percepção e interpretação do espaço: a feira livre como - Unifal-MG

PERCEPÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO: A FEIRA LIVRE
COMO ASPECTO CULTURAL EM ALFENAS-MG
Cochise Ricci Libanio¹,Alexandre Elias de Miranda Teodoro ² e Rodrigo
Alexandre Pereira Calderaro³
[email protected], [email protected], [email protected]
Graduandos do 7º Período do curso de Geografia Bacharelado Unifal-MG
Palavras-chaves: feiras livres; cultura; topofilia.
Introdução:
Desde a origem dos primeiros aldeamentos até as atuais cidades modernas, os
mercados periódicos (feiras livres) surgiram e permaneceram, de início eram as trocas
do
excedente
agrícola
e
atualmente
esses
mercados
são
movidos
pela
comercialização da produção direcionada ao consumidor da cidade moderna, servindo
como fonte de renda ao produtor e ao comerciante. No decorrer da história, períodos
distintos interferiram na formação das feiras, como é o caso da Idade Média, onde o
comércio em geral ficou estagnado e apenas após as cruzadas que as feiras tomaram
força novamente.
No início do século XIX, o impulso capitalista proporcionou transformações
sociais e espaciais nos centros urbanos que a cada dia recebia uma nova população
provinda do êxodo rural, assim a urbanização foi intensificada juntamente com a
necessidade de ampliação dos mercados periódicos (feiras livres) devido à crescente
demanda de alimentos para essa nova população urbana.
O objeto de estudo desse trabalho é a feira livre de Alfenas – MG que surgiu
por volta de 1960 segundo relatos de seus frequentadores e comerciantes. Sua
importância e função durante esses anos sofreram modificações como mudança de
local, quantidade de bancas de produtos e atualmente houve um processo de
valorização com o tombamento como patrimônio cultural do município, colocação de
banheiros químicos e som ambiente durante o período da feira.
Essa valorização da feira proporcionou um maior valor cultural e turístico, além
de atrair comerciantes da região ao entorno de Alfenas e até de outros Estados como
Espírito Santo e São Paulo. Assim tentaremos evidenciar neste trabalho, aspectos de
Topofobia e Topofilia buscados através de entrevistas com os comerciantes e
freqüentadores da feira.
Atualmente a feira de domingo possui 230 bancas de produtos como alimentos,
artesanatos, vestuário, eletrônicos importados e animais, alocando-se na área central
da cidade de Alfenas, ocupando parcialmente as ruas Leão de Faria, Marcial Júnior e
Praça Fausto Monteiro.
Objetivos:
Com o desenvolvimento dessa pesquisa, findou-se o objetivo de compreender
através da percepção qual o real significado da tradicional Feira de Domingo do
município de Alfenas - MG, não apenas para a população local, mas também para
toda a região. Buscou-se abordar a movimentação econômica, a variedade dos
produtos que são comercializados e também qual seu caráter cultural.
Conceitos, Metodologias e o Método da Geografia Cultural:
Para a viabilização da pesquisa, algumas etapas foram articuladas, e seu
cumprimento possibilitou que déssemos seguimento à elaboração deste artigo. A
princípio foram analisadas em casa e discutidas em sala de aula leituras de caráter
teórico, para que o melhor discernimento do tema fosse concretizado, e também para
que ficassem claros os principais objetivos e diretrizes da pesquisa, foi feito inclusive
um levantamento bibliográfico externo às aulas, para complementar e ratificar o tema.
Em seguida um levantamento histórico junto à secretaria de cultura do município de
Alfenas e também do contato com pessoas que moram na cidade desde a criação da
feira, e que por essa razão detém um determinado conhecimento histórico de grande
valia para a pesquisa foi realizado. Com base nas referências então, partiu-se para a
segunda etapa: realização da pesquisa de campo.
Durante a madrugada do dia 5 de Maio e a manhã do dia 6 foi conferida a
pesquisa de campo, através da realização de entrevistas com 52 feirantes e 36
consumidores. Com a entrevista dos feirantes buscou-se encontrar qual a abrangência
da feira, há quanto tempo estão no ramo, se é notória a evolução da feira nos dias
odiernos e qual o significado desta para eles. Para os consumidores, buscou-se
entender o que procuram ao ir à feira, com qual frequência e há quanto tempo o
fazem, como se sentem ali e o que ela representa para eles.
Os conceitos de Topofobia e Topofilia foram os principais indicadores do
significado da feira para a população. A percepção de cada um em relação à feira
pode sim ser diferente, porém através do sentimento de bem estar é possível analisar
como se dá essa relação da população com a feira, que além de patrimônio do
município de Alfenas é também uma representação cultural, por fazer parte de sua
rotina social a mais de 50 anos.
