a importância das representações cartográficas na compreensâo e

Propaganda
A IMPORTÂNCIA DAS REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS NA
COMPREENSÂO E CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO
GEOGRÁFICO EM SALA DE AULA.
Cícera Cecília Esmeraldo Alves/Universidade Regional do Cariri – URCA
[email protected]
Firmiana Santos Fonseca Siebra/Universidade Regional do Cariri – URCA
[email protected]
INTRODUÇÃO
O ensino da geografia na contemporaneidade perpassa por reflexões teóricometodológicas do seu objeto de estudo: o espaço geográfico. São reflexões pertinentes
às mudanças ocorridas no ensino ou que devem ocorrer continuamente para a
concretização da geografia escolar.
Sendo a geografia uma ciência responsável pela compreensão das mudanças
sócio-espaciais, percebe-se a abrangência da mesma em identificar e diagnosticar as
conseqüências da ação humana no espaço, com os problemas urbanos e ambientais que
o mundo vivencia.
A análise das representações cartográficas na compreensão e construção do
conceito de espaço geográfico em sala de aula objetiva influenciar numa metodologia
cartográfica para uma melhor interpretação e apreensão na conceituação do espaço
geográfico e que atenda as necessidades do educando e educador.
Para melhor compreender esta problemática, Kaercher (2003, p.172), coloca:
Os espaços são desiguais e isso não deve ser visto como obra apenas da
natureza. Compreender as desigualdades sociais e espaciais é uma das grandes
tarefas dos geógrafos educadores para que a nossa ciência instrumentalize as
pessoas a uma leitura mais crítica e menos ingênua do mundo, que desemboque
numa maior participação política dos cidadãos a fim de que possamos ajudar a
construir espaços mais justos e um homem mais solidário e tolerante com o
outro.
Assim, a cartografia é uma das ferramentas indispensáveis à compreensão do
conceito de espaço geográfico, a partir da concepção de um espaço mais humano e
igualitário e não apenas o espaço excludente, da mesma forma como era tida a ciência
cartográfica disponível e a serviço do Estado e das forças militares, enquanto a
sociedade não tinha acesso a tais informações.
A pesquisa busca também realizar alguns questionamentos: Que conceito de
espaço geográfico nossos alunos vem construindo nas escolas e cursos de licenciatura
em geografia? Como trabalhar as representações cartográficas na construção deste
conceito? O educador-geógrafo está recebendo uma formação adequada para trabalhar
com essas representações cartográficas?
Assim, este trabalho busca retratar a importância das representações
cartográficas para uma melhor aprendizagem geocartográficas dos educandos, com base
em algumas experiências desenvolvidas nas disciplinas de Estágio Supervisionado e
Cartografia Temática da Universidade Regional do Cariri – URCA.
Compreensão e construção do conceito de espaço geográfico em sala de aula
A educação geográfica no período contemporâneo nos coloca a um repensar
sobre a geografia que estamos trabalhando em sala de aula. Qual o porquê do desgaste
entre educando e educador muitas vezes em sala? Seria devido a questões
metodológicas, ou, os conteúdos geográficos não interessam mais aos nossos alunos?
Pensando a complexidade do conceito de espaço geográfico, este responde a
todas estas indagações dos educandos, quando o educador reflete com seus alunos
algumas questões como: modificações da paisagem, ocupação do espaço e como estas
mudanças irão refletir no espaço, através das desigualdades sociais. Procuramos
construir o conceito de espaço geográfico em que o homem se insira nele e participe
como cidadão e não como um homem alheio às informações e ao conhecimento
científico.
Corrobora-se com Damiani (2003, p.50) quando enfatiza:
A noção de cidadania envolve o sentido que se tem do lugar e do espaço, já que
se trata da materialização das relações de todas as ordens, próximas ou
distantes”. Conhecer o espaço é conhecer a rede de relações a que se está
sujeito, da qual se é sujeito. Alienação do espaço e cidadania configuram um
antagonismo a considerar.
Não há como dissociar as relações sociais capitalistas que o homem articula das
categorias/conceitos da geografia, sem realizar a leitura crítica-perceptiva do espaço em
construção. Então, nos perguntarmos como outros pesquisadores, que conceitos ensinar
relacionados ao conceito de espaço? E quando propomos as representações gráficas,
diante da modernização da cartografia digital, como poderíamos melhor representar o
espaço no universo cartográfico?
