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Miologia
Aula proferida pelo Prof. MSc. Marcelo Castro em 19/09/11
Transcrição da Profa. MSc. Ana Grabner
A miologia é o estudo dos músculos. Embora existam diferentes tipos histológicos de tecido
muscular (liso, estriado esquelético e estriado cardíaco), a aula de miologia ministrada como
conclusão dos estudos teóricos de aparelho locomotor refere-se ao estudo da musculatura estriada
esquelética, o único componente ativo deste aparelho.
De maneira geral, os músculos estriados esqueléticos desempenham as seguintes funções:
- Movimentação do corpo (visto que as células musculares têm capacidade contrátil);
- Produção de calor (em decorrência da contração muscular ou na forma de tremores);
- Proteção do corpo na absorção de choques e impactos;
- Auxílio na circulação sanguínea, em especial como a “bomba muscular” que auxilia no
retorno venoso.
Para que a musculatura estriada esquelética desempenhe as citadas funções, suas células
(células musculares ou fibras musculares) possuem certas características:
- Elasticidade e extensibilidade, fatores fundamentais para a manutenção da postura;
- Irritabilidade, permitindo pronta reação a estímulos;
- Contratilidade, característica fundamental e exclusiva das fibras musculares.
***
Assim, sabendo que o tecido muscular estriado esquelético tem a característica e a função de
contração, podemos classificar os tipos de ações musculares desempenhadas sobre os componentes
passivos do aparelho locomotor (ossos e articulações):
- Agonista ou protagonista: é o músculo que faz o movimento em questão (por exemplo, o
músculo tríceps braquial é responsável pela extensão do cotovelo, sendo, portanto, o músculo
agonista deste movimento);
- Antagonista: é o músculo que limita ou tenta impedir o movimento (aproveitando o
exemplo acima, da extensão do cotovelo, os músculos antagonistas deste movimento são o m.
braquial e o m. bíceps braquial, cuja ação, em conjunto, é a flexão do cotovelo; portanto, opõem-se
à extensão);
- Sinergista: é o músculo que auxilia o agonista na execução do movimento, ampliando a
força e/ou a rapidez de contração (ainda utilizando o exemplo acima, os mm. tensor da fáscia do
antebraço e ancôneo auxiliam na extensão do cotovelo, sendo, portanto, sinergistas deste
movimento).
Obs: É importante observar que, para classificar determinado músculo como agonista,
antagonista ou sinergista, devemos especificar o movimento em questão: no exemplo acima, o
movimento em questão é a extensão do cotovelo e, portanto, o agonista é o m. tríceps braquial,
enquanto os antagonistas são os mm. braquial e bíceps braquial. Se estivéssemos estudando a flexão
do cotovelo, os agonistas seriam os mm. braquial e bíceps braquial, enquanto o m. tríceps braquial
assumiria a posição de antagonista. Assim, fica evidente que um mesmo músculo pode
desempenhar mais de um tipo das ações citadas, e o que determina qual a sua ação é o movimento
em questão.
Observando o tipo de movimento realizado por um músculo, podemos classificá-lo como:
- Flexor é um músculo que atua diminuindo o ângulo interno de uma articulação. Um
músculo extensor, ao contrário, atua sobre uma articulação aumentando o ângulo da mesma;
- Um músculo que aproxima o membro do eixo central do corpo é chamado adutor; o
músculo responsável pela ação contrária, de afastar o membro do eixo central do corpo, é dito
abdutor;
- Um músculo pronador gira o membro em direção medial, enquanto um músculo
supinador faz o movimento contrário, girando o membro em direção lateral;
- Os músculos fixadores ou estabilizadores atuam favorecendo a fixação de articulações ou
partes moles;
- O músculo responsável por elevar uma estrutura (por exemplo o lábio) é dito levantador
ou elevador, tendo ação contrária a um músculo depressor, que abaixa a dita estrutura. Estes tipos
de músculos, bem como todos os demais citados daqui em diante, não atuam sobre ossos ou
articulações, apesar de serem músculos estriados esqueléticos;
- O músculo que atua na abertura de uma cavidade é dito dilatador, e o músculo que executa
a ação contrária, contraindo a cavidade, recebe o nome de constritor. Músculos esfinctéricos são
músculos constritores muito potentes;
- Um músculo retrator traz certo componente anatômico para dentro do corpo, enquanto um
protrusor expõe o componente (por exemplo, a língua).
