Consagração da Primavera 03 – 12 Maio 2013 1 2 CONSAGRAÇÃO DA PRIMAVERA 3 – 10 Maio 2013 O centenário de A Sagração da Primavera de Igor Stravinski dá o mote a um ciclo de concertos que celebra os valores da juventude e dos talentos emergentes nas áreas da música popular brasileira e do jazz europeu. 2 3 07 3­‑5 Maio NOVAS VOZES DO BRASIL Verônica Ferriani · Anelis Assumpção Gisele De Santi · Pedro Miranda Lui Coimbra · Mariene de Castro 17 4 Maio SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA Grupo de Reclusas do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música 25 10­‑12 Maio SPRING ON! JuJu · Žiga Murko · AP Quinteto Jeff Davis Trio · Maxime Bender 4tet · Bushman’s Revenge Phd · Reis­‑Demuth­‑Wiltgen Trio · Moskus Concertos seguidos de jam-session NOVAS VOZES DO BRASIL 3 Maio 2013 21:00; Sala 2 VERÔNICA FERRIANI ANELIS ASSUMPÇÃO 4 Maio 2013 21:00; Sala 2 GISELE DE SANTI PEDRO MIRANDA 5 Maio 2013 21:00; Sala 2 LUI COIMBRA MARIENE DE CASTRO Apoio: Comissão do Ano Brasil em Portugal 6 7 As três noites de “Novas Vozes do Brasil” na Casa da Música dão­‑nos a conhecer um conjunto de projectos que têm crescido no terreno dinâmico da música popular brasileira, revelando uma nova geração de músicos em fase inicial da carreira e já com álbuns de estreia editados no seu país. A filiação destes projectos vai do samba mais tradicional às fusões com o rock, o reggae ou mesmo a música de câmara, mostrando que as propostas de renovação que neste momento animam a MPB são muito diversas e pessoais. Este é talvez um reflexo do actual momento do mercado discográfico global, já que são muitos os músicos brasileiros que crescem de forma independente e não contam com o apoio – ou as imposições – das editoras. O ponto positivo é que a música que nos chega é muito próxima da personalidade dos próprios músicos, livre de manipulações destinadas a conquistar o mercado, algo que noutros tempos estava ao alcance de muito poucos. Alguns dos artistas que nos visitam são cantores­‑compositores que trazem a sua música original, outros são intérpretes que apresentam um repertório entre o tradicional e o moderno trabalhado com arranjos cuidados e grande respeito pelos autores. O programa “Novas Vozes do Brasil” é realizado pelo Itamaraty (Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil) e tem como objectivo a promoção de alguns dos nomes mais expressivos da nova geração da música popular brasileira em apresentações inéditas no estrangeiro. Aumentando a presença desses artistas emergentes no mercado internacional, pretende­‑se oferecer­‑lhes a oportunidade de alcançarem aí um nível de reconhecimento comparável ao que já conquistaram no Brasil. Na primeira edição do programa, o Itamaraty apoiou apresentações em Washington e Nova Iorque das cantoras Tulipa Ruiz e Tiê, duas revelações da nova safra da MPB que tiveram os seus álbuns de estreia, Efêmera e Sweet Jardim, respectivamente, entre os mais elogiados pela crítica e pelo público em 2010. Ainda em 2011, levou às mesmas cidades norte­‑americanas o cantor e compositor Marcelo Jeneci, músico paulistano cuja lista de parceiros musicais conta com nomes consagrados como os de Arnaldo Antunes, Chico César, Vanessa da Mata e Zélia Duncan. 8 Veronica Ferriani ©DR NOVAS VOZES DO BRASIL – Carvalho, Ivan Lins, Spokfrevo Orquestra e Toquinho. Desde o início da sua carreira, Verônica Ferriani tem apostado em projectos e pesquisas musicais fortemente ligados ao samba. Este concerto é uma autêntica digressão pela história e ícones deste género, começando pelo cronista do quotidiano Noel Rosa, não só um grande compositor popular como também um expoente da arte de escrever letras que, mesmo morrendo ainda muito jovem nos anos 30, deixou uma marca fortíssima na música popular brasileira. O programa é fértil nos grandes compositores dos anos 40 e 50, de Assis Valente e Cartola a Adoniran Barbosa e Marília – a grande intérprete de Noel Rosa mas também uma compositora de direito próprio –, e completa­‑se com a geração seguinte da MPB, com Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e João Bosco, entre outros. VERÔNICA FERRIANI Verônica Ferriani voz Gian Corrêa violão 7 cordas Henrique Araújo cavaquinho e bandolim João Poleto saxofone e flauta Léo Rodrigues percussão Verônica Ferriani lançou em 2009 o seu álbum de estreia homónimo. A par de composições inéditas, nele surge uma selecção de pérolas escondidas de compositores como Gonzaguinha, Marcos Valle, João Donato, Assis Valente e Paulinho da Viola, em versões renovadas e contemporâneas. No mesmo ano surgiu o CD premiado Sobre Palavras, em parceria com Chico Saraiva, compositor e guitarrista que a lançou. A forte personalidade e a graciosidade da voz de Verônica têm­‑lhe permitido dividir o palco com artistas como Beth 9 com o experimentalismo e as influências da música clássica contemporânea. A ideia da integração de diferentes géneros é retomada pela música de Anelis Assumpção, que no seu álbum de estreia Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa, editado em 2011, associa as suas composições originais a géneros como samba, reggae, afrobeat ou hip hop, com o mesmo à­‑vontade e balanço contagiante. Mas a sua inspiração transborda também nas canções mais intimistas, revelando uma naturalidade e elegância que está para além de rótulos e estilos. É talvez nos arranjos tão luxuriantes quanto esparsos que Anelis mais afirma a sua procura por um som contemporâneo, sem hesitar em recorrer aos mais variados jogos de timbres que misturam as referências populares com os géneros urbanos contemporâneos. ANELIS ASSUMPÇÃO Anelis Assumpção voz Cris Scabello guitarra Bruno Buarque bateria Lelena Anhaia guitarra e cavaquinho Mau Pregnolatto baixo Quando um artista é filho de uma grande figura, há por vezes a tentativa de se afirmar independentemente da sua herança, de modo a ser aceite pela crítica como um valor por direito próprio, livre de favorecimentos. Anelis