Avaliação da infiltração marginal entre uma resina do tipo Flow e

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ISSN 1806-7727
Avaliação da infiltração marginal entre uma
resina do tipo Flow e um cimento de ionômero
de vidro modificado por resina
Evaluation of marginal leakage between a
flowable composite resin and resin-modified
glass ionomer cements
Álvaro VOLPATO*
Andressa RAYMUNDO*
Francisco BUJARDAO*
Cleber Machado de SOUZA**
Endereço para correspondência:
Cleber Machado de Souza
Rua Belém, 892 – ap. 1.306 – Cabral
Curitiba – PR – CEP 80035-170
E-mail: [email protected]
* Alunos de graduação do curso de Odontologia do UnicenP/PR
* Professor Adjunto de clínica integrada do UnicenP/PR
Recebido em 21/9/05. Aceito em 14/10/05.
Palavras-chave: resina
composta; infiltração
marginal; ionômero de
vidro.
Resumo
O objetivo do presente estudo foi avaliar, in vitro, a infiltração marginal
entre uma resina do tipo Flow (Fill Magic Flow®) e um cimento de ionômero
de vidro modificado por resina (Vitremer®). Selecionaram-se para este estudo
40 pré-molares humanos extraídos. Os dentes foram randomizadamente
separados em dois grupos. Cavidades classe V foram preparadas com
margem estendida apicalmente. Todos os dentes foram submetidos à
ciclagem térmica com 250 ciclos e, em seguida, à fuscina básica 0,5%, para
a análise do grau de infiltração ao longo de todas as paredes do preparo. A
pesquisa mostrou que o cimento de ionômero de vidro modificado por
resina apresentou os piores resultados (p < 0,05).
Abstract
The aim of the present study was to evaluate, in vitro, the leakage between a
flowable composite resin (Fill Magic Flow®) and resin-modified glass ionomer
40
Volpato et al.
– Avaliação da infiltração marginal entre uma resina do tipo Flow e um cimento de ionômero
de vidro modificado por resina
Keywords: composite
resin; leakage; glass
ionomer.
cements (Vitremer®). Forty extracted human premolars were selected for
this study. The teeth were randomly assigned into two groups. Class V
cavities were prepared with margin extended apically. All teeth were
subjected to thermocycling with 250 cycles. Afterwards, the teeth were
submitted to a basic fuccina 0,5% to be analyzed to the infiltration degree
throughout the walls of the preparation. The results showed that resinmodified glass ionomer cements present the worst results (p < 0,05).
Introdução
Inúmeros são os benefícios advindos de uma
efetiva união dos materiais restauradores aos tecidos
dentários. Entre eles citam-se: o preparo cavitário
pode ser mais conservador, e a descoloração
marginal é reduzida, bem como a infiltração marginal
e o risco de injúrias pulpares [12].
Atualmente, as resinas compostas em conjunto
com os adesivos dentinários, cimentos de ionômero
de vidro modificados por resina e resinas compostas
modificadas do tipo Flow ocupam um lugar de
destaque na odontologia, em função das
propriedades adesivas que apresentam.
Entretanto, se a união ao esmalte é uma prática
facilmente obtida e de sucesso, a união à dentina/
cemento é mais difícil e de longevidade ainda
questionável [2, 12]. A grande falha das restaurações
estéticas continua centrada nas margens cervicais
localizadas em dentina ou cemento, em que a
adesividade é mais difícil de ser obtida por causa
da complexa estrutura dentinária e da contínua
exsudação de fluidos advindos da polpa [1]. Outro
fator importante é o vedamento das margens
cavitárias localizadas em dentina e cemento. A
utilização de materiais fotoativados também é
comprometida pela contração de polimerização que
sofrem [11].
Atualmente, os materiais estéticos constituem
a melhor opção para restaurações classe V, mas o
grande número de produtos disponíveis no mercado
e a sua curta permanência muitas vezes dificultam
uma longa avaliação clínica.
O objetivo deste trabalho foi avaliar, in vitro, a
infiltração marginal entre uma resina do tipo Flow e
um cimento de ionômero de vidro modificado por
resina.
Material e métodos
Foram avaliados 40 pré-molares humanos com
pelo menos uma face hígida, extraídos e mantidos
conservados em solução fisiológica. Os dentes foram
separados em dois grupos de forma aleatória.
Posteriormente foram realizadas cavidades classe V
com margem estendida apicalmente em 1 mm [3]
com broca diamantada número 1.013 em spray ar/
água. Para padronização dos preparos, utilizou-se
matriz metálica fenestrada como guia, com as
seguintes dimensões: 4 mm para a distância mésiodistal, 3 mm para a distância cérvico-oclusal e 2
mm de profundidade [2]. Todas as margens foram
terminadas em 90º com a superfície externa. O
sistema adesivo usado foi o Prime & Bond 2.1
(DENTSPLY®), aplicado conforme instrução do
fabricante.
Foram usados os seguintes materiais
restauradores: resina do tipo Flow (Fill Magic Flow®
– VIGODENT) e cimento de ionômero de vidro
modificado por resina (Vitremer® 3M).
Todas as restaurações receberam acabamentos
imediatos com lâmina de bisturi número 12
(STERELI Med Blade ®) para eliminar excessos
grosseiros. O polimento foi executado com discos
Sof-Lex ® (3M) após 48 horas, exceto para o
Vitremer®, para o qual o fabricante recomenda
acabamento imediato.
Todos os dentes tiveram seus ápices selados
com resina composta fotopolimerizável. Para o
isolamento dos dentes, delimitou-se a área ao redor
da restauração com 1 mm aquém da interface dente/
restauração, procedendo-se então à pintura deles
com esmalte de unha incolor (Riské®, secagem
rápida), em três camadas, com intervalos de
aplicação até secagem completa [2].
Para verificação da infiltração marginal, os
espécimes foram submetidos a um processo de
ciclagem térmica com 250 ciclos alternados entre 5
e 70 (+/- 2ºC). O tempo de permanência em cada
estágio foi de 1 minuto. Após esse processo os dentes
foram mergulhados em solução aquosa de fucsina
básica a 0,5% (agente traçador) durante 24 horas a
37ºC. Em seguida os dentes foram lavados,
abundantemente, em água corrente por 24 horas.