***
Antes de iniciar a descrição de diversos tipos de classificações às quais podemos submeter
os músculos dos animais domésticos, será necessária uma explicação da arquitetura muscular,
que leva em consideração as partes e camadas que constituem os músculos, de uma forma geral.
A cabeça ou origem de um músculo é a parte mais fixa deste, geralmente representada por
quantidade variável de tecido conjuntivo fibroso. O corpo ou ventre do músculo é o centro do
músculo, e corresponde às fibras musculares propriamente ditas. A cauda ou terminação é a porção
final do músculo, a parte mais móvel deste, sendo também representada por quantidade variável de
tecido conjuntivo fibroso. Muitos autores utilizam o termo inserção como sinônimo de terminação,
mas preferimos não utilizar este termo aqui, por sugerir a região onde o músculo se prende a outra
estrutura anatômica, fato que também acontece na sua origem.
Ainda no estudo da arquitetura muscular, torna-se necessário descrever as camadas de tecido
conjuntivo que se mesclam às fibras musculares, isolando áreas internas do músculo. São elas:
- Epimísio: envolve o músculo como um todo, representando sua camada mais externa;
- Perimísio: forma-se a partir do epimísio e adentra o músculo, agrupando fibras musculares
em conjuntos denominados feixes musculares.
- Endomísio: forma-se a partir do perimísio e adentra os feixes musculares, envolvendo
individualmente cada fibra muscular.
O epimísio, o perimísio e o endomísio (formados por tecido conjuntivo) se unem nas
extremidades musculares para formar a origem ou terminação destes (seja na forma de um tendão,
de uma aponeurose ou mesmo de uma estrutura tão reduzida que não é visível a olho nu, caso
exemplificado nas inserções carnosas. Todos estes termos serão melhor explicados e exemplificados
a seguir).
Estas três camadas de tecido conjuntivo, entremeadas nas fibras musculares, são
fundamentais para a condução dos vasos e nervos que atuam na musculatura, bem como na
transmissão da força de contração das fibras musculares à estrutura anatômica à qual o músculo se
fixa, da seguinte maneira: a contração de uma fibra muscular é transferida ao endomísio que a
envolve; este, por ser contínuo com o perimísio, transfere esta força de contração a ele, que a
transfere ao epimísio; a contração de todo este conjunto é transferida ao tendão e a ação muscular é
percebida.
***
Quando observamos certas características comuns a determinados grupos musculares,
podemos estabelecer certas classificações gerais para os músculos, explicadas a seguir:
A primeira classificação é muito importante no estudo da embriologia, e agrupa os músculos
quanto à sua origem:
- Somáticos: são aqueles músculos originários dos somitos (condensamentos mesodérmicos
que surgem lateralmente ao tubo neural do embrião). Os mm. intercostais são exemplos;
- Viscerais: são os músculos relacionados às vísceras (o que não significa necessariamente
que o músculo em questão ó do tipo liso: o esôfago dos ruminantes, por exemplo, é composto
exclusivamente por musculatura estriada esquelética, visto que esta possui maior força de
contração, fundamental ao processo de regurgitação que faz parte da ruminação);
- Branquioméricos: surgem das brânquias do embrião (por exemplo, o m. trapézio).
A próxima classificação dos músculos tem grande importância no estudo da histologia, e
divide-os de acordo com o tipo de tecido muscular em:
- Liso: tipo de músculo predominante na constituição das vísceras;
- Estriado: possui estrias transversais quando observado ao microscópio, e pode ser de dois
tipos: cardíaco (miocárdio) ou esquelético (os músculos estudados junto ao aparelho locomotor
nesta aula de miologia).
A classificação dos músculos que leva em conta a sua ação tem grande importância ao
estudo da fisiologia muscular. Nela, podemos dividir os músculos em:
- Voluntários, que têm sua ação comandada pelo córtex cerebral;
- Involuntários, cujo estímulo parte de outra região do sistema nervoso que não o córtex
cerebral.
