PORTUGUÊS - 3o ANO MÓDULO 20 ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LINGUA PORTUGUESA: COLOCAÇÃO PRONOMINAL Como pode cair no enem O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático nos textos abaixo. Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988. Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja reproduzir a fala dos personagens (...). CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1980. Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afirmar que ambos: a) condenam essa regra gramatical; b) acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa regra; c) criticam a presença de regras na gramática; d) afirmam que não há regras para uso de pronomes; e) relativizam essa regra gramatical. Fixação (UNESP) o A morte da tartaruga O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi ao quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino. “Cuidado, senão você acorda o seu pai”. Mas o menino não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria, queria aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra, mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu animalzinho de estimação. Afinal, com tanto choro, o pai acordou lá dentro, e veio, estremunhado, ver de que se tratava. O menino mostrou--lhe a tartaruga morta. A mãe disse: “─ Está aí assim há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei mais o que faço. Já lhe prometi tudo mas ele continua berrando desse jeito”. O pai examinou a situação e propôs: “─ Olha, Henriquinho. Se a tartaruga está morta não adianta mesmo você chorar. Deixa ela aí e vem cá com o pai”. O garoto depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse: “─ Eu sei que você sente muito a morte da tartaruguinha. Eu também gostava muito dela. Mas nós vamos fazer pra ela um grande funeral”. (Empregou de propósito a palavra difícil). O menininho parou imediatamente de chorar. “Que é funeral?” O pai lhe explicou que era um enterro. “Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa bem bonita, bastante balas, bombons, doces e voltamos para casa. Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o Happy-Birth-Day- -To-You pra tartaruguinha morta e você assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra em cima com o nome dela e o dia em que ela morreu. Isso é que é funeral! Vamos fazer isso?” O garotinho estava com outra cara. “Vamos papai, vamos! A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar ela”. Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal. “Papai, papai, vem cá ela está viva!” O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. A tartaruga estava andando de novo normalmente. “Que bom, hein” ─ disse ─ “Ela está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!” “Vamos sim, papai” ─ disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande “─ Eu mato ela”. Moral: “O importante não é a morte, é o que ela nos tira”. (FERNANDES, Millôr. A morte da Tartaruguinha. In: Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1985.) 1) As falas do menino são marcadamente coloquiais. Em duas situações você pode identificar o uso coloquial de pronomes. Transcreva do texto essas duas frases coloquiais, adaptando-as aos padrões da norma culta. Fixação 2) As duas frases marcam uma diferença com relação ao emprego pronominal entre a norma culta e a linguagem coloquial. Explique essa diferença. Fixação 3) A figura reproduz um e-mail destinado a Dona Benta, famosa personagem de Monteiro Lobato. Comumente, o usuário desse veículo não se mostra atento aos padrões da língua portuguesa. Considerando o último período do texto, reescreva o trecho que “fere” a norma culta, de modo a torná-lo adequado ao padrão formal. Fixação F (PUC) 5 A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, cousas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, cousas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? Não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? E o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. (Fragmento do conto A Igreja do Diabo, de Machado de Assis.) 