Coisas que Escrevi Sobre o Amor

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Coisas que Escrevi Sobre o Amor
Silvio Dutra
DEZ/2015
Sumário
Introdução
3
O amor em poesia
5
O amor em prosa
66
2
Introdução
Falar sobre o amor significa falar de algo que é
eterno e infinito, pois sendo a essência mesma do
Deus eterno e invisível, o amor jamais acaba.
Tudo passa e passará, mas o amor jamais terá fim.
Ao contrário, ele aumenta mais e mais em nós pela
eternidade afora em busca da perfeição infinita do
próprio Altíssimo. Então, tudo o que já se escreveu
sobre o amor e que ainda será escrito ainda é muito
pouco quando reconhecemos que ele é infinito.
Desde que esta fonte foi completamente aberta
pelas chagas de Cristo, somos convocados a sempre
bebermos gratuitamente da mesma, para que o
amor aumente mais e mais em nós.
Felizes são aqueles que têm bebido continuamente
das águas cristalinas do amor porque são felizes não
apenas em si mesmos, como também fazem felizes
todos aqueles que com eles convivem.
3
Quão bem-aventurada coisa é poder se recostar ao
peito de alguém que ama, assim como apóstolo
João costumava fazer com Jesus Cristo.
Braços amados e divinos que se abrem para nos
receber e nos encher de todo o regozijo que do
amor decorre. Assim, propusemo-nos a jorrar um
pequeno filete deste amor nas poucas palavras
deste livro, contando que ele seja um refrigério para
toda alma sedenta, não de água, mas do amor puro
e verdadeiro que pode ser encontrado somente em
Jesus Cristo.
4
Minha Oração de Amor
Oh Senhor amado de toda a glória!
Nada há para Lhe pedir nesta hora.
Tudo preenches com as riquezas
Da Tua própria Pessoa Majestosa.
Que doce privilégio o ter sido criado
Para que pudesse Te conhecer
E partilhar da Tua vida maravilhosa.
Contemplar-te em espírito
E louvar Teu santo nome
É tudo o que desejo agora.
Nada além que ocupe o pensamento
Deve apagar a paz e a comunhão
Que tenho contigo neste momento.
Glórias eternas... exaltadas
Sejam dadas somente a Ti,
O grande Rei da glória.
5
Purificados para o Amor
Oh dá-nos a todos um caráter santo
e um coração puro, pela graça renovado
para que haja entre os teus amados
uma fraterna amizade insuspeita.
O pecado levanta entraves e barreiras
ao fluir da corrente cristalina e santa
que procede das alturas celestiais
para regar as plantas da Tua lavoura,
para limpar as mazelas que são tantas,
de forma a andarmos naquela esperança
que juntamente contigo todo o céu anela
ver laços, ternos, fortes e verdadeiros
em todos aqueles que Te amam.
6
Um Modelo a Ser Seguido
Naquele coração se via
mais do Céu do que da Terra.
Sem raiz de amargura
ou mesmo erva daninha.
Fontes de águas cristalinas,
eram as palavras proferidas.
Refrigério para a alma sedenta
e cura para as feridas.
Assim era tia Tabita...
tão santa... tão amável,
em todo o seu proceder
espiritual inigualável...
de todos tão querida!
De onde aprendeu então
aquele que acolhe o pecado
bem lá no fundo do coração,
e afirma ser bom cristão?
Jesus pode e quer ser visto
na minha e na tua vida.
Mas enquanto pensarmos
7
que Ele ignora o viver em pecado,
jamais será observado em nós
o que havia em Tia Tabita.
Quanta falta ela nos faz!!!
8
Aroma de Céu
Há em minha alma um aroma de céu,
um hino de louvor ao nosso Deus,
em meio a um respirar de santidade
que aquece profundamente o coração.
Notas altissonantes do harpejar celestial,
com a doçura da mais pura adoração,
uno meu espírito ao do Deus Altíssimo,
pelos laços do amor em Jesus Cristo.
9
Quão profundo e incomparável
Quão profundo e incomparável
é o amor de Deus.
Quem disporia a fazer o bem,
e a receber de bom grado,
a quem lhe tenha ofendido,
e sempre sido ingrato?
Todavia Deus é assim,
Tão diferente de você e de mim!
porque sempre estende a mão
a quem lhe busca,
para receber dele graça e força
para acertar o seu passo.
10
A mais Linda Poesia
Não há mais linda, mais profunda
e inspirada poesia
do que a da nossa própria vida...
no momento em que é convertida,
e descobre os encantos inefáveis
do amor de Jesus Cristo.
Como a alma se eleva nesta hora...
Ela se compunge e chora,
não um choro de tristeza,
mas da mais pura alegria...
que de nenhuma outra forma
jamais se expressaria.
11
O Puro Amor
De tão acostumados que estamos
A contemplar o mal por todos os cantos
podemos pensar que o amor
é como remendo de velhos panos...
um mero desviar-se de contendas,
um apaziguamento aparente
e o esconder do rilhar de dentes.
Comparar o amor com tudo isto
equivale a cuspir na face de Cristo,
que em si mesmo é a fonte
de todo verdadeiro amor...
que em sua majestade e excelência,
é sempre humilde, gentil e terno,
como Ele revelou lavando os pés
de todos os seus discípulos.
O amor que suportou ofensas
Com longanimidade extrema.
Que tudo sofreu com paciência,
e que curou toda sorte de doenças.
Ah! O amor que não conheceu canseira,
que ressuscitou o morto,
consolou o triste,
alimentou o faminto,
à custa do próprio sacrifício.
12
Ah! O amor que sarou feridas
de tantas almas sofridas.
Que nada tendo enriqueceu a tantos,
com a mais pura graça divina.
13
Chamados às Profundidades do Amor
Profundidade com Deus
demanda caminhar com ele
em íntima comunhão
por longo tempo.
A cada passo de fidelidade
mais Deus nos revela em graus
da sua infinita profundidade.
E quanto mais o conhecemos,
mais o amamos e somos amados.
14
Minha Eterna Namorada
De uma coisa podes ter certeza
esposa e amada minha!
Serás para todo o sempre
a minha eterna namorada.
Deus te escolheu para mim
e eu também te escolhi
e decidi amar-te até o fim.
Não fim de término,
mas de continuidade até o eterno,
porque ainda que não haja no céu
a relação do casamento,
tenho por certo que ainda lá,
serei o teu melhor amigo.
15
O Amor de Deus Pelos Seus
Enquanto eu dormia
o Espírito de Deus me instruía
e ternamente me dizia:
“O amor de Deus pelos seus
é amor de afeto e cuidado
e também de capacitações e dons.”
O afeto se manifesta em comunhão
carinhosa e terna, em toda unção,
consolação e fortalecimento.
O cuidado consiste em provisão,
curas, livramentos, proteção,
instrução, direção e aperfeiçoamento.
Os dons têm no próprio Espírito
o maior deles de quem decorre
os dons espirituais sobrenaturais
e todos os serviços e realizações.
16
As capacitações são sobretudo
para amarmos como Deus ama
e cultuá-lo e adorá-lo em espírito.
Capacitações para andar na verdade,
para ser paciente e longânimo,
para praticar o que é justo e santo,
para suportar ofensas e perdoar o próximo.
17
Amado e Perdoado
Nunca aprova o que faça de errado,
mas não me condena.
Assim é o meu Jesus amado,
em sua natureza.
Muito mais do que não condenar,
me absolve do pecado,
que lhe for confessado,
e remove a minha culpa.
Tudo porque havia me amado,
antes da fundação do mundo.
Quem intentará acusar?
Quem condenará?
Quem separará do amor de Deus
a quem ele tem justificado?
Aquele que era carne...
foi feito espírito
pela fé em Cristo.
Quem estava condenado
foi por ele absolvido.
18
Agora amado e libertado
prossigo para o alvo
proposto por Deus
para todos os seus filhos.
19
Onde Vive o Amor
O amor possui o seu habitat...
A sua atmosfera...
Sem os quais não pode sobreviver.
A atmosfera é a do Espírito Santo.
O habitat é o coração quebrantado.
O peixe não vive fora da água.
O amor não vive fora do coração sensível.
Os seres terrestres não vivem fora da atmosfera.
O amor não existe e não vive fora do Espírito
Santo.
O Espírito da verdade e da justiça
nas quais o amor tem o seu trono.
20
Redescobrindo Amor
Sempre que olhamos para o Calvário
e vemos ali o amor de Jesus
se derramando em sangue
por nós pecadores,
então nos quebrantamos,
e como que amolecidos
pelo Santo Espírito,
somos como por assim dizer...
desembrutecidos
e tornados sensíveis ao amor.
Os olhos lacrimejam
o sorriso do coração se abre
a mão afaga com carinho
e a boca beija o rosto amado.
21
Oh Quanto eu o Amo!
Quando a luz de Jesus brilhou e iluminou o meu
interior,
eu pude ver quão grandes e tantos eram os meus
pecados.
Mas vi no Seu olhar compadecido e amoroso que
não havia revelado o que havia no porão da minha
vida para que me condenar, mas para fazer o que
somente Ele poderia fazer, a saber, limpar e
reconstruir tudo o que o pecado havia destruído e
sujado.
Desde então rendi-me aos Seus braços, e tenho
permitido voluntária e prazerosamente que Ele
faça o Seu trabalho.
Oh, quanto tenho me regozijado e me deleitado na
comunhão do Seu profundo amor.
22
Que Deus Longânimo e Amoroso
nós Temos!
Benigno e misericordioso é o Senhor.
Eu andava errado...
confessei-lhe o meu pecado.
Pedi que mudasse a minha sorte.
Que me desse um novo coração.
Ele me ouviu e me perdoou.
A consequência é que agora limpo estou.
Estou em paz com minha consciência,
e sinto de Deus, a Sua santa presença.
E toda vez que suceda,
de cair outra vez,
ainda que não o queira,
sei que posso contar
com o favor do meu Senhor,
porque sabe perfeitamente
o quão pecadores somos,
e necessitados do seu poder,
do seu perdão e do seu amor.
23
Se Ele Ama Eu Também Amo
Cristo ama a sua Igreja.
Deu sua vida por ela.
Como poderia dizer então,
que amo a Cristo,
se não amasse aos irmãos?
24
Substituição por Amor
Se eu visse o meu filho caído,
incapaz de se levantar por si mesmo,
derrotado e condenado
por causa de algum pecado,
eu me ofereceria de bom grado,
para em seu lugar ser castigado,
para que ele pudesse ser livrado
para reconstruir a sua vida.
Foi justamente isto
que fez por todos nós
o Senhor Jesus Cristo.
25
Incoerências da Existência
Amor não entendido,
amor sofrido,
amor não correspondido.
Trabalho suado,
socorro angustiado,
esforço perdido.
Fartura de pão,
ao alcance da mão,
e ninguém faminto.
26
Restaurado
O coração do pai, partido,
sangrando tristeza,
ao ver o estado do filho,
entregue ao pecado.
Roupas andrajosas e sujas,
corpo ferido e surrado,
olhar de um espírito morto,
seguindo um rumo errado.
O pai compadecido e fraco,
achou forças no Salvador amado,
e correu ao encontro do filho,
resgatando-o das garras do pecado.
Lavou-o e pensou-lhe as feridas,
colocou-lhe um anel nos dedos,
traje e sapatos novos,
e deu-lhe a esperança
de uma nova vida,
de um novo começo,
para estar para sempre
ao seu lado.
27
Glórias ao Rei
Um hino triunfal ao nosso Rei eterno,
ao autor e ao significado da nossa vida.
A Jesus seja a glória, o domínio e o poder,
porque ninguém mais governa como Ele.
No nosso coração estabeleceu o seu trono,
e com o seu cetro nos ensinou o caminho.
Não somente lhe entoamos hinos de louvor,
também lhe tributamos todo o nosso amor.
Estamos felizes por termos sido criados para Ele,
para o louvor da glória da sua infinita graça.
Para sermos servos, amados, amigos diletos,
enriquecidos pela sua vida espiritual e eterna.
28
Paz na Terra da Alma
Quando o amor invade o coração,
a alma explode numa linda canção.
Uma atmosfera calma nos alcança,
e gera de novo a esperança,
de se ter dias da mais pura poesia,
em todos os nossos pensamentos.
Toda escura e nefasta influência,
foge do nosso ser mais íntimo,
e o amor preenche a sua ausência.
Oh quão incomparável é isto...
ser assim penetrado pelo amor divino.
Tudo se faz céu em nós e ao redor.
A paz reina enfim na terra da alma,
e ali ficará, até que voltemos ao pó.
29
Ama o que é Real
Ama conhecendo a quem ama,
não ama com uma amor imaturo,
que não sabe qual é a verdade,
qual é a real personalidade,
de quem se ama.
Um amor assim não está sujeito,
a frustrações, decepções...
porque não se funda em ilusões.
Assim é o amor maduro,
de quem sempre está seguro,
apesar das imperfeições,
da pessoa a quem se ama.
30
Criados para o Amor
“8 A ninguém devais coisa alguma, a não ser o
amor com que vos ameis uns aos outros; porque
quem ama aos outros cumpriu a lei.
9 Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não
furtarás, não darás falso testemunho, não
cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo
nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo.
10 O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o
cumprimento da lei é o amor.” (Romanos 13.8-10).
A verdadeira espiritualidade é movida
pelo amor a Deus e ao próximo.
Paulo diz que podemos dar
todos os nossos bens
para alimentar os pobres,
e os corpos à fogueira
por uma causa nobre,
mas se nos faltar o amor ágape,
nada seremos para Deus,
e não herdaremos a eternidade,
porque o amor do qual aqui se fala,
é sobretudo um amor muito puro,
que procede do próprio Jesus,
cheio
de misericórdia e longanimidade,
paciência, virtude e bondade.
É uma transformação da alma.
31
É um pedaço do céu na terra.
É Emanuel, Deus conosco.
É sofrimento e sacrifício
por amor a Jesus Cristo.
32
Dilatando o Coração
Enquanto permanecermos moralistas,
iludidos, pensando ser modelos,
de virtude, poder e piedade,
condenando o pecado dos outros,
esquecidos da própria vaidade,
nunca poderemos ser instrumentos,
nas mãos de Jesus Cristo,
para levar salvação e perdão,
a um mundo perdido.
33
Escrito com a Alma
O que agora escrevo,
não é meramente com as mãos,
ou sequer por pensamentos,
mas com lágrimas da alma.
Coração quebrado, humilhado,
por aflições não contadas,
não tendo em mim qualquer poder,
para conseguir afastá-las.
Inda que à mercê da esperança
fortalecida pela graça,
a minh’alma chora,
por erros que não cometi...
descaminhos de pessoas amadas.
34
Melhor Olhar para o Bem
Fixar a atenção nos maus,
sempre acabará mal.
Melhor é olhar para o bem,
inclusive nos próprios maus.
Sempre se verá algum bem neles.
E alguns chegam a um bom final.
Melhor ainda é fixar a atenção,
nos que amam o bem.
Não são tantos, é verdade,
em relação aos que amam o mal.
Mas achamos neles consolação real.
Todavia há algo que é líquido e certo:
Não são os predadores que dominarão,
a terra no final.
No mar predominam os arenques,
e não os tubarões.
Na terra predominam as ovelhas,
e não os leões.
35
Mãos Amorosas e Habilidosas
Se fosse mero sentimento,
haveria o risco de acabar,
mas o amor de Jesus Cristo,
é imutável e muito mais sólido
do que qualquer rocha.
Sempre cresce e nunca passa.
Lava, eleva, consola,
e nos transforma.
O barro bruto trabalhado,
em Suas mãos amorosas,
vira fino vaso bem acabado.
“Quem te viu e quem te vê!”
É o que todos exclamam,
ao ver a obra do Seu poder,
revelada em quem agora vive,
e que estava prestes a morrer.
36
Vida da Minha Vida
Nos vales em que sofria,
tive a Tua companhia,
e isto me bastou.
Maior foi a Tua graça,
do que o meu sofrer,
e perdi o medo de morrer.
Fugiu também de mim,
o temor ao sofrimento.
Puseste fim ao meu tormento.
Descobri então enfim,
que a verdadeira vida,
está somente em Ti.
37
Ama-se por Esforço
Não consigo falar de amor
como algo barato e fácil,
porque sei o preço que foi pago,
para que pudesse amar e ser amado.
E o amor se aprende,
se exercita em esforço,
para ser virtuoso.
38
Simplesmente Amo
Amo-te,
Simplesmente te amo.
Inda que desligado eu seja,
tardo de entendimento,
grosso na maneira de ser.
Amo-te,
Simplesmente te amo.
Amar-te é o que me ocorre de melhor
Sou plenamente recompensado neste amor.
Nada tendo e a ninguém
Mas tendo tudo e a todos porque te tenho,
Estou irremediavelmente ligado à tua vida
Aonde quer que eu vá; em tudo que estou
fazendo...
Trago-te sempre comigo no meu pensamento.
Estou certo de que a nós não se aplica o dito:
“Até que a morte os separe”
Pois hei de te amar além da morte.
Tenho contigo perfeita unidade.
Já não és parte, és minha própria vida.
Amo-te,
Simplesmente te amo.
39
Caminhando Juntos
É bom sentir a certeza
de que continuamos caminhando juntos;
De mãos dadas na mesma direção.
Não paramos, não estamos regredindo, e por isso
Temos chegado cada vez mais perto
Do sol da plenitude da felicidade conjugal.
O casamento não é uma instituição falida
Porque o nosso é um exemplo vivo, do contrário
para o mundo
E isto tudo porque é Deus mesmo quem nos tem
harmonizado,
Aperfeiçoado e ensinado a caminhar lado a lado
De verdade,
compartilhando experiências,
sofrendo, e se alegrando juntos
Tendo um mesmo sentir.
40
A Ele, toda a nossa gratidão neste dia
e em cada dia que vivermos.
Posto que é Ele o sol que raiou em nossa vida
e nos tem capacitado a viver o verdadeiro amor,
que em vez de esfriar nas dificuldades,
cresce mais ainda, e nos aproxima
fazendo de duas, uma só vida,
para a glória de Deus e para nossa alegria.
Amo você,
não com a paixão de um menino
que se esfria e logo acaba,
Mas com a firme convicção do varão
que sabe estar vivendo
com alguém que lhe completa.
41
O Extraordinário dos Extraordinários
Há somente um que é mais do que todos,
extraordinário por excelência,
incomparável a qualquer tipo
de amor humano.
É do amor divino que estou falando.
Quem pode amar quem lhe odeia?
Inimigos declarados, perversos, ingratos.
E mais do que amar, morrer por eles,
carregando todos os seus pecados?
