IV – São Paulo, 127 (60) quinta-feira, 30 de março de 2017 Diário Oficial Poder Executivo - Seção I C om o propósito de surpreender os passageiros em plena correria do dia a dia e ainda oferecer um momento de reflexão sobre os espaços públicos, a companhia de dança Núcleo Luz – programa sociocultural das Fábricas de Cultura – apresentou ontem na estação Luz da Linha 4-Amarela de Metrô duas coreografias de seu repertório. A ação integra uma série de oito espetáculos mensais que a companhia fará, no decorrer deste ano, na estação operada pela concessionária ViaQuatro. Programa sociocultural das Fábricas de Cultura pretende oferecer uma pausa no cotidiano e mostrar que é possível viver de forma mais afetiva, mesmo em meio a tantas exigências do dia a dia Quem passou pelo local acabou parando para conferir a performance dos 38 dançarinos, a princípio misturados com o público, movendo-se de forma discreta, que aos poucos tomaram todo o espaço situado ao lado das catracas. Em pouco mais de 15 minutos, o público pôde assistir a duas coreografias: Deslocamento e Elo, fragmentos do espetáculo o Largo em Nós, da coreógrafa Chris Belluomini, que o Núcleo Luz apresentará em maio, em temporada no Teatro Sérgio Cardoso. “Como se chama esse grupo?”, quis saber a geóloga Marcele Nicolau, moradora do bairro do Butantã, zona oeste. Apreciadora de espetácu- FOTOS: PAULO CESAR DA SILVA Núcleo Luz apresenta espetáculos de dança no Metrô Ligia (supervisora) e Chris (coreógrafa) Coreografia trata as relações humanas e a capacidade de perceber a presença do outro Série – Companhia fará oito espetáculos (um por mês) no decorrer do ano los de dança e teatro, aprovou a iniciativa: “Excelente essa ideia de trazer para cá um espetáculo de qualidade como esse. É uma oportunidade e tanto para todos nós, principalmente para os que não têm a possibilidade de ir ao teatro”, elogiou. Crescimento – Para a coreógrafa, mais do que levar a arte a todos, a ação tem Dança: expressão de arte e de vida Ensaio na sede do Núcleo Luz O projeto Núcleo Luz nasceu há dez anos como um grupo experimental e cresceu em decorrência da grande procura de jovens interessados em conhecer a linguagem da dança. Hoje atende jovens de 14 a 24 anos com ou sem experiência. Ao se inscrever para concorrer a uma vaga, o candidato compromete-se a participar de outras atividades propostas pelo projeto, como literatura, composição, música, entre outras. Ao aprender as diversas vertentes da dança e participar do processo de montagem do espetáculo, os alunos entram em contato com atividades como pesquisa, técnica, criação do conhecimento, iluminação e ainda desenvolvem competências como criatividade, trabalho em grupo e enfrentamento de desafios. Cada espetáculo leva em média seis meses para ficar pronto, desde a concepção até a apresentação. “A finalidade principal do Núcleo Luz é dar a oportunidade a esses jovens de baixa renda de experimentar a dança de uma maneira mais aprofundada. Entendemos que a dança é, além de uma expressão da arte, também uma expressão do contexto no qual se vive”, ressalta a supervisora de articulação sociocultural do projeto Núcleo Luz, Lígia Labate Frugis. por objetivo oferecer uma pausa no cotidiano e mostrar que é possível viver de forma mais afetiva em meio a tantas exigências do dia a dia. A coreografia Elo, por exemplo, discute as relações humanas e a capacidade, muitas vezes ignorada, de perceber a presença do outro. “Optamos por trazer essa reflexão para a estação do Metrô, local onde as pessoas se encontram tão ensimesmadas, tão atrasadas, atrás de um destino, que chegam a perder o caminho. Vivemos em um estado de brutalidade em São Paulo, sempre correndo atrás de um tempo que nunca alcançamos”. Do Jardim São Luís, Alessandro Mesquita, de 18 anos, afirma que começou a dançar por curiosidade. Da insegurança inicial à desenvoltura atingida em três anos de estudos, o jovem enumera os ganhos conquistados: “Além do trabalho corporal, o projeto nos faz crescer do ponto de vista humano. Muito do que aprendo aqui consigo levar para minha vida lá fora; já resolvi muitos problemas dessa forma”, declara o jovem que sofreu resistência da Alessandro Mesquita – Crescimento humano família quando optou por estudar dança em vez de procurar um emprego. Esse é, de acordo com a supervisora de articulação sociocultural do projeto Núcleo Luz, Lígia Labate Frugis, um problema recorrente entre os jovens participantes. Isso porque o Núcleo Luz atende jovens de baixa renda, com idade entre 14 e 24 anos – fase da vida em que é comum sofrerem pressões da família para contribuir com o orçamento doméstico. “Esses meninos são duplamente castigados, pois, além de não terem tido a oportunidade de entrar em contato com a dança ainda pequenos, chegam aqui numa idade em que muitos são obrigados a interromper os estudos para começar a trabalhar”, informa. Quarta parede – A experiência de se apresentar em um espaço público, sem recursos como cenografia e iluminação, é o principal desafio para os jovens dançarinos. Mesmo com a experiência adquirida, Mesquita não escondia a apreensão por dançar pela primeira vez fora de um palco. “Como estaremos misturados às pessoas, receio um pouco pela reação delas”, explicou. A coreógrafa Chris sabe disso e os orientou a buscar um estado o mais próximo possível da realidade, para que possam viver o momento da dança de forma natural, quase como se tivessem nascido dançarinos. Em outras palavras, isso significa “derrubar” a chamada quarta parede, recurso teatral por meio do qual os atores imaginam uma parede imaginária separando o palco da plateia, para que possam se concentrar apenas no que ocorre no palco. “Oriento-os a viver o momento enquanto dançam: se olharem para algum ponto, que vejam o que ocorre lá, sem a necessidade de procurar um estado cênico. Peço que o façam com mais serenidade e menos solenidade e que entendam que o lugar natural é o melhor lugar. Somos todos movidos pelo mesmo combustível, respiramos o mesmo ar”, ensina. Roseane Barreiros Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial Marcele (geóloga) – Oportunidade para todos A IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SA garante a autenticidade deste documento quando visualizado diretamente no portal www.imprensaoficial.com.br quinta-feira, 30 de março de 2017 às 01:52:14.