Assumpção faz o contrário, e ainda bem que o faz. O seu pai, Itamar Assumpção, foi uma figura­‑chave da Vanguarda Paulista, grupo de músicos que, entre o final dos anos 70 e o início dos 80, procurou uma espécie de simbiose entre o tradicionalismo de Adoniran Barbosa e o som sujo de Jimi Hendrix, cruzando a música popular 10 Gisele de Santi ©ALESI DITADI Anelis Assumpção ©ANNA TURRA – – tão variados como samba, bossa, baião, chamamé, o funk americano e o samba­ ‑rock jorgebeniano. O seu segundo disco, Vermelhos e Demais Matizes, está prestes a ser editado e foi financiado pelos fãs através do sistema de crowdfunding. O repertório apresentado neste concerto é uma recolha das canções dos dois álbuns de Gisele De Santi, passando ainda pela música de uma das suas maiores influências, Djavan. Aliás, o próprio Djavan é um dos defensores da música da cantora gaúcha, que tem sido responsável pela primeira parte de concertos recentes deste ícone da MPB. GISELE DE SANTI Gisele De Santi voz e violão Kabé Pinheiro percussão Luque Barros violão 7 cordas e contrabaixo Giovanni Barbieri teclados Originária de Porto Alegre, onde iniciou a carreira, a cantora e compositora Gisele De Santi é radicada em São Paulo. O seu disco de estreia, lançado no Brasil e Japão, junta canções que escreveu desde os 14 anos e chamou a atenção de nomes como Nelson Motta e Juarez Fonseca, conquistando o Prémio Açorianos 2010 nas categorias intérprete e revelação. Formada pela Faculdade de Música da Universidade de Rio Grande do Sul, Gisele tem uma abordagem essencialmente intimista e delicada, que passa por estilos 11 público e da crítica. Este último foi considerado por Caetano Veloso “uma colecção de obras­‑primas” e foi nomeado entre os 10 melhores CDs do ano pelo jornal O Globo e eleito o melhor do ano pelos leitores do Jornal do Brasil. Pedro Miranda conhece profundamente os clássicos do samba. Resultado de um percurso na tradição das rodas de samba e de um ano de intensa pesquisa, Pimen‑ teira junta sambas nunca antes gravados de figuras icónicas como Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Nei Lopes e Elton Medeiros, e coloca­‑os lado a lado com sambas frescos de novos compositores. O cantor de voz despojada e sem afectação (segundo Caetano) aborda diferentes estilos como a gafieira, o choro, a chula e o coco, modernizando de forma muito subtil e mantendo todo o poder de sedução do samba. PEDRO MIRANDA Pedro Miranda voz Luís Filipe de Lima direcção musical e violão 7 cordas Eduardo Neves flauta e saxofone João Callado bandolim e cavaquinho Beto Cazes percussão O cantor e percussionista Pedro Miranda é um dos expoentes da nova geração de músicos surgida na Lapa, bairro boémio do Rio de Janeiro. A partir dos anos 90, a Lapa foi palco de uma grande revitalização da música carioca, com destaque para o samba e o choro. Presença constante nas noites do bairro, Pedro Miranda participou em diversos grupos e projectos importantes neste circuito, como o Grupo Semente, o Cordão do Boitatá e O Samba é Minha Nobreza. Os seus dois CDs a solo, Coisa com coisa (Deckdisc, 2006) e Pimenteira (Fonomatic, 2009), alcançaram sucesso junto do 12 Lui Coimbra ©DR Pedro Miranda ©DUDA SIMÕES – – bra conjuga a erudição do violoncelo, instrumento que o consagrou, com o canto da sonoridade de um país de matizes diversos. O seu repertório coloca lado a lado figuras clássicas como o mestre do frevo Capiba, os grandes poetas Mário Quintana e Vinícius de Moraes, o compositor Villa‑Lobos, figuras da MPB como Zeca Baleiro, Pedro Luís e Lulu Santos, incluindo baticuns, canções, cirandas e composições originais do próprio Lui. O concerto integrado neste festival não deixa de passar pelo êxito Ouro e Sol, versão de Fields of Gold de Sting que criou em parceria com Zeca Baleiro e conquistou grande sucesso. LUI COIMBRA Lui Coimbra voz, violoncelo, rabeca, guitarra portuguesa, charango Carlos Motta bateria e percussão Gabriel Geszti piano e acordeão Pedro Aune baixo Lui Coimbra é cantor e violoncelista, guitarrista e arranjador. É considerado pela crítica especializada como um dos responsáveis pelo movimento de “camerização” da música popular brasileira no início dos anos 90 e integra o quinteto instrumental Aquarela Carioca. O seu primeiro disco a solo, Ouro e Sol, foi aclamado pela crítica de todo o Brasil. Traduzindo no seu trabalho a busca por uma MPB que absorva influências, buscando a universalidade mas mantendo raízes bem fundas no fértil solo das manifestações populares de seu país, Lui Coim- 13 Mariene de Castro ©KAYAVERRUNO – Amplamente influenciada pelo rei do baião Luiz Gonzaga, Mariene começou a sua carreira profissional como voz de apoio de Timbalada, Carlinhos Brown e Márcia Freire. Cantora de voz serena e possante, tornou­‑se uma intérprete destacada do samba da Bahia, uma vertente que se situa mais perto das raízes africanas, impregnada de fé com aromas de candomblé. Actuou a solo pela primeira vez em 1996, e logo de seguida partiu para França onde alcançou grande sucesso. Regressou ao Brasil e construiu uma carreira sólida que contou com o apoio de grandes figuras como Beth Carvalho. Recentemente actuou no réveillon na praia de Copacabana para mais de dois milhões de pessoas. Editou uma homenagem à cantora Clara Nunes em formato de CD e DVD, intitulada Ser de Luz. MARIENE DE CASTRO Mariene de Castro voz André de Souza, Iuri Passos e Binho Cunha percussão Dudu Reis cavaquinho Luís Felipe de Lima violão 7 cordas Douglas Marcolino sanfona Jurandir Santana violão “Tabaroa” é uma palavra tupi­‑guarani que significa mulher acanhada, criada no interior, caipira. É assim que se define Mariene de Castro, que deu ao seu terceiro disco, editado em 2012, o título Tabaroi‑ nha. Aí interpreta géneros como o samba de roda e o maracatu, incluindo compositores como Arlindo Cruz, Martinho da Vila e Roque Ferreira. fernando pires de lima 14 15 SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA 4 de Maio 2013 18:00; SALA SUGGIA 1ª Parte GRUPO DE RECLUSAS DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE SANTA CRUZ DO BISPO Sam Mason e Tim Steiner direcção musical Serviço Educativo Casa da Música Re­‑Rite [c.30min.] 2ª Parte ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA Jean­‑Michael Lavoie direcção musical César Franck Les Éolides, poema sinfónico [1876; c.11min.] Igor Stravinski A Sagração da Primavera [1913; c.35min.] Parte I. A Adoração da Terra 1. Introdução 2. Augúrios primaveris, Dança dos adolescentes 3. Jogo do rapto 4. Danças primaveris 5. Jogo das tribos rivais 6. Cortejo do sábio 7. Dança da terra Parte II. O Grande Sacrifício 8. Introdução 9. Círculo místico das adolescentes 10. Glorificação da eleita 11. Evocação dos antepassados 12. Ritual dos antepassados 13. Dança sacrificial Biografias e consituições dos agrupamentos a partir da pág. 38 17 Re­‑Rite Esta performance é inspirada e baseada na Sagração da Prima‑ vera de Stravinski. Explora uma série de temas­‑chave que preocupavam o compositor naquele momento da sua carreira: a tensão entre o velho e o novo, tradição e inovação, rural e urbano, natureza e máquina. Dentro das paredes do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo este tipo de tensões são experienciadas diariamente. O regime é severo e disciplinado e o edifício é construído em linhas limpas e rectilíneas. É uma estrutura ordenada e precisa; contudo, através das janelas, o fluxo orgânico dos campos circundantes está sempre presente. Há poucas imagens tão impressionantes como a visão de um pássaro em voo através das grades da janela de uma prisão. Os músicos, é claro, são cheios de vida e energia e contribuem para um ensemble rico na sua diversidade de idades, experiência, gosto e aspirações. A música faz o grupo, com um único objectivo comum, mas proporciona igualmente a simples partilha de um conjunto de vozes diversas e individuais. A performance é o resultado de tudo isto. Tal como na Sagração, surgem por vezes personalidades individuais e frágeis que são livres de se expressarem ao seu próprio modo. Outras vezes, são constrangidas e obrigadas a conformarem­‑se com um único movimento em esquadria. Outras, ainda, contribuem para uma reflexão sobre a complexidade e o absurdo da cultura contemporânea. A performance contém muitas referências musicais a Stravinski: o movimento ininterrupto da Dança dos adolescen‑ tes, o fluxo das Danças primaveris e a energia tribal da Dança sacrificial. Mas, como Stravinski, os músicos revolvem as suas próprias tradições populares e trazem as suas idiossincrasias e personalidades para a música; tudo isto acumulam, agitam e põem para fora. Esta música É a prisão, com todo o seu caos e a sua ordem, beleza e fealdade, fragilidade e força. É aberta, fechada e temporária. tim steiner Tradução: Fernando P. Lima Ensaios no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo 18 19 César Franck apela aos poderosos recursos da orquestra sinfónica para pintar este sugestivo texto. Reagindo à grandiosidade sonora do poema, um crítico da altura referiu que, em vez de retratar as brisas primaveris, César Franck preferiu brindar o público com o vento mistral do Outono. liége (bélgica), 10 de dezembro de 1822 paris, 8 de novembro de 1890 A partir da década de 1860, os poemas sinfónicos de Franz Liszt, considerado o pai deste género musical que tem por base um texto descritivo ou uma narrativa dramática, causaram um impacto enorme em Paris. O compositor belga César Franck residia, na altura, em Paris e era organista titular da Igreja de Santa Clotilde. Natural de Liége, Franck vivia na capital francesa desde a adolescência. Revelou­ ‑se precoce como pianista e organista, mas enquanto compositor só se afirmou muito tardiamente. De facto, as suas obras mais significativas foram escritas depois dos sessenta anos. Les Éolides data de 1876 e é o seu segundo poema sinfónico. O texto na base da sua criação é um poema de Leconte de Lisle pertencente à colectânea Poèmes Antiques, publicada em 1852. O poema é representativo do parnasianismo, movimento literário que se manifestou a partir de meados do século XIX, principalmente na poesia, e que procurou recuperar os valores estéticos da Antiguidade Clássica. Les Éolides são as seis filhas de Éolo, o Senhor dos Ventos de acordo com a mitologia grega. O poema retrata o percurso do vento, comparando­‑o a beijos caprichosos e doces carícias sobre os contornos contrastantes de vales e montanhas, descrevendo com sensualidade os aromas que se libertam no despertar da Primavera. O poema sinfónico desenvolve­‑se ao longo de cinco secções ininterruptas e 20 Igor Stravinski oranienbaum (rússia), 17 de junho de 1882 nova iorque, 6 de abril de 1971 A Sagração da Primavera protagonizou aquela que é, talvez, a mais famosa estreia de sempre de um espectáculo. A polícia teve de intervir para acalmar os ânimos. As opiniões dividem­‑se sobre se a causa de tal rebelião foi a música ou a coreografia. A junção das duas coisas, até porque a segunda teve por base a primeira, será talvez a melhor resposta. No entanto, não restam dúvidas de que A Sagração da Prima‑ vera de Stravinski representou uma ruptura com cânones anteriores da composição e se aventurou por novos caminhos. No entanto, e surpreendentemente, na base de toda a sua génese esteve sempre a música tradicional russa. «Na Sagração da Primavera procurei expressar o sublime nascimento da natureza renovando‑se – todo o renascer panteísta da colheita universal», escreveu Stravinski a 29 de Maio de 1913 no dossier de imprensa para a estreia do bailado. Este tema insere­ ‑se perfeitamente na tradição russa pagã: a Noite de S. João no Monte Calvo de Mussorgski ou a Páscoa Russa de Rimski­‑Korsakoff 21 são dois exemplos anteriores onde os rituais pagãos estão presentes. Stravinski ancorou­‑se fortemente a essa tradição russa ao recolher muitos dos seus temas em canções