Análise de Iluminação em Salas de Quimioterapia Illumination Analisis in Chemotherapy Rooms ELAINE SILVA FURTADO Engenheira Civil, Arquiteta e Urbanista, Mestre pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP, Doutoranda em Arquitetura Hospitalar pela Universidade de São Paulo USP SC. | e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/0888296869802828 RESUMO Proposta: Analisar a iluminação das salas de quimioterapia do Hospital Hélio Angotti, na cidade de Uberaba. As salas de quimioterapia são setores dentro dos hospitais direcionados a pacientes para tratamento de câncer. Método de pesquisa/Abordagens: Avaliação das tipologias hospitalares e sua população usuária. Estudo das normas hospitalares, referendadas pela RDC 50, da ANVISA, juntamente com as Normas Brasileiras e Normas do Ministério de Trabalho. Resultados: Observou-se que a iluminação não sofre referências qualitativas, nem descrições setorizadas, principalmente quando o elemento é a iluminação natural. Cientistas estão desenvolvendo estudos que comprovam o valor da iluminação natural em ambientes de saúde, melhorando a qualidade no tratamento dos pacientes. A alteração afeta positivamente o tratamento fisiológico e emocional, tanto de pacientes quanto de trabalhadores. Contribuições/Originalidade: A qualidade da iluminação natural dentro dos ambientes quimioterápicos auxilia no comportamento fisiológico do paciente. Palavras-chave: Iluminação. Salas de quimioterapia. Normas hospitalares. ABSTRACT Proposal: Making an analysis of the chemotherapy room illumination at Hélio Angotti Hospital in Uberaba. The chemotherapy rooms are where patients undergoing cancer treatment are taken, inside the hospitals. Researching methods\ Approaching: The hospital typologis evaluation and its ordinary population. Studying hospital rules, approved by RDC 50 – ANVISA and also according to Brazilian rules and Labour Ministry rules. Results: The realization that illumination is not affected by quality refences, description sector, mainly when the object is natural illumination. Scientists are developing studies showing the real values of natural illumination in health rooms, improving the quality of the patient’s treatment. The transformation, positively, affects the physiological and emotional treatment of the patients and also of the workers. Originality/value: The quality of natural illumination inside de chemotherapy places, helps the patient’s physiological behavior. Palavras-chave: Lighting. Chemotherapy rooms. Hospitals standards. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é a análise do comportamento humano em uma sala de quimioterapia – especificamente a sala de quimioterapia do Hospital Hélio Angotti, na cidade de Uberaba, e sugestões para a otimização do espaço, melhorando a qualidade do paciente usuário. Segundo BOMMEL (2005, p.8) “os estudos sobre o efeito da luz no comportamento humano vêm de mais de 500 anos. Leonardo da Vinci, grande estudioso do corpo humano, mostrou, através de desenhos, a conexão entre os olhos e o cérebro, por volta de 1489”. No primeiro capítulo são abordadas as tipologias hospitalares e suas diversidades espaciais. As classificações hospitalares se equivalem à dimensão dos edifícios, seu uso, sua resolubilidade. Entretanto, mesmo com tipologias iguais, as mesmas podem apresentar diferenças programativas significativas dependendo de seus usuários. O segundo capítulo mostra a influência que a luz e a cor têm sobre as pessoas. Os pesquisadores, como Veitch (2005, p.86) sabem da importância da iluminação para manter uma boa saúde, em todos os sentidos. A meta desses estudiosos é continuar com estudos da iluminação na melhoria da saúde, desenvolvendo mais conhecimento dentro deste campo de trabalho, com novas idéias, dentro desse pensamento. A análise teórica das salas de quimioterapia avalia os diferentes tipos de tratamentos e as características quanto ao ambiente, o paciente e a doença. A normatização através do Ministério da Saúde, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e das Normas Reguladoras - NR foi avaliada de acordo com as suas exigências e especificidades. Observouse que muito ainda tem a ser feito dentro desta área, pois as mesmas se encontram faltosas quanto às necessidades de uma melhor qualidade nas exigências de iluminação, principalmente a iluminação natural e nos