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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE GENÉTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E
BIOLOGIA MOLECULAR
DI S S E RT AÇ ÃO DE M E S T RAD O
DIVERSIDADE GENÉTICA POPULACIONAL NAS
ESPÉCIES PIONEIRAS Cyperus ligularis L., C. odoratus L.
(CYPERACEAE) e Miconia prasina (Sw.) DC.
(MELASTOMATACEAE) OCORRENTES EM
REMANESCENTES DA FLORESTA ATLÂNTICA DE
PERNAMBUCO DETECTADA PELOS MARCADORES
MOLECULARES DAF E ISSR.
GEYNER ALVES DOS SANTOS CRUZ
RECIFE
2009
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE GENÉTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DIVERSIDADE GENÉTICA POPULACIONAL NAS
ESPÉCIES PIONEIRAS Cyperus ligularis L., C. odoratus L.
(CYPERACEAE) e Miconia Prasina (Sw.) DC.
(MELASTOMATACEAE) OCORRENTES EM
REMANESCENTES DA FLORESTA ATLÂNTICA DE
PERNAMBUCO DETECTADA PELOS MARCADORES
MOLECULARES DAF E ISSR.
GEYNER ALVES DOS SANTOS CRUZ
Dissertação
apresentada ao
Programa de Pós-graduação em
Genética e Biologia Molecular
da Universidade Federal de
Pernambuco como requisito para
obtenção do grau de Mestre em
Genética pela UFPE
Orientador: Profª Drª Ana Maria Benko Iseppon
Co-orientador: Profº Dr. Marccus Vinícius Alves
RECIFE
2009
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Aos meus familiares e especialmente meus pais:
Cícero José da Cruz Neto e Rosalva Alves dos Santos Cruz,
pelo apoio incondicional
sem o qual não teria chegado até aqui.
Dedico
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Agradecimentos
Primeiramente gostaria de agradecer de forma especial aos meus pais Cícero José da
Cruz Neto e Rosalva Alves dos Santos Cruz e meus irmãos Geizy Alves dos Santos Cruz e
Gleyson Alves dos Santos Cruz pela imensa dedicação, apoio e amor em todos os momentos
sem os quais eu não teria ultrapassado nenhum degrau da vida.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela
bolsa concedida, que foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho.
Ao Parque Florestal de Dois Irmãos, pela permissão da realização de inúmeras coletas
na Reserva Ecológica de Dois Irmãos.
À Prefeitura da cidade do Recife, pelo apoio através da Brigada Ambiental em coleta
na Ilha do Bananal.
À Usina São José, pela concessão para realização de estudos e coletas nos fragmentos
de Floresta Atlântica, Pezinho, Macacos e Zambana.
À minha orientadora, Profª Drª Ana Maria Benko Iseppon, por todos os
ensinamentos e orientação desde a minha graduação, além da paciência, compreensão, caráter
e competência, sendo um exemplo de profissional a se espelhar.
Ao meu co-orientador, Profº Drº Marccus Vinícius Alves, por sua contínua paciência
e compreensão além de principalmente sempre me apoiar e ajudar ao longo de todo o
desenvolvimento do trabalho desde a graduação, bem como aos inúmeros incentivos e
colaborações.
Ao Profº Drº Rodrigo Augusto Torres por toda sua disponibilidade, pelos
ensinamentos, paciência e colaboração para o melhor andamento do trabalho.
À Islene Araújo pelo imenso companheirismo, amor, dedicação, carinho, apoio,
amizade e por os inúmeros momentos de felicidade, os quais se tornaram inesquecíveis.
Aos “brothers” Diegos - Diego Pontes e Diego Pinangé - pela grande amizade,
incentivos, apoios importantes e por podermos partilhar muitos momentos de alegria os quais
foram fundamentais na construção dessa etapa da minha vida.
Ao Mário Correia, Rodrigo Sotero (Designer Biólogo), Nara Diniz e Helena
Macedo pela amizade e por sempre serem presentes e dispostos a ajudar, por todo o apoio e
por partilhar muitos momentos de lazer e descontração.
A Amaro Castro e Ebenézer Bernardes (Dom Bené) pelo grande apoio,
ensinamentos, paciência e por os inúmeros momentos de descontração tornando o ambiente
de trabalho mais produtivo, harmonioso e agradável.
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À Profª Ana Christina Brasileiro Vidal pelos ensinamentos, apoio constante e
colaborações.
Aos colegas da Turma de Mestrado em Genética 2007, em especial a Felipe
Alecrim pelo convívio harmonioso, amizade e troca de experiências durante o cumprimento
dos créditos obrigatórios.
Aos demais colegas e técnicos do laboratório de Genética e Biotecnologia Vegetal,
especialmente, Kyria Bortoleti, Santelmo Vasconcelos, Rodrigo Oliveira, Hayana
Azevedo, Luciene Silva, Isaac Cansansão, Karla Barbosa, Giovane Feitosa, Bruno Leite,
Rafaela Oliveira, Alberto Vinícius, Lidiane Amorim, Petra Barros, Gabriela Souto, Nina
Mota, Ana Carolina, Jaílson Gitaí, Luis Belarmino, Agatha Silva, Derovil Santos,
Claudete Marques, Vanessa Souza e Valéria Fernandes pela colaboração e incentivo.
Ao Departamento de Genética da UFPE, no qual desenvolvi todo o meu trabalho
com toda a infra-estrutura necessária, aos funcionários técnicos administrativos, aos docentes
e em especial a Dona Zizi por sempre estar “ranzinza”, mas sempre disposta a ajudar em
diversas ocasiões, e ao funcionário Romildo por toda prestação, apoio, colaboração e
cuidados na casa de vegetação.
Agradeço ainda a todos que direta ou indiretamente ajudaram na concretização deste
trabalho.
Muito Obrigado.
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SUMÁRIO
Página
Lista de Figuras...........................................................................................................
IX
Lista de Tabelas...........................................................................................................
X
Lista de Abreviações...................................................................................................
XI
Resumo.........................................................................................................................
13
1. Introdução................................................................................................................
14
2. Revisão da Literatura.............................................................................................
16
2.1. Floresta Atlântica.............................................................................................
16
2.1.1. Fragmentação.........................................................................................
20
2.1.2. Fragmentos Urbanos e Periurbanos.......................................................
21
2.2. Espécies Pioneiras de Ambiente Natural.........................................................
22
2.3. O gênero Cyperus L. s.l...................................................................................
24
2.3.1 Biologia e Ecologia de Cyperus.....................................................................
25
2.4 O gênero Miconia L. s.l....................................................................................
26
2.4.1 Biologia e Ecologia de Miconia..............................................................
28
2.5 Marcadores Moleculares...................................................................................
29
2.5.1 Marcadores Moleculares na Análise da Diversidade em Vegetais.........
30
2.5.1.a Análise de DAF (DNA Amplification Fingerprinting)................
32
2.5.1.b. Análise de ISSR (Inter-Simple Sequence Repeat)......................
33
2.6 Análises Genéticas em Populações Vegetais....................................................
34
2.7 Análise de Diversidade Genética e Parentesco em Plantas..............................
36
2.7.1 Em Cyperaceae........................................................................................
39
3. Referências Bibliográficas......................................................................................
40
4. Capítulo I: Diversidade Genética em Populações de Cyperus odoratus L. e C.
50
ligularis L. (Cyperaceae) ocorrentes em um Fragmento de Floresta Atlântica através
de Fingerprinting de DNA............................................................................................
4.1 Resumo.............................................................................................................
51
4.2 Materiais e métodos..........................................................................................
53
4.3 Resultados.........................................................................................................
55
4.4 Discussão..........................................................................................................
56
4.5 Referências Bibliográficas................................................................................
61
4.6 Tabelas..............................................................................................................
65
4.7 Figuras..............................................................................................................
68
8
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5. Capítulo II: Diferenciação Genética entre Quatro Populações de Miconia
70
prasina (Sw.) DC. (Melastomataceae) ocorrentes em Fragmentos de Floresta
Atlântica de Terras Baixas em Pernambuco, através de Fingerprinting de DNA
5.1 Resumo.............................................................................................................
71
5.2 Materiais e métodos..........................................................................................
73
5.3 Resultados.........................................................................................................
76
5.4 Discussão..........................................................................................................
78
5.5 Referências Bibliográficas................................................................................
83
5.6 Tabelas..............................................................................................................
88
5.7 Figuras..............................................................................................................
93
6. Conclusões…………………………………………………………………………
97
7. Abstract……………………………………………………………………………
99
8. Anexo: Normas da revista Genetics and Molecular Research..................................
100
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Lista de Figuras
Revisão da Literatura
Página
Figura 1: Distribuição Geográfica da Mata Altântica
18
Figura 2: Heterogeneidade da Mata Atlântica
19
Figura 3: Classificação da Família Cyperaceae
24
Figura 4: Classificação da Família Melastomataceae
27
Capítulo I
Figura 1: Plots de coleta das espécies C. odoratus e C. ligularis.
68
Figura 2: Dendrograma gerado a partir da técnica DAF entre 40 amostras de C.
69
odoratus e C. ligularis
Capítulo II
Figura 1: Área de estudo de Miconia prasina
93
Figura 2: Dendograma DAF entre 22 amostras de M. prasina
94
Figura 3: Dendograma ISSR entre 22 amostras de M. prasina
95
Figura 4: Dendograma DAF/ISSR entre 22 amostras de M. prasina
96
IX
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Lista de Tabelas
Capítulo I
Página
Tabela 1: Banco de DNA e germoplasma
65
Tabela 2: Lista de primers DAF
66
Tabela 3: Polimorfismos gerados pelo marcador DAF em C. odoratus e C. ligularis
67
Capítulo II
Tabela 1: Distribuição dos indivíduos coletados
88
Tabela 2: Sequências e designação de primers DAF e ISSR
89
Tabela 3: Polimorfismo gerado pelo marcador DAF
90
Tabela 4: Polimorfismo gerado pelo marcador ISSR
91
Tabela 5: Dados populacionais de Gst e Nm
92
X
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Lista de Abreviações
Adh
Desidrogenase do álcool
AFLP
Amplified Fragment Length Polimorfism,
Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos Amplificados
ca.
Cerca de
CTAB
Cetyl-trimethyl-amoniumbromide
DAF
DNA Amplification Fingerprinting,
Impressão Genômica do DNA Amplificado
DNA
Desoxiribonucleic Acid,
Ácido Desoxirribonucléico
dNTP
Dinucleotídeo trifosfato
EST
Expressed Sequence Tags,
Etiqueta de Seqüência Expressa
g
Grama
h
Hora
ha.
Hectare
He
Diversidade Geral de Espécie
Hp
Diversidade Geral de Populações
ISSR
Inter Simple Sequence Repeats,
Inter seqüências únicas repetidas
ITS
Nuclear Ribosomal Internal Transcribed Spacer,
Espaçador transcrito interno de ribossomo nuclear
Km
Quilômetro
MEGA 4.0
Molecular Evolucionary Genetics Analysis,
Análises Moleculares de Genética Evolutiva
MHP
Mini Harpin,
Mini grampo
µL
MicroLitro
µM
Micromolar
min
Minuto
mL
Mililitro
mm
Milímetro
ng
Nanograma
XI
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NJ
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Neighbor joining,
Juntando os Vizinhos
pb
Pares de base
PCR
Polymerase Chain Reaction,
Reação em Cadeia da Polimerase
Pe
Locos Polimórficos dentro de Espécie
Pp
Locos Polimórficos dentro de Populações
RAPD
Random Amplified Polymorphic DNA,
Polimorfismo de DNA Amplificado Aleatoriamente
rbcL
Ribonuclease
RFLP
Restriction Fragment Lenght Polymorphism,
Polimorfismos no Comprimento de Fragmentos de Restrição
RNA
Ribonucleic acid
Ácido ribonucléico
seg
Segundo
SSR
Simple Sequence Repeat,
Seqüência Simples Repetida
Taq
Thermophylus aquaticus
U
Unidade
UFPE
Universidade Federal de Pernambuco
UPGMA
Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean,
Método Ponderado de Grupos em Pares por Meio Aritmético
USA
United States of América,
Estados Unidos da América
YAC
Yeast Artificial Chromosomes,
Cromossomos Artificiais de Levedura
XII
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Resumo
A Floresta Atlântica tem sofrido contínuas retrações resultando em urgente demanda por
novas estratégias para sua preservação e para o entendimento das conseqüências da
fragmentação, especialmente visando à sua conservação. Considerando este cenário, as
famílias Cyperaceae e Melastomataceae representam importante papel, devido à sua função
como pioneiras e regeneradoras florestais. O presente trabalho objetivou estudar a diversidade
genética e o fluxo gênico entre populações das espécies pioneiras Cyperus ligularis e C.
odoratus (Cyperaceae) ocorrentes em um fragmento urbano de Floresta Atlântica da Reserva
de Dois Irmãos Recife (PE) e em seus arredores, bem como de Miconia prasina
(Melastomataceae) ocorrente em três fragmentos periurbanos de Floresta Atlântica na Usina
São José (USJ) em Igarassu (PE), mediante marcadores moleculares DAF (DNA
Amplification Fingerprinting) e ISSR (Inter Simple Sequence Repeats). O fenograma gerado
através do DAF para as populações de C. ligularis e C. odoratus demonstrou total separação
genética entre estas espécies, sustentado por 165 marcas polimórficas interespecíficas.
Adicionalmente, as populações apresentaram alta diversidade genética entre si de acordo com
o índice Gst de Nei (Gst- 0,3632), correlacionada a uma baixa taxa de fluxo gênico a partir do
índice de número de migrantes observado Nm- 0,8766. Os indivíduos da espécie C. odoratus
foram coletados apenas nas proximidades de dois açudes da Reserva de Dois Irmãos
constituída por um fragmento de Floresta Atlântica, apresentando maior diversificação
genética entre eles do que os de C. ligularis, ocorrentes também na Reserva de Dois Irmãos
bem como em populações adjacentes sob forte influência antrópica, havendo distância de até
3 km entre os plots amostrados. Estes resultados sugerem a existência de maior variação
intraespecífica e intrapopulacional para C. odoratus. Em contrapartida a menor variabilidade
observada em C. ligularis sugere a influência de um possível efeito fundador na capacidade
em ocupar áreas urbanas mais secas ou úmidas e poluídas, limitada a uma combinação
específica de fatores genéticos, a despeito da diversidade de locais e áreas amostradas, desta
forma agruparam-se aleatoriamente sugerindo a formação de uma metapopulação. Foram
obtidos para as populações de M. prasina 237 loci polimórficos a partir do DAF e ISSR onde
a estimativa global de diversidade genética (Dg%) foi de 91 e 85,5% para DAF e ISSR,
respectivamente, tendo o fragmento de Floresta Atlântica Macacos (Mac) como a maior
contribuinte e os fragmentos Açude do Prata (Apr) e Pezinho (Pez) como os menores,
sugerindo que Mac se apresenta com maior potencial de adaptabilidade. Os dados de Dg%
intrapopulacional apontam Mac com o maior índice, provavelmente devido à polinização e
dispersão neste, e Apr e Pez, com os menores sugerindo maior atenção no sentido de
conservação destes. A partir dos agrupamentos foram observados indícios de estruturação
genética da população Apr em relação às demais, fato também indicado por as análises
populacionais (Gst e Nm). A partir dos Gst e Nm globais por DAF e DAF/ISSR foi observada
uma divergência genética entre os fragmentos de Floresta Atlântica analisados, sugerindo-se
que tal fenômeno seria conseqüência das expansões e retrações da Floresta Atlântica ocorridas
durante o Quaternário, bem como da pressão antrópica. A associação destes dados com
observações de campo e de biologia reprodutiva devem auxiliar no entendimento da dinâmica
das populações analisadas e do papel destas plantas nos processos sucessionais.
Palavras-Chave: Fragmentação, Estrutura populacional, Miconia, Cyperus, Fingerprinting de
DNA.
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1. Introdução
A Floresta Tropical representa uma organização biológica de grande importância do
ponto de vista da biodiversidade, nela se encontram diferentes formações vegetacionais que
servem de abrigo a diversas formas de vida e que, no decorrer do tempo, tem servido a
atividades desordenadas e outras práticas de exploração. Com a destruição acelerada dessas
florestas, grande parte da biodiversidade presente nesses ecossistemas está se perdendo, antes
mesmo que se tenha inteiro conhecimento de sua riqueza natural.
Dentre as formações florestais tropicais que ocorrem no Brasil, pode-se destacar a
Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), que se encontra distribuída ao longo de toda sua
costa litorânea, resultante de díspares combinações de espécies em cada parte ou unidade da
floresta, formando um grande mosaico constituído por manchas de várias idades e diferentes
estágios sucessionais, originadas por perturbações externas e processos de sucessão
secundária.
Em Pernambuco, a Mata Atlântica foi eliminada em grande parte e os remanescentes
florestais existentes estão sujeitos à degradação por empobrecimento gradativo em
diversidade biológica devido à sua pequena área, merecendo atenção prioritária. Grande parte
da faixa litorânea encontra-se ocupada por diversos municípios com destaque para a Região
Metropolitana do Recife (RMR), onde a expansão urbana desordenada tende a isolar, diminuir
e descaracterizar as poucas manchas de vegetação nativa, mesmo estando algumas protegidas
por legislação.
Portanto, de acordo com as informações supracitadas uma das maiores preocupações
para a conservação da Floresta Atlântica refere-se à transformação e exploração deste habitat
modificando severamente sua estrutura, atuando diretamente no padrão de distribuição
espacial e fenológico das espécies nativas, já que diferentes fatores do ambiente, como luz
incidente, umidade e disponibilidade de nutrientes também são afetados.
Porém, tais alterações nos ambientes naturais permitem o estabelecimento de espécies
ditas pioneiras e indicadoras de degradação ambiental como as Cyperaceae e
Melastomataceae, sendo estas caracterizadas por apresentar grande resistência a condições
ambientais mais extremas tendo como principal importância a capacidade de se desenvolver
em condições ambientais não muito favoráveis para a sobrevivência de outros vegetais, assim
destacando-se por sua potencialidade de recuperação florestal.
Um aspecto importante a ser considerado para a conservação das formações florestais
é antes de qualquer plano de ação, conhecer a composição e estrutura dos remanescentes, o
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que é de suma relevância para que se façam intervenções e elaboração de planos de manejo
sustentável.
O sucesso do manejo e preservação de populações de espécies vegetais depende de
uma investigação acurada da diversidade genética como, por exemplo, através dos índices
estatísticos F de Wright ou Gst de Nei - em populações naturais é influenciada pelo seu
tamanho, distribuição geográfica, polinizações e fluxo gênico, além de ser estruturada no
tempo e no espaço - a fim de apontar questões com respeito às relações genéticas entre
indivíduos e níveis de variação da estrutura genética populacional, contribuindo para o melhor
direcionamento dos esforços de preservação.
Vários são os métodos utilizados para detectar a distribuição espacial da variabilidade
e conectividade genética em populações. As que são claramente fragmentadas ou contínuas
nas quais se observam unidades fisionômicas, a distribuição da variação genética pode ser
estudada entre os grupos existentes. Marcadores fingerprinting de DNA têm uma ampla
aplicação em análises de variação genética e medição de fluxo gênico a nível específico,
particularmente em investigações de diferenciação e estrutura genética populacional,
incluindo estimação de índices de diferenciação genética populacional (Fst, Gst), variação
genética em espécies sem nenhum conhecimento genético prévio - como é o caso da maioria
das espécies neotropicais - e dentro de populações Portanto, os estudos extensivos de dados
compilados a partir de marcadores moleculares são potenciais na produção de informações
com implicações importantes na biologia evolutiva, ecologia e principalmente na conservação
biológica de plantas nativas.
O presente estudo teve como objetivo analisar parâmetros de diversidade genética e
fluxo gênico entre populações das espécies pioneiras e indicadoras de degradação ambiental,
Miconia prasina (Melastomataceae), Cyperus ligularis e C. odoratus (Cyperaceae) ocorrentes
em fragmentos de Floresta Atlântica e arredores, na região Metropolitana do Recife, PE,
podendo contribuir para o melhor entendimento da estrutura genética das populações
fornecendo uma perspectiva histórica das mudanças evolutivas que caracterizam uma espécie
e permitem indicar como as populações responderão a eventos futuros de origem natural e
artificial, sendo estas informações fundamentais no direcionamento dos esforços de manejo e
conservação entre os fragmentos estudados.
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2. Revisão da Literatura
2.1 Floresta Atlântica
As Florestas Tropicais vêm sofrendo, paulatinamente, uma redução de suas áreas,
por meio de desmatamentos para retirada de madeira, exploração de recursos minerais,
implantação de projetos agropecuários e queimadas criminosas (SILVA & ANDRADE, 2005).
A Floresta Atlântica é a segunda maior floresta pluvial tropical do continente
americano, que originalmente estendia-se de forma contínua ao longo da costa brasileira,
penetrando até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina em sua porção sul. No passado
cobria mais de 1,5 milhões de km2 – com 92% desta área no Brasil (FUNDAÇÃO SOS
MATA ATLÂNTICA & INPE, 2001; GALINDO- LEAL & CÂMARA, 2003). A Floresta
Atlântica é um dos 25 hotspots mundiais de biodiversidade. Embora tenha sido em grande
parte destruída, ela ainda abriga mais de 8.000 espécies endêmicas de plantas vasculares,
anfíbios, répteis, aves e mamíferos (MYERS et al., 2000).