As demais classificações presentes neste texto têm grande importância ao estudo da
anatomia, sendo, portanto, mais detalhadas aqui:
Quando classificamos os músculos quanto à forma das fibras, percebemos que há certa
discrepância entre a literatura consultada. A classificação que aqui segue é a que consideramos mais
apropriada. É importante observar, independentemente da classificação adotada, que sempre o
trajeto das fibras musculares em relação ao tendão está diretamente relacionado com a rapidez na
resposta à contração muscular: fibras musculares alinhadas às fibras do tendão proporcionam
contração rápida, e o movimento ocorre prontamente após a contração muscular. Já as fibras
musculares dispostas em trajeto oblíquo ao do tendão ocasionam uma resposta de movimento mais
lenta após a contração muscular, porém a força de contração é maior, já que há mais fibras
musculares por área tendínea.
- Músculos em forma de fita têm as fibras retilíneas e alongadas, que se continuam em linha
com as fibras do tendão. Costumam ser delgados e longos, e a resposta do movimento à contração é
rápida, mas não é forte;
- Músculos em forma de fuso (ou fusiformes) têm as fibras quase alinhadas com as do
tendão, mas o número destas fibras é muito maior, dando um aspecto arredondado e espesso ao
músculo. Desta forma, o músculo mantém a rapidez, mas ganha força de contração;
- Músculos planos são muito semelhantes aos músculos em forma de fia, mas são largos e
têm suas extremidades fixadas por aponeuroses. Têm contração rápida, devido às fibras musculares
serem alinhadas com as da aponeurose, e atuam sobre áreas extensas;
- Músculos circulares controlam passagens, orifícios;
- Músculos penados recebem este nome por seu aspecto assemelhar-se ao da pena das aves
(fibras musculares oblíquas em relação a um tendão central longo). Não possuem rapidez na
resposta à contração (uma vez que a fibra muscular contorna o tendão antes de se fixar nele), mas
apresentam extrema força de contração (visto que existem muitas fibras musculares por área). De
acordo com o aspecto dos músculos penados, podemos subclassificá-los como hemipenados
(quando possuem a forma de meia pena; há autores que consideram este tipo de músculo com o
nome de penados, ao invés de hemipenados, mas preferimos o termo hemipenado visto que, de fato,
o músculo apresenta o aspecto de meia pena) penados propriamente ditos (por possuírem o aspecto
exato de uma pena; ainda assim, há autores que classificam os músculos deste tipo como bipenados,
classificação esta que preferimos não adotar aqui) e, por fim, multipenados (quando possuem vários
tendões, assumindo o aspecto de várias penas lado a lado; quanto a esta última classificação não há
discordância entre os autores).
A próxima classificação que será aqui aplicada aos músculos refere-se à arquitetura
muscular, isto é, o número de origens, ventres e terminações:
- Quando o número de cabeças ou origens que um músculo apresenta é maior que um, este
músculo pode ser considerado um bíceps (quando possui duas origens), um tríceps (três cabeças) ou
um quadríceps (quatro cabeças). Não observamos mais que quatro cabeças em um mesmo músculo
nos nossos animais domésticos;
- Quando o número de corpos ou ventres de um músculo é maior que um, podemos
considerá-lo um músculo digástrico (dois ventres), trigástrico (três ventres) ou poligástrico (quatro
ou mais ventres). Na prática, exceto o termo digástrico, que corresponde ao nome de um músculo
envolvido na mastigação, os termos acima não costumam ser utilizados;
- Quando o número de caudas ou terminações de um músculo é maior que um, podemos
considerá-lo um músculo bicaudado (duas terminações), tricaudado (três terminações) ou
policaudado (quatro ou mais terminações, podendo, também, ser usado como sinônimo o termo
multicaudado). Na prática, esta classificação também não é usual.