espaços destinados à saúde, tanto do paciente quanto do trabalhador. O último capítulo é o estudo de caso propriamente dito, onde foi analisada a sala de quimioterapia do Hospital Hélio Angotti, com avaliação de iluminância no ambiente, tanto para o paciente quanto para o trabalhador daquele setor. A avaliação da iluminação natural também foi feita, para que pudesse chegar a um resultado considerável. Entrevistas com os pacientes e funcionários auxiliaram na interpretação dos dados necessários, onde foram avaliadas as necessidades e anseios daqueles usuários/pacientes. Figura 01 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti 1 TIPOLOGIA HOSPITALAR Neste capítulo serão abordados os tipos de hospitais e suas diversidades espaciais. As unidades hospitalares são diferenciadas de acordo com a tipologia, resolubilidade e do porte, além de seu programa de necessidades. Hospital Geral – atende pacientes com necessidades de assistência médica geral; Hospital de Emergência – atende pacientes de emergência ou em estado grave necessitando de cuidados imediatos; Hospital Pediátrico ou Infantil – atende às crianças e adolescentes; Maternidade – atende à gestante durante a gravidez, no parto e no pós-parto e extensivo ao recém-nato. Possui uma grande variação de complexidades e tipologias arquitetônicas: Maternidades de Referência – grande complexidade que atende as gestantes de alto risco; Casas de Parto – atende a pacientes assistidas por parteiras sob supervisão médica; Hospital de Apoio – atende a pacientes que não demandem cuidados especiais; Hospital Especializado – atende no tratamento e recuperação de pacientes com patologias crônicas e especificas; Unidade Mista – atende a tratamentos de média complexidade. Toledo (2003, 61-68) Várias outras classificações também são feitas em relação às tipologias hospitalares como: quanto à sua finalidade ou assistência; quanto à dependência; quanto à faculdade do exercício profissional; quanto ao sistema de edificação; quanto ao partido arquitetônico. De acordo com as classificações hospitalares, têm-se diversidades espaciais inerentes a cada uma delas, diferentemente do uso e população usuária. As atividades dentro de cada unidade hospitalar se tornam cada dia mais dinâmicas, devido às profundas transformações programáticas que a mesma sofre dentro do mesmo perfil. Consequentemente a relação espacial também se altera. Segundo Toledo (2003, p.60), o porte dos hospitais está diminuindo devido a vários fatores como, o risco de infecções, as dificuldades de gerenciamento e o alto custo de implantação e operação das unidades de grande porte. Por isso é necessário que se conheça bem o perfil de cada unidade funcional, com os procedimentos desenvolvidos em cada ambiente, pois as unidades funcionais dentro de um mesmo perfil podem ter diferentes características e procedimentos por elas desenvolvidos. A eficiência energética em um país como o Brasil deve ser aproveitada através da iluminação natural, podendo ser utilizada em vários setores dentro de um edifício da área hospitalar. A qualidade de conforto do edifício colaborará com o comportamento do paciente, uma vez que ele se sentirá em local mais aprazível, não se sentindo enclausurado em ambientes totalmente fechados e com iluminação inadequada. 2 A INFLUÊNCIA DA LUZ E COR NA SAÚDE Para os estudiosos, a luz e a cor interferem no comportamento humano, quando estes dois elementos, isoladamente ou em grupo, sofrem variações. Segundo BOYCE (2006, p.175) a definição de luz é “uma radiação eletromagnética com comprimento de onda variando entre 380 a 780 nm, que produz sensação de brilho, estimulando o sistema visual humano”. Anjali Joseph - Diretor de Pesquisas do The Center for Health Design na Califórnia - EUA (2006, p.03) apud Boyce, Hunter, & Howlett, 2003; Veitch & McColl, 1993, afirma que “são quatro mecanismos que colaboram no impacto da luz na saúde do corpo humano, juntamente com outros fatores, agilizam a recuperação do paciente, como: 1 – Resultado do trabalho visual - Os setores hospitalares utilizam tanto a luz natural quanto a artificial em seus espaços. O trabalho desenvolvido dentro de um hospital pode ser bem desenvolvido tanto com a luz natural quanto com a luz artificial, porém quando necessita de maior iluminação, a luz artificial é utilizada pontualmente. Uma maior intensidade luminosa diminui também o número de erros em alguns setores. 