Relativamente heterogênea em sua composição, a Floresta Atlântica estende-se
atualmente de 4o a 32oS e cobre um amplo rol de zonas climáticas e formações vegetacionais,
de tropicais a subtropicais. A elevação vai do nível do mar até 2.900 m, com mudanças
abruptas no tipo e profundidade dos solos e na temperatura média do ar (MANTOVANI,
2003). Variações longitudinais são igualmente marcantes. Quanto mais interioranas, mais
sazonais tornam-se as florestas, com índices de pluviosidade caindo de 4.000 mm a 1.000 mm
em algumas áreas da Serra do Mar (OLIVEIRA-FILHO & FONTES, 2000; MANTOVANI,
2003). Junto com a floresta tropical, a Floresta Atlântica abrange formações mistas de
araucária ao sul, com distinta dominância de lauráceas, bem como florestas decíduas e
semidecíduas no interior. Várias formações encontram-se associadas a esta floresta, como
mangues, restingas, formações campestres de altitude e brejos (CÂMARA, 2003).
A área costeira do Brasil, considerando-se as formações sobre as restingas e a Floresta
Atlântica, representa uma região com índice elevado de endemismos (THOMAZ et al., 1998),
onde ocorrem, por exemplo, 39 espécies endêmicas de Chrysobalanaceae (PRANCE, 1987).
Das 127 espécies lenhosas descritas para região costeira na Flora Neotropica, 68 (53,5%) são
endêmicas (MORI et al., 1981). De acordo com diversos autores (MORI et al., 1983;
PEIXOTO & GENTRY, 1990; JOLY et al., 1991; BARROS et al., 1991), além do elevado
grau de endemismo observado em alguns grupos vegetais, a floresta atlântica apresenta
elevada riqueza de espécies e diversidade florística que, em alguns locais, é superior às
observadas em trechos de Floresta Amazônica (BROWN JR. & BROWN, 1992).
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Considera-se que a riqueza de plantas lenhosas nas Florestas Tropicais esteja
relacionada a cinco gradientes principais: o latitudinal, o de precipitação, o edáfico, o
altitudinal e o intercontinental (GENTRY, 1988a , CLINEBELL et al., 1995). Com exceção
de Myrtaceae, as famílias com maior riqueza de plantas lenhosas nas florestas neotropicais
têm seus principais centros de riqueza fora da região costeira brasileira. Como maior riqueza
de arbustos destaca-se o gênero Miconia que pertence à família Melastomataceae (GENTRY,
1982).
A história da ocupação da Floresta Atlântica é marcada por certa confusão com a
chegada dos portugueses ao país e o processo de colonização. Antes de sua intensa destruição,
esta cobria largas áreas ao longo da costa brasileira, do Nordeste ao Sul do país, avançando
para o interior em extensões variáveis, possuindo uma grande diversidade de solos, relevos e
climas, tendo como elemento comum a exposição aos ventos úmidos que sopram do oceano
(LIMA, 1998). Apesar da enorme carência de dados específicos e comprobatórios da sua
devastação, reconhece-se que a densa e diversificada floresta encontrada pelos colonizadores
tem ao longo dos séculos sido intensamente explorada e/ou substituída, passando a ser
considerada como um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo (CORRÊA, 1995).
No decorrer do processo de ocupação das terras pelos colonizadores portugueses,
diversos tipos de atividades destruidoras se destacaram na eliminação das matas no Nordeste,
e particularmente, em Pernambuco. Uma delas, nos primeiros tempos da colonização, deveuse à destruição deliberada das florestas visando facilitar a defesa dos colonos contra os
ataques constantes de indígenas (COIMBRA-FILHO & CÂMARA, 1996). Adicionalmente,
as queimadas realizadas no curso das frequentes lutas dos colonizadores contra indígenas,
entre tribos rivais e no decorrer da expulsão de invasores, representam outro tipo de atividade
devastadora. Na maioria das vezes, recomendava-se a remoção das matas como estratégia
militar (LIMA, 1998).
Outra significativa atividade destruidora foi a da extração do pau-brasil (Caesalpinia
echinata Lam.) que praticamente desapareceu do seu ambiente natural, assim como, outras
madeiras valiosas. Desta forma, a extração desta espécie pode ser considerada como uma das
primeiras atividades responsáveis por alterações ecológicas de vulto, que afetaram as
formações atlânticas silvestres (LIMA, 1998).
Um quarto tipo de atividade antrópica de exploração inclui as derrubadas destinadas
ao desenvolvimento da pecuária bovina extensiva. Concomitantemente, devem ser
consideradas atividades múltiplas, tais como o desmatamento visando à construção de
estradas, barragens, vilas, cidades, mineração, entre outras. Vale salientar, como de grande
expressão, as derrubadas para ocupação com plantações agrícolas como canaviais, cafezais,
18
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
mandiocais, dentre outros (LIMA, 1998). Sobre esse assunto, Gilberto Freyre descreveu em
seu livro Nordeste, o que foi a devastação das matas nordestinas pelos colonizadores, e mais
precisamente em Pernambuco, para abrir espaço à monocultura canavieira (COIMBRAFILHO & CÂMARA, 1996).
A substituição da Floresta Atlântica pela cultura da cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum L.) a partir do período colonial representa a principal causa do seu processo de
degradação, agravando-se com o programa governamental “Pro-Álcool”, em 1974. A
destruição dos ecossistemas silvestres nordestinos constituiu, portanto, um processo
multiforme e contínuo de origem antrópica, com indiscutível realimentação, que
descaracterizou a fisionomia original da região (LIMA, 1998). Tal pressão antrópica existente
há mais de 500 anos já provocou a perda de mais de 93% de sua área (MYERS et al., 2000),
restando menos de 100.000 km2 de vegetação remanesce (Fig. 1).
Algumas áreas de endemismo, como Pernambuco, agora possuem menos de 5% de
sua floresta original (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2003). Dez por cento da cobertura
florestal remanescente foi perdida entre 1989 e 2000 apenas, apesar de investimentos
consideráveis em vigilância e proteção (A. AMARANTE, dados não publicados). Antes
cobrindo áreas enormes, as florestas remanescentes foram reduzidas a vários agrupamentos de
fragmentos florestais muito pequenos, bastante separados entre si (GASCON et al., 2000). As
matas do Nordeste já estavam em grande parte devastadas (criação de gado e exploração de
madeira mandada para a Europa) no século XVI (COIMBRA-FILHO & CÂMARA, 1996).
Figura 1: Distribuição atual da Mata Altântica. Fonte: Folha
de São Paulo – BBC Brasil.
19
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Dados indicaram para o Nordeste um percentual de 36,8% de sua área coberta com
matas no início do século XX e para Pernambuco um percentual de 34,14% (LIMA, 1998).
Atualmente Pernambuco mantém apenas 2% da cobertura original, em fragmentos rodeados
por monoculturas e aglomerados urbanos (VIANA et al. 1997; CHIARELLO, 1999; SILVA
& TABARELLI 2000), sendo 48% dos remanescentes abaixo de 10 ha e apenas 7% acima de
100 ha (média de 34 ha) (RANTA et al. 1998).
Diante desse quadro de intensa exploração, na atualidade a vegetação preservada da
Floresta Atlântica ocorre de maneira totalmente fragmentada ao longo da faixa litorânea do
Brasil principalmente em inclinações íngremes de montanhas, de forma a constituir uma gama
de florestas altamente heterogêneas tais como a floresta estacional semidecidual, a floresta
ombrófila aberta e densa (Fig. 2), justificando seu reconhecimento como um grande foco de
biodiversidade (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2002).
Figura
2:
Distribuição
heterogênea
da
Mata
Altântica. Fonte: INPE – Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais.
Devido à ocorrência de fragmentos da Floresta Atlântica em boa parte do litoral
brasileiro, esta se apresenta subdividida em dois conjuntos (Nordeste e Sudeste/Sul) os quais
se assemelham em determinados padrões florísticos. Vale citar que, por causa da sua
localização geográfica, o estado do Espírito Santo parece conter uma flora intermediária entre
os dois blocos (SILVA, 1996).
20
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Dentro de um contexto geográfico, referindo-se ao clima, morfologia do relevo e
área de ocorrência, reporta-se que a Floresta Atlântica é composta por várias biorregiões de
grande importância ambiental, apresentando ecossistemas diferenciados em vários estágios de
regeneração principalmente nos fragmentos que estão sob proteção ambiental (DIAS et al.,
2003).
2.1.1 Fragmentação
Grandes extensões territoriais de paisagens “naturais” sofreram transformações
significativas, especialmente, no último século. Assim, a Floresta Atlântica apresenta-se como
um mosaico composto por poucas áreas relativamente extensas, principalmente nas regiões
sul e sudeste (zonas núcleo de preservação de acordo com o Conselho Nacional da Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica) e uma porção bem maior composta de áreas em diversos estágios
de degradação (ZAÚ, 1998).
Neste quadro, os fragmentos florestais de diversos tamanhos e formas, assumem
fundamental importância para a perenidade da Floresta Atlântica (ZAÚ, 1998). A
fragmentação da paisagem produz uma série de manchas de vegetação “remendada” e cercada
por uma matriz de diferentes vegetações e/ou de terra. Como efeitos preliminares podem-se
citar alterações do microclima dentro e ao redor da mancha remanescente, isolando-as do
resto da paisagem circunvizinha (SAUNDERS et al., 1991).
A remoção da vegetação nativa e sua substituição por espécies com a arquitetura e
fenologia diferentes alteram o contrapeso da radiação solar que, por sua vez, passa a ser maior
durante o período noturno. Outras consequências desta ação antrópica são alterações no
comportamento eólico devido às mudanças da arquitetura do ambiente, modificações do
regime de águas alterando assim vários ciclos hidrológicos, isolamento do fragmento,
diminuição ou eliminação de habitats o que incide de maneira aguda na biota presente nos
diversos ecossistemas (SAUNDERS et al., 1991).
Esse processo de fragmentação e isolamento contribuiu para extinções expressivas,
tornando urgente a necessidade de compreensão da dinâmica dos diversos ecossistemas os
quais compõem a Floresta Atlântica. Considerada uma das maiores ameaças a biodiversidade,
a fragmentação dos ambientes naturais conduz à perda qualitativa de espécies, sendo o estudo,
a medição e previsão das implicações dessa fragmentação um dos maiores desafios à ciência
no momento (SILVA, 1996).
Além da necessidade premente da conservação, manejo e recuperação dos
fragmentos, do que resta da Floresta Tropical Atlântica, torna-se imprescindível que conceitos
21
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
teóricos básicos dos ecossistemas tropicais sejam invocados, para a construção de tecnologias
adequadas para essas ações, sendo fundamental a junção de conceitos da ecologia de
populações e da genética de populações de forma a orientar as ações a serem efetuadas e
definir parâmetros adequados para o monitoramento das mesmas (KAGEYAMA &
GANDARA, 1998).
Considerando-se a necessidade de utilização racional do meio, enfatiza-se a proposta
de múltiplos usos para áreas florestadas, como alternativa ao uso atual da terra, baseado na
transformação e consequente fragmentação das florestas ainda existentes. Neste contexto o
conhecimento da dinâmica ecológica em fragmentos florestais e corredores de vegetação
torna-se de suma importância no binômio conservação/desenvolvimento (ZAÚ, 1998).
2.1.2 Fragmentos Urbanos e Periurbanos
Um importante aspecto contemporâneo é a preocupação com a situação ambiental
que é fundamental para qualidade de vida das pessoas, pelo fato da grande concentração
humana estar presente nas urbes (COSTA, 2004). A principal característica do crescimento
populacional tem sido o novo perfil de crescimento no qual a migração no sentido do campo
para as cidades passou a ocorrer de forma mais intensa, com consequente diminuição da
população rural, ocasionando um “inchaço” nas cidades, de maneira que as ocupações dos
territórios urbanizados foram realizadas de forma desordenada (DUARTE, 2003).
Assim, em virtude da abertura e expansão de áreas agrícolas, crescimento urbano
desordenado, implantação de projetos industriais, entre outros processos, a paisagem nativa
cedeu espaço a uma paisagem antrópica, formada por padrões de áreas urbanas, rodovias,
culturas agrícolas, pastagens, áreas degradadas e também remanescentes da vegetação nativa.
Estes remanescentes, também conhecidos como fragmentos florestais, desempenham
importante função de mantenedores da biodiversidade existente na região afetada e devem ser
considerados como elementos-chave no planejamento visando à conservação ambiental. A
biodiversidade ainda presente no local que, mesmo impactada e diversa de sua condição
natural, dependerá do tempo de isolamento/fragmentação, da distância entre fragmentos
adjacentes e do grau de conectividade entre fragmentos para não entrar em rota de extinção
(SAUNDERS et al., 1991).
A presença de coberturas vegetais urbanas e periurbanas implicam na melhoria de
fatores para o bem estar e maior qualidade de vida da população, pois harmoniza um maior
equilíbrio climático, de modo a torna-se fundamental na prevenção de vários problemas
urbanos como inundações e deslizamentos, poeira e mau-cheiro, dentre outros. Além destes
22
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
tipos de melhoramentos contribui para o bem estar social por meio de redução da densidade
populacional local, do fluxo de trânsito, entre outros (MORAWETZ & BENKO-ISEPPON,
2005; BENKO-ISEPPON et al., 2007).
Considerando-se a importância apresentada por tais vegetações e as condições de
degradação às quais estas se encontram submetidas, uma das propostas para minimizar os
efeitos da fragmentação causada pela ação antrópica nos centros urbanos inclui o
estabelecimento de corredores ecológicos interligando o maior número possível de
fragmentos, favorecendo o deslocamento de animais silvestres inter-fragmentos, aumentando
a dispersão de sementes e a área de ocorrência de algumas espécies, diminuindo a taxa de
extinção de espécies, entre outros benefícios (MARTINS et al., 1998).
2.2 Espécies Pioneiras de Ambiente Natural
Uma das maiores preocupações para a conservação das florestas tropicais tem sido a
transformação e exploração deste habitat (ROSSI & HUGUCHI, 1998), a qual pode modificar
severamente sua estrutura (LIEBERMAN & DOCK, 1982; HOFFMAN, 1998), atuando
diretamente no padrão de distribuição espacial (ALMEIDA et al., 1998) e fenológico das
espécies nativas (CLARK & CLARK, 1987; COSTA & MAGNUSSON, 2003), já que
diferentes fatores do ambiente, como luz incidente, umidade e disponibilidade de nutrientes
também serão afetados (ROSSI & HUGUCHI, 1998).
Por outro lado, a alteração de ambientes naturais permite a entrada de novas espécies
nestes ambientes, principalmente espécies que possuam uma grande resistência a condições
ambientais mais extremas e que podem ser consideradas espécies pioneiras ou invasoras.
Essas plantas apresentam como atributo importante a capacidade de se desenvolver em
condições ambientais não muito favoráveis para a sobrevivência de outros vegetais (ROY,
1990).
Plantas pioneiras ou intolerantes à sombra são aquelas que necessitam de clareiras
naturais como sítio de ocorrência, colaborando para processos de regeneração da vegetação.
Nesse grupo estão incluídas as árvores e os arbustos pioneiros de ciclo de vida curto (< 50
anos de idade) e as pioneiras de ciclo de vida longo (> 50 anos), também classificadas como
grandes pioneiras (TABARELLI & MANTOVANI, 1999). Portanto, a abertura de clareiras
naturais, causada pela queda de uma ou mais árvores do dossel, vem sendo considerada um
mecanismo de manutenção da diversidade de espécies nas florestas tropicais (HARTSHORN,
1980; TERBORGH, 1992; apud TABARELLI & MANTOVANI, 1999). Conforme
DENSLOW (1987) e BROWN & BROWN (1992) apud TABARELLI & MANTOVANI
23
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
(1999) clareiras representam nichos distintos de colonização, permitindo a coexistência na
floresta de espécies com diferentes características.
Estes vegetais pioneiros produzem anualmente e por longos períodos, sementes
pequenas que são dispersas pelo vento ou por animais, por médias a longas distâncias;
podendo estas sementes permanecer no solo durante um tempo considerável, compondo o
banco de sementes da espécie. Tais plantas são muito bifurcadas e possuem raízes superficiais
apresentando rápido crescimento e produzindo madeira macia e de baixa densidade. Suas
folhas respondem periodicamente, realizam altas taxas fotossintéticas e respiratórias,
apresentam baixa toxicidade, sendo susceptíveis à predação por herbívoros e patógenos. As
espécies pioneiras apresentam alta plasticidade fenotípica e ampla ocorrência geográfica por
possuírem alto potencial de aclimatação e rápida resposta às mudanças nos níveis de recursos
(RIBAS, 2003).
Tais organismos possuem características próprias de extinção local e recolonização
que, juntamente com a existência de bancos de sementes, apresentam importantes
consequências genéticas e ecológicas para as espécies. Exemplo claro é dado pelo fato dos
bancos de sementes poderem agir como “tampão gênico” devido à sua capacidade de repor a
diversidade genética perdida pela população de plantas e a longa distância de dispersão de
sementes e pólen reduzir a distância entre populações geograficamente distintas (RIBAS,
2003).
Espécies de Cyperaceae e Melastomataceae apresentam grande importância na
conservação de ambientes uma vez que são componentes dominantes de muitos ecossistemas
e, por conseguinte são indicadores de confiança de ambientes deteriorados (SIMPSON et al.,
2003).
Em decorrência da degradação de diversas formações vegetacionais no entorno de
alguns pólos industriais no Brasil e mesmo em matas urbanas decorrentes de ocupações ou
atividades inapropriadas, Oliva & Figueiredo (2005) sugeriram que o uso de organismos
indicadores,
como
abordagem
alternativa
e/ou
complementar
em
programas
de
monitoramento de poluição ambiental, permitiria uma interpretação melhor das relações
ecológicas envolvidas. Para isso, um pré-requisito essencial é que as espécies a serem
empregadas como indicadores ativos ou passivos sejam de ampla distribuição regional e que
apresentem sensibilidade diferenciada aos poluentes.
Como forma de exemplificar a aplicação de plantas bioindicadoras, Oliva &
Figueiredo (2005), em estudo de regiões poluídas com flúor devido a atividades industriais,
demonstraram que no caso específico de F-, um dos métodos protocolados e amplamente
aceito recomendou o uso do azevém (em inglês ‘ryegrass’), da espécie Lolium multiflorum L.
24
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
italicum (A. Braun) Husnot var. lema, cultivada em pequeno volume de substrato comercial,
apresentando capacidade de responder ao poluente em curto prazo.
2.3 O gênero Cyperus L. s.l.
O gênero Cyperus é o segundo maior da família Cyperaceae (Ordem Poales) (Fig. 3),
com cerca de 600 espécies e alta diversidade taxonômica nos trópicos (MUASYA et al.,
2002).
Figura 3: Classificação da Família Cyperaceae. Fonte: mobot.org
Assim como em outros gêneros da família, apresenta um grande número de espécies
pioneiras, responsáveis pela sucessão primária em ambientes perturbados. Apresenta alguns
questionamentos taxonômicos, não existindo acordo em sua circunscrição ou classificação
infragenérica. Dessa forma, é tratado como um amplo gênero com inúmeros subgêneros ou
encontra-se subdividido em vários grupos segregados, sendo os mais conhecidos Kyllinga,
Mariscus e Pycreus (MUASYA et al., 2002).
Cyperus apresenta como característica marcante hastes geralmente sólidas e em
forma triangular. As folhas são alternas, comumente em três fileiras; a base da bainha é
fechada, com venação paralelinérvea e limbo pontiagudo. As flores são diminutas e
25
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
unissexuais sendo encontradas no ápice da haste, arranjadas em espiral ou disticamente nas
espículas. O perianto foi reduzido a cerdas, auxiliando na dispersão das sementes que ocorre
por vários meios. O androceu consiste geralmente em três estames distintos, contudo um, dois
ou raramente seis podem estar presentes (LINDER & RUDALL, 2005). O gineceu é formado
por um único pistilo composto de geralmente dois ou três carpelos, um único estilete
comumente com dois ou três lóbulos e um ovário superior com um único lóculo contendo
apenas um óvulo basal. Os frutos (aquênios) são geralmente pequenos, raramente alcançam
1,5 cm compr. (KERN, 1974).
2.3.1 Biologia e Ecologia de Cyperus
Vários estudos ecológicos utilizando Cyperus como objeto de análise encontram-se
disponíveis na literatura acadêmica. Leck & Schütz (2005) desenvolveram pesquisas
ecológicas com as sementes de algumas espécies do referido gênero (dispersas pelo vento,
água e animais), envolvendo dados sobre germinação, dispersão, respostas de dormência em
relação à germinação, viabilidade, longevidade e ainda comparações entre diferentes habitats.
Estes autores observaram que a interação entre todos esses traços parece ter conduzido às
estratégias de baixo-risco da germinação facilitando a formação de bancos persistentes da
semente. Além disso, estes estudos mostraram estratégias reprodutivas variadas dentro dos
habitats, da persistência, e da habilidade de muitas espécies colonizarem habitats perturbados.