populares lituanas compiladas por Juskiewicz. Apesar de nunca o ter admitido, uma comparação entre a partitura da Sagração e a antologia de Juskiewicz permite ver os mesmos contornos melódicos vestidos de ritmos diferentes.1 Esse facto dá uma grande unidade idiomática à Sagração da Primavera. O bailado divide­‑se em duas partes: A Adoração da Terra e O Grande Sacrifício. No Prelúdio da primeira parte (antes da cortina levantar) escutamos um solo do fagote no registo agudo que nos confronta com o momento que antecede uma nova gestação e o potencial infinito de crescimento que uma nova vida representa. Stravinski escolheu as madeiras propositadamente, pois as cordas têm um simbolismo associado à voz humana muito forte. A forma como a textura orquestral cresce, mantendo cada instrumento a sua individualidade, é uma metáfora do despertar da Primavera. Os Augúrios Primaveris dão lugar a uma dança onde jovens adolescentes estão na companhia de uma mulher que conhece os segredos da existência, facto que leva a pensar que terá vários séculos de vida. Ela é um misto de mulher e animal que corre sobre a terra enquanto os jovens filhos batem com os pés no chão ao ritmo do pulsar da Primavera. A mesma nota é repetida com diferentes acentuações rítmicas. Este tipo de ritmo, aliado à imagem ritual que Stravinski transmitiu a Diaghilev, deu origem a uma coreografia completamente distante do bailado clássico, razão pela qual a estreia da peça descambou num chorrilho de insultos, que depressa se transformaram em bofetadas, socos e pontapés entre os que apoiavam o espectáculo e os que se sentiam ultrajados. A rebelião só terá parado no fim da primeira parte quando a polícia irrompeu na sala. São os metais e a percussão, numa espécie de delírio rítmico e polifónico, que anunciam e desenvolvem a música em Jogo do rapto. As Danças Primaveris trazem o elemento feminino para o centro da acção. A música transforma­‑se numa marcha de grande sensualidade. Uma a uma, as jovens saem do rio e juntam­‑se num círculo com os rapazes. Esta união vai originar diferentes tribos. Na forma como Stravinski organizou a estrutura da música está implícita a imagem de um cataclismo antes da organização tribal, metáfora que tem implicações na forma. Após uma secção agitada, a flauta alto e o clarinete piccolo vão fazer a transição para o Jogo das tribos rivais – é a calma antes da tempestade. Trombones e tubas acompanhados pelos tímpanos anunciam esta luta entre as tribos. Estas estão identificadas pela alternância de pequenos motivos nos diferentes naipes da orquestra e manifestam uma agressividade rítmica patente ao longo de todo o número. Segue­‑se o breve Cortejo do sábio, um momento dominado pelos metais. Quatro compassos de quase silên- 1. O livro de Peter Hill, The Rite of Spring, faz uma comparação detalhada entre os temas populares e a forma como Stravinski os utilizou. (Cambridge, 2000) pp.35­‑39. 22 cio, em pianíssimo de reduzida textura, completam um momento a que Stravinski chamou O Sábio, o pontífice das tribos que vem bendizer a Terra. É a transição para a Adoração da Terra, a dança que celebra toda a euforia da Primavera. A segunda parte, O Grande Sacrifício, tem início com um estranho oscilar entre duas notas, um fundo musical quase autista que Stravinski descreveu como um “jogo obscuro das jovens adolescentes”. Entre elas, uma será a eleita para devolver à Natureza a força que lhe foi roubada pelo desflorar da Primavera. O Círculo místico das adolescentes retoma os contornos melódicos sensuais que ouvimos na primeira parte (Danças Primaveris), agora cantados nas cordas enquanto metáforas da voz humana. Este é um momento lento, de alguma tristeza e grande expectativa sobre quem será a eleita. A Glorificação da eleita traz de novo um momento de grande agitação e complexidade na escrita orquestral manifestando toda a força da natureza. Escolhida a eleita, ouvem­‑se três secas pancadas nos tímpanos: são chamados os antepassados ao som dos sopros, madeiras e metais, num novo ritmo de marcha irregular. O Ritual dos antepassados tem início com um belo solo do corne inglês, sobre um pulsar regular e em pianíssimo dos outros instrumentos, ao qual se vem juntar a flauta contralto e depois o clarinete. Progressivamente, os antepassados criam um círculo em redor do lugar que a natureza escolheu para o Grande sacrifício. Na Dança sacrificial uma jovem dança até à morte. É o momento mais fantástico e misterioso de toda a obra. Começa lentamente numa dramaturgia rítmica e vai crescendo progressivamente na sua complexidade melódica e harmónica juntando diferentes instrumentos. A exaustão a que a jovem chega não é representada num jogo de velocidade mas numa multiplicidade polifónica que parece superar as faculdades humanas. Ao tomar consciência do estado em que a jovem se encontra, os antepassados aproximam­‑se do centro do círculo e erguem­‑na antes que ela sucumba. Ouve­‑se um arpejo nas flautas, ecoado nas cordas e no piccolo, e tudo termina. A Primavera foi consagrada. rui pereir a 23 Spring ON! 10 Maio 2013 21:00; Sala 2 JUJU ŽIGA MURKO AP QUINTETO (Áustria) (Eslovénia) (Portugal) Jam­‑session after-hours na Sala 2, hosted by Ass. Porta Jazz 11 Maio 2013 21:00; Sala 2 JEFF DAVIS TRIO MAXIME BENDER 4TET BUSHMAN’S REVENGE (Portugal) (Luxemburgo) (Noruega) Jam­‑session after-hours no Bar Casa da Música, hosted by Ass. Porta Jazz Žiga Murko DJ Set 12 Maio 2013 21:00; Sala 2 PHD REIS­‑DEMUTH­‑WILTGEN TRIO MOSKUS (Bélgica) (Luxemburgo) (Noruega) Apoio: Music: LX – Luxembourg Export Office e Embaixada da Noruega 24 25 SPRING ON! Duke Ellington preferia classificar as suas composições como “American Music”, já há sete décadas, evitando o termo “jazz” e os rótulos desnecessários. Mais ainda, evitando a filiação em qualquer corrente estilística, o que de facto se tornou impossível dada a singularidade das suas concepções musicais e a multiplicidade de referências que se