2 – Controle do sistema circadiano do corpo - O sistema circadiano pode sofrer alterações de acordo com o que for transmitido para seu hipotálamo. Ao criar situações em que este ciclo é alterado, observa-se situações diferenciadas. A presença da luz natural diminui casos como a depressão, demência, e outros. Também diminui o tempo de permanência de pacientes dentro do hospital e o uso de medicamentos. Trabalhadores de hospitais expostos à luz natural, também sofrem menos problemas de saúde e têm seu trabalho com melhor qualidade. 3 – Afetam o emocional e a percepção - As pessoas preferem trabalhar em locais mais próximos às janelas, por onde entram maior iluminação, podendo sofrer alterações psicológicas, dependendo dos diferentes graus de iluminação a que são expostos. 4 – Facilita diretamente a absorção das reações químicas com o corpo - A reação da luz no corpo, absorvida através da pele, estimula reações químicas no sangue do paciente, metabolizando a vitamina D que será facilitada neste processo através da radiação ultravioleta UV”. Boyce (2006, p.176) discorda do assunto e também cita em seus estudos que a radiação eletromagnética a que o corpo humano é exposta, influencia a saúde, especificamente na exposição da radiação eletromagnética que pode alterar o sistema visual através da fadiga e desconforto visual, juntamente com a geração de vitamina D que o corpo absorve através do sol, danificando a pele e pelo sistema circadiano influenciando uma série de atividades fisiológicas. O assunto é tão polêmico que outros estudiosos concordam com Joseph ao discutir a importância da luz saudável no corpo humano. Isso não vem a pensar que não exista um tipo de luz que seja prejudicial à saúde. Existe e pode causar malefícios à mesma. BOMMEL (2005, p.7) A iluminação de ambientes hospitalares poderá criar efeitos físicos, fisiológicos e psicológicos diferentes em cada paciente de acordo com seu nível de iluminamento e seu determinado uso. A boa distribuição do fluxo luminoso, através da reflexão interna e externa do ambiente proporcionará ao mesmo, sensação mais aprazível, alterando o estado psicológico do paciente e do trabalhador em um hospital. Estudos comprovam que “pacientes submetidos a maiores intensidades luminosas em quartos que recebiam a luz pela manhã tiveram menos dores, utilizaram menos medicamentos e permaneceram menos tempo nos hospitais e responderam melhor aos resultados do que os pacientes que tinham seus quartos posicionados na luz da tarde”, conforme comprovados no Center for Health Design”. JOSEPH (2006, p.06) Não é que a luz artificial seja inferior à natural, mas existem alguns tipos de iluminações artificiais que possuem espectros semelhantes à luz natural, como algumas lâmpadas incandescentes, mas a luz natural traz benefícios maiores ao ser humano. Os trabalhadores também são influenciados na relação de luz x trabalho, conforme análises feitas por BOMMEL (2005, p.9) “O bom resultado no efeito visual e biológico do ser humano mostra que o bem-estar do trabalhador resulta em benefícios associados ao bom desempenho no trabalho, maior segurança e menor absenteísmo ao trabalho”. A cor, assim como a luz, tem função terapêutica sobre o paciente. O uso da cor em ambientes hospitalares eram elementos proibidos em grande parte do século XX. Os hospitais eram locais frios, pintados em cores brancas e cinzas. Notou-se que a cor nos edifícios hospitalares altera e renova o emocional dos pacientes e funcionários. A cor começou a ser utilizada primeiramente nos corredores e áreas de espera e atualmente estas passaram a estar presentes nos quartos e outras áreas terapêuticas, como salas especiais de exames. “É o sistema visual do homem que permite que se perceba a luz e é a luz que possibilita o reconhecimento das cores. Ambas interferem na fisiologia e na psique do ser humano, interagem e influenciam na percepção ambiental e na sensação de bem-estar das pessoas, podendo ocasionar estímulos positivos e negativos.” COSTI (2002, p.207) O uso correto da luz e da cor podem de forma positiva alterar o comportamento das pessoas, como pode ser observado nas salas do objeto em questão. 