Não há qualquer outro que eu conheça,
que além de amar, perdoa, enriquece,
transforma, dando a sua própria vida,
que nos santifica, curando nossas feridas.
42
Deserto com Deus é Oásis
Oh Senhor!
Quanto me deleito em Ti,
ainda que no ermo solitário.
Melhor é a tua companhia
do que a de milhares.
Fizeste o homem e criaste laços.
Mas cada qual
segue o seu próprio caminho.
Laços se rompem
ou podem ser ilusórios,
Mas o laço que temos contigo
é inquebrantável.
Estou bem certo
que os laços entre as pessoas
que te são fiéis,
serão perfeitos
um dia na eternidade.
43
Todavia, a perfeição
do teu laço de amor
nos preenche de tal forma,
que mesmo que
andemos solitários
por um deserto árido,
a Tua presença
nos servirá de refrigério
e de refúgio.
Deste modo,
todo homem
que te seja fiel
te dirá
com um coração sincero:
De que mais necessito
eu na terra,
se Deus é meu refúgio,
fortaleza e consolo?
Vão e passageiro
é o consolo do homem,
e por isso tu nos deste
um outro Consolador
além de Ti mesmo
para que esteja
para sempre conosco,
especialmente nas jornadas áridas
que temos que realizar
neste mundo de trevas.
44
Obrigado por tua doce companhia,
amado Espírito Santo!
Obrigado por tua amizade!
Ensina a cada um de teu filhos
a viverem na mesma fidelidade
de amor e amizade
que existe na Tua pessoa divina,
que nos é tão amada e querida!
45
Só Saber que Deus me Ama me Salva?
Se falasse somente:
“Jesus te ama”,
em minhas poesias,
as pessoas gostariam.
Ficariam agradecidas.
A questão é que
este tipo de agrado,
pode encobrir o pecado,
como se Deus fizesse
vista grossa para a injustiça.
Há uma exigência
que deve ser cumprida.
O arrependimento e a fé.
A mudança de vida.
Se ficasse satisfeito,
apenas com o “Jesus me ama”,
poderia até mesmo
acordar um dia no inferno.
É uma verdade sim. Ele ama.
Mas por amor morreu por mim.
Para que eu morresse com Ele,
46
para toda forma de pecado.
Se não nascer de novo,
e não for, pelo Espírito santificado,
continuarei morto em delitos e pecados,
sujeito à condenação eterna,
apesar de saber com certeza,
que “Jesus me ama”,
e nada pôde fazer por mim,
porque não correspondi ao Seu amor,
guardando a Sua Palavra até o fim.
Para meditação:
Pode o simples amor de uma mãe salvar da prisão
um filho malfeitor?
E como poderá o amor de Deus salvar o pecador,
se este não se arrepender do seu pecado?
47
A Justiça do Evangelho Não é Juízo
Quando Deus criou o homem
ele pretendia demonstrar
o quanto é misericordioso
e também bondoso e amoroso.
Ele sabia em Sua presciência
que o homem pecaria,
e também toda a sua descendência.
Deus revelaria também
que uma vez que a sua graça é retirada
em razão da desobediência
a criatura perde a imagem do Criador,
não pode permanecer de pé
em santidade, porque sem a graça divina
a natureza humana fica corrompida,
ou seja, estragada para cumprir o propósito
para o qual fora criada.
Mas Deus demonstraria também
o seu grande poder para restaurar,
por perdoar e amar,
a humanidade que criou,
para pertencer a Cristo.
48
Contudo, como poderia fazer isto?
Inocentando culpados?
Um Deus justo pode fazê-lo?
O homem não é justo
porque não manteve
a imagem do Criador.
Não é justo porque não vive
segundo o caráter do Seu Senhor.
O propósito de Deus, no entanto,
jamais pode ser frustrado.
Então o que faria para tornar justo
o pecador culpado?
Que se opondo ao seu Criador
e não querendo se sujeitar à sua vontade,
segue o seu caminho de vaidade?
Que resistindo a se entregar a Jesus
resiste também ao recebimento da Sua graça?
E sem a graça, sabemos, somente há ruína,
perdição, ódio, desobediência e morte.
Ah! Que situação difícil para ser resolvida!
Difícil para nós, mas não para Deus,
a quem tudo é fácil e possível.
49
Difícil e penoso seria sim,
o único modo pelo qual
o pecador poderia ser justificado.
Deus visitaria o seu pecado,
com juízos, no Seu Filho Amado.
Colocaria sobre Ele nossas transgressões,
resistências e descaminhos,
e com o grande golpe do seu juízo
castigaria o próprio Cristo,
fazendo com que a justiça exigida
fosse por fim atendida.
Jesus tem desde então justiça,
e não juízo para oferecer,
pelo Evangelho.
Quem quiser ser justo,
para receber a graça
salvadora e transformadora,
basta vir a Cristo,
com a mão do coração estendida,
e Ele a concederá com agrado
para apagar nosso pecado.
Por isso Ele diz que não veio
a este mundo para condená-lo,
mas sim, para salvá-lo.
50
Oh! Senhor amado!
Muito obrigado por sua justiça!
Felizes são os que têm fome e sede
desta sua maravilhosa justiça,
pela qual, nós perdidos pecadores,
somos saciados,
justificados e abençoados!
51
Tributo à Minha Amada Esposa
Devo pagar o que é devido...
A maior dívida que tenho,
depois de nosso Senhor Jesus Cristo
Certamente é contigo.
A dívida de uma união em amor
Que nenhuma pessoa
ou qualquer poder deste mundo,
Jamais poderão separar.
Quem separará a quem Deus juntou?
Companheira fiel,
De todas as horas,
Tanto das boas quanto das más.
O que poderia pagar
tão grande dívida de gratidão?
Senão o amor que te devoto
E sempre devotarei até à morte?
Há dívidas de amor
que jamais poderão ser pagas:
A que tenho com Jesus Cristo
Por ter-me salvo e amado.
Por nos ter unido neste forte laço.
O laço indestrutível do amor
52
Que une pessoas que casam
Por terem sido unidas por Deus.
Pessoas casadas por Deus
jamais poderão ser separadas.
E certamente foi este o nosso caso.
Há outros laços de amor
que não são tão fortes
Porque não impõem
um caminhar juntos até a morte.
Mas o laço que nos une
é mais forte do que a morte.
O tempo tem passado...
Por quase quarenta anos
continuamos a caminhar juntos
Como testemunhas de Deus
Que o casamento feito por Ele
Jamais será destruído.
O amor tem aumentado
À medida que o tempo passa.
E a graça de Deus
nos tem mantido unidos
Porque em Seu amor divino
Ele bem sabe quão duro e difícil
seria para mim
Ter que te perder
e viver solitário.
Sem a tua presença
53
Certamente direi:
Estou só.
Ninguém mais poderá ocupar
o lugar, o espaço
Que tu ocupas,
amada minha
Há tantos anos,
no meu coração.
Que o Senhor te acrescente
anos de vida
E que eu possa ter a graça
de desfrutá-los a teu lado
Continuando a caminhar
me sentindo completo
porque somos de fato
somente um no Senhor.
Deus mesmo te pague
com Suas bênçãos e graças
Tudo quanto te tenho devido
Porque, somente
a grande riqueza do Deus vivo
pode pagar tão caro tributo,
a quem tem me enriquecido
com os seus talentos,
beleza e graça,
que jamais poderão
ser apagados pelo tempo.
54
A Imperfeição não Pode Impedir o
Amor
Eis que neste mundo de trevas,
encontram-se os próprios cristãos,
cheios de defeitos.
Todavia, são todos amados de Deus,
porque são seus filhos.
Adotados em Jesus Cristo.
Assim, Deus não ama o que é perfeito.
Ama pecadores.
E os amou mesmo quando se encontravam
Mortos em delitos e pecados,
estando totalmente arruinados.
Viu beleza onde não havia nenhuma.
Viu justiça onde abundava a iniquidade.
Porque o amor cobre multidão de pecados.
Todavia, é certo que quanto mais
se busca ser aperfeiçoado,
mais nos tornamos íntimos e amados de Deus.
Porque podemos responder melhor
aos Seus anelos para a comunicação
55
da Sua graça e do Seu amor.
Pelo justo Juízo
teríamos sido inteiramente consumidos,
mas graças a Deus
por nosso Senhor Jesus Cristo.
Que pagou o preço da remoção
da nossa culpa e do nosso pecado.
Há também nEle atributos divinos
que aplacam a ira da justiça de Deus.
E que o tornam terno, misericordioso,
bondoso, gracioso e amoroso.
Mesmo para com o pior dos pecadores.
Ficará portanto injustificável perante Ele
no dia do Seu grande Juízo,
todo aquele que não buscou
lugar de arrependimento.
Porque há em Deus
um suprimento de graça abundante
para o nosso livramento.
Há uma mão estendida
para todos os fracos e caídos.
Pronta para levantá-los
de toda forma de tormento.
Há uma tal concessão de graça
que Deus jamais nos imputará
56
penas pelos nossos pecados,
quando sairmos correndo
na direção dos seus braços.
Os erros dos dias vividos
sem arrependimento
por mais longos que tenham sido
serão todos lançados para sempre
no mar do esquecimento.
Quem dentre os homens
estaria pronto a perdoar
nesta profunda dimensão divina?
Como se pode chamar portanto,
de cruel, duro e injusto,
a Deus amoroso e santo?
Porque lançará em chamas eternas
a todos que pisaram no sangue
que Jesus derramou na cruz?
Rejeitar um Deus quem ama
pessoas com pecados e defeitos?
Que não rejeita a ninguém
que se aproxime dEle
em busca de salvação?
E que procura para a sua alma
socorro e consolo em suas aflições?
57
Ninguém há que se possa comparar
em amor e bondade ao Senhor.
Porque tem suportado ofensas,
não poucas,
mas aos milhares.
Com toda a longanimidade.
Então, por que permaneceria eu
nas minhas imperfeições e defeitos,
Se a solução está à mão,
Bem junto da boca e do coração?
Tudo que se nos pede
é que o confessemos como Senhor
como o Rei da vida e do amor
como o nosso suficiente Salvador.
A trilha da perfeição é ser longânimo,
paciente e misericordioso
para com os imperfeitos como nós.
Perfeitos na misericórdia.
Porque Ele tem dito:
“Sede misericordiosos
assim com é misericordioso
o Vosso Pai.”
O amor divino não depende portanto,
da nossa perfeição
Porque num mundo de pecado,
seria impossível amar quem seja perfeito.
58
E não há qualquer motivo para duvidar.
Sabemos que Deus nos ama.
Porque nos deu o Seu próprio Filho.
Foi do Seu agrado, por amor de nós,
moê-lo naquela rude cruz,
com suas próprias mãos
que clamavam por justiça.
Justiça que exigia a morte do pecado.
Por isso visitou com grande ira
o nosso pecado, no Seu Filho amado.
O sangue do Cordeiro imaculado
escorreu provando que dera Sua vida,
para poder achá-la
não apenas em Si mesmo,
mas em todos aqueles que estavam mortos
porque de Deus andavam separados.
Bendito Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo,
quero dizer-te muito obrigado
com a minha vida.
A vida que não é minha,
mas Tua.
Permite que eu a gaste totalmente
fazendo a Tua vontade
com amor fervoroso e profundo.
59
Impulsionado pelo Amor
Acredite-me,
pode parecer incrível,
mas é verdade.
Tive que esperar
cerca de trinta anos,
sem saber que esperava,
para estar agora publicando,
o que tenho postado
aqui no Recanto.
Estudava e estudava.
Orava e orava.
Escrevia e guardava.
Até que um dia
despertou em mim
um inexplicável sentimento.
Algo que me vinha de dentro,
e também de fora,
porque ouvi a voz
que me falava:
“Chegou a hora!
Coloca tudo para fora!
60
sai da caverna
e mostra a cara!”
Não por força,
nem por constrangimento,
mas por um amor divino
que me punha em movimento.
E este amor chegou,
ficou, não cessou.
Enquanto estiver queimando,
e me impulsionando,
estarei escrevendo,
não por amor a mim mesmo,
mas por amor a vocês
que me deram acolhida
aqui no Recanto.
61
É o Que Dá Sentido à Vida
Somente quem ama,
sabe o valor que há,
em ser também amado.
Valoriza o amor
mais que tudo deste mundo.
Por nada trocaria o amor.
O que é melhor:
amar ou ser amado?
Ambos se equivalem,
pois não há amor com alegria
para quem não ama.
E nunca se sentirá pleno,
quem nunca foi amado.
O amor é o remédio
eterno da alma.
Sem ele se morre.
Tudo está acabado.
62
Ah! Quão bom
que Deus é amor!
Totalmente desejável,
é o nosso amado!
Oh! Quão precioso é,
que vivam os irmãos
neste mesmo amor!
Não se morre de frio
quando neste calor.
Não há no coração tremor,
quando diante do Senhor,
porque o seu amor por nós,
lança fora todo o temor,
de vivermos alijados,
desprezados,
esquecidos,
de não sermos alimentados
pelo néctar do amor.
Um hino triunfal
àquele que nos criou!
Para amar e ser amados
à Sua própria imagem nos formou.
63
Com a Mesma Doçura de Cristo
É certo que Deus se agrada
de todo aquele que se esforça
para poder servi-lo.
Mas muito mais lhe agrada
que se tenha
a doçura de Cristo.
Quão bom e precioso
é poder desfrutar da companhia
de quem está desprovido
de todo tipo de amargura.
De quem é humilde e manso,
como o nosso Jesus querido.
64
Amor Eterno e Profundo
Oh! Quanto o coração se dilata!
À menção da simples ideia,
tão real e verdadeira,
de que Deus ama aos homens
com amor tão grande e profundo
que nenhum bem a ele se compara
de tudo que se pode achar no mundo.
Especialmente às pessoas
de boa vontade,
ama com amor incansável,
da mais pura amizade e bondade.
Com certeza Deus ama.
E quanto ama!
Toda a humanidade.
Afinal não nos criou
à sua própria imagem?
Oh! Delícias eternas,
provindas do coração divino!
Sem elas não há vida,
senão somente morte.
65
Amados e Amigos
Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós;
permanecei no meu amor.
10 Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor; do mesmo modo que
eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e
permaneço no seu amor.
11 Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria
permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa.
12 O meu mandamento é este: Que vos ameis uns
aos outros, assim como eu vos amei.
13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar
alguém a sua vida pelos seus amigos.
14 Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos
mando.
15 Já vos não chamarei servos, porque o servo não
sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos
chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu
Pai vos tenho feito conhecer.
66
16 Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos
escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo
quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo
conceda.
17 Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros.”
(João 15.9-17)
O Senhor revelou aos apóstolos, com estas palavras,
qual é a maneira de permanecer no amor de Deus.
Ele mostrou que isto é possível somente quando se
faz a vontade de Deus, por se honrar e guardar Seus
mandamentos.
Muitos têm falhado na comunhão que deveriam ter
com Deus e com seus irmãos, porque não
consagram suas vidas ao Senhor, e assim não são
despertados pelo Espírito Santo, para que possam
conhecer ao Senhor e à Sua vontade.
Por isso é que se nos ordena que cresçamos na graça
e no conhecimento de Jesus (II Pe 3.18), porque esta
é a única maneira de sermos tomados de toda a
plenitude do amor divino.
Sem esta capacitação espiritual que é recebida do
Espírito Santo, quando nos consagramos nas mãos
67
de Deus, para fazer a Sua vontade, é impossível
viver e permanecer no Senhor e no Seu amor.
Assim, Ele foi muito claro em nos dizer que é
necessário guardar os mandamentos de Deus para
que se possa experimentar o Seu amor; porque o
Senhor não manifestará a beleza da Sua intimidade
e santidade àqueles que não Lhe honrarem, ainda
que tenham nascido de novo do Espírito.
Jesus havia dado Seu próprio exemplo aos
apóstolos, em plena submissão à vontade do Pai, e
era esta a razão dEle ser amado pelo Pai e de
sempre exultar e se alegrar em espírito em Seu
relacionamento com Ele.
É somente quando se vive neste amor e alegria
espiritual, que somos capacitados pelo Espírito a
darmos frutos espirituais para Deus, de maneira
que Ele seja glorificado através das nossas vidas.
O caráter deste amor divino é de amizade paternal,
dEle em relação a nós, e amizade fraternal, de nós
em relação a nossos irmãos, e de amizade filial, de
nós em relação a Deus.
Jesus demonstrou até que ponto esta amizade
espiritual pode nos levar, a saber, a dar a nossa vida
pelos irmãos, assim como Ele entregou a Sua vida
por nós.
68
Ele não deu Sua vida por nós somente na cruz, mas
no serviço amoroso e cuidadoso que tem por cada
um dos Seus discípulos e que é demonstrado em
manifestações reais das operações das Suas graças
e bênçãos em nossas vidas.
O Senhor não nos trata como escravos, mas como
amigos.
Ele nos revelou toda a verdade que está no seio do
Pai.
Ele não age de maneira reservada com nenhum
daqueles que guardam os Seus mandamentos.
Ao contrário, faz com que privem da Sua
intimidade.
É pela nossa obediência ao Senhor que provamos a
nossa amizade a Ele.
Na verdade é impossível estar em relação de
amizade com Ele sem esta obediência que Lhe é
devida em tudo.
69
Um Pai Amoroso
Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na
eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo
lugar habito; como também com o contrito e
abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.
Porque não contenderei para sempre, nem
continuamente me indignarei; porque o espírito
perante a minha face se desfaleceria, e as almas que
eu fiz. Pela iniquidade da sua avareza me indignei, e
o feri; escondi-me, e indignei-me; contudo, rebelde,
seguiu o caminho do seu coração. Eu vejo os seus
caminhos, e o sararei, e o guiarei, e lhe tornarei a
dar consolação, a saber, aos que dentre eles
choram.
O propósito de Deus é o de reavivar o espírito do
humilde, e o coração do arrependido, e Ele
apresenta a razão disto, a saber que se Ele não
agisse com amor infinito e condescendência em
relação a eles, mas lidasse com eles lhes dando a
justa retribuição às suas transgressões, eles seriam
totalmente consumidos. Porém, na realização deste
trabalho de cura, Ele tem que usar alguns remédios
amargos para a recuperação espiritual deles. Por
causa da iniquidade da cobiça deles que era a sua
principal doença, eles foram feridos pelo Senhor e
Ele escondeu a Sua face deles, porque isto seria
70
necessário para que fossem curados. Mas como eles
se comportaram debaixo deste procedimento de
Deus em relação a eles? Rebelaram-se e
continuaram seguindo a perversidade do seu
coração. Então como faz este Consolador Santo para
lidar agora com eles? Ele os deixa entregues à sua
enfermidade? Ele os abandona? Não, porque um
pai amoroso não lidará assim com os seus filhos.
