1. Bases biológicas do comportamento

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Sumário
1. Bases biológicas do comportamento ....................................................................... 1
2. Adaptação ............................................................................................................... 1
3. A psicobiologia e o estudo dos animais .................................................................. 2
4. Relação entre o biológico e o ambiental ................................................................. 3
5. Alguns temas estudados pela psicobiologia ............................................................ 5
5.1. Aprendizagem ................................................................................................... 5
5.2. Estimulação sensorial ....................................................................................... 5
5.3. Estados psicológicos ........................................................................................ 6
5.4. Drogas .............................................................................................................. 6
5.5. Doenças mentais .............................................................................................. 7
Conclusão ................................................................................................................... 7
Bibliografia................................................................................................................... 7
1
A PSICOBIOLOGIA
1. BASES BIOLÓGICAS DO COMPORTAMENTO
O estudo do comportamento humano pela Psicologia deparou com muitas
questões polêmicas sobre a determinação biológica do comportamento. Quais as
relações entre nossa fisiologia e nosso comportamento? Como o ambiente influi em
nosso organismo? Quais os aspectos de nosso psiquismo que estariam
determinados geneticamente? Haveria uma determinação genética para os
comportamentos?
A Psicologia não poderia responder a essas questões, se não aliasse seus
estudos aos da Biologia. Assim, a Psicobiologia é uma área de pesquisa comum às
duas ciências, que procura desenvolver o conhecimento sobre as bases biológicas
do comportamento.
As pesquisas sobre as bases genéticas do comportamento muitas vezes são
feitas com gêmeos. Essas pesquisas estudam gêmeos idênticos que viveram
separados, criados por famílias diferentes, procurando caracterizar suas
semelhanças, que podem ser indícios da determinação genética dos
comportamentos, uma vez que essas pessoas possuem exatamente os mesmos
genes e foram criadas em ambientes diferentes.
As chamadas diferenças individuais têm estimulado os cientistas a pesquisar
como os genes influem no comportamento, através da investigação de como as
diferenças individuais na constituição genética estão relacionadas a diferenças
individuais no comportamento,
2. ADAPTAÇÃO
O conceito de adaptação é um dos conceitos básicos da Psicobiologia. Os
organismos vivos precisam, para sobreviver, adaptar-se a seus ambientes. Existem
adaptações de natureza morfológica, como o desaparecimento dos dentes do ciso,
no homem, em função das mudanças nos hábitos alimentares; de natureza
fisiológica, como a contração das pupilas dos olhos quando nos expomos à luz
intensa; e de natureza comportamental, como as atividades de construção de ninho
pelos pássaros, ou a vida em grupo para garantir a sobrevivência.
Cada tipo de adaptação permite ao animal sobreviver, reproduzir-se e assim
manter a sua espécie. Os comportamentos adaptativos ou o aspecto adaptativo dos
comportamentos, tanto dos homens como dos animais, têm sido estudados por esta
área de conhecimento.
2
3. A PSICOBIOLOGIA E O ESTUDO DOS ANIMAIS
Os estudos da Psicobiologia são realizados com diferentes tipos de animais, na
tentativa de compreendê-los e estender suas conclusões ao comportamento
humano, seu principal objeto de interesse.
Estudos com peixes, ratos, pombos, galinhas, aranhas e formigas têm sido
realizados, buscando-se compreender diferentes aspectos do comportamento
animal. Estudos como os de Washburn e Devore1 sobre a vida social dos babuínos
(primatas que vivem no solo) procuram demonstrar que a vida em grupo tem sua
origem na necessidade de proteção da espécie contra predadores. Esses estudos
procuram uma compreensão mais rica da evolução do comportamento humano.
Experimentos como os de Brady2, realizados com macacos, buscam compreender
os processos de produção de úlceras gástricas em situação de tensão emocional.
Estudos sobre a memória, o tédio, o medo, o comportamento sexual, a vida social, a
necessidade de afeto, a aprendizagem, os sonhos, a dor, a raiva, a curiosidade, a
inteligência, o vício e outros aspectos do psiquismo têm recebido contribuições
importantes dos estudos com animais. O destino desses conhecimentos é, sem
dúvida, a compreensão cada vez maior do homem.