3 ANÁLISE TEÓRICA DAS SALAS DE QUIMIOTERAPIA O estudo deste capítulo é referente à análise das normas que regulamentam os ambientes do setor da saúde, as exigências quanto ao trabalhador e a qualidade da iluminação nesses ambientes. As mesmas são recomendações do Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Associação Brasileira de Normas Técnicas. A análise vai se ater às salas de quimioterapia, que é o ambiente proposto neste trabalho. O Ministério da Saúde apresenta através da RDC 501 sua resolução que dispõe sobre o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Os elementos levantados mostram como esta resolução avalia a iluminação quanto ao ambiente, ao paciente e ao trabalhador da área de saúde. Segundo a RDC 502, não se discute a qualidade do espaço e sim as atividades nela realizadas, como pode ser analisado a seguir no item 4: prestação de atendimento de apoio ao diagnóstico e terapia “4.11-Desenvolvimento de atividades de quimioterapia: 4.11.1-realizar o planejamento e programação das ações de quimioterapia; 4.11.2-preparar paciente; 4.11.3-realizar procedimentos de enfermagem; 4.11.4-administrar/infundir soluções quimioterápicas para fins terapêuticos; 4.11.5-manter em observação paciente pós-terapia; 4.11.6-emitir laudo e registrar os atos realizados; e 4.11.7-zelar pela proteção e segurança dos pacientes, operadores e ambiente.” A Resolução aborda primeiramente as atividades a serem realizadas dentro de cada espaço pré-determinado, dividindo-as por grupos de atividades, mas sem se ater em qual uso específico de cada edifício. A maneira geral da Resolução cria um impasse dentro das exigências, uma vez que cada tipo de uso de Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS), de acordo com sua população e regionalidade, exigiria uma análise mais peculiar, dentro de suas necessidades básicas, mas contudo, isso não acontece. Analisando a figura 02 – Tabela de ambientes - podemos constatar novamente a não exigência de níveis de iluminamento dentro da unidade de quimioterapia. 1 Resolução da Diretoria Colegiada 2 Brasil, RDC 50, 2002, p.26 Figura 02 – Tabela de ambientes No item 5 da Resolução (BRASIL, 2002, p.95) – Condições ambientais de conforto - pede que o ambiente crie condições desejáveis de salubridade de acordo com as normas técnicas e de higiene e segurança do trabalho. Fig. 03 – Ambientes Funcionais dos EAS Conforme análise na figura 03 – Ambientes Funcionais dos EAS - pode-se avaliar que somente estão especificados os ambientes que necessitam ou não de iluminação artificial, mas os ambientes com iluminação natural devem seguir as normas dos códigos de obras locais. Nelas ficam demarcadas as características dos ambientes em relação a seus usos. Os ambientes citados são aqueles que exigem condições ambientais luminosas especiais através de iluminação artificial. As outras áreas ficam subordinadas às legislações locais, isto é, 1/6 da área de piso do ambiente. Os Códigos de obras e de postura dos municípios devem ditar as regras para controle das condições de conforto ambiental. Na Lei do Código de Edificações da cidade de Uberaba, pode-se notar que as normas exclusivamente se orientam em relação às normas estaduais e federais. Estas últimas, por sua vez, delegam poder ao município. O município fica, portanto, sem respaldo perante nenhum dos órgãos governamentais, conforme analisamos a seguir: “As edificações destinadas a tratamento e recuperação de saúde, tais como hospitais, clínicas e similares, deverão obedecer às legislações específicas federal, estadual e municipal, além das disposições deste Código, no que couber”. (PMU3, subseção VII,art. 159, p.30) No Código municipal, podemos observar que: “Art. 67. Os compartimentos de permanência prolongada são aqueles que possam ser utilizados para uma das seguintes funções ou atividades: I - dormir; II - estar; III - trabalho, ensino, estudo; IV - preparo e consumição de alimentos; V - tratamento ou recuperação da saúde; VI - reunião ou recreação. Art. 68. Os compartimentos de permanência transitória são aqueles utilizados para uma das seguintes funções ou atividades: I - circulação e acesso de pessoas; II - higiene pessoal; III - depósito para guarda de material, utensílios ou peças, sem a possibilidade de qualquer atividade no local; IV - troca e guarda de roupas; V - lavanderias e áreas de serviço; VI - adegas. Art. 70. Para efeito de iluminação e ventilação, todo compartimento, classificado como de permanência prolongada ou de utilização transitória, deverá dispor de abertura ou vão para logradouro público, áreas livres do respectivo terreno, ou delimitada pela própria edificação. Parágrafo 1º. Os vãos e aberturas deverão distar, no mínimo, 1,50 m (um metro e cinquenta centímetros) das divisas do terreno ou parede oposta a superfície desses vãos. Parágrafo 2º. Os vãos e aberturas deverão dispor das seguintes proporções: I - 1/6 (um sexto) da área do piso para os compartimentos de permanência prolongada; II - 1/8 (um oitavo) da área do piso para os compartimentos de permanência transitória; IV - nenhum vão poderá ter dimensão menor que 0,20 m² (vinte decímetros quadrados). 