocupavam com a morte invisível dos últimos, nem sequer a viam. O único que não ficou indiferente, foi Aquele que conhecia estes mortos; só esse conhecia estes mortos a quem podia dar a vida. Efectivamente, se o Senhor não tivesse vindo para ressuscitar os mortos, o apóstolo Paulo não teria dito: «Levanta-te, tu que dormes, ressurge de entre os mortos e Cristo te iluminará!» (Ef 5,14) S. Braulio de Saragoça (cerca 590-651); bispo Carta 19 «Ao ver a viúva, o Senhor Jesus ... disse-lhe: 'Não chores'» (Lc 7,13) Cristo, esperança de todos os crentes, chama aos que deixam este mundo não mortos mas adormecidos ao dizer: «Lázaro, o meu amigo, está a dormir» (Jo 11,11); o apóstolo Paulo, por seu turno, não quer que estejamos «tristes por causa dos que adormeceram» (1 Tes 4,13). Por isso, se a nossa fé afirma que «todos os que crêem» em Cristo, segundo a palavra do Evangelho, «não morrerão jamais» (Jo 11,16), nós sabemos que eles não estão morto e que nós próprios não morremos. É porque, «quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo, ressurgirão» (1 Tes 4,16). Portanto, que a esperança da ressurreição nos encoraje, pois voltaremos a ver os que tínhamos perdido. Importa que acreditemos firmemente nele, quer dizer, que obedeçamos aos seus mandamentos, porque com o seu poder supremo ele acorda os mortos mais facilmente do que nós acordamos os que estão a dormir. Eis o que nós dizemos e, contudo, não sei por que sentimento, refugiamo-nos nas lágrimas, e o sentimento da lamúria dá um primeiro corte na nossa fé. Ai de nós! A condição do homem é lamentável, e como é vã a nossa vida sem Cristo! Mas tu, ó morte, que tens a crueldade de quebrar a união dos esposos e de separar os que estão unidos pela amizade, a tua força está desde já esmagada. De futuro, o teu jugo impiedoso é esmagado por aquele que te ameaçava pelas palavras do profeta Oseias: «Ó morte, eu serei a tua morte» (Os 13,14 Vulg). É por isso que, com o apóstolo Paulo, lançamos este desafio: «Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» (1 Cor 15,55). Aquele que te venceu resgatou-nos, entregou a sua querida alma nas mãos dos ímpios, para fazer deles os seus queridos. Seria muito longo relembrar tudo o que nas Santas Escrituras nos deveria consolar a todos. Que nos baste acreditar na ressurreição e erguer os nossos olhos para a glória do nosso Redentor, porque é nele que nós somos já ressuscitados, como a nossa fé nos faz pensar, segundo a palavra do apóstolo Paulo: «Se morremos por Ele, também com Ele reviveremos» (2 Tim 2,11). Evangelho segundo S. Lucas 7,18-23. – cf.par. Mt 11,2-6 Os discípulos de João informaram-no de todos estes fatos. Chamando dois deles, João mandou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?» Ao chegarem junto dele, os homens disseram: «João Baptista mandou-nos ter contigo para te perguntar: 'És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?'» Nessa altura, Jesus curava a muitos das suas doenças, padecimentos e espíritos malignos e concedia vista a muitos cegos. Tomando a palavra, disse aos enviados: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, a Boa-Nova é anunciada aos pobres; e feliz de quem não tiver em mim ocasião de queda.» Santo Ambrósio (340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja Comentário ao Evangelho de Lucas “És tu aquele que deve vir?” O Senhor, sabendo que sem o Evangelho ninguém pode ter uma fé plena – porque se a Bíblia começa pelo Antigo Testamento, é no Novo que ela atinge a perfeição – não esclarece as questões que lhe põem acerca dele próprio por palavras, mas pelos seus atos. “Ide, disse ele, contai a João o que virão e ouviram: os cegos vêem, os coxos andam, os surdos ouvem, os leprosos são purificados, os mortos ressuscitam, a Boa Nova é anunciada aos pobres”. Este testemunho é completo porque foi dele que profetizaram:”O Senhor liberta os prisioneiros; o Senhor dá vista aos