4) Explique o argumento de que se vale o Diabo na defesa que faz da venalidade. Fixação 5) A que se refere o pronome oblíquo na frase “Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório”? Fixação 6) (UERJ) O silêncio expectante e a voz inesperada Na penumbra da sala do laboratório, uniforme e absolutamente fechada, Isolada do som e da luz, isolada do tempo e do espaço, Procedia-se à investigação memorável. Procurava-se descobrir o espaço completo e geral Onde se pudesse definir a pulsação originária; Pulsação que seria a substância de todas as vibrações, Desde as que iluminam as estrelas Cefeides Até as que comovem o coração humano, As que marcam, domesticamente, o tempo civil nos relógios E as que passam ondulando nas cordas dos violoncelos; Pulsação que fosse o sangue de futuros nascimentos e de novas cosmogonias. Dela viria a angústia da matéria dispersa em meio às nebulosas E que ainda não pôde se converter em estrelas, Viria a angústia das almas inascidas que, com o frio, e o medo de não nascer, Se abrigam no ventre das mulheres. Naquele ambiente inerte e indeterminado Reinava um silêncio liso e sinistro: F Um silêncio que fora a consequência de rumores especiais e preciosos, Um silêncio-fronteira de ruídos apagados em 7 macios de paina e de veludo. Temia-se, porém, a inversão do tempo ou o pânico da luz, Temia-se, sim, temia-se alcançar a essência do milagre... Foi então que uma onda ligeira, perdida e i c vagabunda, Uma onda que rondava, que rondava na sombra do jardim, Entrou sorrateira, inesperadamente, Por uma fresta imperceptível no rádio: Era uma voz de mulher cantando nas Antilhas. (CARDOZO, Joaquim. Poesias completas. RJ: Civilização Brasileira, 1971.) Glossário: • Cosmogonia - Ciência que trata da origem e evolução do Universo E que ainda não pôde se converter em estrelas: (verso 13) Neste verso, a colocação do pronome pessoal átono na locução verbal segue a norma coloquial corrente no português do Brasil. Reescreva o verso por inteiro, reposicionando o pronome em uma outra colocação possível, segundo as normas do uso culto padrão. Fixação 7) (UNESP-Adaptada) Há anos que existem vazamentos tóxicos em todos os rios do país, causando danos à fauna e à flora. Precisamos sair da inércia ou essa situação levará-nos a um desastre completo! (Carta de leitor a um jornal, comentando desastre ecológico.) Nesse texto, há uma situação em que a norma padrão do português do Brasil é infringida. Identifique o trecho em que ocorre o problema e redija novamente o texto, corrigindo-o. l - Fixação F 8) (UNESP) Vi ontem UM BICHO Na imundície do pátio Catando COMIDA entre os detritos Reescreva a estrofe acima, substituindo os termos em maiúsculo pelo pronome pessoal correspondente e elimine as expressões adverbiais. 9 a Fixação (PAIVA, Miguel. O Globo, 28/06/02.) 9) No cartum percebe-se a ocorrência do pronome “mim”. Determine se essa ocorrência está adequada ao padrão culto da língua. Justifique sua resposta. Fixação 10) (UFRJ) O hábito de estar aqui agora aos poucos substitui a compulsão de ser o tempo todo alguém ou algo. Um belo dia - por algum motivo é sempre dia claro nesses casos você abre a janela, ou abre um pote de pêssegos em calda, ou mesmo um livro que nunca há de ser lido até o fim e então a ideia irrompe, clara e nítida: De manhã É necessário? Não. Será possível? De modo algum. Ao menos dá prazer? Será prazer essa exigência cega a latejar na mente o tempo todo? Então por quê? E neste exato instante você por fim entende, e refestela-se a valer nessa poltrona, a mais cômoda da casa, e pensa sem rancor: Perdi o dia, mas ganhei o mundo. (Mesmo que seja por trinta segundos.) (BRITO, Paulo Henriques. “As três epifanias – III”. In: Macau. São Paulo: Cia das Letras, 2003.) Um pronome, para assumir valor indeterminado, não deve estar associado apenas a um interlocutor específico, mas também a outros interlocutores, depreensíveis do contexto. Considerando essa afirmativa, explique o valor indeterminado da forma VOCÊ no texto e justifique seu emprego para a construção do sentido do texto. Proposto 1) (FUVEST) — Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não? — Esquece. — Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Mo diga. Ensines-lo-me, vamos. — Depende. —Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o. — Está bem. Está bem. Desculpe. Fale como quiser. (VERISSIMO, Luis Fernando. Jornal do Brasil, 30/12/94.) ENSINAR-ME-LO-IAS, se o SOUBESSES, mas não SABES-O. A frase estaria de acordo com a norma gramatical, usando-se, onde estão as formas em maiúsculo: a) Ensinar-mo-ias - o soubesses - o sabes. b) Ensinarias-mo - soubesse-lo - sabe-lo. c) Ensinarias-mo - soubesses-o - o sabes. d) Ensinar-mo-ias - soubesses-o - sabe-lo. e) Ensinarias-mo - soubesse-lo - o sabes. Proposto 2) (FGV) Observe a ocorrência da mesóclise nos seguintes exemplos: • veremos + o = vê-lo-emos; • faríamos + os = fá-los-íamos; • veríamos + a = vê-la-íamos. Assinale abaixo a alternativa em que a mesóclise ocorre de acordo com a norma culta. a) Fa-los-ei. d) Integrá-las-eis. b) Entende-los-ás. e) Intui-las-emos. c) Partí-las-ás. Proposto 3) (FUVEST) No trecho “mas minha mãe botou ele por promessa”, o pronome pessoal foi empregado em registro coloquial. É o que também se verifica em: a) “ - E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?” b) “ - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?” c) “ - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?” .d) “ - Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.” e) “ - (...) pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...” Proposto 4) (FUVEST) Existe, hoje, uma percepção disseminada pela intelectualidade e por boa parte da opinião pública mundial de uma grande e acelerada mudança operando em várias dimensões da sociedade moderno-contemporânea. Não há, certamente, consenso sobre esse fenômeno, variando definições, terminologia e, sobretudo, avaliações positivas, negativas ou matizadas. De qualquer modo, há uma tendência maciça para reconhecer o caráter ampliado das mudanças econômicas e tecnológicas que afetariam, com maior ou menor impacto, todas as sociedades do planeta, justificando o termo globalização mesmo quando se critica a sua possível banalização como instrumento de conhecimento. (VELHO, Gilberto. Revista de Cultura Brasileira, 03/98.) Substituindo por pronome pessoal oblíquo o complemento de AFETARIAM, na mesma frase em que ocorre, obtém-se: a) afetá-las-iam. d) lhes afetariam. b) afetariam-nas. e) afetar-lhes-iam. c) as afetariam. Proposto 5) (UNIFESP) (O Estado de S.Paulo, 01.05.2003. Adaptado) Assinale a alternativa correta, tendo como referência todas as falas do menino Calvin. a) O emprego de termos como “gente” e “tem” é inadequado, uma vez que estão carregados de marcas da linguagem coloquial desajustadas à situação de comunicação apresentada. b) Calvin emprega o pronome “você” não necessariamente para marcar a interlocução: antes, trata-se de um recurso da linguagem coloquial utilizado como forma de expressar ideias genéricas. c) O emprego de termos de significação ampla - como noção, tudo, normal - prejudica a compreensão do texto, pois o leitor não consegue entender, com clareza, o que se pretende dizer. d) O pronome “eles” é empregado duas vezes, sendo impossível, no contexto, recuperar-lhe as referências. e) O termo “bem” é empregado com valor de confirmação das informações precedentes. Proposto 6) (PUC) No diálogo com o patrão, em certo momento o carreiro diz: “ ... e está atolado. Vim buscar mais dez juntas de bois para tirar ele”. Empregando a língua informalmente, ele usa o pronome pessoal do caso reto na posição de complemento do verbo. Se a construção fosse reelaborada em nível formal, teríamos: a) Vim buscar mais dez juntas de bois para tirar-lhe. b) Vim buscar mais dez juntas de boi para tirá-lo. c) Vim buscar mais dez juntas de bois para lhe tirar. d) Vim buscar mais dez juntas de bois para o tirarmos. e) Vim buscar mais dez juntas de bois para tirarmo-lo. Proposto 7) (FATEC) Considere as seguintes afirmações sobre o texto dos quadrinhos. I) A transposição das falas do primeiro quadrinho para o discurso indireto deve ser: “O rato ordenou ao menino que se levante e pegue um sorvete para ele, e ele respondeu que sim ao mestre”. II) No segundo quadrinho, o acréscimo de um complemento para o verbo “hipnotizar” está de acordo com a norma culta em “Eu o hipnotizo”. III) A relação de sentido entre as orações do período - Eu hipnotizo e ele usa a minha mente - é de causa e consequência. IV) A frase “Levante e pegue um sorvete para mim me refrescar” apresenta redação de acordo com a norma culta. Estão corretas apenas as afirmações: a) I e II b) I, II e III c) I e III d) II e III e) II, III e IV Proposto 8) (UNIFESP) Observe a figura. Se a personagem fosse enfática e dissesse: “... eu não reconheço o documento, eu não reconheço o documento...”, a oração repetida, de acordo com a norma padrão, assumiria a seguinte forma: a) eu não o reconheço. b) eu não reconheço-lhe. c) eu não reconheço ele. d) eu não lhe reconheço. e) eu não reconheço-lo.