Marcelo Bicudo Conclusão Professor de sociologia e surfista profissional, David Carson foi introduzido no mundo do design gráfico por meio de um workshop no fim da década de 1970. (Marcelo Bicudo) Conclusão 1 David Carson Professor de sociologia e surfista profissional, David Carson foi introduzido no mundo do design gráfico por meio de um workshop no fim da década de 1970. Iniciou um estilo calcado na experimentação e no caótico, trazido em grande parte pelo movimento Merz, com expoentes construtivistas como Schwitters e Lissitsky. É criticado por ter rompido com a legibilidade e a rigidez dos grids da escola suíça, defendidos até hoje pelos designers modernistas, como por exemplo, o famoso Paul Rand, responsável pela marca da IBM, e pelo brasileiro Alexandre Wollner, responsável pela marca do Banco Itaú, que o critica, argumentando que “... se não serve para ler, para que serve então?”1 Billy Bacon, designer da nova geração brasileira, propõe, em contrapartida, que o assunto da legibilidade está ultrapassado, pois para ele “o design é uma manifestação de comunicação que vive evoluindo e se transformando”.2 A discussão do que é legibilidade hoje é muito extensa e não deve se prender à figura de um único designer, para que não pareça uma discussão apenas acerca de escolas de design. O alargamento dos limites do que até então se considera legível vai além de “dá para ler”, ou “não dá para ler”. A grande preocupação deve ser se a alteração das formas tradicionais de leitura traz novos significados ou não. Em alguns casos percebemos, mesmo no trabalho de David Carson, que a colagem de referências ou a fragmentação de determinada leitura não passam de mera experimentação, deixando, afinal, de gerar novos significados para determinado texto. Mas, no conjunto de sua obra e em muitos de seus trabalhos isolados, percebemos a forte conexão entre os elementos estruturais e a busca por novos sentidos de leitura. Outras vezes percebe-se que em um pós-modernismo típico nem tudo se assume como obra, entendendo que “produzir um conceito é incomodamente diverso de meramente ter um, ou mesmo de tentar pensá-lo”.3 Em 1983, Carson assume como diretor de arte da revista Transworld Skateboarding, tendo como preocupações fundamentais colocar novas idéias e causar impacto pela quebra das regras que vigoravam no design tradicional. Essa revista de pequeno apelo comercial foi rica em experimentações de layout e de tipografia. Um artigo da revista poderia, por exemplo, ser iniciado na capa, perfazer o miolo e terminar na quarta capa, fazendo com que a ordem tradicional de leitura de uma revista fosse completamente alterada. De maneira geral, a primeira década de trabalho de David Carson foi pautada por essas experimentações da revista Transworld e por trabalhos de menor porte. A partir de 1990, com um cenário propício devido ao surgimento da cultura grunge, a linguagem de David Carson começa a ter ressonância no mercado comercial. Nesse período assume a direção de arte da revista Beach Culture, arrebatando mais de 150 prêmios internacionais de design com essa publicação. 1 MARI, Angélica. David Carson Maestro da Transfiguração. Design Gráfico, São Paulo, ano 7, n. 60, p. 26, 2002. 2 Ibidem. p. 27. 3 JAMESON, Frederic. Pós-modernismo. A lógica do Capitalismo Tardio. São Paulo: Editora Ática. p. 182. 2 Conclusão Após esse período de desenvolvimento para um público mais alternativo, David Carson consegue impor a experimentação no design ao mercado, através da celebrada revista Ray-Gun. Essa revista muda o cenário do design gráfico mundial, inserindo a cultura underground em uma publicação essencialmente comercial. O sucesso da revista obriga David Carson a fundar a Garage Fonts, para desenvolver tipos gráficos especialmente para essa revista, transformando a experimentação tipográfica em elemento fundamental da criação voltada para grandes mercados. Imagem da revista “Beach Culture”, com direção de arte de David Carson. Com a aceitação de seu trabalho, grandes corporações internacionais passam a consultá-lo para o reposicionamento de suas marcas. São elas: Nike, CocaCola, Citibank, AmEx, MGM, Giorgio Armani, entre outras. Atualmente vem desenvolvendo também projetos para mídias em movimento, tais como videoclipes e Internet, não se sentindo, entretanto, atraído A imagem acima é do referido artigo da revista “Raypela Web. Acredita que a Internet Gun”, em que David Carson utiliza uma tipografia e seus softwares limitam a formada apenas por símbolos, chamada Zapf Dingbat. criação e a experimentação que costuma realizar, fazendo com que o design perca sua força. Avesso também ao extenso uso do computador na criação, Carson acredita que os processos manuais são muito mais abertos à experimentação. David Carson, ao lado de Neville Brody, foi um dos responsáveis pelo rompimento de uma maneira de se fazer design que perdura desde os tempos da Bauhaus e do modernismo suíço. Gerou discussões sobre a questão da legibilidade, da experimentação e da neutralidade do design gráfico, apesar de restringir-se essencialmente à mídia impressa. Mostra-nos, através de suas experimentações tipográficas, que o papel do designer é o de trabalhar a escrita ou a representação da escrita, não importa em qual tipo, linguagem e mídia essa escrita se realizará. É na esteira desse processo que se forma, em Londres, no início da década de 1990, o grupo TOMATO, que, ao contrário de David Carson, atua em diversas mídias, contribuindo também significativamente para a mudança do conceito e da