Os dentes foram seccionados no sentido
vestíbulo-lingual, através do centro da restauração,
utilizando-se disco diamantado e flexível dupla face
RSBO v. 2, n. 2, 2005 –
para peça de mão (KG Sorensen®). Em um total de
80, cada face resultante era então submetida à
análise do grau de infiltração ao longo de todas as
paredes do preparo, com auxílio de lupa
estereoscópica (40X). Dois examinadores
calibrados determinaram os escores baseados no
grau de penetração do agente traçador (figura 1) e,
em caso de discordância, um consenso era obtido
por eles. Graus: 0 – nenhuma penetração do agente
traçador; 1 – penetração do agente traçador no
início da restauração em esmalte/cemento; 2 –
penetração do agente traçador até metade da
profundidade da parede cervical da restauração; 3
– penetração do agente traçador até a parede axial;
4 – penetração do agente traçador ao longo da
parede axial, em direção à câmara pulpar.
41
Gráfico 1 – Distribuição do número absoluto dos escores de
infiltração
Discussão
Figura 1 – Escores dos graus de infiltração do agente traçador
Resultados
Após a fase laboratorial da pesquisa, os
resultados encontrados foram tabulados e
divididos nos grupos estabelecidos de acordo com
a escala de infiltração, como mostram a tabela 1
e o gráfico 1.
Os resultados mostraram que a resina do tipo
Flow foi a que menos apresentou infiltração marginal
in vitro nos maiores escores (3 e 4) de infiltração do
agente traçador. O cimento de ionômero de vidro
modificado por resina apresentou os piores
resultados (p < 0,05).
Tabela 1 – Resultados gerais nos graus de infiltração.
Número e porcentagem das faces envolvidas dentro dos
escores
A microinfiltração marginal é uma das principais
deficiências apresentadas pelas restaurações em resina
composta. Como a infiltração marginal é a passagem
de fluidos, moléculas ou íons através da interface dente/
restauração, o grau dela é dependente da eficiência do
selamento entre o material e a cavidade. O selamento
dessa interface está diretamente relacionado com
propriedades inerentes ao material, como contração
de polimerização e coeficiente de expansão térmica. A
resina composta tem sido melhorada em relação a
essas propriedades, mas até o presente momento os
materiais não permitem a confecção de restaurações
perfeitamente adequadas e seladas [13].
Esta pesquisa avaliou dois materiais
restauradores. Os resultados mostraram que alguns
espécimes não tiveram infiltração marginal na borda
da restauração, discordando com o trabalho de
Gomes [5], o qual indica que todos os espécimes
apresentaram infiltração pelo agente traçador.
St. Georges et al. [10] estudaram a
microinfiltração em cavidades de classe V em dentes
humanos (pré-molares) usando diferentes técnicas
de restauração, materiais e tipos de polimerização.
Encontraram maior infiltração na região da dentina
do que na região de esmalte, independentemente da
técnica e do material empregados.
Os resultados obtidos neste trabalho discordam
dos alcançados por vários autores [4, 6, 7, 8, 9],
que consideram melhores os efeitos com a utilização
do cimento de ionômero de vidro modificado por
resina Vitremer®.
42
Volpato et al.
– Avaliação da infiltração marginal entre uma resina do tipo Flow e um cimento de ionômero
de vidro modificado por resina
Conclusão
Os parâmetros avaliados mostram que o cimento
de ionômero de vidro modificado por resina Vitremer®
apresentou, nesta avaliação, os piores resultados
quando comparados com a resina do tipo Flow Fill
Magic Flow®.
Referências
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cimento de ionômero de vidro. Odonto 10. Caderno
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2. Araújo M A M et al. Avaliação da infiltração
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restauradores. [Dissertação – Mestrado]. Bauru:
Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade
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V restauradas com três diferentes sistemas
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Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual
Paulista; 1998. 164 f.
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microleakage of class II composites. J Esth Dent
1996 May; 8(3): 107-13.
7. Oliveira A H. Avaliação da microinfiltração e da
ação anticariogênica em restaurações com resina
composta associada a outros materiais. [Tese –
Doutorado]. Bauru: Faculdade de Odontologia de
Bauru, Universidade de São Paulo; 1999. 135 p.
8. Pin M L G. Avaliação da infiltração marginal em
restaurações classe II modificadas, confeccionadas
com um cimento de ionômero de vidro
convencional, dois cimentos de ionômero
modificado por resina e uma resina composta
modificada por poliácidos: Estudo in vitro.
[Dissertação – Mestrado]. Bauru: Faculdade de
Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo;
1979. p. 124.
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adesivos dentinários na infiltração marginal de
restaurações realizadas com um cimento de
ionômero de vidro modificado por resina e uma
resina modificada por poliácidos. [Dissertação –
Mestrado]. Bauru: Faculdade de Odontologia de
Bauru, Universidade de São Paulo; 1997. p. 108.
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techniques: an in vitro study. Am J Dent 2002 Aug;
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11. Taylor M J, Lynch E. Microleakage. J Dent 1992
Jan/Feb, 20(1): 3-10.
12. Tyas M J. Clinical evaluation of five adhesive systems:
three-year results. Int Dent J 1996; 46: 10-4.
13. Vieira R S. Avaliação in vitro da infiltração
marginal de restaurações classe II com resina
composta fotoativada em molares decíduos. [Tese
– Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia,
Universidade de São Paulo; 1991. p. 208.
ISSN 1806-7727
Análise dos acidentes e complicações em
cirurgias de terceiros molares inferiores retidos
ocorridos em Curitiba (PR)1
Analysis of accidents and complications in
surgical removal of impacted mandibular third
molars occurred in Curitiba/PR
Fabiano Geronasso SIMÕES*
Gustavo Paizani SANTOS**
Márcia OLANDOSKI***
Odilon GUARIZA****
Endereço para correspondência:
Fabiano Geronasso Simões
Rua Nicolau José Gravina, 65
CEP 82010-020 – Curitiba – PR
* Acadêmico de Odontologia do Centro Universitário Positivo (UNICENP/PR). Chefe dos acadêmicos do serviço de cirurgia e traumatologia
bucomaxilofacial do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC).