E a promessa feita por Deus é que Ele agiria conosco
tal com um pai consolando seus filhos. Ele realizará
o Seu trabalho com tal amor infinito, ternura e
compaixão, que isso superará todas as
transgressões, e não cessará até que Ele tenha
efetivamente administrado a necessária consolação
a eles. Ele agirá nos termos da aliança que fez com
eles por meio de Jesus Cristo de ser o Deus e Pai
deles para sempre.
Então os corrigirá em amor para participarem da
Sua santidade. Ele os aperfeiçoará no Seu amor. E
tudo fará para conduzi-los a isto.
71
A Grande Prova do Amor
Uma das grandes provas da existência de Deus e
do Seu grande amor e poder, é o fato de que
pessoas tão fracas, incapazes, que mal conseguem
se ocupar dos seus próprios problemas e
necessidades, se dediquem de modo tão diligente e
incansável em buscar a salvação das almas e o bem
eterno de seus semelhantes; empenhando nisto
todo o seu tempo e vida.
Esquecidos de si mesmos são impulsionados pelo
poder de Deus e pelo infinito amor que Ele derrama
nos seus corações pela presença e ação do Espírito
Santo – gastam-se inteiramente como velas que
queimam para o único propósito de servirem de luz,
da luz de Jesus que neles brilha, para tirarem os seus
semelhantes das trevas e da escravidão ao pecado.
Bendito seja Deus pelo Seu inefável amor.
Bendito seja Deus que dá sentido às nossas pobres
vidas, enriquecendo-as com a Sua graça para que
cumpramos o Seu propósito de amar a humanidade
através de instrumentos tão fracos e imperfeitos
como nós.
72
A maior prova desse amor nos foi dada por Jesus, ao
derramar a Sua vida por nós na morte de cruz,
carregando sobre Si todos os nossos pecados, e para
que pudéssemos continuar recebendo esta vida
celestial e divina que alimenta e vivifica o nosso
espírito, para que possamos ter comunhão em amor
com Deus e com todos aqueles que o amam.
É de fato muito comprobatório da existência do Seu
amor, o fato de que morreu por pecadores, sem que
houvesse um único justo – alguém que fosse dotado
de uma natureza que não o inclinasse
continuamente para o mal e que não fosse seduzido
pelas paixões carnais que guerreiam contra a alma.
Nisto se comprova o amor, pois morreu por nós,
encontrando-nos na condição de pecadores, de
modo que pudéssemos viver pela Sua própria vida e
graça santificadora.
Em nenhuma religião e em nenhum outro Nome
será achada esta provisão de graça divina que faz
morrer a nossa velha natureza e que nos dota de
uma nova natureza, para que por esta possamos
viver de maneira vitoriosa sobre o pecado, o diabo
e o mundo de trevas.
Quando me sinto enfraquecido e inclinado a viver
segundo a carne e não segundo o Espírito, eu clamo
ao Senhor, pois sei que posso contar com a
assistência da sua poderosa graça, de modo que
73
digo juntamente com o salmista ao concluir o Salmo
119:
“Ando errante como ovelha desgarrada; procura o
teu servo, pois não me esqueço dos teus
mandamentos.” (Salmo 119.176)
74
Escolhidos para o Propósito de Amar
Todos os que atendem ao convite da salvação pela
graça, mediante a fé em Jesus Cristo, são estes que
a Bíblia chama de eleitos de Deus.
Este trabalho rico da graça em favor dos eleitos se
tornou possível porque Jesus Cristo os redimiu dos
seus pecados com o Seu sangue, como Paulo afirma
em Ef 1.7.
O texto de Romanos 8.28-30 nos ajuda a entender o
modo desta eleição.
“E sabemos que todas as coisas concorrem para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. Porque os que
dantes conheceu, também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e
aos que predestinou, a estes também chamou; e aos
que chamou, a estes também justificou; e aos que
justificou, a estes também glorificou.”
Este texto no diz que aqueles que amam a Deus têm
todas as coisas concorrendo para o bem deles,
porque tudo estará cooperando para o seu
75
aperfeiçoamento
espiritual
em
santidade,
conforme o propósito da vocação deles por Deus.
Estes que agora amam a Deus não foram chamados
porque O conheciam e O amavam antes da
chamada deles, mas, porque Deus se revelou a eles,
por meio de Jesus Cristo e do trabalho do Espírito
Santo.
Assim, eles amam a Deus porque Ele os amou
primeiro.
Além disso, é dito diretamente que esta chamada é
segundo o propósito eterno de Deus de adotar
como Seus filhos aqueles que dentre os pecadores
viessem a Lhe amar.
Todos aqueles que têm sido diligentes para a
santificação das suas vidas podem comprovar para
si mesmos que têm de fato recebido a graça
necessária para conhecer o mistério da vontade de
Deus, segundo o Seu bom desejo que propusera em
Cristo, para que na presente dispensação da
plenitude dos tempos, que é a da graça ou do
derramar do Espírito Santo em todas as nações, faça
convergir em Cristo todas as coisas, quer as do céu,
quer as da terra, de maneira que Ele tenha
autoridade, tanto sobre os espíritos aperfeiçoados
no céu, quanto sobre os que se encontram ainda na
terra, como se vê em Ef 1.9,10.
76
Por causa da sua união com Cristo os cristãos têm
recebido por promessa de Deus uma herança
incorruptível no céu, e para terem a certeza de que
serão herdeiros juntamente com Cristo, conforme
Deus havia predestinado desde antes da fundação
do mundo, para que assim fosse, conforme o
conselho da Sua vontade, o Espírito Santo habita
nos cristãos como um selo e penhor divino de que
entrarão de fato na posse desta herança que eles
alcançaram por causa da união deles com Cristo,
como se vê em Ef 1.11 a 14.
O conselho da vontade de Deus é tudo aquilo que
Ele tem planejado desde toda a eternidade
conforme a Sua exclusiva autoridade e soberania.
Quanto à nossa salvação nós vemos em Hebreus
6.17 que este conselho é imutável.
Em Atos 2.23 nós vemos que Jesus foi entregue por
nós conforme o conselho determinado e presciência
de Deus. Em Atos 4.28 é dito que a perseguição de
Herodes, de Pilatos e do povo contra a Igreja estava
acontecendo conforme Deus havia predeterminado
no Seu conselho eterno, porque Ele planejou que o
evangelho avançaria em meio a perseguições e
oposições, para que Ele receba muita glória nas
vitórias sobre os poderes que se opõem à Sua santa
vontade. Em Atos 20.27 nós vemos Paulo afirmando
aos Efésios que não havia se esquivado de lhes
anunciar todo o conselho de Deus.
77
A palavra boulê usada no original grego para
conselho, no texto de Ef 1.11 é a mesma que é usada
em todos estes demais textos, que acabamos de
citar.
Então as ações contra a Igreja já estavam
determinadas por Deus desde antes da fundação do
mundo, como vemos em At 4.28, para a Sua
exclusiva glória, pelo testemunho dos Seus servos
no amor a Ele e à verdade, na medida em que teriam
a fé deles aperfeiçoada por estas tribulações, que
vêm aos cristãos como oposições de Satanás.
É declarado nas Escrituras quanto à salvação dos
que creem em Cristo, que o caráter do decreto
eterno é imutável, isto é, os que foram salvos,
jamais poderão perder a condição de filhos de Deus
porque foram marcados por um conselho que é
imutável e absoluto quanto a isto.
De igual modo é também imutável o conselho
quanto ao crescimento destes eleitos na graça e no
conhecimento de Jesus, mas ele não é absoluto
quanto à sua execução relativamente a todos os
cristãos, porque este crescimento não dependerá
somente da vontade de Deus, mas também do
empenho e diligência de cada cristão em
santificação.
78
Ainda que esteja determinado que todos eles serão
perfeitos em santidade na glória, porque Deus é
santo, e importa que Seus filhos sejam santos, no
entanto, enquanto eles estiverem neste mundo se
verá mais progresso em santidade em uns do que
em outros. Haverá amor, demonstrado na prática
por Deus, mais em uns do que em outros.
Mas todos devem crescer em estatura espiritual por
um ato de escolha voluntária, porque não há amor
e obediência verdadeiros que não sejam
voluntários.
De modo que quanto maior for a obediência ao
Senhor e aos Seus mandamentos, maior será o amor
que teremos por Ele.
Todavia, isto implica a necessidade de cooperação
com o trabalho do Espírito Santo para que haja o
referido crescimento espiritual em amor.
79
Sem Amar Não Somos Reais
Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos; aquele que não
ama permanece na morte. (1 João 3:14)
“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça
todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu
tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes,
se não tiver amor, nada serei.” (1 Coríntios 13:2)
O que se afirma nestes dois textos é que sem amar
não somos reais. Sem o amor em nós nada somos.
Por que isto?
Porque fomos criados para sermos como Deus em
santidade e em amor. Deus é o eterno Eu Sou
porque é amor.
Então é o amor de Deus em nós que nos torna reais,
porque é somente assim que podemos existir em
conformidade com o seu propósito eterno em
relação a nós. Sem este amor somos apenas uma
pálida e evanescente imagem daquilo que
deveríamos ser.
Não é muito difícil aceitar ou entender esta
verdade, porque onde o amor não reina, o que reina
é a morte e a destruição – destruição de bons
80
sentimentos, de bons pensamentos, de bons
propósitos, de relacionamentos harmônicos, enfim
de tudo o que é verdadeiramente bom e
permanente.
Então afirma o apóstolo João que aquele que não
ama permanece morto espiritualmente – morto
para Deus, morto para a possibilidade de viver em
união com todos os demais que também amam.
81
Onde o Amor Não Cresce
Multiplica-se a Iniquidade
A
palavra amor é entendida em múltiplos
significados, mas focaremos o nosso interesse, no
momento, em discorrer somente sobre o amor que
é um dos principais atributos de Deus e que pode
ser comunicado a nós por meio da fé em Jesus
Cristo.
O apóstolo Paulo se refere a este amor, que é
designado na Bíblia, no original grego, pela palavra
ágape, como sendo o dom mais duradouro,
precioso e importante que é concedido por Deus
aos homens.
De forma que ainda que tivéssemos toda a fé, todo
o conhecimento, todas as riquezas, e até mesmo
todos os dons sobrenaturais extraordinários do
Espírito Santo, e não tivéssemos este tipo de amor,
nada nos aproveitaria; nada teríamos de fato e nada
seriamos para Deus.
De tal maneira o amor está vinculado à natureza
mesma de Deus, que as características que são
apontadas por Paulo em I Coríntios 13 como sendo
pertencentes ao amor, são atributos que definem a
82
personalidade daquele que as possuem – paciência,
longanimidade, fé, esperança, alegria com a justiça
etc.
Deus é espirito e definido em Sua natureza como
sendo o próprio amor ágape. Assim, se não somos
participantes deste amor, estamos separados da
vida de Deus, e, por conseguinte, mortos
espiritualmente (I João 3.14).
Somos convocados a obter e a fazer aumentar mais
e mais este amor em nós, pela justa cooperação e
união com todos os demais membros do corpo de
Cristo, porque é nisto que se cumpre o propósito
eterno de Deus em nossa criação.
Não fomos criados para a individualidade e para
gastarmos a vida apenas com nossos próprios
interesses, mas com os de Deus e o de muitos. Este
amor ágape não é então, mero gostar ou
sentimento, mas, sobretudo ações direcionadas a
servir a Deus e ao próximo, especialmente aos
domésticos da fé.
Amor que impõe renúncias, trabalhos, sofrimentos,
indo-se à fonte de onde procede – Jesus – para
buscar renovados suprimentos da Sua graça, pela
qual possamos servir uns aos outros.
Amor sobrenatural, que nos é concedido como
resposta às orações - nossas e da Igreja.
83
É este amor ágape que devemos obter e nele
crescer, porque não é algo propriamente de nossa
natureza, mas um dom celestial, sobrenatural, e
espiritual. Na verdade, o primeiro e grande fruto do
Espírito Santo relacionado por Paulo, na epístola
aos Gálatas.
Como poderíamos amar os nossos inimigos,
conforme é necessário para que sejamos imitadores
de Cristo, sem estarmos revestidos do amor ágape,
a saber, do próprio amor de Deus?
O amor que é fruto do afeto natural (fileo) seria
suficiente para isto?
Sendo um amor de edificação, de construção do
caráter divino em nós, o amor ágape sempre é
impelido para instruir, corrigir, repreender e
disciplinar mutuamente a todos os que o possuem,
e daí vemos nosso Senhor afirmar no livro de
Apocalipse que Ele repreende e disciplina a todos
que ama.
Em consequência disso, o amor ágape é
santificador, pois nos conduz a batalhar para que a
vontade de Deus seja feita, não somente em nossa
própria vida, mas também nas daqueles aos quais
amamos com este mesmo amor – o amor do novo
mandamento de Jesus, com o qual devemos nos
amar mutuamente.
84
Tanto isto é verdadeiro que onde a iniquidade se
multiplica o amor esfria. Onde o amor não cresce,
ele diminui.
Por isso necessitamos nos esforçar em viver
segundo as ordenanças de Deus, para que o nosso
amor aumente progressivamente.
Nisto compreendemos, porque Jesus disse que O
amamos se guardarmos os Seus mandamentos. O
simples amor fileo, de afeto natural pode não ser
santificado e até mesmo se opor ao amor de Deus,
como por exemplo, uma mãe que a pretexto de
amar o filho, não permite que o pai o discipline nos
caminhos do Senhor.
Diz-se desse amor ser o vínculo da perfeição, o
cumprimento da Lei, o meio pelo qual a fé atua, e
portanto, é por meio dele que se cumpre o
propósito eterno de Deus de ter muitos filhos
semelhantes a Cristo.
Daí a importância de que todos os crentes cresçam
neste amor, conforme dizer do aposto em Efésios
4.15,16:
“antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em
tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual o corpo
inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas
as juntas, segundo a justa operação de cada parte,
85
efetua o seu crescimento para edificação de si
mesmo em amor.”
À luz de tudo o que foi dito podemos entender qual
é a principal causa de não viverem em unidade
amorosa e fraterna os crentes de determinadas
congregações, e isto ao longo de toda a história da
Igreja, conforme vemos nosso Senhor Jesus Cristo
repreendendo a Igreja de Éfeso citada em
Apocalipse 2.4, por ter deixado o primeiro amor.
O mal que lhes afetou é o mesmo que pode afetar a
todas as igrejas: não crescerem na graça, no amor,
na fé e na piedade, principalmente no amor, pois
como vimo antes, onde falta o amor, prevalece a
iniquidade.
86
Curados por Amor
Ó Senhor por estas coisas vivem os homens, e
inteiramente nelas está a vida do meu espírito;
portanto restabelece-me, e faze-me viver.
17 Eis que foi para minha paz que eu estive em
grande amargura; tu, porém, amando a minha alma,
a livraste da cova da corrupção; porque lançaste
para trás das tuas costas todos os meus pecados.”
(Isaías 38.16,17)
O Senhor havia ordenado ao rei Ezequias que
pusesse em ordem a sua casa, uma vez que morreria
em breve.
Sabemos que o Senhor não voltou atrás quanto à
exigência de colocar em ordem a sua casa –
certamente os erros que ele vinha cometendo em
seu reinado, e no possível afastamento da
comunhão com Deus – apesar de ter revogado a
sentença
de
morte
imediata,
tendo-lhe
acrescentado 15 anos de vida.
Nós lemos nos versos do nosso texto uma parte da
carta de gratidão e memorial que Ezequias escreveu
após ter sido restaurado da sua enfermidade.
87
Ele se refere à sua necessidade de restauração
espiritual – para que o Senhor o vivificasse por que
disso dependia a vida do seu espírito.
Ele reconhece que foi para o seu retorno à paz e
comunhão com o Senhor, que havia sido afligido
pelos assírios e por sua enfermidade mortal; e isto
lhe causara grande amargura de espírito.
Então declara que a causa do perdão dos seus
pecados e o livramento da corrupção da sua alma
foi o grande amor do Senhor por ele.
Assim como agiu em relação a Ezequias, Deus faz o
mesmo com todos os seus filhos, pois os repreende
e disciplina, especialmente através de tribulações,
por amá-los, de maneira que abandonem seu viver
pecaminoso e venham a andar de maneira ordeira
na Sua santa presença.
88
“Não repreenderá perpetuamente, nem
para sempre conservará a sua ira.”
(Salmo 103.9)
Quanto tempo dura a ira de uma pai ou de uma
mãe depois de ter repreendido a seu filho?
Se este filho é amado por eles a ira durará para
sempre por causa do desatino que cometeu?
Todos os que são pais amorosos sabem muito bem
qual é a resposta.
Por vezes nossos filhos se mostram renitentes e
rebeldes por não pouco tempo em relação a
determinado problema a que têm dado causa.
Todavia, por maior que seja a contrariedade que
isto possa causar em nós, depois de certo tempo
tornamos a ser favoráveis a eles sem que isto leve
muito tempo.
Ora, se nós, falhos e limitados pecadores agimos
desta forma, quanto mais o nosso Pai celestial que
é perfeito em amor, justiça e bondade?
89
Daí o salmista ter se expressado nos termos do
nosso texto, pois conhecia por experiência própria
qual é o caráter de Deus.
Ele tinha sido alvo do desagrado do Senhor em
determinadas ocasiões, e no pecado com BateSeba, sua harpa ficou desafinada por cerca de um
ano, e o seu espirito definhava debaixo dos juízos
corretivos de Deus, pois não havia até então achado
lugar para arrependimento, convencendo-se da
grande transgressão que havia cometido.
Deus já havia se tornado favorável a ele, mas como
se achava endurecido pelo pecado, não pôde
contemplar Seus braços amorosos abertos para
recepcioná-lo, depois de ter-se lavado com as
lágrimas do arrependimento.
Mas aprendeu a lição e a compartilha conosco neste
Salmo, de modo que possamos aprender que
conforme afirma a Escritura a ira de Deus de um
breve momento não passa, porque de outra forma
seríamos todos consumidos.
Lembro-me agora da passagem quando nos foi feita
a promessa do perdão de Cristo por causa do
evangelho, no texto de Isaías 40, no qual o Senhor
convoca consoladores para o seu povo, depois de
tê-lo castigado devidamente pelos seus pecados.
