Consagração da Primavera

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Consagração
da Primavera
03 – 12 Maio 2013
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CONSAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
3 – 10 Maio 2013
O centenário de A Sagração da Primavera de Igor Stravinski
dá o mote a um ciclo de concertos que celebra os valores da
juventude e dos talentos emergentes nas áreas da música
popular brasileira e do jazz europeu.
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3­‑5 Maio
NOVAS VOZES DO BRASIL
Verônica Ferriani · Anelis Assumpção
Gisele De Santi · Pedro Miranda
Lui Coimbra · Mariene de Castro
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4 Maio
SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
Grupo de Reclusas do Estabelecimento Prisional
de Santa Cruz do Bispo
Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música
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10­‑12 Maio
SPRING ON!
JuJu · Žiga Murko · AP Quinteto
Jeff Davis Trio · Maxime Bender 4tet · Bushman’s Revenge
Phd · Reis­‑Demuth­‑Wiltgen Trio · Moskus
Concertos seguidos de jam-session
NOVAS VOZES DO BRASIL
3 Maio 2013
21:00; Sala 2
VERÔNICA FERRIANI
ANELIS ASSUMPÇÃO
4 Maio 2013
21:00; Sala 2
GISELE DE SANTI
PEDRO MIRANDA
5 Maio 2013
21:00; Sala 2
LUI COIMBRA
MARIENE DE CASTRO
Apoio: Comissão do Ano Brasil em Portugal
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As três noites de “Novas Vozes do Brasil” na Casa da Música
dão­‑nos a conhecer um conjunto de projectos que têm crescido
no terreno dinâmico da música popular brasileira, revelando
uma nova geração de músicos em fase inicial da carreira e já
com álbuns de estreia editados no seu país. A filiação destes
projectos vai do samba mais tradicional às fusões com o rock,
o reggae ou mesmo a música de câmara, mostrando que as
propostas de renovação que neste momento animam a MPB
são muito diversas e pessoais. Este é talvez um reflexo do actual
momento do mercado discográfico global, já que são muitos
os músicos brasileiros que crescem de forma independente e
não contam com o apoio – ou as imposições – das editoras. O
ponto positivo é que a música que nos chega é muito próxima
da personalidade dos próprios músicos, livre de manipulações
destinadas a conquistar o mercado, algo que noutros tempos
estava ao alcance de muito poucos. Alguns dos artistas que nos
visitam são cantores­‑compositores que trazem a sua música
original, outros são intérpretes que apresentam um repertório entre o tradicional e o moderno trabalhado com arranjos
cuidados e grande respeito pelos autores.
O programa “Novas Vozes do Brasil” é realizado pelo Itamaraty (Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil) e tem como
objectivo a promoção de alguns dos nomes mais expressivos
da nova geração da música popular brasileira em apresentações inéditas no estrangeiro. Aumentando a presença desses
artistas emergentes no mercado internacional, pretende­‑se
oferecer­‑lhes a oportunidade de alcançarem aí um nível de
reconhecimento comparável ao que já conquistaram no Brasil.
Na primeira edição do programa, o Itamaraty apoiou apresentações em Washington e Nova Iorque das cantoras Tulipa
Ruiz e Tiê, duas revelações da nova safra da MPB que tiveram
os seus álbuns de estreia, Efêmera e Sweet Jardim, respectivamente, entre os mais elogiados pela crítica e pelo público em
2010. Ainda em 2011, levou às mesmas cidades norte­‑americanas
o cantor e compositor Marcelo Jeneci, músico paulistano cuja
lista de parceiros musicais conta com nomes consagrados
como os de Arnaldo Antunes, Chico César, Vanessa da Mata
e Zélia Duncan.
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Veronica Ferriani ©DR
NOVAS VOZES DO BRASIL
–
Carvalho, Ivan Lins, Spokfrevo Orquestra
e Toquinho.
Desde o início da sua carreira, Verônica
Ferriani tem apostado em projectos e
pesquisas musicais fortemente ligados
ao samba. Este concerto é uma autêntica digressão pela história e ícones deste
género, começando pelo cronista do quotidiano Noel Rosa, não só um grande compositor popular como também um expoente
da arte de escrever letras que, mesmo
morrendo ainda muito jovem nos anos
30, deixou uma marca fortíssima na música
popular brasileira. O programa é fértil
nos grandes compositores dos anos 40 e
50, de Assis Valente e Cartola a Adoniran
Barbosa e Marília – a grande intérprete de
Noel Rosa mas também uma compositora
de direito próprio –, e completa­‑se com a
geração seguinte da MPB, com Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e João
Bosco, entre outros.
VERÔNICA FERRIANI
Verônica Ferriani voz
Gian Corrêa violão 7 cordas
Henrique Araújo cavaquinho e bandolim
João Poleto saxofone e flauta
Léo Rodrigues percussão
Verônica Ferriani lançou em 2009 o seu
álbum de estreia homónimo. A par de
composições inéditas, nele surge uma
selecção de pérolas escondidas de compositores como Gonzaguinha, Marcos Valle,
João Donato, Assis Valente e Paulinho da
Viola, em versões renovadas e contemporâneas. No mesmo ano surgiu o CD premiado
Sobre Palavras, em parceria com Chico
Saraiva, compositor e guitarrista que a
lançou. A forte personalidade e a graciosidade da voz de Verônica têm­‑lhe permitido dividir o palco com artistas como Beth
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com o experimentalismo e as influências
da música clássica contemporânea. A ideia
da integração de diferentes géneros é retomada pela música de Anelis Assumpção,
que no seu álbum de estreia Sou Suspeita
Estou Sujeita Não Sou Santa, editado em
2011, associa as suas composições originais a géneros como samba, reggae, afrobeat ou hip hop, com o mesmo à­‑vontade
e balanço contagiante. Mas a sua inspiração transborda também nas canções mais
intimistas, revelando uma naturalidade
e elegância que está para além de rótulos
e estilos. É talvez nos arranjos tão luxuriantes quanto esparsos que Anelis mais
afirma a sua procura por um som contemporâneo, sem hesitar em recorrer aos mais
variados jogos de timbres que misturam
as referências populares com os géneros
urbanos contemporâneos.
ANELIS ASSUMPÇÃO
Anelis Assumpção voz
Cris Scabello guitarra
Bruno Buarque bateria
Lelena Anhaia guitarra e cavaquinho
Mau Pregnolatto baixo
Quando um artista é filho de uma grande
figura, há por vezes a tentativa de se afirmar independentemente da sua herança, de
modo a ser aceite pela crítica como um valor
por direito próprio, livre de favorecimentos.
