A ENTRADA DO TENTADOR NO PARAÍSO

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a entrada do tentador no paraíso
Capítulo 1
A ENTRADA DO TENTADOR
NO PARAÍSO
A entrada do tentador no habitat original dos homens
é um grande problema para aqueles que têm dificuldade
com a doutrina da soberania divina. Portanto, para eles,
o assunto é um mistério intocável. Mesmo entre os reformados, esse é um assunto que poucos se aventuram a
perscrutar devido à profundidade e ao caráter escondido
que o cerca. No entanto, conhecendo o ensino geral das
Escrituras, podemos chegar a algumas conclusões que
não podem ser ignoradas.
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1. A ENTRADA DE SATANÁS NO HABITAT ORIGINAL
DO HOMEM É PRODUTO, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA,
DA SOBERANIA DIVINA
A Escritura não informa quando ou exatamente como
o tentador adentrou o jardim do Éden. Não há nenhuma revelação divina direta a respeito desse assunto. A Escritura
simplesmente afirma que Satanás estava no jardim para
tentar o primeiro casal.
Com muita tristeza, no entanto, vemos cristãos ensinando de modo equivocado uma espécie de soberania de
Satanás neste mundo, interpretando erroneamente textos bíblicos. Tomando-os de forma errônea, eles ensinam
que Satanás é o “príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30;
16.11), “o deus deste século” (2Co 4.4), “o príncipe das potestades do ar” (Ef 2.2), “o dominador deste mundo tenebroso” (Ef 6.12). Desses versículos, eles inferem uma autoridade de Satanás que o habilita a penetrar o jardim de
Deus. Nada há mais equivocado do que essa interpretação.
Ademais, essas pessoas que não tratam da soberania divina
acabam tratando da soberania de Satanás. Seu argumento
é que Satanás até teve a autoridade de levar Jesus para ser
tentado. Se Satanás, a antiga serpente, tem o domínio deste
mundo, como ele próprio afirmou categoricamente perante
Jesus (cf. Lc 4.5-7), o qual é um reinado de usurpação, por
que não poderia entrar no jardim de Deus? Se ele teve acesso a Jesus, por que não teria acesso ao jardim? Por essa
atitude perante Jesus, ele tem a autoridade para entrar no
jardim de Deus para tentar os homens. Quando Satanás fez
a proposta indecente para que Jesus o adorasse, ele estava
tentando usurpar o que pertencia a outro. Ele tentou ser
soberano no lugar do real Soberano do universo!
Diferentemente do que pensam esses cristãos, podemos dizer que quando Satanás entrou no mundo santo
criado por Deus, ele o fez por designação divina, porque ele
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está debaixo da autoridade divina. Satanás não atua a não
ser dentro dos limites estabelecidos por Deus porque Deus
tem domínio e autoridade sobre todas as potestades, dominações e reinos do mundo espiritual e do mundo físico.
Deus tem domínio pleno sobre os reis deste mundo
(Dn 4.17). Somente a ele pertencem a sabedoria e o poder,
removendo reis e estabelecendo reis (Dn 2.20)! Através dos
seus decretos, ele dirige os caminhos dos reis deste mundo
conforme a sua vontade (Pv 21.1). Deus se ri dos reis que
conspiram contra ele, zombando das pretensões loucas
deles (Sl 2.2-4); Deus tem domínio pleno sobre as nações,
frustrando os seus desígnios e anulando os intentos dos
povos (Sl 33.10).
Além disso, Deus também tem pleno domínio sobre
as potestades espirituais que estão por detrás das nações
e dos reis ímpios. Os demônios, que são as potestades espirituais, têm pavor da presença de Jesus e se submetem
a ele (Mt 8.29-32), obedecendo-lhe (Mc 1.27).
Tanto as nações e os reis ímpios como os demônios não
agem fora dos desígnios divinos. É necessária a ação designativa de Deus sobre homens e demônios a fim de que os
seus planos soberanos se cumpram na vida deste mundo!