Podem conclusões sobre o comportamento animal serem estendidas ao
comportamento humano? Esta é uma pergunta que você deve estar fazendo e é,
sem dúvida, uma pergunta importante, pois sem uma resposta positiva a ela não nos
adiantaria prosseguir neste tipo de estudo.
A Psicobiologia responde afirmativamente a esta questão. Sim, conclusões
sobre o comportamento animal podem ser estendidas ao comportamento humano.
Para justificar esta resposta, a Psicobiologia utiliza-se da teoria evolucionista de
Darwin, para quem os animais mantêm parentesco entre si, pois são todos produtos
da evolução de organismos mais simples, formando verdadeiras famílias, que
apresentam semelhanças na estrutura biológica. Sendo assim, o homem possui
seus parentes animais, cujo estudo do comportamento pode auxiliar na
compreensão dos fatores genéticos determinantes do comportamento humano.
Estudar os organismos mais simples propicia à Psicobiologia chegar a
conclusões mais precisas sobre os traços genéticos do comportamento pois, nos
animais, esses traços não estão mascarados pelos comportamentos aprendidos,
como no homem. Sem dúvida, a Psicobiologia não esgotará o conhecimento sobre o
comportamento humano através do estudo do comportamento animal, nem é este
seu objetivo. Deve ficar bem claro que a Psicobiologia recorre aos animais porque
neles os fatores genéticos podem estar mais evidentes e porque com animais é
possível fazer observações de laboratório e experimentações. Mas ao se transpor
esses conhecimentos para o homem, muitas variáveis deverão ser levadas em
conta: sua vida social, sua capacidade de pensar, sua consciência, sua cultura etc.
1
Scientific American. Psicologia: as bases biológicas do comportamento, p. 12.
2
Scientific American. Op. cit. p. 204.
3
4. RELAÇÃO ENTRE O BIOLÓGICO E O AMBIENTAL
Os genes determinam a direção e os limites do desenvolvimento do organismo,
mas estas direções e limites não são atingidos apenas pela ação dos genes. Os
organismos desenvolvem-se em ambientes que fornecem estímulos, e estes
estímulos interagem com as influências genéticas. Assim, não pensamos nunca em
ter asas para voar, nem tampouco em viver debaixo d'água e nem mesmo subir
pelas paredes dos prédios através de teias finas, pois nossa herança biológica não
nos permite tais feitos. Continuaremos a criar heróis que substituam e realizem
esses nossos desejos e a construir aviões, naves espaciais e submarinos!
Bem, mas íamos falar do possível e não do impossível. Então, nosso código
genético nos dá as possibilidades (direção e limites) e ao entrarmos em contato com
o ambiente, estaremos recebendo estimulações, que permitirão ou não a expressão
destas nossas possibilidades. Daí compreendermos uma família de músicos:
herança biológica e meio estimula-tório aliam-se na produção de tantos músicos.
Simplificamos esta compreensão quando falamos apenas em dom.
Quando falamos no dom para a música, podemos estar nos referindo ao
chamado ouvido absoluto. O indivíduo possuidor desse tipo de ouvido tem uma
capacidade maior que a dos outros para captar os sons, as diferenças de tons etc. E
esse tipo de dom é herdado. Mas se nosso sujeito não tiver nascido em uma família
de pianistas e sim numa favela do Rio de Janeiro, sabemos que poderá desenvolver
seu dom compondo na escola de samba ou tocando bem uma cuíca. Se nascer
numa tribo indígena, poderá desenvolver-se como músico ou como rastreador de
caça. Os limites e possibilidades são dados, o resultado dependerá da inserção em
um determinado meio com suas possibilidades e limites. Com isto, queremos dizer
que nossos genes são fundamentais para determinar nossos limites e
possibilidades, mas não estão sozinhos na determinação de nossa forma de ser.
Genes e meio (meio entendido aqui no seu sentido mais amplo, envolvendo cultura,
classe social, condições de vida, relações, experiências, alimentação, clima etc.)
relacionam-se na composição ou determinação da forma de ser de cada um.
Em testes sobre a preferência de mães substitutas, os filhotes de macaco permaneciam
mais tempo com a "mãe" aveludada, mesmo quando a mamadeira era colocada na "mãe" de
arame. (Scientific American. Psicobiologia: as bases biológicas do comportamento. São Paulo,
EDUSP / Polígono, 1970. p. 111.)