Foram realizadas também outros estudos ecológicos em diversas escalas a partir da
análise de bancos de sementes como no estudo supracitado, destacando-se trabalhos
salientando o conhecimento da persistência e determinação da disponibilidade das sementes, a
fim de selecioná-las para restauração de um habitat, bem como, a conservação de espécies
(WETZEL et al., 2001). Grime (1989) e Hogenbirk & Wein (1992) afirmam ainda que os
bancos de sementes sejam de utilidade para o monitoramento de habitats e de mudanças
climáticas.
Balzano et al. (2002) resumiram que os objetivos da recuperação ambiental podem
ser gerais ou mais específicos, desta forma, o sucesso de cada intervenção apresenta
possibilidades de variação. Por exemplo, considerando um empreendimento bem sucedido em
Nova Jersey (USA), os pântanos tornaram-se dominados por espécies herbáceas em 92%,
enquanto que as florestas úmidas apresentaram apenas 1% de ervas. Leck & Schütz (2005)
consideram um interesse bastante recente e apreciável o uso de bancos de sementes de
Cyperaceae e de várias outras espécies para a restauração e conservação dos habitats.
26
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Carneiro & Yrgang (1999), a partir de estudos de colonização vegetal em aterros
sanitários, observaram uma variação de 67 espécies nestes aterros, sendo 61 pertencentes a 51
gêneros e 18 famílias, bem como seis indivíduos não identificados, os quais correspondiam a
plântulas, principalmente representantes das famílias Poaceae ou Cyperaceae. Porém, além
destas foi identificada a presença de Cyperus rotundus L., C. eragrostis Lam. e C. flavus
(Vahl) Nees. corroborando com outros estudos a importância de espécies deste gênero no
papel de reocupação de ambientes devastados.
Estudos realizados por Stock et al. (2004) mostram que como as Poaceae
(gramíneas), e Cyperaceae apresentam múltiplos padrões fotossintéticos C4, tornam-se um
excelente grupo para que as hipóteses das vantagens ecológicas sobre a fotossíntese C4,
derivadas em sua maior parte das Poaceae, possam ser testadas. Desta forma, contribuindo
para um melhor entendimento ecológico, estes autores concluíram que a fotossíntese C4
evoluiu sob condições de solos úmidos ou encharcados, para espécies do gênero Cyperus,
sendo o sucesso ecológico do grupo em territórios alagados inférteis uma consequência da
eficiência elevada do uso do nitrogênio associado com o padrão C4.
Dentre os vários estudos ecológicos tem se observado que Cyperus apresenta um
destaque especial em relação à colonização de ambientes, especialmente aqueles que contêm
um alto grau de degradação. Ball & Glucksman (1975) observaram que, dentre as plantas
pioneiras e colonizadoras, as espécies de Cyperus obtiveram maior êxito na ilha de Motmot
formada a partir de erupção vulcânica confirmando a vocação reflorestadora destas espécies.
2.4 O gênero Miconia L. s.l.
A família Melastomataceae (Fig. 4) apresenta cerca de 4.570 espécies distribuídas
pelas regiões tropicais e subtropicais de todo o globo (CLAUSING & RENNER, 2001). Cerca
de um quarto destas espécies (1.056, segundo GOLDENBERG & ALMEIDA, in prep.)
pertencem ao gênero Miconia caracterizando este como o maior da família, incluindo espécies
que podem ser componentes do sub-bosque de florestas primárias, porém ocorrem
principalmente em áreas secundárias, bordas de floresta e clareiras naturais no interior de
florestas, por esta razão podendo ser consideradas como espécies pioneiras ou invasoras
(SCHUPP et al.. 1989; DENSLOW et al., 1990; ELLISON et al., 1993).
27
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Figura 4: Classificação da Família Melastomataceae. Fonte: mobot.org
A classificação infragenérica reconhece 11 secções para o gênero (GOLDENBERG &
ALMEIDA, in prep.) estabelecidas a partir de características morfológicas relativas ao
hipanto, cálice, pétalas e, principalmente, aos estames. Da forma pela qual se encontra
delimitado, este gênero pode ser reconhecido principalmente pelo cálice com lacínias externas
reduzidas, pétalas com ápice arredondado ou emarginado, nunca agudo e frutos bacáceos
(GOLDENBERG, 2004).
Em geral, as plantas desse gênero são extremamente diversas em sua arquitetura
reprodutiva e vegetativa (JUDD, 1986), produzem uma grande quantidade de microsementes
que são dispersas por várias espécies de pássaros frugívoros (LEVEY, 1986). Segundo Snow
(1965) e Stiles & Rosselli (1983) as plântulas podem rapidamente se estabelecer em
ambientes degradados. São geralmente polinizadas por abelhas que coletam o pólen disposto
em anteras tubiforme, com forma variável, mas quase sempre com deiscência poricida
(BUCHMANN, 1983). De acordo com Goldenberg & Varassin (2001) determinadas espécies
de Miconia apresentam reprodução de frutos apomíticos (fenômeno pelo qual uma planta é
capaz de produzir sementes com embriões viáveis sem que antes houvesse fusão de gametas e
formação de zigoto) como Miconia latecrenata e M. petropolitana, porém, em algumas
espécies a exemplo de M. pusilliflora existe um mecanismo de auto-incompatibilidade.
28
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
O gênero ocorre desde o sul do México até a Argentina. No Brasil, as espécies
ocorrem em diferentes ecossistemas, desde o nível do mar, nas restingas, até as florestas altomontanas, no domínio da Floresta Atlântica, bem como em formações vegetacionais na região
central do país, como os cerrados e os campos rupestres (MARTINS et al., 1996). Três
espécies são abundantes em fragmentos de mata peri-urbanos na Região Metropolitana de
Recife (M. minutiflora (Bonpl.) DC.; M. prasina (Sw.) DC. e M. ciliata (Rich.) DC. (ALVESARAÚJO et al., 2008)
2.4.1 Biologia e Ecologia de Miconia
O gênero Miconia é constituído por espécies de grande importância ecológica em
processos sucessionais (pioneiras), principalmente em fragmentos florestais de estágio
secundário de regeneração, desta forma é frequentemente utilizado em estudos ecológicos de
populações, a fim de uma maior contribuição para o entendimento da dinâmica populacional
de espécies nativas colaborando diretamente para fins de conservação e manejo (GASTON,
1994).
Em estudo realizado por Antonini & Nunes-Freitas (2004) a respeito da estrutura e
distribuição espacial de duas populações de Miconia prasina, pôde ser observado um padrão
agregado de distribuição entre estas que é característico de plantas com dispersão de sementes
por animais ou que realizam sua dispersão por autocoria (barocoria), estando relacionado com
a quantidade de sementes produzidas e a duração do período de frutificação. Este resultado
permitiu aos autores concluírem que o padrão de distribuição agregado encontrado para as
duas populações de M. prasina pode estar relacionado tanto à estratégia de dispersão
barocórica (e à associação desta com a zoocoria), quanto com a estrutura da vegetação e,
consequentemente, com a incidência de luz, das áreas estudadas.
Outro aspecto relevante que influencia na dinâmica populacional de espécies de
Miconia é a herbivoria. Braga e colaboradores (2007) em estudo sobre os impactos da
herbivoria em indivíduos de M. prasina constataram que a intensidade luminosa, dependendo
da faixa florestal em que estas espécies ocorrem, é um aspecto abiótico importante na
ocorrência dos diversos tipos de herbivoria como galhas, minas e galerias sendo este um fator
significativo para o hábito de herbívoros sésseis e livres.
Apesar da importância ecológica das espécies de Miconia na regeneração de habitats,
algumas como M. calvescens DC são consideradas invasoras. Roux e colaboradores (2008) se
utilizando de marcadores de microssatélites e ISSRs (Inter Simple Sequence Repeats),
realizaram um estudo com populações provenientes do Pacífico Sul e Norte, não encontrando
29
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
diferenças genéticas significativas entre estas populações, sugerindo assim a ocorrência de
bottlenecks (efeito “gargalo”) devido principalmente ao pequeno tamanho das populações
atrelado a um alto nível de endogenia. Porém, mesmo diante da falta de diversidade genética
esta espécie obtêm um alto nível de sucesso na colonização de ambientes no Pacífico.
Perez & Johnson (2007) em estudo a respeito de controle biológico desta espécie
através do Hymenoptera Antomacera petroa Smith realizado também com M. calvescens no
Havaí e em algumas Ilhas do Pacífico puderam concluir que este tipo de controle se mostrou
eficiente não só para esta espécie, mas também em relação a mais duas espécies de
Melastomataceae que se encontram na mesma condição nessas localidades.
Mesmo diante da ampla ocorrência e importante característica ecológica deste
gênero nos fragmentos de Floresta Atlântica no Nordeste brasileiro, inexistem investigações
utilizando marcadores moleculares na avaliação da estrutura genética populacional de
espécies nativas ou subespontâneas em fragmentos de mata situados em perímetro urbano.
2.5 Marcadores Moleculares
As plantas são geralmente vistas como uma fonte importante de energia para a
sobrevivência e a evolução do reino animal, constituindo a base da pirâmide ecológica. Nas
últimas décadas seus genomas têm sido extensivamente estudados, proporcionando uma
revolução nesta área. Os marcadores moleculares são fundamentais para a análise de genomas,
motivo pelo qual têm-se transformado em valiosa ferramenta para tal direcionamento. Estes
marcadores podem ser rotineiramente empregados em vários aspectos da análise de genomas
vegetais, com desdobramentos quanto à sua taxonomia, filogenia e ecologia, dentre outros
(JOSHI et al., 1999).
O desenvolvimento de tecnologias de marcadores de DNA representou um grande
avanço quando comparado às análises isoenzimáticas, uma vez que acessam características
genéticas mais informativas do ponto de vista evolutivo, sem influência de mecanismos
fisiológicos ou do meio ambiente, gerando um número quase ilimitado de polimorfismos
(BENKO-ISEPPON, 2001). Portanto, marcadores bioquímicos ou moleculares vêm sendo
amplamente utilizados na caracterização genética, detectando polimorfismos para alelos de
um determinado gene ou de pequenos fragmentos de DNA, permitindo a distinção de
indivíduos da mesma espécie, mesmo aqueles proximamente aparentados (BENKOISEPPON, 2001; BENKO-ISEPPON et al., 2003).
Os marcadores moleculares ideais para genotipagem devem apresentar várias
características como herança co-dominante, comportamento altamente polimórfico, alta
30
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
reprodutibilidade, acesso unambíquo a diferentes alelos, comportamento seletivamente neutro,
distribuição ao longo do genoma, facilidade de acesso e fácil intercâmbio de dados entre
laboratórios de pesquisa, além de baixo custo (JOSHI et al., 1999). Considerando-se que é
extremamente difícil encontrar um marcador que especificamente atenda a todos os critérios
citados, dependendo do estudo a ser desenvolvido, um sistema de marcadores deve ser
escolhido que atenda ao maior número de critérios considerando os objetivos do estudo
(FERREIRA & GRATTAPAGLIA, 1996). Isto é bem exemplificado através de projetos de
melhoramento, os quais utilizam inúmeros tipos de marcadores a fim de garantir uma
caracterização genética mais eficiente do organismo em estudo.
Weising e colaboradores (2005) efetuaram uma ampla revisão bibliográfica sobre
marcadores do tipo Fingerprinting de DNA (Impressão Genômica do DNA), destacando o
caráter discriminativo destes marcadores, face à complexidade de locos que acessam
concomitantemente, prestando-se para identificar centros de origem e dispersão.
Atualmente, além da correlação de marcadores realizada em projetos de
melhoramento, esse tipo de análise é crescente em estudos de diversidade genética entre
espécies vegetais nativas, no intuito principalmente de elucidar relações taxonômicas e gerar
conhecimento da distribuição da variabilidade genética para o melhor direcionamento de
esforços de conservação. Adicionalmente é bastante dificultosa a identificação de hibridização
entre duas espécies vegetais principalmente quando consideradas apenas análises
morfológicas; portanto, a aplicação de marcadores nesse intuito é fundamental, permitindo um
maior detalhamento, em especial na formação de novas espécies por hibridização
interespecífica em populações simpátricas (HEGARTY & HISCOCK, 2004).
2.5.1 Marcadores Moleculares na Análise da Diversidade em Vegetais
Dada a evolução das técnicas moleculares e a precisão de sua utilização, tem sido
possível ao homem acessar de forma segura e esclarecedora o genótipo e a variabilidade
genética de uma boa parte das plantas. Tais investigações têm promovido um avanço no
entendimento do comportamento fenotípico dos vegetais, o que propicia maior facilidade na
sua manipulação tanto no sentido de auxiliar a produção de novas cultivares, no que se refere
ao melhoramento, como na compreensão das tendências evolutivas (FREITAS & BERED,
2003).
Alguns marcadores de DNA são amplamente utilizados em estudos genéticos de
plantas, podendo-se destacar o DAF (DNA Amplification Fingerprinting; Impressão
genômica do DNA amplificado) (WINTER et al., 2000), ISSR (Inter Simple Sequence
31
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Repeats; Inter seqüências únicas repetidas), RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA;
Polimorfismo de DNA Amplificado Aleatoriamente) (PENTEADO et al., 1996; SAWAZAKI
et al., 1997; FERGUSON et al., 1998), AFLP (Amplified Fragment Length Polimorfism;
Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos Amplificados), RFLP (Restriction Fragment
Lenght Polymorphism; Polimorfismos no Comprimento de Fragmentos de Restrição)
(DEMISSIE, 1996) e SSR (Simple Sequence Repeats; Sequências Simples Repetida) (SEFC
et al., 1998). Sob o ponto de vista genético, as técnicas de RFLP e SSR são mais refinadas
comparativamente ao RAPD e ao DAF. Contudo, os dois últimos mencionados são os mais
frequentemente utilizados por sua fácil implementação e de rápida execução, possibilitando
resultados de grande validade prática (WADT, 2001).
Segundo Ferreira & Grattaplaglia (1996) marcadores RFLP foram estudados pela
primeira vez em um experimento destinado à detecção de mutações em DNA de vírus,
tornando-se em pouco tempo uma ferramenta útil e importante em várias áreas da biologia,
sendo utilizados com eficácia para aprofundar o conhecimento de diferentes temas biológicos.
Este marcador é geralmente utilizado em conjunto com um traço específico, seja morfológico
ou fisiológico como, por exemplo, resistência a alguma praga, apresentando capacidade de
auxiliar eficientemente em programas de seleção de plantas de interesse (JOSHI et al., 1999).
Ao longo dos anos RFLPs foram sendo sido aplicados em menor escala, devido ao
seu custo e complexidade de aplicação, prevalecendo o uso de marcadores baseados em PCR
(Polymerase Chain Reaction; Reação em Cadeia da Polimerase) como o DAF, o RAPD e o
AFLP (FERREIRA & GRATTAPLAGLIA, 1996).
Através de RAPD Cavallari (2004) realizou um estudo de diversidade genética
abrangendo espécies do gênero Encholirium: E. biflorum (Mez) Forzza, E. pedicellatum (Mez)
Rauh e E. subsecundum (Barker) Mez (Bromeliaceae), obtendo grande variabilidade
interespecífica bem como entre diferentes populações destas espécies, contribuindo para
taxonomia não resolvida por caracteres morfológicos, bem como para o direcionamento de
manejo e conservação de espécies ameaçadas de extinção no grupo.
Microssatélites ou SSRs estão entre os mais variáveis tipos de DNA repetitivo em
tandem presentes em mamíferos e plantas (EDWARDS et al., 1991; VOSMAN & ARENS,
1997). Como marcadores moleculares, os SSRs combinam várias propriedades desejáveis,
como elevados níveis de polimorfismo, dispersão uniforme, neutralidade seletiva, alta
reprodutibilidade, codominância e acesso genotípico simples e rápido (LI et al., 2001).
A associação das características dos genomas e da técnica de SSR, as sequências
repetitivas se tornaram importantes ferramentas para análise genética, pois oferecem a
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
possibilidade de amostrar simultaneamente um grande número de locos genéticos
polimórficos dispersos no genoma (FERREIRA & GRATTAPLAGLIA, 1996).
Portis e colaboradores (2004) se utilizaram da aplicação combinada de AFLP e SSR
com a finalidade de analisar a diversidade genética de importantes cultivares de Cynara
cardunculus L. var. altilis DC. usadas para alimentação na Itália, Espanha e sul da França.
Puderam observar através dos dados fornecidos pelo marcador AFLP que os cultivares da
Espanha e da Itália apresentam conjuntos gênicos distintos, havendo uma substancial
distinção entre os acessos que compõem estas populações. Por outro lado, através do SSR foi
detectada uma variação limitada.
2.5.1.a Análise de DAF (DNA Amplification Fingerprinting; Impressão Genômica do DNA
Amplificado)
A metodologia de DAF foi publicada simultaneamente (no mesmo mês e ano) que a
técnica de RAPD, tendo se tornado menos conhecida, por ser mais onerosa devido à
proporção que é estimada para o uso de DNA e iniciadores (BENKO-ISEPPON et al., 2005).
Como estratégia de exploração do genoma se utiliza oligonucleotídeos arbitrários visando
sítios caracteristicamente discretos do DNA para mapeamento e várias aplicações de
impressão genômica (CAETANO-ANOLLÉS & GRESSHOFF, 1996).
O DAF é utilizado com primers curtos com cinco nucleotídeos, porém o tamanho
deste pode apresentar uma grande variação, utilizando-se em geral de oito a 18 nucleotídeos
para produzir perfis de DNA (CAETANO-ANOLLÉS & GRESSHOFF, 1996). Este produz
polimorfismos altamente informativos uma vez que os oligonucleotídeos utilizados nesta
técnica podem variar não só em tamanho como foi mencionado, mas também em tipo,
podendo ser utilizados primers estruturados em forma de grampo (designados como hairpin
primers) principalmente quando desenhados com sequências típicas de microssatélites na
extremidade 3’ (CAETANO-ANOLLÉS et al., 1991; WINTER et al., 2000; BENKOISEPPON et al., 2003).
A execução desta técnica apoiada na utilização de primers estruturados em forma de
grampos proporciona uma extraordinária estabilidade o que assegura a aplicação deste
marcador em várias categorias de DNA-molde, desde DNA plasmidial a genomas de plantas e
de animais (CAETANO-ANOLLÉS & GRESSHOFF, 1996). Estes oligômeros arbitrários
ainda aumentam a detecção do polimorfismo do DNA e dirigem-se à amplificação de
inúmeras moléculas do molde, gerando desse modo "assinaturas de sequências" a partir de
plasmídeos, YACs (Yeast Artificial Chromosomes; Cromossomos Artificiais de Levedura),
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
DNA clonado e PCR (CAETANO-ANOLLÉS & GRESSHOFF, 1996). Devido às
características que são particulares a este marcador, tem-se proposto seu uso associado a géis
de poliacrilamida corados com prata, de modo a facilitar a visualização do grande número de
bandas geradas (BENKO-ISEPPON et al., 2005).
2.5.1.b. Análise de ISSR (Inter-Simple Sequence Repeat; Inter Seqüências Únicas Repetidas)
Microssatélites ou repetições únicas de sequência (SSR) são ubíquos em genomas
eucarióticos. Os marcadores SSR foram desenvolvidos para um bom número de espécies;
contudo, existe um grande gargalo no desenvolvimento desses marcadores devido à
necessidade de conhecimento das sequências flanqueadoras para se desenhar primers
ancorados na região 5’ do DNA molde usado na PCR. Já para o desenvolvimento do
fingerprinting por ISSR não é necessário o conhecimento prévio de sequências de DNA,
sendo os primers baseados em sequências repetitivas como (CA)n ou degenerados na posição
3’ (GODWIN et al., 1997).
Ao contrário do RAPD, os ISSR são detectados se utilizando de primers semiarbitrários relativamente longos para amplificação de sequências de DNA entre dois SSRs
invertidos sob elevadas condições de estringência, assim, sendo considerados como
marcadores reproduzíveis e altamente polimórficos. Desta forma, os amplicons provenientes
da PCR baseada em ISSR são correspondentes a regiões entre SSRs resultando em um
sistema de marcador multilocus útil para fingerprinting de DNA, análise de diversidade e
mapeamento genômico (BORNET & BRANCHARD, 2001).
Bornet & Branchard (2001) reportaram que a técnica de ISSR é estável através de uma
escala larga de parâmetros do PCR, revelando polimorfismos abundantes entre sete espécies
de dicotiledôneas testadas com dois primers tri-nucletídeos e dois tetra-nucleotideos,
concluindo-se que os marcadores do tipo ISSR são uma boa escolha para o fingerprinting de
DNA.
Para examinar a estrutura genética de populações, o ISSR vem sendo amplamente
aplicado principalmente para plantas com reprodução vegetativa (clones) uma vez que os
marcadores tradicionais (ex. variação morfológica) são limitados na distinção de indivíduos
similares; portanto, tais marcadores tem se mostrado eficientes na detecção da distribuição
dos genótipos de populações clonais (KELLER, 2000). Este tipo de aplicação pode ser
exemplificado por Li et al. (2006), os quais se utilizaram de marcadores ISSR e RAPD no
estudo da estrutura genética de seis populações clonais de plantas aquáticas invasivas
(Eichhornia crassipes (Mart.) Solms, Pontederiaceae) estabelecidas no Sudeste da China,
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
observando uma diversidade genética inter e intrapopulacional extremamente baixa para os
dois marcadores, indicando que todas as populações originaram-se de um mesmo genótipo.
