UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE INFORMÁTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMPUTAÇÃO Pesquisa individual Aberração Cromática no Olho Humano Augusto Luengo Pereira Nunes Aluno de Mestrado Prof. Dr. Marcelo Walter Orientador Prof. Dr. Anderson Maciel Coorientador Porto Alegre, Agosto 2012. Introdução O aparelho óptico humano pode ser definido fundamentalmente como um sistema de lentes convergentes, cujo resultado da focalização dos raios de luz é convertido em pulso elétrico, ponderado pela magnitude das ondas de curto (S-short), médio (M-middle) e longo (Llong) comprimento, e interpretado pelo cérebro [1]. Para que o olho possa capturar todo o espectro visível, as cores que o formam são interpretadas em função da porção relativa às ondas dos raios que chegam até os olhos. Naturalmente, o sistema óptico está preparado para reconhecer os tipos de ondas citadas, através de órgãos especiais que possuem certo potencial de captura para cada faixa. Contudo, para cada cor visível, temos uma combinação diferente de ondas S, M e L, além disso, tais ondas viajam até os olhos em velocidades diferentes. Quando um raio de luz chega ao olho, passa por uma primeira lente convergente chamada Córnea. Dentro do olho o raio é refratado por diferentes meios, passando ainda por mais uma lente convergente chamada Cristalino, até alcançar a Retina, numa região conhecida como Fóvea, que é responsável pela interpretação da informação para gerar o pulso elétrico correspondente. Porém, nesse caminho, o ponto de foco para cada tipo de onda dentro do olho é diferente, o que implica resultados indesejados na imagem final, conhecidos como Aberrações Cromáticas. A figura 1 ilustra o olho humano e seus componentes com as dimensões médias, e um possível trajeto de um raio na parte interna do órgão [1][2][3]. Figura 1: O olho humano e suas dimensões médias. Note que a parte central da Córnea direciona os raios para a parte central da Fóvea. Aberração Cromática Longitudinal Refere-se ao efeito sofrido pelos raios que entram na parte central da Córnea. As ondas mais curtas, normalmente denotadas pela cor azul, têm seu ponto de foco ajustado mais próximo ao centro do olho, em seguida, as ondas médias (denotadas pela cor verde) alcançam seu ponto de foco, e por último as ondas longas (vermelha) alcançam seu ponto de foco após a Fóvea, como mostra a figura 2. O resultado é uma imagem onde num certo espaço há uma incoerência com respeito à mesma informação visual para cada faixa de onda, que é conhecido como círculo de confusão [4]. Figura 2: Ponto de foco para raios de onda longa, média e curta. Aberração Cromática Lateral Os raios de luz que entram no sistema óptico por partes laterais da Córnea percorrerão o olho intersectando partes diferentes da Retina, dependendo do tipo de onda, e se misturando com informações de outras partes da cena, causando assim certo borramento natural da imagem final, como ilustra a figura 3 [4]. Figura 3: Intersecção entre raios de luz laterais e a Retina, de acordo com o comprimento de onda correspondente. Suavização do Cromatismo no Olho Humano O sistema óptico humano de cada indivíduo está em constante funcionamento, e ao mesmo tempo, as Aberrações Cromáticas ocorrem de forma que, a imagem final aparenta estar correta. Por qual razão não se percebe naturalmente tal fenômeno? A resposta está num conjunto de ‘medidas’ com respeito ao próprio sistema óptico e à interpretação dos estímulos visuais dada pelo cérebro. Num primeiro momento podemos entender que, há um tratamento diferente para raios de luz que entram na Córnea pela sua parte central, com relação aos que entram pelas laterais. A parte dos raios laterais atinge a Retina também em sua porção complementar à Fóvea central, onde ocorre o Cromatismo Lateral. Para entender melhor tal processo, é preciso conhecer o funcionamento da Retina. Estruturalmente a Retina é composta por fotorreceptores que reagem quimicamente com os fótons de luz presentes nos raios, através de pigmentos fotossensíveis capazes de absorver radiação eletromagnética numa dada gama de comprimento de onda, e assim transformar energia luminosa em estímulo químico-elétrico, que é conduzido pelo Córtex Visual até o Cérebro e então interpretado. Figura 4: Fotorreceptores da Retina em contato com o raio de luz. Os fotorreceptores da Retina podem ser classificados em Bastonetes e Cones. Responsáveis pela visão não cromática, os Bastonetes auxiliam na percepção da forma, dimensões e brilho de uma cena, produzindo uma imagem naturalmente desfocada. Os cones estão associados com a percepção das cores em cenas com boa luminosidade, de forma que, três tipos de cones são definidos de acordo com o comprimento de onda que podem absorver: L (Long), M (Middle), e S (Short). Mas a distribuição de Bastonetes e Cones não é uniforme em toda a Retina, por exemplo, na Fóvea Central temos uma grande concentração de Cones e ausência de Bastonetes, e consequentemente temos maior precisão visual da cena pelos raios de luz que chegam aos olhos na parte central da Córnea. A Aberração Cromática Longitudinal presente nesta parte do processo ocorre com maior intensidade nos limites do espectro visível, mas os valores de forma geral são pequenos e assim a percepção das alterações não afeta a qualidade geral da cena interpretada, a não ser em casos especiais, como por exemplo, a falta de foco que ocorre para objetos muito próximos aos olhos. A figura 5 mostra a variação da distância focal, medida em dioptrias (valor de 1/metro), para a faixa do espectro visível. Figura 5: Note que a Aberração Cromática Longitudinal é maior nos limites do espectro visível. Finalmente, a escala em relação as dimensões dos componentes do sistema óptico, somadas à falta de foco da visão periférica, e filtros naturais aplicados pelo cérebro humano em função da interpretação da luz por intensidade luminosa, causam efeitos de borramento e suavização na cena, que contribuem para diminuir os problemas causados por Aberrações Cromáticas, proporcionando ao cérebro uma imagem final com boa qualidade, em relação à informação esperada. Referências [1] http://www.telescope-optics.net/eye.htm [2] The Chromatic Aberration of the Human Eye and Physiological Correction [3] Axial Chromatic Aberration of the Human Eye [4] http://www.telescope-optics.net/eye_chromatism.htm