Sônia Robatto - Memorial Brasil de Artes Cênicas

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Sônia Robatto
Um pedaço importante da história do teatro baiano se confunde, muitas vezes, com a vida de
Sonia Robatto. A escritora, editora, produtora e atriz nasceu em Salvador, em 1938. Filha do
pioneiro do cinema baiano Alexandre Robatto Filho e de Stella Pereira Robatto. Desde
pequena já convivia com as artes. Apoiada pelos pais, a jovem de 18 anos faz um teste de
seleção, na recém fundada Escola de Teatro da UFBA e, em 1956, entra para o curso de Artes
Dramáticas, fazendo parte da primeira turma de alunos.
Além do teatro, Sonia teve um bom contato com a dança, chegando a estudar na Escola de
Dança da UFBA, mas, o sentimento pelo teatro foi mais forte. Na Escola de Teatro, a atriz
estudou com professores de grande renome nacional e internacional, como Martim Gonçalves,
Gianni Ratto, Domitila Amaral, Anna Edler, Antonio Patiño, Luciana Petrucelli, Brutus Pedreira,
Yanka Rudska, Koellreuter, além de outros artistas nacionais e estrangeiros convidados,
especialmente, para dar oficinas. Sonia fazia também o Curso de Dramaturgia, ministrado por
João Augusto Azevedo, começando assim a sua formação como dramaturga.
O primeiro grupo de teatro do qual Sonia participou foi A Barca, a Companhia da Escola de
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Teatro, entre 1956 a 1959, a qual era dirigida por Martim Gonçalves e Gianni Ratto. Os
espetáculos da Barca, enquanto não ficava pronto o teatro da Escola, o Teatro Santo Antonio,
atual Teatro Martim Gonçalves, se apresentavam em palcos montados, em claustros de igrejas
e praças publicas. O primeiro espetáculo da Barca foi O Boi e o Burro à caminho de Belém, de
Maria Clara Machado, encenado num tablado, atrás da Reitoria da Universidade da Bahia,
Sonia fez o papel de N. Senhora. Ela participou nesse período de peças importantes como: A
Almanjarra de Artur de Azevedo, A Senhorita Júlia de Stridberg, Via Sacra de Henri Gheon, As
três irmãs de Tchecov.
Além da Escola de Teatro, Sonia cursava também a Escola de Biblioteconomia, à pedido de
seus pais, que queriam uma profissão mais segura para a filha. Por isso ela passa a cuidar
também da Biblioteca da Escola de Teatro. Em 1959, uma forte dissidência com o diretor da
Escola, Martim Gonçalves, leva Sonia e um grupo de alunos a abandonarem a Escola,
acompanhados do professor João Augusto Azevedo.
Com a saída da Escola de Teatro, em 1959, ela e os outros alunos dissidentes, sob a direção
de João Augusto, fundam o Teatro dos Novos a primeira companhia profissional de teatro de
Salvador, que atualmente, ainda funciona e tem mais de 50 anos de existência. Paralelamente
o grupo cria uma empresa a Sociedade Teatro dos Novos Ltda., para gerir o grupo e o futuro
Teatro. Faziam parte do Teatro dos Novos os atores Carlos Petrovich, Carmem Bittencourt,
Echio Reis, Thereza Sá, Othon Bastos, Sonia Robatto e o diretor João Augusto Azevedo. A
primeira sede do grupo foi na Graça, num casarão desocupado, prestes a ser demolido. Todos
os atores trabalhavam também fora, tentando ajudar a manter o grupo. Em Salvador, o único
teatro existente era o da Escola de Teatro, além de auditórios de colégios.
Os Novos se apresentavam nas praças públicas, nas fachadas e claustros das igrejas, fazendo
também apresentações no interior, em cidades como Ilhéus, Nazaré das Farinhas, Santo
Amaro da Purificação. Ela nos conta, que chegaram até a bater, de porta em porta, no interior,
vendendo os ingressos das peças. O grupo viajava em cima de um caminhão, juntamente com
o cenário. O primeiro espetáculo do Teatro dos Novos foi O Auto do Nascimento, uma peça de
Natal de autoria da própria Sonia. Nesse período, Os Novos montaram também as seguintes
peças: Brasil Antigo, Pluft o Fantasminha, O Casaco Encantado, História da Paixão do Senhor.