90
Assim, então, você que se achou debaixo da
palmatória corretiva do Senhor, que se manifestou
sobretudo pela falta de paz e pelas próprias
circunstâncias da vida que lhe mostraram o quanto
Ele estava aborrecido com os seus maus caminhos,
tente observar por esta fresta de luz que se abre
para que você possa ver que o tempo da correção já
passou, que é hora de derramar lágrimas não mais
de amargura e desânimo, mas de arrependimento,
de alegria e de esperança, de um novo recomeçar
com Deus.
91
Amor Espiritual e Amor Natural
Nosso
Senhor Jesus Cristo disse que o maior
mandamento da Lei é o amor a Deus, e que um
segundo mandamento semelhante a este é o amor
ao próximo.
E acrescentou ainda um outro mandamento para
seus discípulos, que é o próprio amor dEle entre os
irmãos na fé.
Seguramente, este amor que nos deu como um
novo mandamento, ou seja, algo para ser vivido
pelos cristãos, é o amor ágape que existe somente
na natureza de Deus, e do qual podemos
compartilhar quando somos feitos coparticipantes
da natureza divina.
Os apóstolos bem compreenderam e viveram a
grande relação que há entre o amor ágape divino e
a essência do Espírito Santo, do qual, quanto mais
cheio estiver o espírito do cristão, mais cheio estará
por conseguinte do referido amor.
É por isso que o apóstolo Paulo diz que o
cumprimento da Lei é o amor.
92
O apóstolo Tiago chama este amor espiritual que
procede de Deus, de Lei régia.
O apóstolo João afirma não apenas que Deus é
amor, como também que aquele que ama
impulsionado pelo amor divino, dará a sua vida
pelos irmãos, tal como nosso Senhor Jesus Cristo
deu e tem dado a Sua vida por nós, não apenas no
sentido de ter morrido na cruz em nosso lugar, mas
por compartilhar os dons e a essência da Sua
própria vida divina conosco, pela comunhão que
temos com Ele em espírito.
Paulo diz que o amor de Deus é derramado
abundantemente em nossos corações pelo Espírito
Santo, como que querendo ensinar que não há
outra fonte na qual possamos achar o amor divino,
senão apenas na nossa comunhão com o Espírito
Santo, e submissão à transformação e disciplina que
Ele aplica em nós na regeneração (novo
nascimento) e na santificação.
Então se diz antes de tudo que o fruto do Espírito
Santo é o amor, e deste amor se destacam
particularidades que não se encontrarão no mero
afeto natural da alma humana.
Há portanto uma aplicação aos nossos espíritos,
pelo mover e poder do Espírito Santo, que derrama
o amor de Deus nos nossos corações, tornando-os
aptos a também a amarem tal como Jesus nos ama.
93
E muitas destas particularidades são destacadas
pelo apóstolo Paulo no texto de I Coríntios 13.
O amor de Cristo em nossos corações não carrega
consigo qualquer sombra de injustiça, ou de
comportamento
inconveniente,
e
está
completamente despojado de qualquer forma de
egoísmo.
O amor com o qual Cristo nos amou e com o qual
devemos amar, por buscarmos estar cheios do
Espírito Santo em nosso próprio espírito, pode
suportar ofensas, como também até mesmo amar
seus inimigos, enquanto lhes dá testemunho da
completa longanimidade que há em Cristo, em
benefício de suas próprias almas, para que tenham
a oportunidade de acharem o arrependimento pelo
qual possam encontrar a salvação ou a reconciliação
com Deus.
O amor de Deus derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo, nos torna cheios de esperança e
confiança no Senhor, e faz com que nosso espírito
seja inabalável e pronto para toda a boa obra,
inclusive ao serviço mais humilde e incansável em
favor do nosso próximo.
Como é pelo amor que se dá a plena comunhão dos
nossos espíritos com Deus, que é espírito, por isso,
o amor jamais acabará, diferentemente de todas as
demais coisas que estão sujeitas a terminarem um
94
dia, como os próprios dons sobrenaturais do
Espírito Santo relacionados nos capítulos 12 e 14 de
I aos Coríntios.
Por isso se afirma na Bíblia que todos os nossos atos
devem ser feitos com amor, e não meramente por
amor às pessoas, mas como ao próprio Cristo.
Por isso nosso Senhor afirma que tudo o que
tivermos feito com tal amor, até aos pequeninos
entre seus irmãos, está sendo feito a Ele próprio.
Não erremos portanto, o alvo e o vínculo da
perfeição espiritual, que é apenas o amor espiritual
de Jesus que é implantado em nós pelo Espírito
Santo.
95
Deus é Amor Porque é Puro Espírito
O
amor divino é marcado sobretudo pela
faculdade do espírito que é chamada de comunhão.
Isto significa dizer que se pode ter somente
comunhão em espírito, e a fonte desta comunhão é
o próprio Deus em nós, o qual é espírito.
Comunhão é ligação. É um cimento que liga seres
morais numa verdadeira união de querer, sentir e
realizar. É o compartilhar de vidas que se fundem
numa grande unidade.
A expiação do pecado pela morte de Jesus na cruz
objetivava principalmente este resultado relativo à
promoção da comunhão entre Deus e o homem.
Por isso o apóstolo Paulo destaca em I Cor 13 o
modo de manifestação deste amor, ou seja, desta
comunhão entre aqueles que se amam em espírito
no Senhor, dizendo que tal comunhão é
estabelecida em suportar com paciência
especialmente a debilidade dos que são fracos; e
que não se manifesta de modo invejoso ou
orgulhoso, nada fazendo que seja inconveniente, e
ainda que tal comunhão não é egoísta, e não se
96
fundamenta em iras, suspeitas ou injustiças, e que
sempre se alegra com a verdade e a justiça.
Assim, o amor tem o seu modo, porque a verdadeira
comunhão do espírito, e que sempre procede de
Deus, também tem o seu próprio modo ou caminho
para se manifestar.
Trocando em miúdos: se todas as virtudes
(benignidade, longanimidade, alegria, paz etc) que
promovem o amor são espirituais; então a
conclusão lógica é de somente em espírito, e em
espíritos purificados, podem abundar tais virtudes,
e por conseguinte, existir o amor divino.
Daí o nosso título: Deus é amor porque é puro
espírito.
Daí também, nosso Senhor ter afirmado que
importa que Deus seja adorado sempre em espírito
e em verdade.
O principal significado de tal afirmação é que
importa termos comunhão com Deus e uns com os
outros em espírito, porque o amor celestial, eterno,
divino, sempre emana do espírito, e nunca da alma
ou do corpo. Pode se manifestar através de ambos,
mas nunca terá neles a sua origem.
Foi por este motivo, que nosso Senhor relacionou
no discurso que proferiu a Nicodemos, o amor de
Deus à necessidade de se nascer de novo do Espírito
97
Santo, ou seja, de se ser gerado pelo Seu poder em
ser espiritual.
“1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado
Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi,
sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois
ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se
Deus não estiver com ele.
3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te
digo que se alguém não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus.
4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um
homem nascer, sendo velho? porventura pode
tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo
que se alguém não nascer da água e do Espírito, não
pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido
do Espírito é espírito.
7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos
é nascer de novo.
8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas
não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é
todo aquele que é nascido do Espírito.
98
9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto?
10 Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e
não entendes estas coisas?
11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos
o que sabemos e testemunhamos o que temos
visto; e não aceitais o nosso testemunho!
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes,
como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu
do céu, o Filho do homem.
14 E como Moisés levantou a serpente no deserto,
assim importa que o Filho do homem seja
levantado;
15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida
eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não
para que julgasse o mundo, mas para que o mundo
fosse salvo por ele.
99
18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê,
já está julgado; porquanto não crê no nome do
unigênito Filho de Deus.
19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os
homens amaram antes as trevas que a luz, porque
as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz,
e não vem para a luz, para que as suas obras não
sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim
de que seja manifesto que as suas obras são feitas
em Deus.” (Jo 3.1-21)
Veja o modo como nosso Senhor relacionou e pôs
em interdependência, no texto de João 3, estas
realidades celestiais, que nos vêm da parte de Deus
aqui embaixo na terra: espírito, amor, reino de
Deus, fé, luz e verdade. Ele fez isto porque na
verdade elas não podem existir separadamente.
A fé abre a porta para o reino de Deus, que se
manifesta em amor, ou seja, naqueles que nascem
do Espírito, para terem uma vida espiritual, e para a
comunhão com Deus e mutuamente com os demais
que têm também nascido do Espírito Santo, para
um caminhar na luz e na verdade.
100
O Amor não é Ciumento
Porquanto,
havendo entre vós ciúmes e
contendas, não é assim que sois carnais e andais
segundo o homem? (I Cor 3.3)
“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em
ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,”
(I Cor 13.4)
Não foi sem motivo que o apóstolo Paulo discorreu
sobre o detalhamento do amor ágape que procede
de Deus, na mesma epístola que escreveu aos
coríntios também lhes admoestando severamente
por causa dos ciúmes que havia entre eles e que
eram a principal causa das suas contendas.
Eles manifestavam preferências não somente pelos
próprios apóstolos, como entre eles mesmos, e com
isto, viviam em ruins suspeitas e rancores, que se
manifestavam externamente na forma de
contendas e de expressões de ressentimentos que
impediam que vivessem na unidade de amor no
Espírito.
A palavra grega “zelou” usada para ciúme nos textos
de I Cor 3.4 e 13.4, tanto possuía o significado de
101
estar cheio de raiva, ódio ou ciúme, em sentido
negativo, como também possuía o sentido positivo
de ser o objeto do zelo de outros para o nosso
próprio bem, como é o caso da referência que se faz
ao amor do Espírito Santo pelos cristãos em Tg 4.5.
Então há um ciúme que é gerador de divisões e
contendas, que não procede do Espírito Santo de
Deus, e é contra este tipo de ciúme que devemos
nos guardar.
Tal espírito ciumento é marcante especialmente
naqueles que são inseguros e que têm medo de
perder para outros a atenção de pessoas do seu
círculo de relacionamento.
Então o ciúme se instala no coração humano como
um tipo de ferrugem que corroerá aos poucos a
própria pessoa ciumenta, fazendo com que se torne
amarga e ressentida, ao mesmo tempo em que
produz grande desconforto naqueles que são o alvo
do seu ciúme, quer seja aquele que diz amar, quer
seja aquele que julga estar roubando o amor ou a
amizade da pessoa que ama.
Tão corrosivo é o espírito ciumento que em não
raros casos levará a pessoa que se deixa dominar
por ele, a enfermar até mesmo física e
emocionalmente.
102
Por isso, um cristão verdadeiro acabará vendo que,
por ser contrário ao espírito de Deus, que o espírito
de ciúme é um espírito odioso que deve ser evitado.
E então, sempre que ele perceber que suas emoções
estão subindo dentro dele em qualquer ocasião, ou
em relação a qualquer pessoa, se ele
for influenciado por um espírito cristão, ele ficará
alarmado com isto, e lutará contra isto.
Quem tem o amor do Espírito Santo derramado em
seu coração, e que portanto, tem amado com o
amor de Deus, não se sente inseguro em relação ao
objeto do seu amor. Não sufocará ninguém por
temor de perdê-lo para outra pessoa.
Como poderão todos os membros de uma
congregação viver em unidade amorosa, quando
alguns se permitem dominar por um espírito tão
perverso como o de ciúme?
É necessário lutar contra isto, porque senão, muitos
serão contaminados e até mesmo poderá dissolver
a congregação.
Por isso não são raras as passagens bíblicas que
alertam e advertem contra o perigo de haver ciúme,
inveja e contendas entre os cristãos.
Rom 13:13 “Andemos dignamente, como em pleno
dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias
e dissoluções, não em contendas e invejas.”.
103
II Cor 12.20 “Temo, pois, que, indo ter convosco,
não vos encontre na forma em que vos quero, e que
também vós me acheis diferentes do que
esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas,
iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e
tumultos.”.
Gál 5.19-21 “inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissensões, facções, invejas...”.
I Tim 6.4: “é enfatuado, nada entende, mas tem
mania por questões e contendas de palavras, de que
nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas
malignas,”.
Tito 3.3 “Pois nós também, outrora, éramos néscios,
desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte
de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja.
Odiosos e odiando-nos uns aos outros.”.
Tiago 3.14-16 “Se, pelo contrário, tendes em vosso
coração inveja amargurada e sentimento faccioso,
nem vos glorieis disso, nem mintais contra a
verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do
alto; antes, é terrena, animal, e demoníaca. Pois
onde há inveja e sentimento faccioso, aí há
confusão e toda espécie de cousas ruins.”
Mandemos embora, portanto, o ciúme de nossas
vidas.
104
No amor de Deus não há qualquer temor, inclusive
este de temer não ser amado, e ser abandonado,
preterido, por causa de outros.
Não permitamos que o ciúme habite no seu
coração, porque é um hóspede cuja intenção é a de
destruir a sua vida e amargar a de muitos outros.
Não devemos dar acolhida a este hóspede perverso,
porque ele nos disporá à pratica de muitos outros
pecados, como por exemplo o da difamação,
porque o ciúme procurará fazer acusações graves
contra a reputação das pessoas das quais sentimos
ciúme, para desmerece-las ou diminuí-las na estima
que recebem da parte daqueles que supostamente
amamos.
Dizemos supostamente porque o amor verdadeiro
não é ciumento, e não produzirá este terrível mal
naqueles que dizemos amar, lhes impedindo de se
relacionarem livremente com outros, por causa do
nosso ciúme.
Assim, devemos libertar a nós mesmos e libertar
também aqueles que são o objeto do nosso ciúme.
Lembremos sempre que uma pessoa ciumenta não
pode crescer na admiração e estima daqueles dos
quais sente ciúme, porque sempre verão o ciúme
como uma atitude de fraqueza e insegurança que
105
carrega consigo muitos outros males, e isto não é de
fato algo para ser admirado ou estimado.
Busquemos então ser conhecidos não como alguém
fraco e inseguro que não permite que os laços de
amor e amizade sejam estendidos entre muitos,
mas como alguém que promove a realização e
manutenção de tais laços.
Não será o ciúme que manterá o nosso cônjuge ao
nosso lado.
Não será o ciúme que preservará a companhia de
um amigo.
Não é tornando alguém inimigo daqueles que
julgamos serem nossos inimigos, que tornará este
alguém nosso amigo.
O amor é voluntário e necessita de liberdade de
expressão para continuar vivo.
Sufoquemos o amor, limitemos o amor, e ainda que
ele não morra, é certo que não poderá se expressar
com alegria, admiração e liberdade.
106
Como Amar o Cristo Invisível
Nunca será demais sempre recordarmos que o
Deus único e verdadeiro que servimos é invisível, e
que todas as realidades espirituais relativas ao seu
reino são também invisíveis.
A fé não necessita de qualquer apoio visível para ser
firmada e aumentada, ao contrário, as coisas
visíveis em relação à fé tendem à idolatria, e por
conseguinte, a extingui-la.
Amamos o Cristo invisível, disse o apóstolo Pedro, I
Pe 1.7,8.
Moisés declarou expressamente que o povo de
Israel não havia visto qualquer aparência de Deus
quando ele entrou em aliança com eles no Monte
Sinai, de modo a desencorajá-los de qualquer
adoração que não fosse dirigida exclusivamente à
Sua pessoa, Deut 4.12,15.
Nosso Senhor deu a seguinte ordenança à sua
Igreja:
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
107
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado.” (Mat 28.19,20a)
O discipulado é para Cristo e não para os próprios
ministros. Ninguém deve fazer discípulos para si
mesmo, e nem lhes ensinar para a própria
conveniência e interesse, senão fazer discípulos
para Cristo em relação a tudo o que ele nos tem
ordenado na Sua Palavra para ser guardado por
nós.
É portanto lamentável que tantos incentivem
pessoas a serem suas seguidoras, por saberem
dessa fraqueza da natureza carnal humana de
buscar apoio no que é visível para o exercício de sua
devoção religiosa.
É um triste engano pensar que é mais conveniente
firmar a fé em pessoas, porque são visíveis, do que
em Cristo, que não vemos com os olhos da carne, e
que pode ser somente conhecido em espírito com
os olhos da fé.
Por isso os próprios apóstolos de Cristo se
afadigavam no ensino da Palavra de Deus, porque
sabiam o quão danoso seria para os cristãos
tornarem-se, eles próprios, o fundamento da sua fé.
O que eles fizeram deve ser imitado por todos os
ministros do Senhor, que têm o dever de se
afadigarem na Palavra para apresentarem ao povo
somente a Cristo, e este crucificado.
108
Não é nossa missão apresentarmo-nos a nós
mesmos, senão somente Aquele que morreu e
ressuscitou por nós.
109
Sem Amar Não Somos Reais
“Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos; aquele que não
ama permanece na morte.” (1 João 3:14)
“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça
todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu
tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes,
se não tiver amor, nada serei.” (1 Coríntios 13:2)
O que se afirma nestes dois textos é que sem amar
não somos reais.
Sem o amor em nós nada somos.
Por que isto?
Porque fomos criados para sermos como Deus em
santidade e em amor. Deus é o eterno Eu Sou
porque é amor.
Então é o amor de Deus em nós que nos torna reais,
porque é somente assim que podemos existir em
conformidade com o seu propósito eterno em
relação a nós. Sem este amor somos apenas uma
pálida e evanescente imagem daquilo que
deveríamos ser.
110
Não é muito difícil aceitar ou entender esta
verdade, porque onde o amor não reina, o que reina
é a morte e a destruição - destruição de bons
sentimentos, de bons pensamentos, de bons
propósitos, de relacionamentos harmônicos, enfim
de tudo o que é verdadeiramente bom e
permanente.
Então afirma o apóstolo João que aquele que não
ama permanece morto espiritualmente - morto
para Deus, morto para a possibilidade de viver em
união com todos os demais que também amam.
111
Amor Perfeitamente Bom e Gentil
Deus não tem prazer em condenar ninguém.
Ele é tão puro, bom, amoroso e terno, que não seria
possível guardar qualquer indisposição perversa em
seu interior.
Pensamos muito mal sobre Deus quando pensamos
que ele está cheio de amargura, rancor ou
sentimentos semelhantes contra aqueles que vivem
no pecado.
Estes sentimentos são inerentes a criaturas caídas,
como nós, mas jamais poderiam ser imputados à
Majestade Santíssima do céu.
Nós que nos reprovamos, nós que nos condenamos,
nós que nos destruímos, nós que estamos cheios de
amarguras ressentidas que necessitam ser
expurgadas pela graça divina.
Apesar disso, o Senhor, em sua infinita bondade e
longanimidade, se compadece de nós, e nos
estende a mão para fazer sempre o que é bom para
nós.