encontram naquelas criações. A verdade é que nunca como hoje foram tantos e tão diversos os caminhos trilhados pelos músicos que vêem ainda no jazz um território comum e na improvisação uma forma fundacional para a arte que pretendem comunicar. Foi essa a vocação encontrada pelo jazz em várias épocas, sempre sem perder de vista a emoção espontânea do blues e, por outro lado, a sofisticação cultivada por mentes mais desassossegadas. É talvez este último ponto que leva o jazz para o meio académico, com a proliferação dos cursos superiores por toda a Europa e, na última década, também em Portugal. Ao mesmo tempo, sob pena de se tornar uma “música clássica”, o jazz não pode deixar de ser aquilo a que Bernardo Sassetti chamava uma “música de rua”, numa certa aversão à excessiva escolarização e valorizando a evolução em contexto informal de trocas de conhecimento e experiências entre os músicos. As formações presentes no festival Spring ON! são de alguma forma o ponto de junção entre estas duas perspectivas, já que se trata de músicos que maioritariamente fizeram um percurso académico com foco no jazz, mas – e o resultado dos seus trabalhos ilustra­‑o bem – não embarcam facilmente em corrente alguma ou numa qualquer linguagem mainstream dos anos 2000, seja ela qual for. Não é necessário evocar a herança da música negra que tanto importava a Duke Ellington, porque há muito se provou que o jazz europeu pode ter poucas referências explícitas à tradição afro­‑americana. Basta pensar no que se fez destacadamente na Escandinávia há algumas décadas, com o surgimento de um jazz cruzado com as músicas populares locais, frequentemente juntando artistas europeus e americanos, entre os quais o pianista e teórico George Russell. Ou, num outro extremo, no que fizeram os cultores da improvisa- 26 ção livre, transformando uma herança com fortes traços afro­ ‑americanos numa linguagem intimamente ligada às correntes da música “clássica” contemporânea da segunda metade do século XX. A originalidade das múltiplas faces do jazz europeu pode ainda revelar­‑se no culto da composição como fim em si mesmo e nem sempre centrado na improvisação – ainda que esta mantenha a omnipresença –, conceito que foi amplamente explorado desde os anos 70, especialmente nas edições da alemã ECM. Também a fusão jazz­‑rock passou frequentemente pela mira de vários improvisadores europeus, na esteira das inovações de Miles Davis, com expoentes como o Esbjörn Svensson Trio – que circulava agilmente entre o jazz de câmara e os ímpetos do rock – ou as explorações de John McLaughlin que foram do conceito power trio à fusão com a música indiana. A grande vantagem de estas e muitas outras experiências estarem realizadas é que nenhum dos projectos apresentados neste festival se sente obrigado a pertencer a qualquer movimento nem a respeitar nenhum livro de estilo do jazz contemporâneo. Mas se as mencionamos, é porque todas elas se vêem prolongadas de alguma forma na música aqui apresentada. Por outro lado, o grande trunfo das academias por onde passaram estes músicos é o facto de, no fim de contas, estes revelarem uma enorme independência no que respeita às suas opções estilísticas, sem reflexos de padronização académica. Assim, ao longo de três dias e nove concertos, poderemos ouvir, mais do que tudo, a linguagem individual de músicos bastante jovens, com carreiras discográficas iniciadas muito recentemente e as mais variadas referências estilísticas e geográficas. 27 – – Judith Reiter viola, voz Julia Schreitl saxofones, clarinetes, voz Žiga Murko trombone, laptop JUJU ŽIGA MURKO Juju é um duo austríaco que explora contextos tímbricos menos usuais, com apenas dois instrumentos melódicos mas também as vozes, os assobios, a percussão. Judith Reiter (1981) e Julia Schreitl (1982) conheceram­‑se enquanto estudantes na Universidade de Música e Artes Performativas de Viena. O duo JuJu surgiu em 2007, resultado de sessões conjuntas de improvisação, e rapidamente deu lugar a composições originais. Em concerto podem ouvir­‑se estes temas e também momentos de improvisação livre, que tanto assumem o formato de canções de inspiração folk como exploram os diálogos instrumentais recheados de técnicas de execução contemporâneas. Em 2012 o duo editou o seu CD de estreia, Short Stories, para a Preiser Records de Viena. Foi seleccionado para o programa “New Austrian Sound of Music” na categoria Jazz, nos anos 2012 e 2013, contando assim com um importante apoio na sua internacionalização. 28 Aos 24 anos, Žiga Murko (1988) é um músico activo em várias frentes. Depois de anos de estudo no campo da música clássica, voltou­‑se para o jazz e diplomou­‑se no Conservatório de Roterdão, em 2011. Entretanto passou por experiências como Next, um colectivo que junta a linguagem do jazz moderno às sonoridades da música tradicional dos Balcãs e outros géneros, e o projecto Amna do saxofonista Jan Kus, centrado nos cruzamentos entre o jazz e o flamenco. Os principais projectos do trombonista esloveno são Žiga Murko Group e Žiga Murko 13. O primeiro inspira­‑se nas técnicas e harmonias das tendências urbanas, explorando os efeitos electrónicos com grooves de dança, e aborda igualmente as formas da música tradicional, com um foco pronunciado na improvisação. O segundo é uma formação alargada de 12 sopros e bateria que reúne músicos destacados do panorama esloveno com nomes influentes da cena nova­ ‑iorquina, e deu origem ao primeiro álbum de Murko em 2012. Neste festival, Žiga Murko apresenta um live electronic act centrado no material do CD 13, criando paisagens electrónicas com recurso ao software Ableton que suportam solos improvisados no trombone. 