cegos; o Senhor levanta os caídos... O Senhor reinará eternamente” (Sl 145,7s). Estas são as marcas de um poder não humano mas divino... Contudo estes não são ainda senão os mais pequenos exemplos do testemunho trazido por Cristo. O que funda a plenitude da fé, é a cruz do Senhor, a sua morte, o seu sepúlcro. É por isso que, depois da resposta que citámos, ele diz ainda:”Feliz daquele que não cair por minha causa”. Com efeito, a cruz podia provocar a queda dos próprios escolhidos, mas não há testemunho maior de uma pessoa divina, nada que mais pareça ultrapassar as forças humanas, que esta oferta de um só pelo mundo inteiro. Somente por isso o Senhor se revela plenamente. Aliás, é assim que João o designa: ”Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). „Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos sao purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam“ – Lu 7,22 1. Tu deste saúde aos doentes, Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor! / Contigo queremos os fracos amar [:da vida e saúde de todos cuidar:]. 2. Dos cegos curaste a vista, Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor! / Contigo queremos os cegos amar [:da vida e saúde de todos cuidar:]. 3. Dos mudos soltaste a língua, Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor! / Contigo queremos os mudos amar [:da vida e saúde de todos cuidar:]. 4. Dos surdos abriste o ouvido, Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor! / Contigo queremos os surdos amar [: da vida e saúde de todos cuirar:]. 5. O mal de leprosos saraste, Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor! Contigo queremos os doentes amar [:da vida e saúde de todos cuidar:]. 6. Os coxos fizeste andar, ó Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor! Contigo queremos os coxos amar [:da vida e saúde de todos cuidar:]. 7. Os mortos chamaste à vida, Senhor / mostrando que veio Teu Reino de Amor/ Contigo queremos a vida doar [:da vida e saúde de todos cuidar:]. Cantemos ….. n° 850 Evangelho segundo S. Lucas 7,24-30. – cf.par. Mt 11,7-11.16-19 Depois de os mensageiros de João se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais do que um profeta. É aquele de quem está escrito: 'Vou mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti.' Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o baptismo de João. Mas, não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito. Eusébio de Cesareia (cerca 265-340), bispo, teólogo, historiador Comentário sobre Isaías, 40 “Que fostes ver ao deserto?” “Uma voz grita: preparai no deserto um caminho para o Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus” (Is 40,3). Esta palavra mostra claramente que os acontecimentos profetisados não se cumprirão em Jerusalém, mas no deserto. É no deserto que a glória do Senhor vai aparecer; é lá que “toda a carne tomará consciência da salvação de Deus” (Is 40,5). E foi o que se passou relmente, literalmente, assim que João Baptista proclamou no deserto do Jordão que a salvação de Deus se ia manifestar. Porque foi lá que a salvação de Deus apareceu. Com efeito, Cristo com a sua glória deu-se a conhecer a todos assim que foi baptizado no Jordão… O profeta falava assim porque Deus devia habitar no deserto, este deserto que é inacessível ao mundo. Todas as nações pagãs eram desertos do conhecimento de Deus, inacessíveis aos justos e aos profetas de Deus. É por isso que esta voz manda preparar o caminho do Verbo de Deus, de tornar plana a estrada inacessível e escarpada, a fim de que o nosso Deus, que vem residir entre nós, possa avançar… “Sobe a um alto monte, arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém” (Is 40,9)… Quem é esta Sião…, essa a quem os antigos chamavam Jerusalém?