Por que Satanás entrou no jardim de Deus? A única
conclusão que nos resta é descansar no fato de a entrada
de Satanás no Éden ser um ato da soberania divina. Fazia
parte dos planos secretos de Deus que os nossos primeiros
pais fossem tentados diretamente por um anjo caído e que,
por final, o pecado entrasse em nosso mundo.
Em sua soberania, Deus deu a Satanás a oportunidade de penetrar o paraíso e tentar Adão e Eva. Em sua
soberania, Deus deu a Satanás a capacidade de lançar a
semente da dúvida sobre a veracidade de Deus no coração
de Eva. Em sua soberania, Deus deu a Satanás certo poder de violar suas regras e causar danos aos que habitavam o paraíso.
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Todavia, a despeito de todas as coisas que o pecado causou no paraíso e, depois, na terra amaldiçoada, é
importante lembrar que tudo isso não ameaça a soberania divina. Tudo o que aconteceu, ainda que não seja fácil
de explicar, é produto dos planos eternos de Deus para o
mundo que ele havia criado. Deus continua a ser o soberano do universo, e Satanás, assim como suas forças, ainda
estão sob o controle e governo do soberano Deus. Ele é
tão soberano depois da queda quanto havia sido antes da
queda e assim o será para todo o sempre!
2. A ENTRADA DE SATANÁS NO HABITAT ORIGINAL
DO HOMEM PARA TENTÁ-LO É PARTE DO
PROJETO DIVINO PARA O MUNDO
Não podemos imaginar que a tentação acontecida no
Éden pudesse estar fora dos planos divinos para o mundo. Se
a tentação fosse possível sem a soberania divina, então Deus
não poderia ter controle algum sobre o que viesse a acontecer.
No entanto, cremos firmemente que, por razões escondidas de
nós, mas certamente para a sua própria glória, Deus arquitetou seu plano para o mundo incluindo a tentação e a queda
do homem.
A tentação de Satanás não veio bagunçar o coreto de
Deus. Ao contrário, ela é cumprimento do decreto divino de
haver queda para o homem a fim de que pudesse haver sua
redenção. Não somente a primeira tentação no Éden, mas todas as tentações recebem o suporte divino para que os seus
planos sejam cumpridos.
Há dois textos da Escritura que tratam do mesmo
fato, mas com ângulos diferentes. O primeiro texto está em
2Samuel.
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“Tornou a ira do Senhor a acender-se contra os israelitas,
e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o
censo de Israel e de Judá” (2Sm 24.1).
Nesse versículo, o texto mostra claramente Deus como
responsável pela incitação de Davi contra o povo. O ato de
Davi foi pecaminoso, pois ele traiu a confiança do povo nos
militares da nação. Deus induziu Davi ao pecado. A nossa
visão do texto ficaria defeituosa se não olhássemos o mesmo episódio por outra ótica. Veja a narrativa paralela no
livro de 1Crônicas.
“Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi
a levantar o censo de Israel” (1Cr 21.1).
Nessa visão do escritor, ele nos mostra que a ação incitante em Davi partiu de Satanás. Há conflito entre esses
dois textos? Certamente, não! O plano para o censo foi de
Deus. Era parte do plano divino que o censo fosse realizado. No entanto, ele se serviu de Satanás para levar Davi a
realizar o censo. Todavia, em última instância, a vontade
de Deus foi feita.
Assim como Deus usou Satanás para que o seu plano
no Éden fosse concretizado, ele também o fez com Davi.
As tentações que nos sobrevêm são sempre supervisionadas por Deus, para que nada na história fuja aos seus
propósitos. Não podemos perder de vista o fato de que a
história humana é a consecução dos propósitos divinos
eternamente estabelecidos.
O exemplo mais claro da ação divina por detrás das
circunstâncias dessa natureza está na tentação do próprio
Senhor Jesus. A Escritura diz o seguinte:
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“A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para
ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1).