Anelis Assumpção faz o contrário, e ainda
bem que o faz. O seu pai, Itamar Assumpção, foi uma figura­‑chave da Vanguarda
Paulista, grupo de músicos que, entre o
final dos anos 70 e o início dos 80, procurou
uma espécie de simbiose entre o tradicionalismo de Adoniran Barbosa e o som sujo de
Jimi Hendrix, cruzando a música popular
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Gisele de Santi ©ALESI DITADI
Anelis Assumpção ©ANNA TURRA
–
–
tão variados como samba, bossa, baião,
chamamé, o funk americano e o samba­
‑rock jorgebeniano. O seu segundo disco,
Vermelhos e Demais Matizes, está prestes a
ser editado e foi financiado pelos fãs através
do sistema de crowdfunding. O repertório
apresentado neste concerto é uma recolha das canções dos dois álbuns de Gisele
De Santi, passando ainda pela música de
uma das suas maiores influências, Djavan.
Aliás, o próprio Djavan é um dos defensores da música da cantora gaúcha, que tem
sido responsável pela primeira parte de
concertos recentes deste ícone da MPB.
GISELE DE SANTI
Gisele De Santi voz e violão
Kabé Pinheiro percussão
Luque Barros violão 7 cordas e contrabaixo
Giovanni Barbieri teclados
Originária de Porto Alegre, onde iniciou
a carreira, a cantora e compositora Gisele
De Santi é radicada em São Paulo. O seu
disco de estreia, lançado no Brasil e Japão,
junta canções que escreveu desde os 14
anos e chamou a atenção de nomes como
Nelson Motta e Juarez Fonseca, conquistando o Prémio Açorianos 2010 nas categorias intérprete e revelação.
Formada pela Faculdade de Música da
Universidade de Rio Grande do Sul, Gisele
tem uma abordagem essencialmente intimista e delicada, que passa por estilos
11
público e da crítica. Este último foi considerado por Caetano Veloso “uma colecção
de obras­‑primas” e foi nomeado entre os 10
melhores CDs do ano pelo jornal O Globo
e eleito o melhor do ano pelos leitores do
Jornal do Brasil.
Pedro Miranda conhece profundamente
os clássicos do samba. Resultado de um
percurso na tradição das rodas de samba
e de um ano de intensa pesquisa, Pimen‑
teira junta sambas nunca antes gravados
de figuras icónicas como Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, Maurício Carrilho,
Paulo César Pinheiro, Nei Lopes e Elton
Medeiros, e coloca­‑os lado a lado com
sambas frescos de novos compositores.
O cantor de voz despojada e sem afectação (segundo Caetano) aborda diferentes
estilos como a gafieira, o choro, a chula
e o coco, modernizando de forma muito
subtil e mantendo todo o poder de sedução do samba.
PEDRO MIRANDA
Pedro Miranda voz
Luís Filipe de Lima direcção musical e violão
7 cordas
Eduardo Neves flauta e saxofone
João Callado bandolim e cavaquinho
Beto Cazes percussão
O cantor e percussionista Pedro Miranda
é um dos expoentes da nova geração de
músicos surgida na Lapa, bairro boémio
do Rio de Janeiro. A partir dos anos 90, a
Lapa foi palco de uma grande revitalização da música carioca, com destaque para
o samba e o choro. Presença constante nas
noites do bairro, Pedro Miranda participou
em diversos grupos e projectos importantes neste circuito, como o Grupo Semente,
o Cordão do Boitatá e O Samba é Minha
Nobreza. Os seus dois CDs a solo, Coisa com
coisa (Deckdisc, 2006) e Pimenteira (Fonomatic, 2009), alcançaram sucesso junto do
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Lui Coimbra ©DR
Pedro Miranda ©DUDA SIMÕES
–
–
bra conjuga a erudição do violoncelo,
instrumento que o consagrou, com o canto
da sonoridade de um país de matizes diversos. O seu repertório coloca lado a lado
figuras clássicas como o mestre do frevo
Capiba, os grandes poetas Mário Quintana
e Vinícius de Moraes, o compositor Villa‑Lobos, figuras da MPB como Zeca Baleiro,
Pedro Luís e Lulu Santos, incluindo baticuns, canções, cirandas e composições
originais do próprio Lui. O concerto integrado neste festival não deixa de passar
pelo êxito Ouro e Sol, versão de Fields of
Gold de Sting que criou em parceria com
Zeca Baleiro e conquistou grande sucesso.
LUI COIMBRA
Lui Coimbra voz, violoncelo, rabeca, guitarra
portuguesa, charango
Carlos Motta bateria e percussão
Gabriel Geszti piano e acordeão
Pedro Aune baixo
Lui Coimbra é cantor e violoncelista,
guitarrista e arranjador. É considerado
pela crítica especializada como um dos
responsáveis pelo movimento de “camerização” da música popular brasileira no início
dos anos 90 e integra o quinteto instrumental Aquarela Carioca. O seu primeiro
disco a solo, Ouro e Sol, foi aclamado pela
crítica de todo o Brasil.
Traduzindo no seu trabalho a busca
por uma MPB que absorva influências,
buscando a universalidade mas mantendo
raízes bem fundas no fértil solo das manifestações populares de seu país, Lui Coim-
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Mariene de Castro ©KAYAVERRUNO
–
Amplamente influenciada pelo rei do
baião Luiz Gonzaga, Mariene começou
a sua carreira profissional como voz de
apoio de Timbalada, Carlinhos Brown
e Márcia Freire. Cantora de voz serena e
possante, tornou­‑se uma intérprete destacada do samba da Bahia, uma vertente que
se situa mais perto das raízes africanas,
impregnada de fé com aromas de candomblé. Actuou a solo pela primeira vez em
1996, e logo de seguida partiu para França
onde alcançou grande sucesso. Regressou
ao Brasil e construiu uma carreira sólida
que contou com o apoio de grandes figuras como Beth Carvalho. Recentemente
actuou no réveillon na praia de Copacabana para mais de dois milhões de pessoas.
Editou uma homenagem à cantora Clara
Nunes em formato de CD e DVD, intitulada Ser de Luz.
MARIENE DE CASTRO
Mariene de Castro voz
André de Souza, Iuri Passos
e Binho Cunha percussão
Dudu Reis cavaquinho
Luís Felipe de Lima violão 7 cordas
Douglas Marcolino sanfona
Jurandir Santana violão
“Tabaroa” é uma palavra tupi­‑guarani
que significa mulher acanhada, criada
no interior, caipira. É assim que se define
Mariene de Castro, que deu ao seu terceiro
disco, editado em 2012, o título Tabaroi‑
nha. Aí interpreta géneros como o samba
de roda e o maracatu, incluindo compositores como Arlindo Cruz, Martinho da
Vila e Roque Ferreira.
fernando pires de lima
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SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
4 de Maio 2013
18:00; SALA SUGGIA
1ª Parte
GRUPO DE RECLUSAS DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL
DE SANTA CRUZ DO BISPO
Sam Mason e Tim Steiner direcção musical
Serviço Educativo Casa da Música
Re­‑Rite [c.30min.]