Os autores propuseram que a rápida expansão desta espécie na China deve ter ocorrido devido
à sua grande capacidade de adaptação, e não à sua diversidade genética.
De uma maneira geral os marcadores ISSR tem sido muito aplicados para estudos de
diversidade genética, como o realizado por Okun e colaboradores (2008) na avaliação de
bancos de sementes de eucalipto (Eucalyptus grandis Hill.). A partir deste estudo os autores
observaram uma significativa diversidade genética entre os bancos de sementes (Gst = 0,264),
tendo tal variabilidade sido atribuída a associações ecológicas e geográficas, bem como aos
baixos índices de fluxo gênico.
2.6 Análises Genéticas em Populações Vegetais
A fragmentação de habitats causada por ações humanas reduziu o tamanho das
populações de muitas espécies vegetais, aumentando seu isolamento espacial. Pequenos
tamanhos populacionais juntamente com o aumento do isolamento geográfico podem levar à
erosão genética e a um aumento da divergência genética entre as populações através da deriva
genética e nos níveis de cruzamento entre indivíduos aparentados, levando a redução dos
níveis de fluxo gênico, quebra do processo de polinização e elevação da probabilidade de
extinção local de populações dentro de uma metapopulação (KOLB, 2005).
A erosão genética devido aos efeitos da fragmentação ambiental pode ser uma
preocupação imediata se as mudanças genéticas influenciarem diretamente na adaptação dos
indivíduos e na viabilidade em curto prazo das populações remanescentes (FRANKHAM,
2005). Desta forma, genética de populações, filogeografia e metodologias filogenéticas, vêm
progressivamente sendo utilizadas para reconstrução de padrões e processos que levaram à
distribuição da diversidade genética presentemente observada nas espécies e ainda para
geração de informações no campo de fatores que induziram esta distribuição (CATERINO &
CHATZIMANOLIS, 2008).
A estrutura genética de uma espécie vegetal pode ser definida como a distribuição da
variabilidade genética inter e intrapopulacional. Portanto, esta estrutura resulta da combinação
entre mutação, migração, seleção e deriva genética, as quais definem a distribuição da
variabilidade genética nas populações. Em populações naturais, a distribuição da variabilidade
genética é influenciada pelo seu tamanho, distribuição geográfica, polinizações e fluxo gênico,
além de ser estruturada no tempo e no espaço (HAMRICK, 1982).
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
A caracterização de populações de espécies vegetais depende de uma investigação
acurada da diversidade genética. A distribuição dessa variação dentro e entre populações pode
ser estimada pelas estatísticas F de Wright ou Gst de Nei a fim de apontar questões com
respeito às relações genéticas entre indivíduos e níveis de variação da estrutura genética
populacional, contribuindo para o melhor entendimento da dinâmica das populações
(RENAU-MORATA et al., 2005). No entanto, a escala na qual a estrutura genética é
considerada torna-se importante, pois diferentes padrões podem ser obtidos dependendo da
importância relativa dos fatores que afetam a estrutura genética em determinada escala
espacial. Modelos de autocorrelação espacial também podem ser usados para avaliar a
estrutura genética de populações (SLATKIN, 1985; EPPERSON, 1995). Neste contexto, são
utilizados importantes parâmetros para quantificar a variação genética populacional como as
proporções de locos polimórficos dentro de espécies (Pe) e dentro de populações (Pp) e a
diversidade geral de uma dada espécie (He) e das respectivas populações (Hp) (HAMRICK,
1994).
Estudos de diversidade genética nas populações exigem o estabelecimento de limites
geográficos a fim de permitir uma avaliação da qualidade genética das populações no que diz
respeito, principalmente, aos fragmentos de mata. Como referencial teórico para estas
avaliações, geralmente incluem-se a deriva genética e a endogamia – face aos efeitos
genéticos da fragmentação – para a discussão do problema genético de populações pequenas
(KAGEYAMA & GANDARA, 1998).
O fluxo gênico ou a dispersão de pólen e sementes entre populações estabelecidas
reduzem a diversidade genética entre elas, figurando entre os mecanismos responsáveis pela
introdução de novas variações genéticas na população receptora. A taxa de fluxo gênico pode
ser medida em termos de número equivalente de migrantes (Nm) que se movem de uma
população à outra (WADT, 2001).
Vários são os métodos utilizados para detectar a distribuição espacial da variabilidade
e conectividade genética em populações. Marcadores de DNA têm uma ampla aplicação em
análises de variação genética e medição de fluxo gênico em nível específico, particularmente
em investigações de diferenciação e estrutura genética populacional, incluindo estimação de
estatísticas F de Writgh, variação genética em espécies sem nenhum conhecimento genético
prévio através de marcadores do tipo fingerprinting de DNA como o DAF (DNA
Amplification Fingerprinting) - caso da maioria das espécies neotropicais - e também dentro
de populações (NYBOM & BARTISH, 2000).
Através da aplicação do marcador de microssatélite SSR (Simple Sequence Repeat)
Markwith & Scanlon (2007) analisaram em múltipla escala a diversidade e estrutura genética
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
(Gst e Fst) além do fluxo gênico (Nm) entre populações de Hymenocallis coronária (LeConte)
Kunth (Amaryllidaceae), podendo observar que a divergência genética entre as 10 populações
da espécie supracitada era relativamente baixa. O maior valor de Gst entre duas das
populações foi 0,0960, as quais distavam 55,6 km entre si. Adicionalmente, a estimativa de
fluxo gênico (M) apontou para um índice baixo quando comparado com outros dados de
populações de espécies próximas indicando que as populações amostradas de H. coronária
ainda estão em equilíbrio gênico, sugerindo-se que quanto maior a distância entre as
populações estudadas maiores seriam as chances da perda deste equilíbrio.
Marcadores do tipo RAPD foram usados, por exemplo, para detectar as variações
existentes entre indivíduos e populações de duas espécies leguminosas arbóreas nativas da
América Central e do México (Gliricidia sepium (Jacq.) Walp. e G. maculata (Kunth) Kunth
ex Walp.), parcialmente influenciadas pelo homem em vista de seu extrativismo e cultivo para
extração de madeira (WEISING et al., 1995). Os resultados evidenciaram populações
altamente monomórficas para todos os iniciadores (primers) avaliados na região de cultivoextrativismo, enquanto as populações naturais apresentavam altos níveis de polimorfismo,
confirmando avaliações morfológicas e estudos morfométricos previamente realizados.
Aparentemente a área que sofreu influência antrópica foi selecionada unidirecionalmente,
decorrendo em um decréscimo da diversidade.
Agelone e colaboradores (2007) a partir da aplicação de uma combinação de
marcadores ISSR e cpDNA investigaram a dinâmica populacional regional de acordo com a
estrutura da diversidade genética local de Sorbus torminali L. ,concluindo que novas
populações desta espécie seriam fundadas a partir de amostras aleatórias de sementes
originando novas populações em uma ampla área geográfica.
No intuito de testar a resolução de marcadores moleculares para determinação da
diversidade genética de populações clones de Posidonia oceânica L. Arnaud-Haond e
colaboradores (2005) geraram marcadores do tipo SSR (di e trinucleotídeos), obtendo dados
contrastantes com aqueles obtidos anteriormente através de RAPD e isoenzimas. Os autores
observaram que as populações estudadas em sua maioria apresentaram baixos níveis de Gst
como sugerido por estudos através de RAPD e isoenzimas, porém, de acordo com variações
nos marcadores como no caso da aplicação de dinucleotídeos de SSR foi obtido resultados de
maior divergência genética em relação às outras técnicas.
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
2.7 Análise de Diversidade Genética e Parentesco em Plantas
As plantas demonstram uma surpreendente diversidade morfológica, adaptativa e
ecológica, produto de milhões de anos de divergência e diversificação de linhagens
(SCHAAL et al., 1998). Desta forma, um dos maiores desafios para a biologia da conservação
tem sido fornecer planejamento de conservação com prioridades de esforços (MYERS et al.,
2000). Muitas atenções estão sendo focadas em hotspots de biodiversidade. Contudo, a
conservação dos processos evolutivos vem sendo também reconhecida como prioridade em
face das mudanças climáticas globais (MACE et al., 2003).
A diversidade filogenética é o índice da biodiversidade que mensura o tamanho dos
caminhos evolutivos que conectam os táxons (VANE-WRIGHT et al., 1991; FAITH, 1992).
Portanto, a diversidade genética identifica grupos de táxons que maximizam a acumulação de
características de diversidade, concluindo-se que a riqueza de táxons é um bom hospedeiro
para a diversidade filogenética (TORRES & DINIZ, 2004, BROOKS et al., 2006).
Para inferências de diversidade e parentesco em plantas diversos tipos de
marcadores genéticos e citológicos vêm sendo utilizados. Pode-se evidenciar o estudo de
Forest e colaboradores (2007) de construção filogenética realizado com 735 espécies
representantes de angiospermas se utilizando de sequências de DNA plastidial rbcL, no qual
concluíram que a proteção da diversidade filogenética é a melhor estratégia para preservação
da diversidade, principalmente nas floras Sul Americanas
Assim, a aplicação de estudos de diversidade filogenética é de grande utilidade para
a identificação de regiões ambientais chave para futuras opções, tanto para a continuidade da
evolução da vida sobre a Terra como em benefício da sociedade (FOREST et al., 2007).
As florestas tropicais são admiradas, em todo mundo, principalmente por sua
biodiversidade, caracterizando-se por uma grande heterogeneidade no modo de ocorrência de
suas espécies e pela sua diversidade genética. Em decorrência destas características a
diversidade genética existente em populações naturais deve ser quantificada e analisada
quanto à sua localização geográfica inter e intrapopulacional, uma vez que sua distribuição
apresenta grande variação por ser influenciada pelo tamanho efetivo populacional, ocorrência
geográfica das espécies, modo de reprodução e sistema de cruzamento, pelos mecanismos de
dispersão de sementes e até mesmo pelo estágio de sucessão ecológica da espécie em questão
(RIBAS, 2003).
Para o estudo da diversidade e parentesco genético de uma determinada espécie
também são bastante aplicados marcadores moleculares como DAF e AFLP, muito úteis
quando não existe nenhum conhecimento genético prévio da espécie a ser estudada como é o
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
caso da maioria das espécies neotropicais (GUSON, 2003). A redução de vários ecossistemas,
determinada pelos processos degenerativos resultantes da desordenada atividade humana tem
causado perdas inestimáveis de importantes repositórios de diversidade biológica (GUSON,
2003). Desta maneira, os estudos de diversidade e relação entre as diversas espécies são
fundamentais, no intuito de desenhar uma atividade de utilização sustentável dos ambientes
naturais.
A análise de Fingerprinting de DNA pode esclarecer alguns aspectos da diversidade
genética e da origem das plantas ocorrentes em alguns ambientes. Um exemplo clássico
encontra-se na espécie Microseris pygmaea D. Don, a qual ocorreria subspontaneamente no
Chile, havendo a hipótese de que sua introdução tenha se dado a partir de uma única semente
trazida da América do Norte. Enquanto isoenzimas revelaram apenas baixos níveis de
variabilidade, hibridização pós-restrição do DNA com o microssatélite GATA resultou em
Fingerprint altamente polimórfico, contrariando a hipótese anterior (WEISING et al., 1995).
Sawazaki e colaboradores (1998) concentraram estudos mediante polimorfismo
enzimático em gel de poliacrilamida e polimorfismo de DNA com base em marcadores RAPD,
a fim de caracterizar a variabilidade genética em algumas espécies e ecótipos de palmeiras
dos gêneros Euterpe Mart., Bactris Kunth., Elaeis Jacq. e Syagrus Mart.
O estudo de diversidade de vegetais também vem sendo muito destacado em
programas de melhoramento uma vez que há a necessidade de identificação de diversas
variáveis de cultivares depositadas em bancos genéticos. Estes programas se atêm comumente
às características morfológicas, fisiológicas e genéticas, a fim de selecionar exemplares mais
viáveis. Como exemplo deste tipo de estudo pode ser citado o melhoramento do eucalipto. De
acordo com Bernardes (2006) esta cultura apresenta diversas características morfológicas de
interesse, fazendo-se necessária a utilização de marcadores morfológicos (por exemplo,
espessamento do caule) atrelados a genéticos (como genes relacionados à produção da
celulose) para uma caracterização mais adequada da diversidade desta cultura.
Para o nordeste brasileiro ainda há poucas espécies analisadas do ponto de vista de
diversidade genética com metodologias de Fingerprinting de DNA. Destaca-se um estudo
preliminar com a metodologia de DAF (DNA Amplification Fingerprinting, ou Impressão
Genômica da Amplificação do DNA) em cultivares selvagens e domesticados de feijão Vigna,
incluindo o feijão de corda (V. unguiculata (L.) Walp.), supostamente introduzido da África e
domesticado em várias regiões pelo sertanejo nordestino. O estudo em questão revelou uma
variabilidade acima da esperada para o nível intra-específico, provavelmente devido à pressão
de seleção exercida pelo pequeno produtor, associada às condições extremas do ambiente
(SIMON, 2007).
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
2.7.1 Em Cyperaceae
Em Cyperaceae caracteres morfológicos (ex. anatomia foliar, inflorescência), o
comportamento fotossintético e aspectos ultraestruturais não apresentam resolução suficiente
para esclarecimento das relações filogenéticas (SIMPSON et al., 2003), levando à realização
de estudos de caráter genético abrangendo tanto regiões codificantes como não expressas. Por
exemplo, Yano e colaboradores (2004) analisaram a filogenia molecular no gênero Eleocharis
R. Br. Baseando-se em sequências de ITS (Nuclear Ribosomal Internal Transcribed Spacer;
Espaçador Transcrito Interno de Ribossomo Nuclear) e evolução cromossômica.
Considerando que as relações infragenéricas pouco entendidas da tribo Schoenoid,
Verboom (2006) realizou estudo de filogenia molecular através de sequências de DNA
plastidial e comparou os dados obtidos com dados da literatura, observando que existem
evidências de radiação adaptativa no passado, provavelmente em decorrência da separação
dos continentes que compunham Gondwana, suposição apoiada pelo fato de existirem muitas
linhagens dessa tribo com espécies africanas e não africanas. Adicionalmente, o autor destaca
que o gênero Schoenoid é endêmico da África enquanto os gêneros Tetraria e Costularia são
polifiléticos.
Entre os táxons de Cyperaceae com grande complexidade taxonômica o gênero
Cyperus destaca-se, não havendo um consenso geral e abrangente quanto à sua classificação
infragenérica, tratando-se de um dos poucos que apresentam tanto espécies C3 como C4
(SIMPSON et al., 2003). Portanto, existem diversos estudos abrangendo espécies deste
gênero a fim de auxiliar no entendimento da diversidade e principalmente do parentesco entre
as espécies que o compõem. Muasya e colaboradores (2002) analisaram as relações
filogenéticas em Cyperus utilizando sequências de cpDNA, destacando que a classificação de
Cyperus s. str. nos subgêneros Cyperus e Anosporum (baseada na presença da anatomia Kranz;
isto é, Clorociperoide versus Eucyperoide) seria apoiada pelos dados de sequenciamento de
DNA. Contudo, muitos dos gêneros em Cyperaceae, reconhecidos por uma ou poucas
autapomorfias morfológicas são acomodados dentro de Cyperus s.l. e Cyperus s.str.
Outros trabalhos podem ser destacados na família Cyperaceae como os estudos
realizados por Roalson & Friar (2004), que mostraram as relações filogenéticas existentes
entre os gêneros Carex e Acrocystis através das semelhanças entre a família do gene nuclear
da desidrogenase do álcool (Adh), combinando ainda análises de sequências de ITS e EST
(Expressed Sequence Tags; Etiqueta de Sequência Expressa) de ribossomo nuclear.
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
4. Capítulo I
Manuscrito de artigo científico a ser enviado à revista
Genetics and Molecular Research (Ribeirão Preto, SP)
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Diversidade Genética em Populações de Cyperus odoratus L. e C. ligularis L.
(Cyperaceae) ocorrentes em um Fragmento de Floresta Atlântica através de
Fingerprinting de DNA
Cruz, G.A.S.1, Pinangé, D.S.B.1, Oliveira, R.C.G.1; Alves, M.V.2 Torres, R.A.3 & BenkoIseppon, A.M. 1
(1)
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, CCB, Genética, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, CEP
50732-970, Recife – PE.
(2)
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, CCB, Botânica, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, CEP
50732-970, Recife – PE.
(3)
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, CCB, Zoologia, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, CEP
50732-970, Recife- PE.
Autor para Correspondência: Benko-Iseppon, A.M.
E-mail: [email protected]
Resumo
Um importante aspecto contemporâneo é a preocupação com a situação ambiental, aspecto
fundamental para a qualidade de vida das pessoas, onde a presença de coberturas vegetais
urbanas e periurbanas implicam na melhoria de fatores para o bem estar da população. Neste
contexto, a família Cyperaceae apresenta grande valor por incluir espécies pioneiras,
importantes regeneradores destas coberturas florestais. Assim, o objetivo deste estudo foi
analisar a diversidade genética e fluxo gênico entre duas populações de Cyperus ligularis e C.
odoratus coletados em uma Reserva de Floresta Atlântica em Recife (PE), mediante o uso do
DAF. Foram geradas 172 bandas polimórficas a partir das quais foi obtido um fenograma e
calculados valores de Gst e Nm. O fenograma demonstrou separação genética entre as
espécies e adicionalmente, estas apresentaram diversidade genética significativa (Gst=0,3632),
porém baixo fluxo gênico médio (Nm=0,8766). Embora todos os indivíduos de C. odoratus
tenham sido coletados em plots próximos e apenas em área de preservação ambiental
(Reserva de Dois Irmãos, Recife, PE), observou-se maior variabilidade entre estes que entre
os indivíduos de C. ligularis que apresentam maior índice de reprodução vegetativa sendo
encontrados em outras áreas e agruparam-se aleatoriamente sugerindo a formação de uma
metapopulação. Estes resultados sugerem a existência de maior variação intraespecífica e
intrapopulacional para esta espécie. Porém, a menor variabilidade em C. ligularis sugere a
influência de efeito fundador na capacidade de ocupar várias áreas urbanas, limitada a uma
combinação específica de fatores genéticos, a despeito da diversidade de locais e áreas
amostrados. A associação destes dados com observações de campo e de biologia reprodutiva
devem enriquecer o entendimento da dinâmica das populações analisadas e do papel destas
plantas nos processos sucessionais.
Palavras-chave: Bioindicadores, DAF, Estrutura genética, Gst, Nm, Efeito fundador.
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Introdução
As florestas tropicais como a Floresta Atlântica vêm sofrendo paulatinamente uma
redução de suas áreas por meio de desmatamentos, explorações de recursos minerais,
implantação de projetos agropecuários e queimadas criminosas (Silva e Andrade, 2005).
Neste quadro, os fragmentos florestais de diversos tamanhos e formas, assumem fundamental
importância para a perenidade da Floresta Atlântica (Zaú, 1998).
A exploração modifica severamente a estrutura do habitat atuando diretamente no
padrão de distribuição espacial e fenológico das espécies nativas, já que diferentes fatores do
ambiente – como incidência de luz, umidade e disponibilidade de nutrientes – também serão
afetados (Costa, 2003). Portanto, a alteração de ambientes naturais pode permitir a
colonização por novas espécies, principalmente aquelas que possuam resistência a condições
ambientais mais extremas, o que inclui algumas espécies pioneiras, colaborando para
processos de regeneração da cobertura vegetação (Tabarelli e Mantovani, 1999).
A família Cyperaceae é a terceira maior família de monocotiledôneas, constando de
104 gêneros e 5.000 espécies, perdendo apenas para as Orchidaceae e Poaceae (Goetghebeur,
1998). Esta apresenta grande importância na conservação de ambientes por incluir espécies
pioneiras, bem como algumas dominantes em muitos ecossistemas, por conseguinte,
indicadoras de ambientes deteriorados (Simpson et al., 2003).
Adicionalmente, Cyperaceae é uma família diferenciada, uma vez que seus
caracteres morfológicos (ex. anatomia foliar, inflorescência), atrelados a vias fotossintéticas e
aspectos ultraestruturais são frequentemente difíceis de interpretar nos termos da homologia
(Simpson et al., 2003). Por conseguinte, são realizados vários estudos de diversidade genética
em populações abrangendo tanto regiões de DNA expressas como não expressas, sendo para
isto, utilizados marcadores moleculares a fim de auxiliar no entendimento da diversidade e
relações de parentesco entre as espécies que compõe a família supracitada.
Em virtude do crescimento urbano desordenado, a paisagem natural cedeu espaço a
uma paisagem antrópica com áreas degradadas e também remanescentes da vegetação nativa
em perímetro urbano (Saunders et al., 1991). É fundamental a preservação destas coberturas
vegetais urbanas e periurbanas, pois colaboram em vários aspectos para maior qualidade de
vida da população, proporcionando, por exemplo, maior equilíbrio climático além de
benefícios de âmbito social (Benko-Iseppon et al., 2007).