** Acadêmico de Odontologia do Centro Universitário Positivo (UNICENP/PR).
*** Licenciada em Matemática (UFPR). Mestre em Estatística (UFRJ). Professora do UNICENP e coordenadora do Núcleo de Bioestatística
dos cursos de Mestrado e Doutorado em Medicina da PUC-PR.
**** Cirurgião-dentista graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial. Professor Adjunto aposentado pela UFPR. Professor de Cirurgia Bucomaxilofacial do curso de Odontologia da PUCPR. Professor do curso de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do curso de Odontologia do UNICENP/PR. Membro da Academia
Paranaense de Odontologia. Membro Titular Praticante do Colégio Brasileiro de Cirurgia.
Recebido em 17/8/05. Aceito em 11/9/05.
Palavras-chave:
retenção dentária;
complicações
cirúrgicas; terceiro
molar inferior retido.
1
Resumo
A retenção dentária, principalmente dos terceiros molares, apresenta-se
como um problema de freqüência relevante que atinge indivíduos de todas
as camadas sociais. Em termos estatísticos, o maior volume dessas inclusões
fica por conta dos terceiros molares, os inferiores com maior incidência que
os superiores. Acidentes e/ou complicações são inerentes a qualquer ato
cirúrgico bucal. Tendo isso em vista, o objetivo deste trabalho foi analisar os
acidentes e as complicações em cirurgias de terceiros molares inferiores
retidos, por intermédio de questionário direcionado aos especialistas em
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Neste estudo foram incluídos
28 cirurgiões-dentistas, cujo tempo médio como especialista em Cirurgia e
Trabalho realizado no Centro Universitário Positivo (UNICENP/PR).
44
Simões et al.
– Análise dos acidentes e complicações em cirurgias de terceiros molares inferiores retidos ocorridos em Curitiba (PR)
Traumatologia Bucomaxilofacial foi de 15,1 anos, com desvio-padrão de
11,8 anos. O tempo mediano foi de 14,5 anos, o menor tempo de especialista
observado foi de 1 ano e o maior foi de 47 anos. Considerando-se que o
tempo como especialista apresentou grande dispersão entre os
pesquisados, os resultados obtidos no estudo em relação às diversas
perguntas do questionário foram analisados pelo número de casos por
ano. Os resultados alcançados foram 61% de lesões do nervo alveolar
inferior, 54% de hemorragia transoperatória e 50% de lesões do nervo
lingual. Conclui-se com o presente estudo que o número de acidentes e
complicações é baixo, tornando-se ainda menor quando o tempo do
cirurgião-dentista na especialidade cresce.
Keywords: dental
retention; surgical
complications;
restrained inferior third
molars
Abstract
The dental retention, mainly of the third molar ones, is presented as a
problem of relevant frequency that reaches individuals of all the social
classes. In statistical terms, the highest volume of these inclusions is for
account of the third molar ones, being the inferiors in higher incidence
than the superiors. Accidents and/or complications are inherent to any
buccal surgical act. In view of this importance, the objective of this work
was to analyze the accidents and complications in surgeries of restrained
inferior third molars through questionnaire directed to the specialists in
Surgery and Bucomaxilofacial Traumatology. In this study 28 dental
surgeons, whose average time of specialist in Surgery and Bucomaxilofacial
Traumatology was of 15,1 years, with shunting line standard of 11,8 years
have been enclosed. The medium time was of 14,5 years, the shortest
time of observed specialist was of 1 year and the longest was of 47 years.
Considering that the time as specialist presented great dispersion among
the searched ones, the results gotten in the study in relation to the several
questions of the questionnaire have been analyzed for the number of
cases per year. The gotten results have been 61% of injuries of the inferior
alveolar nerve, 54% of transoperation hemorrhage and 50% of injuries of
the lingual nerve. It is concluded with the present study that the number
of accidents and complications is low and getting even lower when the
time of the dental surgeon in the specialty grows.
Introdução
Dentes retidos são aqueles que, chegada a
época de sua erupção, não a realizam, seja por
razões mecânicas ou patológicas, mantendo ou não
comunicação com a cavidade bucal [7]. A retenção
dentária, principalmente dos terceiros molares,
apresenta-se como um problema de freqüência
relevante que atinge indivíduos de todas as camadas
sociais [6]. Muitos fatores concorrem para que isso
ocorra: o crescimento da caixa craniana em
detrimento dos maxilares, a dieta cada vez menos
exigente do aparelho estomatognático, a consciência
de uma odontologia preventiva, em que o paciente
não mais sofre mutilações em seu período de
infância e adolescência, adentrando a idade adulta
com todos os elementos dentários no arco, gerando
falta de espaço etc. [1, 4].
A evolução da cirurgia odontológica, graças aos
atuais conhecimentos de técnicas cirúrgicas
requintadas, capacita o cirurgião-dentista a intervir
com segurança, de modo a reduzir o número de
acidentes e complicações. Acidentes e/ou
complicações são inerentes a qualquer ato cirúrgico
bucal [5]. Mas, apesar desse conhecimento,
qualquer descuido ou inobservância de técnica
poderá causar acidentes com conseqüências graves
para o paciente, bem como as resultantes
complicações [2]. Tendo em vista a gravidade e o
desconforto das complicações locais e sistêmicas
relacionadas à retenção do terceiro molar, a
literatura odontológica tem indicado a extração
profilática do dente retido. A maioria dos acidentes
e complicações na cirurgia de dentes inclusos
decorre de erros de avaliação, do mau uso de
RSBO v. 2, n. 2, 2005 –
instrumentos, da aplicação de força inadequada e
de visualização dificultada. Essas intercorrências
podem se dar no transoperatório ou no pósoperatório [3].
Material e métodos
Após demonstrar os objetivos desta pesquisa
por meio de carta, foram solicitados ao presidente
Quadro 1 – Questionário
45
do CRO-PR o número de especialistas inscritos em
Cirurgia e Traumatologia e seus respectivos dados
para contato.
Elaborou-se, com base na literatura, um
questionário com 29 perguntas sobre os acidentes
e as complicações em cirurgia de terceiro molar
retido. O questionário (quadro 1) foi entregue em
mãos a todos os especialistas da lista fornecida pelo
CRO-PR e após o preenchimento foi recolhido.