2ª Parte
ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA
Jean­‑Michael Lavoie direcção musical
César Franck
Les Éolides, poema sinfónico [1876; c.11min.]
Igor Stravinski
A Sagração da Primavera [1913; c.35min.]
Parte I. A Adoração da Terra
1. Introdução
2. Augúrios primaveris, Dança dos adolescentes
3. Jogo do rapto
4. Danças primaveris
5. Jogo das tribos rivais
6. Cortejo do sábio
7. Dança da terra
Parte II. O Grande Sacrifício
8. Introdução
9. Círculo místico das adolescentes
10. Glorificação da eleita
11. Evocação dos antepassados
12. Ritual dos antepassados
13. Dança sacrificial
Biografias e consituições dos agrupamentos a partir da pág. 38
17
Re­‑Rite
Esta performance é inspirada e baseada na Sagração da Prima‑
vera de Stravinski. Explora uma série de temas­‑chave que preocupavam o compositor naquele momento da sua carreira: a
tensão entre o velho e o novo, tradição e inovação, rural e urbano,
natureza e máquina. Dentro das paredes do Estabelecimento
Prisional de Santa Cruz do Bispo este tipo de tensões são experienciadas diariamente. O regime é severo e disciplinado e o
edifício é construído em linhas limpas e rectilíneas. É uma
estrutura ordenada e precisa; contudo, através das janelas, o
fluxo orgânico dos campos circundantes está sempre presente.
Há poucas imagens tão impressionantes como a visão de um
pássaro em voo através das grades da janela de uma prisão. Os
músicos, é claro, são cheios de vida e energia e contribuem para
um ensemble rico na sua diversidade de idades, experiência,
gosto e aspirações. A música faz o grupo, com um único objectivo comum, mas proporciona igualmente a simples partilha
de um conjunto de vozes diversas e individuais. A performance
é o resultado de tudo isto. Tal como na Sagração, surgem por
vezes personalidades individuais e frágeis que são livres de se
expressarem ao seu próprio modo. Outras vezes, são constrangidas e obrigadas a conformarem­‑se com um único movimento
em esquadria. Outras, ainda, contribuem para uma reflexão
sobre a complexidade e o absurdo da cultura contemporânea.
A performance contém muitas referências musicais a Stravinski: o movimento ininterrupto da Dança dos adolescen‑
tes, o fluxo das Danças primaveris e a energia tribal da Dança
sacrificial. Mas, como Stravinski, os músicos revolvem as suas
próprias tradições populares e trazem as suas idiossincrasias
e personalidades para a música; tudo isto acumulam, agitam
e põem para fora. Esta música É a prisão, com todo o seu caos
e a sua ordem, beleza e fealdade, fragilidade e força. É aberta,
fechada e temporária.
tim steiner
Tradução: Fernando P. Lima
Ensaios no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo
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César Franck
apela aos poderosos recursos da orquestra sinfónica para pintar este sugestivo
texto. Reagindo à grandiosidade sonora do
poema, um crítico da altura referiu que,
em vez de retratar as brisas primaveris,
César Franck preferiu brindar o público
com o vento mistral do Outono.
liége (bélgica), 10 de dezembro de 1822
paris, 8 de novembro de 1890
A partir da década de 1860, os poemas
sinfónicos de Franz Liszt, considerado
o pai deste género musical que tem por
base um texto descritivo ou uma narrativa
dramática, causaram um impacto enorme
em Paris. O compositor belga César Franck
residia, na altura, em Paris e era organista titular da Igreja de Santa Clotilde.
Natural de Liége, Franck vivia na capital
francesa desde a adolescência. Revelou­
‑se precoce como pianista e organista,
mas enquanto compositor só se afirmou
muito tardiamente. De facto, as suas obras
mais significativas foram escritas depois
dos sessenta anos.
Les Éolides data de 1876 e é o seu segundo
poema sinfónico. O texto na base da sua
criação é um poema de Leconte de Lisle
pertencente à colectânea Poèmes Antiques,
publicada em 1852. O poema é representativo do parnasianismo, movimento literário que se manifestou a partir de meados
do século XIX, principalmente na poesia,
e que procurou recuperar os valores estéticos da Antiguidade Clássica. Les Éolides são
as seis filhas de Éolo, o Senhor dos Ventos
de acordo com a mitologia grega. O poema
retrata o percurso do vento, comparando­‑o a beijos caprichosos e doces carícias
sobre os contornos contrastantes de vales
e montanhas, descrevendo com sensualidade os aromas que se libertam no despertar da Primavera.
O poema sinfónico desenvolve­‑se ao
longo de cinco secções ininterruptas e
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Igor Stravinski
oranienbaum (rússia), 17 de junho de 1882
nova iorque, 6 de abril de 1971
A Sagração da Primavera protagonizou
aquela que é, talvez, a mais famosa estreia
de sempre de um espectáculo. A polícia
teve de intervir para acalmar os ânimos.
As opiniões dividem­‑se sobre se a causa
de tal rebelião foi a música ou a coreografia. A junção das duas coisas, até porque
a segunda teve por base a primeira, será
talvez a melhor resposta. No entanto, não
restam dúvidas de que A Sagração da Prima‑
vera de Stravinski representou uma ruptura
com cânones anteriores da composição
e se aventurou por novos caminhos. No
entanto, e surpreendentemente, na base de
toda a sua génese esteve sempre a música
tradicional russa.
«Na Sagração da Primavera procurei
expressar o sublime nascimento da natureza
renovando‑se – todo o renascer panteísta
da colheita universal», escreveu Stravinski a
29 de Maio de 1913 no dossier de imprensa
para a estreia do bailado. Este tema insere­
‑se perfeitamente na tradição russa pagã: a
Noite de S. João no Monte Calvo de Mussorgski ou a Páscoa Russa de Rimski­‑Korsakoff
21
são dois exemplos anteriores onde os rituais
pagãos estão presentes.
Stravinski ancorou­‑se fortemente a essa
tradição russa ao recolher muitos dos seus
temas em canções populares lituanas
compiladas por Juskiewicz. Apesar de nunca
o ter admitido, uma comparação entre
a partitura da Sagração e a antologia de
Juskiewicz permite ver os mesmos contornos melódicos vestidos de ritmos diferentes.1 Esse facto dá uma grande unidade
idiomática à Sagração da Primavera.
O bailado divide­‑se em duas partes: A
Adoração da Terra e O Grande Sacrifício.