O Espírito de Deus, que é chamado de “Santo”, levou
Jesus para ficar sob o ataque inimigo! Ele expôs Jesus à
tentação! O plano de Deus para a nossa redenção incluía
o preparo de Jesus. E para que ele amadurecesse para a
obra final, teve que passar pela tentação, que foi de grande
sofrimento para ele (Hb 2.18).
O que aconteceu ali no deserto pode ser visto de dois
ângulos: 1) Do ângulo de Satanás, o que ele fez com Jesus
foi uma real tentação. Ele quis levar Jesus a desobedecer aos preceitos ensinados por Deus na sua Palavra.
A despeito da esperteza de Satanás no uso indevido da
Escritura, ele não teve sucesso porque Jesus Cristo é o
Deus-homem, o conhecedor supremo da Escritura porque é, em última instância, o seu autor. 2) Do ângulo de
Jesus, o que lhe aconteceu foi um teste, uma prova para
que ele aprendesse e crescesse em sua obediência ao seu
Pai celestial. E Jesus venceu a tentação de Satanás, passando no teste!
No entanto, houve outro personagem que, definitivamente, não passou no teste. Ele caiu de uma vez por todas diante da tentação. A Escritura diz que “Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze”
(Lc 22.3). Ele propôs, no seu coração, entregar Jesus e
não abriu mão da sua deliberação (Lc 22.4). Contudo, sabemos que a intenção de Judas para trair Jesus era parte
dos planos de Deus, dizendo que a ação de Judas era o
cumprimento das Escrituras. Veja a narração de Lucas:
“Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o
Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi,
acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam
Jesus” (At 1.16). Era parte do projeto divino que Cristo
fosse traído e morto; o texto da Escritura acrescenta que
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Jesus foi entregue nas mãos de seus algozes “pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (At 2.23). Deus
coloca uns para serem vencedores sobre a tentação de
Satanás e outros para serem perdedores. Tudo isso, porém, ele faz usando a liberdade natural que ele dá aos
homens, o que os torna responsáveis (Lc 22.22). Deus é
soberano, e todas as coisas que acontecem na história
são o cumprimento dos seus planos estabelecidos para
este mundo.
Soberanamente, você e eu somos expostos à tentação
pelo próprio Deus, ainda que os elementos tentadores sejam
as criaturas, e não o próprio Deus, porque ele a ninguém
tenta, como é o ensino da Escritura (Tg 1.13). Todavia, ele
quer que nós, seus filhos, sejamos vitoriosos, e não há vitória contra o mal sem a luta contra ele. Então, Deus nos
expõe à tentação com santos propósitos. Por isso, Jesus
ensinou-nos a orar: “E não nos induzas à tentação, mas
livra-nos do mal” (Mt 6.13). Conhecendo muito bem quem
nós somos em nossa pecaminosidade, Jesus nos ensinou
essa oração a fim de que o Pai não nos expusesse a essa
prova, porque a probabilidade de cairmos nos pecados é
grande, e também porque a nossa fraqueza e imaturidade
espirituais, muitas vezes, são frustrantes. Ser testado na
fé pode ser um grande perigo para mostrar a nós próprios
quão fracos somos e, às vezes, por causa de nossa fraqueza, quão insuportáveis as tentações se tornam. Eu sei
que Deus não permite que sejamos tentados além das nossas forças (1Co 10.13), mas isso não significa que, quanto
mais fracos somos, tentações menos fortes nos sobrevêm.
Se assim fosse, Deus estaria encorajando a nossa fraqueza
para minimizar a força da tentação, diminuindo, assim, o
nível de nossa vida espiritual. O que o autor bíblico quis
dizer é que, em circunstâncias normais de uma pessoa
que faz uso dos meios de graça (como o estudo da Palavra
e a oração, por exemplo), fortalecendo-se através deles, ela
não é passível de tentação tão forte à qual não possa resistir com o uso devido dos meios de graça proporcionados
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por Deus. No entanto, soberanamente, Deus pode expor
você à tentação para que os propósitos dele em sua vida
se realizem.