46
Simões et al.
– Análise dos acidentes e complicações em cirurgias de terceiros molares inferiores retidos ocorridos em Curitiba (PR)
Os resultados obtidos no estudo foram
expressos por médias e desvios-padrão ou por
freqüências e percentuais. Para a comparação de
dois grupos em relação a variáveis quantitativas, foi
usado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney.
Valores de p < 0,05 indicam significância estatística.
Resultados e discussão
Neste estudo foram incluídos 28 cirurgiõesdentistas cujo tempo médio como especialista em
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial foi de
15,1 anos, com desvio-padrão de 11,8 anos. O
tempo mediano foi de 14,5 anos, o menor tempo
como especialista observado foi de 1 ano e o
maior foi de 47 anos. Considerando-se que esse
parâmetro apresentou grande dispersão entre os
pesquisados, os resultados obtidos no estudo em
relação às diversas perguntas do questionário
foram analisados pelo número de casos por ano.
Os resultados são apresentados na tabela 1 e na
figura 1.
Tabela 1 – Resultados descritivos dos acidentes ou complicações em cirurgias – Freqüências e percentuais de
cirurgiões-dentistas que relataram ter tido acidentes ou complicações e número de casos por ano entre os relatos
(*) A mediana do tempo de duração da parestesia foi de 10 horas, com valor mínimo de 2 horas e valor máximo de 48 horas. Em
64% dos casos foi usada medicação.
RSBO v. 2, n. 2, 2005 –
47
Figura 1 – Acidentes ou complicações relatados por pelo menos 35% dos cirurgiões pesquisados
Para cada tipo de acidente ou complicação
relatada por pelo menos 35% dos cirurgiõesdentistas, investigou-se a associação entre o tempo
de experiência como especialista em Cirurgia e
Traumatologia Bucomaxilofacial (até 10 anos ou
mais de 10 anos) e o número de casos de acidentes
ou complicações por ano. Para isso, testou-se a
hipótese nula de que o número de casos por ano
entre os cirurgiões com até 10 anos de experiência
é igual ao número de casos por ano entre os
cirurgiões com mais de 10 anos de experiência,
versus a hipótese alternativa de resultados de
número de casos por ano diferentes. Os resultados
são apresentados na tabela 2.
Tabela 2 – Número de casos por ano de acidentes ou complicações, de acordo com o tempo de especialista do
cirurgião-dentista
Os valores de p em negrito indicam os tipos de acidente ou complicação para os quais há diferença
significativa entre cirurgiões com até 10 anos como especialista e cirurgiões com mais de 10 anos
como especialista. Observando-se os resultados descritivos na tabela 2, percebe-se que, para esses
acidentes ou complicações, o número mediano de casos por ano é menor para os cirurgiões com mais
de 10 anos como especialista.
48
Simões et al.
– Análise dos acidentes e complicações em cirurgias de terceiros molares inferiores retidos ocorridos em Curitiba (PR)
Conclusão
Pelos resultados obtidos, conclui-se que o
número de acidentes e complicações relacionados
à cirurgia de terceiros molares retidos é baixo,
sendo diretamente proporcional ao tempo de
especialidade do cirurgião-dentista.
Referências
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Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1984.
2. Mariano R C, Leite M C, Barbosa O T, Leite E P R
C. Exodontia – Acidente. Deslocamento de um 3.º
molar inferior para o espaço submandibular. Rev
Assoc Paul Cir Dent 1990 Set/Out; 44(5): 271-3.
3. Medeiros P J. Acidentes e complicações. In:
Medeiros P J. Cirurgia dos dentes inclusos,
extração e aproveitamento. Rio de Janeiro: Santos;
2003, p. 131-44.
4. Petterson L J. Cirurgia oral e maxilofacial
contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
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5. Ribeiro P D, Gonçales E S, Padovan L E M,
Valarelli T P. Enfisema transcirúrgico durante
exodontia de terceiro molar. Rev Assoc Paul Cir
Dent 2004; 58(2): 128-31.
6. Vecchi A, Fernandes F S, Gonçalves F A, Burzlaff
J B, Barbizan A O, Caminha J A N. Complicações
pré-operatórias associadas à retenção dos 3. os
molares inferiores. Rev Facul Odontol Porto Alegre
2000 Dez; 42(2): 44-50.
7. Zorzetto D L G, Marzola C, Toledo J L, Pastori
C M, Lobo S E. Cirurgia de terceiros molares
inferiores retidos. RGO 2000 Abr/Maio/Jun; (2):
102-8.
ISSN 1806-7727
Os efeitos dos fatores hormonais nos tecidos
periodontais
The effects of sexual hormone factors in
periodontal tissues
Maria Dalva de Souza SCHROEDER*
Constanza Marin ODEBRECHT**
Maurício Colin Barbosa CORDEIRO***
Claudia Gastaldi de M. M. Lopes CORREA****
Endereço para correspondência:
Maria Dalva de Souza Schroeder
Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE)
Departamento de Odontologia
Campus Universitário, s/n.º – Bom Retiro
Joinville – SC – Caixa Postal 246
* Professora da disciplina de Periodontia e Atividades Clínicas do curso de graduação em Odontologia da UNIVILLE.
** Professora da disciplina de Periodontia e Atividades Clínicas do curso de graduação em Odontologia da UNIVILLE.
*** Professor da disciplina de Periodontia e Atividades Clínicas do curso de graduação em Odontologia da UNIVILLE.
**** Professora da disciplina de Endodontia e Atividades Clínicas do curso de graduação em Odontologia da UNIVILLE.
Recebido em 13/10/05. Aceito em 31/10/05.
Palavras-chave:
gengivite; fatores
hormonais; placa
bacteriana.
Keywords:
gingivitis; factors sexual
hormones; dental
plaque.
Resumo
Os autores apresentam um caso clínico de gengivite associada à placa
bacteriana, provavelmente influenciada por fatores hormonais (puberdade).
São abordados no presente relato os aspectos clínicos, bem como o resultado
obtido após a realização de tratamento adequado.
Abstract
The authors present a clinical case of gingivitis associated to dental plaque,
probably influenced by sexual hormones (puberty) factors. Clinical aspects,
as well as the results after adequate, treatment are approached in the
present report.