No Prelúdio da primeira parte (antes da
cortina levantar) escutamos um solo do
fagote no registo agudo que nos confronta
com o momento que antecede uma nova
gestação e o potencial infinito de crescimento que uma nova vida representa.
Stravinski escolheu as madeiras propositadamente, pois as cordas têm um simbolismo associado à voz humana muito forte.
A forma como a textura orquestral cresce,
mantendo cada instrumento a sua individualidade, é uma metáfora do despertar
da Primavera.
Os Augúrios Primaveris dão lugar a uma
dança onde jovens adolescentes estão na
companhia de uma mulher que conhece
os segredos da existência, facto que leva
a pensar que terá vários séculos de vida.
Ela é um misto de mulher e animal que
corre sobre a terra enquanto os jovens
filhos batem com os pés no chão ao ritmo
do pulsar da Primavera. A mesma nota é
repetida com diferentes acentuações rítmicas. Este tipo de ritmo, aliado à imagem
ritual que Stravinski transmitiu a Diaghilev, deu origem a uma coreografia completamente distante do bailado clássico, razão
pela qual a estreia da peça descambou
num chorrilho de insultos, que depressa
se transformaram em bofetadas, socos e
pontapés entre os que apoiavam o espectáculo e os que se sentiam ultrajados. A
rebelião só terá parado no fim da primeira
parte quando a polícia irrompeu na sala.
São os metais e a percussão, numa espécie de delírio rítmico e polifónico, que
anunciam e desenvolvem a música em Jogo
do rapto. As Danças Primaveris trazem o
elemento feminino para o centro da acção.
A música transforma­‑se numa marcha de
grande sensualidade. Uma a uma, as jovens
saem do rio e juntam­‑se num círculo com
os rapazes. Esta união vai originar diferentes tribos. Na forma como Stravinski organizou a estrutura da música está implícita
a imagem de um cataclismo antes da organização tribal, metáfora que tem implicações na forma. Após uma secção agitada,
a flauta alto e o clarinete piccolo vão fazer
a transição para o Jogo das tribos rivais – é
a calma antes da tempestade.
Trombones e tubas acompanhados pelos
tímpanos anunciam esta luta entre as
tribos. Estas estão identificadas pela alternância de pequenos motivos nos diferentes naipes da orquestra e manifestam uma
agressividade rítmica patente ao longo de
todo o número. Segue­‑se o breve Cortejo
do sábio, um momento dominado pelos
metais. Quatro compassos de quase silên-
1. O livro de Peter Hill, The Rite of Spring, faz
uma comparação detalhada entre os temas
populares e a forma como Stravinski os
utilizou. (Cambridge, 2000) pp.35­‑39.
22
cio, em pianíssimo de reduzida textura,
completam um momento a que Stravinski
chamou O Sábio, o pontífice das tribos que
vem bendizer a Terra. É a transição para
a Adoração da Terra, a dança que celebra
toda a euforia da Primavera.
A segunda parte, O Grande Sacrifício, tem
início com um estranho oscilar entre duas
notas, um fundo musical quase autista
que Stravinski descreveu como um “jogo
obscuro das jovens adolescentes”. Entre
elas, uma será a eleita para devolver à
Natureza a força que lhe foi roubada pelo
desflorar da Primavera. O Círculo místico
das adolescentes retoma os contornos melódicos sensuais que ouvimos na primeira
parte (Danças Primaveris), agora cantados nas cordas enquanto metáforas da
voz humana. Este é um momento lento,
de alguma tristeza e grande expectativa
sobre quem será a eleita.
A Glorificação da eleita traz de novo um
momento de grande agitação e complexidade na escrita orquestral manifestando
toda a força da natureza. Escolhida a eleita,
ouvem­‑se três secas pancadas nos tímpanos: são chamados os antepassados ao
som dos sopros, madeiras e metais, num
novo ritmo de marcha irregular.
O Ritual dos antepassados tem início com
um belo solo do corne inglês, sobre um
pulsar regular e em pianíssimo dos outros
instrumentos, ao qual se vem juntar a flauta
contralto e depois o clarinete. Progressivamente, os antepassados criam um círculo
em redor do lugar que a natureza escolheu
para o Grande sacrifício. Na Dança sacrificial
uma jovem dança até à morte. É o momento
mais fantástico e misterioso de toda a
obra. Começa lentamente numa dramaturgia rítmica e vai crescendo progressivamente na sua complexidade melódica
e harmónica juntando diferentes instrumentos. A exaustão a que a jovem chega
não é representada num jogo de velocidade mas numa multiplicidade polifónica
que parece superar as faculdades humanas. Ao tomar consciência do estado em
que a jovem se encontra, os antepassados aproximam­‑se do centro do círculo e
erguem­‑na antes que ela sucumba. Ouve­‑se
um arpejo nas flautas, ecoado nas cordas
e no piccolo, e tudo termina. A Primavera
foi consagrada.
rui pereir a
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Spring ON!
10 Maio 2013
21:00; Sala 2
JUJU
ŽIGA MURKO
AP QUINTETO
(Áustria)
(Eslovénia)
(Portugal)
Jam­‑session after-hours na Sala 2, hosted by Ass. Porta Jazz
11 Maio 2013
21:00; Sala 2
JEFF DAVIS TRIO
MAXIME BENDER 4TET
BUSHMAN’S REVENGE
(Portugal)
(Luxemburgo)
(Noruega)
Jam­‑session after-hours no Bar Casa da Música, hosted by Ass. Porta Jazz
Žiga Murko DJ Set
12 Maio 2013
21:00; Sala 2
PHD
REIS­‑DEMUTH­‑WILTGEN TRIO
MOSKUS
(Bélgica)
(Luxemburgo)
(Noruega)
Apoio:
Music: LX – Luxembourg Export Office e Embaixada da Noruega
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25
SPRING ON!
Duke Ellington preferia classificar as suas composições como
“American Music”, já há sete décadas, evitando o termo “jazz”
e os rótulos desnecessários. Mais ainda, evitando a filiação em
qualquer corrente estilística, o que de facto se tornou impossível
dada a singularidade das suas concepções musicais e a multiplicidade de referências que se encontram naquelas criações.
A verdade é que nunca como hoje foram tantos e tão diversos
os caminhos trilhados pelos músicos que vêem ainda no jazz
um território comum e na improvisação uma forma fundacional para a arte que pretendem comunicar. Foi essa a vocação
encontrada pelo jazz em várias épocas, sempre sem perder de
vista a emoção espontânea do blues e, por outro lado, a sofisticação cultivada por mentes mais desassossegadas. É talvez
este último ponto que leva o jazz para o meio académico, com
a proliferação dos cursos superiores por toda a Europa e, na
última década, também em Portugal. Ao mesmo tempo, sob
pena de se tornar uma “música clássica”, o jazz não pode deixar
de ser aquilo a que Bernardo Sassetti chamava uma “música
de rua”, numa certa aversão à excessiva escolarização e valorizando a evolução em contexto informal de trocas de conhecimento e experiências entre os músicos.