Diante deste panorama, considerando-se a importância apresentada por tais vegetações
e as condições de degradação às quais estas se encontram submetidas, no intuito de minimizar
os efeitos da fragmentação causada pela ação antrópica nos centros urbanos torna-se essencial
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
o entendimento das conseqüências da fragmentação de habitats. Pequenas populações
juntamente com o aumento do isolamento geográfico podem levar à erosão genética e
aumento da divergência genética entre as populações através da deriva genética, aumento nos
níveis de cruzamentos entre indivíduos aparentados, redução dos níveis de fluxo gênico,
quebra do processo de polinização e elevação da probabilidade de extinção local de
populações dentro de uma metapopulação (Kolb, 2005).
Desta forma, a genética de populações, a filogeografia e metodologias filogenéticas
estão progressivamente sendo utilizadas para reconstrução de padrões e processos que
levaram à distribuição da diversidade genética presentemente observada, bem como para
geração de informações no campo de fatores que colaboraram para esta distribuição (Caterino
e Chatzimanolis, 2008).
O presente estudo visou analisar molecularmente a diversidade genética (Gst) e fluxo
gênico (Nm) entre populações das espécies pioneiras e bioindicadoras C. ligulares L. e C.
odoratus L. (Cyperaceae) ocorrentes em um fragmento de Floresta Atlântica e em seus
arredores em Recife (PE, Brasil), no intuito de investigar a estrutura e conectividade genética
destas populações.
Material e Métodos
Coleta de Material Biológico
Foram coletados tecidos (folhas jovens) de 40 indivíduos das espécies C. odoratus (20)
e C. ligularis (20) (Tabela 1) com uma distância mínima de três metros entre estes a partir da
determinação de uma área de estudo (Figura 1) abrangendo diferentes populações (Açude da
Prata, Reserva Ecológica de Dois Irmãos - APR, Distrito de Apipucos – API, Ilha do Bananal
- ILB, Fábrica da Macaxeira - FMX e Estrada dos Passarinhos – EPS) em espaços livres bem
como em um fragmento urbano de Floresta Atlântica no período de setembro de 2007 a julho
de 2008.
As amostras foram mantidas a -80°C no Laboratório de Genética e Biotecnologia
Vegetal (LGBV) da Universidade Federal de Pernambuco, até seu processamento.
Dados Moleculares
Extração de DNA
O isolamento do DNA nuclear usando protocolo CTAB - Maxi-Prep seguiu o descrito
por Weising et al. (2005) com modificações na utilização proporção de tecido foliar que foi
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
reduzido de 5 g para 2 g em relação ao tampão de extração (12 mL), bem como no que diz
respeito ao processo de lavagem do material, onde este foi lavado apenas por uma vez com
álcool isoamílico e clorofórmio ao invés de duas vezes como descrito no referido protocolo.
Para a quantificação do DNA extraído foi utilizado método comparativo em gel de agarose
1,2% usando-se diferentes concentrações de λ-DNA (200, 100, 50 e 20 ng/µL) como
referencial.
A purificação do RNA foi feita a partir de 0,25 µL/mL de RNAse a 10 mM/µL com
incubação overnight, à temperatura ambiente ou ainda a 37 ºC por 2h.
Geração de Dados Moleculares
Para análise de Fingerprinting de DNA genômico foi empregado o marcador DAF
(DNA amplification fingerprinting) utilizando-se de primers de sequências aleatórias
seguindo o descrito por Caetano-Anollés et al. (1991), com modificações introduzidas por
Winter et al. (2000) e Benko-Iseppon et al. (2003). Assim, o emprego da técnica consistiu na
utilização de 0,5 ng/µL de DNA molde, 1,5 µL 10x PCR buffer, 2,5 mM de MgCl2, 10 mM
de dNTP-mix (Fermentas), 20 µM de ‘primer’ decâmeros e 15 meros e 1,0 U de ‘Taq DNA
polimerase’ (Fermentas), com o volume final de 15 µL.
As reações de amplificação ocorreram em termociclador Eppendorf Mastercycler
Gradiente, com 2 min de desnaturação inicial a 95°C, seguidas de 40 ciclos compostos de três
etapas: desnaturação de 15 seg a 95°C; pareamento de 1 min a 35°C e alongamento final de 2
min a 72°C. Ao final dos 40 ciclos a reação foi completada com um alongamento final de 2
min a 72°C. Os produtos amplificados foram separados eletroforeticamente em gel de agarose
(1,8%), corados com brometo de etídio (1,5 µL/100 mL de gel), visualizados sob luz
ultravioleta e fotografados com câmera digital Sony Cybershot W5 (zoom óptico 3.0
Megapixel).
Seleção de primers
A seleção de oligonucleotídeos foi realizada a partir de um conjunto de 50 primers
(Tabela 2), através de um experimento de PCR/DAF se utilizando de um total de quatro
amostras, sendo duas de cada espécie (C. odoratus: amostras 1 e 2, População AP e C.
ligularis: amostra 5, População IB e amostra 27*, População API). A partir dos resultados
obtidos deste experimento foram selecionados os dez primers mais informativos em relação
ao número total de bandas bem com de loci.
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Aplicação dos primers selecionados
A partir da seleção de primers foram escolhidos dez iniciadores informativos para a
aplicação no experimento geral através do marcador DAF. O experimento foi composto de 20
amostras de cada espécie ocorrentes na área delimitada para o estudo seguindo o mesmo
protocolo descrito no item geração de dados moleculares. Todos os dados obtidos através
deste experimento foram compilados na forma de polimorfismo intra e interespecíficos e intra
e interpopulacionais (Tabela 3).
Análise de Polimorfismo
A partir de análises dos loci obtidos os dados foram agrupados para dois tipos de
análises. Na primeira, foi constituída uma matriz binária onde A representa presença e C
ausência de bandas para cada loco analisado. Esta matriz foi submetida ao método de
Neighbor Joining - NJ (Saitou e Nei, 1987) através do programa MEGA 4.0 (Tamura et al.,
2007) (Molecular Evolucionary Genetics Analysis) baseado no método p-distance com
Bootstrap de 1.000 repetições, no qual foi gerado um agrupamento fenético entre os 40
indivíduos das duas espécies estudadas.
Para a segunda análise foi confeccionada outra matriz binária de presença (1) e ausência
(0) no intuito de investigações de diversidade genética (Gst) e fluxo gênico (Nm) entre as
duas populações estudadas, uma de cada espécie. Para isto, a matriz foi analisada através do
software Popgene 3.2 (Yeh et al., 2001) onde os cálculos estatísticos foram realizados com
parâmetro de 1.000 simulações.
Resultados
No experimento inicial (seleção) foram utilizados 50 primers e obtidas 919 bandas,
das quais 500 foram polimórficas (ca. 55%) distribuídas em percentuais distintos de
polimorfimos intra e interespecíficos e intrapopulacionais. A espécie que mais contribuiu com
a geração das bandas polimórficas foi C. ligularis com um total de 574 bandas, em especial a
amostra Cyp 002 IB com 252 ~ 27,5 % (Tabela 2).
Ainda através da seleção, foi observada uma variação de pesos moleculares dos
diferentes loci desde 120 a 1200 pb. No que diz respeito aos fragmentos polimórficos se
observou desde iniciadores que produziram apenas bandas monomórficas (R260-10 e OPI-16)
a um primer (15-mero) com até 15 fragmentos polimórficos (15_1).
A partir da aplicação dos primers mais informativos na amostragem total foi observado
inicialmente reprodutibilidade dos dados quando comparado com o gerado na seleção de
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primers. Este experimento gerou 2.190 bandas onde o primer 15_12 foi o maior contribuinte
para este total com 332 bandas (15,15%), enquanto o primer 15_8 apresentou o menor
número de polimorfismos com 108 bandas (4,93%). Já a média de bandas por primer foi de
219. Este experimento gerou um total de 172 locos, variando em peso molecular de 110 a
1200 pb, sendo o polimorfismo distribuído em 198 bandas em nível intraespecífico, 165
interespecífico, 353 intrapopulacional e 74 interpopulacional. Cyperus odoratus destacou-se
em relação ao polimorfismo intraespecífico, contribuindo com 124 bandas das 198 geradas
além do alto índice de bandas polimórficas em nível intrapopulacional e no âmbito total
(Tabela 3).
De acordo com a análise dos locos foi obtido pelo método NJ um fenograma de
similaridade genética entre os indivíduos e populações de C. odoratus e C. ligularis (Figura 2).
Os genótipos avaliados no fenograma se organizaram em dois grandes grupos (Figura 2,
G1 e G2), enfatizando total separação genética entre C. odoratus e C. ligularis, sendo
sustentada por 165 marcas polimórficas interespecíficas. Adicionalmente, este agrupamento é
destacado pela formação de cinco ramos (Figura 2, C-I, CII, CIII, CIV e CV) com diferentes
níveis de similaridade genética variando de 100 a 83% e também cinco subclados (Figura 2,
SC-A, SC-B, SC-C, SC-D e SC-E). Embora as espécies desta análise apresentem reprodução
vegetativa intensa e a coleta das amostras de C. odoratus tenha sido realizada apenas nos
arredores de dois açudes próximos a Reserva de Dois Irmãos, observou-se no fenograma
maior variabilidade de ramos entre os indivíduos desta espécie do que entre aqueles de C.
ligularis. Esta última é mais abundante em áreas fortemente degradadas e com até 3 km de
distancia entre as populações amostradas.
Adicionalmente às observações de similaridade genética, análises de diversidade
genética (Gst) e fluxo gênico (Nm) foram realizadas entre as duas populações (C. odoratus e
C. ligularis), onde estes dados (Gst=0,3632; Nm=0,8766) separando as duas espécies
totalmente, tal como observado no agrupamento de similaridade genética.
Discussão
Para inferências de diversidade genética e parentesco em vegetais, diversos tipos de
marcadores genéticos e citológicos vêm sendo utilizados. Os marcadores constituídos por
primers de sequências arbitrárias como DAF (DNA Amplification Fingerprinting; Impressão
genômica do DNA amplificado) e RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA;
Polimorfismo de DNA Amplificado Aleatoriamente), são importantes, pois fornecem dados
informativos quando não existe nenhum conhecimento genético prévio da espécie a ser
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estudada. Este é o caso das espécies aqui analisadas, onde as sequências de DNA são
desconhecidas. Adicionalmente, a determinação da utilização do marcador DAF no presente
estudo foi baseada na sua reprodutibilidade, geração de um grande número de polimorfismos
e ser de fácil aplicação. Esta afirmação foi corroborada por Winter et al. (2000) e BenkoIseppon et al. (2001) em acessos de grão-de-bico (Cicer arietinum L.), uma cultura com
estreita base genética. Nos estudos de mapeamento genético desta cultura, os autores
observaram distorções nos padrões de segregação usando marcadores RAPD, o que não
aconteceu com os polimorfismos gerados por DAF ou com outros tipos de marcadores usados.
Além deste estudo, foi atestado um alto grau de reprodutibilidade para o DAF através da
comparação entre os experimentos de seleção e aplicação de primers do presente estudo além
de análises de caracterização molecular de espécies pertencentes à família Araceae, onde as
amplificações foram testadas pelo menos duas vezes e comparadas com um DNA padrão
(Correia-da-Silva, dados não publicados do nosso grupo), sendo assim contribuindo na
justificativa do uso deste marcador.
Um aspecto relevante é a consistência da estimativa da diversidade genética de um
organismo, onde o número de primers a ser utilizado na análise é um fator que deve ser
considerado. Porém, o número de locos obtido parece se constituir em um critério mais
importante do que propriamente o número de primers utilizado (Telles, 2001; Hollingsworth e
Ennos, 2004). De acordo com Telles (2001), são necessários no mínimo 60 loci para uma
estimativa consistente da variação genética, uma vez que a partir desta quantidade são
observadas reduções significativas nos desvios-padrão e, conseqüentemente, nos coeficientes
de variação. Este estudo foi realizado com um total de seis primers. Segundo Hollingsworth e
Ennos (2004), o uso de no mínimo 50 loci para marcadores RAPD revela alta consistência no
que se refere à recuperação de topologias não resolvidas, apresentando altos índices de
diferenciação populacional (ex. FST _ 0,15). Assim, pode se observar através dos parâmetros
supracitados, que a consistência das análises de diversidade genética aumenta juntamente com
um maior número de loci e bandas no geral obtidos. Em relação aos parâmetros de
consistência de diversidade genética mencionados nos estudos acima o presente trabalho
encontra-se de acordo uma vez que, foi observada 172 loci (marcadores) a partir da aplicação
de 10 primers (Tabela 3, Anexo I).
Considerando a análise dos 172 loci, foi constituído um fenograma de similaridade
genética entre os 40 indivíduos de C. odoratus e C. ligularis. Através da análise deste
fenograma foi observada total distinção entre estas espécies (G1 e G2; Fig. 2), sustentada por
165 marcas polimórficas interespecíficas (Tabela 3). Estes resultados contrastam com os
dados de Luceño et al. (1997) uma vez que, estes autores sugerem a ocorrência de
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
hibridização entre táxons simpátricos da família Cyperaceae incluindo os aqui analisados que
apresentaram espículas articuladas e de alta variabilidade populacional. Adicionalmente, os
dados aqui observados também diferem de resultados prévios ainda não publicados por o
nosso grupo em estudo sobre diversidade genética das espécies C. odoratus e C. ligularis
através do marcador DAF em um total de 26 indivíduos (4 C. odoratus e 22 C. ligularis),
onde nesta análise foi observada a possibilidade de hibridização entre estas espécies, pois um
dos quatro indivíduos de C. odoratus foi agrupado juntamente com indivíduos de C. ligularis.
Porém, análises de anatomia foliar interna entre populações de C. odoratus e C. ligularis
realizados por Martins e Alves (2009), apontam para total separação destas espécies, assim
como foi observado no fenograma de similaridade genética gerado neste trabalho.
Os indivíduos da espécie C. odoratus mesmo ocorrendo apenas restritamente nos
arredores do Açude do Prata, apresentaram maior variabilidade de ramos observada no
fenograma (CII, CIII e CIV, Figura 2) em relação aos de C. ligularis que são de ocorrência
ampla (CV, Figura 4), bem como em relação aos polimorfismos intraespecíficos (124 e 74
bandas respectivamente, Tabela 3). Um importante aspecto é que geralmente em estudos
demográficos sobre populações de plantas clonais, (como no caso das espécies C. odoratus e
C. ligularis), a despeito do fato destas apresentarem regulação no processo de florescimento e
na produção de sementes, é possível a ocorrência de diminuição da variabilidade genética ao
longo do tempo nestas populações (Ericksson, 1989) assim, de acordo com os índices de
polimorfimos intraespecíficos supracitados pode-se sugerir que esta tendência seja maior em
relação a C. ligularis que C. odoratus.
Seabloom et al. (1998) realizaram um estudo sobre a influência da quantidade da água
e temperatura do solo na composição inicial de plântulas de cerrado e ambientes alagados a
partir da germinação dos bancos de sementes, incluindo espécies como C. odoratus e C.
ligularis. Os autores sugerem que estes fatores ambientais afetam a distribuição inicial das
espécies emergentes dos bancos de sementes do solo, onde a quantidade de água é melhor
correlacionada a plantas perenes/anuais e à resistência de seus indivíduos adultos, enquanto a
temperatura seria o fator determinante da proporção da comunidade de plântulas de espécies
anuais. De acordo com as observações supracitadas e com as realizadas durante as incursões
de coleta no campo sugere-se que C. odoratus se apresenta melhor estabelecida em ambientes
encharcados em relação a C. ligularis, tornando-a por um lado mais restrita quanto à sua
distribuição e por outro, melhor adaptada neste ambiente, fato que pode contribuir para uma
maior variabilidade genética em relação a C. ligularis. Adicionalmente, esta última apresenta
maior índice de reprodução vegetativa em relação a C. odoratus contribuindo para uma maior
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
proporção de indivíduos clonais e consequentemente menor variabilidade genética (Alves,
2009 com. pess.).
Por outro lado, a menor variabilidade de ramos observada no fenograma e de locos
polimórficos intraespecíficos para C. ligularis quando comparado com C. odoratus, pode
estar aliada à maior capacidade de estabelecimento de C. ligularis em distintos ambientes em
relação a C. odoratus. Tal constatação pode sugerir um possível efeito fundador associado à
capacidade de C. ligularis de ocupar áreas fortemente degradadas, secas ou úmidas,
capacidade esta limitada a uma combinação específica de fatores genéticos, a despeito da
diversidade de locais e áreas amostrados. Austerlitz et al. (2000) demonstraram através de
marcadores de DNA nuclear e cpDNA que para espécies anuais a exemplo de C. ligularis há
um grande impacto do efeito fundador onde a diversidade genética de cada população cai
substancialmente nas primeiras gerações depois de cada evento de colonização. Porém, caso
haja alta taxa de fluxo de pólens a diversidade pode ser rapidamente recuperada.
O processo de colonização é fundamental para todos os organismos na ocupação
principalmente de áreas fragmentadas. Isto se aplica tanto na ocupação não equilibrada por
uma espécie em um novo habitat, durante sua expansão em uma nova região, assim como pela
sua persistência em uma metapopulação, em que extinções da população local são
balanceadas pela colonização de outro habitat disponível (Wakeley, 2004). Para C. ligularis, o
ramo C-V no fenograma (Figura 2) sugere, devido aos agrupamentos não definidos entre os
indivíduos pertencentes a diferentes populações, que estes provavelmente formam uma
metapopulação. Isto corrobora dados prévios não publicados estabelecidos por nosso grupo
através do DAF em uma amostragem de 22 indivíduos de C. ligularis coletados nas mesmas
populações do presente estudo. As sementes de Cyperus ligularis apresentam dispersão
ornitocórica, mirmecórica, hidrocórica e anemocórica (Linder e Rudall, 2005) fatores que,
quando associados à sua facilidade de estabelecimento em diversas condições ambientais,
favorecem a formação de pequenas populações, além de manter o fluxo gênico entre estas.
Cyperus apresenta grande complexidade taxonômica e a sua sustentação filogenética é
dificultada pelo baixo índice de coletas e estudos nas regiões tropicais, onde as espécies deste
grupo ocorrem em sua maioria (Simpson et al., 2003). Portanto, além dos estudos já
apresentados foram realizadas análises de diversidade genética (Gst e Nm) entre as
populações de C. odoratus e C. ligularis. Os dados populacionais (Gst=0,3632; Nm=0,8766)
corroboraram com os resultados de similaridade genética previamente descritos, indicando
alta diversidade genética, evidente pelos valores de Gst acima de 0,25 (Wright, 1978),
enquanto valores de Nm<1 apontam para cenários favoráveis à diferenciação genética
(Almeida et al., 2003). Desta forma, estes dados sustentam a não ocorrência de cruzamentos
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
entre indivíduos das duas espécies, mesmo estas sendo simpátricas, como observado na
população APR.
A diversidade genética é o resultado de um longo período de evolução, representando
o potencial evolutivo de uma dada espécie (Sheng, et al., 2006). Portanto, análises como as
realizadas neste trabalho são fundamentais e informativas, principalmente quando se tratam
de espécies como as deste estudo que sobrevivem em ambientes degradados. Geralmente
espécies de ambientes impactados sofrem alterações em alguns aspectos, acumulando uma
maior variação genética a fim de adaptar-se às várias pressões antrópicas e ambientais (Li et
al. 1999).
Além das informações de âmbito de diversidade genética, os resultados obtidos podem
ser associados com observações de campo e de biologia reprodutiva no intuito de enriquecer
ainda mais o conhecimento sobre a dinâmica das populações analisadas e do papel destas
plantas nos processos sucessionais e de restauração ambiental.
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
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65
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 1: Características e populações (Açude do Prata – AP, Estrada dos Passarinhos – EP. Ilha do Bananal –
IB, Distrito de Apipucos – API e Fábrica da Macaxeira – FM) dos indivíduos coletados das espécies de Cyperus
ligularis e C. odoratus e suas localizações georeferenciadas.
Espécie
Nº de indivíduos
Populações
Característica do Ambiente
Georeferenciamento
Cyperus odoratus
(Cyp 001)
20
Açude do Prata
(AP)
Ambiente conservado,
bastante úmido exposto a
alagamentos em épocas
chuvosas
8º00’24.15”S – 34º56’57.23”O
Cyperus ligularis
(Cyp 002)
6
Açude do Prata
(AP)
3
Estrada dos
Passarinhos (EP)
Zona no entorno do
fragmento de mata
degradado por ocupações
8º00’50.18”S – 34º56’29.07”O
2
Ilha do Bananal (IB)
Ilha circundada pelo o rio
Capibaribe caracterizada
pela agricultura familiar
8º01’30.76”S – 34º56’08.61”O
7
Distrito de
Apipucos (API)
Região degradada pela
ocupação em massa não
planejada
8º01’05.84”S – 34º55’50.88”O
2
Fábrica da
Macaxeira (FM)
Local degradado
caracterizado por atividades
pastoris
8º00’51.12”S – 34º55’53.74”O
66
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 2: Lista de Primers DAF utilizados para seleção dos mais informativos
além de números e porcentagens de bandas geradas.
