RECOMENDAÇÕES DE PREVENÇÃO E MANEJO DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS RAMIRO F. LOPEZ OVEJERO1 PEDRO J. CHRISTOFFOLETI2 JOSÉ CLAUDIONIR CARVALHO3 1. Introdução Uma vez estabelecida uma população com maior proporção de indivíduos resistentes em relação aos susceptíveis, dificilmente esta população voltará a sua condição inicial. Sendo assim, os indivíduos resistentes podem restringir ou inviabilizar a utilização futura dos herbicidas, pois a eficácia de controle fica reduzida a níveis abaixo dos aceitáveis pelo agricultor. Quando ocorrem plantas daninhas resistentes aos herbicidas em uma área, com densidade suficiente para limitar a produção das culturas agrícolas, há necessidade de mudanças nas práticas de manejo utilizadas. Portanto, é necessário alterar constantemente as práticas normalmente utilizadas para o controle de plantas daninhas visando evitar ou retardar o aparecimento de plantas daninhas resistentes (Gressel & Segel, 1989). É importante ressaltar, que a melhor solução para minimizar a resistência a herbicidas é prevenir seu desenvolvimento. 2. Estratégias de prevenção e manejo da resistência Os princípios do manejo da resistência de plantas daninhas são similares, tanto na prevenção da resistência de uma população quanto na limitação da resistência após sua constatação. Quando falamos de prevenção é para que a planta daninha resistente, não atinja ou que demore em atingir a freqüência crítica (20- 30%) e quando se trata de manejo, o objetivo é que diminua o número de plantas daninhas resistentes. O aspecto mais importante na prevenção e manejo da resistência é a recomendação de práticas e sistemas de produção em que a pressão de seleção de biótipos resistentes a determinado herbicida seja reduzida (Boerboom, 1999). As estratégias de manejo de plantas daninhas para prevenir ou retardar a evolução da resistência incluem: - Rotação de culturas A rotação de culturas á a base para prevenção e manejo da resistência porque permite ao produtor utilizar práticas químicas e não químicas. A rotação de culturas, particularmente aquelas com diferentes ciclos de vida, reduz o sucesso intrínseco das plantas daninhas, que estão sincronizadas com a cultura anterior, implicando na variação dos padrões de uso do solo e da interferência das plantas daninhas. A rotação de culturas é pouco provável que elimine o uso de herbicidas e a pressão de 1 Eng. Agr., M.Sc., Doutorando do Curso de Agronomia, Área de Concentração Fitotecnia, da Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), Departamento de Produção Vegetal. E-mail: [email protected] 2 Professor Associado, Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), Departamento de Produção Vegetal, Área de Biologia e Manejo de Plantas Daninhas; Endereço: USP/ESALQ – Dep. Produção Vegetal – Caixa Postal 09 – CEP 13.418-900 – Piracicaba – SP; e-mail: [email protected]. 3 Eng.AgrônomoDr., Depart.de Pesquisa e Desenvolvimentoda DowAgrosciences, Vice-Presidente Educacional da Associação Brasileira de Ação a Resistência de Plantas aos Herbicidas (HRAC-BR). E-mail: [email protected] seleção em sistemas de cultivo, mas pode ser utilizado para reduzir a utilização de herbicida no decorrer dos anos. Algumas das práticas implementadas são: i) semeadura de diferentes culturas nas safras (culturas, pastagens e forrageiras); ii) semeadura de diferentes culturas nas safras que permitam a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação ou não utilizam herbicidas; iii) semeadura de diferentes culturas que permitam nas safras a utilização de métodos alternativos de controle (diferentes do químico). Infelizmente uma série de aspectos econômicos e muitas vezes de regulamentação governamental limitam a implementação destas medidas (Christoffoleti, 1998). - Método Cultural Este método consiste na utilização de medidas e procedimentos objetivando a prevenção de infestações e disseminação de plantas daninhas (biótipos resistentes), bem como o fortalecimento da capacidade competitiva da cultura, representada pelo seu rápido estabelecimento e desenvolvimento. O conhecimento da habilidade de competição das espécies utilizadas na agricultura ou a mudança no arranjo espacial podem aumentar a competição das culturas com as plantas daninhas, o que poderia ter um efeito na necessidade de utilização de herbicidas (dose ou freqüência de aplicação). - Método mecânico Práticas de cultivo mecânico, tais como enxada rotativa e cultivadores seletivos, reduzem a pressão de seleção na população de plantas daninhas pelos herbicidas. O cultivo mecânico pode substituir o manejo químico ou; pode ser realizado o cultivo nas entrelinhas e aplicação de herbicidas apenas na linha de