112
Agora, não será de se admirar que Ele nada possa
fazer por aqueles que teimam de modo voluntário e
obstinado em viver na prática constante do mal; em
não consentirem em sequer investigar a causa do
bem e da justiça; que odeiam o amor e os que amam
o bem; que reprovam e condenam a si mesmos,
escolhendo o sofrimento eterno nestas cadeias de
ira, impureza, violência, malícia, indiferença, e em
tudo o que é negativo em que vivem.
Mas de tal ordem é a bondade de Deus, que ele
estenderá a mão e mudará a sorte, mesmo destes,
ainda que seja no final de suas vidas, quando se
voltarem para ele arrependidos em busca de perdão
e transformação.
Não é portanto por qualquer tipo de maldade que
exista em Deus que muitos serão achados afastados
para sempre dele e do seu amor. Não foi afinal,
Deus que assim o desejou, mas eles que assim
decidiram.
João 8.15: Vós julgais segundo a carne, eu a
ninguém julgo.
João 12.47: Se alguém ouvir as minhas palavras e
não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim
para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
113
Mateus 12.36: Digo-vos que de toda palavra frívola
que proferirem os homens, dela darão conta no Dia
do Juízo;
Mateus 12.37 porque, pelas tuas palavras, serás
justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado.
114
Permanecer no Amor e na Verdade
Desde que Deus criou o primeiro homem, séculos
e séculos se passaram.
Quão diferentes foram as gerações em sua própria
época quanto às artes, à tecnologia; aos processos
de produção, etc.
Todavia, a necessidade essencial básica do ser
humano, perante Deus, tem permanecido
inalterada.
Muito desta necessidade se refere a afetos,
intenções, e ao tipo de caráter que o homem deve
possuir.
Mais do que capacidade operativa, trabalho,
serviços, obras, espera-se o amor ao Senhor, o qual
se traduz muito mais nos pontos destacados
anteriormente, do que em qualquer outra coisa.
Esta verdade está claramente declarada na palavra
de repreensão dirigida por Jesus Cristo à Igreja de
Éfeso, em Apocalipse 2.4,5.
Ele também definiu o amor como sendo o guardar
os Seus mandamentos.
115
Note que a grande maioria destes mandamentos
pouco tem a ver com ações, e por isso, apesar de
terem sido numerosas as obras de Éfeso, Jesus
mostrou que eram dignos de repreensão porque
falhavam justamente no essencial.
Em outra passagem das Escrituras Jesus apontou o
valor do viver pela fé, quando disse aos judeus que
a obra que se esperava deles era que cressem nEle.
E que somente aqueles que permanecessem na Sua
Palavra seriam identificados como Seus discípulos.
Jesus nos foi enviado pelo Pai para nos ensinar e
aplicar em nossas vidas a fé, o arrependimento, a
adoração, a oração, o louvor, a paciência, a
longanimidade, a alegria, a misericórdia, a paz, o
perdão, a justiça, a mansidão, o amor..., coisas estas
que têm muito mais a ver com a necessidade da
nossa transformação individual, do que com as
nossas ações e obras, as quais a par de serem
importantes, nenhum valor terão diante de Deus, se
não forem acompanhadas por estas virtudes
citadas, que são possíveis de serem obtidas
somente pela graça, mediante a fé e santificação do
Espírito Santo.
Obras, conhecimento, política, investigação
científica e filosófica, tecnologia, e tudo o mais que
se relacione a este mundo e ao plano temporal, e
mesmo concílios religiosos, debates apologéticos,
116
processos para crescimento numérico de igrejas, e
outros assuntos correlatos, por si só, em nada
contribuem para o propósito de formar o homem
interior que é segundo o coração de Deus, pois isto
só é possível por meio da santificação na verdade, a
antiga verdade revelada na Bíblia conforme o
próprio Jesus afirmou em João 17.17: “Santifica-os
na verdade; a tua palavra é a verdade.”
Fujamos portanto, da tentação de desprezar a
meditação e prática bíblica em prol de
contextualizações modernas que nos afastam dos
princípios e mandamentos imutáveis da Palavra de
Deus, a bem de nossas próprias almas.
Examinemos tudo e retenhamos o que é bom,
porque afinal somente uma coisa é necessária, e de
nada aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro
e por fim perder a sua alma.
“Por esta razão, importa que nos apeguemos, com
mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas
jamais nos desviemos.” (Hebreus 2.1)
117
A Grande Prova do Amor
Uma das grandes provas da existência de Deus e do
Seu grande amor e poder, é o fato de que pessoas
tão fracas, incapazes, que mal conseguem se ocupar
dos seus próprios problemas e necessidades, se
dediquem de modo tão diligente e incansável em
buscar a salvação das almas e o bem eterno de seus
semelhantes; empenhando nisto todo o seu tempo
e vida.
Esquecidos de si mesmos são impulsionados pelo
poder de Deus e pelo infinito amor que Ele derrama
nos seus corações pela presença e ação do Espírito
Santo - gastam-se inteiramente como velas que
queimam para o único propósito de servirem de luz,
da luz de Jesus que neles brilha, para tirarem os seus
semelhantes das trevas e da escravidão ao pecado.
Bendito seja Deus pelo Seu inefável amor.
Bendito seja Deus que dá sentido às nossas pobres
vidas, enriquecendo-as com a Sua graça para que
cumpramos o Seu propósito de amar a humanidade
através de instrumentos tão fracos e imperfeitos
como nós.
A maior prova desse amor nos foi dada por Jesus, ao
derramar a Sua vida por nós na morte de cruz,
118
carregando sobre Si todos os nossos pecados, e para
que pudéssemos continuar recebendo esta vida
celestial e divina que alimenta e vivifica o nosso
espírito, para que possamos ter comunhão em amor
com Deus e com todos aqueles que o amam.
É de fato muito comprobatório da existência do Seu
amor, o fato de que morreu por pecadores, sem que
houvesse um único justo - alguém que fosse dotado
de uma natureza que não o inclinasse
continuamente para o mal e que não fosse seduzido
pelas paixões carnais que guerreiam contra a alma.
Nisto se comprova o amor, pois morreu por nós,
encontrando-nos na condição de pecadores, de
modo que pudéssemos viver pela Sua própria vida e
graça santificadora.
Em nenhuma religião e em nenhum outro Nome
será achada esta provisão de graça divina que faz
morrer a nossa velha natureza e que nos dota de
uma nova natureza, para que por esta possamos
viver de maneira vitoriosa sobre o pecado, o diabo
e o mundo de trevas.
Quando me sinto enfraquecido e inclinado a viver
segundo a carne e não segundo o Espírito, eu clamo
ao Senhor, pois sei que posso contar com a
assistência da sua poderosa graça, de modo que
digo juntamente com o salmista ao concluir o Salmo
119:
119
"Ando errante como ovelha desgarrada; procura o
teu servo, pois não me esqueço dos teus
mandamentos." (Salmo 119.176)
120
Deus Não me Ama!!!
Esta é a queixa de muitos, ainda que seja apenas no
recôndito de seus pensamentos.
E ela pode ser vista até mesmo, temporariamente,
em dados momentos da vida dos santos mais
eminentes, quando submetidos a circunstâncias
destinadas a provar a sua fé.
Todavia, esta queixa é uma constante naqueles que
não amam a Deus, quando as coisas não caminham
na direção que eles desejavam.
Apressadamente concluem: “posso comprovar isto
pelas minhas presentes condições de vida.”
“Por acaso é ser amado e assistido por Deus quando
se vive na pobreza em que tenho vivido?”
“Quando não se tem as qualificações, dons e
habilidades que tantas pessoas possuem e que lhes
faz pessoas prósperas neste mundo?”
“Por acaso é ser amado com esta enfermidade que
carrego por anos sucessivos?”
121
A esta lista de argumentos, muitos outros poderiam
ser acrescentados, mas estes poucos nos bastam
para ilustrarem o ponto que pretendemos enfocar.
Nesta noite de 10-05-2015 tive um sonho muito
revelador no qual vi pessoas que tinham profissões
que
não
demandavam
qualificações
empreendedoras, e nem mesmo capacitação para
resolver situações desafiadoras, uma vez que não
teriam a mínima possibilidade de atender a tais
requisitos. Caso fossem necessários, certamente
não permaneceriam empregadas.
Então ouvi uma voz que dizia alto e bom som: “Nisto
se comprova o amor e cuidado divino para com tais
pessoas.”
E isto se aplicava também aos que eram qualificados
para tais desempenhos, pois se não fosse pelos dons
e capacitações recebidas de Deus, jamais poderiam
cumprir as funções para as quais foram designadas
a desempenhar neste mundo.
Assim, soa muito estranha ao ouvido divino a
queixa de que não somos amados por Ele em razão
de não sermos habilitados, ou prósperos em bens
terrenos etc.
A declaração de Jesus relativa à viúva pobre destaca
muito mais o Seu amor e cuidado por ela, do que
122
propriamente um elogio ao fato de ter ofertado do
modo que é esperado por Deus.
Por acaso esta única passagem das Escrituras não é
bastante suficiente para exemplificar o amor de
Deus pelos que são pobres neste mundo?
E quanto ao que se queixa de sua enfermidade
prolongada... este não possui um grande motivo
para louvar a graça divina que o mantêm em vida?
Não lhe é dada a oportunidade de aumentar o seu
galardão pelo testemunho de uma boa consciência
para com Deus, e de paciência na tribulação?
Não podemos medir de fato o tamanho do amor e
cuidado de Deus por nós, pela régua curta e estreita
da nossa razão natural, quanto àquilo que somos ou
que possamos fazer, uma vez que é Ele que a tudo e
a todos governa, e dá a cada um segundo a medida
da sua própria capacidade.
Contentemo-nos portanto com a porção que Ele nos
tem designado neste mundo, e exaltemos em todas
as circunstâncias, o Seu grande, amoroso e
poderoso Nome.
123
Não Há Amor a Deus
Sem Obediência
A verdade relativa ao que Deus é em pessoa, e o
que Ele opera na humanidade, não é boa e
agradável somente ao próprio Deus como também
a nós.
Na realidade, não podemos estar em comunhão
amorosa com Deus sem estarmos santificados na
citada verdade,
à qual Jesus se referiu em sua oração em favor
daqueles que nele cressem, pedindo ao Pai que lhes
santificasse na verdade da Sua Palavra divina (João
17.17).
Por isso Ele define o amor não como mero
sentimento, mas sobretudo como prática dos seus
mandamentos (João 14.15,21; 15.10), conforme se
encontram registrados na Bíblia, porque são eles, e
somente eles, que definem a natureza celestial que
nos convém obter, e o padrão de comportamento
que dela decorre.
Antes de conhecer ao Senhor Jesus Cristo, pelas
Escrituras Sagradas, eu cria e havia criado um Jesus
124
a quem eu pensava amar, apesar de agir
contrariamente a tudo o que Ele nos tem ordenado.
Hoje, eu sei que estava enganado, porque Ele é o
mesmo para todos os que nele creem do modo pelo
qual convém crermos, e que somente podemos
chegar a este conhecimento por meio da conversão,
pelo arrependimento e pela fé nEle, e segundo a
instrução que recebemos do Espírito Santo, não
somente para conhecermos a sua vontade, como
também para ter o poder espiritual necessário para
cumpri-la, porque isto é possível somente pela
operação da sua graça que nos é concedida.
125
Nada Poderá nos Separar do Amor de
Deus
Satanás trabalha para que o cristão não saiba
ou
duvide que se encontra firme para sempre nas mãos
de Deus, como se afirma em Romanos 5.2 e em
muitas outras passagens bíblicas.
É impressionante como ele consegue cegar o cristão
para as afirmações feitas pelo próprio Jesus, como
esta que encontramos em Jo 10.27-29: “As minhas
ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas
me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará
da minha mão.
Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e
da mão do Pai ninguém pode arrebatar.”.
Ah, como isso fere ao diabo, saber que Ele não
poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus
genuinamente justificou e regenerou.
Por isso ele trabalha para infundir a dúvida no
cristão, de que pertence realmente a Deus para
sempre, e que Deus o aceita completamente como
filho, apesar de suas imperfeições e limitações.
126
O diabo deseja que você creia que de alguma forma,
você pode perder sua redenção e ele soprará sobre
você para que se sinta inseguro e intimidado.
Por isso você deve colocar o capacete da esperança
da salvação.
Esta esperança significa que você pode aguardá-la
como coisa segura e certa, porque Deus é fiel para
cumprir a promessa de salvá-lo eternamente e de
que ninguém tirará você das mãos de Jesus e das
mãos do Pai, como se lê em João 10.27-29 e
Romanos 8.32-39:
“João 10:27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz;
eu as conheço, e elas me seguem.
João 10:28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.
João 10:29 Aquilo que meu Pai me deu é maior do
que tudo; e da mão do Pai ninguém pode
arrebatar.”
“Rom 8:31 Que diremos, pois, à vista destas coisas?
Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Rom 8:32 Aquele que não poupou o seu próprio
Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura,
não nos dará graciosamente com ele todas as
coisas?
127
Rom 8:33 Quem intentará acusação contra os
eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
Rom 8:34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem
morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à
direita de Deus e também intercede por nós.
Rom 8:35 Quem nos separará do amor de Cristo?
Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou
fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?
Rom 8:36 Como está escrito: Por amor de ti, somos
entregues à morte o dia todo, fomos considerados
como ovelhas para o matadouro.
Rom 8:37 Em todas estas coisas, porém, somos mais
que vencedores, por meio daquele que nos amou.
Rom 8:38 Porque eu estou bem certo de que nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as coisas do presente, nem do
porvir, nem os poderes,
Rom 8:39 nem a altura, nem a profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor.”
128
Um Pai Amoroso
Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita
na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e
santo lugar habito; como também com o contrito e
abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.
16 Porque não contenderei para sempre, nem
continuamente me indignarei; porque o espírito
perante a minha face se desfaleceria, e as almas que
eu fiz.
17 Pela iniquidade da sua avareza me indignei, e
o feri; escondi-me, e indignei-me; contudo,
rebelde, seguiu o caminho do seu coração.
18 Eu vejo os seus caminhos, e o sararei, e o guiarei,
e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que
dentre eles choram.".
O propósito de Deus é o de reavivar o espírito do
humilde, e o coração do arrependido (verso 15), e
Ele apresenta a razão disto, a saber que se Ele não
agisse com amor infinito e condescendência em
relação a eles, mas lidasse com eles lhes dando a
justa retribuição às suas transgressões, eles seriam
totalmente consumidos (verso 16).
129
Porém, na realização deste trabalho de cura, Ele
tem que usar alguns remédios amargos para a
recuperação espiritual deles.
Por causa da iniquidade da cobiça deles (verso
17) que era a sua principal doença, eles foram
feridos pelo Senhor e Ele escondeu a Sua face deles,
porque isto seria necessário para que fossem
curados.
Mas como eles se comportaram debaixo deste
procedimento de Deus em relação a eles?
Rebelaram-se e continuaram
perversidade do seu coração.
seguindo
a
Então como faz este Consolador Santo para lidar
agora com eles?
Ele os deixa entregues à sua enfermidade?
Ele os abandona?
Não, porque um pai amoroso não lidará assim com
os seus filhos.
E a promessa feita por Deus é que Ele agiria conosco
tal com um pai consolando seus filhos.
Ele realizará o Seu trabalho com tal amor infinito,
ternura e compaixão, que isso superará todas as
transgressões, e não cessará até que Ele tenha
130
efetivamente administrado a necessária consolação
a eles (verso 18).
Ele agirá nos termos da aliança que fez com eles por
meio de Jesus Cristo de ser o Deus e Pai deles para
sempre.
Então os corrigirá em amor para participarem da
Sua santidade.
Ele os aperfeiçoará no Seu amor. E tudo fará para
conduzi-los a isto.
131
“A misericórdia triunfa sobre o juízo.”
(Tiago 2.13b)
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Estudo e Memorização
O que teria levado o apóstolo Tiago a fazer tal
afirmação senão o fato de saber que nos
encontramos, desde que Jesus morreu e
ressuscitou, na dispensação da Graça, em que
vigora uma nova aliança com Israel, na qual não
apenas a nação de Israel é considerada o povo da
aliança, como no período do Velho Testamento,
mas todas as pessoas de todas as nações que
estejam unidas a Cristo pela fé.
Nesta é exigido que os aliançados sejam
misericordiosos para com todos os pecadores,
assim como Deus tem sido plenamente
misericordioso para conosco.
Ele determinou ser completamente longânimo e
misericordioso nesta dispensação, inclusive para
com os Seus inimigos que vivem deliberadamente
na impiedade, e não apenas com aqueles que
tivessem sido alcançados pela Graça, tendo sido
justificados pela fé nEle no período da dispensação
da Lei, e mesmo antes deste período, conforme foi
132
o caso por exemplo de Enoque, Noé, Abraão, entre
outros.
Que a misericórdia triunfa sobre o juízo está sendo
patentemente demonstrado pelo Senhor nesta
dispensação da Graça; pois todos os que se
arrependem de seus pecados e que simplesmente
confiam em Cristo, são perdoados.
Nunca antes de Jesus ter feito a expiação dos nossos
pecados na cruz do Calvário, e ter instituído uma
Nova Aliança com base no sangue do Seu sacrifico,
houve na Terra uma tal disponibilidade de graça
salvadora e misericordiosa para todas as nações –
as páginas do Velho Testamento demonstram este
fato, especialmente nos chamados livros históricos.
Como o juízo divino é estabelecido com base na
transgressão da Sua Lei, a qual é o reflexo exato da
Sua vontade, então podemos dizer que a Graça tem
triunfado sobre a Lei nesta presente dispensação,
porque é por meio dela que somos resgatados da
condenação da Lei, no que tange aos juízos da Lei,
por causa da nossa fé em Jesus Cristo, pois somos
considerados por Deus como tendo morrido para a
Lei, por termos sido considerados participantes da
morte de Cristo na cruz – e a Lei não tem poder
sobre mortos, senão somente sobre quem está vivo.
A Lei e a Graça pertencem à mesma fonte que é
Deus, mas a Lei não pode ser eficaz para a nossa
133
salvação e livramento do poder do pecado, porque
é somente uma norma e não um poder. Ela assim,
ao contrário, em vez de nos ajudar eficazmente
neste propósito da nossa salvação, nos condena
justamente,
porque
somos
pecadores
transgressores da vontade de Deus.
Então este trabalho eficaz poderia ser realizado
somente pela Graça, que não somente nos perdoa,
como também é o poder que mortifica o pecado que
habita em nossa natureza terrena. Não se pense
entretanto na Lei e na Graça como sendo coisas
antagônicas. Ambas concorrem juntamente para o
propósito da nossa salvação.