50
Schroeder et al.
– Os efeitos dos fatores hormonais nos tecidos periodontais
Introdução
A doença periodontal tem sido definida como
aquela que apresenta uma série de alterações que
afetam as estruturas do periodonto de proteção e
sustentação, com características infecciosas
dependentes da agressividade dos fatores da placa
bacteriana em relação à resposta imunológica do
hospedeiro [7, 9]. As doenças periodontais
comumente conhecidas são a gengivite e a
periodontite. A gengivite é uma doença inflamatória
que acomete o periodonto de proteção, enquanto a
periodontite resulta na perda de inserção e/ou
reabsorção do osso alveolar. Os fatores hormonais
são aqueles que atuam sobre o corpo em
determinadas fases da vida de um indivíduo, sendo
capazes de modificar a resposta dos tecidos à irritação
bacteriana, influenciando o progresso, a intensidade
e a resposta da doença periodontal ao tratamento.
As alterações nos níveis de hormônios durante
a puberdade, a gestação e a menopausa podem
modificar a resposta do hospedeiro em relação à
placa bacteriana, aumentando a intensidade de
progressão da doença periodontal [1, 2, 8].
A puberdade é caracterizada por uma série de
mudanças fisiológicas no organismo, fase na qual
podem ser detectadas algumas alterações
transitórias no metabolismo tecidual [7, 11].
A incidência de gengivite alcança seu extremo
na puberdade, mesmo que o índice de placa se
mantenha o mesmo no indivíduo. Alguns autores
demonstraram que o desequilíbrio na secreção de
certos hormônios em homens e mulheres na
adolescência é um dos fatores que promovem a
gengivite na puberdade, podendo iniciar na infância
e progredir na adolescência, porém sem resultar na
perda de dentes na fase adulta [1, 2, 7, 8].
Entretanto alguns estudos na literatura têm
mostrado que a influência da higiene oral na
condição gengival durante a puberdade poderia ser
mais importante do que o aumento dos níveis de
hormônios esteróides [9, 11, 14].
A alta concentração de hormônios sexuais no
tecido gengival, saliva e fluido crevicular gengival
poderia exacerbar a resposta tecidual, e os
hormônios esteróides parecem ser capazes de
influenciar a flora bacteriana normal induzindo
alterações na flora subgengival, aparecendo
comumente a gengivite na puberdade (30%) e na
gravidez (75%) [3, 5, 10].
Relato do caso clínico
A paciente S. S. M., de 15 anos, compareceu à
clínica odontológica da UNIVILLE com sinais e
sintomas clinicamente de uma gengivite severa. Feita
a anamnese completa, observou-se que o estado geral
da paciente era normal. Ela apenas relatou que alguns
meses atrás sua gengiva costumava ficar muito
vermelha quando menstruava e que procurou o
dentista porque esta estava sangrando muito. Feito o
exame radiográfico, constatou-se que não havia perdas
ósseas, o que mostrava não se tratar de periodontite
agressiva. A presença de placa bacteriana e cálculo
era generalizada em todos os sítios da boca, indicando
que a paciente não tinha um controle eficiente de
higiene oral e necessitava de tratamento periodontal e
acompanhamento profissional com instrução de
técnicas de higiene oral, para que o problema fosse
debelado e controlado. A figura 1 apresenta o exame
clínico inicial, em que se constatou hiperplasia gengival
generalizada com acúmulo de placa bacteriana.
Figura 1–Hiperplasia gengival generalizada com acúmulo de
placa bacteriana
Sinais e sintomas
•
•
•
•
•
Presença de sangramento gengival durante
a escovação sem sintomatologia dolorosa;
O exame clínico extra-oral apresentava-se
normal;
O exame clínico intra-oral apresentava
hiperplasia gengival generalizada em toda
a boca, com pouca presença de cálculo
supragengival;
O IPV (índice de placa visível) e o ISG
(índice de sangramento gengival) estavam
alterados em todos os sextantes da boca.
No exame radiográfico não foi evidenciada
nenhuma alteração óssea.
Diagnóstico
Doença gengival associada à placa modificada
por fatores hormonais (puberdade).
RSBO v. 2, n. 2, 2005 –
Tratamento realizado
•
•
•
•
•
Terapia periodontal básica;
Raspagem supra/subgengival;
Alisamento corono-radicular;
Aplicação tópica de flúor;
Educação em saúde com instrução de
higiene oral.
Resultados
Após tratamento realizado, a paciente retornou
em duas semanas, denotando sinais de saúde
periodontal. Não foram observados aumento de
sangramento gengival e placa visível, e a paciente
não apresentava mais hiperplasia gengival
generalizada (figura 2).
51
autores [9, 11]. Entretanto essas alterações ocorrem
sem haver necessariamente um aumento no acúmulo
da placa bacteriana na gengiva [7, 11, 14, 15].
Os desequilíbrios endócrinos sistêmicos
produzem importante impacto no equilíbrio
periodontal, alterando a resposta do hospedeiro ante
a placa bacteriana e na cicatrização da ferida
periodontal [2, 3, 6, 7].
A saúde dos tecidos periodontais encontrase intimamente ligada ao equilíbrio entre fatores
agressores e protetores do periodonto [1, 4, 9]. A
ocorrência da doença gengival e/ou periodontal
está relacionada à susceptibilidade do hospedeiro
e, na presença de placa bacteriana, poderá
exacerbar-se quando associada a fatores ou
condições sistêmicas, como as produzidas pelos
hormônios sexuais femininos, produzindo um
desequilíbrio na homeostasia do periodonto [1,
3, 4, 5, 7, 15].
É importante que o paciente mantenha um
excelente controle de placa para reduzir o risco de
desenvolver problemas periodontais nessa fase da
vida e durante o uso de outros tipos de terapia
hormonal que possam alterar o equilíbrio fisiológico
da gengiva [1, 6, 11, 12, 13, 15].