Primers
460_02
OPK-8
OPL-14
OPE-12
R260-10
R160-05
OPE-6
G10
OPG-5
OPI-1
A-IV
OPN-11
G12
OPJ-13
S06
OP4-5
U03-1
OPI-16
OPK-14
OPJ-16
K06
OPL-5
OPN-06
OPI-5
OPN-05
R370_9
G05
OPH-1
15_1
15_2
15_3
15_4
15_5
15_6
15_7a
15_7b
15_8
15_9
15_10
15_11
15_12
15_13
15_14
15_15
15_16e
15_16g
15_17
15_18
15_19
15_20
TOTAL
Cyp 001: 1
AP
7
0
12
0
1
7
7
6
8
5
10
0
3
3
2
3
0
0
7
5
2
8
9
3
0
3
2
0
3
4
4
4
5
5
0
4
3
5
4
4
6
4
5
6
3
6
4
4
1
1
199
Cyp 001: 2 Cyp 002: 5 Cyp 002: 27*
Total
AP
IB
API
5
8
9
29
11
13
4
28
4
5
3
24
0
5
2
7
1
1
1
4
7
4
10
28
8
8
0
23
0
0
9
15
6
7
8
29
5
5
8
23
5
6
0
21
0
1
6
7
3
0
4
10
4
6
8
21
3
3
3
11
7
7
6
23
1
1
1
3
2
2
2
6
10
9
9
35
8
8
8
29
4
2
5
13
13
13
13
47
5
5
4
23
2
2
2
9
7
7
6
20
1
6
0
10
1
7
11
21
0
4
8
12
16
16
16
51
4
4
4
16
5
6
6
21
5
6
6
21
6
5
4
20
6
5
5
21
0
4
0
4
4
3
0
11
6
2
0
11
6
6
2
19
5
4
2
15
3
3
3
13
10
10
9
35
0
4
4
12
5
8
6
24
6
5
4
21
3
2
2
10
8
8
7
29
4
3
3
14
5
2
2
13
1
0
0
2
1
2
1
5
232
252
236
919
%
3,18
3,15
2,61
0,76
0,43
3,15
2,5
1,65
3,18
2,5
2,28
0,76
1
2,28
1,2
2,5
0,32
0,65
3,8
3,18
1,42
5,11
2,5
0,97
2,17
1
2,28
1,3
5,54
1,74
2,28
2,28
2,17
2,28
0,43
1,19
1,19
2
1,63
1,41
3,8
1,3
2,61
2,28
1
3,18
1,52
1,41
0,21
0,54
100
67
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 3: Loci polimórficos dos tipos intra e interespecíficos e intra e interpopulacionais gerados a partir da aplicação de dez
primers através do marcador DAF em Cyperus odoratus e C. ligularis.
Nº Nome
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
15_1
15_4
15_9
15_10
15_14
15_12
15_5
15_6
15_8
OPJ16
Primer
Polimorfismos
Seqüência
Intraespecífico Interespecífico
Intrapopulacional
Interpopulacional Total
Cyp001 Cyp002
AP/001 API/002 AP/002 IB/002 FM/002 EP/002
5’→ 3’
TGCGTGCTTGTATAA
17
7
11
17
4
4
2
0
3
7
18
TGCGTGCTTGATATA
13
8
16
13
7
1
3
0
3
8
16
TGCGTGCTTGTTCAT
10
3
14
10
4
0
0
0
0
3
14
AGGTCTTGGGTATAA
12
6
14
12
2
5
0
4
5
6
14
GTGGGCTGACGTGGG
16
6
18
16
5
1
0
0
5
6
18
AGGTCTTGGGTAGGC
14
21
28
14
19
13
10
1
4
21
28
TGCGTGCTTGAGAGA
10
3
17
10
3
0
0
0
0
3
17
TGCGTGCTTGAAGAA
12
7
14
12
4
1
4
0
3
7
14
TGCGTGCTTGTTAAT
15
1
16
15
1
1
0
0
1
1
16
TCTCCGCCCT
5
12
17
5
12
8
2
4
5
12
17
TOTAL
198
165
353
74
172
68
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Figura 1: Plots de coleta das espécies C. odoratus (triângulos laranjas) e C. ligularis (triângulos
vermelhos) localizados no interior e entorno da Reserva de Dois Irmãos. Pontos de coleta indicados
por siglas (Açude do Prata - AP, Estrada dos Passarinhos - EP, Fábrica da Macaxeira - FM, Distrito
de Apipucos - API e Ilha do Bananal - IB) e suas respectivas áreas de ocorrência. Fonte: Google
earth, com modificações.
69
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
C odoratus-17-APR
73
79
C odoratus-25-APR
59
C odoratus-14-APR
C odoratus-34-APR
C odoratus-30-APR
SC-E
C odoratus-15-APR
C odoratus-28-APR
C odoratus-37-APR
C odoratus-11-APR
SC-C 87
C odoratus-13-APR
C odoratus-33-APR
C-IV 86
G1
C odoratus-9-APR
C odoratus-32-APR
C-II 83
82
C odoratus-24-APR
C odoratus-31-APR
C-I
C odoratus-40-APR
C odoratus-35-APR
C-III
100
C odoratus-36-APR
SC-B
C odoratus-38-APR
94
C odoratus-23-APR
C ligularis-27-API
C ligularis-26-API
65
C ligularis-16-APR
C-V
100
60
84
C ligularis-21-API
C ligularis-5-API
C ligularis-28-API
SC-A 67
55
C ligularis-7-ILB
C ligularis-1-APR
C ligularis-4-EPS
SC-D
C ligularis-3-EPS
C ligularis-20-API
G2
C ligularis-23-APR
C ligularis-4-API
C ligularis-13-APR
C ligularis-4-ILB
C ligularis-8-FMX
C ligularis-15-APR
C ligularis-4-APR
C ligularis-4-FMX
C ligularis-14-EPS
0.05
Figura 2. Fenograma gerado a partir de marcadores DAF usando o método Neighbor joining entre 40
amostras de C. odoratus
e C. ligularis
Populações: APR=Açude do Prata; API= Distrito de Apipucos;
EPS= Estrada dos Passarinhos; FMX=Fábrica da Macaxeira; ILB=Ilha do Bananal. G1 e G2: Grupo 1 e 2.
Barra: Escala de estimativa da diversidade genética.
70
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Capítulo II
Manuscrito de artigo científico a ser enviado à revista
Genetics and Molecular Research (Ribeirão Preto, SP)
71
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Diferenciação Genética entre Quatro Populações de Miconia prasina (Sw.) DC.
(Melastomataceae) ocorrentes em Fragmentos de Floresta Atlântica de Terras Baixas
em Pernambuco, através de Fingerprinting de DNA
Cruz, G.A.S.1, Pinangé, D.S.B.1, Alves, M.V.2 Torres, R.A.3 & Benko-Iseppon, A.M. 1
(1)
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, CCB, Genética, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, CEP
50732-970, Recife – PE.
(2)
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, CCB, Botânica, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, CEP
50732-970, Recife – PE.
(3)
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, CCB, Zoologia, Av. Prof. Moraes Rego, s/n, CEP
50732-970, Recife- PE.
Autor para Correspondência: Benko-Iseppon, A. M.
E-mail: [email protected]
Resumo
A floresta Atlântica vem sendo reduzida paulatinamente, tornando-se essencial o
entendimento das conseqüências da fragmentação de habitats para a sua preservação e
regeneração, processo no qual a espécie Miconia prasina representa papel fundamental. O
objetivo do presente estudo foi analisar a diversidade genética (Gst) e o fluxo gênico (Nm)
entre quatro populações de M. prasina de remanescentes de Floresta Atlântica de Terras
Baixas, em Recife e Igarassu, PE (Brasil) usando-se marcadores DAF e ISSR. Foram gerados
255 loci polimórficos onde a estimativa global de diversidade genética (Dg%) foi de 91 e
85,5% para DAF e ISSR, respectivamente, tendo o fragmento Macacos como a maior
contribuinte e Açude do Prata e Pezinho como as menores, sugerindo que Macacos se
apresenta com maior potencial de adaptabilidade. Os dados de Dg% intrapopulacional
apontam Macacos com o maior índice, provavelmente devido à polinização e dispersão neste,
e Açude do Prata e Pezinho, com os menores sugerindo maior atenção no sentido de
conservação destes. A partir dos agrupamentos foram observados indícios de estruturação
genética da população Açude do Prata em relação às demais, fato também indicado por as
análises populacionais (Gst e Nm). A partir dos Gst e Nm globais por DAF e DAF/ISSR foi
observada uma divergência genética entre os fragmentos florestais analisados, sugerindo-se
que tal fenômeno seria conseqüência da pressão antrópica, bem como das expansões e
retrações ocorridas durante o Quaternário. Em adição às informações obtidas sugere-se que
observações de campo e de biologia reprodutiva devam colaborar de forma relevante na
tentativa de enriquecer ainda mais o conhecimento sobre a dinâmica das populações
analisadas, tendo em vista o papel fundamental destas plantas nos processos sucessionais.
Palavras-chave: DAF, ISSR, Estrutura genética, Gst, Nm, Fragmentação, Espécies Pioneiras.
72
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Introdução
A Floresta Atlântica é um dos 25 hotspots mundiais de biodiversidade, tratando-se de
um ecossistema que originalmente estendia- se de forma contínua ao longo da costa brasileira,
penetrando até o leste do Paraguai e o nordeste da Argentina em sua porção sul, época em que
cobria mais de 1,5 milhões de km2, com 92% desta área no Brasil (Fundação SOS Mata
Atlântica e INPE, 2001; Galindo-Leal e Câmara, 2003). Embora grande parte desta floresta
tenha sido destruída, tornando-se constituída por fragmentos, considera-se que a mesma ainda
abrigue mais de 8.000 espécies endêmicas de plantas vasculares, anfíbios, répteis, aves e
mamíferos (Myers et al., 2000). Neste quadro, os fragmentos florestais de diversos tamanhos
e formas, assumem fundamental importância para a perenidade da Floresta Atlântica (Zaú,
1998).
A exploração humana modifica severamente a estrutura do habitat atuando
diretamente no padrão de distribuição espacial e fenológico das espécies nativas, já que
diferentes fatores do ambiente, como luz incidente, umidade e disponibilidade de nutrientes
também serão afetados (Costa, 2004). Portanto, alterações em ambientes naturais permitem a
colonização por novas espécies, principalmente aquelas que possuam grande resistência às
condições ambientais mais extremas e que sejam consideradas pioneiras, colaborando para
processos de regeneração da vegetação (Tabarelli e Mantovani, 1999).
Estima-se que Melastomataceae apresente 4.570 espécies distribuídas pelas regiões
tropicais e subtropicais de todo o globo (Clausing e Renner, 2001). Cerca de um quarto destas
espécies (1.056, segundo Goldenberg e Almeida, in prep.) pertencem ao gênero Miconia,
caracterizando este como o maior da família, onde suas espécies podem apresentar-se como
componentes do sub-bosque de florestas primárias, ocorrendo principalmente em áreas
secundárias, bordas de floresta e clareiras naturais no interior de florestas. Por esta razão,
estas espécies são consideradas pioneiras representando importante papel ecológico em
processos sucessionais, principalmente em fragmentos florestais que se encontram em estágio
secundário de regeneração. Assim, são freqüentemente utilizadas em estudos ecológicos de
populações, a fim de propiciar um maior entendimento da dinâmica populacional de espécies
nativas, colaborando diretamente para fins de conservação e manejo (Gaston, 1994).
Considerando o exposto, é essencial o entendimento das conseqüências da
fragmentação de habitats causada por ações humanas que reduziram o tamanho das
populações de muitas espécies vegetais aumentando seu isolamento espacial. Pequenas
populações juntamente com o isolamento geográfico podem resultar em erosão genética e
aumento da divergência genética entre as populações através da deriva genética, aumento nos
73
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
níveis de endocruzamento, redução dos níveis de fluxo gênico, quebra do processo de
polinização e elevação da probabilidade de extinção local de populações dentro de uma
metapopulação (Kolb, 2005).
Portanto, genética de populações, filogeografia e metodologias filogenéticas, estão
progressivamente sendo aplicadas para reconstrução de padrões e processos que levaram à
distribuição da diversidade genética presentemente observada nas espécies, e ainda para
geração de informações no campo de fatores que induziram esta distribuição (Caterino e
Chatzimanolis, 2008).
O presente estudo teve como objetivo analisar a diversidade genética (Gst) e fluxo
gênico (Nm) entre quatro populações da espécie pioneira Miconia prasina (Sw.) DC.
(Melastomataceae) ocorrentes em fragmentos de Floresta Atlântica de Terras Baixas em
Pernambuco no intuito de auxiliar no entendimento das consequências da fragmentação na
diversidade genética e estrutura populacional.
Material e Métodos
Coleta de Material Biológico
Foram estudadas 24 amostras de indivíduos (folhas jovens) de M. prasina (Tabela 1)
ocorrentes em remanescentes de Floresta Atlântica de Terras Baixas de formas e tamanhos
variados nas Reservas Ecológicas de Dois Irmãos (DI; Fragmento Apr, seis indivíduos,
388,67 ha), Recife – PE; Usina São José (USJ; Fragmentos Pezinho, Pez, 22 ha; Macacos,
Mac, 310 ha; Zambana, Zbn, 380 ha – seis indivíduos em cada fragmento), Igarassu – PE.
As coletas ocorreram no período de setembro de 2007 a julho de 2008.
Os materiais biológicos foram mantidos a -80°C no Laboratório de Genética e
Biotecnologia Vegetal (LGBV) da Universidade Federal de Pernambuco. Material
testemunho (exsicatas) das populações estudadas está depositado no Herbário Geraldo Mariz
(UFP).
Extração de DNA
O isolamento do DNA nuclear foi realizado a partir do protocolo de extração descrito
por Weising et al. (2005) com modificações na proporção de tecido foliar que foi reduzido de
5 g para 2 g em relação ao tampão de extração (12 mL), bem como no que diz respeito ao
processo de lavagem do material, onde este foi lavado apenas por uma vez com álcool
74
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
isoamílico e clorofórmio ao invés de duas vezes como descrito no referido protocolo. Para a
quantificação do DNA extraído foi utilizado método comparativo em gel de agarose 1,2%
usando-se diferentes concentrações de λ-DNA (200, 100, 50 e 20 ng/µL) como referencial.
A limpeza do RNA foi feita a partir de 0,25 µL/mL de RNAse a 10 mM/µL onde as
amostras ficaram em repouso overnight a temperatura ambiente ou foram expostas a 37 ºC
por 2 h.
Geração de Marcadores Moleculares
Para análise de Fingerprinting de DNA genômico foram empregados os marcadores
DAF (DNA amplification fingerprinting) e ISSR (inter-simple sequence repeat).
O DAF foi aplicado a partir de primers de sequências aleatórias seguindo o descrito por
Caetano-Anollés et al. (1991), com modificações introduzidas por Winter et al. (2000) e
Benko-Iseppon et al. (2003). O emprego da técnica consistiu na utilização de 1,0 µL de DNA
genômico (0,5 ηg), 1,5 µL de PCR buffer (10x), 1,5 µL de MgCl2 (2,5 mM), 1,5 µL de dNTPmix (10mM), 1,0 µL de primer (20 µM - 15meros) e 0,2 µL de Taq DNA polimerase (1 U),
com o volume final de 15 µL por amostra.
As reações de amplificação ocorreram em termociclador Eppendorf Mastercycler
Gradiente, com 2 min de desnaturação inicial a 95°C, seguidos de 40 ciclos compostos de três
etapas: desnaturação de 15 seg a 95°C; pareamento dos primers de 1 min a 35°C e extensão
de 2 min a 72°C. Ao final dos 40 ciclos a reação foi completada com uma extensão final de 2
min a 72°C. Por fim, os produtos amplificados foram separados eletroforeticamente em gel de
agarose (1,8%), sendo corados com brometo de etídio (0,5 µg/mL) e visualizados sob luz
ultravioleta e fotografados com câmera digital Sony Cybershot W5 (zoom óptico 3.0
Megapixel).
Para o ISSR foram empregados primers de sequências previamente conhecidas seguindo
o descrito por Bornet e Branchard (2001). Desta forma, foram utilizados 4 µL de DNA
genômico (5 ηg), 2 µL de PCR buffer (10x), 2 µL de MgCl2 (25 mM), 1,5 µL de dNTP-mix
(10 mM), 1 µL de primer (50 pmol) e por fim 0,15 µL de Taq DNA polimerase (5 U),
totalizando uma reação final de 20 µL por amostra.
As reações tipo PCR para este marcador procederam em termociclador Eppendorf
Mastercycler Gradiente, com 4 min de desnaturação inicial a 94ºC, seguida de 35 ciclos
constituídos das etapas: desnaturação a 94ºC por 30 seg, pareamento dos primers a 52ºC por
45 seg e extensão a 72ºC por 2 min. Após o término dos 35 ciclos o programa aplicado
procedeu com uma extensão final a 72ºC por 7 min. Posteriormente às amplificações os
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
produtos gerados foram separados eletroforeticamente em gel de agarose (1,8%), corados com
brometo de etídio (0,5 µg/mL), visualizados sob luz ultravioleta e fotografados com câmera
digital Sony Cybershot W5 (zoom óptico 3.0 Megapixel).
Seleção de primers
A seleção de oligonucleotídeos para os marcadores DAF e ISSR foi realizada a partir
de um conjunto de 20 e 10 primers respectivamente (Tabela 2), através de experimentos de
PCR/DAF e PCR/ISSR, de acordo com o descrito no item geração de dados moleculares. Foi
utilizado de um total de quatro amostras, sendo cada uma pertencente a uma população
(Serrambi = Serr, Macacos = Mac, Pezinho = Pez e Zambana = Zbn). A partir dos resultados
obtidos deste experimento foram selecionados os dez primers mais informativos para o DAF
e cinco para ISSR em relação ao número total de bandas bem como de loci.
Aplicação dos primers selecionados
Primers mais informativos foram selecionados para ambos os tipos de marcadores (DAF
e ISSR) em uma amostragem de 27 indivíduos, sendo 24 provenientes das populações: Pez –
6, Zbn - 6, Mac – 6 e Apr – 6. Devido às diferenças no tamanho dos fragmentos estudados
realizou-se uma adequação amostral, visto que seis foi o número máximo de indivíduos
encontrados no menor fragmento (Pez). A aplicação dos marcadores seguiu o mesmo
protocolo descrito no item geração de marcadores moleculares. Todos os dados obtidos
através deste experimento foram compilados na forma de polimorfismos intraespecíficos e
intra e interpopulacionais (Tabelas 3 e 4).
Análise de Polimorfismos
A partir de análises dos loci obtidos os dados foram agrupados para dois tipos de
análises. Na primeira, foi analisada a diversidade genética das amostras através da
constituição de três matrizes binárias onde A representa presença e C ausência de bandas para
cada loco analisado dos marcadores DAF, ISSR e DAF/ISSR. Estas matrizes foram
submetidas ao método de Neighbor Joining - NJ (Saitou e Nei, 1987) através do programa
MEGA 4.0 (Tamura et al., 2007) (Molecular Evolucionary Genetics Analysis) baseado no
modelo p-distance com Bootstrap de 1000 repetições, onde foram gerados três agrupamentos
fenéticos entre 20 indivíduos das populações estudadas uma vez que, os indivíduos mic-prid22-Zbn, mic-pr-id6-Mac, mic-pr-id4-Mac, mic-pr-id5-Apr e mic-pr-id2-Serg foram
excluídos destas análises devido a dificuldades de cálculo de similaridade.
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Para a segunda análise foi calculada a estimativa global de diversidade genética (Dg%)
através da divisão entre o número de locos variantes pelo total (Nlv/Ntl) obtendo-se a
representatividade da Dg% de cada população em relação ao todo amostrado (Nei, 1972,
1973). Já o nível de Dg% próprio de cada população consistiu da sobreposição entre Nlv/Ntl,
considerando-se isoladamente os locos pertencentes a cada população. Adicionalmente, foram
confeccionadas mais três matrizes binárias de presença (1) e ausência (0) de acordo com os
dados de DAF, ISSR e DAF/ISSR no intuito de realizar investigações de diversidade genética
(Gst) e fluxo gênico (Nm) entre as quatro populações estudadas (Zbn, Pez, Mac, Apr)
compostas por 24 indivíduos, além de análises par a par (dicotômicas) entre as populações
estudadas. Para isto, as matrizes foram analisadas através do software Popgene 3.2 (Yeh et al.,
2001), onde os cálculos estatísticos foram realizados usando-se o parâmetro de 1.000
simulações.
Resultados
A partir do experimento geral do DAF foram obtidas 1607 bandas variando em peso
molecular de 150 a 3.000 pb. As bandas polimórficas foram distribuídas em nível intra e
interpopulacional conforme a Tabela 3. No que se refere aos marcadores ISSR, o número total
de bandas foi de 1127, com o peso molecular variando de 250 a 1800 pb. Assim como para o
marcador DAF,
as
bandas
polimórficas
foram
distribuídas
nos
níveis
intra e
interpopulacionais de acordo com a Tabela 4.
Os dez primers utilizados para o DAF amplificaram um total de 166 loci onde destes
15 foram monomórficos e 151 polimórficos, propiciando uma estimativa global de
diversidade genética (Dg%) da ordem de 91% para M. prasina na área de estudo do presente
trabalho. A representatividade da Dg% de cada população em relação ao todo amostrado foi
de: Zbn – 42,7%, Pez – 50%, Mac – 61,4% e Apr – 30,1%. Já o nível de Dg% própria de cada
população consistiu em: Zbn – 60,3%, Pez – 65,3%, Mac – 78% e Apr – 45%.