O alvo divino das provações e tentações a que ele
nos expõe é para que a provação, “uma vez confirmada,
produz[a] perseverança” (Tg 1.3) em nós. Deus quer criar
em nossa vida o senso de perfeição e eficiência nas coisas
que fazemos (Tg 1.4).
Portanto, do projeto de Deus, faz parte a criação de
uma humanidade remida que seja forte, perseverante e eficiente, e, por incrível que pareça, o tentador é parte desse
projeto. Deus se serve de Satanás, que entrou no mundo,
para tornar os seus filhos, no final das contas, do jeito que
ele planejou que fossem.
Um exemplo bem patente de que as provações/tentações são usadas por Deus para fortalecer os seus filhos
está no caso de Pedro. Usualmente nós só falamos das
negações de Pedro, não de suas tentações. No entanto, a
Escritura diz que Satanás tinha a intenção de derrubar
Pedro, mas Satanás não é soberano. Por detrás da tentação de Satanás, existia o plano soberano de Deus para
Pedro. Veja o que Jesus lhe disse:
“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos
peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que
a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres,
fortalece os teus irmãos” (Lc 22.31,32).
Satanás procurou destruir a fé de Pedro, mas Jesus
intercedeu por ele para que a sua fé não desfalecesse,
expressando a sua soberana força sobre a limitada força
de Satanás. A tentação para Pedro foi para que ele tivesse
perseverança e pudesse ser forte o suficiente para, depois
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do arrependimento, fortalecer outros irmãos mais novos.
Dos planos de Deus para a nossa vida também faz parte
a obra do tentador, porque Deus quer nos fazer homens e
mulheres fortes para o serviço eficaz no seu reino!
Além disso, a entrada do tentador no habitat dos homens, que também inclui a obra de cegar a mente dos
homens, é parte dos planos de Deus. A Escritura diz que
o evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê (Rm 1.16). No entanto, esse poder
é manifesto para aquele que tem olhos para ver o que o
evangelho significa. Os demais não conseguem ver nem
perceber o poder desse evangelho. Veja que a razão dessa
cegueira está no ministério de Satanás, que é o de cegar o
entendimento dos homens. Isto é parte do projeto divino,
acredite se quiser!
Veja o que a Escritura diz da obra de Satanás:
“Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para
os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus
deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para
que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4.3,4).
A cegueira dos homens vem por duas razões:
A primeira razão, que não está embutida no texto em
análise, é porque não há a obra regeneradora do Espírito
Santo, dando luz às pessoas para poderem ver. É uma
obra negativa de Deus, em que ele não faz nada para resolver o problema da cegueira. Essa é a cegueira interna.
Mesmo que a luz do evangelho brilhe ao redor do pecador,
ele não tem olhos para ver porque a obra regeneradora
não o atingiu.
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A segunda razão da cegueira dos homens parece ser
uma obra ativa de Satanás, que torna ainda pior a situação do não-regenerado. O texto diz que Satanás põe
venda nos olhos dos homens para que eles não vejam
a luz externa que a Palavra de Deus tem. Ele não deixa
que a beleza do evangelho seja apresentada ao pecador,
cegando-o. Essa é uma cegueira externa. É uma obra
ativa de Satanás, em que ele faz alguma coisa para impedir que os homens vejam a luz do evangelho que está
sendo proclamado no mundo. Perceba que isso é parte
dos planos de Deus para o mundo. Por isso, Paulo diz
que o “evangelho está encoberto” dessas pessoas, que
são as que se perdem. Essas pessoas não conseguem ver
realmente quem Jesus Cristo é, ou seja, “a imagem de
Deus”. A luz do evangelho é espalhada por este mundo,
mas a função de Satanás é cegar o entendimento dos
incrédulos para que eles não vejam a beleza do evangelho demonstrada naquele que é o resplendor da glória, a imagem de Deus. A luz brilha ao redor deles, mas
eles estão cegos para poderem ver a beleza do evangelho. Observe que isso é parte dos planos de Deus para
a entrada de Satanás no habitat dos homens. Somente
aqueles que Deus resolve salvar é que conseguem ver a
beleza de Cristo anunciada no evangelho. Por isso, na
continuação do texto, Paulo diz:
“Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a
luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para
iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face
de Cristo” (2Co 4.6).