4
A importância do meio no desenvolvimento está demonstrada também em
estudos com animais como o de Harlow3 sobre o amor em filhotes de macacos, que
demonstrou como macacos criados sem mães, ou um substituto adequado de mãe,
podem não apresentar relações sociais normais, na idade adulta. Isto demonstra
como as experiências sociais são importantes pois, se fôssemos simplistas,
tenderíamos a achar que estes pequenos macacos nasceram com os genes do
comportamento anti-social. Este tipo de consideração pode parecer óbvia mas, há
algum tempo atrás, muitas pessoas acreditavam que a delinqüência era um
problema de constituição genética. Estudos como este de Harlow demonstram não
só a importância das experiências precoces, como também a importância do afeto
para o desenvolvimento da sociabilidade.
3
Scientific American. Op. cit. p. 110. 128
5
5. ALGUNS TEMAS ESTUDADOS PELA PSICOBIOLOGIA
Dentre os vários temas estudados pela Psicobiologia, podemos destacar a
aprendizagem, a estimulação sensorial, os estados psicológicos, as drogas e as
doenças mentais.
5.1. Aprendizagem
Estudos têm sido realizados para se compreender a natureza e as bases das
diferenças entre as espécies, quanto à inteligência. Estes estudos buscam
basicamente compreender o que é inato no processo de aprendizagem. Seria a
inteligência uma capacidade inata? Alguns autores, como Harlow e Harlow,
desenvolveram pesquisas que sugerem que a habilidade de resolver problemas
complexos não é inata, mas adquirida pela experiência de resolver problemas.
Já pesquisas como a de Butler sobre a curiosidade em macacos tornaram-se
bastante importantes para as teorias de ensino-aprendizagem e para as da
motivação: Butler descreveu experimentos, durante os quais macacos eram
recompensados apenas com a oportunidade de resolver quebra-cabeças ou de fazer
exploração visual, diferentemente dos experimentos até então realizados, quando os
macacos eram sempre recompensados com objetos sabidamente de sua preferência
e gosto, como as bananas. Os resultados de Butler indicaram que "os macacos
resolveram quebra-cabeças sem qualquer outra recompensa além da oportunidade
de resolvê-los e aprenderam problemas quando recompensados apenas com a
oportunidade de observar as atividades que ocorrem no laboratório" 4. Embora as
bases da curiosidade não tenham sido claramente compreendidas, ela aparece
como um importante regulador de comportamentos, o que possibilita afirmações
como a de Bruner, um teórico do processo de ensino-aprendizagem, que diz que a
aprendizagem é em si motivadora, que o ato de aprender carrega consigo a
satisfação.
5.2. Estimulação sensorial
A Psicobiologia tem contribuído em vários temas da Psicologia como, por
exemplo, o trabalho realizado por Woodburn Heron5 sobre os efeitos da redução da
estimulação sensorial sobre as experiências e o comportamento dos sujeitos
humanos. O trabalho mostrou que permanecer muito tempo em ambientes onde não
há variação da estimulação (ambiente monótono), como uma estrada por exemplo,
tem efeitos prejudiciais para os indivíduos: o raciocínio é perturbado, o indivíduo
mostra respostas emocionais infantis, a percepção visual fica alterada, aparecem
alucinações. Os resultados desse tipo de experimento ajudam a compreender uma
série de problemas.
4
Scientific American. Op. cit. p. 186.
5
Id. ibid. p. 192.
6
Por exemplo, estudos têm demonstrado que alucinações são muito comuns
em choferes de caminhão, que viajam longas distâncias em estradas monótonas.
Depois de várias horas na estrada eles começam a ver animais gigantescos no párabrisas, ou animais imaginários atravessando a estrada, o que pode provocar
acidentes. Alucinações semelhantes foram registradas também em aviadores em
longos vôos e em operadores de radares. Os seres humanos parecem precisar de
ambientes sensoriais variados pois sem isto o cérebro não funciona adequadamente
e o indivíduo apresenta anormalidades de comportamento.