29 – – AP guitarra João Pedro Brandão saxofone Alexandre Dahmen piano José Carlos Barbosa contrabaixo José Marrucho bateria Jeff Davis vibrafone Demian Cabaud contrabaixo Marcos Cavaleiro bateria AP QUINTETO JEFF DAVIS TRIO 6e5 é o primeiro disco do guitarrista António Pedro Neves – AP (1981) e é a base para o concerto apresentado no festival Spring ON! Reúne cinco músicos portuenses que frequentaram o curso de Jazz na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo e desde então têm vindo a cultivar a identidade colectiva do quinteto, privilegiando a comunicação e a espontaneidade. As composições, todas de AP, destacam­‑se pelos sólidos arranjos rítmicos, que traduzem múltiplas influências e remetem tanto para contextos líricos de determinadas correntes do jazz moderno nova­‑iorquino como para batidas urbanas transformadas à imagem do quinteto. AP estudou guitarra clássica no Instituto Orff do Porto e no Conservatório de Música do Porto, antes de concluir em 2007 a Licenciatura em Guitarra Jazz na ESMAE. Aí frequenta actualmente o Mestrado em Composição. 30 Jeff Davis (1981) é um dos grandes virtuosos do jazz nacional, e um dos raros solistas de vibrafone no nosso país. O seu trio, formado em 2010, explora sonoridades influenciadas por trios pianísticos de referência como os de Bill Evans, Keith Jarrett e Brad Mehldau. Com novo disco gravado em 2012, interpreta um repertório de composições originais e arranjos contemporâneos sobre standards. Natural do Canadá, Jeff Davis vive desde a infância em Portugal. Estudou percussão clássica na Escola Profissional de Música de Espinho e licenciou­‑se na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo com 20 valores, tendo nesse período integrado o Drumming – Grupo de Percussão. Dedica­‑se ao jazz e entre 2003 e 2006 estuda vibrafone no Berklee College of Music, diplomando­‑se com distinção e vários prémios. Em 2009 é editado o seu primeiro CD em nome próprio, o aclamado Haunted Gardens (TOAP) em formato de quarteto. Jeff Davis divide a sua actividade artística entre o jazz e a música clássica: integra vários agrupamentos de câmara e apresenta­‑se em recital a solo em vários países europeus, interpretando peças a si dedicadas de compositores como Filipe Vieira, Andreia Pinto­‑Correia, Nuno Costa, Óscar Graça e Paulo Perfeito, entre outros. É professor de vibrafone no Curso de Jazz da ESMAE e no Conservatório da Jobra e publicou recentemente um livro sobre técnicas de vibrafone. 31 – – Maxime Bender saxofone Sebastian Sternal piano Markus Braun contrabaixo Silvio Morger bateria Even Hermansen guitarras Rune Nergaard baixo Gard Nilssen bateria MAXIME BENDER 4TET BUSHMAN’S REVENGE A música de Maxime Bender assume várias personalidades conforme os projectos que lidera. Enquanto o Maxime Bender Group se centra em composições e arranjos cuidados com amplo terreno para a improvisação, cruzando o jazz tradicional com elementos da música pop e da fusão, a sua orquestra é uma incursão contemporânea nas texturas clássicas da big band. No entanto, o projecto que o traz ao festival Spring ON! é bem distinto: afasta­‑se das clássicas estruturas harmónicas e rítmicas e procura um caminho mais livre. A música do quarteto acontece em torrentes de energia criativa e desenvolve­‑se sob o legado do free jazz, favorecendo a composição espontânea e a comunicação directa entre os músicos. Em 2011 este projecto deu origem ao álbum Follow The Eye. Maxime Bender formou­‑se em Saxofone Jazz e Composição/Arranjos Jazz na Escola Superior de Música de Colónia. Tem actuado em festivais de toda a Europa e colaborado com artistas como Dee Dee Bridgewater, Donny McCaslin, Lalo Shifrin, George Duke e David Binney, entre outros. Recebeu o Elie Music Award em 2007 e foi nomeado para o Eurodjango 2007 (categoria “Novo Talento”). Com o Maxime Bender Group, ganhou o Prémio de Composição do Tremplin Jazz Festival em Avignon e foi finalista do Burghauser Jazzpreis e da Futuresound Competition no Leverkusener Jazztagen. 32 O encontro entre a explosão sonora do hard rock e a liberdade criativa do jazz dá­‑se em cada concerto deste power trio norueguês. Tem conquistado a crítica pelas suas performances arrebatadoras, guiadas por uma intuição colectiva que não deixa adivinhar a juventude dos três músicos – que se aproximam agora dos 30 anos de idade. A revista britânica Jazzwise caracterizou a música de Bushman’s Revenge como Jeff Beck acompanhado por Elvin Jones, e muitos outros pontos de contacto com o rock têm sido mencionados, especialmente o som incisivo e a presença forte da improvisação em figuras do início da década de 70 como Jimi Hendrix, os King Crimson na altura do álbum Red, mas também as vanguardas do jazz na esteira de músicos como Albert Ayler e John Coltrane nos seus últimos testemunhos plasmados em Interstellar Space. Bushman’s Revenge conta com seis álbuns editados, entre os quais os mais recentes A Little Bit Of Big Bonanza e Never Mind The Botox, de 2012, e o álbum ao vivo Electric Komle – Live!, acabado de editar. Se é possível fundir géneros de modo convincente, a música de Bushman’s Revenge demonstra­‑o inegavelmente. Os focos dividem­ ‑se pela sonoridade overdrive da guitarra suportada por uma bateria em constante propulsão, pelos arranjos rítmicos em que baixo e guitarra se colam irrepreensivelmente, e pelos solos flamejantes que equilibram finalmente as narrativas e agarram o ouvinte. 33 Reis/Demuth/Wiltgen Trio ©JEAN BAPTISTE MILLOT – PHD – REIS­‑DEMUTH­‑WILTGEN TRIO Peter Hertmans guitarra Thomas Decock guitarra Peter Delannoye trombone Hendrik Vanattenhoven contrabaixo Matthias De Waele bateria Marc Demuth contrabaixo Michel Reis piano Paul Wiltgen bateria Phd é uma nova banda que junta várias gerações de músicos belgas. Cultiva uma certa pureza melódica e um som pictórico que remete para as influências escandinavas de Jacob Bro ou Sigur Rós. A junção de duas guitarras e trombone lembra os espaços amplos de Paul Motion ou Bill Frisell, mas um dos aspectos que mais sobressai é a influência da música clássica e litúrgica, em arranjos que se combinam de forma equilibrada com as composições originais. O quinteto Phd junta o experiente Peter Hertmans, um guitarrista autodidacta que ao longo da sua carreira tem tocado com figuras como Toots Thielemans, Billy Hart, Philip Catherine, John Ruocco e Slide Hampton, a um conjunto de solistas muitos jovens formados por importantes instituições – Conservatórios de Roterdão e de Haia (Países Baixos), Lemmens Institute em Lovaina (Bélgica) – e que se têm destacado no panorama do jazz belga. 