Você e eu, que hoje somos regenerados, tivemos resplandecida em nosso coração a glória de Deus mediante
Jesus Cristo. Somente nós recebemos isso. No entanto,
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anteriormente, estávamos em trevas internas como os
outros, mas Deus nos tirou desse império de trevas e
nos colocou na luz do reino do Filho do seu amor. Ele
fez brilhar em nosso coração a beleza de Cristo no seu
evangelho. A luz foi criada dentro do nosso coração e,
então, conseguimos ver o que os incrédulos ainda não
conseguem. Houve luz em nós, e em outros continuou o
poder das trevas. E o serviço de Satanás é manter essas
pessoas debaixo de trevas. Isso tudo é parte dos planos
de Deus para o mundo.
3. A ENTRADA DE SATANÁS NO HABITAT ORIGINAL
DO HOMEM PARA CAUSAR A QUEDA É PARTE DO
PROJETO DIVINO PARA O MUNDO
A entrada do pecado no mundo é parte dos eternos
e incompreensíveis desígnios divinos. Ao serem confrontados com essa verdade, muitos cristãos apelam para outras filosofias humanistas que dão ao homem um poder
determinativo que suplanta qualquer noção de soberania
divina. Na verdade, a soberania passa a ser a humana, e
Deus se torna impotente e faz alguma coisa para minorar
o estrago feito pelo pecado. Pink diz que
a concepção da Divindade que prevalece mais
amplamente hoje, mesmo entre aqueles que professam
dar atenção às Escrituras, é uma caricatura miserável,
um travesti blasfemo da Verdade. O deus do século 20
é um ser impotente e efeminado que ordena o respeito a
homens sem qualquer zelo. O deus da mente popular é a
criação de uma sentimentalidade de embriaguez. O deus
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de muitos no púlpito do tempo presente é um objeto de
compaixão e não de reverência inspiradora.6
1. A queda do homem em pecado no Éden não foi
uma surpresa para Deus
A queda do homem no jardim do Éden não pegou
Deus de surpresa. Deus não foi surpreendido pela obra
de uma de suas criaturas-primas. Pink disse que “sugerir que Deus foi pego de surpresa no Éden e que ele agora está tentando remediar uma calamidade imprevista é
degradar o Altíssimo, colocando-o no nível do finito e do
mortal que erra.”7
Não existe surpresa para Deus. A surpresa é alguma
coisa própria de alguém que não tem olhos para ver o futuro. Nós, que somos limitados em nosso conhecimento,
somos frequentemente surpreendidos pelo que nos acontece. Isso é produto do nosso pequeno conhecimento,
mesmo das coisas presentes. A surpresa se torna ainda
maior porque não sabemos o que nos acontecerá amanhã. Nesse sentido, tudo é surpresa para nós. No entanto, Deus não é surpreendido por nada porque tudo o que
acontece é produto da consecução de atos previamente
determinados. A queda do homem no seu habitat original
foi parte dos planos divinos.
2. A queda do homem em pecado no Éden não foi
uma frustração do plano divino
Não somente Deus não é surpreendido por nada,
como também ele não experimenta nenhuma frustração
6 A. W. Pink, Divine Sovereignty, http://www.pbministries.org/books/pink/
Sovereignty/sov_01.htm.