A Lei, conduzindo-nos ao conhecimento da vontade
de Deus, e da Sua bondade e juízos, e ao
convencimento da nossa condição pecaminosa,
juntamente com o testemunho do Espírito Santo, e
a Graça, nos capacitando a viver em conformidade
com as exigências da Lei, até aquela perfeição de
obediência que teremos à vontade de Deus quando
formos introduzidos na glória celestial.
De maneira que a Graça não anula a Lei, antes a
confirma, pois nos foi dada com o propósito de
vivermos eternamente com Deus com uma justiça
que excede até mesmo em muito todas as
exigências da Lei de Moisés.
134
Assim que nem sequer um jota ou til serão
eliminados da Lei até que tudo se cumpra, quando
Cristo entregar o Reino ao Pai no qual não mais
existirá o pecado, e por conseguinte a necessidade
de uma Lei escrita, porque “não se promulga Lei
para quem é justo, mas para transgressores e
rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e
profanos, parricidas e matricidas, homicidas,
impuros, sodomitas, raptores de homens,
mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à
sã doutrina,” – I Tim 1.9,10
135
O Amor às Trevas Impede o Vir Para
a Luz
Tão grande é a corrupção do coração humano, que
somente o Senhor conhece a fundo, como Ele
afirma através do profeta Jeremias.
Tão grande é o pecado que grassa em toda a
humanidade, desde a queda de Adão, que ao
homem natural, que não possui o Espírito do
Senhor, as profecias bíblicas parecem um exagero
de uma exortação à busca de um padrão inatingível,
e de fato o é, para aquele que não tiver o auxílio da
graça do Senhor, não somente para conhecer a
corrupção do seu coração, quanto para ser
transformado em uma nova criatura, coparticipante
da natureza divina.
Tão elevado é o padrão de vida espiritual divina, e
que não sendo algo deste mundo, mas que se
recebe do alto por meio da fé, que parece algo
totalmente estranho e até mesmo um motivo de
escândalo e loucura para o homem natural, como o
apóstolo Paulo afirma em sua primeira epístola aos
Coríntios.
Muitos chegam até mesmo a considerar as palavras
do criador do Universo, como palavras da mais
136
profunda ingenuidade, uma vez que consideram
que é utópico exigir do homem algo que não faz
parte da sua natureza. Como que se lhe pedisse que
tivesse a inocência de um bebê.
Na verdade, o que Deus exige do homem não é
próprio da sua natureza terrena decaída no pecado,
e se quiser ser restaurado à imagem e semelhança
com Cristo, terá que receber isto de fora, do alto, do
Espírito Santo.
Não admira que Jesus disse que se alguém quiser
entrar no reino do céu terá que se fazer como uma
criança e nascer de novo do Espírito.
Assim, quando não se dá crédito ao amor divino, à
paz divina, à justiça e à santidade divinas, e a tudo
o mais que faz parte do caráter de Deus, como
também a Sua perfeita bondade, misericórdia,
longanimidade, e todos os demais atributos que o
caracterizam como Deus, dificilmente se alcançará a
salvação, que demanda nosso arrependimento e
conversão a tais atributos.
Então, pode parecer aos que justificam a si mesmos
em suas más obras, sob a alegação de que o padrão
de exigência divino revelado na Bíblia para o
homem seja algo inatingível, utópico, ingênuo, ou
que se lhe dê a adjetivação que se quiser, no
entanto, ele permanece imutável e real,
demandando de todo homem que se arrependa e
137
que se purifique de seus pecados no sangue de
Cristo, sem o que, será sujeito ao juízo eterno de
Deus, que haverá de se manifestar no futuro, por ter
recusado mudar pelo recebimento da justiça de
Cristo que Ele está oferecendo gratuitamente a
todos na dispensação da graça. .
Como não chegamos a conhecer Adão e Eva quando
se encontravam em perfeição absoluta no jardim do
Éden, e nem as condições de perfeição que havia em
toda a criação, antes de o homem e a terra terem
sido amaldiçoados por Deus por causa do pecado,
então, torna-se não apenas difícil, mas até mesmo
impossível, conceber como seria a nossa vida sem
qualquer pecado, ou influência do pecado. Agora,
conscientes ou não da realidade do pecado, Deus
nos impõe responsabilidade por todos os nossos
atos, pensamentos e omissões perante Ele, porque
nos tem estendido a possibilidade de optarmos por
um viver em consonância com o que Ele havia
planejado para que fôssemos, simplesmente pela fé
nEle, que nos faz participantes da Sua graça, pela
qual somos transformados. E a imputação desta
responsabilidade
traz
em
consequência
recompensas e bênçãos para os obedientes, e
castigos e juízos sobre aqueles que Lhe
desobedecem.
É exatamente a revelação desta realidade que
achamos nos escritos bíblicos, e especialmente nos
profetas, protestando veementemente contra os
138
pecados não somente do povo de Deus, mas de toda
a humanidade, não por motivos de uma afetação
moralista, mas para o cumprimento do propósito de
Deus de que haja paz e amor entre os homens. Não
vemos por isso, um Deus justo negociando com
pecadores nos termos dos pecados deles, lhes
fazendo concessões ou lhes dando promessas de
suspensão de Seus juízos, ainda que não se
disponham a mudar o seu procedimento, porque
afinal, lhes preparou um escape, um meio de
fazerem a Sua vontade, através da fé em Jesus
Cristo.
Deste modo, todo o povo de Israel é conclamado a
escutar, especialmente os sacerdotes e a corte do
rei, porque é declarado que o juízo era contra eles,
dado terem sido um laço e uma rede na qual
apanharam todo o povo de Israel, mantendo-os
presos aos seus pecados (Os 4.1). As coisas que eles
faziam em oculto e toda a prostituição cultual deles
estava patente aos olhos do Senhor, que é
Onipresente e Onisciente. Procedendo daquela
forma não podiam se voltar para Deus e fazer a Sua
vontade, porque estavam dominados por um
espírito de prostituição ao qual haviam se
afeiçoado, e por causa do qual não podiam
conhecer ao Senhor. Se o homem não se humilhar e
não reconhecer que é dependente do Senhor para
poder fazer a Sua vontade, não receberá graça dEle
para que possa estar de pé na Sua presença, por um
procedimento que Lhe seja agradável.
139
E se não houver a operação da graça, a iniquidade
se espalhará em seu coração, e tornará cada vez
mais difícil que venha a se humilhar diante do
Senhor para que seja salvo de seus pecados, porque
em vivendo no pecado, sequer ocupará seus
pensamentos com a existência de Deus, quanto
mais sobre a necessidade de conhecê-lO de modo
pessoal e íntimo, e também a Sua vontade, para que
seja praticada e obedecida. Porque para se ter o real
conhecimento de Deus é necessário que sejamos
transformados paulatinamente à semelhança do
seu caráter divino.
Por isso nem todos se dispõem a isto, porque estão
apegados à vida que é contrária a quase tudo o que
existe no caráter de Deus. Quando o coração está
endurecido de tal forma, nada adianta religiosidade
externa manifestada em ritos e cerimônias, com o
fito de desviar a ira de Deus, como por exemplo a
apresentação de sacrifícios que os israelitas
costumavam fazer, porque não será desta forma
que o Senhor se deixará achar, senão somente por
uma real conversão de coração.
Judá deveria aprender dos juízos que seriam
trazidos pelo Senhor a Israel, quando fossem
levados ao cativeiro pela Assíria, e assim, tanto Judá
quanto a tribo de Benjamim que se encontravam no
Reino do Sul, deveriam evitar incorrer no mesmo
juízo, desviando-se de seus pecados.
140
Todavia, o Senhor tinha uma contenda com os
príncipes de Judá que não mantinham os marcos
que se encontravam amarrados na Lei, e que os
alteravam segundo as suas conveniências
interesseiras. Seria vã a busca de Israel de auxílio na
Assíria, para ser livrado das nações que lhe
oprimissem, porque seria a própria Assíria que os
conduziria ao cativeiro.
A chaga dos pecados de Efraim havia se tornado
incurável, e somente lhe aguardava a hora da sua
visitação. O Senhor mesmo entraria em juízo tanto
com Israel quanto com Judá e não haveria portanto,
quem pudesse livrá-los de suas mãos. Ele se
retiraria deles até que se reconhecessem culpados e
buscassem a Sua face, e o Senhor sabia que eles o
fariam quando estivessem angustiados, e logo o
buscariam confessando os seus pecados.
Baseado em Oseias 5
141
Viver no Amor de Deus
O amor divino é oposto à malícia e toda forma de
maldade, porque o amor é benigno.
à inveja e ao ciúme, porque o amor não é invejoso
ou ciumento.
à busca de glória pessoal em coisas vãs, porque o
amor não se vangloria.
à soberba, ou seja, ao orgulho, porque o amor não
é soberbo.
à falta de sobriedade e moderação, porque o amor
nunca se porta inconvenientemente.
Ao egoísmo, porque o amor não busca os seus
próprios interesses, mas os de Cristo.
O amor é também oposto à impaciência, porque o
amor não se exaspera, ou seja, ele não se irrita,
não se deixando provocar facilmente, sobretudo
quando provado pelas injustiças e perseguições.
O amor não é vingativo, porque nunca se ressente
do mal que lhe façam.
142
O amor é também oposto à injustiça, porque se
alegra somente com a prática da justiça.
E é também oposto à mentira, porque o amor se
alegra somente com a verdade.
A intolerância, porque o amor tudo pode sofrer e
jamais desistirá de amar.
A incredulidade, porque o amor crê em tudo o que
a boca do Senhor tem proferido na Sua Palavra.
É também oposto à desesperança, porque o amor
sempre esperará com firme confiança no Senhor, no
cumprimento de todas as boas promessas que nos
fez na Bíblia.
O amor é também oposto ao desânimo diante das
dificuldades porque o amor tudo suporta, e
portanto, nada pode destruí-lo. E é por tudo isso
que o amor jamais acaba.
143
Alegria e Paz na Comunhão com Jesus
Quando descobrimos quem é de fato o Senhor
Jesus e o quanto Ele nos ama e cuida de nós, a
consequência natural é que nos regozijaremos
sempre nEle, e manifestaremos isto com a nossa
adoração e louvor voluntários, com alegria de
coração.
Quando crescemos no conhecimento da graça e de
Jesus, e passamos a conhecer cada vez melhor, qual
é o caráter, amoroso, justo e bondoso do nosso Rei,
nada deste mundo poderá nos tornar insatisfeitos.
Tudo suportaremos por amor a Ele com alegria em
nossos corações, não somente como expressão de
nossa gratidão, mas, sobretudo, porque será
impossível viver de outro modo, estando
permanentemente em espírito diante da Sua
Grandeza e Majestade.
Ainda que sejamos contristados por breve tempo
com muitas aflições, estas não podem roubar a
alegria que temos na nossa comunhão com o
Senhor.
Podemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo,
as seguintes palavras:
144
” Em tudo somos atribulados, porém não
angustiados; perplexos, porém não desanimados;
perseguidos, porém não desamparados; abatidos,
porém não destruídos; levando sempre no corpo o
morrer de Jesus, para que também a sua vida se
manifeste em nosso corpo.” – 2 Coríntios 4:8-10
Esta alegria sobrenatural, que é fruto do Espírito,
habita em nosso coração de tal maneira que
podemos ser achados contentes em toda e qualquer
circunstância.
Nós podemos aprender isto, assim como Paulo
havia aprendido (Fp 4.11).
A alegria e coroa dos ministros do evangelho é ver
que seus amados irmãos, que estão sob o seu
cuidado permanecem firmes no Senhor,
perseverando na fé em meio às tribulações que têm
que enfrentar neste mundo, com a plena convicção
de que por maiores e duradouras que sejam estas
tribulações, pode ser dito delas que são leves e
passageiras, comparadas com o peso de glória a ser
revelado àqueles que perseveram (2 Cor 4.16,17).
Agora, esta alegria que os crentes têm em Cristo não
é uma alegria carnal, ou seja, oriunda da carne, que
tenha seus motivos na carne. É alegria puramente
espiritual.
145
Nem mesmo as nossas presentes necessidades
neste mundo são motivo para nos roubar esta
alegria espiritual no Senhor, porque devemos
aprender a não andar ansiosos por coisa alguma; ao
mesmo tempo em que devemos fazer conhecidos os
nossos pedidos diante de Deus por meio da oração
e da súplica, sendo-Lhe gratos pelas respostas que
nos der, ainda que seja um “não”, ou um “espere”;
porque é somente assim, reconhecendo Sua
soberania, que a Sua paz poderá guardar nosso
coração e nosso pensamento, em nossa comunhão
com Cristo Jesus (Fp 4.6).
Como esta alegria é fruto da graça, onde ela estiver
presente também será achada a paz espiritual que é
outro fruto da graça. Esta paz não significa ausência
de problemas ou a realização de todas as nossas
aspirações. A paz que Deus nos dá é sobrenatural.
Ela não pode ser explicada pela razão, porque
excede todo o entendimento.
É paz comunicada diretamente ao nosso espírito,
pelo Espírito de Deus. Ela não é o fruto dos nossos
pensamentos.
É paz no meio do conflito, a qual nos visita muitas
vezes inesperadamente; vinda do alto, como
resposta à nossa oração e comunhão com o Senhor,
e permanece em nós ao lado da gratidão, da alegria
e do amor, enquanto permanecermos nesta
comunhão.
146
Deste modo, é requerida uma real santificação de
nossas vidas para a preservação desta alegria, paz e
comunhão com Deus.
Sem santificação não podemos ter o nosso
pensamento fixado naquilo que é verdadeiro,
honesto, justo, puro, amável, de boa fama e que
possua virtude e louvor (Fp 4.8).
Não admira portanto que aqueles que vivem em
comunhão mental com coisas que sejam
abomináveis ao Senhor, se queixem de terem falta
de alegria e paz espiritual. Eles poderão até mesmo
exibir um comportamento alegre, mas será uma
alegria oriunda da carne, e não do Espírito Santo,
cujo fruto é também alegria.
Deus é inteiramente santo e justo. Ele é luz perfeita.
Ele é perfeito amor e bondade.
Então, que comunhão poderíamos ter com Ele, nos
agradando das coisas que são das trevas e
rejeitando aquelas que são da luz?
A nossa mente corrompida pelo pecado original
deve ser renovada pelo Espírito Santo, com a
Palavra de Deus e as coisas que são aprovadas, a
saber, que são verdadeiras, honestas, justas, puras,
amáveis, e que possuam boa fama, virtude e louvor.
Por isso não é possível amar o mundo, as coisas
reprovadas que há no mundo, e ter ao mesmo
tempo, o amor e a aprovação de Deus.
147
Não há um caminho fácil para a paz. Não há um
caminho fácil para a consolação do Espírito Santo,
porque Ele sempre santificará primeiro, e depois
consolará. Não se pode contar com Sua consolação
enquanto permanecemos deliberadamente na
prática do pecado, amando as trevas, em vez da luz.
Mas todo aquele que se consagrar ao Senhor,
sujeitando-se à disciplina do Espírito Santo, poderá
dizer junto com o apóstolo: “posso todas as coisas
naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
148
Prova-se o Amor a Deus Pela
Obediência à Sua Palavra
É muito comum se ouvir de lábios que professam
amar a Deus coisas que contrariam completamente
a Sua Palavra. Por mais sincero que seja o
pensamento de que se ama a Deus de fato, neste
caso, não há realmente qualquer amor a Ele afinal.
O Deus e Pai de nosso Jesus Cristo, e o próprio Jesus
têm definido na Bíblia que é somente aquele que
honra e guarda a Sua Palavra que o ama de fato.
Desta forma, quando alguém afirma que não há
qualquer tipo de morte porque todos vivem para
sempre no amor divino, ele está indo diretamente
na contramão de tudo o que a Bíblia afirma de capa
a capa; pois, segundo a Palavra de Deus, não há
somente morte física, como também espiritual e
eterna.
Nisto e em muitas outras afirmações que sejam
feitas, ainda que com a intenção de ser tão amoroso
e bom, segundo o seu próprio modo de pensar, até
o ponto de superar a própria bondade e amor de
Deus, é escolher viver em auto ilusão e de maneira
excluída do amor e comunhão com Deus, porque
esta comunhão é possível somente quando se honra
149
e se obedece a toda palavra que procede da boca de
Deus nas Escrituras Sagradas.
Foi justamente para livrar da condição de morte
espiritual e eterna que Jesus se manifestou, e este
benefício é exclusivo para aqueles que nele creem e
guardam a Sua Palavra.
“Nada acrescentareis à palavra que vos mando,
nem diminuireis dela, para que guardeis os
mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vos
mando.” (Deuteronômio 4.2)
“ Aquele que tem os meus mandamentos e os
guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama
será amado por meu Pai, e eu também o amarei e
me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas, não o
Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para
manifestar-te a nós e não ao mundo? Respondeu
Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha
palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e
faremos nele morada. Quem não me ama não
guarda as minhas palavras; e a palavra que estais
ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.”
– João 14:21-24
“ Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia
deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer
acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa
das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a
sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das
150
coisas que se acham escritas neste livro.” –
Apocalipse 22:18-19
151
Encerraremos o nosso livro com um sermão em
domínio público de Charles Haddon Spurgeon que
traduzimos do original em inglês.
Membros de Cristo
“Porque somos membros do seu corpo, da sua
carne e dos seus ossos.” Efésios 5.30
Ontem, quando eu tive a dolorosa tarefa de falar
no funeral de nosso querido amigo, o Sr. William
Olney, falei sobre o texto que eu vou usá-lo
novamente agora. O estou retomando porque eu
realmente não preguei sobre esse texto, senão que
apenas trouxe à memória de vocês uma expressão
favorita dele que eu ouvi muitas vezes de seus
lábios em oração. Ele frequentemente falou de
sermos um com Cristo numa união viva, amorosa,
duradoura, três palavras que, além de serem uma
aliteração são muito descritivas da natureza de
nossa união com Cristo. Essas três palavras, vocês se
lembrarão, foi o título do meu sermão na presença
dessa congregação notável que encheu este lugar
para honrar a memória do nosso irmão, cuja maior
ambição era honrar seu Senhor, a quem ele serviu
tão fielmente.
152
Paulo aqui se refere unicamente aos verdadeiros
crentes, homens que receberam a vida pela graça
divina e são feitos vivos para Deus. Desses afirma,
não por ficção, nem por exagero poético, senão por
um fato indiscutível: “Nós somos membros do seu
corpo, da sua carne e dos seus ossos.” Que há uma
real união entre Cristo e o Seu povo não é uma
ficção, nem o sonho de uma imaginação febril. O
pecado nos separou de Deus, e para desfazer o que
o pecado tem produzido, Cristo nos une a si mesmo
numa união real maior do que qualquer outra união
no mundo.