Para o experimento de ISSR a partir de cinco primers observaram-se 83 loci, dos quais
12 monomórficos e 71 polimórficos. O DG% para M. prasina a partir deste marcador foi da
ordem de 85,5% para a área de estudo abordada. As populações analisadas apresentaram Dg%
de: Zbn – 54,2%, Pez – 42,1%, Mac – 75,9% e Apr – 45,7%. O índice Dg% próprio de cada
população foi de: Zbn- 65,2%, Pez – 47,2%, Mac – 85,1% e Apr – 54,2%.
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Considerando o método NJ utilizado para análise de diversidade genética entre as
amostras foram constituídos três fenogramas de acordo com os dados provenientes dos
marcadores DAF, ISSR e DAF/ISSR (Figuras 2, 3 e 4).
O fenograma gerado por DAF (Figura 2) apresentou dois grupos genéticos (G1 e G2).
Todos os indivíduos pertencentes ao G1 são dos três fragmentos da USJ (Zbn, Mac e Pez),
onde foi observado em que as amostras do fragmento Zbn foram agrupadas com 70% de
similaridade genética em ramos próximos. Os indivíduos do Mac se apresentaram também
agrupados em ramos próximos , porém, de maneira mais isolada em relação às populações
Zbn e Pez. Já os espécimes do Pez foram agrupados mais aleatoriamente, inclusive
partilhando ramos tanto com indivíduos de Zbn como de Mac. Em G2 foram agrupados
isoladamente todos os indivíduos provenientes de Apr juntamente com alguns de Mac e um
de Pez.
Através da análise realizada a partir do fenograma gerado pelo marcador ISSR (Figura 3)
foi novamente observada uma separação entre as amostras em dois grupos (G1 e G2). O G1
compreende indivíduos de todas as populações neste grupo
os indivíduos de Pez
apresentaram maior correlação com as amostras do Zbn. Três amostras pertencentes a Apr
agruparam-se parcialmente isoladas das demais. Ainda foi observado que dois representantes
do Apr apresentaram proximidade genética com indivíduos dos fragmentos Mac e Pez. O G2
foi composto apenas por três indivíduos pertencentes às populações de Mac e Zbn.
O agrupamento gerado a partir da junção dos marcadores DAF/ISRR apresentou divisão
em dois grupos (G1 e G2). O primeiro grupo foi composto por indivíduos de todas as
populações (Zbn, Pez, Apr e Mac) observando-se maior similaridade entre os indivíduos de
Pez e Zbn . Os indivíduos de Apr apresentaram-se isolados em relação aos demais. Já o G2
foi composto por três indivíduos do Mac .
Os dados gerados a partir das análises populacionais (Gst e Nm) globais de acordo com
os marcadores DAF, ISSR e a combinação DAF/ISSR demonstram uma grande tendência
geral de estruturação das populações de acordo com os índices de Gst, em contrapartida, os
índices globais de Nm também foram altos. Já as análises populacionais (Gst e Nm)
comparadas par a par entre as quatro populações revelarem maior a tendência de estruturação
entre a população Apr em relação às demais e Mac, se considerados os três fragmentos da
USJ (Tabela 5).
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Discussão
Para a espécie estudada neste trabalho é inexistente o conhecimento prévio a respeito
de sequências ou marcadores de DNA que constituem os seus genomas. Portanto, a
determinação da utilização dos marcadores DAF e ISSR no presente estudo, foi baseada no
fato de que estes não requerem conhecimento prévio da constituição genética dos indivíduos
analisados, bem como devido as suas características de reprodutibilidade e capacidade de
gerar um grande número de polimorfismos. Winter et al. (2000) e Benko-Iseppon et al. (2001)
na geração de um mapa gênico de grão-de-bico (Cicer arietinum) observaram distorções nos
padrões segregação usando marcadores RAPD, o que não aconteceu quando usados
polimorfismos gerados por marcadores DAF ou com outros tipos de marcadores. Além desta
análise, foi atestado o alto grau de reprodutibilidade do DAF em estudos não publicados do
nosso grupo através da caracterização molecular de espécies pertencentes à família Araceae
onde todas as amostras foram testadas pelo menos duas vezes e comparadas com padrões de
peso molecular.
De acordo com Telles (2001) são necessários no mínimo 60 loci para uma estimativa
consistente da variação genética, uma vez que a partir desta quantidade são observadas
reduções significativas nos desvios-padrão e, conseqüentemente, nos coeficientes de variação,
tendo usado em seu estudo seis primers para a geração dos polimorfismos necessários.
Segundo Hollingsworth e Ennos (2004), o uso de no mínimo 50 loci para marcadores RAPD
revela alta consistência no que se refere à recuperação de topologias não resolvidas,
apresentando altos índices de diferenciação populacional (ex. FST=0,15). Assim, pode-se
observar através dos parâmetros supracitados, que a consistência das análises de diversidade
genética aumenta juntamente com um maior número de loci. Em relação aos parâmetros de
consistência de diversidade genética mencionados nos estudos acima, o presente trabalho
encontra-se de acordo, uma vez que, foram observados 166 loci polimórficos para o marcador
DAF, utilizando-se dez primers (Tabela 3), enquanto os marcadores ISSR geraram 83 loci a
partir da aplicação de cinco primers (Tabela 4).
Considerando-se a representatividade percentual da diversidade genética de cada
população a partir do conjunto de loci analisado, a população que contribuiu mais
significativamente para o total de diversidade observada foi a Mac em relação a ambos os
marcadores analisados (DAF=61,4% e ISSR=75,9%). Por outro lado, as que menos
contribuíram foram Apr para o DAF com 30,1% e Pez para o ISSR com 42,1%. Um
importante fator a ser destacado é que a diversidade genética é um conceito central da
biologia evolutiva, a qual relaciona-se à complexidade organismal (Lynch e Conery, 2003), à
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
recuperação do ecossistema (Reusch et al, 2005), e à habilidade da espécie em responder às
mudanças ambientais (O’brien, 1994). A falta de diversidade está entre os fatores que
colaboram para um potencial declínio da população, colocando-a em perigo (Amos e
Balmford, 2001; Spielman et al, 2004). Portanto, considerando-se ambos os marcadores, é
sugerido que a população Mac apresenta-se como a que possui um maior potencial de
adaptabilidade em relação às mudanças impostas pelo meio, pois é a que detêm maior índice
de variabilidade genética dentre todas as amostradas, mesmo considerando que esta
diversidade apresentada seja conseqüência de, por exemplo, fatores como deriva genética. No
que tange às populações Apr e Pez, estas se destacaram como as que apresentaram os menores
índices de diversidade, o que pode refletir em um menor potencial adaptativo.
No que diz respeito aos índices de diversidade genética própria de cada população,
Mac apresentou o maior índice de diversidade intrapopulacional tanto em relação ao DAF
(78%, sustentado por 102 bandas polimórficas; Tabela 3) como ao ISSR (85,1%, 63 bandas;
Tabela 4). Estes dados sugerem maior diferenciação genética do Mac em relação aos outros
fragmentos, onde este fato pode estar relacionado à ação dos polinizadores (geralmente
abelhas) e dispersores de sementes (aves frugívoras, em sua maioria) nos fragmentos
estudados (Buchmann, 1983; Levey, 1986). Em trabalho realizado por Antonini e NunesFreitas (2004) a respeito de estrutura populacional de M. prasina, foi observado que apesar da
elevada taxa de visitação em M. prasina pela avifauna local, grande parte dos frutos e
sementes seria depositada em local próximo à planta-mãe, naturalmente ou pelos seus
dispersores. Considerando estas características ecológicas, bem como as diferentes pressões
antrópicas às quais os fragmentos estudados estão submetidos (como a matriz da cultura
canavieira) e, adicionalmente, o tamanho e formato destes fragmentos, fatores que juntos
influenciam na extensão do efeito da borda (local de ocorrência de M. prasina) nestes
fragmentos (MMA, 2003), infere-se que todas estas características podem influenciar na
dinâmica de visitação por polinizadores e dispersores naturais em cada fragmento, auxiliando
na diferenciação genética entre estes.
Os índices de diversidade genética própria ainda apontaram – de acordo com o DAF e
ISSR – para as populações Apr (45%) e Pez (47,2%), respectivamente, como sendo as menos
diversas. Estes dados sugerem uma maior atenção no sentido de conservação em relação a
estes dois fragmentos, uma vez que Apr é um fragmento urbano que vem sendo
constantemente agredido e alterado, principalmente em decorrência da ação antrópica das
comunidades localizadas em seu entorno (Lima e Corrêa, 2008). Em relação a Pez, além do
baixo índice de Dg% este fragmento é o menor (22 ha) dentre os estudados e o mais recortado
(invaginado), sugerindo-se que o tamanho e formato irregular do fragmento podem ter
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CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
influenciado sua diversidade genética, principalmente devido ao efeito de borda, fato
destacado em outras abordagens metodológicas na mesma área (Viana, 1991; Primack e
Rodrigues, 2001). Portanto, a baixa concentração de variabilidade genética pode estar
relacionada à diversidade de condições locais, ao tamanho do fragmento e ao histórico de
perturbação da área (Parker e Picket, 1999), podendo assim indicar necessidade de maior
atenção para direcionamento de esforços de conservação nestes fragmentos.
O presente trabalho também avaliou a similaridade genética entre os indivíduos
provenientes das populações Pez, Mac, Zbn e Apr usando-se matrizes de dados gerados por
DAF, por ISSR e pela combinação de ambos (DAF+ISSR). De acordo com os três tipos de
análise descritas nos resultados, o agrupamento gerado pela combinação dos marcadores
(DAF/ISSR) formado a partir de 237 loci polimórficos foi o mais informativo por apresentar
os melhores valores de bootstrap consequentemente favorecendo uma análise mais coerente
das estruturações apresentadas por as populações.
Considerando o fenograma DAF/ISSR (Figura 4), observou-se que os representantes
de Pez e Zbn localizados na USJ (com exceção de um indivíduo do Pez) agruparam-se
próximos, com bom índice de similaridade genética (56% ); porém, o baixo padrão de
estruturação indica que os efeitos da fragmentação florestal provavelmente não foram ainda
suficientes para uma maior diferenciação entre estes fragmentos (Sival et al., 2008). Já o
terceiro fragmento da USJ (Mac) agrupou-se separadamente, quando comparado com Pez e
Zbn , sugerindo que Mac (dentre os fragmentos da USJ) apresenta uma maior tendência de
estruturação. Em relação a Apr, trata-se do fragmento melhor estruturado, pois agrupa-se
isoladamente apresentando características de estruturação mais clara em decorrência aos
efeitos da fragmentação florestal ao contrário dos fragmentos da USJ .
A sugestão de tendência de maior estruturação genética para a população Apr em
decorrência da diversidade entre os indivíduos no fenograma (DAF/ISSR) é também indicada
pelas análises populacionais par a par de Gst e Nm, realizadas entre as quatro populações
(Apr, Pez, Zbn e Mac). Entre os três tipos de correlações possíveis da população Apr com as
demais abordadas (Apr e Pez, Apr e Zbn, Apr e Mac) para cada marcador (DAF, ISSR e
DAF/ISSR totalizando nove inferências em quatro destas, 44,4%), foram observados índices
de Gst acima de 0,25 onde estes valores apontam para uma estruturação evolutiva bem
acentuada (Wright, 1978). Já os índices de Nm para estas correlações são altos (Tabela 5) uma
vez que valores de Nm<1 apontam para uma ação em favor de uma diferenciação genética
(Almeida et al., 2003). Desta forma, pode-se sugerir que apesar de uma maior tendência de
estruturação de Apr, este ainda apresenta fluxo gênico histórico com as populações Pez, Zbn e
81
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Mac, mesmo considerando as várias barreiras geográficas entre estas (ex. rodovias, moradias,
dentre outros) e adicionalmente a distância que as separa (aproximadamente 35 km).
As observações par a par entre as populações que estão localizadas na USJ (Zbn, Pez e
Mac), revelaram em 65% das inferências índices moderadamente altos de Gst com destaque
para o fragmento Mac que apresentou este índice em 100% de suas inferências, indicando
maior tendência de estruturação em relação à Zbn e Pez a exemplo do que foi observado nos
agrupamentos fenéticos supracitados. Já em 100% das inferências de Nm foram observados
índices muito altos, sugerindo a ocorrência de fluxo gênico histórico e ausência de uma
estruturação genética melhor definida principalmente em Zbn e Pez. Considerando-se que os
fragmentos situados na USJ são próximos e que várias espécies de Melastomataceae
apresentam como polinizadores além de abelhas, também moscas (mais abundantes no
fragmento Pez – observação pessoal), morcegos ou beija-flores, tendo ainda as sementes
dispersas por pássaros (Renner, 1989; Goldenberg e Shepherd, 1998), estas características
podem ser um importante fator contribuinte para os altos índices de fluxo gênico histórico
entre estes fragmentos.
A partir dos valores globais de Gst e Nm, apesar do alto índice de fluxo gênico
histórico (Nm) observado (DAF=1,3714, ISSR=1,8145 e DAF/ISSR=1,4851) os resultados
apontam para uma tendência a estruturação genética global entre as populações, uma vez que
o índice de Gst é alto (DAF=0,2672, ISSR=0,2160 e DAF/ISSR=0,2519), sugerindo a
distribuição variada da diversidade genética entre os indivíduos das diferentes populações
analisadas. Silva et al. (2008) encontrou dados similares através de estudo de diversidade e
estrutura genética em populações de Tapirira guianensis Aubl. através de marcadores
isoenzimas nos mesmos fragmentos aqui abordados, obtendo diversidade genética de 100% e
fluxo gênico de 2,45. Entretanto, diante destes resultados e de trabalhos similares realizados
na mesma área, torna-se difícil determinar se a diversidade genética foi o resultado da
fragmentação recente, humano-negociada ou de fatores biogeográficos em longo prazo
(Cardoso et al., 1998). Porém, alguns autores (Lira et al., 2003; Cardoso et al., 2005) sugerem
que determinados fragmentos da Floresta Atlântica não são resultado de um sistema contínuo
que foi fragmentado exclusivamente nos últimos 500 anos. Embora esta fragmentação seja
extremamente realçada pela super-exploração e pela pressão urbana, as expansões e retrações
da Floresta Atlântica durante os períodos frios, secos e de mudanças de clima cíclicas do
Quaternário podem ter influenciado na distribuição genética (Cardoso et al., 2005).
Devido aos efeitos da fragmentação de florestas, a erosão genética pode ser uma
conseqüência imediata, especialmente se as mudanças genéticas influenciarem diretamente na
adaptação dos indivíduos e na viabilidade em curto prazo das populações remanescentes
82
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
(Frankham, 2005). Portanto, estudos de acesso à diversidade genética via marcadores
moleculares de DNA associados a modernas ferramentas analíticas tornam-se fundamentais,
pois contribuem significativamente para o entendimento dos processos históricos (bióticos e
abióticos) que modulam a diversidade intraespecífica da biota, especificamente a diversidade
populacional; desta forma auxiliando no direcionamento de esforços de conservação dos
remanescentes de Floresta Atlântica (Avise 1994, 2000; Templeton, 1998; Posada e Crandall
2001; Brant e Ortí 2003; Ali et al., 2004).
Além das informações obtidas no âmbito da diversidade e conectividade genética entre
populações naturais de remanescentes de Floresta Atlântica, estes dados podem ser utilizados
para a determinação filogeográfica de M. prasina a partir das populações estudadas, podendo
ser associados com a aplicação de outros tipos de marcadores moleculares como o
seqüenciamento de cpDNA, no intuito de elucidar aspectos adicionais da estrutura
populacional. Adicionalmente os resultados obtidos podem também ser integrados a
observações de campo e de biologia reprodutiva, na tentativa de enriquecer ainda mais o
conhecimento sobre a dinâmica e estrutura das populações analisadas, tendo em vista o papel
fundamental destas plantas nos processos de sucessão florestal.
83
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
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Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 1: Distribuição dos indivíduos coletados em Pernambuco (Recife, Igarassu e Serrambi)
e em Sergipe (Itabaiana) e suas respectivas populações, bem como dados de
georeferenciamento correspondente de cada indivíduo.
Local / Município
Populações
Pezinho (Pez)
Usina São José - USJ
(Igarassu - PE)
Macacos (Mac)
Zambana (Zbn)
Indivíduos
Georeferenciamento
1
2
3
4
5
6
1
2
3
4
5
6
1
2
3
4
5
6
1
2
3
4
5
6
07º47’20.9”S - 35º01’0.6”O
07º47’20.7”S - 35º01’07.9”O
07º47’21.05”S - 35º01’09.03”O
07º47’20.05”S - 35º01’09.5”O
07º47’22.0”S - 35º01’07.6”O
07º47’22.4”S - 35º01’07.8”O
07º46’49.3”S - 35º00’40.8”O
07º46’50.6”S - 35º00’40.4”O
07º46’54.2”S - 35º00’39.9”O
07º46’55.5”S - 35º01’07.8”O
07º47’22.4”S - 35º01’07.8”O
07º47’22.4”S - 35º01’07.8”O
07º42’7.8”S- 34º58’58.9”O
07º42’6.7”S - 34º58’37.8”O
07º42’8.7”S - 34º58’59.6”O
07º42’19.5”S - 34º58’01.0”O
07º42’20.4”S - 34º58’00.2”O
07º42’09.9”S - 34º58’00.7”O
08º00’36.10”S - 34º56’56.88”O
08º00’28.41”S - 34º56’57.57”O
08º00’26.43”S - 34º56’58.11”O
08º00’23.44”S - 34º56’59.92”O
08º00’20.24”S - 34º56’59.81”O
08º00’17.29”S - 34º56’58.38”O
Reserva de Dois Irmãos
Recife - PE
Açude da Prata
(Apr)
Serrambi - PE
Serrambi (Serr)
1
08º32’56.57”S –35º00’44.87”O
Parque Nacional
Itabaiana, Itabaiana - SE
Sergipe (Serg)
1
2
10º41’15.14”S –37º24’30.63”O
10º41’15.25”S –37º24’30.80”O
89
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 2: Sequências e designação de primers DAF e ISSR utilizados para seleção
dos mais informativos.
Primer
Seqüência (5’- 3’)
Tamanho bp Marcador
15_1
TGCGTGCTTGTATAA
15
DAF
15_2
TGCGTGCTTGCGCGG
15
DAF
15_3
TGCGTGCTTGAGAGA
15
DAF
15_5
TGCGTGCTTGAGAGA
15
DAF
15_6
TGCGTGCTTGAAGAA
15
DAF
15_7B
TGCGTGCTTGTGTGT
15
DAF
15_9
TGCGTGCTTGTTCAT
15
DAF
15_11
AGGTCTTGGGTAGGG
15
DAF
15_12
AGGTCTTGGGTAGGC
15
DAF
15_13
AGGTCTTGGGTAAGG
15
DAF
15_14
GTGGGCTGACGTGGG
15
DAF
15_15
ACATCGCCCAACATC
15
DAF
15_16A
GAACCTACGGTGAAG
15
DAF
15_16C
GAACCTACGGTAGGG
15
DAF
15_16D
GAACCTACGGTAAGG
15
DAF
15_19
CTATGCCGACCCGAC
15
DAF
Z-10
CCGACAAACC
10
DAF
Z-15
CAGGGCTTTC
10
DAF
Z-04
AGGCTGTGCT
10
DAF
Z-05
TCCCATGCTG
10
DAF
825
ACACACACACACACACT
17
ISSR
807
AGAGAGAGAGAGAGAGT
17
ISSR
816
CACACACACACACACAT
17
ISSR
818
CACACACACACACACAG
17
ISSR
819
GTGTGTGTGTGTGTGTA
17
ISSR
844
CTCTCTCTCTCTCTCTRC
18
ISSR
886
VDVCTCTCTCTCTCTCT
17
ISSR
890
VHVGTGTGTGTGTGTGT
17
ISSR
891
HVHTGTGTGTGTGTGTG
17
ISSR
884
HBHAGAGAGAGAGAGAG
17
ISSR
889
DBDACACACACACACAC
17
ISSR
90
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 3: Loci polimórficos dos tipos intra e interpopulacionais gerados a partir da aplicação de dez primers através do marcador DAF nas populações Zbn =
Zambana, Pez = Pezinho, Mac = Macacos e Apr = Açude da Prata de Miconia prasina.
Primer
Polimorfismos
Nº Nome
Seqüência
Intrapopulacional
Interpopulacional / Parcial 2x2
Interpopulacional / Geral Total
Zbn Pez Mac Apr Zbn/Pez Zbn/Mac Zbn/Apr Pez/Mac Pez/Apr Mac/Apr
5’→ 3’
1. 15_16A GAACCTACGGTGAAG 4
5
11 12
4
15
15
15
16
18
20
21
2. 15_9 TGCGTGCTTGTTCAT 6
6
6
3
7
11
10
10
9
11
13
13
3. 15_14 GTGGGCTGACGTGGG 3
4
5
2
5
8
7
8
7
7
9
11
10
6
5
10
11
5
12
10
8
10
16
4. 15_15 ACATCGCCCAACATC 9
5. 15_12 AGGTCTTGGGTAGGC 3
11 12
0
12
13
8
14
12
13
14
17
6. 15_1 TGCGTGCTTGTATAA 11 20 24 11
21
24
21
26
26
28
30
30
1
16
16
15
15
14
12
16
17
7. 15_2 TGCGTGCTTGCGCGG 14 13 11
8. 15_13 AGGTCTTGGGTAAGG 10
4
13
4
10
15
12
14
8
16
15
16
9. 15_7B TGCGTGCTTGTGTGT 2
3
7
11
4
12
12
13
12
13
13
14
10. 15_16D GAACCTACGGTAAGG 8
8
7
1
10
10
10
9
9
7
10
11
99
135
115
136
123
133
151
166
Total
70 84 102 50
91
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 4: Loci polimórficos dos tipos intra e interpopulacionais gerados a partir da aplicação de dez primers através do marcador ISSR nas populações
Zbn = Zambana, Pez = Pezinho, Mac = Macacos e Apr = Açude da Prata de Miconia prasina.