7 Ibid.
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pelo que aconteceu no habitat original do homem. O plano original de Deus não foi frustrado pelo pecado. No entanto, há teologias que dizem que Deus teve o seu plano
frustrado e, então, o pospôs para a realização em tempos futuros. É um acinte afirmar que Deus é um ser que
sofre frustrações. Estas só podem vir sobre aqueles que
esperavam uma coisa e aconteceu outra, ou seja, sobreaqueles que são surpreendidos nas suas expectativas. A
frustração só vem sobre aqueles que possuem pouco conhecimento, pouco poder e uma presença limitada, mas
não vem sobre aquele que tem a onisciência, a onipotência e a onipresença. Estes atributos de Deus o livram da
frustração. Deus determina todas as coisas, por isso ele
sabe todas as coisas; Deus sabe todas as coisas porque
ele está presente em todas elas; Deus pode todas as coisas porque ele sabe tudo e está em tudo e, por isso, determina tudo.
Se dissermos que Deus ficou frustrado, estaremos tirando Deus do seu divino lugar – a realeza. Pink disse que
“declarar que o plano original do Criador foi frustrado pelo
pecado é destronar Deus.”8
Alguns pregadores pintam a queda no Éden como se
fosse alguma coisa que deixou Deus desapontado com o
homem, porque ele não esperava que o homem lhe desobedecesse. Pink assevera:
dizer que a criatura rompeu os limites estipulados por seu
Criador, e que Deus é agora praticamente um Espectador
impotente diante do pecado e do sofrimento acarretados
pela queda de Adão, é repudiar a declaração expressa da
8 A. W. Pink, Divine Sovereignty, http://www.pbministries.org/books/pink/
Sovereignty/sov_01.htm.
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Escritura, a saber, “pois até a ira humana há de louvar-te;
e do resíduo das iras te cinges”.9
Quando negamos a soberania divina na queda estamos entrando por um caminho onde o homem assume o
governo de todas as coisas, e Deus fica relegado a uma posição de conformação ao que o homem determinou. Essa
atitude de negação da soberania divina está muito mais
próxima do ateísmo do que do genuíno cristianismo.
3. A queda do homem em pecado não foi uma ação
determinante da soberania da vontade humana
Há cristãos que argumentam que a vontade do homem, no habitat original, era absolutamente livre para,
igualmente, obedecer ou desobedecer a Deus, que a liberdade da vontade do homem é um dom divino. Segundo
Pink, “argumentar que o homem é um agente moral livre e
o determinador de seu próprio destino, e que, portanto, ele
tem o poder de dar xeque-mate em seu Criador, é desvestir
Deus do atributo da onipotência.”10
Se a onipotência divina é retirada para a supremacia
da liberdade da vontade humana, então os atributos estão
em ordem invertida: a criatura se torna soberana em relação ao Criador. E se a vontade do homem é livre, então
Deus está preso ao que o ser humano decide fazer, e não
existe um plano previamente estabelecido. E se não existe
esse plano, tudo o que acontece na história é acaso. A doutrina da liberdade da vontade leva, inquestionavelmente, ao
indeterminado, ao não-causal, ao imponderável, ao acaso.
É importante que os defensores da vontade livre se voltem
9 Ibid.
��������������
A. W. Pink, Divine Sovereignty, cap. 1, http://www.pbministries.org/
books/pink/Sovereignty/sov_01.htm.
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de seu pensamento e reflitam sobre a soberania divina, não
humana. É significativo que os libertários se distanciem da
posição que eles possuem a fim de que Deus seja glorificado
a despeito do que acontece na história. Que Deus seja considerado soberanamente livre, não os homens!
4. A ENTRADA DE SATANÁS NO HABITAT ORIGINAL
DO HOMEM É PERCEBIDA POR SUA SAGACIDADE
“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos
que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que
Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1).
A Escritura afirma claramente a sagacidade da serpente, que, nessa parte do capítulo, é tratada como Satanás,
não simplesmente como um animal criado por Deus.