Segundo Moreira (2009, p.03):
O ensino de geografia se apresenta como um dos grandes desafios de profissão
docente, na medida em que exige que os docentes não somente dominem
os/aos conceitos/categorias intrínsecos à construção dessa disciplina, mas
principalmente que saibam escolher e valer-se de diversas linguagens,
adequadas para cada momento de ensino-aprendizagem.
Evidencia-se que a geografia escolar é de suma importância para a construção
dos conceitos e categorias geográficas, despertando no aluno o interesse pela
compreensão do espaço consolidado na concepção do espaço modificador, resultantes
do sistema capitalista, ou ainda, como enfatiza Carlos: “o espaço urbano é produto
humano e social em constante processo de transformação” (2003, p.86). O educando
deve-se questionar sobre a sua atuação e como ele faz parte de todas as relações
espaciais, o que implica algumas pessoas ocuparem uma determinada área nobre da
cidade, enquanto outras vivem nas áreas marginalizadas. Esta dualidade é bem visível
na representação dos mapas ou plantas urbanas.
Nesse sentido, Callai (1999, p. 68) enfatiza que:
Pensar o espaço supõe dar ao aluno condições de construir um instrumento tal
que seja capaz de permitir-lhe buscar e organizar informações para refletir em
cima delas. Não apenas para entender determinado conteúdo, mas para usá-lo
como possibilidade de construir a sua cidadania.
Percebe-se a abrangência do conceito de espaço a partir de uma leitura críticaperceptiva do mesmo. Ou seja, quando pensamos as categorias: Paisagem, Lugar,
Território, Região, compreendemos como o espaço interfere ou influencia nas
mudanças, transformações que este revela na paisagem, não enquanto espaço
fragmentado e de desigualdade, mas, através de um espaço construído constantemente
através de lutas e conquistas. Assim, compreenderemos o lugar, o território como área
de poder e articulação da região, entendendo-se toda a espacialidade.
Nas atividades realizadas na disciplina de Estágio Supervisionado, os futuros
licenciados em geografia trabalharam uma metodologia interativa entre educando e
educador na construção do conceito de espaço geográfico. Assim, ao expor os
conhecimentos de adoção de escala, a área mapeada para a elaboração de mapas e todos
os elementos cartográficos que constituem o mapa, como legenda, simbologia, tema e
outros, enfatizaram a importância deste recurso na compreensão e no conhecimento do
lugar. Na figura 01, é possível observar algumas atividades realizadas em sala com o
conhecimento imaginário do aluno para representar a sua análise e vivência do espaço
geográfico apreendido.
Fig. 01: Representação mental, sobre o espaço apreendido.
Fonte: Oficina de Cartografia, URCA, Crato-Ceará, 2009.
Reportando-se a Straforini (2004, p.50), diante dessa contextualização, a
importância das questões globais reflete no espaço a necessidade da geografia escolar
analisar tais questões:
Para nós, a globalização atual é um todo sistêmico, desigual e combinado.
Para que essa visão de mundo possa chegar à sala de aula precisamos romper
com a postura tradicional que ainda persiste na disciplina geográfica e na
prática pedagógica. Enfim, a metodologia que propomos caminha em direção
contrária à fragmentação e hierarquização do conhecimento e do espaço em
escalas estanques, compartimentadas, impedidas do estabelecimento de
qualquer relação entre si.
A compreensão e construção do espaço geográfico é abrangente e complexa,
envolve análise criteriosa e coerente dos agentes que o constituem e constroem nas
relações do dia a dia. O educador-geógrafo não deverá usar somente o livro didático
como o único material didático, mas outros recursos que possibilitem a construção de
tal conceito e a compreensão a partir das representações cartográficas.
Representações Cartográficas: Sua aplicabilidade em sala de aula
A importância das representações cartográficas para a compreensão e construção
do conceito de espaço geográfico torna-se imprescindível para a interpretação, análise e
reconhecimento da área mapeada, seja através de uma imagem de satélite, dos mapas
temáticos, das cartas topográficas ou de outros recursos cartográficos.
As diversas representações cartográficas quando utilizadas ou trabalhadas em
sala de aula, com base em uma metodologia que defina tais métodos cartográficos
constituem elementos importantíssimos para a compreensão e localização do espaço.
Por que não influenciar os alunos a observarem mapas e como se localizar nestes?
Como traçar mapas de espaços vividos pelos alunos e como estes conseguem organizar
os objetos numa representação cartográfica? Qual a importância dos mapas imaginários
e mentais elaborados em sala de aula? Qual o objetivo de interpretar um mapa temático?
Como instigar alunos e professores a compreender o espaço a partir dos recursos
cartográficos?