Sonia participou de todas.
Com a ajuda do jornalista e poeta Odorico Tavares, o grupo se muda para um pequeno prédio,
onde tinha sido a Galeria Oxumaré, no Passeio Público, pertencente à Radio Sociedade da
Bahia. Ao lado, mais tarde, seria construída a casa do grupo, o Teatro Vila Velha. Com um
projeto arquitetônico, feito pelo seu irmão, Silvio Robatto, ela e outros membros dos Novos
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pedem ao governador Juracy Magalhães a doação, à título precário, de um terreno no Passeio
Público, atrás do Palácio da Aclamação, onde seria construída a sede do Teatro dos Novos. A
solicitação foi atendida. O grupo começou uma intensa campanha para levantar fundos para a
construção. O Governo do Estado e a Prefeitura patrocinaram parte da obra. O restante foi
levantado entre os amigos do grupo, artistas e empresários. As doações chegavam em
dinheiro ou em material de construção. Alguns pintores, de muita expressão na Bahia, doaram
quadros para um leilão, em benefício da construção do Teatro. O grupo se apresentava em
auditórios de escolas e outros espaços improvisados. Para viabilizar os figurinos das peças
criaram diversas campanhas, e dentre elas- Os Novos aceitam tudo o que é velho- e assim foi
montado um grande guarda roupa.
Mais uma iniciativa, dentre tantas outras que ocorreram para a captação de recursos, como o
Livro de Ouro, a venda de cerâmicas e antiguidades. Finalmente, em 31 de Julho de 1964,
nasce o Teatro Vila Velha, depois de 5 anos de intenso trabalho e árdua dedicação. Entre os
espetáculos apresentados na inauguração do Vila, estava um show antológico de Bossa Nova,
de grandes amigos - Nós por exemplo. Participavam do show Maria da Graça (nossa Gal
Costa), Maria Bethania, Tom Zé, Caetano Veloso, Fernando Lona.
O primeiro espetáculo dos Novos montado no seu teatro foi a peça de Gianfrancesco Guarnieri,
Eles não usam Bleque-tai. Sonia fez o papel de Maria. Estávamos em plena ditadura e o Teatro
dos Novos sentia o peso da censura, constante. O Teatro virou um ponto de resistência à
ditadura. A vida ficou perigosa para todos. Em março 1965, Sonia casa-se com Caloca
Fernandes e muda-se para o Rio de Janeiro. Lá entra em contato com o jornalista e político
Carlos Lacerda, que a convida para trabalhar na sua autobiografia Rosas e pedras do meu
caminho que reconstituiria a vida do jornalista. O papel da escritora era entrevistar os familiares
registrando fatos históricos e curiosos. Em 1967 o marido de Sonia é transferido para São
Paulo e eles se mudam do Rio. Em São Paulo ela começa a despertar seu desejo de escrever
para crianças, sonho este que já a vem acompanhando durante toda a sua trajetória. Em 1969
Sonia apresenta à Editora Abril um texto seu infantil inédito: A História da Sapa Cristina e
acaba sendo convidada para ser a criadora e editora da Revista Recreio. Sonia, com o
ilustrador Waldyr Igayara criou o projeto do Recreio, uma revista infantil para leitores iniciantes.
A proposta era aliar cada história a exercícios que desenvolvessem a motricidade, a
discriminação visual, baseados nos princípios de Jean Piaget. Recreio começou quinzenal,
passando logo a ser semanal, devido ao seu grande sucesso. Vendia de 800 mil a 1 milhão de
exemplares, por mês. Em vista da nova periocidade, ela teve que aumentar o número de
colaboradores. Muitos escritores infanto-juvenis, agora consagrados, foram por ela lançados
em Recreio. Por exemplo: Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos e muitos
outros. O mesmo acontecendo com ilustradores.