Em se tratando de uma pesquisa voltada para os aspectos culturais, não é
possível desvencilhar-se da vertente fenomenológica da Geografia, onde o Método
utilizado é o fenomenológico, da percepção. O método fenomenológico busca extinguir
a separação de “sujeito” e “objeto”, opondo-se da vertente positivista do século XIX
(ROCHA,2002/2003). Ele consiste naquilo que se dá como objeto intencional, que
aparece à consciência. Assim sendo, a consciência não é uma substância, mas uma
atividade constituída por atos (percepção, imaginação, especulação, volição, paixão,
entre outras), com os quais visa algo.
Resultados e Discussões:
O conceito de topofilia (TUAN,1980) está ligado a atribuição de um valor
cultural a um elemento da paisagem, que no caso da nossa pesquisa refere-se
identificação da população com a feria de domingo que ocorre tradicionalmente no
município de Alfenas, sendo assim, este conceito expressar um significado denso, que
é justamente a relação entre a paisagem, memória e cultura.
Figura 1: Relação Consumidores X Feira
Figura 2: Prodrutos comercializados
No decorrer da pesquisa percebemos que muitos dos consumidores tiveram
uma afetividade com este espaço (figura 1), ou seja, sente-se extremamente
confortável neste lugar. Embora muitos tenham esta relação topofólica, são raros os
consumidores que vem a feira como um espaço cultura, de manifestação e
representação popular, sendo que a visão predominante é que este espaço tem a
função de mercado periódico, de fornecer produtos e entretenimento. Oposto ao
conceito de topofilia vem o termo topofobia, qual também pode ser observado na feira
alfenense, embora de forma bastante reduzida, que demonstra uma insatisfação e
uma não apreciação por uma pequena parcela da população em relação à feira,
devido ao tumulto, a poluição visual e sonora causada pela feira.
Dada a falta de percepção do aspecto cultural presente neste espaço
simbólico, percebemos que a grande maioria dos consumidores da feira a frequentam
com objetivo de adquirir produtos e mercadorias de diversas variedades, com preços
mais acessíveis e de maior qualidade (conforme indicam as figuras 2 e 3). Ainda existe
outra parcela dos frequentadores que buscam na feira um convívio social e
entretenimento, o qual é encontrado em barracas que vende alimentos, ou seja, nos
diálogos realizados entre amigos nestes locais.
Figura 3: Por que os consumidores vem a feira
Figura 4: Relação Feirante X Mercadoria
A feira de domimgo realizadas nas intermediações da Praça Fausto Monteiro
em Alfenas, tem uma inserção regional, ou seja, atrai muitos feirantes e consumidores
de cidades vizinhas (principalmente do Sul de Minas), os quais buscam na feira como
um bom local para desenvolver atividades comerciais, vendendo sua produção ou
consumindo produtos e mercadorias direito do produtor, reduzindo assim o seu custo
sem perder a qualidade. Observa-se de acordo com a figura 4, o grande número de
produtores existente na feira, em sua maioria pequenos, ao qual tem neste comércio
um meio de inserir no mercado e consequentemente vender sua produção, garantindo
assim o sustento familiar.
Conclusão:
Com a relação de dados coletados nas entrevistas conseguimos encontrar
aspectos distintos para freqüentadores e comerciantes da feira de domingo em
Alfenas.
Culturalmente a feira proporciona dentro de seu espaço uma forma de lazer
aos seus frequentadores, pois grande parte desses buscam na feira uma forma de
lazer e convívio social, tornando-se frequentadores assíduos atraídos pela figura
tradicional da feira de domingo. Porém os freqüentadores por terem a hábito de irem à
feira todos os domingos, não enxergam a feira como expressão cultural, pois nas
entrevistas a maioria dos comerciantes e freqüentadores tiveram dificuldade de definir
o que é cultura.
Turisticamente a feira cativa um público que em épocas de feriados buscam na
região de Alfenas sossego e tranquilidade, oferecendo a esses frequentadores
produtos específicos, como artesanato, doces e comidas típicas. Já esses
freqüentadores conseguem ver a expressão cultural e a importância da feira como
expressão cultural.
Para a grande maioria dos comerciantes, donos de bancas, sua importância é
meramente econômica, servindo como fonte de renda familiar. Mesmo com essa
importância financeira, os comerciantes, percebem a importância cultural da feira, mas
dão maior valor ao aspecto econômico.
Referências bibliográficas:
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio
ambiente.São Paulo: Difel, 1980.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.
CLAVAL, P. A geografia cultural. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007.
ROCHA, L. B. Fenomenologia, semiótica e geografia da percepção: alternativas para
analisar o espaço geográfico. Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v. 4/5,
p. 67-79, 2002/2003.