Dando ênfase à temática proposta da compreensão e construção do conceito de
espaço, busca-se Moreira (2009, p. 03) quando coloca:
Nesse sentido, reconhecemos que a linguagem cartográfica tem no mapa uma
das formas de representação mais utilizada no ensino de geografia, pois essa
forma de representação, por meio de um conjunto de signos, permite uma
percepção imediata do espaço representado.
Nesse contexto, quando realizamos as oficinas de cartografia na escola de
Ensino Fundamental II Dom Quintino, da cidade de Crato, Ceará, com os alunos do 5º e
6º Ano, trabalhamos uma metodologia envolvendo os recursos didáticos cartográficos
para uma melhor compreensão, analisando a inserção destes no espaço e como eles
percebiam e se localizavam no espaço através do estudo dos mapas. E foram notórios a
criatividade e o raciocínio lógico dos mesmos com a interpretação de mapas, por que
usar uma escala de 1: 50.000, a riqueza de informações dos mapas temáticos por
tratarem temas específicos e como estes pode ser bem mais útil à geografia escolar.
Há uma carência enorme dos educandos em estudar a cartografia escolar e, a
partir do momento que o professor trabalha alguns conteúdos como população,
geologia, climatologia, representações da paisagem, geomorfologia e os insere nos
mapas, plantas e imagens aéreas, o interesse e a curiosidade dos mesmos são
demasiadamente significativos, pois conseguem estabelecer conexões dos mapas com
os conteúdos estudados.
Conforme Ferrara (2002, p. 162):
O mapa, enquanto representação é a medida de uma escala de valores, de uma
cultura. Sem dúvida alguma, do simbólico mapa renascentista à moderna
cartografia, ciosa dos seus científicos parâmetros referencias, houve uma
evolução, porém, por prudência, não se pode esquecer a origem do mapa
enquanto representação cultural, ou seja, não podemos esquecer essa origem
quando lemos o “novo mapa do mundo”, sobretudo se observarmos que a
representação do velho mapa apoiou-se nas invenções e inovações técnicocientíficas que revolucionaram o mundo moderno.
A aplicabilidade das representações cartográficas em sala de aula faz parte dos
diversos métodos cartográficos que o geógrafo educador poderia trabalhar em sala de
aula, mas, que devido a problemas ou dificuldades acabam emperrando do mesmo
trabalhar com mais freqüência à cartografia no dia a dia da sala de aula. Então,
chamamos a atenção dos futuros professores de geografia que diante da modernização,
dos problemas ambientais, da compreensão de região e território, é impossível trabalhar
tais temas em sala de aula sem se apoiar nos recursos cartográficos, a fim de
compreender a espacialidade.
Diante da modernização tecnológica pode-se até questionar ou refletir o uso
dessas representações em sala enquanto a cartografia multimídia oferece outros métodos
para a complexidade da organização espacial: os programas de cartografia digital, o uso
do GPS substituindo a bússola, as ferramentas do geoprocessamento, o SIG (Sistema de
Informação Geográfica). Entretanto, as dificuldades de alguns professores em
trabalharem com essas técnicas são visíveis, além do fato de que nem todas as escolas
públicas dispõem desses recursos.
Na figura 02, constata-se o envolvimento de alguns discentes com a produção de
maquetes com base em carta topográfica da Floresta Nacional do Araripe. Os mesmos
retiraram as curvas de nível após sua identificação na carta, passando a todo o processo
de elaboração das maquetes. Enquanto que o mapa é uma representação real gráfica, na
maquete o aluno tem outro tipo de representação tátil. Eles passam a ter outro
posicionamento e leitura do mapa com a construção de maquetes.
Figura 02: Produção de maquetes, discentes do curso de geografia.
Fonte: Esmeraldo, Cecília. Crato, maio de 2009.
Corroborando com Almeida (2001, p. 10)
A importância do aprendizado espacial no contexto sócio-cultural da sociedade
moderna, como instrumento necessário à vida das pessoas, pois esta exige certo
domínio de conceitos e de referenciais espaciais para deslocamento e
ambientação; e mais do que isso, para que as pessoas tenham uma visão
consciente e crítica de seu espaço social.
Nesse encaminhamento, as representações gráficas: mapas, croquis, maquete,
planta e etc., enfocadas nesse texto, numa analise teórico-metodológica da cartografia
para a construção do conhecimento geográfico, redimensionam a abrangência da
cartografia e como esta pode contribuir para a geografia escolar. Ressaltando que
propomos as representações com perspectivas de aprendizagem e de organização no
conhecimento do aluno, como ele poderá usar este conhecimento na sua vida, na sua
formação e não simplesmente incentivar os nossos alunos a desenharem mapas e
colorir, mas, trabalhar cada etapa de elaboração do mapa.