5.3. Estados psicológicos
A Psicobiologia tem estudado muito a relação entre estados psicológicos e
fisiológicos. D. H. Funkenstein6 estudou a fisiologia do medo e Ia raiva. Seus
estudos demonstraram que essas emoções são acompanhadas pela liberação de
hormônios diferentes. Essas diferentes reações fisiológicas preparam o organismo
para enfrentar o perigo diferentemente: medo ou raiva, fuga ou luta, mas ambas
preparam o organismo para dispêndio de energia que estes comportamentos
envolvem.
5.4. Drogas
Outro campo importante do estudo da Psicobiologia é o estudo das drogas e
sua influência sobre o comportamento, pois há razões para se crer que o
conhecimento dos mecanismos de ação das drogas sobre o organismo e o
comportamento possam levar a uma compreensão das bases biológicas das
doenças mentais. Outra contribuição importante desses estudos diz respeito à
dependência que as pessoas desenvolvem em relação a drogas como o álcool,
barbitúricos e narcóticos.
A dependência física é um dos temas que fascinam os estudiosos. A ingestão
da droga realmente trará prazer ou simplesmente alívio aos sofrimentos da
abstinência? A dependência será realmente física ou apenas psicológica?
As pesquisas têm comprovado que os efeitos subjetivos das drogas dependem
de três fatores: droga, indivíduo e ambiente, isto é, do tipo de droga (seu mecanismo
de ação, potência, concentração); das características do indivíduo, tanto fisiológicas
(peso, idade, sexo, estado de funcionamento dos diversos órgãos e sistemas do
organismo) como psicológicas (personalidade e situação psicológica no momento da
utilização da droga, incluindo o significado que o indivíduo dá ao seu ato de utilizar a
droga) e do ambiente, representado pelo contexto social em que a droga é ingerida,
salientando-se o significado dado ao ato pelo conjunto social. Por exemplo, em
nosso meio, o uso de algumas drogas como o álcool e a nicotina é socialmente
permitido e até estimulado, enquanto o de outras é proibido e discriminado.
6
Id. ibid. p. 209.
7
Em alguns grupos sociais, as drogas são utilizadas num contexto místico, em
rituais de comunhão com a divindade. Evidentemente, os efeitos da mesma droga
serão diferentes nos diferentes contextos.
5.5. Doenças mentais
A compreensão das doenças mentais também tem recebido importantes
contribuições destes estudos, como por exemplo, os trabalhos que têm procurado
descobrir a presença de fatores orgânicos na esquizofrenia. Embora ainda haja
muita controvérsia a respeito, a teoria bioquímica da esquizofrenia atualmente mais
aceita é a teoria dopaminérgica, segundo a qual a esquizofrenia (doença mental em
que o indivíduo afasta-se da realidade e apresenta predominância de vida interior e
incoerência de pensamento, de ação e de afetividade) relaciona-se a um
desequilíbrio no metabolismo da dopamina, substância química presente no cérebro,
que funciona como neurotransmissora, ou seja, como uma substância que transmite
impulsos nervosos de um neurônio (célula nervosa) para outro. Essa e outras
hipóteses têm sido testadas graças a estudos realizados com drogas e seus efeitos
sobre o organismo humano.
CONCLUSÃO
Acreditamos que os avanços da Psicobiologia, hoje, ultrapassam em muito os
exemplos e considerações que fizemos aqui, pois é, sem dúvida, uma área que tem
caminhado rápido demais. E isto significa que sua importância é cada dia maior para
a Psicologia, e para a compreensão da aprendizagem, da emoção, da motivação, da
percepção e das doenças mentais.
No Brasil, infelizmente a Psicologia não tem dado à Psicobiologia a importância
que merece. Isto acarreta prejuízos à Psicologia em dois sentidos: primeiro, um
atraso na produção deste tipo de conhecimento e segundo, a produção de um saber
incompleto. Esses fatos relacionam-se a uma postura científica que não tem
privilegiado estudos e pesquisas interdisciplinares. A Psicologia, como qualquer
outra ciência, deve-se abrir para outras áreas da ciência e criar um conhecimento
integrado, que propicie um conhecimento do Homem mais abrangente, mais rico e
multifacetado, como o próprio Homem o é.
BIBLIOGRAFIA
BOCK, Ana M. Bahia & FURTADO, Furtado & TEIXEIRA, Maria de Lourdes T.
Psicologias - Uma introdução ao estudo de Psicologia. 4ª edição, 1991. São
Paulo - SP. Editora Saraiva
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