As formações presentes no festival Spring ON! são de alguma
forma o ponto de junção entre estas duas perspectivas, já que
se trata de músicos que maioritariamente fizeram um percurso
académico com foco no jazz, mas – e o resultado dos seus trabalhos ilustra­‑o bem – não embarcam facilmente em corrente
alguma ou numa qualquer linguagem mainstream dos anos
2000, seja ela qual for. Não é necessário evocar a herança da
música negra que tanto importava a Duke Ellington, porque
há muito se provou que o jazz europeu pode ter poucas referências explícitas à tradição afro­‑americana. Basta pensar no que
se fez destacadamente na Escandinávia há algumas décadas,
com o surgimento de um jazz cruzado com as músicas populares locais, frequentemente juntando artistas europeus e americanos, entre os quais o pianista e teórico George Russell. Ou,
num outro extremo, no que fizeram os cultores da improvisa-
26
ção livre, transformando uma herança com fortes traços afro­
‑americanos numa linguagem intimamente ligada às correntes
da música “clássica” contemporânea da segunda metade do
século XX. A originalidade das múltiplas faces do jazz europeu pode ainda revelar­‑se no culto da composição como fim
em si mesmo e nem sempre centrado na improvisação – ainda
que esta mantenha a omnipresença –, conceito que foi amplamente explorado desde os anos 70, especialmente nas edições
da alemã ECM. Também a fusão jazz­‑rock passou frequentemente pela mira de vários improvisadores europeus, na esteira
das inovações de Miles Davis, com expoentes como o Esbjörn
Svensson Trio – que circulava agilmente entre o jazz de câmara
e os ímpetos do rock – ou as explorações de John McLaughlin
que foram do conceito power trio à fusão com a música indiana.
A grande vantagem de estas e muitas outras experiências
estarem realizadas é que nenhum dos projectos apresentados
neste festival se sente obrigado a pertencer a qualquer movimento nem a respeitar nenhum livro de estilo do jazz contemporâneo. Mas se as mencionamos, é porque todas elas se vêem
prolongadas de alguma forma na música aqui apresentada. Por
outro lado, o grande trunfo das academias por onde passaram
estes músicos é o facto de, no fim de contas, estes revelarem
uma enorme independência no que respeita às suas opções
estilísticas, sem reflexos de padronização académica. Assim, ao
longo de três dias e nove concertos, poderemos ouvir, mais do
que tudo, a linguagem individual de músicos bastante jovens,
com carreiras discográficas iniciadas muito recentemente e as
mais variadas referências estilísticas e geográficas.
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–
–
Judith Reiter viola, voz
Julia Schreitl saxofones, clarinetes, voz
Žiga Murko trombone, laptop
JUJU
ŽIGA MURKO
Juju é um duo austríaco que explora contextos tímbricos menos usuais,
com apenas dois instrumentos melódicos mas também as vozes,
os assobios, a percussão. Judith Reiter (1981) e Julia Schreitl (1982)
conheceram­‑se enquanto estudantes na Universidade de Música e
Artes Performativas de Viena. O duo JuJu surgiu em 2007, resultado de
sessões conjuntas de improvisação, e rapidamente deu lugar a composições originais. Em concerto podem ouvir­‑se estes temas e também
momentos de improvisação livre, que tanto assumem o formato de
canções de inspiração folk como exploram os diálogos instrumentais recheados de técnicas de execução contemporâneas. Em 2012 o
duo editou o seu CD de estreia, Short Stories, para a Preiser Records
de Viena. Foi seleccionado para o programa “New Austrian Sound of
Music” na categoria Jazz, nos anos 2012 e 2013, contando assim com
um importante apoio na sua internacionalização.
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Aos 24 anos, Žiga Murko (1988) é um músico activo em várias frentes.
Depois de anos de estudo no campo da música clássica, voltou­‑se para
o jazz e diplomou­‑se no Conservatório de Roterdão, em 2011. Entretanto passou por experiências como Next, um colectivo que junta a
linguagem do jazz moderno às sonoridades da música tradicional dos
Balcãs e outros géneros, e o projecto Amna do saxofonista Jan Kus,
centrado nos cruzamentos entre o jazz e o flamenco.
Os principais projectos do trombonista esloveno são Žiga Murko
Group e Žiga Murko 13. O primeiro inspira­‑se nas técnicas e harmonias das tendências urbanas, explorando os efeitos electrónicos com
grooves de dança, e aborda igualmente as formas da música tradicional, com um foco pronunciado na improvisação. O segundo é uma
formação alargada de 12 sopros e bateria que reúne músicos destacados do panorama esloveno com nomes influentes da cena nova­
‑iorquina, e deu origem ao primeiro álbum de Murko em 2012.
Neste festival, Žiga Murko apresenta um live electronic act centrado
no material do CD 13, criando paisagens electrónicas com recurso
ao software Ableton que suportam solos improvisados no trombone.
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–
–
AP guitarra
João Pedro Brandão saxofone
Alexandre Dahmen piano
José Carlos Barbosa contrabaixo
José Marrucho bateria
Jeff Davis vibrafone
Demian Cabaud contrabaixo
Marcos Cavaleiro bateria
AP QUINTETO
JEFF DAVIS TRIO
6e5 é o primeiro disco do guitarrista António Pedro Neves – AP (1981)
e é a base para o concerto apresentado no festival Spring ON! Reúne
cinco músicos portuenses que frequentaram o curso de Jazz na Escola
Superior de Música e das Artes do Espectáculo e desde então têm vindo
a cultivar a identidade colectiva do quinteto, privilegiando a comunicação e a espontaneidade. As composições, todas de AP, destacam­‑se
pelos sólidos arranjos rítmicos, que traduzem múltiplas influências e
remetem tanto para contextos líricos de determinadas correntes do
jazz moderno nova­‑iorquino como para batidas urbanas transformadas à imagem do quinteto.
AP estudou guitarra clássica no Instituto Orff do Porto e no Conservatório de Música do Porto, antes de concluir em 2007 a Licenciatura
em Guitarra Jazz na ESMAE. Aí frequenta actualmente o Mestrado
em Composição.
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Jeff Davis (1981) é um dos grandes virtuosos do jazz nacional, e um
dos raros solistas de vibrafone no nosso país. O seu trio, formado
em 2010, explora sonoridades influenciadas por trios pianísticos de
referência como os de Bill Evans, Keith Jarrett e Brad Mehldau. Com
novo disco gravado em 2012, interpreta um repertório de composições originais e arranjos contemporâneos sobre standards.
