Recuperação Paralela de Português – 8º ano EF – 1º Bimestre Leitura e interpretação de texto Leia atentamente o texto e responda às questões 1, 2, 3, 4 e 5. O que se revela quando se diz... Eduardo Calbucci A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar3 usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem. O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do certo X errado, fundamentado numa dicotomia4 tão rígida quanto equivocada, desconsidera que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas. Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o baião “Asa branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final da quarta estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão” [grifo nosso]. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa construção como essa. As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes pessoais em português mantêm resquícios7 da flexão de caso do latim e, por isso, são grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas6 (todos já ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujei- to, esse uso não se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas. Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar” deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o levava o prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos beletrismos2 de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a espontaneidade em detrimento da “correção”. A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em “Asa branca”. Na canção, o emprego de “eu” no lugar de “mim” tornaria o texto incoerente. O narrador de “Asa branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo social desse narrador. Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos, dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças, ideologias5. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que supúnhamos. Veja-se o caso dos vocativos. Ao referimo-nos aos nossos interlocutores, interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento: doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são infindáveis. Acontece que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina: um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura, uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro. Daí, o aforismo1 de Wittgenstein8: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas COLÉGIO OBJETIVO 1 questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz... ([email protected]) Vocabulário: aforismo- (do grego aphorismos "definição", a partir de aphorizein "delimitar, separar", de apó- "afastado, separado" ou "proveniente, derivado de" + horos, "fronteira, limite" e horizein "limitar", através do latim aphorismus[1]) é uma sentença concisa, que geralmente encerra um preceito moral. beletrismo- sm.1. Criação literária, nesta compreendidas oratória, retórica e poesia 2. Pej. Atividade literária de segunda ordem. cotejar- Confrontar, comparar, colacionar, acarar, acarear, contrapor, contrastar. ideologia- é um termo que possui diferentes significados. No senso comum significa ideal, e contém um conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. insólita- Que não acontece habitualmente, Contrario ao uso, às regras. Desusado, extraordinário, incrivel. resquício- s.m. Fragmento, pequeno resto, resíduo. Vestígio. Wittgenstein- Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena, 26 de Abril de 1889 — Cambridge, 29 de Abril de 1951), filósofo austríaco, naturalizado britânico. 1. Segundo o autor qual é ou deveria ser a preocupação de todos os falantes? 2. O autor afirma que o discurso certo X errado é ultrapassado, por quê? 3. Como foi explicado o uso do pronome mim como sujeito na música “Asa Branca”? 4. Para os linguistas o que revelamos em nossa fala? 5. Comente a afirmação de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz...”. Gramática e Estudo da Língua 6. (M4) Indique, em cada uma das orações, as funções sintáticas dos termos destacados (sujeito, verbo, complemento verbal e adjunto adverbial) que foram separados por vírgulas. a) Nós, a tempo, fizemos a tarefa. b) Os professores explicaram, com perfeição, a matéria. c) Minha mãe, na escola, participou da reunião. d) Ontem à tarde, o governador falou aos eleitores. e) Na igreja da matriz, será realizado o casamento. f) Graças a Deus, as enchentes foram controladas. g) Apressadamente, corri até a escola. h) Contei-lhe, do princípio ao fim, toda a história. 7. (M5) a) Por que os termos nos períodos da questão 6 foram separados por vírgulas? b) Agora, construa seu período (frase), obedecendo à estrutura seguinte: SUJEITO+VERBO+ADJUNTOADVERBIAL+ COMPLEMENTO VERBAL. 8. (M9 e M10) Indique a classe gramatical (substantivo, adjetivo ou advérbio) das palavras em negrito e copie os complementos nominais que estão ligados a elas. a) A espera do ônibus foi demorada. b) Contrariamente às minhas previsões, não choveu. c) Estou satisfeita com o trabalho. d) As ruas estão repletas de gente. e) Muita gente tem inveja dos vitoriosos. 9. (Tarefa 13) Indique se os termos em negrito são alvo ou agente da ação do nome a que se ligam. a) A insatisfação do povo é perceptível. b) A insatisfação com o povo é perceptível. c) Vários ensinamentos dos idosos são úteis aos jovens. d) A homenagem aos professores foi emocionante. e) O deslizamento de terra bloqueou a rodovia. f) O choque do caminhão contra o carro provocou vítimas. g) Ele revelou carinho com os idosos. h) O carinho pelos idosos é necessário. 10. (Tarefa 14) Copie, nas frases abaixo, todos os adjuntos adnominais. Lembre-se: são adjuntos adnominais: os adjetivos, as locuções adjetivas, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos. a) O canto do galo anuncia o amanhecer. b) O carinho dos animais nos conforta. c) Ele revelou carinho com os animais. d) Degustei a deliciosa refeição. e) A luz do sol nos ilumina. f) Três alunos faltaram ontem. g) A luz do sol atrapalhou a visão do motorista. h) Como é maravilhoso o amor de mãe. COLÉGIO OBJETIVO 2