Olavo Bilac Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918 UM BEIJO Foste o beijo melhor da minha vida, ou talvez o pior...Glória e tormento, contigo à luz subi do firmamento, contigo fui pela infernal descida! Morreste, e o meu desejo não te olvida: queimas‐me o sangue, enches‐me o pensamento, e do teu gosto amargo me alimento, e rolo‐te na boca malferida. Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, batismo e extrema‐unção, naquele instante por que, feliz, eu não morri contigo? Sinto‐me o ardor, e o crepitar te escuto, beijo divino! e anseio delirante, na perpétua saudade de um minuto.... AO CORAÇÃO QUE SOFRE Ao coração que sofre, separado Do teu, no exílio em que a chorar me vejo, Não basta o afeto simples e sagrado Com que das desventuras me protejo. Não me basta saber que sou amado, Nem só desejo o teu amor: desejo Ter nos braços teu corpo delicado, Ter na boca a doçura de teu beijo. E as justas ambições que me consomem Não me envergonham: pois maior baixeza Não há que a terra pelo céu trocar; E mais eleva o coração de um homem Ser de homem sempre e, na maior pureza, Ficar na terra e humanamente amar. ORA (DIREIS) OUVIR ESTRELAS! Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi‐las, muitas vezes desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto a Via‐Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo? " E eu vos direi: "Amai para entendê‐las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e e de entender estrelas