Natural do Canadá, Jeff Davis vive desde a infância em Portugal.
Estudou percussão clássica na Escola Profissional de Música de Espinho e licenciou­‑se na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo com 20 valores, tendo nesse período integrado o Drumming
– Grupo de Percussão. Dedica­‑se ao jazz e entre 2003 e 2006 estuda
vibrafone no Berklee College of Music, diplomando­‑se com distinção e vários prémios. Em 2009 é editado o seu primeiro CD em nome
próprio, o aclamado Haunted Gardens (TOAP) em formato de quarteto.
Jeff Davis divide a sua actividade artística entre o jazz e a música
clássica: integra vários agrupamentos de câmara e apresenta­‑se em
recital a solo em vários países europeus, interpretando peças a si dedicadas de compositores como Filipe Vieira, Andreia Pinto­‑Correia,
Nuno Costa, Óscar Graça e Paulo Perfeito, entre outros. É professor
de vibrafone no Curso de Jazz da ESMAE e no Conservatório da Jobra
e publicou recentemente um livro sobre técnicas de vibrafone.
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–
–
Maxime Bender saxofone
Sebastian Sternal piano
Markus Braun contrabaixo
Silvio Morger bateria
Even Hermansen guitarras
Rune Nergaard baixo
Gard Nilssen bateria
MAXIME BENDER 4TET
BUSHMAN’S REVENGE
A música de Maxime Bender assume várias personalidades conforme
os projectos que lidera. Enquanto o Maxime Bender Group se centra
em composições e arranjos cuidados com amplo terreno para a improvisação, cruzando o jazz tradicional com elementos da música pop e
da fusão, a sua orquestra é uma incursão contemporânea nas texturas clássicas da big band. No entanto, o projecto que o traz ao festival
Spring ON! é bem distinto: afasta­‑se das clássicas estruturas harmónicas e rítmicas e procura um caminho mais livre. A música do quarteto acontece em torrentes de energia criativa e desenvolve­‑se sob o
legado do free jazz, favorecendo a composição espontânea e a comunicação directa entre os músicos. Em 2011 este projecto deu origem
ao álbum Follow The Eye.
Maxime Bender formou­‑se em Saxofone Jazz e Composição/Arranjos
Jazz na Escola Superior de Música de Colónia. Tem actuado em festivais de toda a Europa e colaborado com artistas como Dee Dee Bridgewater, Donny McCaslin, Lalo Shifrin, George Duke e David Binney,
entre outros. Recebeu o Elie Music Award em 2007 e foi nomeado para
o Eurodjango 2007 (categoria “Novo Talento”). Com o Maxime Bender
Group, ganhou o Prémio de Composição do Tremplin Jazz Festival
em Avignon e foi finalista do Burghauser Jazzpreis e da Futuresound
Competition no Leverkusener Jazztagen.
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O encontro entre a explosão sonora do hard rock e a liberdade criativa do jazz dá­‑se em cada concerto deste power trio norueguês. Tem
conquistado a crítica pelas suas performances arrebatadoras, guiadas por uma intuição colectiva que não deixa adivinhar a juventude
dos três músicos – que se aproximam agora dos 30 anos de idade. A
revista britânica Jazzwise caracterizou a música de Bushman’s Revenge
como Jeff Beck acompanhado por Elvin Jones, e muitos outros pontos
de contacto com o rock têm sido mencionados, especialmente o som
incisivo e a presença forte da improvisação em figuras do início da
década de 70 como Jimi Hendrix, os King Crimson na altura do álbum
Red, mas também as vanguardas do jazz na esteira de músicos como
Albert Ayler e John Coltrane nos seus últimos testemunhos plasmados em Interstellar Space.
Bushman’s Revenge conta com seis álbuns editados, entre os quais
os mais recentes A Little Bit Of Big Bonanza e Never Mind The Botox,
de 2012, e o álbum ao vivo Electric Komle – Live!, acabado de editar.
Se é possível fundir géneros de modo convincente, a música de
Bushman’s Revenge demonstra­‑o inegavelmente. Os focos dividem­
‑se pela sonoridade overdrive da guitarra suportada por uma bateria em constante propulsão, pelos arranjos rítmicos em que baixo e
guitarra se colam irrepreensivelmente, e pelos solos flamejantes que
equilibram finalmente as narrativas e agarram o ouvinte.
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Reis/Demuth/Wiltgen Trio ©JEAN BAPTISTE MILLOT
–
PHD
–
REIS­‑DEMUTH­‑WILTGEN TRIO
Peter Hertmans guitarra
Thomas Decock guitarra
Peter Delannoye trombone
Hendrik Vanattenhoven contrabaixo
Matthias De Waele bateria
Marc Demuth contrabaixo
Michel Reis piano
Paul Wiltgen bateria
Phd é uma nova banda que junta várias gerações de músicos belgas.
Cultiva uma certa pureza melódica e um som pictórico que remete para
as influências escandinavas de Jacob Bro ou Sigur Rós. A junção de
duas guitarras e trombone lembra os espaços amplos de Paul Motion
ou Bill Frisell, mas um dos aspectos que mais sobressai é a influência da música clássica e litúrgica, em arranjos que se combinam de
forma equilibrada com as composições originais.
O quinteto Phd junta o experiente Peter Hertmans, um guitarrista
autodidacta que ao longo da sua carreira tem tocado com figuras
como Toots Thielemans, Billy Hart, Philip Catherine, John Ruocco
e Slide Hampton, a um conjunto de solistas muitos jovens formados
por importantes instituições – Conservatórios de Roterdão e de Haia
(Países Baixos), Lemmens Institute em Lovaina (Bélgica) – e que se
têm destacado no panorama do jazz belga.
34
Não é muito comum encontrar um projecto na área do jazz que junte
músicos habituados a trabalhar em conjunto desde praticamente a
adolescência. É o que acontece com este trio luxemburguês, com uma
grande cumplicidade entre todos os membros que se traduz na forma
como fazem música. O primeiro encontro deu­‑se em 1998: Michel
Reis e Paul Wiltgen (1982) convidaram Marc Demuth (1978) a tocar
com eles numa festa escolar, e o trio manteve­‑se activo até 2003. Os
percursos dos jovens músicos levaram­‑nos por caminhos diferentes.
Reis partiu para Bóston, estudando no Berklee College of Music e no
New England Conservatory com Danilo Perez, Ran Blake e Joe Lovano.