… Não é senão uma maneira de designar o grupo dos apóstolos, escolhidos no povo antigo? Não é aquela que recebeu em herança a salvação de Deus…, ela própria situada no cimo, quer dizer, fundada sobre o Verbo, o Filho único de Deus? Foi a ela que foi ordenado…de anunciar a todos os homens a Boa-Nova da salvação. Venerável Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sara Carta ao Padre Jerónimo de 19 de Maio de 1898 “Que fostes ver no deserto?” É preciso passar pelo deserto e demorar-se aí para receber a graça de Deus; é lá que nos esvaziamos, que nos libertamos de tudo o que não é de Deus e que esvaziamos completamente esta pequena casa da nossa alma para deixar o espaço todo só para Deus. Os Hebreus passaram pelo deserto, Moisés viveu antes de receber a sua missão, S. Paulo, S. Crisóstomo também foram preparados no deserto... É um tempo de graça, é um período pelo qual deve necessariamente passar toda a alma que quer frutificar. É-lhe necessário esse silêncio, esse recolhimento, esse esquecimento de toda a imaginação, no meio do qual Deus estabelece o seu reino e forma nela o espírito interior: a vida íntima com Deus, a conversa da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde a alma produzirá os frutos exactamente na medida em que o homem interior se formou nela (Ef 3,16)... Só se dá o que se tem e é na solidão, nesta vida a sós com Deus, no recolhimento profundo da alma que esquece tudo para viver só em união com Deus, que Deus se dá por inteiro àquele que se dá assim por inteiro a ele. Dai-vos por inteiro somente a ele... e ele se dará por inteiro a vós... Olhai S. Paulo, S. Bento, S. Gregório o Grande, tantos outros, quão longo tempo de recolhimento e de silêncio! Subi mais alto: olhai S. João Baptista, olhai Nosso Senhor. Nosso Senhor não tinha disso necessidade, mas quis dar-nos o exemplo. Evangelho segundo S. Lucas 7,31-35. «A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas às outras, dizendo: 'Tocámos flauta para vós, e não dançastes! Entoámos lamentações, e não chorastes!' Veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: 'Está possesso do demónio!' Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: 'Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!' Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.» São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia, na Capadócia, doutor da Igreja Grandes Regras monásticas, Prólogo Deus não Se cansa de nos chamar à conversão Até quando deixaremos de obedecer a Cristo, que nos chama para o Seu Reino celeste? Até quando nos não purificaremos? Nos não decidiremos a abandonar o nosso género habitual de vida para seguir a fundo o Evangelho? Afirmamos desejar o Reino de Deus, mas não nos preocupamos excessivamente com os meios para o alcançar. Pelo contrário, não nos preocupando minimamente com a observância dos mandamentos do Senhor, estamos convencidos, na vaidade do nosso espírito, de que somos dignos de receber a mesma recompensa que recebem aqueles que resistiram ao pecado até à morte. Mas quem é o homem que, tendo-se deitado em sua casa a dormir no tempo da sementeira, pode recolher braços cheios de espigas no tempo da colheita? Quem poderá fazer a vindima sem ter plantado e cultivado a vinha? Os frutos são para aqueles que trabalharam; as recompensas e as coroas, para aqueles que venceram. Foi jamais coroado atleta algum que não se tenha sequer despido para combater o adversário? E, contudo, não basta sequer vencer, é também necessário “lutar segundo as regras” (2Tim 2, 5), como diz o apóstolo Paulo, isto é, segundo os mandamentos que nos foram dados. Deus é bom, mas também é justo: o Senhor “ama a equidade e a justiça” (Sl 32, 5); por isso, “celebrarei o amor e a justiça: para Vós, Senhor, hei-de cantar” (Sl 100, 1). Vê com que discernimento usa o Senhor de misericórdia. Não é misericordioso sem examinar, como não julga sem piedade, porque “o Senhor é bondoso e previdente, o nosso Deus é misericordioso” (Sl 114-115, 5). Não tenhamos, pois, uma ideia truncada de Deus; o Seu amor por nós não deve ser um