Esta união é muito próxima e muito amorosa e
completa. Estamos tão perto de Cristo, que não
poderíamos chegar mais perto, porque nós somos
um com Ele. Somos tão amados por Cristo que já
não podemos ser mais amados. Considere quão
íntimo e terno é o vínculo, quando é certo que Cristo
nos amou e se entregou por nós. É uma união mais
íntima do que qualquer outra que possa existir
entre os homens. “Ninguém tem maior amor do que
este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.”
Éramos seus inimigos quando Cristo morreu para
nos salvar e um com Ele, que dEle obtivemos a nossa
vida, e nEle está escondida essa mesma vida. É,
portanto, uma união muito amada e muito próxima,
que Cristo tem estabelecido entre Ele e Seus
remidos; e esta união não poderia ser mais
completa do que é.
153
É também uma união extremamente maravilhosa.
Quanto mais vocês pensarem nela, mais
surpreendidos ficarão, e serão possuídos de um
santo temor diante dessa maravilha da graça. Kent
disse muito bem:
” Oh sagrada união, firme e forte,
Como é grande a graça, quão doce a canção ,
Que vermes da terra possam ser
Um com a Divindade Encarnada!”
Porém, é assim. Até mesmo a encarnação de Cristo
não é mais maravilhosa do que a sua união viva com
o Seu povo. É algo que devemos considerar
frequentemente; é a maravilha dos céus; é a mais
importante das coisas que “os anjos anseiam
observar”. Talvez eles não possam ver muito sobre
a superfície desta verdade, mas quanto mais se
dedicarem à sua contemplação, e na medida em
que, em sua meditação receberem a ajuda do
Espírito Santo, poderão ver mais neste maravilhoso
mar de vidro misturado com fogo. A minha alma se
alegra com a doutrina de que Cristo e Seu povo são
eternamente um.
Esta é uma doutrina muito consoladora. Quem a
entende tem um oceano de música em sua alma.
Quem realmente pode entendê-la e alimentar-se
dela, se sentará muitas vezes em lugares celestiais
com o seu Senhor, e terá uma antecipação do dia,
quando estiver com Ele e for semelhante a Ele.
154
Mesmo agora, uma vez que somos um com Ele, não
há distância entre nós, estamos mais perto dele do
que poderíamos estar de qualquer outra coisa. A
própria ideia de união nos faz esquecer toda
distância: verdadeiramente, a distância é
aniquilada completamente. O amor nos une tão
intimamente com Cristo, que ele se torna mais para
nós do que nosso próprio ser, e embora não o
vejamos, contudo, pela fé, nos regozijamos com
alegria indizível e cheia de glória.
Aliás, posso dizer que esta doutrina é muito prática.
Não é apenas um torrão de açúcar para sua boca; é
uma luz para o seu caminho, pois “Aquele que diz
que permanece nele, esse deve andar como ele
andou.” Devemos cuidar para que o amor que
rodeava os pés de Cristo, esteja sempre brilhando
em nosso caminho. Devemos tentar fazer o bem,
seguindo os passos de nosso Senhor. Seria
desmentir esta doutrina se vivêssemos em pecado;
pois, se formos um com Ele, então devemos estar
no mundo como ele estava; e cheio do Seu Espírito,
devemos buscar reproduzir a Sua vida diante do
mundo.
Estes pensamentos podem nos servir como uma
introdução para uma consideração mais completa
deste grande assunto; começarei dizendo que, na
Sagrada Escritura, a união entre Cristo e Seu povo é
explicada de várias maneiras. Então eu vou tentar
mostrar que a metáfora do nosso texto está cheia
155
de significado; e, em terceiro lugar, lhes
demonstrarei que a doutrina da nossa união com
Cristo tem suas lições práticas. Ao deleitar os nossos
corações com a verdade gloriosa de que “somos
membros do seu corpo, da sua carne e dos seus
ossos”, tenhamos a determinação de viver como
aqueles que estão assim unidos ao Senhor da vida!
I. Nosso primeiro pensamento é que esta união é
explicada de várias maneiras. Este fato bendito está
acima do nosso mais elevado pensamento: não nos
surpreende então, que a linguagem não consiga
descrevê-lo de forma adequada! Símile após símile
é usado. Eu somente vou mencionar quatro deles.
A união entre Cristo e o crente é descrita como a
união do fundamento (alicerce) e a pedra.
“Achegando-nos a ele, pedra viva, rejeitada, na
verdade pelos homens, mas para Deus, escolhida e
preciosa, vós também, como pedras vivas, sois
edificados como casa espiritual”. Estamos sobre Ele
da mesma forma que a pedra repousa sobre o
alicerce. Bem podemos cantar:
“Toda a minha esperança em Ti está posta,
Toda a minha ajuda de Ti a tenho!”
Em sua dependência, a pedra é uma com o alicerce.
No momento da nossa necessidade, mais nos
apertamos a Cristo; quanto mais os nossos corações
estejam aflitos, mais lançamos toda a nossa
156
ansiedade sobre Ele. É a pedra que adere à fundação
(alicerce). É possível que o vento leve uma pedra
leve. Mas nos agarramos a Ele em todo o tempo,
confiando inteiramente nEle, assim como a pedra
repousa sobre a rocha que está embaixo. A pedra
não suporta o seu próprio peso: somente descansa
ali onde é colocada. Então nós descansamos em
Cristo. Ele é o fundamento e descansamos nEle.
Além disso, a pedra adere ao alicerce, formando
uma unidade. No decurso do tempo, a pedra fica
muito mais ligada à fundação. Quando a massa é
colocada no início, e está úmida, vocês poderiam
agitar a pedra. Mas logo que a massa se seca, a
pedra fica colada ao cimento, e se mantém firme.
Nas velhas muralhas romanas, você não poderia
remover uma pedra, porque o cimento que une uma
pedra a outra, é tão forte quanto a própria pedra, e,
de fato, o que nos une a Cristo é mais forte do que
nós. Podemos ser quebrados, mas o vínculo de
amor que nos sustenta em Cristo como um
poderoso cimento, nosso fundamento, nunca pode
ser quebrado.
Na verdade, nós nos tornamos um com Ele, como já
muitas vezes tenho visto pedras nas paredes de um
antigo castelo se tornarem uma com a outra. Você
não pode separá-las, elas estavam formando uma
única peça com a parede, e teria sido necessário
destruir a parede antes que pudessem separar as
pedras uma das outras. Da mesma forma, nós, pela
157
graça de Deus, temos nos tornado um com Cristo,
experimental e indissoluvelmente. O passar dos
anos nos tem ligado a ele ainda mais fortemente.
Além disso, na sua concepção, a pedra é uma com o
fundamento. Quando o arquiteto colocou a pedra
estava seguindo seu plano. Ele projetou a fundação
e pensou sobre cada item, e a pedra é essencial para
a parede, assim como a fundação é essencial para a
pedra. Da mesma forma, somos um com Cristo no
plano de Deus. Dizemos com reverência que o
propósito de Deus inclui não apenas Cristo, mas
toda a companhia dos seus eleitos, e sem o seu povo
escolhido, o projeto do Senhor nunca poderia ser
realizado.
Ele está construindo um templo para o seu louvor;
porém um templo não pode ser apenas uma
fundação. Cada pedra na parede é necessária; no
propósito divino, é necessário que uma pessoa seja
uma pedra viva, e é preciso que outra seja outra
pedra viva. Os mais fracos e mais humildes do povo
do Senhor são tão necessários como os mais nobres
e mais formosos, mas certamente nenhum dos
membros é digno de louvor enquanto não tiver sido
incorporada à parede.
Quem elegeu a Cristo, elegeu todo o Seu povo; Ele
ordenou que fossem construídos em conjunto, e
nele “todo o edifício, bem ajustado, cresce para
templo santo no Senhor.” Ah, eu gosto de pensar
que cada um de nós, independentemente de quão
158
insignificantes sejamos, somos tijolos ou pedras
nesse grandioso templo de graça todo-poderosa!
Talvez alguns membros estejam colocados onde
todos possam vê-los. Outros podem estar
embutidos na parede, onde ninguém pode nos ver;
mas quem se importa? Se estamos na parede, tudo
bem. Onde quer que estejamos colocados estamos
unidos a Cristo; e, portanto, ninguém tem
precedência sobre os demais, porque todos nós
estamos igualmente construídos sobre um
fundamento, Jesus Cristo nosso Senhor, em quem
nós crescemos diariamente, cada vez mais próximos
a Ele na experiência, e apegando-nos cada vez mais
firmemente a Ele através da fé.
O segundo aspecto que é usado pelas Escrituras
para representar a nossa união com Cristo é a
videira e os ramos. “Eu sou a videira, vós sois os
ramos”, é a palavra de Cristo aos seus discípulos. O
símile (comparação) anterior do fundamento e da
pedra, não sugere qualquer ideia de vida. Por esta
razão, quando o apóstolo o usou, teve que falar de
Cristo como uma pedra viva, e também de nós,
como pedras vivas. É uma figura um pouco
estranha, e contudo é estritamente verdadeira; pois
vocês e eu, não temos mais vida espiritual em nós
do que as pedras, exceto quando um milagre nos dá
vida; e então, apesar de vivermos, somos como
pedras aparentemente inertes e sem vida, mas
realmente temos sido revividos por uma obra
159
sobrenatural, e temos sido feitos pedras vivas.
Porém, a figura não parece harmônica.
No entanto, este segundo símile nos comunica a
ideia da vida, pois uma videira não é videira se está
morta, e seus ramos não são verdadeiros ramos, a
menos que estejam vivos. Há uma união viva entre
Cristo e Seu povo, e eu espero poder apelar para a
experiência de muitos dos meus leitores, que sabem
que há uma união viva entre eles e Cristo. Bemaventurado é o homem que pode dizer: “Eu já não
vivo, mas Cristo vive em mim, e a vida que vivo
agora na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que
me amou e se entregou por mim.”
A união é algo mais do que uma união de vida: é
uma união de vida dependente. O ramo está ligado
de tal modo ao caule que ele recebe toda a sua seiva
dele, não poderia viver a menos que os sucos de
vida fluam do tronco até ele. E assim é a nossa vida.
Cristo derrama seu sangue de vida em nós.
Perpetuamente, enquanto que Ele exista, estará
fluindo para o Seu povo. Na verdade, quando suas
feridas foram abertas, Ele sangrou vida em nós, e
quando o seu coração foi aberto, ele mudou os
nossos corações e lhes deu vida, embora tivessem
sido antes corações de pedra. Somos de tal maneira
um com Cristo, que a princípio recebemos nossa
vida dEle, e nós a continuamos recebendo dEle a
cada momento.
160
Como consequência da vida de Cristo em nós,
crescemos. O crescimento do ramo é realmente o
crescimento da videira. É porque o caule cresce que
o crescimento é transmitido ao ramo. Como Cristo
derrama Sua força de vida em nós, nos faz crescer,
para o louvor da glória de Sua graça.
Produzir fruto é o objetivo final de nossa união com
Cristo. Nós somos um com Ele para que possamos
dar frutos para o Seu louvor. Queridos amigos,
estamos realmente fazendo isso? Acaso estamos
satisfeitos com uma união nominal com Cristo,
embora não produzamos frutos para Sua honra?
Deveríamos estar muito angustiados quando somos
estéreis e infrutíferos. Devemos lembrar que o
grande Agricultor tem uma faca afiada, e está
escrito: “Todo ramo em mim que não dá fruto, o
tira.” Oh, que nenhum dos meus leitores possa estar
em Cristo, de um modo falso, senão que todos
estejam nEle numa união tão verdadeira e vital, que
nos conduza a dar frutos para o Seu louvor; pois
então, embora sejamos podados, nunca seremos
cortados da videira!
A terceira metáfora da qual se serve o Salvador em
relação a esta união, é o marido e a esposa. “Porque
o marido é a cabeça da mulher, como também
Cristo é a cabeça da igreja.” Aqui encontramos uma
união, não somente de vida, mas também de amor.
Vale ressaltar que as duas palavras, “vida” e “amor”
sejam tão semelhantes entre si. Nas coisas
161
espirituais, as duas coisas não somente são
semelhantes, senão que são exatamente as
mesmas. O amor é a vida e a vida é sempre enviada
em primeiro lugar, e enviada principalmente em
forma de amor.
Com o verdadeiro marido, sua esposa é ele mesmo.
A Escritura diz : “Quem ama a sua esposa ama a si
mesmo”, e eu acho que eu creio que Cristo
considera que, quando Ele ama a Sua igreja ama a si
mesmo. Seu cuidado por nós é agora o Seu cuidado
de si mesmo. Posto que nos tem tomado para que
estejamos em eterna união matrimonial com Ele,
nos considera como Ele mesmo, e cuida de nós
como cuida de Si mesmo. “Porque somos membros
do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos”.
Nenhum homem em sã consciência irá ferir a sua
própria carne. “Porque ninguém jamais odiou a
própria carne, senão que a nutre e sustenta, como
também Cristo faz com a igreja.” Assim, Cristo cuida
do seu povo, porque o considera vinculado a Si
mesmo por esses laços que o fazem ser como Ele
mesmo. Assim somos sustentados como a menina
dos seus olhos.
Lembrem-se que em cada família a esposa é a mãe
dos filhos, e assim é a igreja de Cristo. Ele quer que
todos nós geremos uma semente espiritual santa.
Se permanecermos nEle, nós poderemos espalhar a
nossa fé, e trazer outros para a igreja. Cada crente
deve ter este propósito diante dele como a alegria
162
de sua vida; pois assim Cristo “verá a sua
posteridade, prolongará os seus dias, e a vontade de
Jeová prosperará na sua mão.”
A esposa, também, é quem cuida da casa. Ela cuida
dos assuntos domésticos de seu marido. E assim o
Senhor Jesus Cristo quer que seu povo cuide de Seus
interesses, e de tudo o que Lhe pertence, porque Ele
nos tem dado essas coisas, como o marido confia o
seu tesouro para a esposa. Ele nos tem deixado
como guardiões de tudo o que ele tem. Num certo
sentido, somos os mordomos de Sua casa, mas em
outro sentido mais íntimo estamos unidos a ele
pelos laços matrimoniais que jamais podem ser
dissolvidos. É um assunto muito doce, mas eu não
posso demorar-me muito nele. Permitam que seus
próprios pensamentos se tornem fragrantes com
esse aroma. Independentemente de quão íntimo
possa ser a união do marido e da esposa, a união
entre o crente e Cristo é ainda mais íntima. Oh, que
a compreendêssemos cada dia mais!
“Oh, Jesus! Sê para mim
Uma realidade viva e brilhante;
Mais presente para a ávida visão da fé,
Do que qualquer outro objeto externo visto.
Mais amado, mais intimamente próximo,
Que o mais doce laço terrenal!”
Todo o imaginário humano é incapaz de explicar a
união entre Cristo e Seu povo; porém a comparação
163
em nosso texto é agora a cabeça e os membros. O
apóstolo diz de Cristo que “somos membros do seu
corpo, seu sangue e ossos.” Cristo é a Cabeça e nós
somos membros do seu corpo. Quão maravilhosa é
essa união! Na primeira metáfora, a do fundamento
e a pedra, tínhamos a ideia do apoio; na segunda, a
da videira e os ramos, a ideia de vida;, a união entre
marido e mulher nos deu a ideia de amor; e agora
aqui temos a sugestão de identidade. Há duas vidas
no marido e na mulher, mas há apenas uma vida
para a cabeça e o corpo, e, neste sentido, esta
metáfora revela a verdadeira relação de Cristo com
o Seu povo, mais claramente do que qualquer outra.
Existe uma ligação maravilhosa entre a cabeça e os
membros do corpo. É uma união de vida, e uma
união do corpo que sempre continua. O marido
pode ter que viajar para longe de sua esposa, mas
isso nunca pode acontecer que a cabeça viaje longe
do corpo. Se eu chegasse a ouvir de algum homem
cuja cabeça foi cortada de seu corpo 300 milímetros,
ou pelo menos meia polegada, eu diria que esse
homem estava morto. Deve haver uma união
perpétua entre a cabeça e os membros, caso
contrário, ocorre a morte, e, fixem bem, a morte,
não somente do corpo, mas da cabeça. Quando são
divididos, morrem. Quão glorioso é este
pensamento quando aplicado ao Senhor e Seu povo
redimido! Sua união é para sempre. Eles morreriam
se fossem separados dEle, mas Ele deixaria de ser,
se perdesse seus membros, porque, de alguma
164
forma ou outra, estão tão unidos, que Ele não estará
sem eles; não pode ficar sem eles, porque isso
significaria que a Cabeça da igreja foi separada dos
membros do Seu corpo místico. É por isso que
cantamos:
“E isso eu descubro, nós dois estamos tão unidos,
Que Ele não estaria na glória, deixando-me para
trás.”
II. Tendo lhes mostrado desta maneira estes quatro
símiles (e há outros, mas eu não tenho tempo para
falar sobre eles), agora chego ao que está diante de
nós no texto, e assinalo que a metáfora está cheia
de significado: “Somos membros do seu corpo, de
sua carne e de seus ossos.” Há sete pontos sobre os
quais gostaria de chamar a sua atenção.
Há aqui união de vida, união de relacionamento e
união de serviço. Vejam o que quero dizer. A mão
nunca estuda o que ela pode fazer pela cabeça; mas
quando a cabeça deseja que a mão seja levantada,
a mão é levantada imediatamente; e quando a
cabeça deseja que a mão baixe, ela baixa
instantaneamente. Não há deliberação ou
discussão sobre isso. Em um corpo saudável, a
cabeça e os membros são praticamente um. Se você
estivesse doente, poderia ser diferente. Às vezes eu
tenho visto, numa pessoa semiparalisada, que a
perna se agita sem seguir a instrução da cabeça;
tenho visto uma mão tremer sem a vontade da
165
cabeça; e às vezes (quão frequentemente tem
sucedido comigo), a cabeça tem desejado que a mão
passe as páginas de um livro, e a mão não tem sido
capaz de fazê-lo.
Quando a enfermidade se apodera do sistema,
imediatamente os membros desobedecem a
cabeça; mas num corpo saudável, basta que cabeça
queira algo e a mão logo o realiza. Acaso não
notaram alguma vez ao caírem, como, sem pensar,
suas mãos tentaram proteger a cabeça? Se alguém
estivesse prestes a atingi-los, não ficariam
deliberando; seu braço subiria imediatamente para
proteger a cabeça. Esta lei se aplica também na vida
espiritual. Todos os verdadeiros cristãos farão de
tudo para salvar a sua Cabeça. Ele nos salvou, e
agora é o nosso desejo salvá-lo.