Wilgen para Nova Iorque, ingressando na Manhattan School of Music
para estudar com John Riley. Demuth estudou nos Conservatórios de
Bruxelas e Haia. Todos se têm afirmado com uma discografia de qualidade, sendo que Marc Demuth conquistou algum destaque no nosso
panorama musical graças à colaboração com a cantora Sofia Ribeiro.
Embora se fossem encontrando em vários projectos ao longo dos
anos, o trio ressurgiu apenas há dois anos, com tão bons resultados
que deu origem a vários concertos internacionais, uma digressão no
Nordeste Americano e um disco. Todos são compositores, e a música
que fazem é um jazz moderno com pendor para as melodias inspiradas muito associadas ao jazz europeu e um forte sentido rítmico que
remete para as influências norte­‑americanas.
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–
MOSKUS
Anja Lauvdal piano
Fredrik Luhr Dietrichson contrabaixo
Hans Hulbækmo bateria
Este trio norueguês formado por jovens na casa dos 20 anos é uma autêntica revelação do jazz europeu mais recente. As suas raízes dividem­‑se
entre o jazz de câmara e muitas outras influências, de hinos religiosos
à música de Paul e Carla Bley, passando ainda pelas sonoridades da
música tradicional e do pós­‑rock – ou não tivessem dois dos membros
vindo de experiências anteriores em bandas de rock. Foi a primeira
banda de jazz a ganhar o “Prémio Artista Estreante” da editora discográfica Grappa, em 2011, a que se seguiu o álbum Salmesykkel (2012).
Este foi depois nomeado para dois Grammys Noruegueses e rapidamente conquistou a crítica internacional.
Os três músicos formados no departamento de Jazz do Conservatório de Trondheim exploram uma sonoridade tipicamente nórdica,
alternando improvisação livre e material composto, e lembrando o
sentido melódico de projectos como EST ou o balanço de inspiração
gospel de Tord Gustavsen.
fernando pires de lima
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BIOGRAFIAS E AGRUPAMENTOS
Sam Mason tem mais de dezoito anos de
experiência em projectos educativos criativos em vários formatos, como líder de
workshops, gestora de projectos, consultora educativa e compositora. Trabalhou
intensivamente com jovens e crianças e é
especializada em workshops de composição
criativa, canto e desenvolvimento linguístico. Trabalhou com várias instituições,
incluindo a Royal Philharmonic Orchestra, English National Opera, Guildhall
School of Music and Drama, London South
Bank Centre, Children’s Music Workshop e
Coda Music Trust. Nos últimos oito anos,
tem colaborado com o Serviço Educativo
da Casa da Música, desenvolvendo e ensinando no Curso de Formação de Animadores Musicais.
director artístico do programa Connected
to Music e foi director criativo dos espectáculos da BBC Over the Rainbow, I’d Do
Anything e Play it Again. Compôs e dirigiu
a fanfarra de abertura dos Jogos Paralímpicos 2009 e dirigiu a Operação Big Bang
para Guimarães 2012, entre muitos outros
projectos. Idealizou dezenas de concertos
para famílias e escolas no Reino Unido e
Noruega. Desenvolve colaborações regulares com o Serviço Educativo da Casa da
Música, a Guildhall School of Music and
Drama em Londres e numerosas instituições musicais.
Depois de se diplomar em Música na
Sussex University, em 1987, Tim Steiner
concluiu um doutoramento em composição e improvisação colaborativa na City
University em 1992. Ensina na Guildhall
School of Music and Drama desde 1994.
Dirige o Quartet Electronische e é colaborador ocasional mas de longa data do
colectivo artístico OMSK.
Tim Steiner direcção musical
Jean­‑Michaël Lavoie direcção musical
Compositor vocacionado para as performances colaborativas, Tim Steiner dirigiu
centenas de projectos criativos pela Europa
e trabalhou em praticamente todos os
contextos musicais e sociais imagináveis,
com profissionais, amadores e iniciantes.
Compôs e dirigiu recentemente Hunter
Gather, uma obra para 3 orquestras interpretada pela BBC Concert Orchestra com
orquestras amadoras de Devon e Cornwall.
É o maestro da Stopestra, banda de rock de
100 elementos criada na Casa da Música,
O jovem maestro franco­‑canadiano Jean­
‑Michaël Lavoie tem conquistado reputação tanto na Europa como na América do
Norte. Músico meticuloso, as suas ideias
claras e direcção comunicativa garantem­
‑lhe rapidamente a confiança de quem
consigo trabalha. É Co­‑Director Artístico
do afamado grupo de música contemporânea Ensemble Multilatérale (Paris).
Entre os compromissos mais destacados na temporada de 2011/12 incluíram­‑se
as estreias com as Orquestras Sinfónicas
Sam Mason direcção musical
38
de Montréal e de Toronto, bem como o
regresso à Sinfónica do Quebeque no seu
país natal, Canadá, enquanto na Europa
se estreou com a Orquestra Nacional de
Gales da BBC e a Orquestra Filarmónica
da Radio France. Nesta temporada dirige
pela primeira vez o Klangforum Wien,
Ensemble Modern, Orquestra Sinfónica
do Porto Casa da Música, Orquestra Nacional de Lille e Orquestra Metropolitana de
Montréal.
Reconhecido pelo seu trabalho no
domínio da música contemporânea, Jean­
‑Michaël Lavoie trabalha regularmente
com o Klangforum Wien e o Ensemble
intercontemporain, do qual foi Maestro
Assistente entre 2008 e 2010, colaborando
com Pierre Boulez.
Lavoie dirige também ópera, tendo­‑se
estreado no Teatro alla Scala de Milão
em 2011, na estreia mundial de Quartett
de Luca Francesconi. Trabalhou depois
na reposição da mesma obra no Wiener
Festwochen em 2012. Na presente temporada estreou­‑se com a Ópera de Lyon, dirigindo Der Kaiser von Atlantis em Valence e
Lyon, e dirigiu também a estreia mundial
de La Lettre des Sables de Christian Lauba
para a Ópera Nacional de Bordéus.
Andris Nelsons, Vassily Petrenko, Emilio
Pomàrico, Jeremie Rohrer, Peter Rundel,
Tugan Sokhiev, John Storgårds, Joseph
Swensen, Gilbert Varga, Antoni Wit ou
Takuo Yuasa. Entre os solistas que colaboraram recentemente com a orquestra constam os nomes de Midori, Viviane Hagner,
Natalia Gutman, Truls Mørk, Steven Isserlis, Kim Kashkashian, Ana Bela Chaves,
Felicity Lott, Christian Lindberg, António Meneses, Simon Trpčeski, Sequeira
Costa, Jean­‑Efflam Bavouzet, Lise de la
Salle, Cyprien Katsaris, Alban Gerhardt
ou o Quarteto Arditti. Diversos compositores trabalharam também com a orquestra, destacando­‑se os nomes de Emmanuel
Nunes, Jonathan Harvey, Kaija Saariaho,
Magnus Lindberg e Pascal Dusapin.