34 Não é muito comum encontrar um projecto na área do jazz que junte músicos habituados a trabalhar em conjunto desde praticamente a adolescência. É o que acontece com este trio luxemburguês, com uma grande cumplicidade entre todos os membros que se traduz na forma como fazem música. O primeiro encontro deu­‑se em 1998: Michel Reis e Paul Wiltgen (1982) convidaram Marc Demuth (1978) a tocar com eles numa festa escolar, e o trio manteve­‑se activo até 2003. Os percursos dos jovens músicos levaram­‑nos por caminhos diferentes. Reis partiu para Bóston, estudando no Berklee College of Music e no New England Conservatory com Danilo Perez, Ran Blake e Joe Lovano. Wilgen para Nova Iorque, ingressando na Manhattan School of Music para estudar com John Riley. Demuth estudou nos Conservatórios de Bruxelas e Haia. Todos se têm afirmado com uma discografia de qualidade, sendo que Marc Demuth conquistou algum destaque no nosso panorama musical graças à colaboração com a cantora Sofia Ribeiro. Embora se fossem encontrando em vários projectos ao longo dos anos, o trio ressurgiu apenas há dois anos, com tão bons resultados que deu origem a vários concertos internacionais, uma digressão no Nordeste Americano e um disco. Todos são compositores, e a música que fazem é um jazz moderno com pendor para as melodias inspiradas muito associadas ao jazz europeu e um forte sentido rítmico que remete para as influências norte­‑americanas. 35 – MOSKUS Anja Lauvdal piano Fredrik Luhr Dietrichson contrabaixo Hans Hulbækmo bateria Este trio norueguês formado por jovens na casa dos 20 anos é uma autêntica revelação do jazz europeu mais recente. As suas raízes dividem­‑se entre o jazz de câmara e muitas outras influências, de hinos religiosos à música de Paul e Carla Bley, passando ainda pelas sonoridades da música tradicional e do pós­‑rock – ou não tivessem dois dos membros vindo de experiências anteriores em bandas de rock. Foi a primeira banda de jazz a ganhar o “Prémio Artista Estreante” da editora discográfica Grappa, em 2011, a que se seguiu o álbum Salmesykkel (2012). Este foi depois nomeado para dois Grammys Noruegueses e rapidamente conquistou a crítica internacional. Os três músicos formados no departamento de Jazz do Conservatório de Trondheim exploram uma sonoridade tipicamente nórdica, alternando improvisação livre e material composto, e lembrando o sentido melódico de projectos como EST ou o balanço de inspiração gospel de Tord Gustavsen. fernando pires de lima 36 37 BIOGRAFIAS E AGRUPAMENTOS Sam Mason tem mais de dezoito anos de experiência em projectos educativos criativos em vários formatos, como líder de workshops, gestora de projectos, consultora educativa e compositora. Trabalhou intensivamente com jovens e crianças e é especializada em workshops de composição criativa, canto e desenvolvimento linguístico. Trabalhou com várias instituições, incluindo a Royal Philharmonic Orchestra, English National Opera, Guildhall School of Music and Drama, London South Bank Centre, Children’s Music Workshop e Coda Music Trust. Nos últimos oito anos, tem colaborado com o Serviço Educativo da Casa da Música, desenvolvendo e ensinando no Curso de Formação de Animadores Musicais. director artístico do programa Connected to Music e foi director criativo dos espectáculos da BBC Over the Rainbow, I’d Do Anything e Play it Again. Compôs e dirigiu a fanfarra de abertura dos Jogos Paralímpicos 2009 e dirigiu a Operação Big Bang para Guimarães 2012, entre muitos outros projectos. Idealizou dezenas de concertos para famílias e escolas no Reino Unido e Noruega. Desenvolve colaborações regulares com o Serviço Educativo da Casa da Música, a Guildhall School of Music and Drama em Londres e numerosas instituições musicais. Depois de se diplomar em Música na Sussex University, em 1987, Tim Steiner concluiu um doutoramento em composição e improvisação colaborativa na City University em 1992. Ensina na Guildhall School of Music and Drama desde 1994. Dirige o Quartet Electronische e é colaborador ocasional mas de longa data do colectivo artístico OMSK. Tim Steiner direcção musical Jean­‑Michaël Lavoie direcção musical Compositor vocacionado para as performances colaborativas, Tim Steiner dirigiu centenas de projectos criativos pela Europa e trabalhou em praticamente todos os contextos musicais e sociais imagináveis, com profissionais, amadores e iniciantes. Compôs e dirigiu recentemente Hunter Gather, uma obra para 3 orquestras interpretada pela BBC Concert Orchestra com orquestras amadoras de Devon e Cornwall. É o maestro da Stopestra, banda de rock de 100 elementos criada na Casa da Música, O jovem maestro franco­‑canadiano Jean­ ‑Michaël Lavoie tem conquistado reputação tanto na Europa como na América do Norte. Músico meticuloso, as suas ideias claras e direcção comunicativa garantem­ ‑lhe rapidamente a confiança de quem consigo trabalha. É Co­‑Director Artístico do afamado grupo de música contemporânea Ensemble Multilatérale (Paris). Entre os compromissos mais destacados na temporada de 2011/12 incluíram­‑se as estreias com as Orquestras Sinfónicas Sam Mason direcção musical 38 de Montréal e de Toronto, bem como o regresso à Sinfónica do Quebeque no seu país natal, Canadá, enquanto na Europa se estreou com a Orquestra Nacional de Gales da BBC e a Orquestra Filarmónica da Radio France. Nesta temporada dirige pela primeira vez o Klangforum Wien, Ensemble Modern, Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, Orquestra Nacional de Lille e Orquestra Metropolitana de Montréal. Reconhecido pelo seu trabalho no