Primer
Polimorfismos
Nº Nome
1.
2.
3.
4.
5.
844
884
889
886
890
Seqüência
Intrapopulacional
Zbn Pez
5’→ 3’
CTC TCT CTC TCT CTC TRC 15 13
HBH AGA GAG AGA GAG AG 11 10
DBD ACA CAC ACA CAC AC 12 8
VDV CTC TCT CTC TCT CT
7
4
VHV GTG TGT GTG TGT GT
2
0
Total
47 35
Interpopulacional Parcial 2/2
Mac Apr Zbn/Pez Zbn/Mac Zbn/Apr Pez/Mac Pez/Apr Mac/Apr
14 9
16
17
16
16
14
14
13 9
12
13
14
14
13
14
17 7
18
18
15
20
10
18
9
8
7
10
10
10
9
11
10 5
2
10
5
10
5
10
63 38
55
68
60
70
51
67
Interpopulacional
Total
/ Geral
17
14
20
10
10
71
17
14
20
16
16
83
92
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Tabela 5: Dados populacionais de variabilidade genética (Gst) e número de migrantes
(Nm) gerados a partir das análises geral e dicotômica (par a par) de loci polimórficos das
populações Zbn = Zambana, Pez = Pezinho, Mac = Macacos e Apr = Açude do Prata, a
partir dos marcadores DAF, ISSR e DAF/ISRR através da utilização do programa Popgene
32.
População
DAF
ISSR
DAF + ISSR
Gst
Nm
Gst
Nm
Gst
Nm
Zbn X Pez
0.1469
2.9044
0.1180
3.7386
0.1386
3.1083
Zbn X Mac
0.2191
1.7825
0.2263
1.7096
0.2215
1.7570
Zbn X Apr
0.2875
1.2392
0.1253
3.4899
0.2426
1.5611
Pez X Mac
0.1647
2.5352
0.2005
1.9935
0.1769
2.3262
Pez X Apr
0.2556
1.4561
0.0938
4.8299
0.2126
1.8523
Mac X Apr
0.1061
4.2127
0.1172
3.7669
0.1098
4.0533
Global
0.2672
1.3714
0.2160
1.8145
0.2519
1.4851
93
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Figura 1: Área de estudo abrangendo as populações de Recife (Açude da Prata – Apr) e Igarassu dentro do triângulo
azul (Zambana - Zbn, Pezinho - Pez e Macacos - Mac). A seta grande vermelha indica uma distância aproximada entre as
populações de Recife e Igarassu de aproximadamente 35 Km. Nas populações de Igarassu as setas amarelas apontam
para a distância de aproximadamente em 12 Km entre Pezinho e Zambana, 4 Km entre Pezinho e Macacos e 8 Km entre
Macacos e Zambana.
94
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Mic pr 5-Pez
Mic pr-4-Pez
Mic pr-25-Zbn
Mic pr-26-Zbn
R-IV 70
Mic pr-21-Zbn
G1
Mic pr-23-Zbn
Mic pr-24-Zbn
54
R-II 67
Mic pr-1-Pez
Mic pr-2-Pez
Mic pr-3-Pez
Mic pr-5-Mac
Mic pr-2-Mac
73
Mic pr-3-Mac
Mic pr-6-Pez
R-I
Mic pr-1-Mac
G2
Mic pr-8-Apr
Mic pr-9-Apr
R-III 53
Mic pr-1-Apr
55
Mic pr-10-Apr
86
Mic pr-2-Apr
0.02
Figura 2. Relações de distância genética gerada a partir do marcador DAF usando o método NJ
entre 20 amostras de M. prasina pertencentes às populações: Zbn
Pez
Mac
Apr
Os
valores de bootstrap encontram-se indicados nos ramos. Barra: Escala de estimativa da
diversidade genética.
95
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Mic pr-24-Zbn
59
81
Mic pr-1-Pez
Mic pr-5-Pez
Mic pr-4-Pez
Mic pr-3-Pez
Mic pr-21-Zbn
R-IV
Mic pr-3-Mac
Mic pr-9-Apr
95
G1
Mic pr-10-Apr
Mic pr-8-Apr
Mic pr-25-Zbn
Mic pr-2-Pez
R-III
Mic pr-23-Zbn
Mic pr-6-Pez
Mic pr-2-Apr
R-II 51
Mic pr-1-Apr
Mic pr-5-Mac
Mic pr-1-Mac
G2
Mic pr-26-Zbn
R-I
82
Mic pr-2-Mac
0.02
Figura 3. Relações de distância genética gerada a partir do marcador ISSR usando o método NJ
entre 20 amostras de M. prasina pertencentes às populações: Zbn
Pez
Mac
Apr
Os
valores de bootstrap encontram-se indicados nos ramos. Barra: Escala de estimativa da
diversidade genética.
96
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Mic pr-5-Pez
56
33
Mic pr-4-Pez
Mic pr-21-Zbn
57
Mic pr-24-Zbn
R-III 29
70
Mic pr-1-Pez
Mic pr-23-Zbn
34
Mic pr-25-Zbn
23
48
56
Mic pr-26-Zbn
Mic pr-2-Pez
G1
Mic pr-3-Pez
R-I 20
Mic pr-6-Pez
25
Mic pr-5-Mac
Mic pr-8-Apr
14
Mic pr-1-Apr
22
Mic pr-2-Apr
61
Mic pr-9-Apr
65
73
Mic pr-10-Apr
Mic pr-3-Mac
Mic pr-2-Mac
R-II 46
G2
Mic pr-1-Mac
0.02
Figura 4. Relações de distância genética gerada a partir do marcador DAF/ISSR usando o
método NJ entre 20 amostras de M. prasina pertencentes às populações: Zbn
Apr
Pez
Mac
Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos ramos. Barra: Escala de estimativa da
diversidade genética.
97
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
6. Conclusões
O marcador DAF apresentou-se como uma ferramenta eficaz para detectar, de
maneira rápida, a variabilidade genética em plantas pioneiras permitindo um
melhor entendimento da ecologia e dinâmica populacional e gerando um nível
significativo de polimorfismos.
As espécies Cyperus odoratus e C. ligularis se apresentaram totalmente distintas,
tanto em nível de similaridade genética, quanto diversidade e fluxo gênico
populacionais.
É sugerido que C. odoratus seja melhor adaptada em ambientes alagados que C.
ligularis, o que torna sua ocorrência mais restrita, porém este fato pode
contribuir para sua maior variabilidade genética.
As populações de C. ligularis provavelmente formam metapopulações sob
influência de efeito fundador.
É sugerido que a população Macacos apresenta maior potencial adaptativo em
relação a mudanças do meio ambiente, visto que foi a população que apresentou
o maior índice de diversidade genética (Dg%) global.
Os menores índices de diversidade genética (Dg%) global foram observados para
as populações Açude da Prata e Pezinho desta forma, é sugerido que estas
populações apresentem um menor potencial adaptativo em relação às mudanças
do meio ambiente.
De acordo com o Dg% próprio a população Macacos foi o mais diverso
geneticamente em relação aos demais, possivelmente devido à dinâmica de
polinizadores e dispersores, bem como devido às características dos fragmentos
estudados.
98
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
Através da similaridade genética e da diversidade e fluxo gênico populacionais foi
observado que a população Açude da Prata é a mais estruturada entre as
populações Zambana, Pezinho e Macacos sendo esta última a que apresenta
maior tendência de estruturação entre os estudados na Usina São José.
A partir dos valores globais de Gst e Nm, foi observada tendência a estruturação
das populações estudadas sendo presente entre estas fluxo gênico histórico,
podendo estar correlacionado aos processos de expansão e retração da Floresta
Atlântica no Quaternário.
99
CRUZ, G.A.S.
Diversidade genética populacional nas espécies pioneiras Cyperus ligularis L. ...
7. Abstract
The Atlantic Forests have suffered continuous reductions resulting in urgent need of new
strategies for its preservation and for the understanding of the fragmentation consequences,
especially aiming its preservation. Regarding this scenario, the plant families Cyperaceae and
Melastomataceae play an important role, due to its function as pioneers and forest
regenerators. The present work aimed to evaluate the genetic diversity and the gene flow
among populations of Cyperus ligularis and C. odoratus (Cyperaceae) collected in a urban
Atlantic Forest fragment in the Dois Irmãos Reserve (Recife, Pernambuco, Brazil) and
surrounding areas. Additionally, populations of Miconia prasina (Melastomataceae) occurring
in three Atlantic Forest fragments in an area surrounded by sugarcane plantations (Usina São
José, USJ in the city of Igarassu, Pernambuco, Brazil) were also analyzed using DAF (DNA
Amplification Fingerprinting) and ISSR (Inter Simple Sequence Repeats) markers. The
generated phenogram using DAF for C. ligularis and C. odoratus separated both species in
distinct branches, a segregation supported by 165 interspecific polymorphic marks.
Additionally, significant genetic diversity was observed within populations according with
Nei Gst index (Gst- 0.3632), correlated to a low gene flow tax, represented by the observed
migrant number (Nm- 0.8766). C. odoratus specimens occurred exclusively inside the Dois
Irmãos Reserve, bearing larger genetic diversity than that observed among C. ligularis
individuals, distributed in Dois Irmãos Reserve as well as in adjacent areas under strong
human influence, with a maximal distance of 3 km between collection points. Such results
suggested the existence of higher intraspecific and intrapopulational variation for C. odoratus
while the lower variability observed in C. ligularis suggested the influence of a possible
founder effect as an explanation for its capacity to occupy urban areas subjected to stressing
conditions of drought or pollution, limited to a specific combination of genetic factors.
Additionally, these individuals have been grouped randomly, suggesting the formation of a
metapopulation. For M. prasina 237 DAF and ISSR polymorphic loci have been detected
with an estimated global genetic diversity (Dg%) of 91 and 85.5% for DAF and ISSR
respectively, with the Macacos fragment (Mac) as the major contributor and the Açude do
Prata (Apr) and Pezinho (Pez) fragments as minor contributors, suggesting that Mac have
major adaptability potential. The Mac fragment presented a higher intrapopulacional Dg%
value, probably due to most effective pollination and dispersion. Considering Apr and Pez
lower Dg values indicated that these fragments need additional attention due to their lower
diversity and fragility. The generated phenograms indicated genetic structuring for the Apr
population as compared to other here analyzed populations, a fact also indicated by the
population analyses (Gst and Nm). The global Gst and Nm values for DAF and DAF/ISSR
indicated considerable genetic divergence among the analyzed fragments, suggesting that this
phenomenon would be consequence of past expansions and retractions of the Atlantic Forest
during the Quaternary period, as well as of human pressure. The association of these data with
field observations and reproductive biology shall bring a better understanding of the
population dynamic in the studied area and also of the participation of these plants in the
successive processes.
Key words: Fragmentation, population structure, gene flow, DNA fingerprinting.
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CRUZ, G.A.S.
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8. Anexo
Instructions for Authors
Genetics and Molecular Research (GMR) publishes research articles, research reports, technical notes,
scientific commentaries, news, views, and review articles with regard to genetics, evolution, molecular biology
and bioinformatics. It is an exclusively online journal.
The journal is maintained by the not-for-profit scientific foundation Ribeirão Preto Foundation for Scientific
Research (FUNPEC-RP). The fee per accepted submission is R$ 700.00 for Brazilian authors and
US$400.00 for authors from other countries. The US dollar amount reflects the approximate current
foreign exchange rate and is subject to change. This fee covers part of the expenses for final language and
technical revision, for page setup, and for publishing online.
Payment of the publishing fee should be made by the authors only after receiving a letter of acceptance. After
payment is received by our office, the manuscript will be processed further for publication.
Payment, both from within or outside Brazil, should be made by bank deposit (Banco do Brasil or Commerce
Bank) or by credit card (Visa). Instructions for payment of the publishing fee will be sent together with the letter
of acceptance for publication.
Please contact the editorial office ([email protected]) if you have any questions.
All GMR articles must meet the highest scientific quality standards, both in terms of originality and significance,
and the research reported should make substantial advances. As it is a journal serving a wide and varied
scientific community, article abstracts, introductions and conclusions should be accessible to the non-specialist,
stressing any wider implications of the work. However, the papers should not compromise on the scientific rigor
and detail demanded by an international research journal. The broad readership that GMR attracts gives authors
an opportunity to convey to a large audience, as well as to specialists, the importance of their work. The journal
is currently indexed in over 64 services
(see http://www.funpecrp.com.br/gmr/indexers.htm).
Contributions should be sent either by e-mail as attachments to [email protected].
It is a fundamental condition that submitted manuscripts have not been published and will not be simultaneously
published elsewhere. With the acceptance of a manuscript for publication, the publishers acquire full and
exclusive copyright for all languages and countries. The use of registered names, trademarks, etc., in this
publication does not imply, even in the absence of a specific statement, that such names are exempt from the
relevant protective laws and regulations and therefore free for general use.
All papers should be prepared in U.S. English. An initial evaluation of the language will be made upon receipt of
each manuscript. Those that are considered inadequate for initial review will be returned or sent out for
correction, at the discretion of the author. The manuscript will be considered officially received when the
corrected version is ready to be sent to the referees.
Before final acceptance, a submission letter with the title of the article and names and signatures of all the
authors should be posted to the above address or faxed to the journal at 55 (16) 3621-1991. Galley proofs will be
sent in “pdf” form via e-mail for final revision. All authors are co-responsible for their submissions and they
should make every effort to check the paper before this final step to avoid costly reformatting and possible
introduction of new errors.
GMR articles have no rigid length restrictions. They should contain sufficient technical detail for an expert
reader to understand and assess the methods and results. There is no page limit for GMR articles, but authors
should still be concise, for two main reasons. First, our electronic refereeing system relies on e-mail, and very
large files occasionally cause problems. Second, lengthy manuscripts can be cumbersome to read and study.
Referees tend to dislike them, and they take longer to process. In addition, readers of electronic journals often
print articles to read them. Remember that a 10,000-word article takes up around 11 pages.
How many pages would you be willing to read on-screen or print out?
Editorial policies: Genetics and Molecular Research is a refereed journal. Only original manuscripts will be
considered for publication. Manuscripts will be reviewed by at least two independent reviewers before a decision
is made on publication. The whole process is conducted electronically to speed progress and final publication.
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Papers will be published (placed online) within two months after final acceptance. Papers accepted in their final
form from January 1 to March 31 constitute the first issue of each volume, and so on. There are four issues per
year.
Manuscripts (in U.S. English), together with a cover letter from the author responsible for all correspondence,
should be submitted to the Editor at [email protected] in electronic format as .doc files saved in Microsoft
Word 97 for Windows, or later version. Do not use formatting such as Word’s “Heading” or “Style Sheets.”
Spelling, punctuation, sentence structure, spacing, length, and consistency of usage in form and descriptions
should be checked before submission. Please also check references for accuracy. Ensure that all figures and
tables are mentioned in the text, and that all references are cited in the text. Figure and table files (see below)
should be separate.
Submission information
Authors are required to provide the following information with their electronic submissions:
Article submitted by, Article title, Authors (full list), Article type and session, Status of article (e.g., new,
revised, etc.), Postal address, E-mail address, Phone number, Fax number, Names and types of the files sent.
Brazilian authors should not translate their institutional addresses. These should remain in the original
(Portuguese) language.
Revised versions: Authors submitting a revised version of an article, must remember to include a list of
changes, and replies to the referees (or technical editor). All the files, not just those revised, for the final draft of
paper should be sent.
Acknowledgment of electronic submissions: Successful receipt and processing of the author’s submission will
be acknowledged by e-mail when the submitted manuscript has been checked. If no reply has been received
within one week, the author should contact the editor at [email protected].
Review: Articles are reviewed anonymously by independent referees. Authors are encouraged to suggest names
of expert reviewers, but selection remains the prerogative of the editors. To facilitate the review process, the
authors can send supplementary material, such as cited accepted but not yet published papers, which may be
important for assessment of the manuscript.
A review article should contain: an abstract of 250 words or less, no more than 6 key words, a running tittle
and no more than 60 references. It should be divided into sections with appropriate tittles and subtitles.
Preparation of the manuscript
Order the sections comprising the manuscript as follows: title, running title, author, address, abstract, key words,
introduction, material and methods, results, discussion, acknowledgments, and references.
Title Page: The title page should include the title of the article, authors’ names, and authors’ affiliation. The
affiliation should comprise the department, institution (usually university or company), city, and state (or
nation). The title page should include the name and complete mailing address, telephone number, fax number,
and e-mail address of the author designated to review proofs. The title page should start below the top margin, be
single-spaced, and have no space left before the Summary/Abstract. A running title of no more than 60
characters (including spaces) should be provided.
Abstract: An abstract of up to 250 words, single-spaced, is required of research articles and reports and should
be arranged in one paragraph. The following information (without headings) should be included: purpose,
methods, results, and conclusions. Review articles also require an abstract, which need not include all of these
items.
Key words: A list of key words or indexing terms (up to six) should be included.
Text
Format: Headings should be bold, first letters capitalized and left-aligned. All text should be set in Times New
Roman font, 12 point, left-aligned, single-spaced. Do not justify the right margin. Leave only one (1) space after
periods. Paragraphs should not be indented; there should not be any blank lines between them. Use line returns
only at the end of paragraphs. Do not use tabs or spaces to create indents. Use the Symbol font for symbols and
special characters. Do not use equation editors or footnoting utilities. Save equations as images. Equations
should be numbered consecutively with Arabic numerals in parentheses on the right hand side of the page.
Footnotes: Footnotes should be avoided. When their use is absolutely necessary, footnotes should be numbered
consecutively using Arabic numerals and should be placed at the bottom of the page to which they refer. Place a
line above the footnote, so that it is set off from the text.
Tables/Charts: Special care should be taken to ensure that all tables are properly formatted. Scientific symbols
used should be in Symbol or Times New Roman. Tables should be on a separate page, numbered consecutively
(with Arabic numerals) referred to by number in the text and designed to fit the column or page size of the
journal. Use tables with cells to separate columns. Do not use spaces, tabs or vertical lines. Left justify the title
above the table. 4
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Indicate each table’s location within the manuscript.
Illustrations: Illustrations/figures (photographs, drawings, diagrams, and charts) should each be in a single file,
numbered in a consecutive series of Arabic numerals in the order in which they are cited in the text. Illustrations
must be submitted as separate files. All illustrations are to be supplied in JPEG (jpg) format in either color or
black and white. Images must be saved as separate, stand-alone files. The image resolution should be 300 dpi.
Do not embed images within the text file. The placing of graphics in the paper should be indicated in the text and
should include the captions for the figures. The authors should also send, by mail, a printed version of the
figures. These should be at least 10 x 15 cm, up to US letter size, so that figures can be scanned to guarantee
good quality for publishing online.
Abbreviations: Try to use abbreviations in the text sparingly. Write out abbreviations in full the first time they
are cited in text. Use the metric system for all measurements without periods (cm, mL, s). Define all symbols
used in equations and formulas. Do not abbreviate the word “Figure” or “Table” in titles or text.
Acknowledgments: All acknowledgments (including those for grant and financial support) should be typed in
one paragraph directly preceding the reference section. Authors of manuscripts submitted to GMR are requested
to state the source of all funding that enabled the described research to be undertaken.
Reference: References in the text should include the name of the author and the year in parentheses, e.g. (Searle,
1961) or (King and Wilson, 1975). When a reference with more than two authors is cited, only the first author is
named, e.g., (Comstock et al., 1958). The references must be cited in the text in chronological order, e.g.,
(Ideber, 2001; Uetz, 2002; Ottavai, 2004). References to “unpublished results” and “submitted papers” should
appear in the text in parentheses following the name(s) of the individual(s). Example: (Pereira KS, Martins PK
and Silva TM, unpublished results). No more than 40 references should be cited in a Full-length paper, 20
references in a Short Communication and 60 references in a Review article.
Reference, under the heading “References”, should include only works referred to in the text. It should be
arranged in alphabetical order under the first author’s last name. References should be cited as follows: journal
papers - names and initials of the first four authors (after that using et al.), year, full title, journal abbreviated
according to Index Medicus or I.S.I. web of science, volume number, first and last page numbers; books - names
of authors, year, full title, edition, publishers, address (city); articles published in symposia - names of authors,
year, full title of book, name(s) of editor(s) in parentheses, publisher, address (city), first and last page numbers.
The references should consist of indexed articles only. References for techniques that are essential for
understanding or repeating the methodology should always be in easily accessible journals.
Reference style: The list of references at the end of the paper should follow the format requested by GMR. The
link below can be accessed to see how the references should appear.
Examples of reference style
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