Conclusão
•
Figura 2–Ausência
de hiperplasia gengival generalizada
Discussão
A placa bacteriana e a doença periodontal
estão devidamente correlacionadas [10]. A
gengivite que se desenvolve durante a puberdade
representa um resultado da ação de irritantes
locais e da alteração do metabolismo tecidual do
periodonto, provocado pelos distúrbios
hormonais que ocorrem nesse período. Tais
condições contribuem para diminuir a resistência
local, favorecendo a ação dos produtos da placa
bacteriana [2, 3, 6, 9].
O diagnóstico diferencial com outros tipos de
patologias periodontais é importante, para se ter
uma diretriz básica no tratamento a ser realizado
com controle da placa bacteriana pelo paciente e
pelo profissional [1, 9, 12].
O aumento da concentração dos hormônios
sexuais femininos na circulação pode desencadear
um processo reacional na gengiva, segundo alguns
•
•
Existe uma interação entre os hormônios
sexuais e os tecidos periodontais durante
a puberdade, exercendo assim um papel
importante no estabelecimento e na
progressão da gengivite, quando esta for
induzida pela placa bacteriana.
O diagnóstico diferencial com outras
doenças é fundamental para instituir o
tratamento adequado.
A terapia periodontal básica deverá ser
capaz de eliminar a resposta inflamatória,
e o controle de manutenção do tratamento
será feito por intermédio de instruções de
higiene oral eficiente.
Referências
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control measures on gingivitis and caries in
Scholchildren Community. Comun Dent Oral
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52
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ISSN 1806-7727
Retratamento endodôntico de incisivo central
inferior com “ilha de dentina” e portador de
lesão periapical: relato de caso
Endodontic retreatment of inferior central
incisor with “dentin island” and periapical
lesion: case report
Renata Grazziotin SOARES*
Luis Eduardo Duarte IRALA**
Alexandre Azevedo SALLES***
Orlando LIMONGI****
Endereço para correspondência:
Renata Grazziotin Soares
Rua Pinheiro Machado, 2.463 – sala 6 – Bairro São Pelegrino
Caxias do Sul – RS – CEP 95020-412
E-mail: [email protected]
*Aluna do curso de Especialização em Endodontia da Sociedade Brasileira de Cirurgiões-Dentistas SOBRACID/SOBRACURSOS,
Porto Alegre (RS).
** Especialista em Dentística Restauradora. Especialista e Mestre em Endodontia. Professor de Endodontia da Universidade Luterana
do Brasil/ULBRA, Canoas (RS), e da SOBRACID/SOBRACURSOS, Porto Alegre (RS).
*** Especialista e Mestre em Endodontia. Professor de Endodontia da ULBRA, Canoas (RS), e da SOBRACID/SOBRACURSOS, Porto
Alegre (RS).
**** Especialista, Mestre e Doutor em Endodontia. Professor de Endodontia da ULBRA, Canoas (RS), e da SOBRACID/SOBRACURSOS,
Porto Alegre (RS).
Recebido em 12/10/05. Aceito em 31/10/05.
Palavras-chave:
anatomia; retratamento;
incisivo.
Resumo
Na Endodontia é de extrema importância que o profissional tenha
conhecimento minucioso da anatomia interna dos dentes, a fim de obter
sucesso nos seus tratamentos, evitando acidentes e complicações. No
presente trabalho foi apresentado um caso clínico em que havia sido
concluída a endodontia de um incisivo central inferior há mais de um ano,
no entanto não regrediram os sinais e os sintomas, bem como persistia a
imagem radiolúcida indicativa de lesão periapical. Após encaminhamento
ao endodontista para retratamento, constatou-se a presença de um segundo
canal não tratado. Isso vem a aclarar que a consciência meticulosa da
anatomia dos canais radiculares e das suas possíveis variações ajuda
sobremaneira o profissional, desde a cirurgia de acesso até a obturação.
Soares et al.
– Retratamento endodôntico de incisivo central inferior com “ilha de dentina” e portador de lesão periapical: relato de
caso
54
Keywords: anatomy;
retreatment; incisor.
Abstract
In endodontics, it’s of extreme importance that the professionals have
meticulous knowledge of the teeth inner anatomy, in order to have success
in their treatments, avoiding accidents and complications. In this study
one clinical case, which had the endodontic treatment of an inferior central
incisor finished just about one year, was reported, however, the signs and
symptoms hadn’t receded, as well as persisted the radio lucid image
indicating the periapical lesion. After forwarding the patient to the
endodontist for retreatment, the presence of a second non-treated canal
was verified. That comes to clarify that the meticulous conscience of the
root anatomy of the canals and of their possible variations is of extreme
help for the professional, from the access surgery to the filling.
Introdução
Para a realização de um tratamento endodôntico
correto pressupõe-se o conhecimento da anatomia
interna do elemento dental. Executar um tratamento
de canal sem a consciência detalhada da anatomia
dentária favorece a ocorrência de insucessos (Scaini
et al. [10]).
Dentes que normalmente são portadores de
uma raiz e um canal podem exibir variações nesse
número, tornando a terapia de canal mais
trabalhosa e, às vezes, levando à ocorrência de
acidentes que provocam o fracasso do tratamento
(Bramante et al. [2]).
O incisivo central inferior é o menor dente da
arcada dentária humana. Apresenta uma raiz
fortemente achatada no sentido mésio-distal, com
sulcos longitudinais em suas faces proximais. Em
conseqüência, o canal radicular também é bastante
achatado no sentido próximo-proximal, o que lhe
confere uma acentuada dimensão vestibulolingual
(Soares e Goldberg [12]; Roldi et al. [9]).
Em virtude desse grau de achatamento
radicular, é comum notarem-se “ilhotas de dentina”
ou bifurcações do canal (Picosse [8]).
O acentuado achatamento mésio - distal
determina a divisão do canal radicular em dois:
um vestibular e outro lingual. Na maioria das
vezes, esses canais convergem para um único
forame apical. Em alguns casos, no entanto,
seguem trajetórias independentes e terminam
apicalmente em forames separados. Cohen e
Burns [3], ao analisarem os incisivos inferiores
do sentido proximal, encontraram diversas
variações na anatomia do conduto radicular,
conforme mostra a figura 1.
Figura 1 – Variações na anatomia dos canais de incisivos inferiores.
