temperos da vida

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Lousa na tela
Perla Rossetti
U
ma criança de quatro anos estica o bracinho e alcança um mouse. Começa
a correr o cursor sobre a tela e se diverte vendo as mudanças que acontecem.
Para alguns, este inocente ato pode representar um perigoso alerta: o
computador pode conduzi-la um raciocínio lógico e linear. Para outros, porém,
aquela criança está apenas utilizando mais uma ferramenta de ensino: a
tecnologia.
Desde a época dos faraós o papel – no caso, o papiro – foi a mídia utilizada
para passar informações de uma geração a outra. Também é o papel que
continua servindo como a principal mídia cultural, prevalecendo o livro sobre os
discos de CD-ROM. Nada mais natural, portando, que a cultura do papel esteja
tão arraigada na civilização moderna, desde as províncias mais escondidas até
as metrópoles. O papel vê-se ainda na qualidade de mídia insubstituível e assim
o será por muitos anos.
A chegada da informática na sala de aula gerou um paradigma. Uma nova
Filosofia está no ar e tanto professores quanto alunos têm necessidade de
entender esta nova Filosofia.
De acordo com Carolina Menko, pedagoga especializada em informática
educacional do Colégio Via Sapiens, “as crianças estão mais rápidas e exigem
uma resposta mais rápida. Elas estão evoluindo no ritmo da informática, em
termos de conteúdo e atitudes. A globalização está conduzindo tudo isso. Os
alunos de escolas que têm o uso da informática como complemento caminham
mais rápido, e conseguem tirar conclusões mais rapidamente do que aqueles
alunos de escola que não utilizam informática.”
Como toda nova Filosofia, a informática ainda assusta. Para alguns, o
computador na sala de aula está sendo visto como uma forma de substituir a
presença do professor. Esta idéia é repelida pela coordenadora pedagógica,
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Maria Elisa Alves, do Colégio Oswaldo Cruz: “Isto é muito discutido; é lógico que
o computador deve ser visto como mais uma ferramenta, como o giz, a lousa, o
aparelho de som, que o professor utiliza, a fim de sedimentar a aprendizagem. O
professor pode diversificar a aula, mas sua presença é imprescindível; a aula
expositiva ainda requer o carisma do professor, caso contrário, você pode utilizar
qualquer recurso tecnológico que se transforma em enfeites inócuos. É preciso
aliar a competência e a arte de seduzir do professor à tecnologia. Foi-se o tempo
em que preparávamos a prova no mimiógrafo, que borrava, agora você tem o
computador e as novas tecnologias que trazem o mundo para a sala de aula; não
existem mais fronteiras”.
Os pedagogos, em geral, alertam para duas dificuldades fundamentais,
associadas à informática. A primeira delas é conhecer profundamente o
conteúdo, saber substituir as enciclopédias por CD-ROM ou pela internet requer
domínio dos conteúdos para permitir a mesma linguagem entre alunos,
professores e material didático. “A outra dificuldade é o receio de alguns
professores em se expor – explica Carolina Menko –, ou expor sua falta de
conhecimento no que diz respeito à informática. Muitos não possuem
coordenação visio-motora para utilizar o mouse e o monitor, e escuta do aluno.
“Não professor, deixa que eu faço”, o que gera um constrangimento em sala”.
Vilão?
Como toda nova Filosofia, a informática já encontrou refratários a sua
aplicação de forma pedagógica. De acordo com o consultor de informática e
pesquisador da USP, Valdemar Setzer, o uso de computadores no ensino pode
estimular os jovens a um raciocínio abstrato precocemente, uma vez que a
criança deve desenvolver um pensamento qualitativo e intuitivo ao invés do
formal e quantitativo que o computador exige. Obviamente, algumas filosofias
pedagógicas não se coadunam com a tecnologia de informática, por isso mesmo
o uso de computadores como ferramenta de ensino está sendo visto com cautela
por algumas escolas. No entanto, é inevitável que as novas gerações terão de
ingressar no mundo da informática o quanto antes. Para Maria Elisa Alves, “é
complicado prever o futuro, não dá para saber. A informática evolui muito rápido,
não sabemos como as crianças, nas quais hoje plantamos a sementinha da
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informática, vão utilizá-las daqui há cinco anos. Hoje não conseguimos respirar
sem internet, não conseguimos pagar uma conta, ou não acessar a home-page
da escola de seu filho para ver se ele almoçou ou não”.
Com relação ao uso de softwares substituindo material didático, ainda há
uma prevenção. A pedagoga, professora de informática aplicada à educação na
Faculdade Mozarteum, e ensino a distância pela PUC e PROINFO, Adriana
Rocha Bueno é uma profissional que suspeita dos softwares: “questiono a
utilização de softwares prontos. Temos de tomar muito cuidado, porque existem
materiais com informações equivocadas e erros de português. A utilização do
software, do computador enquanto ferramenta, e mesmo da internet, tem de ser
cuidadosamente medida e articulada pelo professor”, esclarece a professora, que
é mestranda na PUC com o trabalho Formação de professores para o uso das
novas tecnologias.
É inegável que a informática não pode ser deixada de lado como ferramenta
de ensino, e mesmo que algumas visões anacrônicas apontem evidentes perigos,
vivemos a era da informação digital. O que não deve ficar esquecido é a
importância do homem diante da máquina. Numa sala de aula, ou num
laboratório, por trás de um computador haverá sempre um professor. Como bem
definiu Vera Lúcia Forbeck – Tecnóloga e coordenadora do curso de informática
do Colégio Oswaldo Cruz – que afirma: “não é só a máquina que vem para a
escola, mas sim um paradigma, uma nova Filosofia. O professor não é mais o
centro das atenções, existem muitas dinâmicas para o uso do computador, e
você pode quebrar o mito que o professor é o único dono da verdade. Agora ele
é um facilitador que conduz o aprendizado, este é o enfoque atual: a
aprendizagem”.
Em última análise, a informática por si só não veio para substituir ninguém.
Ela veio para somar e ser vista como mais um material escolar, como o lápis, a
caneta, a borracha e o caderno.
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