Mais tarde, Sonia trabalhou em diversas editoras: Editora Três, Editora Bloch, Editora Saraiva,
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Editora Abril Cultural. Para a Editora 3 criou e desenvolveu o projeto editorial de quatro revistas
da série de televisão Vila Sésamo.. Até que em 1980 Sonia cria a sua própria empresa a
Editora Estúdio Sonia Robatto Ltda., O Estúdio se dividia entre o setor de trabalhos gráficos
(revistas, fascículos, livros) e a Cozinha Experimental, realizando também a produção culinária,
para anúncios de televisão e fotos. Ela menciona que criou e editou 19 livros de culinária para
a Editora Globo. Hoje em dia o seu Estúdio faz também a produção de peças teatrais, em
Salvador. Já nos anos 80, Sonia envereda por mais uma área: a música. Ela cria, no seu
Estúdio, para a Editora Abril, a coleção Taba. uma série de 43 fascículos, com histórias infantis,
de escritores nacionais, cada uma acompanhada por um disco, com a participação de cantores
e compositores brasileiros, como: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Nara leão, Tom
Zé, Milton Nascimento... Toda a coleção teve a direção musical de Tom Zé. Um fato curioso é a
participação da cantora Nara Leão, que regravou A Banda, especialmente para o projeto.
Histórias como O Vaqueiro Misterioso, O Bicho Folhagem, A Ratinha Ritinha e Marte Invade a
Terra fazen parte dessa coleção. Os escritores e ilustradores de Recreio participaram de Taba.
Para a Editora 3 ela criou e desenvolveu o projeto editorial de quatro revistas, da série de
televisão Vila Sésamo.
Ela menciona também que criou e editou 12 livros de culinária, para a Globo. Hoje em dia o
seu Estúdio faz também a produção de peças teatrais, em Salvador. Em 1994, Ângela Andrade
e Marcio Meirelles entram como sócios do Sociedade Teatro dos Novos e começam um
imenso trabalho de captação de recursos, para reconstrução do Teatro Vila Velha. A obra ficou
pronta em 1998 e o Vila se transformou num teatro moderno, muito bem equipado
tecnicamente e muito confortável, com central de ar condicionado. Sonia retorna aos palcos de
Salvador, no espetáculo de Marcio Meirelles - Um tal de Dom Quixote, que comemorava a
restauração do Teatro Vila Velha. Mas é em 2001 que ela volta a residir em Salvador e
participa, como protagonista, de um de seus espetáculos mais importantes: Pé de Guerra,
baseado num livro seu, com adaptação e direção de Márcio Meirelles. Esse espetáculo ganhou
o prêmio Copene de melhor montagem no mesmo ano. Em 2007, a sua peça infantil A Ciranda
do Medo foi montada pelos Novos Novos, companhia Infanto-Juvenil do Vila Velha, dirigida por
Débora Landim.
Outra peça importante de sua autoria, montada em 2012, é O Olho de Deus. O texto da peça é
de Sonia, com a colaboração de Marcio Meirelles, que faz também a direção do espetáculo.
Sonia atua também na peça. Ela tem uma imensa produção de histórias infantis (mais de
quatrocentas) publicadas em livros, fascículos e revistas. Embora Sonia tenha residido por um
logo tempo fora de Salvador, ela sempre participou, como hoje participa, de tudo o que diz
respeito ao Vila e à Companhia Teatro dos Novos. Continua escrevendo histórias infantis e
peças. E sobe no palco, com muita alegria, frequentemente. Sonia Robatto é uma artista do
Brasil, mas é na Bahia e no Teatro Vila Velha que ela quer encerrar sua história:
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"Eu quero ficar aqui nesse teatro (Vila Velha), fazendo teatro, assistindo teatro até ficar bem
velhinha". Sonia Robatto em entrevista a Outra Companhia de Teatro.
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