Podemos classificar também os tipos de inserções musculares, de acordo com a quantidade
e disposição das fibras de tecido conjuntivo presentes na origem e/ou terminação destes músculos:
- Nas inserções carnosas, a aparência macroscópica é de ausência total de tendão, dando a
impressão que a própria fibra muscular está inserida diretamente no osso. Devemos lembrar que
sempre há alguma camada de tecido conjuntivo entre o osso e a fibra muscular, mesmo que não
visível a olho nu, representadas pelo menos por endomísio e periósteo. Este tipo de inserção confere
muita força e resistência;
- Nas inserções tendíneas, os envoltórios de tecido conjuntivo estudados na arquitetura
muscular se dispõem na forma de tubo ou fita na extremidade do músculo, sendo esta estrutura de
tecido conjuntivo fibroso, denominada tendão. Este tipo de inserção confere rapidez e força, sendo
muito observado em associação aos músculos fusiformes ou em forma de fita;
- Nas inserções aponeuróticas (ou aponevróticas) a fixação se dá por meio de tecido
conjuntivo fibroso disposto na forma de uma ampla lâmina (a aponeurose), que confere força e
resistência. É muito observada em associação aos músculos planos.
***
Para finalizar o estudo da miologia, devemos levar em conta alguns conceitos diretamente
associados aos músculos. Quando se trata de inervação, é fundamental definirmos o significado de:
- Unidade motora: refere-se às fibras musculares inervadas por uma única fibra nervosa
(neurônio motor). Quanto maior a proporção de fibras nervosas por fibra muscular, maior é a
capacidade de controle fino da contração muscular (é o caso, por exemplo, do controle fino da
musculatura dos dedos em contraposição à grande massa muscular cranial da coxa, que tem a única
finalidade de extensão do joelho e não necessita controle tão acurado, mas sim força de contração);
- Campo radicular motor: refere-se a toda a musculatura inervada por uma mesma raiz
ventral (motora) de um nervo espinhal. Engloba um conceito muito mais amplo que o estudado na
unidade motora, já que uma única raiz ventral é formada por grande número de neurônios motores;
- Placa motora: é o local exato onde a ordem de contração do neurônio (motor) é
transmitida à fibra muscular;
- Fusos: são áreas onde a fibra nervosa tem contato com a fibra muscular, com finalidade
sensitiva. Estes fusos podem ser neuromusculares ou neurotendíneos, e captam o grau de contração
e tensão em músculos e tendões, respectivamente.
***
Os anexos musculares são componentes anatômicos que auxiliam o trabalho dos músculos,
conferindo mais força a um determinado movimento, ou mesmo protegendo a musculatura. Muitos
destes anexos musculares já foram abordados em outras aulas referentes ao aparelho locomotor,
tanto na osteologia quanto na artrologia, reforçando o conceito de que todos os componentes do
aparelho locomotor, sejam eles passivos (osso e articulações) ou ativos (músculos), estão
relacionados e atuam em conjunto.
- Bainhas fibrosas ou retináculos são faixas de tecido conjuntivo fibroso que atuam como
cintas, prendendo o tendão em posição anatômica e mantendo-o sempre estendido e pronto para
responder à contração muscular. Desta forma, economiza-se energia muscular;
- Bainhas sinoviais têm sua origem nas articulações sinoviais, e além de fixarem os tendões
em posição anatômica, protegem-nos do atrito com superfícies ósseas;
- Bolsas sinoviais ficam localizadas entre tendões (ou músculos) e os ossos adjacentes, e
assim como as bainhas sinoviais, são originárias das articulações sinoviais e atuam na proteção
contra o atrito. A diferença das bolsas para as bainhas sinoviais é que as bolsas não envolvem o
tendão completamente e, portanto, não auxiliam na fixação do tendão em sua posição anatômica.
Atuam apenas conferindo proteção;
- Ossos sesamóides ficam localizados no trajeto de alguns tendões, alterando este trajeto
como uma roldana, diminuindo, desta forma, a força muscular necessária para a execução de certo
movimento;
- Lojas musculares são grupos musculares envoltos por uma lâmina de tecido conjuntivo
fibroso (denominada fáscia profunda). Esta disposição em lojas musculares favorece o trabalho
conjunto dos músculos envolvidos.
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