1. A sagacidade de Satanás se vê na escolha de
uma serpente astuta para a tentação
Deus designou um animal que ele sabia ser sagaz para
ser o instrumento usado pela astúcia de Satanás. A serpente,
como os outros animais, foi criada por Deus. Ela estava no jardim como qualquer outra criatura perfeita que Deus havia feito. Pois foi justamente atrás da serpente que Satanás se pôs a
caminho. É possível que Deus tenha dito a ele que animal escolher para ser seu instrumento de maldade. De qualquer forma, Satanás estava diante de vários animais no paraíso, mas
ele escolheu a serpente, que, sabidamente, era sagaz, mais do
que os outros animais selváticos que Deus havia criado.
Todavia, quando Satanás entra em cena no texto de
Gênesis 3, a serpente já não é mais um animal perfeito e
santo, mas está debaixo da influência dele, a seu serviço.
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De agora em diante, ela não será somente a serpente, mas
também o instrumento de Satanás.
2. A sagacidade da serpente se evidencia na
escolha da pessoa a ser tentada
Por razões que não estão explicitamente afirmadas na
Escritura, a serpente resolveu atacar primeiramente Eva, a
esposa daquele com quem Deus havia feito o pacto das obras.
Portanto, sem explicações, a Escritura mostra que a serpente escolheu a mulher para tentar, não o homem. Satanás
sabia que Eva, por sua própria constituição emocional, seria
mais vulnerável à tentação. A responsabilidade de guardar
e cultivar o jardim não havia sido dada a ela, mas ao seu
marido. Adão era o cabeça do pacto, não Eva. Ela deveria ser
sua auxiliadora idônea, para ajudá-lo em todas as atividades
do paraíso, mas não tinha autoridade nenhuma para tomar
decisões no paraíso. Certamente Eva conhecia a ordem, mas
não era o cabeça do lar. Deus havia dado a Adão a responsabilidade de ser o administrador de toda a criação.
Pois foi exatamente por essa razão que Satanás se
dirigiu a Eva e lhe fez propostas indecentes a respeito de
Deus, sugerindo-lhe que Deus não estava sendo verdadeiro no que ele dizia.
5. A ENTRADA DE SATANÁS NO HABITAT ORIGINAL DO
HOMEM DÁ VERDADEIRO SENTIDO À REDENÇÃO
Esse ponto reflete simples uso da lógica, e não há nenhuma inconveniência no uso da lógica, pois esta é, também, parte da mente divina e da nossa, pois Deus nos
criou à sua imagem e semelhança. Não há necessidade de
nenhuma outra argumentação para mostrar que a redenção, anunciada antes da fundação do mundo (Tt 1.1,2),
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não poderia, de forma alguma, acontecer se não houvesse
a entrada de Satanás no habitat original do homem e a sua
consequente queda. A queda é o pressuposto inquestionável da redenção. A primeira pode existir sem a segunda,
mas jamais a segunda sem a primeira.
A redenção de pecadores tem como pressuposto a
queda deles no seu habitat original. No entanto, há muitos
pregadores que dizem coisas estranhas sobre Deus e a redenção de pecadores. Sobre eles, Pink escreveu:
Supor que Deus o Pai tem proposto a salvação de toda a raça
humana, que Deus o Filho morreu com a intenção expressa
de salvar a totalidade da raça humana, e que Deus o Espírito
Santo está agora procurando ganhar o mundo para Cristo;
quando, como um assunto de observação comum, é evidente
que a maioria dos companheiros de raça está morrendo em
pecado e passando para uma eternidade sem esperança:
significa dizer que Deus o Pai está desapontado, que Deus o
Filho está insatisfeito, e que Deus o Espírito está derrotado.