prática do design. Conclusão 3 TOMATO O grupo TOMATO foi formado em 1991 por Steve Baker, Dirk Van Dooren, Karl Hyde, Richard Smith, Simon Taylor, Graham Wood, Collin Veamcombe e John Warmicker, sendo este último o principal porta-voz do grupo. Jason Kedgley e Michael Horsham uniram-se ao grupo em 1997 e 1998, respectivamente. Karl Hyde e Richard Smith também formam a Underworld, banda eletrônica famosa no cenário underground mundial. Em 1998, a TOMATO Films foi fundada para representá-los em filmes, documentários e comerciais, dirigida por Jeremy Barret. Também em 1998, a TOMATO interativa foi fundada por Tom Roope, Anthony Rogers e Joel Baumann. Em 2000, abriram um escritório em Nova Iorque dirigido por Meredith Brown. Hoje a lista de clientes conta com Sony, Nike, Adidas, Reebok, Moschino, IBM, BBC, Mitsubishi, Toyota, Volvo, Coca-Cola, Dell, CNN, Playstation, Levi’s, MTV, Intel e Pepsi, entre outros. Realizaram os letreiros iniciais de filmes emblemáticos como “Trainspotting”, além de “O Chacal” e “A Praia”. Possuem projetos de arquitetura e urbanismo, tais como restaurantes e bares no Japão, projeto para um parque no Canadá, reestruturações urbanas em ruas degradadas de Londres, contando ainda com um ambicioso projeto arquitetônico da Federation Square em Melbourne, Austrália. Desenvolvem projetos multimídias para clientes como Levi’s e Sony. Fazem filmes para cinema, que se aproximam mais dos filmes de arte, fugindo um pouco da lógica publicitária, além de diversos livros sobre experimentações tipográficas e ensaios visuais, como MMM... Skyscraper, I Love You e Bareback, a TOMATO Project. Estão também sempre envolvidos com exposições de arte ao redor do mundo e orientam, ainda, a assessoria de imagem do primeiro ministro britânico, Tony Blair. Storyboard da abertura do filme “Trainspotting”, feito pelo grupo TOMATO. Storyboard da abertura do filme “O Chacal”, feito pelo grupo TOMATO. 4 Conclusão Storyboard de filme publicitário para a Cruz Vermelha. Storyboard para videoclipe da banda Underworld. Storyboard para filme publicitário da Nike, que lança a campanha Jordan 23. Todos feitos pelo grupo TOMATO. Para o grupo não há soluções de problemas, nos moldes em que a comunicação tradicional está habituada a trabalhar. Seus membros acreditam que o mundo está em constante movimento, assim como as soluções também estão. Por isso, buscam o processo ligado à criação e a produtos, e nunca a um trabalho acabado. Parecem estar em constante mutação, mas ainda assim percebe-se sempre uma base comum, calcada na experimentação da comunicação visual. Conclusão 5 Peças gráficas para o livro com experiências tipográficas “MMM... Skyscraper I Love You”, feito pelo TOMATO. Além do trabalho em conjunto, os membros do grupo TOMATO procuram desenvolver trabalhos pessoais. Warmicker está cada vez mais envolvido com a arquitetura, principalmente no desenvolvimento do Melbourne Federation Square, desde 1998. Karl Hyde, também um dos fundadores, está sempre envolvido com seus projetos musicais, através do grupo Underworld. Taylor desenvolve a parte de moda através da confecção chamada Urban Action Fashion. Toda essa experimentação, muitas vezes, é aproveitada nos trabalhos comerciais do grupo, sendo por vezes incorporadas totalmente. Tudo é linguagem, sendo que a preferida é sempre a arte visual, pois, como diz Warmicker, “matemática, filosofia e arte são a mesma coisa. São apenas caminhos diferentes de descrever o mundo. Eu vejo mais liberdade lingüística, escolhendo a arte, do que utilizando uma outra linguagem, porque muitas coisas estão além das palavras...”4 Integram música, imagens e tipografia em filmes publicitários, trabalhando por vezes com imagens abstratas. Pensam a tipografia sempre contendo um significado implícito na representação da palavra escrita. Encaram a identidade corporativa de maneira pouco ortodoxa, trabalhando marcas que são mutáveis e raramente repetem suas formas, mantendo apenas alguns índices que garantem o reconhecimento da mesma. Esses índices muitas vezes são de outra natureza de sentido que não imagético. 4 WARMICKER, John apud O’LEARY, Noreen. TOMATO. Communication Arts, Palo Alto, v. 41, n. 2, maio 1999. p. 100. 6 Conclusão Conclusão Rapidamente conseguimos traçar um panorama desde a história mais remota da linguagem e da comunicação até os dias de hoje, com o trabalho experimental da tipografia. Escolhemos esse percurso para tentar deixar uma mensagem de extrema importância. Para o design gráfico contemporâneo, tudo é linguagem e, sendo linguagem, tudo está necessariamente ligado aos códigos da cultura. Ou seja, a tipografia sempre foi influenciada pelas técnicas e pelo contexto em que os povos e as culturas viam-se imersos. Muitas regras foram estabelecidas a partir desse contexto. A própria anatomia das fontes se deu muitas vezes limitada pela técnica. Isso é verdade até hoje, em que temos o design atual muito influenciado pelo advento da computação gráfica. Passamos e repassamos uma série de regras e sugestões para a aplicação tipográfica. Mostramos também como vem sendo desenvolvida a tipografia no design contemporâneo. Percebemos que as regras se flexibilizaram, mas não deixaram de existir. Isso quer dizer que, devido a essa flexibilidade, temos mais do que nunca que conhecer as regras, a fim de que possamos experimentar e quebrá-las sempre com muito sentido e objetivo. Conclusão 7 Anotações: bibliografia _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 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