Fotografia do livro Caminhos da polpa (Cohen e Burns [3])
Apesar de suas pequenas dimensões, o canal
radicular do incisivo central inferior não oferece
dificuldades à realização do tratamento endodôntico,
uma vez que é, quase sempre, retilíneo. Todavia,
quando da presença de dois canais, os
procedimentos operatórios tornam- se mais
complicados (Soares e Goldberg [12]).
Pécora et al. [6] estudaram a anatomia interna
de 300 incisivos centrais inferiores por meio de
diafanização e constataram a seguinte porcentagem
de distribuição dos tipos de canais encontrados nos
incisivos centrais inferiores: 68% para um conduto,
29,67% para um canal que se divide e se une em
nível apical, terminando em apenas um forame, e
2,33% para dois canais distintos com dois forames.
A técnica da diafanização para estudo da
anatomia dos canais dos dentes incisivos inferiores
também foi a metodologia empregada por Malvar
et al. [5]. Estudaram tanto incisivos centrais como
laterais e concluíram que a anatomia interna desse
grupo de dentes é complexa, sendo encontradas
RSBO v. 2, n. 2, 2005 –
altas incidências de dois canais. Além disso,
afirmaram que a ocorrência de canais laterais,
acessórios e anastomoses é maior nos incisivos
centrais do que nos laterais.
Já de acordo com Roldi et al. [9], os incisivos
centrais inferiores apresentam 100% de chance de
ter uma raiz, 73,4% dos dentes apresentam um
conduto e 26,6% têm dois canais, incluindo
elementos com um e dois forames.
Relativamente aos fracassos endodônticos,
Bramante e Garcia [1] afirmam que, segundo tem
mostrado a literatura, um grande percentual dos
insucessos dos tratamentos endodônticos se deve a
canais deficientemente obturados.
É importante lembrar que a sobrevivência ou
não dos microrganismos em um canal radicular está
na dependência das medidas de desinfecção
empregadas, da escassez de nutrientes, da
possibilidade ou não de atingir com a
instrumentação as distintas áreas do conduto, do
uso de agentes antissépticos e, finalmente, da
resistência intrínseca do organismo. Eventuais
microrganismos que persistam no canal, após sua
obturação, poderão ser reativados, caso ocorra
percolação entre o material obturador e a parede
do canal, levando nutrientes a eles.
Ou seja, durante e após o tratamento
endodôntico, problemas inerentes à anatomia do
dente e à instrumentação muitas vezes contribuem
para a manutenção ou a recidiva de um processo
periapical. Canais extranumerários, por exemplo,
podem passar despercebidos pelo profissional, que
não executará seu tratamento, podendo levar ao
aparecimento ou à perpetuação de uma lesão
perirradicular (Bramante et al. [2]).
A presença de uma lesão em um exame
radiográfico não tem muito significado. É fundamental
que se analisem, antes de optar por um retratamento,
o tempo decorrido do tratamento anterior, o tamanho
atual da lesão e os sinais e sintomas. Decidir por um
retratamento apenas porque o dente exibe uma área
radiolúcida apical, sem considerar esses fatores, pode
fazer com que se incorra no erro de realizar uma
terapêutica sem necessidade.
Indispensável é que, em razão das variações
anatômicas canaliculares, diante de um fracasso
endodôntico, se verifique se o dente não é portador
de dois canais e se certifique de que apenas um deles
tenha sido obturado (Bramante e Garcia [1]).
Desse modo, a meta do presente trabalho foi
relatar o caso clínico de um incisivo central inferior
(dente 31) que apresentava lesão periapical, bem
como sinais e sintomas persistentes após um ano da
conclusão da terapia endodôntica; quando do
retratamento, observou-se a presença de um segundo
canal não tratado.
55
Caso clínico
A endodontia do dente 31 havia sido concluída
há mais de um ano, porém o paciente apresentava
fístula (figura 2), dor à palpação na mucosa da região
apical e imagem radiográfica compatível com lesão
periapical (figura 3).
Figura 2 – Aspecto clínico
Figura 3 – Radiografia de diagnóstico
Após encaminhamento ao endodontista para
retratamento, constatou-se a presença de um segundo
canal não tratado que se dividia em sua parte mais
larga – em decorrência de uma “ilha de dentina” – e
se unia novamente, terminando em um forame apical.
A radiografia de confirmação da odontometria
(figura 4) após a desobturação mostra a presença
da “ilha de dentina” no terço médio da raiz.
Figura 4 – Confirmação da odontometria após desobturação
Soares et al.
– Retratamento endodôntico de incisivo central inferior com “ilha de dentina” e portador de lesão periapical: relato de
caso
56
Confirmada a presença de dois canais, a
abertura coronária deve ser ampliada para
possibilitar a máxima liberdade do instrumento na
direção vestibulolingual (Cohen e Burns [3]). O
instrumento, ao ser inserido no canal, deve ter sua
ponta encurvada e voltada para o lado lingual, onde
geralmente se encontra o canal extranumerário
(Bramante e Garcia [1]).
Os passos da cirurgia de acesso para os incisivos
inferiores são esquematizados no desenho (figura
5), segundo Pécora et al. [7]. Em razão da existência
do canal lingual no dente 31, a abertura foi ampliada
(figura 6).
Figura 7 – Limas memórias posicionadas nos condutos
O hidróxido de cálcio (nome comercial: Calen®)
foi empregado como curativo de demora e
permaneceu por 7 dias, com a intenção de contribuir
para a máxima redução da microbiota endodôntica,
conforme a figura 8 (Siqueira Jr. et al. [11]).
Figura 5 – Passos da cirurgia de acesso para incisivos inferiores,
conforme Pécora et al. [7]
Figura 8 – Fase de medicação intracanal com hidróxido de cálcio
Após esse período, havendo regressão da fístula
e da sintomatologia, procedeu-se à obturação dos
canais com o cimento endodôntico Sealer 26 ®
(figura 9).
Figura 6 – Abertura coronária ampliada
Após a desobturação, a instrumentação dos dois
canais foi feita pela técnica coroa-ápice sem pressão
(Soares e Goldberg [12]), auxiliada pela irrigação
com hipoclorito de sódio a 2,5% associado ao EDTA
(Siqueira Jr. et al. [11]; Lopes et al. [4]). A
modelagem do batente apical foi feita até o
instrumento de calibre 25 no canal vestibular e até
o instrumento de calibre 30 no conduto lingual. A
fotografia (figura 7) mostra as referidas limas
memórias posicionadas nos canais.