Temos afirmado a questão grosseiramente, mas não há
como escapar a essa conclusão. Argumentar que Deus está
“tentando o seu melhor” para salvar a totalidade da raça
humana, mas que a maioria dos homens não o deixa salvá-los, é insistir em que a vontade do Criador é impotente, e
que a vontade da criatura é onipotente. Atirar a culpa, como
muitos fazem, sobre o Diabo não remove a dificuldade, porque
se Satanás está derrotando o propósito de Deus, então,
Satanás é todo-poderoso, e Deus não mais é o Ser Supremo.11
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A. W. Pink, Divine Sovereignty, cap. 1, http://www.pbministries.org/
books/pink/Sovereignty/sov_01.htm.
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o habitat humano
– o paraíso perdido
A despeito desse tipo de pregadores, a quem Pink critica, Deus continua sendo o único soberano, Rei dos reis e
Senhor dos senhores. Ele expõe os homens à tentação desde o tempo do habitat original. Ainda não é diferente hoje.
Ele tem os seus propósitos na tentação dos homens, porque a tentação e a consequente queda nos fazem entender
a necessidade e a beleza da redenção. A fim de se preparar
para a sua função precípua de ser Redentor, Jesus foi vencedor sobre a tentação quando exposto a ela. No entanto, no habitat original, Adão e Eva não foram vencedores.
Assim mesmo, os propósitos de Deus foram cumpridos na
tentação que ele enviou aos nossos primeiros pais, pois a
queda era parte desse grande plano de Deus para ele ser
glorificado na redenção de pecadores.
Além disso, alguns de seus atributos desconhecidos tornaram-se conhecidos, como a graça, a misericórdia, a paciência e a justiça. Se não houvesse queda,
Deus jamais poderia manifestá-los aos homens, porque
não faz sentido esses atributos serem manifestos num
ambiente de santidade.
A entrada de Satanás no habitat original não o torna
soberano, como alguns evangélicos sugerem em sua teologia. Com a entrada dele no mundo dos homens, Deus manifesta ainda mais o poder de sua soberania. Por isso, ele
pronuncia sua maldição a Satanás, aos homens e a tudo o
que o homem toca. Ao autorizar a entrada de Satanás no
mundo, Deus não abriu mão de sua soberania. Ela continuou no decorrer da história e continuará para sempre no
mundo criado. Ela está em operação, e haveremos de ver a
sua manifestação plena quando a redenção se completar,
assim como quando sua justiça for exercida na punição
dos ímpios. No entanto, não se pode esquecer que a queda
dos homens é o pressuposto inquestionável da redenção
de muitos deles.
A soberania de Deus na entrada de Satanás no paraíso nos leva a pensar em sua grandeza, antes que em sua
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a entrada do tentador no paraíso
impotência de frear Satanás (como pensam alguns arminianos desavisados).
A soberania de Deus na entrada de Satanás no paraíso nos leva a pensar na inteligência e na sabedoria
dos seus planos, antes que em sua ignorância sobre o
que poderia acontecer (como pensam os defensores do
teísmo aberto).
A soberania de Deus na entrada de Satanás no paraíso
nos encanta, em vez de nos desapontar. Deus está no contro­
le absoluto de todas as coisas. Tanto os seres criados como
os eventos por eles realizados estão debaixo de um plano
secreto que, aos poucos, vai sendo apresentado no palco da
existência humana, e todas as coisas escondidas vão sendo
trazidas à tona. Chegará o tempo em que vamos entender
com clareza o que hoje nos parece oculto.
Todavia, ainda que não venhamos a compreender
tudo, ao menos chegaremos a alguma compreensão de
quão grande, poderoso e soberano é o Deus em quem
dizemos crer! Tenha esta doce esperança na alma: Lá no
final você vai ter uma visão bem nítida de quem Deus
realmente é. Se você já começa a ter esse entendimento
de Deus agora, glorifique-o por isso, porque os problemas
do mundo e os seus pessoais terão mais explicações para
você do que para aqueles para quem Deus não passa de
um respeitador das liberdades que os homens pretensamente possuem.
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