pretexto para sermos negligentes. S. Basílio (cerca de 330 - 379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja Prólogo às Grandes Regras Deus chama-nos incessantemente a nos convertermos Irmãos, não permaneçamos descuidados nem despreocupados; não adiemos sempre para amanhã ou para mais tarde o pormo-nos ao trabalho. "É agora o momento favorável, diz o apóstolo, é hoje o dia da salvação" (2Co 6,2). Agora, é o tempo da penitência; mais tarde, será o da recompensa. Agora, é o tempo da perseverança; um dia, virá o da consolação. Agora, Deus vem em auxílio dos que se afastam do mal; mais tarde, Ele será o juiz dos atos, das palavras e dos pensamentos dos homens. Hoje, tiramos proveito da sua paciência; na ressurreição, quando cada um receber segundo as suas obras, conheceremos a justiça dos seus juizos. Até quando tardaremos então a obedecer a Cristo que nos chama para o seu Reino celeste? Não nos purificaremos? Não nos decidiremos a abandonar o nosso modo de vida habitual para seguir a fundo o Evangelho? S. Siluane (1866-1936) Escritos "Adão, onde estás?" (Gn 3,9): responder aos apelos do Senhor A minha alma anseia pelo Senhor e eu procuro-o com lágrimas. Como poderia não te procurar? Tu foste o primeiro a encontrar-me. Tu permitiste-me que vivesse a doçura do teu Espírito Santo e a minha alma amou-te. Tu vês, Senhor, o meu sofrimento e as minhas lágrimas. Se não me tivesses atraído com o teu amor, eu não te procuraria como te procuro. Mas o teu Espírito fez-me conhecer-te e a minha alma alegra-se por tu seres o meu Deus e o meu Senhor e, até às lágrimas, anseio por ti... Senhor misericordioso, tu vês a minha queda e a minha dor; mas, humildemente, imploro a tua clemência: derrama sobre o pecador que eu sou a graça do teu Espírito Santo. A sua lembrança leva o meu espírito a encontrar de novo a tua misericórdia. Senhor, dá-me o teu humilde Espírito para que eu não perca de novo a tua graça e não me lamente como Adão que chorava a separação de Deus e o Paraíso perdido. O Espírito de Cristo, que o Senhor me deu, quer a salvação de todos, deseja que todos conheçam Deus. O Senhor deu o Paraíso ao ladrão; dá-lo-á também a todos os pecadores. Pelos meus pecados, sou pior do que um cão tinhoso mas pus-me a pedir ao Senhor que mos perdoasse e ele concedeu-me, não só o seu perdão, como o próprio Espírito Santo. E, no Espírito Santo, conheci Deus... O Senhor é misericordioso; a minha alma sabe-o mas descrevê-lo é impossível. Ele é infinitamento manso e humilde e a minha alma, quando o vê, transforma-se toda ela em amor a Deus e ao próximo; torna-se ela mesma mansa e humilde. Mas, se o homem perder a graça, chorará como Adão quando foi expulso do Paraíso... Dá-nos, Senhor, o arrependimento de Adão e a tua santa humildade. Evangelho segundo S. Lucas 7,36-50.8,1-3. Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijavaos, ungindo-os com perfume. Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» respondeu ele. «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.» Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a BoaNova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens. Pregador do Papa: «Conversão é caminho à felicidade e a uma vida plena» Comentário do Pe. Cantalamessa à liturgia do próximo domingo ROMA, sexta-feira, 15 de junho de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofm cap. -- pregador da Casa Pontifícia -- sobre a liturgia do próximo domingo, XI do Tempo Comum. *** XI Domingo do Tempo Comum 2 Samuel 12, 7-10.13; Gálatas 2, 16.19-21; Lucas 7, 36-8,3 Foi uma mulher com um frasco de perfume Há páginas do Evangelho nas quais o ensinamento está tão unido ao desenvolvimento da ação que não se percebe plenamente o primeiro quando é separado do segundo. O episódio da pecadora em casa de Simão -- que se lê no Evangelho do XI domingo do Tempo Comum -constitui uma dessas. Abre-se com uma cena calada; não há