cultura. Também, o cultivo primário de preparo do solo reduz a pressão de seleção por causa do enterrio das sementes de plantas daninhas recém produzidas. Em algumas situações, a aração feita anualmente não é recomendável, mas aração rotacional, uma vez a cada quatro a cinco anos, pode ser uma alternativa viável, pois com isso muda a flora de plantas daninhas existentes através de uma maior diversificação de espécies. - Método Químico (Manejo de herbicidas) O manejo de herbicidas é fundamental para prevenir e manejar a resistência de plantas daninhas, sendo que, as principais recomendações são: i) Utilizar herbicidas de baixa atividade residual no solo; ii) Otimizar a dose, época e número de aplicações, reduzindo assim o uso desnecessário de herbicidas; iii) Aplicar herbicidas somente quando necessário, permitindo níveis mínimos de infestação que não causem danos significativos à cultura (nível de dano econômico NDE); iv) Acompanhar os resultados das aplicações dos herbicidas, deixando pequenas áreas testemunhas sem aplicação, a fim de detectar quaisquer tendências ou mudanças na densidade populacional das plantas daninhas presentes. v) Evitar a utilização de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação para o qual a resistência foi confirmada, a menos que em mistura com outro(s) herbicida(s) de diferente(s) mecanismo(s) de ação, cujo espectro de controle das plantas daninhas inclua a espécie da população resistente; vi) Rotação de herbicidas com mecanismos de ação diferenciados e/ou com diferentes mecanismos de detoxificação, porém efetivos sobre o mesmo espectro de plantas daninhas; vii) Utilizar mistura de herbicidas (de tanque, formuladas ou aplicações seqüênciais), sendo que a mesma está baseada no fato de que os ingredientes ativos controlam eficientemente os dois biótipos da mesma espécie.; viii) Manejo de plantas daninhas na pré-colheita e/ou pós-colheita utilizando herbicidas de amplo espectro de ação para a dessecação das plantas daninhas que impede a produção de sementes, reduzindo, ao longo do tempo, o banco de sementes no solo; ix) Utilização de culturas resistentes ou tolerantes a herbicidas. Para Boerboom (1999) a rápida adoção de culturas transgênicas como soja e milho, supõe a utilização anual freqüente do glyphosate na rotação soja-milho em lugar da rotação com outros herbicidas. 3. Manejo químico das plantas daninhas resistentes a herbicidas encontradas no Brasil 3.1 Resistência de Brachiaria plantaginea a inibidores de ACCase em soja Os casos de resistência de Brachiaria plantaginea a herbicidas inibidores da ACCase foram observados no Paraná, na região de Três Capões, Palmerinha (município de Guarapuava) e Covo (município de Manguerinha) onde o controle das gramíneas era feito na cultura da soja com esse tipo de herbicidas sistematicamente. Sendo assim, com o decorrer dos anos foi observada redução de controle. Em experimento conduzido por Gazziero et al. (2002) os resultados indicaram que o biótipo resistente a sethoxydim mostrou-se suscetível aos produtos clethodim e trepaloxydim nas doses normais de uso. Isso mostra que, embora produtos com mecanismo de ação semelhantes tenderem a apresentar resistência cruzada, isso nem sempre acontece (Kissmann, 2003). Outras alternativas para quando a resistência é cruzada pode ser a utilização de trifluralina (4,0 a 4,5 L.ha -1) ou imazaquin (1,0 L.ha-1) em pré-emergência e imazethapyr (1,0 L.ha-1) na pós-emergência precoce das ervas (1 a 2 folhas) (Penckowski, 2002). Christoffoleti et al.(2001) observaram que as plantas de Brachiaria plantaginea resistentes aos inibidores da ACCase foram controladas pelos herbicidas (em g i.a.ha -1) glyphosate e sulfosate (1.440), paraquat e glufosinate (600), e paraquat + diuron (300 + 600), então, os mesmos, podem ser utilizados no período de entressafra das áreas com sistema de plantio direto, para manejo de populações resistentes e suscetíveis. Como prevenção, a rotação com o milho pode ser uma alternativa de manejo já que os herbicidas empregados são de mecanismos de ação diferentes (nicosulfuron, foramsulfuron + iodosulfuron, imazapyr + imazapic). 