Figura 9 – Obturação dos canais
Referências
Considerações finais
1
Segundo Bramante e Berbert (apud Bramante
e Garcia [1]), alguns sinais radiográficos podem
levar à suspeita da presença de canais extras, tais
como: descentralização da imagem radiolúcida
representativa do canal radicular; estreitamento
abrupto da imagem do canal em um dos níveis da
raiz; dificuldade de visualização da imagem do canal
em toda a sua extensão. No entanto, em casos
indicados para retratamento, essa constatação fica
difícil, por causa da presença de material obturador
no conduto radicular tratado.
Scaini et al. [10] deixam claro que nem sempre
uma tomada radiográfica será suficiente para a
detecção das variações morfológicas, em função da
sobreposição de imagens. As radiografias deverão
ser feitas com uma incidência mésio ou distorradial
(Bramante et al. [2]).
No que tange à cirurgia de acesso, a eliminação
do ombro lingual constitui o desgaste
compensatório nos incisivos inferiores. Ainda pode
ser necessária a remoção do esmalte na base do
triângulo que fica para incisal, proporcionando um
acesso reto e liberando o instrumento para
trabalhar de forma correta em todas as paredes do
canal radicular. Nesses desgastes podem ser
utilizadas as brocas Endo Z ou pontas diamantadas
cilíndrico-cônicas, tal como foi empregado no caso
clínico exposto. O desgaste compensatório adicional
no sentido cervicoincisal é imperioso para facilitar
a localização e o preparo dos canais vestibular e
lingual (Roldi et al. [9]).
Embora seja possível obter uma redução
considerável no número de células bacterianas da
luz do canal principal pelo efeito químico-mecânico
da instrumentação e da irrigação, microrganismos
podem permanecer viáveis em regiões inacessíveis
a estes. Um medicamento intracanal dotado de
atividade antimicrobiana, no caso o hidróxido de
cálcio, por permanecer mais tempo no interior do
canal radicular, tem maiores chances de atingir
áreas não afetadas pela instrumentação (Siqueira
Jr. et al. [11]).
O conhecimento das variações anatômicas dos
canais radiculares ajuda sobremaneira o
profissional, desde a cirurgia de acesso até a
obturação, e é uma rota segura para obter muito
sucesso nesses procedimentos e evitar situações
desagradáveis (Pécora et al. [7]).
1
1. Bramante C M, Garcia R B. Quando falha o
tratamento endodôntico, quais são as alternativas
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identificados e em preto e branco. As figuras também deverão
ser entregues nas cópias impressas. As figuras, tabelas e
gráficos e suas legendas deverão estar inseridas no próprio
texto. Radiografias poderão ser enviadas digitalizadas, desde
que apresentem boa qualidade de imagem.
2.4 – A numeração de páginas deve constar no canto inferior direito,
sem contar a página de rosto.
3 – Estrutura do trabalho
3.1 – Abertura
• Título do trabalho: em português e em inglês – corpo 14 pontos,
letras maiúsculas.
• Nome do(s) autor(es): nome completo, e no final asteriscos
indicativos das notas de rodapé. Exemplo: Érica Lopes FERREIRA*.
• Enviar endereço do autor principal para correspondência, bem
como e-mail.
• Notas de rodapé: principal titulação dos autores, bem como a instituição
de origem. Exemplo: Luiz Fernando FARINIUK*. Na nota de rodapé:
*Professor adjunto da PUC/PR, Doutor em Endodontia.
• Resumo: Deve indicar resumidamente o que foi feito, em um só
parágrafo.
• Palavras-chave: 3 a 5 expressões que identifiquem o conteúdo do
trabalho.
• Abstract: resumo em inglês.
• Keywords: palavras-chave em inglês.
• Artigos em inglês também devem conter um resumo e palavraschave em português.
3.2 – Texto
• Devem constar introdução, material e métodos, resultados,
discussão, conclusão, referências bibliográficas.
• Os nomes de medicamentos e materiais registrados, bem como de
produtos comerciais, devem aparecer entre parênteses, após a
citação do material, e somente uma vez (na primeira).
3.3 – Referências:
• As referências devem ser listadas em ordem alfabética de nomes,
com letras minúsculas numeradas em ordem crescente.
• A menção das referências no texto deve ser feita entre colchetes e
numerada de acordo com a lista de referências (podendo ser
acrescida dos nomes dos autores e data de publicação). Se houver
dois autores, devem-se citar ambos no texto, separados pela
conjunção “e”. Se houver mais de dois autores, citar o primeiro
autor seguido da expressão et al.
• Já na listagem das referências, quando houver mais de seis
(6) autores deve-se acrescentar et al.
• Periódicos:
Wilcox L R. Thermafill retreatment with and without chloroform
solvent. J Endod 1993 Feb; 19 (4): 563-6.
Wilcox L R, Juhlin J J. Endodontic retreatment of Thermafill versus
laterally condensed gutta-percha. J Endod 1994 Jul; 20 (6): 115-7.
Baratto-Filho F, Ferreira E L, Fariniuk L F. Efficiency of the 0.04
taper ProFile during the re-treatment of gutta-percha-filled root
canals. Int Endod J 2002 Ago; 35 (8): 651-4.
• Livros:
Soares I J, Goldberg F. Endodontia técnica e fundamentos. Porto
Alegre: Artmed; 2001. p. 201-5.
• Capítulos de livros:
Valle L L, Costa Filho A S. Tratamento endodôntico em dentes
com rizogênese incompleta. In: Berger C R. Endodontia. Rio de
Janeiro: Publicações Científicas, 1989, p. 199-209.
• Teses:
Baratto Filho F. Estudo “in vitro” da capacidade de limpeza do
canal radicular com achatamento através de instrumentação rotatória
e com irrigação com hipoclorito de sódio em três diferentes
concentrações – Análise histológica. [Dissertação – Mestrado].
Ribeirão Preto: Universidade de Ribeirão Preto; 2002.
• Obras da internet:
Morse S S. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect
Dis [serial online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5]; 1(1): [24 screens].
Available from: URL:http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm.
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