palavras, mas somente gestos silenciosos: entra uma mulher com um frasco de óleo perfumado; ela se ajoelha aos pés de Jesus, os lava com lágrimas, os seca com seus cabelos e, beijando-os, os unge com perfume. Trata-se quase com certeza de uma prostituta, porque isso significava então o termo «pecadora» referido a uma mulher. Nesse momento, o objetivo se desloca ao fariseu que havia convidado Jesus para uma refeição. A cena é ainda calada, mas só em aparência. O fariseu «fala para si», mas fala: «Vendo isso, o fariseu que o havia convidado pôs-se a refletir: ‘Se este homem fosse profeta, saberia bem quem é a mulher que o toca, porque é uma pecadora!’». Nesse ponto do Evangelho, Jesus toma a palavra para dar seu juízo sobre a ação da mulher e sobre os pensamentos do fariseu, e o faz com uma parábola: «‘Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e outro cinqüenta. Como não tivessem com que pagar, perdoou a ambos. Qual dos dois o amará mais?’. Respondeu Simão: ‘Suponho que aquele a quem perdoou mais’. Disse-lhe Jesus: ‘Julgaste bem’». Jesus, sobretudo, dá a Simão a possibilidade de convencer-se de que Ele é, de fato, um profeta, visto que leu os pensamentos de seu coração; ao mesmo tempo, com a parábola, prepara todos para compreender o que está a ponto de dizer em defesa da mulher: «‘Por essa razão, eu te digo, seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Mas aquele a quem pouco foi perdoado mostra pouco amor’. E disse a ela: ‘Teus pecados estão perdoados’». Este ano se celebra o oitavo centenário da conversão de Francisco de Assis. O que tem em comum a conversão da pecadora do Evangelho e a de Francisco? Não o ponto de partida, mas o ponto de chegada, que é o mais importante em toda conversão. Lamentavelmente, quando se fala de conversão, o pensamento se dirige instintivamente ao que se deixa: o pecado, uma vida desordenada, o ateísmo... Mas isso é o efeito, não a causa da conversão. Como acontece uma conversão é perfeitamente descrito por Jesus na parábola do tesouro escondido: «O reino dos céus se parece a um tesouro escondido em um campo; um homem o encontra e o esconde de novo; depois vai, cheio de alegria, vende tudo o que tem e compra esse campo». Não se diz: «um homem vendeu tudo que tinha e se pôs a buscar um tesouro escondido». Sabemos como acabam as histórias que começam assim. Perde-se o que se tinha e não se encontra nenhum tesouro. Histórias de ilusões, de visionários. Não: um homem encontrou um tesouro e por isso vendeu tudo o que tinha para adquiri-lo. Em outras palavras: é necessário ter encontrado o tesouro para ter a força e a alegria de vender tudo. Primeiro é preciso ter encontrado Deus; depois se terá a força de vender tudo. E isso será feito «cheios de alegria», como o descobridor do qual o Evangelho fala. Assim aconteceu no caso da pecadora do Evangelho, e assim também no caso de Francisco de Assis. Ambos encontraram Jesus e é isso o que lhes deu a força de mudar. Eu disse que o ponto de partida da pecadora do Evangelho e de Francisco era diferente, mas talvez isso não seja exato. Era diferente em aparência, no exterior, mas em profundidade era o mesmo. A mulher e Francisco, como todos nós, estavam em busca da felicidade e percebiam que a vida que levavam não os fazia felizes, deixava uma insatisfação e um vazio profundo em seus corações. Eu li esses dias a história de um famoso convertido do século XIX, Hermann Cohen, um músico brilhante, idolatrado como menino prodígio de seu tempo nos salões da Europa. Uma espécie de jovem Francisco em versão moderna. Depois de sua conversão, escrevia a um amigo: «Busquei a felicidade por todas as partes: na elegante vida dos salões, na ensurdecedora bagunça de bailes e festas, no acúmulo de dinheiro, na excitação dos jogos da sorte, na glória artística, na amizade de personagens famosos, no prazer dos sentidos. Agora encontrei a felicidade, dela tenho o coração