3.2. Resistência de Euphorbia heterophylla a inibidores da ALS, em soja Para manejo dessa planta daninha resistente na cultura da soja, os melhores resultados foram obtidos com herbicidas inibidores de protox aplicados de forma isolada ou associados a um inibidor de ALS. Em experimento de campo, Fornarolli (2002) observou que o herbicida lactofen foi eficiente em uma única aplicação, quando a população foi inferior a 50 plantas.m-2, porém quando a população foi superior a 100 pl.m-2 ,somente as aplicações seqüenciais com 72 ou 120 g.ha-1 foram eficientes. Os tratamentos com lactofen (0,75; 0,375/0,375 L.ha-1) e fomesafem (1,0; 0,5/0,5 L.ha-1) apresentaram controle superior a 90% e as aplicações seqüenciais destes produtos foram superiores a aplicação única (Penckowski, 2002). Vidal & Merotto (1999) observaram que o biótipo resistente foi suscetível a glyphosate (720 g.ha-1), 2,4-D (800) e paraquat (400). Sendo assim, esse herbicidas podem ser utilizados para o manejo dessa planta daninha resistente. Como prevenção a rotação de culturas com o milho pode ser uma alternativa, sendo que, para o controle de leiteiro resistente, a aplicação com atrazine + óleo é o mais eficaz e recomendado para esta situação (Penckowski, 2002). 3.3. Resistência de Bidens pilosa e Bidens subalternans a inibidores da ALS Casos de resistência da planta daninha picão preto (constituída de uma mistura das espécies Bidens pilosa e Bidens subalternans) foram relatados nas áreas produtoras de soja da região central do Brasil. O uso intensivo e repetitivo de herbicidas inibidores da acetolactato sintase (ALS) nas áreas cultivadas com soja no município de São Gabriel do Oeste (MS) selecionou populações resistentes. Foram desenvolvidos ensaios em condições de campo e de casa de vegetação com o objetivo se de determinar um manejo adequado destes biótipos resistentes. Os herbicidas alternativos, lactofen, fomesafen e bentazon, aplicados isoladamente ou em mistura com cholorimuron-ethyl e imazethapyr mostraram-se eficazes no controle dos biótipos resistentes (Monquero & Christoffoleti, 2001). Alternativas que se mostraram muito eficientes a campo (em L.ha-1) foram fomesafen/fomesafen + bentazon (0,5/0,5 + 0,8); lactofen/lactofen + bentazon (0,3/0,3 + 0,8); bentazon + acifluorfen/ bentazon + acifluorfen (0,6/0,6); bentazon + acifluorfen/bentazon (0,6/0,8); bentazon/bentazon (0,6/0,6); bentazon/fomesafen + bentazon (0,6/0,5 + 0,6); bentazon/lactofen + bentazon (0,6/0,3 + 0,6). (Penckowski & Podolan, comunicação pessoal). Como prevenção, a rotação de culturas com o milho pode ser uma alternativa, sendo que, para o controle de leiteiro resistente, a aplicação com atrazine + óleo é o mais eficaz e recomendado para esta situação (Penckowski, 2002). 3.4. Resistência de Digitaria ciliaris a inibidores de ACCase, em soja Foram identificados na Região de Castro (PR) biótipos de Digitaria ciliaris que apresentavam diferentes níveis de resistência cruzada dessas plantas em relação aos herbicidas inibidores da ACCase. Em experimento a campo na cultura de soja (Buzatti, 2002) os resultados mostraram que os herbicidas tepraloxydim (0,5 L.ha-1), butroxydim (200 g.ha-1), fenoxaprop-p-ethyl + clethodim (1 L.ha1 ) em pós-emergência, em todas as doses testadas, apresentaram controle superior a 90%. Os herbicidas de pré-emergência como trifluralina (4,0 L.ha-1) e metoalachlor (1,8 L.ha-1) apresentaram controle de 90% e o sethoxydim, controle inferior a 50%. Como prevenção, a rotação de culturas com o milho pode ser uma alternativa, sendo que, para o controle de Digitaria resistente, a aplicação de nicosulfuron, floramsulfuron + iodosulfuron e mesotrione pode ser recomendado para esta situação. 3.5. Resistência de Echinochloa a quinchlorac, em arroz irrigado Após anos de intenso uso de quinchlorac, surgiram alguns casos de resistência. Alguns dos herbicidas que mostraram eficiência no controle do biótipo resistente foram pendimenthalin em préemergência, clefoxydim, cyhalofop n-butil e bispyribac-sodium em pós-emergência. 3.6. Outros casos de resistência a inibidores de ALS, em arroz irrigado No litoral de Santa Catarina surgiu resistência da planta daninha Sagitária montevidensis a herbicidas inibidores de ALS. Como alternativa de manejo foi indicado o bentazon, com amplo sucessso (Kissmann, 2003). No caso de resistência de Fimbristylis miliacea (L.) e Cyperus difformis L (L.) a inibidores de ALS, os herbicidas 2,4-D, bispyribac e bentazon controlaram os biótipos avaliados (Noldin et al., 2002a; 2002b). Bibliografia citada BOERBOOM, C.M. Nonchemical Options for Delaying Weed Resistance to Herbicides in Midwest Cropping Systems. Weed Technology, v. 13, p.636-642. 1999. BUZATTI, W.J.S.; CRISTALDO, C.J.; PODOLAN, M.J.O. Resistência de Digitaria ciliaris (Capimcolchão) aos herbicidas inibidores da enzima ACCase e alternativas de controle. Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, 23, 2002. Resumos. Londrina: SBCPD/Embrapa Clima Temperado, 2002. p.195 CHRISTOFFOLETI, P.J. Dinâmica de populações de plantas daninhas e manejo de herbicidas para a cultura da soja. In: CÂMARA, G.M.S. (editor). Tecnologia da produção. Piracicaba: Publique, 1998. p.121-138. FORNAROLLI, D.A.; MORAES, V.J.; CAETNO, E. 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