Nas últimas temporadas apresentou­‑se
nas mais prestigiadas salas de concerto de
Viena, Estrasburgo, Luxemburgo, Antuérpia, Roterdão e no Brasil, e é regularmente
convidada a tocar em Santiago de Compostela e no Auditório Gulbenkian. A interpretação da integral das sinfonias de Mahler
marcou as temporadas de 2010 e 2011. Em
2013 são editados os concertos para piano
de Lopes­‑Graça pela editora Naxos.
A origem da Orquestra remonta a 1947,
ano em que foi constituída a Orquestra
Sinfónica do Conservatório de Música do
Porto. Actualmente engloba um número
permanente de 94 instrumentistas e é parte
integrante da Fundação Casa da Música
desde Julho de 2006.
ORQUESTRA SINFÓNICA
DO PORTO CASA DA MÚSICA
Christoph König maestro titular
A Orquestra Sinfónica do Porto Casa
da Música tem sido dirigida por reputados maestros, de entre os quais se
destacam Olari Elts, Michail Jurowski,
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8º Curso de Formação
de Animadores Musicais
Estabelecimento Prisional Especial
de Santa Cruz do Bispo
Bárbara Branco
David Valente
Eva Amaro
Indy Paiva
Inês Loubet
Isabel Moreira da Silva
Jane Corrêa
João Belchior
João Carlos Almeida
Jorge Loura
José Miguel Pinto
Mariana Costa
Miguel Pardal
Miguel Peixoto
Nuno Coelho
Paula Morgado
Pedro Teixeira
Rita Vieira
Susana Grangeia
Susana Ribeiro
Tchisola Félix
Telmo Sousa
Teresa Raminhos
Tiago Ralha
Ana Rosa Teixeira
Ana Vera Matos
Andreia Baptista
Andreia Silva
Aura Garcia
Aurora Gonçalves
Carla Cardoso
Carla Martins
Carla Monteiro
Cátia Teixeira
Júlia Caldas
Liliana Teixeira
Manuela Ferreira
Maria Elisabete Gaspar
Maria José Rodrigues
Maria Laura Martins
Maria Maia Matias
Maria Rosa Castro
Nádia Sousa
Patricia Alves
Patricia Machado
Patricia Miranda
Sandra Barros
Sandra Oliveira
Sofia Sousa
Yeny Santos
Design de Cena [Cenografia e Adereços]
Mafalda Ramos
Agradecimentos
Mestrado em Teatro – Especialização em
Cenografia da Escola Superior de Música, Artes
e Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto
40
41
© pedro lobo
Violoncelo
Vicente Chuaqui
Feodor Kolpachnikov
Bruno Cardoso
Gisela Neves
Michal Kiska
Hrant Yeranosyan
Aaron Choi
Américo Martins*
Vanessa Pires*
Vasco Alves*
ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA
Violino I
Evgeny Moryatov*
Radu Ungureanu
Vadim Feldblioum
Ianina Khmelik
Andras Burai
Roumiana Badeva
Tünde Hadady
Evandra Gonçalves
Maria Kagan
José Despujols
Vladimir Grinman
Alan Guimarães
Arlindo Silva
Emília Vanguelova
Nuno Meira*
Pedro Carvalho*
Violino II
Jossif Grinman
Nancy Frederick
Tatiana Afanasieva
Lilit Davtyan
Francisco P. de Sousa
Mariana Costa
José Paulo Jesus
José Sentieiro
Paul Almond
Germano Santos
Pedro Rocha
Vítor Teixeira
Nikola Vasiljev
Domingos Lopes
Viola
Ryszard Wóycicki
Joana Pereira
Anna Gonera
Theo Ellegiers
Hazel Veitch
Luís Norberto Silva
Mateusz Stasto
Jean Loup Lecomte
Emília Alves
Francisco Moreira
Rute Azevedo
Biliana Chamlieva
Contrabaixo
Slawomir Marzec
Florian Pertzborn
Jean­‑Marc Faucher
Tiago Pinto Ribeiro
Altino Carvalho
Nadia Choi
Joel Azevedo
Angel Luis Martinez*
Flauta
Paulo Barros
Ana Maria Ribeiro
Ana Rita Oliveira*
Alexander Auer
Angelina Rodrigues
Oboé
Aldo Salvetti
Tamás Bartók
Jean­‑Michel Garetti
Eldevina Materula
Roberto Henriques*
Clarinete
Luís Silva
Carlos Alves
António Rosa
Gergely Suto
João Moreira*
Trompa
Abel Pereira
Hugo Carneiro
Flávio Barbosa*
José Bernardo Silva
Luís Vieira*
Hugo Sousa*
Eddy Tauber
Pedro Fernandes*
Bohdan Sebestik
Trompete
Sérgio Pacheco
Ivan Crespo
Luís Granjo
Rui Brito
Carolina Alves*
Trombone
Severo Martinez
Ricardo Pereira*
Dawid Seidenberg
Nuno Martins
Tuba
Sérgio Carolino
Mike Forbes*
Tímpanos
Jean­‑François Lézé
Bruno Costa
Percussão
Paulo Oliveira
Nuno Simões
Renato Peneda*
Sandro Andrade*
Harpa
Ilaria Vivan
*instrumentistas convidados
Fagote
Gavin Hill
Robert Glassburner
Vasily Suprunov
Pedro Silva
Lurdes Carneiro*
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43
Amigos da Fundação Casa da Música
Bizdirect
CIN
Deloitte
Douro Azul, s.a.
Grupo EFACEC
EUREST
I2S Informática Sistemas e Serviços, s.a.
Jofebar s.a.
Manvia, s.a
Nautilus, s.a.
Safira Facility Services
Sika Portugal, s.a
Strong Segurança, s.a.
THYSSENKRUPP Elevadores
Vicaima
CREATE IT
Banco Carregosa
Finibanco, s.a.
Pescanova
O lugar conquistado pela Casa da Música no
panorama nacional e internacional revela-se
também pela excelência do comportamento
acústico das suas Salas de concerto.
Na procura de continuidade dessa qualidade a
Casa da Música procedeu a uma intervenção nos
difusores qrd da Sala Suggia com o apoio de:
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APOIO INSTITUCIONAL
MECENAS SERVIÇO EDUCATIVO
MECENAS CASA DA MÚSICA
MECENAS CICLO JAZZ
MECENAS ORQUESTRA SINFÓNICA
DO PORTO CASA DA MÚSICA
MECENAS PRINCIPAL
CASA DA MÚSICA
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