repleto e queria compartilhá-la contigo... Tu dizes: ‘Mas eu não creio em Jesus Cristo’. Eu te respondo: ‘Tampouco eu cria, e é por isso que era infeliz’». A conversão é o caminho à felicidade e a uma vida plena. Não é algo penoso, mas sumamente gozoso. É a descoberta do tesouro escondido e da pérola preciosa. [Traduzido por Zenit] São Romano, o Melodista (c. 560), compositor de hinos Hino 21 «Os pecados, os seus muitos pecados são perdoados» Quando viu as palavras de Cristo a espalhar-se por toda a parte como aromas, a pecadora começou a detestar o fedor que saía dos seus próprios actos: «Não fiz caso da misericórdia que Cristo tem para comigo, procurando-me quando por minha culpa me perco. Porque é a mim que Ele procura em todo o lado; é por mim que janta em casa do fariseu, Ele que dá alimento ao mundo inteiro. Faz da mesa um altar de sacrifício onde Se oferece, perdoando as dívidas aos devedores, para que estes se aproximem com confiança dizendo: ‘Senhor, salvame do abismo das minhas más obras.’». Ali acorreu avidamente e, desprezando as migalhas, agarrou no pão; mais faminta do que a Cananeia (Mc 7,24 ss), saciou a sua alma vazia, com igual fé. Não foi o grito de apelo a chamá-Lo o que a remiu, mas o silêncio, pois disse num soluço: «Senhor, livra-me do abismo das minhas más obras». Correu até casa do fariseu, precipitando-se na penitência. «Vamos, alma minha, disse, chegou o momento que tanto pedias! Aquele que purifica está aqui, porquê ficares no abismo das tuas más obras? Vou ao Seu encontro, pois foi por mim que Ele veio. Deixo os amigos do passado, porque a Este que hoje aqui está, apaixonadamente O desejo; e como Ele me ama, dou-Lhe o perfume e as lágrimas que trago… O desejo pelo Desejado transfigura-me e eu amo Aquele que me ama da maneira que Ele quer ser amado. Arrependo-me e a Seus pés me rojo, é o que Ele espera; procuro o silêncio e o retiro, é o que Lhe agrada. Rompo com o passado; renuncio ao abismo das minhas más obras. Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja A Penitência, II, 8 “A tua fé te salvou. Vai em paz” “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9,12). Mostra portanto ao médico a tua ferida, para poderes ser curado. Mesmo se tu não a mostrares, ele conhece-a, mas ele exige de ti que tu o faças ouvir a tua voz. Limpa as tuas feridas com as tuas lágrimas. Foi assim que esta mulher da qual fala o evangelho se desembaraçou do seu pecado e da má reputação do seu desvio; foi assim que ela se purificou da sua falta, lavando os pés de Jesus com as suas lágrimas. Possas tu reservar também para mim, Jesus, o desvelo de lavar os teus pés, que tu sujaste enquanto caminhavas em mim!... Mas onde encontrarei eu a água viva com a qual poderei lavar os teus pés? Se não tenho água, tenho as minhas lágrimas. Fazei que lavando os teus pés com elas, eu possa purificar-me a mim próprio! Como fazer de modo que digas de mim: “Os seus numerosos pecados são-lhe perdoados, porque ela amou muito”? Confesso que a minha dívida é considerável e que “já fui resgatado”, eu que fui arrancado do barulho das querelas da praça pública e das responsabilidades do governo para ser chamado ao sacerdócio. Por consequência, eu temo ser considerado um ingrato se amo menos, dado que ele já me resgatou. Não me posso comparar à importância dessa mulher que foi justamente preferida ao fariseu Simão que recebia o Senhor em sua casa. Entretanto, a todos os que quiserem merecer o perdão, ela dá uma instrução, beijando os pés de Cristo, lavando-os com as suas lágrimas, enxugando-os com os seus cabelos, ungindo-os com perfume… se não a podemos igualar, o Senhor Jesus sabe vir em socorro dos fracos. Onde não há ninguém que saiba preparar uma refeição, levar o perfume, trazer consigo uma fonte de água viva (Jo 4,10), vem ele próprio. Um autor siríaco anónimo do séc. VI Homilias anónimas sobre a pecadora « Os seus pecados, os seus