Reforçando esta problemática, Vesentini apud Cavalcanti (2005, p. 23)
argumenta que o ensino de geografia deve questionar:
Mas que tipo de geografia é apropriada para o século XXI? É lógico que não
aquela tradicional baseada no modelo “A Terra e o Homem”, onde se
memorizavam informações sobrepostas (...) E também nos parece lógico que
não é aquele outro modelo que procura “conscientizar” ou doutrinar os alunos,
na perspectiva de que haveria um esquema já pronto de sociedade futura (...)
Pelo contrário, uma das razões do renovado interesse pelo ensino de geografia
é que, na época da globalização, a questão da natureza e os problemas
ecológicos tornaram-se mundiais ou globais, adquiriram um novo significado
(...) O ensino de geografia no século XXI, portanto, deve ensinar – ou melhor,
deixar o aluno descobrir – o mundo em que vivemos, com especial atenção
para a globalização e as escalas local e nacional, deve enfocar criticamente a
questão ambiental e as relações sociedade/natureza (...) deve realizar
constantemente estudos do meio (...) e deve levar os educandos a interpretar
textos, fotos, mapas, paisagens.
Ao refletirmos o uso das representações citadas no texto, diante de algumas
experiências tanto do estágio supervisionado como da disciplina de cartografia temática,
constatamos que a definição de metodologia é indispensável para melhor
aproveitamento dos conteúdos geográficos, para tanto é preciso rever a formação dos
discentes nas academias. No entanto, a problemática de domínio de conteúdo
cartográfico e a falta de recursos pode ser superada com a determinação, a criatividade e
a vontade de mudar a realidade de algumas escolas. Para sermos bons educadoresgeógrafos é preciso investir na sua formação e na formação do aluno, que ele possa usar
esse saber na sua formação cidadã.
Conclusões
A pesquisa desenvolvida apresentou, através de um breve diagnóstico, algumas
reflexões do ensino de geografia com base nos métodos cartográficos, a partir de
experiências em escola pública da cidade do Crato, Ceará. Constatamos que há um
interesse entre os educandos nos conteúdos geográficos quando estes são trabalhados
com mapas, bússola e, algumas vezes, com GPS, imagens aéreas e etc. Segundo estes
alunos, a aula toma outro direcionamento, pois além do livro didático são recursos que
vêm fortalecer a aprendizagem. Os discentes do curso de Geografia também colocam
essa carência de domínio sobre os mapas. A interpretação fidedigna de um mapa de
vegetação, de população consegue desvendar conhecimentos importantíssimos para uma
aula participativa e a organização do conhecimento. É necessário perceber e valorizar o
nível de espacialização dos alunos para uma melhor sistematização das discussões em
sala de aula.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Rosângela Doin de. O espaço geográfico: ensino e representação. Org.
Rosângela Doin de Almeida, Elza Yasuko Passini. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2001.
CALLAI, Helena Copetti. A geografia no ensino médio. In: Terra Livre – As
transformações do mundo da educação – geografia, ensino e responsabilidade
social. São Paulo: Associação dos geógrafos brasileiros, (14): p. 56-89 jan./jul. 1999.
CARLOS, Ana Fani A. A geografia na sala de aula. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2003.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção de conhecimento.
Campinas, SP: Papirus, 7ª ed. 2005.
DAMIANI, Amélia Luisa. A Geografia e a construção da cidadania. In: A geografia na
sala de aula. Org. Ana Fani A. Carlos. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2003.
FERRARA, Lucrecia D’Alessio. O mapa da mina. Informação: espaço e lugar. In: O
novo mapa do mundo Fim de Século e globalização. Org. Milton Santos [et al]. 4ª ed.
São Paulo: Hucitec, 2002.
KAERCHER, Nestor André. Desafios e utopias no ensino de geografia. In: Geografia
em sala de aula: Práticas e reflexões. Org. Antonio Carlos Castrogiovanni... [et al]. 4ª
ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/AGB – Seção Porto Alegre, 2003.
STRAFORINI, Rafael. Ensinar Geografia: O desafio da totalidade – mundo nas
séries iniciais. São Paulo: Annablume, 2004.
MOREIRA, Suely Aparecida Gomes. A Cartografia multimídia como uma nova
linguagem na formação de professores de geografia: Considerações metodológicas. In:
VI Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares/II Fórum Latinoamericano
de Cartografia par Escolares. Universidade Federal de Juiz de Fora – Ufjf, 2009.
Download