Não podemos suportar que Ele seja insultado, que
Seu evangelho seja desprezado, ou feita alguma
coisa contra sua dignidade sagrada. Somos de tal
maneira um com nossa gloriosa Cabeça, que no
momento em que alguém queira golpeá-lo, a nossa
mão é levantada imediatamente em sua defesa. Oh,
eu confio que você sabe o que isso significa. Se
alguma vez tiverem que passar pela pena de ouvir
que o Evangelho de Cristo é pregado falsamente, ou
de ver os cristãos professantes que trazem desonra
a Seu amado nome, sentem imediatamente que
prefeririam suportar qualquer dor ou reprovação,
antes do que ver Cristo injuriado. A mão é de tal
166
maneira uma com a cabeça, que se esforça por
resguardá-la.
Entre a cabeça e os membros há também uma união
de sentimento. Se a cabeça dói, vocês sentem essa
dor em todos as partes – estão completamente
enfermos. E se o seu dedo dói, a cabeça se sente
mal. Há tal coordenação entre todas as partes do
corpo que “se um membro sofre, todos os membros
sofrem com ele, e se um membro é honrado, todos
os membros se regozijam com ele. Vós sois
portanto, corpo de Cristo, e membros uns dos
outros.” Cristo é a nossa Cabeça, e a Cabeça sofre
especialmente pelos membros. Não tenho certeza
de que é sempre tão claro que uma das mãos, sofra
pela outra mão, como é muito claro que a cabeça
sofre por causa de qualquer das mãos. Assim sucede
com a igreja. Nem sempre pode estar claro que
todos os membros se sentem em afinidade uns com
os outros, mas sempre é muito claro que Cristo se
identifica com cada um dos membros do Seu povo.
De alguma forma, há uma conexão mais rápida da
cabeça com a mão, do que a de uma mão em relação
à outra. E há uma afinidade mais profunda entre
Cristo e Seu povo, do que a que normalmente há
entre um e outro de Seus servos. Está escrito no que
diz respeito ao seu povo que “Em toda a angústia
deles Ele foi angustiado.” Em todas as tuas aflições,
filho de Deus, a tua Cabeça celestial sente dor!
167
Há também uma união de necessidade mútua entre
os membros e a cabeça. A cabeça precisa do corpo.
Agora, tenho que falar com cuidado quando
relaciono o pensamento com Cristo, porém ainda
assim é verdade. O que seria da minha cabeça sem
o meu corpo? Seria um espetáculo terrível. E Cristo
sem o seu povo estaria incompleto. Um Cristo que
morre sem redimir a ninguém! Um Cristo vivo, sem
ninguém para viver por Sua vida, seria um fracasso
horrível! Cristo no Calvário, e as almas afundando
no inferno, sem que ninguém seja salvo por seu
precioso sangue! Cristo encarnado na cruz, sem que
ninguém seja salvo por Sua encarnação e Sua
morte! Seria uma visão horrível. Diz-se que a igreja
é a plenitude de Cristo: “a igreja, que é o Seu corpo,
a plenitude daquele que enche todas as coisas.”
Esta é uma expressão maravilhosa. Agora, a
plenitude da cabeça é o corpo; retire o corpo da
cabeça, e o que resta? Quanto ao corpo, o que
poderia ser sem a cabeça? Se você perdesse a
cabeça, não teria nenhuma velocidade de pé, nem
de mão, nem força de coração. Não; nada sobra
para cabeça se é separada do corpo; e nada sobra
para o corpo se é separado da cabeça. Há entre eles
uma união de necessidade mútua.
Além disso, entre a cabeça e os membros há uma
união de natureza. Não intentarei descrever a
composição química da carne humana; mas é
bastante claro que minha cabeça é feita da mesma
carne que os meus membros. Não existe diferença
168
entre a carne de um e a carne de outros. Assim,
embora a nossa Cabeça da aliança esteja agora no
céu, e os seus pés na terra, Cristo é tanto um por
natureza com o Seu povo, que é homem verdadeiro
de homem verdadeiro, e também Deus verdadeiro,
de Deus verdadeiro. Se você negar sua humanidade,
não creio que mantenha por muito tempo Sua
divindade. E se negar sua Deidade, tem destruído
tristemente a perfeição de Sua humanidade; pois
não poderia ser um homem perfeito, se fizesse os
homens crerem que era Deus, quando não o era.
Para nós, Ele é o Deus-Homem em uma pessoa, a
quem amamos e adoramos; Sua natureza é a
mesma que a nossa, e estamos unidos a Ele para
sempre.
“Senhor Jesus, nós somos um contigo?
Oh, altura! Ó profundidade do amor!
Contigo morremos no madeiro,
E em Ti vivemos acima “.
“Oh, ensina-nos, Senhor, para conhecer
reconhecer
Este mistério maravilhoso,
Que Tu conosco é verdadeiramente um
E nós somos um contigo!”
e
Entre Cristo e Seu povo há também uma união de
posse. Nada que pertença à minha cabeça deixa de
pertencer à minha mão. Qualquer coisa que minha
cabeça reclame, como própria, minha mão pode
169
também reivindicar como sua. Pobre pecador,
qualquer coisa que pertença a Cristo pertence a ti!
Cristo é rico, como poderias ser pobre? Seu Pai é teu
Pai, e Seu céu é teu céu; és de tal maneira um com
Ele, que todas as vastas possessões de sua riqueza
te são dadas gratuitamente. Ele te outorga Seu
tesouro, não somente, “até a metade do meu
reino”, senão todo o reino. Unido a Ele, tudo o que
Ele tem te pertence.
Entre o Senhor e Sua igreja há também uma união
de condição presente. Cristo é amado pelo coração
de Seu Pai. “Este é o meu Filho amado, em quem
tenho prazer”, foi a palavra que veio do céu aberto
a respeito de Cristo; e como se Deus se deleita em
Cristo, também está satisfeito com vocês que estão
em Cristo. Sim, Ele tem tanto contentamento em
vocês, como tem em Cristo; porque vê a vocês em
Cristo, e a Cristo em vocês. Deus não estabelece
divisões entre vocês e Cristo, a quem uniu a vocês.
“Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o
homem.” Certamente Deus nunca irá separar o que
Ele uniu em Cristo.
Nem sequer em seus pensamentos se separem
vocês de Cristo, por suporem que não são tão
amados por Deus da maneira que o é a Cabeça do
pacto.
Finalmente, há uma união de destino futuro.
Qualquer coisa que seja de Cristo, vocês serão
170
participantes de todas elas. Como podem morrer se
Cristo vive? Como pode morrer o corpo se a cabeça
vive? Se cruzarmos as águas, elas não podem nos
cobrir enquanto não cobrirem a cabeça. Enquanto a
cabeça de um homem está acima da água, ele não
pode se afogar. E Cristo lá em cima na eternidade da
glória, nunca pode ser vencido; nem tampouco
poderá ser vencido quem é um com ele. Para
sempre, a menos que Cristo morra, a menos que
expire o Filho imortal de Deus, vocês que estão
unidos a Ele no propósito de Deus e na fé com a qual
agora se apegam a Ele, viverão e reinarão. “Porque
eu vivo, vós também vivereis.” Acaso não é isso um
descanso para todo o temor de destruição? Vocês
são tão um com Ele que, quando o sol se tornar num
carvão queimado, e a lua se tornar um coágulo de
sangue, quando as estrelas caírem como folhas de
outono, e os céus e a terra derreterem, voltando a
ser nada desde onde a Onipotência os tiver
chamado, vocês viverão, porque Quem é a sua
Cabeça viverá. “Cremos que também viveremos
com ele; sabendo que, havendo Cristo ressuscitado
dentre os mortos, já não morre mais, a morte não
tem mais domínio sobre ele.” Onde ele for, nós o
seguiremos.
Ouvi dizer que quando um ladrão consegue colocar
a cabeça entre as barras da janela, o seu corpo pode
facilmente entrar. Eu não tenho tanta certeza, mas
eu sei que ali onde meu Senhor passou, os membros
devem certamente passar. “Eu sou o que vive, e
171
estive morto; mas eis que estou vivo pelos séculos
dos séculos”, é uma palavra que tem a intenção de
confortá-los. Guardem-na com vocês. “Somos
membros do seu corpo, da sua carne e dos seus
ossos”, e nós cantamos com Doddridge:
“Desde que Cristo e nós somos um,
Por que deveríamos duvidar ou temer?
Se no céu Ele tem estabelecido o seu trono ,
Ali também estabelecerá Seus membros.”
III. Finalmente, e muito brevemente, esta doutrina
tem suas lições práticas, que vou tentar explicar de
forma simples, de tal forma que aqueles que são
membros de Cristo possam trazer mais alegria e
glória à nossa Cabeça do que temos feito até agora.
Para começar, eu diria que, se somos
verdadeiramente um com Cristo, não devemos ter
qualquer dúvida sobre isso. Costumava ser uma
moda, e eu temo que em alguns lugares ainda é,
pensar que desconfiar de nossa própria condição e
duvidar quanto ao que se refere à nossa salvação, é
uma espécie de virtude. Eu conheci pessoas boas
que não se atreviam a dizer que eles foram salvos,
eles “esperavam” ser, e eu conheci outras pessoas
que não tinham certeza de terem sido lavadas no
sangue precioso de Cristo, eles “confiavam” que o
eram. Esse estado mental não é um crédito nem
para Cristo ou para nós mesmos.
172
Se eu contasse ao meu filho uma coisa, e ele me
dissesse: “Pai, eu espero que você mantenha sua
palavra”, não sentiria que ele estivesse me tratando
como deveria. Certamente, crer em Cristo sem
reservas é a forma de honrá-lo. Se somos um com
Ele, perderíamos o consolo do fato de não sabermos
com certeza sobre a nossa união abençoada;
(perderíamos muito da confiança que nos viria do
fato, se não apreendêssemos claramente a
realidade), e nos subtrairíamos muito da alegria que
traz, e saberíamos pouco sobre o significado dessa
palavra: “a alegria do Senhor é a vossa força”, se
não cremos de modo simples como crianças.
Esta é uma época de dúvida; mas, no que a mim
concerne, não duvidarei; eu já duvidei o suficiente,
e mais do que suficiente; acabei com minhas
dúvidas há muito tempo; posso dizer com Paulo:
“Eu sei em quem tenho crido, e eu tenho certeza
que é capaz de guardar o meu depósito até aquele
dia.” A salvação é pela fé. A condenação vem pela
dúvida. A dúvida é a morte de todo o consolo, a
destruição de toda a força, o inimigo de Deus e do
homem.
Se somos um com Cristo, deveríamos percorrer o
mundo como príncipes; deveríamos ser como
Abraão entre os seus companheiros, que não
reclamou nenhum principado, nem tomou qualquer
coroa, mas ainda assim ele poderia dizer ao rei de
Sodoma o que ele tinha prometido solenemente ao
Senhor, “que desde um fio, nem uma correia de
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sandália, nada tomarei de tudo o que é teu, para
que não digas: Eu enriqueci a Abrão”. Se você é um
com Cristo, trate o mundo dessa forma. Oh, mundo,
você não pode me abençoar! Deus tem me
abençoado. Você não pode me amaldiçoar! Deus
me abençoou. Você ri? Ria se isso faz você se sentir
bem. Acaso me olhas com a face enraivecida? O que
me importa? Se Deus tem sorrido para mim, você
pode me desprezar. Se eu sou um com Cristo, eu
espero que você me tenha em muito pouca conta,
pois você desprezou a minha Cabeça. Acaso o corpo
de Cristo deve esperar um tratamento melhor do
que o que recebeu a Cabeça?
Se somos um com Cristo lembraremos que
desonramos a nós mesmos por nos envolver com
essa desonra a nosso Senhor. Se eu desonrar
qualquer parte do meu corpo, minha cabeça se
sente envergonhada por isso; e uma vez que somos
membros de Cristo, devemos ter muito cuidado
como nos comportamos, de modo que não lhe
causemos qualquer dor. Os homens julgarão Cristo
pelo Seu povo. Se eu vejo um par de pernas que
andam cambaleando ao longo da rua, estaria
inclinado a dizer que elas pertencem a uma cabeça
embriagada. Se a nossa caminhada entre os homens
não é “como digna do evangelho”, que
pensamentos tão duros sobre o nosso Salvador,
terão os que nos rodeiam! Claro que sabemos que
toda concepção errada sobre Ele é falsa, pois Ele é
formoso e não há nele qualquer mancha; mas
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mesmo assim, seu nome e sua causa sofrerão
desonra. Portanto, não nos causemos danos a nós
nem nos contaminemos a nós mesmos, para não
trazer reprovação a Quem amamos!
Em continuação, se somos um com Ele, deve ser
muito natural que pensássemos nEle. Passamos
com ele mais tempo do que com que com qualquer
outra pessoa. Mais do que com cônjuge, filhos, com
nossos queridos companheiros da igreja ou do
mundo. E o conhecemos melhor do que
conhecemos a qualquer outra pessoa. Embora seja
pouco o que sabemos dele, comparado com o que
esperamos conhecer, contudo Seu amor se tem
tornado para nós o fato mais brilhante e visível em
toda nossa história. Conhecemos muito poucas
coisas; porém sabemos que somos um com Cristo
numa união que nunca será quebrada. Também o
conhecemos por nossa comunhão com Ele. O vimos
nesta manhã; o temos visto durante o dia; o
veremos novamente esta noite. Não me agradaria ir
para a cama com nenhum outro pensamento na
minha mente além deste :
“Aspergido novamente com o sangue que perdoa,
Eu me ponho a descansar,
Como abraçado por meu Deus,
Ou sobre o peito do meu Salvador.”
Se somos um com Ele, viver com Ele deve ser a coisa
mais natural em nossas vidas. No entanto, acaso
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não tenho ouvido de algumas pessoas que
professam ser cristãs, que não têm tido comunhão
com Cristo por muitos dias? Uma vez eu conversei
com um irmão que falou muito sobre muitas coisas;
e quando ele se queixou disto e daquilo, me dirigi a
ele, e lhe perguntei: “Irmão, quando foi a última vez
que você teve íntima comunhão com Cristo?” Ele
respondeu: “Oh, você me pegou fora da balança!”
Quando lhe perguntei, “o que você quer dizer com
isso?” respondeu: “Eu temo que eu não tenho tido
qualquer comunhão com Cristo por meses.” Eu
suspeitava que era assim, porque senão a conversa
não teria sido como foi.
Que coisa mais triste para uma esposa que deve
viver com o marido em casa, sem poder lhe falar por
muitas semanas! Mas quão pior é que nós, que
professamos ser um com Cristo, não termos
nenhuma comunicação com ele por longos meses!
Isto é algo perfeitamente horrível. Deus nos livre de
tal coisa! Pensemos continuamente em nosso
Senhor, e vivamos sempre com Ele, porque somos
um com Ele!
Ademais, sendo um com Cristo, servir-lhe deve ser
muito natural. Certamente que existimos apenas
para cumprir a Sua vontade, e para glorificar Seu
nome. Para que servem as minhas mãos e os pés, a
não ser para serem levados a se moverem pela
minha cabeça? Seriam estorvos a menos que eles
estejam prontos para obedecer o comando da
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minha mente. Mas temo que há muitos de nós que
são de pouco serviço ao nosso Senhor. Nós ouvimos
a Sua Palavra, mas não a obedecemos; Ele procura
obreiros, e não respondemos correndo ao Seu
chamado! Vamos, vamos, isto não irá funcionar.
Somos membros de Cristo, e o único propósito de
nossa vida deve ser o de servir a nossa Cabeça. Deus
nos ajude a fazê-lo!
Eu vou concluir. Lhes deixarei fazer todas as
inferências que brotam naturalmente de nossa
união com Cristo. Nosso céu consiste em nossa
união com Ele. Ah, e às vezes, quando nos damos
conta de nossa união com Cristo, dificilmente
podemos pensar que seremos mais felizes no céu do
que somos agora! Que todos vocês participem desta
alegria! Oh, vocês pensarão que estávamos
delirando, se lhes disséssemos o indizível deleite e a
bênção sem medida que a comunhão com Cristo
tem trazido às nossas almas. Desejo que todos
vocês conheçam o mesmo êxtase. Não desfruto de
nada sem desejar que todo mundo desfrute do
mesmo; portanto, quando chego ao ponto de ser
um com Cristo, o deleite que isto traz, oro para que
todos vocês o conheçam também! Mas,
infelizmente, vocês não o conhecem, alguns de
vocês nem querem conhecê-lo. Eu tenho falado algo
parecido ao holandês para alguns de vocês no dia de
hoje; não têm compreendido nada da minha
linguagem. Que o simples fato de que não o tenham
entendido, ou que não lhes tenha preocupado para
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nada, lhes leve a suspeitar que há uma alegria que
é desconhecida para vocês, e uma vida que não têm
encontrado; e quando souberem que é assim,
“Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto.” Se você buscá-Lo de todo o
coração, você certamente vai encontrá-lo, e em
breve também será conduzido a uma “viva,
amorosa e duradoura união” com Cristo.
Lembre-se que o mais leve toque de fé é suficiente
para salvar a alma. Aquela pobre mulher que veio
por detrás de Cristo no meio da multidão, somente
tocou na orla de Suas vestes, e contudo este tímido
toque lhe trouxe salvação e saúde. Porém saiu dEle
para ela, e foi salva de sua enfermidade. Se você
somente pudesse tocar o Senhor com o dedo de sua
fé, ah, mesmo se fosse com seu dedo mindinho,
você seria abençoado; apesar de sua mão estar
tremendo com a paralisia da incredulidade, se você
tem fé suficiente para tocá-lo, para entrar em
contato com ele, terá posto em funcionamento toda
a maquinaria da salvação.
Que Deus lhe dê fé para encontrar a vida eterna
agora mesmo! Por que não? Se o meu querido
amigo estivesse aqui agora, de quem estes panos de
luto são um memorial, ele me diria, “oh, diga-lhes
para provarem e ver que o Senhor é bom; bemaventurados são aqueles que confiam nEle!” Vocês
sabem quanto William Olney amava esta estrofe
que cantamos ontem:
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“Oh, basta fazer uma prova do Seu amor;
A experiência comprovará
Bem-aventurados são aqueles, e somente aqueles ,
Que confiam em Sua verdade!”
Que Deus abençoe a todos, por meio de Cristo,
nosso Senhor! Amém.
Texto de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e
adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
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