muitos pecados estão perdoados» O amor de Deus, que sai em busca dos pecadores, é-nos proclamado por uma mulher pecadora, pois que chamando-a a ela, é a toda a nossa raça que Cristo convida ao amor; e na sua pessoa estavam todos os pecadores que Ele atraía ao seu perdão. Falava apenas para ela, mas convidava à Sua graça a criação inteira. Quem não seria tocado pela misericórdia de Cristo, Ele que, para salvar uma pecadora, aceitou o convite de um fariseu? Por causa daquela que estava ávida de perdão, quer ele próprio ter fome da mesa de Simão, o fariseu, mesmo que, sob a aparência de uma refeição de pão, Ele tivesse preparado à pecadora uma refeição de arrependimento. Para que seja assim, também para ti, toma consciência de que o teu pecado é grande, mas que desesperares do teu perdão porque o teu pecado te parece demasiado grande é blasfemares contra Deus e fazeres mal a ti próprio. Pois se Ele prometeu perdoar os pecados seja qual for o seu número, vais tu dizer-lhe que não podes acreditar nisso e declarar-lhe: «O meu pecado é grande demais para que mo perdoes. Não podes curar-me dos meus males»? Então, pára e grita com o profeta: « Pequei contra Ti, Senhor,» (2S 12,13). Ele responder-te-á de imediato: « Eu perdoei a tua falta; tu não morrerás». A Ele, glória seja dada por todos nós, pelos séculos dos séculos. Amen. São Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho CE, 18.16; AD, 54 «Quem é este que até perdoa os pecados?» Que a esperança na misericórdia de Deus nos dê fortaleza no tumulto das paixões e das contrariedades. Corramos com confiança para o sacramento da penitência, onde a todo o momento o Senhor nos espera com infinita ternura. E depois de perdoados nossos pecados, esqueçamo-los, porque o Senhor já antes de nós o fizera. Mesmo admitindo que tenhas cometido todos os pecados do mundo, o Senhor repete-te: «Os teus muitos pecados te são perdoados porque muito amaste». Senhor Jesus, tu és doçura suprema: como poderia eu, portanto, viver sem ti? Vem, Senhor, só Tu possuirás o meu coração. João Paulo II Mulieris Dignitatem «Estavam com Ele os doze, bem como algumas mulheres» Desde o começo da missão de Cristo, a mulher mostra, em relação a Ele e na perspectiva de todo o Seu mistério, uma sensibilidade particular que corresponde a uma das características da sua feminilidade. Convém relevar, além disso, que isso é confirmado particularmente face ao mistério pascal, não somente no momento da crucifixão, mas também na madrugada da ressurreição. As mulheres são as primeiras junto do túmulo. São elas as primeiras a encontrálo vazio. São as primeiras a ouvir: « Ele não está aqui, pois ressuscitou, conforme havia dito» (Mt 28,6). Elas são as primeiras a abraçar-Lhe pés (Mt 28,9). São também elas as primeiras chamadas a anunciar esta verdade aos apóstolos (Mt 28, 1-10; Lc 24, 8-11). O Evangelho de João (cf. Também Mc 16,9) põe em relevo o papel particular de Maria de Magdala. Ela é a primeira a encontrar Cristo ressuscitado... Por isso foi mesmo chamada «o apóstolo dos apóstolos». Maria de Magdala foi, antes dos apóstolos, testemunha ocular de Cristo Ressus citado e, por esse razão, foi também a primeira a dar testemunho dEle diante dos apóstolos. Este acontecimento, em suma, é como que a coroação de tudo o que foi anteriormente dito acerca da transmissão por Cristo da verdade divina às mulheres, em pé de igualdade com os homens. Podemos dizer que as palavras do profeta estão assim cumpridas: « Eu espalharei o meu Espírito sobre toda a carne. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão» (Jl 3,1). Cinquenta dias depois da Ressurreição de Cristo, estas palavras são uma vez mais confirmadas no Cenáculo de Jerusálém, na descida do Espírito Santo Paráclito (Ac 2,17). Tudo o que aqui foi dito sobre a atitude de Cristo para com as mulheres confirma e aclara no Espírito Santo a verdade acerca da igualdade do homem e da