3 PMU = Prefeitura Municipal de Uberaba Parágrafo 3º. As esquadrias deverão garantir a iluminação e ventilação efetiva de, no mínimo, a metade do vão exigido”. (PMU, seção V,art. 67 a 70, p.14) A descrição dos ambientes destinados à área de saúde, tanto de permanência prolongada como transitória, se torna bastante abrangente e de certa forma generalista, considerando que alguns ambientes são equiparados apesar de possuírem necessidades diferentes como no caso de se destinarem a usos hospitalares ou residenciais. A exigência se constitui na mesma, quando na realidade podemos concluir que ambientes hospitalares são muito mais propícios à contaminação do que ambientes residenciais, necessitando, portanto, de tratativas específicas. A NBR 54134, que fala sobre a Iluminância de Interiores apresenta os níveis médios de iluminância em ambientes hospitalares, conforme figura 04. 5.3 Iluminâncias em lux, por tipo de atividade (valores médios em serviço) 5.3.28 Hospitais: - Terapia: Física 150-200-300 Aplicada 150-200-300 - Salas de diagnósticos e terapêuticas: Geral 150-200-300 - Quartos particulares para pacientes: Geral 100-150-200 Cama 150-150-300 Fig. 04 – Iluminância em lux nos ambientes hospitalares 3 ESTUDO DE CASOS – OTIMIZAÇÃO DO HOSPITAL HÉLIO ANGOTTI O estudo de casos proposto neste trabalho é a sala de quimioterapia do Hospital Hélio Angotti (fig.01), na cidade de Uberaba, onde foi analisado o comportamento das pessoas quanto ao espaço a ser trabalhado. Nesta análise, através de entrevistas, foram avaliados os seguintes resultados. A iluminação da sala foi considerada clara e confortável tanto para pacientes quanto para funcionários, apresentando um bom nível de conforto. Todos os entrevistados consideram importante a iluminação natural na sala. A iluminação não causa sonolência nem desperta os usuários como um todo, considerando a mesma normal. Quanto à temperatura da sala, 50% a consideram fria no inverno e confortável no verão, apesar da mesma possuir aberturas para três faces do edifício – leste, norte e oeste. 4 NBR 5413 = Iluminância de Interiores, maio de 1991. As salas analisadas são duas salas amplas e recém-construídas. Através de relatos da equipe hospitalar, a antiga sala possuía vários desconfortos e que ocasionava maiores alterações fisiológicas aos pacientes. Nestas novas áreas, divididas em setor para cadeiras e setor para camas, foi observado que os pacientes têm uma qualidade melhor quanto aos sintomas que existiam anteriormente. Vários estudiosos no assunto, já comprovaram a alteração do ciclo biológico das pessoas, podendo até sofrer alterações emocionais e fisiológicas. Esta luz, não tem que ser necessariamente a luz natural, mas a luz natural traz benefícios em relação à artificial, colaborando com o adequado funcionamento do ciclo circadiano nos pacientes, assim como em todo o staff de um hospital, conforme JOSEPH (2006, p.02 e 09) apresenta em seus estudos. O índice de iluminância do ambiente foi analisado e observou-se que a qualidade da luz está dentro dos padrões exigidos na NBR 5413, conforme Fig. 4 – Iluminância em lux nos ambientes hospitalares. ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● Fig. 05 – Níveis médios de iluminâncias (em lux) na sala de quimioterapia – cadeiras ● ● ● ● ● ● Fig. 06 – Níveis médios de iluminâncias (em lux) na sala de quimioterapia – camas LEGENDA (em lux) ● 150 ● 200 ● 300 Conforme figuras 07 a 10, os postos de enfermagem possuem uma iluminação adequada, assim como as áreas de trabalho dos funcionários na cadeira ou cama dos pacientes. Os materiais utilizados no ambiente – cores claras no piso, parede e teto, colaboram para a refletância da luz. Segundo COSTI (2002, p.41-42) “a ambiência arquitetônica é criada por uma diversidade de elementos num espaço, resultando num conjunto que interage na percepção do usuário de forma agradável ou desagradável”, como pudemos comprovar nos resultados obtidos nas entrevistas realizadas, tanto de pacientes quanto de funcionários. Figura 07 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti – setor de cadeiras Figura 08 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti – setor de cadeiras com posto de enfermagem Figura 09 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti – setor de camas Figura 10 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti – setor de camas com posto de enfermagem A iluminação dos ambientes é feita através de luminárias fluorescentes e sua estrutura aparente diminui a refletância da mesma no ambiente considerado, fazendo com que o número de luminárias seja aumentado para repor as perdas ocorridas, conforme demonstrado nas figuras 11 e 12. Figura 11 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti – setor de cadeiras – iluminação Figura 12 – Sala de Quimioterapia do Hospital Hélio Angotti – setor de cadeiras – iluminação com diferenças de níveis no teto. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho pôde mostrar que o estudo sobre a influência da luz no tratamento de doenças ainda é escasso. A avaliação da luz na qualidade da saúde e bem estar do indivíduo mostra que o impacto no resultado é significativo. JOSEPH (2006, p.10), cita em seus estudos que a luz natural é ideal para o tratamento de saúde, tanto para pacientes como para toda a equipe, além de não ter custo e ser preferida pela maioria da população. Vimos também que o uso inadequado do ser humano quanto à exposição à luz solar, pode trazer malefícios, conforme BOYCE (2006, p.177). Esta exposição da luz influencia a saúde humana tanto para o bem, com a facilidade de absorção da vitamina D no organismo, como para o mal, citando o excesso de luz que pode proporcionar problemas na pele e nos olhos. Porém, concluímos que a luz natural auxilia no sistema circadiano do ser humano, otimizando seu comportamento e bom humor. Segundo VEITCH (2005, p.91) “podemos esperar que a luz natural seja de grande importância na recomendação dos tratamentos de saúde”. Os cientistas estão cada vez mais incumbidos em mostrar resultados de como a iluminação natural melhora tanto a qualidade de vida do trabalhador como a recuperação de pacientes no ambiente hospitalar e na vida do ser humano. Nas salas de quimioterapia do Hospital Hélio Angotti, em Uberaba - ambiente proposto para análise - observou-se que a boa qualidade de iluminação pode melhorar o comportamento de seus pacientes, assim como das pessoas que ali trabalham. 5 REFERÊNCIAS ABNT. NBR 5413 – Iluminância de Interiores. Brasília, DF. Maio, 1991 _________. NR 32 – Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Brasília, DF. 2005. BOMMEL, Wout van. Visual, biological and emotional aspects of lighting: Recent new findings and their meaning for lighting practice. In: Leukos, vol. 2 n. 1, julho 2005, p. 7 -11. BOYCE, Peter R. Lemmings, Light and Health. In: Leukos, vol. 2 n. 3, jan. 2006, p. 175 184. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC 50, de 21 de janeiro de 2002. Dispõe sobre o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Brasília, DF. 2002 COSTI, Marilice. A influência da luz e da cor em corredores e salas de espera hospitalares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. JOSEPH, Anjali. The Impact of Light on Outcomes in Healthcare Settings. Califórnia, EUA. 2006 M. Jaen, E OUTROS. Office workers visual performance and temporal modulation of fluorescent lighting. In: Leukos, vol. 1 n. 4, abril 2005, p. 27 -46. ORNSTEIN, Sheila. Avaliação pós-ocupação do ambiente construído. São Paulo: Studio Nobel Edusp, 1992. PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERABA: Lei do Código de Edificações. Uberaba, 1991. SILVA, M. L. Luz, lâmpadas & iluminação. Rio de Janeiro: Ed. Ciência Moderna Ltda., 2004. TOLEDO, Carlos. O hospital, este desconhecido. Trabalho de mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003. acesso pelo site www:mtarquitetura.com.br/conteúdo/publicações em 01 de junho de 2009, às 16:45 hs. VEITCH, Jennifer A. Light, lighting, and health: Issues for consideration. In: Leukos, vol. 2 n. 2, out. 2005, p. 85 - 96. http://lightinglab.fi/news/LisSem2007_Prog.pdf