domínio da música contemporânea, Jean­ ‑Michaël Lavoie trabalha regularmente com o Klangforum Wien e o Ensemble intercontemporain, do qual foi Maestro Assistente entre 2008 e 2010, colaborando com Pierre Boulez. Lavoie dirige também ópera, tendo­‑se estreado no Teatro alla Scala de Milão em 2011, na estreia mundial de Quartett de Luca Francesconi. Trabalhou depois na reposição da mesma obra no Wiener Festwochen em 2012. Na presente temporada estreou­‑se com a Ópera de Lyon, dirigindo Der Kaiser von Atlantis em Valence e Lyon, e dirigiu também a estreia mundial de La Lettre des Sables de Christian Lauba para a Ópera Nacional de Bordéus. Andris Nelsons, Vassily Petrenko, Emilio Pomàrico, Jeremie Rohrer, Peter Rundel, Tugan Sokhiev, John Storgårds, Joseph Swensen, Gilbert Varga, Antoni Wit ou Takuo Yuasa. Entre os solistas que colaboraram recentemente com a orquestra constam os nomes de Midori, Viviane Hagner, Natalia Gutman, Truls Mørk, Steven Isserlis, Kim Kashkashian, Ana Bela Chaves, Felicity Lott, Christian Lindberg, António Meneses, Simon Trpčeski, Sequeira Costa, Jean­‑Efflam Bavouzet, Lise de la Salle, Cyprien Katsaris, Alban Gerhardt ou o Quarteto Arditti. Diversos compositores trabalharam também com a orquestra, destacando­‑se os nomes de Emmanuel Nunes, Jonathan Harvey, Kaija Saariaho, Magnus Lindberg e Pascal Dusapin. Nas últimas temporadas apresentou­‑se nas mais prestigiadas salas de concerto de Viena, Estrasburgo, Luxemburgo, Antuérpia, Roterdão e no Brasil, e é regularmente convidada a tocar em Santiago de Compostela e no Auditório Gulbenkian. A interpretação da integral das sinfonias de Mahler marcou as temporadas de 2010 e 2011. Em 2013 são editados os concertos para piano de Lopes­‑Graça pela editora Naxos. A origem da Orquestra remonta a 1947, ano em que foi constituída a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto. Actualmente engloba um número permanente de 94 instrumentistas e é parte integrante da Fundação Casa da Música desde Julho de 2006. ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA Christoph König maestro titular A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música tem sido dirigida por reputados maestros, de entre os quais se destacam Olari Elts, Michail Jurowski, 39 8º Curso de Formação de Animadores Musicais Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo Bárbara Branco David Valente Eva Amaro Indy Paiva Inês Loubet Isabel Moreira da Silva Jane Corrêa João Belchior João Carlos Almeida Jorge Loura José Miguel Pinto Mariana Costa Miguel Pardal Miguel Peixoto Nuno Coelho Paula Morgado Pedro Teixeira Rita Vieira Susana Grangeia Susana Ribeiro Tchisola Félix Telmo Sousa Teresa Raminhos Tiago Ralha Ana Rosa Teixeira Ana Vera Matos Andreia Baptista Andreia Silva Aura Garcia Aurora Gonçalves Carla Cardoso Carla Martins Carla Monteiro Cátia Teixeira Júlia Caldas Liliana Teixeira Manuela Ferreira Maria Elisabete Gaspar Maria José Rodrigues Maria Laura Martins Maria Maia Matias Maria Rosa Castro Nádia Sousa Patricia Alves Patricia Machado Patricia Miranda Sandra Barros Sandra Oliveira Sofia Sousa Yeny Santos Design de Cena [Cenografia e Adereços] Mafalda Ramos Agradecimentos Mestrado em Teatro – Especialização em Cenografia da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto 40 41 © pedro lobo Violoncelo Vicente Chuaqui Feodor Kolpachnikov Bruno Cardoso Gisela Neves Michal Kiska Hrant Yeranosyan Aaron Choi Américo Martins* Vanessa Pires* Vasco Alves* ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA Violino I Evgeny Moryatov* Radu Ungureanu Vadim Feldblioum Ianina Khmelik Andras Burai Roumiana Badeva Tünde Hadady Evandra Gonçalves Maria Kagan José Despujols Vladimir Grinman Alan Guimarães Arlindo Silva Emília Vanguelova Nuno Meira* Pedro Carvalho* Violino II Jossif Grinman Nancy Frederick Tatiana Afanasieva Lilit Davtyan Francisco P. de Sousa Mariana Costa José Paulo Jesus José Sentieiro Paul Almond Germano Santos Pedro Rocha Vítor Teixeira Nikola Vasiljev Domingos Lopes Viola Ryszard Wóycicki Joana Pereira Anna Gonera Theo Ellegiers Hazel Veitch Luís Norberto Silva Mateusz Stasto Jean Loup Lecomte Emília Alves Francisco Moreira Rute Azevedo Biliana Chamlieva Contrabaixo Slawomir Marzec Florian Pertzborn Jean­‑Marc Faucher Tiago Pinto Ribeiro Altino Carvalho Nadia Choi Joel Azevedo Angel Luis Martinez* Flauta Paulo Barros Ana Maria Ribeiro Ana Rita Oliveira* Alexander Auer Angelina Rodrigues Oboé Aldo Salvetti Tamás Bartók Jean­‑Michel Garetti Eldevina Materula Roberto Henriques* Clarinete Luís Silva Carlos Alves António Rosa Gergely Suto João Moreira* Trompa Abel Pereira Hugo Carneiro Flávio Barbosa* José Bernardo Silva Luís Vieira* Hugo Sousa* Eddy Tauber Pedro Fernandes* Bohdan Sebestik Trompete Sérgio Pacheco Ivan Crespo Luís Granjo Rui Brito Carolina Alves* Trombone Severo Martinez Ricardo Pereira* Dawid Seidenberg Nuno Martins Tuba Sérgio Carolino Mike Forbes* Tímpanos Jean­‑François Lézé Bruno Costa Percussão Paulo Oliveira Nuno Simões Renato Peneda* Sandro Andrade* Harpa Ilaria Vivan *instrumentistas convidados Fagote Gavin Hill Robert Glassburner Vasily Suprunov Pedro Silva Lurdes Carneiro* 42 43 Amigos da Fundação Casa da Música Bizdirect CIN Deloitte Douro Azul, s.a. Grupo EFACEC EUREST I2S Informática Sistemas e Serviços, s.a. Jofebar s.a. Manvia, s.a Nautilus, s.a. Safira Facility Services Sika Portugal, s.a Strong Segurança, s.a. THYSSENKRUPP Elevadores Vicaima CREATE IT Banco Carregosa Finibanco, s.a. Pescanova O lugar conquistado pela Casa da Música no panorama nacional e internacional revela-se também pela excelência do comportamento acústico das suas Salas de concerto. Na procura de continuidade dessa qualidade a Casa da Música procedeu a uma intervenção nos difusores qrd da Sala Suggia com o apoio de: 44 APOIO INSTITUCIONAL MECENAS SERVIÇO EDUCATIVO MECENAS CASA DA MÚSICA MECENAS CICLO JAZZ MECENAS ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA