efeito do treinamento resistido na função autônomica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM
EDUCAÇÃO FÍSICA
EFEITO DO TREINAMENTO RESISTIDO NA FUNÇÃO
AUTÔNOMICA CARDÍACA, NOS PARÂMETROS
BIOQUÍMICOS E ANTROPOMÉTRICOS DE PESSOAS
VIVENDO COM HIV/AIDS
Jason Azevedo de Medeiros
NATAL-RN
2014
EFEITO DO TREINAMENTO RESISTIDO NA FUNÇÃO
AUTÔNOMICA CARDÍACA, NOS PARÂMETROS
BIOQUÍMICOS E ANTROPOMÉTRICOS DE PESSOAS
VIVENDO COM HIV/AIDS
JASON AZEVEDO DE MEDEIROS
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação Física
da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte como requisito para obtenção
do título de Mestre em Educação Física.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Paulo Moreira Silva Dantas
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Coordenador do Programa de Pós Graduação em Educação Física:
Prof. Dr. Jonatas de França Barros
iv
JASON AZEVEDO DE MEDEIROS
EFEITO DO TREINAMENTO RESISTIDO NA FUNÇÃO
AUTÔNOMICA CARDÍACA, NOS PARÂMETROS
BIOQUÍMICOS E ANTROPOMÉTRICOS DE PESSOAS
VIVENDO COM HIV/AIDS
BANCA EXAMINADORA:
Presidente da banca:
Paulo Moreira Silva Dantas
UFRN/ Departamento de Educação Física
Membros da banca:
Arnaldo Luis Mortatti
UFRN/ Departamento de Educação Física
Ronaldo Vagner Thomatielli dos Santos
UNIFESP/ Departamento de Biociências
v
Dedico este trabalho aos meus avôs, Jaime Martiniano de Medeiros e
Antônio Dulino de Azevedo, pela confiança depositada em mim e por sempre
terem estimulado a alcançar os meus objetivos. Infelizmente o tempo foi curto
para que eles pudessem presenciar as minhas conquistas.
Aos meus pais, Jamilson Medeiros e Maria de Fátima Medeiros, pelos
ensinamentos,
exemplos
de
humildade,
honestidade,
cuidados,
mas
principalmente pelo amor recíproco. Ao meu irmão, Jamilson Júnior, pelo amor
fraterno, com quem posso contar sempre.
A
minha
esposa
Rafaela
de
Medeiros,
pessoa
que
amo
incondicionalmente, e que compreendeu a minha ausência durante o primeiro
ano de mestrado. Sempre me incentivando a alcançar os meus objetivos e me
acalentando em seus braços e palavras de conforto, fazendo com que todas as
dificuldades diante de mim parecessem barreiras frágeis.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sua proteção e encorajamento, e por me proporcionar
momentos em que nada explicariam se não fosse a sua presença.
Aos meus tios, Maria José Siqueira e Oscar Siqueira, pelo apoio mútuo,
com alimentação, moradia e transporte, além do sentimento harmonioso que
existe entre nós.
Ao professor orientador Paulo Moreira Silva Dantas, por ser meu amigo, ter
compartilhado momentos maravilhosos, não só acadêmicos, mas fraternos, e ter
me ensinado que a vaidade é a arma do inseguro.
Aos integrantes da AFISA (Base de pesquisa Atividade Física e Saúde),
pelo compartilhamento de conhecimentos, trabalhos realizados juntos e por
serem pessoas sensacionais. Em especial ao meu amigo Jeferson Rêgo, pelos
ensinamentos e companheirismo.
Aos integrantes do projeto viver mais, professoras: Hunaway Galvão,
Themis Soares e Danielle Coutinho, pela ajuda no desenvolvimento do projeto.
Especialmente agradeço a Rafaela Medeiros, Tatiane Lima e Ricardo Andrade
pela cumplicidade e companheirismo nos momentos de frustração e glórias
acadêmicas e principalmente na construção desta pesquisa.
Aos secretários da pós graduação e graduação, Rafael Valença e Gilberto
Belo, pelo incentivo ao estudo e facilidade na resolução de problemas.
À Dra. Alexandra e sua equipe, pela parceria na coleta e análises
bioquímicas.
Aos Médicos do Hospital Giselda Trigueiro pelo encaminhamento dos
pacientes e pela confiança depositada em nosso trabalho.
A todos os voluntários que participaram da pesquisa, os que concluíram e
os que abandonaram, pois cada um deles nos fez aprender muito sobre o
comportamento das pessoas que vivem com HIV/AIDS.
vii
A Dalvinha, dona da cantina, que nos acolhe com um calmo e doce tom de
“meu amor”, fornecendo todos os dias o seu delicioso cafezinho.
viii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2. OBJETIVOS................................................................................................. 4
2.1.
Objetivo Geral: ...................................................................................... 4
2.2.
Objetivos específicos: ........................................................................... 4
3. HIPÓTESES DO ESTUDO .......................................................................... 5
4. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 6
4.1. O HIV e terapia antirretroviral altamente ativa ......................................... 6
4.2. Complicações metabólicas associadas à HAART.................................... 8
4.3. Sistema nervoso autônomo e variabilidade da frequência cardíaca ...... 10
4.4. Lipodistrofia e avaliação pelo somatotipo .............................................. 11
4.5. Exercício físico como estratégia não medicamentosa ........................... 12
5. METODOLOGIA ........................................................................................ 16
5.1.
Delineamento da pesquisa: ................................................................. 16
5.3. Programa de treinamento resistido ........................................................ 16
5.4. Tonelagem ............................................................................................. 17
5.5. Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). ..................... 18
5.6. Avaliação da composição corporal......................................................... 19
5.7. Exames bioquímicos .............................................................................. 22
5.8. Análise estatística .................................................................................. 22
6. RESULTADOS .......................................................................................... 24
7. DISCUSSÃO.............................................................................................. 34
8. CONCLUSÃO ............................................................................................ 41
9. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES ........................................... 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 43
ANEXOS .......................................................................................................... 52
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Valores médios da Frequência cardíaca de recuperação e
marcadores autonômicos da variabilidade da variabilidade da frequência
cardíaca antes, após 8 e 16 semanas de TR. .................................................. 24
Tabela 2 – Valores médios dos perfis glicêmico e lipídico antes, após 8 e 16
semanas de intervenção com TR. .................................................................... 25
Tabela 3 – Médias dos componentes do somatotipo antes, após 8 e 16 semanas
de intervenção com TR. ................................................................................... 26
Tabela 4 – Frequência percentual das classificações dos somatotipos antes,
após 8 e 16 semanas de intervenção com TR. ................................................ 26
Tabela 5 – Descrição dos valores médios e dos deltas de mudança percentual
da 8ª semana e da 16ª semana. ...................................................................... 27
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Marcadores autonômicos da variabilidade da frequência cárdica. .. 28
Figura 2 – Delta de mudança percentual dos marcadores autonômicos da
variabilidade da frequência cardíaca. ............................................................... 28
Figura 3 – Variáveis de frequência cardíaca de recuperação. ......................... 29
Figura 4 – Delta de mudança percentual das variáveis da frequência cardíaca de
recuperação. .................................................................................................... 29
Figura 5 – Variáveis bioquímicas do perfil glicêmico. ....................................... 30
Figura 6 – Delta de mudança percentual das variáveis bioquímicas do perfil
glicêmico. ......................................................................................................... 30
Figura 7 – Variáveis bioquímicas do perfil lipídico. ........................................... 31
Figura 8 – Delta de mudança percentual das variáveis bioquímicas do perfil
lipídico. ............................................................................................................. 31
Figura 9 – Tonelagem relativa e distância percorrida. ...................................... 32
Figura 10 – Delta de mudança da tonelagem relativa e distância percorrida. .. 32
Figura 11 – Somatocartas dos sujeitos antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção com TR. ........................................................................................ 33
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana
AIDS: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
TARV: Terapia Antirretroviral
HAART: Highly Active Antiretroviral Therapy (Terapia Antirretroviral de Alta
Atividade).
IP: Inibidor de protease
TR: treinamento resistido.
VFC: Variabilidade da Frequência Cardíaca
FCR: frequência cardíaca final de recuperação
∆60: diferença dos batimentos cardíacos recuperados em 60 segundo após o
término do exercício.
∆120: diferença dos batimentos cardíacos recuperados em 120 segundo após o
término do exercício.
TC6min: teste de caminhada de 6 minutos.
HF: High frequency (Alta frequência).
LF: Low frequency (baixa frequência).
DF: Domínio da frequência.
LF/HF: Razão de baixa/alta frequências.
PVHIV: Pessoas vivendo com HIV.
DES: Distancia Espacial dos Somatotipos.
xii
RESUMO
EFEITO DO TREINAMENTO RESISTIDO NA FUNÇÃO AUTÔNOMICA
CARDÍACA, NOS PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E ANTROPOMÉTRICOS
DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS
Autor: Jason Azevedo de Medeiros
Orientador: Prof. Dr. Paulo Moreira Silva Dantas
Introdução: O surgimento da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART)
aumentou a expectativa de vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV),
porém o seu uso prolongado ocasiona implicações metabólicas e influencia na
redistribuição de gordura corporal e aumento da prevalência de doenças
cardiovasculares. Objetivo: Avaliar o efeito do treinamento resistido na
variabilidade da frequência cardíaca, parâmetros bioquímicos e somatotipo de
PVHIV. Métodos: Participaram do estudo 7 homens sedentários, com idade
acima de 25 anos, vivendo com HIV/AIDS, sob uso de HAART. Foram
submetidos a uma intervenção de 16 semanas com treinamento resistido.
Avaliou-se a variabilidade da frequência cardíaca, parâmetros bioquímicos e o
somatotipo, inicialmente e após 8 e 16 semanas de intervenção. Todos eles de
forma pareada. Constatou-se a normalidade dos dados pelo teste de ShapiroWilk e realizou-se uma Anova one way combinado ao post hoc de Tukey para as
amostras em cada momento de avaliação adotando um valor de p<0,05.
Também foram calculados deltas de mudanças percentual. Para o somatotipo
utilizou-se a distância espacial dos somatotipos (DES), obedecendo um valor de
significância de DES≥1. Resultados: Encontrou-se diferença significativa,
somente para a variável delta da frequência cardíaca final de 60s (p=0,01), no
entanto, não foram observadas modificações na variabilidade de frequência
cardíaca, variáveis bioquímicas e componentes do somatotipo. Conclusão: 16
semanas de treinamento resistido demonstrou melhoria na recuperação da
frequência cardíaca após um esforço submáximo e, apesar de não ser suficiente
para produzir diferenças significativas nos parâmetros bioquímicos e nos
componentes do somatotipo, pôde-se perceber melhoria nos valores médios de
glicemia e perfil lipídico, assim como redução do componente de endomorfia.
Palavras chave: treinamento de resistência, HIV, AIDS, HAART, frequência
cardíaca, lipodistrofia.
xiii
ABSTRACT
EFFECT OF RESISTANCE TRAINING ON CARDIAC AUTONOMIC
FUNCTION, BIOCHEMICAL AND ANTHROPOMETRIC
PARAMETERS OF PERSONS LIVING WITH HIV
Author: Jason Azevedo de Medeiros
Supervisor: Prof. Dr. Paulo Moreira Silva Dantas
Introduction: The emergence of High Active Antiretroviral Therapy (HAART)
increase the life expectancy of the persons living with HIV/AIDS (PLHIV),
therefore the prolonged use cause metabolic implications and influences on body
fat distribution and increase the cardiovascular diseases prevalence. Aims:
Evaluate the effect of resistance training on heart rate variability, biochemical
parameters and somatotype on PLHIV. Methods: Participated this study seven
sedentary men, with age above 25 years old, living with HIV/AIDS, under HAART
use. Were submitted a 16 week intervention with resistance training. Evaluated
the heart rate variability, biochemical parameters and somatotype, before, after
8 weeks and 16 weeks, all in paired form. It was found the data normality by
Shapiro-Wilk test and conducted the Anova one way combined with Tukey post
hoc to samples in each evaluate moment, adopting significance level p<0,05.
Also were calculated percentage change deltas. For somatotype was used the
somatotype spatial distance (DES), obeying the significance value DES≥1.
Results: Was found significance differences only in variable final heart rate delta
60s (p=0,01), however, is not showed changes on heart rate variability,
biochemical parameters and somatotype components. Conclusion: 16 weeks of
resistance training showed improvement on heart rate recovery after submaximal
effort and, despite is not enough to produce significance differences on
biochemical parameters and somatotype components, could be realize
improvement on average value of fasting glucose and lipid profile, as well as
reducing the endomorphic component.
Keywords: resistance training, HIV, AIDS, HAART, heart rate, lipodystrophy.
1
1. INTRODUÇÃO
A terapia antirretroviral (TARV) surgiu e aumentou a expectativa de vida das
pessoas vivendo com HIV e AIDS. O tratamento da doença tornou-se bem aceito pela
população médica e por seus pacientes, ficando ainda melhor com a inclusão de novos
medicamentos (FELEKE Y FAU - FEKADE; FEKADE D FAU - MEZEGEBU;
MEZEGEBU, 2012). Iniciou-se então, a terapia antirretroviral altamente ativa (HAART),
onde modificou significativamente o curso da infecção pelo HIV. A partir desse
momento, a AIDS se caracterizou como uma doença crônica, tornando necessária a
manutenção prolongada do regime terapêutico para o controle da replicação viral. A
duração do tratamento fez com que surgissem outras preocupações terapêuticas
(BRITO et al., 2011; BORGES; SOARES; FARINATTI, 2012), como modificações na
composição corporal, complicações metabólicas, entre outros, aumentando assim, o
risco de doenças cardiovasculares (PAULA; FALCÃO; PACHECO, 2013).
Uma maior frequência de doenças cardiovasculares tem sido evidenciada nessa
população, provavelmente em decorrência da soma da infecção viral crônica e dos
efeitos colaterais dos antirretrovirais (DIEHL et al., 2008), podendo influenciar
negativamente a função cardíaca autonômica (SOLIMAN EZ FAU - ROEDIGER et al.,
2013).
Uma das maneiras de se avaliar a função autonômica cardíaca é através da
análise da variabilidade frequência cardíaca (VFC), que se trata de uma técnica
sensível de medição da função autonômica cardiovascular, que também permite a
avaliação diferencial dos componentes simpático e parassimpático. A variabilidade da
frequência cardíaca é um marcador de tonalidade autonômica cardiovascular e
também é conhecido por ser reduzido, em associação com a disfunção cardíaca, o
que são comuns em pessoas vivendo com HIV (NEILD et al., 2000).
Dentre outros efeitos colaterais causados pelo uso da HAART destacam-se as
implicações metabólicas como: alterações no metabolismo da glicose e dos lipídeos
séricos. As alterações lipídicas encontradas incluem baixos níveis séricos de HDLcolesterol, elevação de colesterol total, LDL-colesterol e triglicerídeos, o que contribui
para a origem de placas de ateroma (KOTLER, 2008). Os regimes de HAART
prejudicam a tolerância à glicose em pacientes soropositivos para o HIV pela indução
2
da resistência insulina periférica no músculo esquelético e no tecido adiposo e redução
na função da célula beta pancreática (FILHO, 2008).
Outro efeito adverso causado pela infecção do vírus HIV está a lipodistrofia,
associada às mudanças corporais e relacionadas ao uso prolongado da HAART. A
lipodistrofia se caracteriza pela redistribuição da gordura corporal e pode ser dividida
em lipoatrofia e lipohipertrofia: a primeira costuma acometer os membros superiores,
membros inferiores e a face; já a segunda, ocorre predominantemente na região tronco
e nuca (buffalo hump) (PETERSON; MARTINS; COFRANCESCO, 2008).
Em virtude da consequência crônica da infecção e dos efeitos secundários que o
medicamento pode causar, um número cada vez maior de estudos vem recomendando
intervenções com exercícios para prevenir ou minimizar os sintomas das doenças
cardiovasculares (DEEKS; LEWIN; HAVLIR, 2013). Não só o exercício, mas também
outras intervenções não farmacológicas comportam um potencial de aprimorar de
maneira significativa o tratamento médico tradicional, trazendo melhores resultados
para os pacientes, proporcionando muitos benefícios para a saúde e melhoria do bemestar (PETRÓCZI et al., 2010).
O exercício físico age primordialmente na mudança da composição corporal,
minimizando as características da lipodistrofia, que estão relacionadas com a redução
dos níveis de parâmetros do perfil lipídico e consequentemente a exposição a fatores
de risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (CURRIER et al., 2008;
CAHN et al., 2010). Além disso, o aumento da massa muscular e redução da
adiposidade corrobora com o aumento da capacidade funcional do sujeito, agindo
dessa forma como uma fator importante no estilo de vida e contribuindo para aderência
a terapia medicamentosa (STEEL et al., 2006).
Sabe-se que as mudanças corporais em PVHIV tem relação estreita com a
questão estética, logo, a redução das características da lipodistrofia tem o potencial
de melhorar a autoestima do indivíduo (PETERSON; MARTINS; COFRANCESCO,
2008). Estas mudanças corporais podem ser avaliadas por meio do somatotipo. Este
método quantifica a composição corporal em três eixos numéricos que representam
suas características físicas em mesomorfia (muscularidade), endomorfia (adiposidade)
e ectomorfia (linearidade) (HEATH; CARTER, 1967).
3
Os estudos que utilizaram apenas o treinamento resistido (TR) para pessoas
vivendo com HIV (ROUBENOFF; WILSON, 2001; SOUZA et al., 2011; BRITO et al.,
2013) apresentaram mudanças significativas nos parâmetros antropométricos e/ou
imunológicos. Contudo, quanto ao efeito do treinamento resistido no controle
autonômico cardíaco, assim como o uso da técnica somatotípica em PVHIV, pouco se
sabe. Por isso, a investigação do efeito do treinamento resistido na variabilidade da
frequência cardíaca (VFC) em pessoas vivendo com HIV, trará um enorme avanço à
pesquisa científica, pela ampla possibilidade de uso e pela facilidade para aquisição
de dados que caracterizam esse recurso. É relevante também destacar que a
apresentação das modificações corporais por meio da avaliação do somatotipo poderá
facilitar aos avaliados a compreensão das alterações corporais proveniente do
exercício físico.
4
2. OBJETIVOS
2.1.
Objetivo Geral:
Avaliar o efeito do treinamento resistido na variabilidade da frequência cardíaca,
nos parâmetros bioquímicos e no somatotipo em pessoas vivendo com HIV/AIDS.
2.2.
Objetivos específicos:
 Identificar a variabilidade da frequência cardíaca de recuperação antes, após 8 e
16 semanas de intervenção;
 Identificar os parâmetros bioquímicos antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção;
 Caracterizar o somatotipo antes, após 8 e 16 semanas de intervenção;
 Comparar as variáveis investigadas antes, após 8 e 16 semanas de intervenção.
5
3. HIPÓTESES DO ESTUDO
O presente estudo antecipa a existência de uma relação entre o treinamento
resistido e benefícios na função autonômica cardíaca, nos parâmetros bioquímicos e
na mudança do somatotipo de pessoas vivendo com HIV/AIDS.
As hipóteses estatísticas serão enunciadas na sua forma nula H0 e alternativa H,
para cada um dos grupos de variáveis dependentes: variabilidade da frequência
cardíaca de recuperação, parâmetros bioquímicos e somatotipo, com mais de 95% de
probabilidade ou p < 0,05 para que a hipótese seja aceita nas variáveis de VFC e
Bioquímicas e ≥1,0 para as variáveis de somatotipia, ou seja, não se cometa o erro do
tipo I.
H0 - Não existe diferença significativa antes e após intervenção para variáveis
indicadas;
H – Existe diferença significativa antes e pós intervenção para variáveis
indicadas;
6
4. REVISÃO DE LITERATURA
4.1. O HIV e terapia antirretroviral altamente ativa
O vírus da Imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome da imunodeficiência
adquirida (AIDS) por ele provocada surgiram em meados da década de 80 e tornaramse uma epidemia mundial rapidamente (FECHIO et al., 2012). Nessa mesma época no
Brasil, os primeiros casos de AIDS foram identificados, predominantemente entre gays
adultos, usuários de drogas injetáveis e hemofílicos (BRASIL, 2011).
A replicação do HIV é um processo de diferentes etapas. O primeiro passo é
encontrar uma célula hospedeira suscetível, como os linfócitos T CD4+ e através do
acoplamento das glicoproteínas gp120 e gp41 presentes no vírus com os coreceptores celulares é permitida a entrada do vírus dentro do interior da célula. O
núcleo capsídeo viral entra na célula hospedeira e se fragmenta liberando duas fitas
de RNA e três enzimas essenciais para replicação: a integrasse, protease e a
transcriptase reversa, que é responsável pela transcrição do RNA viral. Existe dois
domínios catalíticos, o sitio ativo da RNAsa H e o sitio ativo da polimerase, onde uma
única fita de RNA viral é transcrita em uma dupla hélice de RNA-DNA. A RNAsa H
separa o RNA do DNA. Então a polimerase completa a fita de DNA em uma dupla
hélice de DNA. Posteriormente a integrasse entra em ação cortando cada extremidade
dos filamento de DNA e o transfere para o núcleo celular facilitando sua integração
com o genoma da célula hospedeira, onde passará a conter informação genética do
HIV. A ativação celular provoca a transcrição de DNA viral em RNA mensageiro, que
migra para o citoplasma e sintetiza os componentes de um novo vírus. Alguns são
processados pela protease do vírus, que corta as proteínas mais longas em mais
curtas, sendo um processo crucial para a formação de um novo vírus. Depois as fitas
de RNA viral e as enzimas de replicação se agrupam mais às proteínas do núcleo para
formar um novo capsídeo. Esta partícula viral abandona a célula adquirindo um novo
envelope hospedeiro com proteínas virais e pronta para infectar outras células
(CUNICO; GOMES; VELLASCO JUNIOR, 2008; FERREIRA; RIFFEL; SANT'ANA,
2010).
7
A morte das outras células TCD4+ podem ocorrer de diferentes formas: pela coinfecção dos novos vírus formados ou por piroptose. Nesta última, após formação do
DNA viral, a célula hospedeira sofre a apoptose e posteriormente libera resíduos virais
que estimulam processos inflamatórios, assim, as células TCD4+ próximas são
atraídas e entram em falência ao serem atingidas pelos resíduos virais ou pela
inflamação local (GAIHA; BRASS, 2014).
A descoberta da infecção pelo HIV acarretou maior preocupação com a saúde,
pois relaciona-se com o impacto do diagnóstico, com a preocupação sobre o adoecer
e com a adaptação a uma nova realidade. É importante ressaltar que muitos indivíduos
se descobrem infectados pelo HIV/AIDS em fase avançada da doença, já com o
diagnóstico de AIDS (REIS et al., 2011).
Antes dos anos 90, havia pouca solução terapêutica para arrefecer os efeitos da
ação do HIV no indivíduo. Assim, os pacientes vivenciavam sua evolução clínica e
esperavam a morte, sem expectativas alentadoras de tratamento. Somente no início
da década de 90 surgiram as primeiras tentativas terapêuticas mais eficazes, trazendo
maior esperança para os infectados, pois aumentou a expectativa de vida das pessoas
vivendo com HIV (CHENCINSKI; GARCIA; GALVÃO; CERQUEIRA; MARCONDESMACHADO, 2004). Em 1996, com a inclusão de uma nova classe de medicamento, os
inibidores de protease (IP), iniciou-se o advento da terapia antirretroviral de alta
atividade, conhecida como HAART, a qual propiciou um salto de qualidade do
tratamento.(PALELLA JR et al., 1998)
A HAART tem modificado significativamente o curso da infecção pelo HIV, uma
vez que controla a replicação viral e restaura o sistema imune, retardando a
progressão para a AIDS.(FELEKE Y FAU - FEKADE; FEKADE D FAU - MEZEGEBU;
MEZEGEBU, 2012) Uma nova tentativa de mudança na combinação terapêutica vem
sendo proposta com a adição de anti-inflamatórios na combinação da HAART a fim de
reduzir a morte celular por piroptose (GAIHA; BRASS, 2014).
Os medicamentos utilizados no tratamento da terapia antirretroviral apresentam
funções diferentes de acordo com suas classes:
8
Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa - atuam na enzima
transcriptase reversa, incorporando-se à cadeia de DNA que o vírus cria, tornando-a
defeituosa e impedindo que o vírus se reproduza.
Inibidores Não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa – bloqueiam
diretamente a ação da enzima e a multiplicação do vírus.
Inibidores de Protease – atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e
impedindo a produção de novas cópias de células infectadas com HIV.
Inibidores de fusão – impedem a entrada do vírus na célula e, por isso, ela não
pode se reproduzir.
Os inibidores de entrada – é uma classe mais nova de medicamentos
aprovados para uso em humanos. Tem ação semelhante aos inibidores de fusão,
porém ao invés de agirem nos receptores da célula gp-120 e gp-41, eles bloqueiam a
entrada do vírus na célula diretamente na membrana celular. O inibidor de entrada se
liga ao co-receptor da membrana, CCR5, e inibe a entrada do vírus na célula
hospedeira (CUNICO; GOMES; VELLASCO JUNIOR, 2008; FERREIRA; RIFFEL;
SANT'ANA, 2010).
4.2. Complicações metabólicas associadas à HAART
Agravos à saúde vêm sendo cada vez mais reconhecidos e relacionados a
pessoas que vivem com HIV/AIDS, destacando aqueles correlacionados com
complicações metabólicas, justamente, por fazer conexão com alterações
morfológicas e expressar riscos cardiovasculares, como causas de morbidade e
mortalidade na população com HIV (PAULA; FALCÃO; PACHECO, 2013).
Partindo dessa premissa (RIDDLER et al., 2003) é relevante destacar que
as complicações metabólicas estão associadas tanto a aquisição da infecção pelo
HIV (STANLEY; GRINSPOON, 2012), quanto pelas mudanças radicais que
houveram nos medicamentos utilizados para o tratamento da Aids, assim como
aspectos comportamentais envolvendo principalmente os hábitos alimentares
inadequados e inatividade física entre outros (TSUDA et al., 2012).
Fazendo um resgate no referencial teórico é possível observar que a
primeira geração de drogas antirretrovirais promoveu um elevado grau de
9
toxicidade. Logo em seguida, com a introdução de novos agentes, houve mais
eficácia e melhorias em perfis de segurança que levou ao aumento da sobrevida
da sobrevida em indivíduos infectados pelo HIV, devido a diminuição acentuada
nas condições relacionadas a Aids (HILTON, 2013).
Contudo, persistem em longo prazo os efeitos adversos da HAART,
conhecida popularmente como “coquetel” ou tratamento farmacológico, pois
manifesta alterações físicas e fisiológicas que podem trazer implicações
metabólicas como hiperglicemia, dislipidemia, síndrome metabólica, doenças
cardiovasculares, alterações corporais e, principalmente a síndrome lipodistrófica
(CHENCINSKI; GARCIA; KRAMER et al., 2009; LIMA et al., 2009; SOUZA, 2009),
além de propiciarem risco elevado de desenvolver sintomas depressivos (REIS et
al., 2011).
Estudos apontam para mudanças no estado nutricional de PVHIV após a
introdução da HAART, sendo características de mudanças o aumento da
prevalência de obesidade, estando então essa população nas tendências
mundiais da população em geral (JAIME et al., 2004; AMOROSA et al., 2005;
HENDRICKS et al., 2006).
Em relação ao perfil lipídico, as alterações ocorrem de formas e graus
diferentes por mecanismos que não estão totalmente elucidados. As principais
alterações referem-se ao aumento dos níveis séricos de triglicerídeos, colesterol
total e LDL- c. Supõe-se que alguns fármacos que compõe a HAART,
principalmente os IPs, tem a função de atingir a região catalítica da enzima
protease do HIV, que é semelhante com as regiões onde atuam as proteínas
humanas (BORGES; SOARES; FARINATTI, 2012) CRABP1 e LRP, que regulam
o metabolismo de lipídeos, pois há interação do sítio catalítico dos IPs com a LRP,
desencadeando a clivagem de triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol e
reduzindo a absorção hepática de quilomicrons.
Além da elevação dos lipídeos sanguíneos, esta classe de medicamentos
pode alterar o padrão de densidade das LDL-c, tornando-as menores e mais
densas (FILHO, 2008) levando a alterações metabólicas como resistência à
insulina, dislipidemia, lipodistrofia e hipertensão (MURATA; HRUZ; MUECKLER,
2000).
10
As pessoas vivendo com HIV/AIDS apresentam comumente resistência à
insulina, sendo mais prevalente entre aqueles com lipoatrofia ou acúmulo de gordura
na região visceral. Quando existe na terapia a presença dos IPs, isso ocorre com mais
frequência. Umas das hipóteses é que os IPs atuam diretamente na indução de
resistência periférica à insulina no músculo esquelético e no tecido adiposo, causando
deterioração na habilidade das células Beta em compensar estas alterações, agindo
diretamente no GLUT-4, prejudicando a homeostase da glicose (FILHO, 2008).
4.3. Sistema nervoso autônomo e variabilidade da frequência cardíaca
O coração participa ativamente do processo homeostático orgânico, sob a ação
do SNA, cujo é o responsável pela regulação do ritmo e da função de bombeamento
cardíaco, adequando essas funções às necessidades metabólicas e teciduais, às
quais estão expostos os seres humanos em suas atividades da vida diária (MA; FC,
2006). A reorganização da função do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é essencial
para que a realização de novos estímulos se proceda com reduzidos riscos à saúde,
além de possibilitar melhora da performance (COFFEY; LEVERITT; GILL, 2004;
WINSLEY; BATTERSBY; COCKLE, 2005) e uma metodologia utilizada para avaliar o
comportamento autonômico é a Variabilidade de Frequência Cardíaca (VFC).
De modo geral, a VFC descreve as oscilações dos intervalos entre batimentos
cardíacos consecutivos (intervalos R-R), que estão relacionadas às influências do SNA
sobre o nódulo sinusal, sendo uma medida não invasiva, que pode ser utilizada para
identificar fenômenos relacionados ao SNA em indivíduos saudáveis, atletas e
portadores de doenças (PUMPRLA et al., 2002; AUBERT; SEPS; BECKERS, 2003).
A análise da VFC é caracterizada como uma ferramenta não-invasiva, simples e
de fácil aplicação, a qual fornece índices que representam a atuação dos ramos
simpático e parassimpático do SNA sobre o coração (VANDERLEI et al., 2008;
VALENTINI; PARATI, 2009) obtidos por métodos lineares, nos domínios do tempo e
da frequência (XHYHERI et al., 2012).
Existem várias formas de se avaliar a VFC (CAMM et al., 1996), dentre eles, o
método de análise pelo domínio da frequência, onde é possível analisar
individualmente o sistema nervoso autônomo, simpático e parassimpático, em
11
variadas situações fisiológicas e patológicas bem como sua relação com outros
sistemas que também interferem na VFC. Podendo-se assim identificar quais
oscilações são responsáveis pela variabilidade (VANDERLEI et al., 2009).
O domínio da frequência utiliza registros da intensidade das ondas verificadas
em intervalos de tempo menores, sua unidade de medida é o Hertz e seus
componentes espectrais são: High Frequency (HF): variação de 0,15 a 0,4Hz, que
corresponde à modulação respiratória e é um indicador da atuação do nervo vago
sobre o coração; Low Frequency (LF): variação entre 0,04 e 0,15Hz, decorrente da
ação conjunta dos componentes parassimpático e simpático sobre o coração, com
predominância do simpático; VLF Very Low Frequency (VLF) e Ultra Low frequency
(ULF): são indicadores menos utilizados por não ter uma explicação fisiológica bem
estabelecida (FRANCESCO et al., 2012; XHYHERI et al., 2012).
Mudanças nos padrões da VFC fornecem um indicador sensível e antecipado de
comprometimentos na saúde. Alta VFC é sinal de boa adaptação, caracterizando um
indivíduo saudável com mecanismos autonômicos eficientes. Inversamente, baixa
VFC é frequentemente um indicador de adaptação anormal e insuficiente do SNA, o
que pode indicar a presença de mau funcionamento fisiológico no indivíduo,
necessitando de investigações adicionais de modo a encontrar um diagnóstico
específico (PUMPRLA et al., 2002).
4.4. Lipodistrofia e avaliação pelo somatotipo
Dentre os fatores adversos causados pela HAART, destaca-se a síndrome
lipodistrófica do HIV (SLHIV), que se caracteriza pela redistribuição da gordura
corporal em pessoas vivendo com HIV/AIDS, apresentado alta prevalência nesta
população (DIEHL et al., 2008). A lipodistrofia é dividida clinicamente em três
categorias: 1 – lipoatrofia: diminuição de gordura periférica, com perda de tecido
subcutâneo na face, braços, pernas e nádegas, deixando as veias mais evidentes e
proeminentes; 2 – Lipohipertrofia: acúmulo de gordura na região dorso-cervical (giba),
expansão da circunferência do pescoço, aumento do volume dos seios e da região
abdominal; 3 - Forma mista: associação de lipohipertrofia e lipoatrofia (BEDIMO, 2008;
BRASIL, 2008; TSUDA et al., 2012).
12
A literatura mostra que há aumento significativo de gordura na região do tronco,
consequentemente, elevação nos níveis de gordura nas regiões do abdômen, axilar
média, supra ilíaca e subescapular. Isto significa incremento nos níveis de
lipohipertrofia, que se caracteriza por acúmulo de gordura nessa região (abdômen,
costas e pescoço) (PETERSON; MARTINS; COFRANCESCO, 2008).
Contudo, uma forma de se avaliar a composição corporal pode ser utilizando o
método da somatotipia, que ao nosso conhecimento, pouco foi utilizado com PVHIV.
A técnica somatotípica avalia a forma e a composição corporal do sujeito,
estratificando-os em uma classificação de três números, representando: endomorfia,
mesomorfia e ectomorfia respectivamente, sempre na mesma ordem. Endomorfia está
relacionado à adiposidade, a mesomorfia representa a muscularidade e ectomorfia a
linearidade ou magreza (HEATH; CARTER, 1967; ROSS, 1999). O uso da técnica
somatotípica tem a capacidade de mostrar de forma individualizada as mudanças
corporais causadas pelo exercício físico, tornando-se um instrumento relevante de
visualização global das modificações morfológicas ocorridas (DE MOURA FAVARIS et
al., 2012).
Resultados encontrados em populações diferentes, como por exemplo,
indivíduos diabéticos demonstraram uma característica física predominante de
endomorfia. (WILLIAMS et al., 1997; BUFFA et al., 2007). Estudos mostraram
associação com o somatotipo e o risco de desenvolvimento de doenças crônicas,
principalmente cardiovasculares, sugerindo que a endomesomorfia está associada à
fatores de risco cardiovascular, apresentando maiores valores de perfil lipídico,
glicêmico e de parâmetros antropométricos (BUFFA et al., 2007; DOS REIS FILHO et
al., 2011; BALTADJIEV, 2012).
4.5. Exercício físico como estratégia não medicamentosa
O exercício físico como intervenção pode minimizar os prejuízos de uma doença
crônica como a (AIDS) (VENKER CA, 2010), pois o treinamento físico pode ser
utilizada como uma ferramenta para amenizar ou retardar o desenvolvimento de
eventos adversos decorrentes do HIV ou da medicação anti-retroviral, visto que pode
gerar vantagens nos aspectos cardiorrespiratórios, musculares, antropométricos e
13
psicológicos sem induzir a imunossupressão (GARCIA et al., 2013; GOMES-NETO et
al., 2013).
Por entender que atividades extenuantes ou períodos longos de treinamento
induzem a uma ligeira supressão de vários fatores imunes (WALSH et al., 2011), sendo
essa uma situação desfavorável a pessoas vivendo com HIV/AIDS, já que a
preservação do sistema imunológico é de fundamental importância e sua depleção
agrava o estado de saúde e acelera o desenvolvimento da doença (PEREIRA;
GALDINO, 2010). Acreditou-se por muitos anos que o desgaste físico provocado pelos
exercícios diminuiria a resistência do paciente, facilitando o avanço do vírus HIV sobre
o sistema imunológico, permitindo assim o aparecimento de doenças oportunistas
(PIMENTEL, 2008).
As células do sistema imune, quando expostas a pequenas cargas de estresse,
desenvolvem mecanismo de tolerância, então, a adesão a um programa de exercícios
de intensidade moderada a vigorosa parece segura mesmo para indivíduos
imunocomprometidos por não afetar TCD4+ e tampouco a capacidade de replicação
viral (LEANDRO et al., 2007; RASO et al., 2007).
Em síntese pode-se dizer que, de modo geral, o exercício de intensidade
moderada, praticado com regularidade, melhora a capacidade de resposta do sistema
imune, enquanto o exercício exaustivo de longa duração provoca um estado transitório
de imunossupressão aumentando a susceptibilidade a infecções (WALSH et al., 2011).
Alterações neuromusculares como redução na força muscular e incapacidade
funcional ocorrem comumente em indivíduos infectados pelo HIV levando a um quadro
de fragilidade e dependência, que pode ser associado à baixa qualidade de vida,
aumentando os riscos de mortalidade (ROUBENOFF, 2000).
Em virtude das adaptações musculares à carga de trabalho, o treinamento
resistido ou de força é o que mais contribui para o aumento dessa capacidade física,
combatendo a perda de massa muscular/ magra e aumento da funcionalidade do
músculo esquelético, ou seja, aumentando a força de pessoas vivendo com HIV
(DUDGEON et al., 2004; GLOVER et al., 2010). O treinamento de força é um método
específico de condicionamento físico que envolve o uso progressivo de cargas, bem
como de diferentes modelos e métodos de treinamento (DUDGEON et al., 2004;
TSUDA et al., 2012).
14
No entanto, não devemos esquecer que quando realizamos qualquer exercício
físico, envolvemos o sistema nervoso autonômico (SNA), por meio de impulsos
nervosos aferentes e eferentes (HAUTALA et al., 2001; MARTINMÄKI; RUSKO, 2008).
Este responde ao exercício promovendo, dentre diversos eventos, modificações no
sistema cardiovascular, sendo o principal responsável pelas respostas cardíacas e
vasomotoras demandadas pelo esforço, atribuindo ao coração maior capacidade de
bombeamento sanguíneo e, aos vasos, dilatação e constrição para redirecionamento
de fluxo (AUBERT; SEPS; BECKERS, 2003; SALGADO, 2005). Estas condições são
promovidas por alterações na atuação simpato-vagal e consistem na inibição da
modulação parassimpática e estimulação da atividade simpática (JAVORKA et al.,
2002; MOUROT et al., 2004). Cessada a atividade, a situação se inverte, envolvendo
reativação vagal seguida por redução simpática, reestabelecendo homeostase
gradativamente (GOLDBERGER et al., 2006; BA et al., 2009).
Assim, a investigação do efeito do treinamento de força na Variabilidade da
Frequência Cardíaca (VFC) em pessoas vivendo com HIV, trará um enorme avanço à
pesquisa científica pela ampla possibilidade de uso e a facilidade para aquisição de
dados caracterizam esse recurso.
Mudanças no estilo de vida pode ser uma estratégia útil para diminuir o risco
cardiovascular nesta população (FITCH et al., 2006). Assim, um programa de
treinamento de força surge como coadjuvante no tratamento não medicamentoso,
contribuindo para a regulação de variáveis metabólicas, estando principalmente
associado à diminuição do colesterol total e aumento da sensibilidade à insulina, além
da preservação da massa magra, aumento de força, resistência muscular, melhora da
capacidade funcional e, consequentemente, qualidade de vida (SOUZA; MARQUES,
2009; JUCHEM; LAZZAROTTO, 2010; BRITO et al., 2011; YAHIAOUI; MCGOUGH;
VOSS, 2012; TIBANA; PRESTES, 2013).
Devido as suas características, a lipodistrofia está associada a fatores de risco
cardiovascular, como perfil lipídico e circunferência de cintura. Pelo fato da lipodistrofia
estar relacionada ao uso da HAART, ela não tem como ser evitada, porém estratégias
não-medicamentosas, como exercício físico e dieta, são indicadas no intuito de
retardar ou minimizar tal efeito da medicação. Assim, o exercício físico entra como
modulador da composição corporal de PVHIV. Estudos têm mostrado que o exercício
15
físico influencia diretamente em parâmetros bioquímicos (perfis lipídico e glicêmico) e
antropométricos, melhorando significativamente indicadores de risco cardiovascular
(ROUBENOFF; WILSON, 2001; LINDEGAARD et al., 2008; SOUZA et al., 2011).
16
5. METODOLOGIA
5.1.
Delineamento da pesquisa:
A pesquisa realizada se caracteriza como semi-experimental (GAYA, 2008), em
que a variável independente foi manipulada para medir seus efeitos sobre as variáveis
dependentes, com o propósito maior de determinar o grau de mudança produzido pelo
treinamento resistido, estabelecendo uma relação de causa e efeito.
5.2.
População e amostra:
A amostra foi realizada de forma não probabilística intencional por indivíduos que
concordaram em participar do estudo de forma voluntária, através da assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Participaram da pesquisa 9 homens vivendo HIV/Aids, sedentários e com
CD4≥350 cópias mm3 (n=9; 43,00±11,05 anos de idade; massa corporal, 65,90±8,41
kg; estatura, 1,65±0,05 m). Todos faziam terapia antirretroviral e não haviam
modificado a combinação terapêutica durante o período de intervenção.
Foram excluídos 2 homens (n=2) do estudo por abandono da terapia
antirretroviral e às sessões de treinamento. Todos os participantes foram informados
sobre os procedimentos utilizados, possíveis benefícios e riscos atrelados à execução
do estudo. O protocolo de pesquisa foi delineado conforme as diretrizes propostas na
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres
humanos: 229/11
5.3. Programa de treinamento resistido
A intervenção com treinamento resistido consistiu em um protocolo de 16
semanas de treinamento de força, divididos em 3 sessões semanais alternadas por
dia (segunda, quarta e sexta-feira). Os horários disponíveis para a intervenção
correspondiam manhã, entre 8h e 10h e noite, entre 19h e 21h, onde cada participante
pertencia a um turno fixo. As sessões tinham duração de 60 minutos e objetivavam
atingir as regiões mais comprometidas pela lipodistrofia (membros inferiores, membros
superiores, tronco e quadril). A intensidade do treino foi controlada pela escala de
17
percepção de esforço de Omni-res (LAGALLY; ROBERTSON, 2006), entre os valores
7 e 8. Os sujeitos foram familiarizados com o uso da escala que era apresentada a
cada 6 sessões. O intervalo de descanso entre as séries foi de 60 segundos e entre
os exercícios, 120 segundos.
O treinamento foi aplicado por profissionais devidamente capacitados, sendo um
professor responsável por acompanhar 3 alunos. Em relação ao método de treino,
adotou-se o parcelado AB (CONSSENZA, 2001), onde cada letra era específica de
uma série de exercícios e as rotinas de treinos se alternavam com as semanas.
A
Peitoral; ombros; tríceps; quadríceps e abdômen.
B
Isquiostibiais; glúteos; panturrilhas; dorsais; trapézios e bíceps.
Dias da semana
Segunda-feira
Quarta-feira
Sexta-feira
1ª sem
A
B
A
2ª sem
B
A
B
Para todos os exercícios foram adotados 3 séries de 12 repetições, com exceção
do exercício abdominal (prancha), sendo adotado 3 séries com um tempo de contração
isométrica de 45-60 segundos.
5.4. Tonelagem
Como forma de quantificar a progressão do treino foi calculado tonelagens
relativas a cada 6 sessões. Sendo ela a nossa variável independente. No entanto as
tonelagens utilizadas para comparar nossas variáveis foram as calculadas na primeira
e última semana de intervenção por estarem mais próximas das avaliações
bioquímicas e somatotipicas, caracterizando o pareamento.
Para o cálculo da tonelagem: multiplicou-se as 3 séries pelas 12 repetições de
cada exercício realizado, totalizando 36 levantamentos;
A Tonelagem absoluta dia = 36 x a soma total das cargas levantadas durante os
exercícios de uma sessão.
18
Tonelagem absoluta semana = soma dos resultados encontrados nas tonelagens
dia, das 3 sessões semanais. Com isso calculamos a Tonelagem relativa = tonelagem
absoluta / peso corporal verificado naquela semana pela avaliação antropométrica.
5.5. Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC).
5.5.1. Teste de caminhada de 6 minutos
Previamente ao início do estudo foi empregado um protocolo de familiarização
na tentativa de reduzir os efeitos de aprendizagem e estabelecer a reprodutibilidade
do teste.
Para o TC6min, os sujeitos seguiram as recomendações do protocolo
sugerido pela American Thoracic Society (ENRIGHT, 2003)
Os indivíduos foram orientados a usarem roupas confortáveis, calçados
adequados para caminhada e não consumirem alimentos e bebidas cafeínadas nas
24h precedentes aos testes. Os testes foram realizados em um ginásio coberto em um
espaço de 20 (m) marcado por cones em ambas as extremidades e a cada 5 (m) com
sinalizadores bem visíveis. Os avaliados foram instruídos a caminhar (sem correr) pelo
corredor de 20m, indo de uma extremidade à outra, num ritmo contínuo o mais rápido
possível sendo estimulado verbalmente pelo avaliador como recomendado pela ATS.
(ENRIGHT, 2003).
Previamente ao teste, um cinto trasmissor (Polar WearLink® W.I.N.D) foi
colocado no peito de cada sujeito, após ser molhado com água, tal como descrito pelo
fabricante. Foi utilizado um cardiofrequencímetro (Polar® RS800) para registro do
batimento da FC monitorada a cada 5 segundos durante o repouso e cada fase
subsequente da avaliação, onde, consideramos na avaliação os últimos 15 segundos
de cada fase do comportamento da FC.
Os sujeitos ficaram deitados em decúbito dorsal para reduzir influência de fatores
externos e internos. Posteriormente eram avisados do início do teste de caminhada de
6 minutos. Após o teste os avaliados se mantiveram em pé na posição ortostática, sem
movimentos, para ser coletada a frequência cardíaca de 60 segundos e 120 segundos.
Posteriormente foram mantidos em repouso próximo a posição inicial do teste, durante
10 minutos. O protocolo de coleta da VFC utilizado foi o proposto pela Task Force
(CAMM et al., 1996).
19
5.6. Avaliação da composição corporal
Para a avaliação antropométrica, foram utilizadas as diretrizes da International
Society for the Advancement Kinantrophometr (MARFELL-JONES, 2006). Todas as
medidas foram aferidas por um único avaliador, com o erro técnico de medida (ETM)
<5%, visando eliminar o erro Inter avaliador e obter maior fidedignidade dos dado
(PERINI et al., 2005).
Para calcular os componentes do somatotipo foi utilizado o método
antropométrico de Heath-Carte (HEATH; CARTER, 1967), em que solicita o
envolvimento de dez medidas antropométricas: estatura (cm), peso corporal (kg),
dobras cutâneas (triciptal, subescapular, supra-espinhal e perna medial), diâmetros
ósseos (bi-epicôndilo umeral e bi-epicôndilo fêmural), perímetros do braço flexionado
e perna medial.
5.6.1. Cálculo do somatotipo:
O cálculo dos componentes é feito através das equações propostas por Carter
(1990):
- Endomorfia = -0,7182 + 0,1451 (X) – 0,00068 (X)2 + 0,0000014 (X)3.
No qual o X é a soma das dobras cutâneas tricipital, subescapular e supra-ilíaca
multiplicada por 170,18, que é a constante do modelo teórico de referência Phantom,
dividida pela estatura do avaliado.
- Mesomorfia = 0,858 (U) + 0,601 (F) + 0,188 (B) + 0,161 (P) – 0,131 (E) + 4,50.
Onde (U) é o diâmetro biepicondiliano do úmero em centímetros, (F) diâmetro
biepicondiliano do fêmur em centímetros, (B) perímetro corrigido do braço em
centímetros, (P) perímetro corrigido da perna em centímetros e, (E) estatura do
indivíduo em centímetros.
Para os cálculos de medidas corrigidas, subtrai-se o valor do perímetro ao da
dobra cutânea, ambos em centímetros.
- Ectomorfia: para o cálculo da ectomorfia primeiramente encontra-se o índice
ponderal que é calculado por meio da razão da estatura expressa em cm a raiz cúbica
de medida do peso corporal em kg. Sendo assim, quando o resultado do índice
ponderal for maio ou igual a 40,75;
20
Ectomorfia = (Índice Ponderal x 0,732) – 28,58
Quando o resultado do índice ponderal for < 40,75 e > 38,25 então:
Ectomorfia = (Índice Ponderal x 0,463) – 17,63.
Se o índice ponderal for ≤ 38,25:
Ectomorfia = 0,1 (DE, 1984; CARTER; HEATH, 1990; NORTON; OLDS, 1996).
Reunindo estas informações, o somatotipo se classifica por três números
sequenciais, sempre registrados da mesma maneira. Cada número representa a
avaliação dos três componentes primários do físico e descreve as variações individuais
relacionados à morfologia e composição corporal. O primeiro número refere à
endomorfia que corresponde a gordura relativa em físicos individuais, mas também
refere-se a magreza relativa; o segundo número, à mesomorfia, que corresponde ao
desenvolvimento músculo-esquelético relativo por unidade de altura ou massa magra;
e o terceiro número, à ectomorfia, que corresponde a linearidade relativa. Dessa forma,
o indivíduo pode ser classificado como:
- Central: os três componentes são iguais entre si e não diferem em mais de uma
unidade;
- Endo-ectomórfico: o endomorfismo é dominante e o ectomorfismo é maior que
o esomorfismo;
- Endomorfismo balanceado: o endomorfismo é dominante e o mesomorfismo e
o ectomorfismo são iguais ou não diferem mais que 0,5;
- Endo-mesomórfico: o endomorfismo é dominante e o mesomorfismo é maior
que o ectomorfismo;
- Endomorfo-mesomorfo: o endomorfismo e o mesomorfismo são iguais ou não
diferem mais que 0,5 e o ectomorfismo é menor;
- Meso-endomórfico: o mesomorfismo é dominante e o endomorfismo é maior
que o ectomorfismo;
- Mesomorfismo balanceado: o mesomorfismo é dominante e o endomorfismo e
ectomorfismo são iguais ou não diferem mais que 0,5;
- Meso-ectomórfico: o mesomorfismo é dominante e o ectomorfismo é maior que
o endomorfismo:
21
- Ecto-mesomorfo: o ectomorfismo e o mesomorfismo são iguais ou não diferem
mais que 0,5 e o endomorfismo é menor;
- Ecto-mesomórfico: o ectomorfismo é dominante e o mesomorfismo é maior que
o endomorfismo;
- Ectomorfismo balanceado: o ectomorfismo é dominante e o mesomorfismo e o
endomorfismo são iguais e não diferem mais que 0,5; e
- Ecto-endomórfico: o ectomorfismo é dominante e o endomorfismo é maior que
o mesomorfismo. (CARTER; HEATH, 1990).
5.6.2. Construção das somatocartas
A somatocarta foi construída a partir de 2 eixos x e y utilizando o programa
Somatotype Calculation and Analysis versão 1.2.5 - é um programa projetado para
calcular somatotipos individuais e em grupos.
 A coordenada x = ectomorfo - endomorfo.
 A coordenada y = mesomorfo x 2 - (ectomorfo + endomorfo).
A somatocarta é representada por um triangulo equilátero de lados curvos
(triangulo de reuleaux). Cada uma das áreas formadas nos ângulos representam os
setores de predominância de um dos componentes. Sendo a ectomorfia localizada a
direita, a endomorfia localizada a esquerda e a mesomorfia na parte superior. As duas
coordenadas x e y são traçadas no triângulo. A intersecção dos eixos no centro do
triângulo representa o ponto zero de ambas as coordenadas. A coordenada y atinge
as dimensões de +18 e -10 e a coordenada x as dimensões de +8 e -8. Na coordenada
x, o vértice equivalente a endomorfia representa o ponto -6 e o vértice equivalente a
ectomorfia o ponto +6. Na coordenada y, o vértice equivalente a endomorfia representa
o ponto -6 e o vértice equivalente a mesomorfia ao ponto +12.
Para melhor embasar a análise comparativa dos somatotipos calculados para o
grupo, comparou-se os somatotipos encontrados no grupo na avaliação basal com a
avaliação de 8 semanas e avaliação basal com avaliação de 16 semanas, empregando
a análise de distância espacial entre os somatotipos (DES).
Em que: DES = √(IA – IB)2 + (IIA – IIB)2 + (IIIA – IIIB)2
I: Endomorfia
22
II: Mesomorfia
III: Ectomorfia
A e B: representam as avaliações a serem comparadas.
As diferenças significativas são consideradas quando os valores forem maior ou
igual a 1 (DES≥1) (GUEDES, 2006).
5.7. Exames bioquímicos
A avaliação bioquímica foi realizada com os participantes em jejum de 12h e
tendo participado da última sessão de treinamento a pelo menos 24h. Foi coletado em
veia periférica 5ml de sangue pelo método a vácuo. Posteriormente o sangue foi
centrifugado a 3.500rpm por 5 min para obtenção do soro e posterior análise. A
avaliação foi composta por análise da glicemia de jejum pelo método enzimático;
insulina pelo método de quimiluminescência; colesterol total, LDL-colesterol, HDLcolesterol e triglicerídeos, pelo método enzimático. Foram utilizados Tubos de EDTA,
tubos com gel ativador para análise bioquímica; tubo com citrato para coagulação;
adaptador para coleta a vácuo com agulha 25x8mm. Além de aparelho automático BS
380 e aparelho LIAISON. Os valores de referência utilizados como parâmetros foram
os determinados pelo laboratório responsável.
5.8. Análise estatística
Para análise estatística foi utilizado o software SPSS Statistics verão 20.0. O
tratamento estatístico obedeceu aos critérios de autenticidade científica e foi realizado
observando a distribuição da normalidade dos dados (curva gaussiana), através do
teste não-paramétrico de Shapiro Wilk.
Tendo em vista uma amostra paramétrica, a estatística descritiva adotada partiu
dos cálculos da média e desvio padrão.
Como teste de hipótese considerou um valor de alfa inferior a 5%, ou seja, valor
p <0,05 indicando então para aceitar ou rejeitar a hipótese com mais de 95% de
probabilidade de não cometer o erro do tipo I.
O estudo se dispôs de variáveis numéricas que apresentaram sabidamente uma
variação normal, sendo assim, realizou-se então a análise de variância Anova one-
23
way a fim de identificar diferenças estatísticas nos três momentos em que aconteceram
as avaliações. Juntamente a Anova, foi executado o teste Post Roc de Tukey
objetivando identificar em quais dos momentos de cada variável ocorreram as
diferenças. Foi utilizado 95% de intervalo de confiança para comparar as variáveis que
compõem a variabilidade da frequência cardíaca e os parâmetros bioquímicos, antes,
após 8 e 16 semanas de intervenção com treinamento resistido.
Calculou-se também deltas de mudanças percentuais das variáveis, em que a
média da variável de 8 semanas foi dividida pela média da variável da semana inicial
e em seguida subtraída de 1, o resultado alcançado é transformado em porcentagem.
O delta de mudança percentual das 16 semanas também foi calculado com a avaliação
inicial.
O somatotipo foi calculado por meio do DES (dispersão espacial dos
somatotipos), método criado propriamente para identificar as mudanças ocorridas nos
pontos da somatocarta, sendo considerado significativo um valor maior ou igual a 1.
24
6. RESULTADOS
A tabela 1 apresenta as medias e o desvio padrão das variáveis da frequência
cardíaca de recuperação, e dos respectivos deltas da frequência cardíaca de
recuperação de 60 e de 120 segundos. Além dos marcadores autonômicos cardíacos
pelo domínio da frequência (DF) avaliados antes, após 8 e 16 semanas de intervenção
com treinamento resistido (TR).
Os resultados da análise de variância realizada pelo teste anova one way
juntamente ao teste post hoc de Tukey apresentou diferenças significativas somente
para a variável delta da frequência cardíaca de 60 segundos (p=0,014) entre a
avaliação inicial e a 16ª semana de intervenção com TR. Não foi encontrado
significância para as outras variáveis.
Tabela 1 – Valores médios da Frequência cardíaca de recuperação e marcadores
autonômicos da variabilidade da variabilidade da frequência cardíaca antes, após 8 e
16 semanas de TR.
Basal
8ª Semana
16ª Semana
Média
DP
Média
DP
Média
DP
p<0,05
FCR (bpm)
115
20
127
21
137
23
0,46
∆FCR 60``
17
7
27
7
37
9
0,01*
∆FCR 120``
25
15
37
20
40
13
0,24
LF
56
24
69
22
70
19
0,42
HF
44
24
31
22
30
19
0,42
2,24
2
4,47
6
3,90
3
0,55
LF/HF
FCR=frequência cardíaca final de recuperação; ∆FCR 60``=delta da frequência cardíaca de 1 minuto;
∆FCR 120``=delta da frequência cardíaca de 2 minutos; LF (n.u.) =banda de baixa frequência por
unidade normalizada; HF (n.u.) = banda de alta frequência por unidade normalizada; LF/HF=razão entre
a banda de baixa e alta frequência.
25
A tabela 2 apresenta as medias e desvio padrão das variáveis bioquímicas que
compõem o perfil glicêmico e perfil lipídico, avaliados antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção com TR.
Os resultados não apresentaram diferenças significativas para as variáveis
bioquímicas.
Tabela 2 – Valores médios dos perfis glicêmico e lipídico antes, após 8 e 16 semanas
de intervenção com TR.
Basal
8ª Semana
16ª Semana
Média
DP
Média
DP
Media
DP
Coeficient
es
p<0,05
Glicose (mg/dl)
95
11
92
7
83
9
70-99
0,06
Insulina (µIU/ml)
8
6
8
5
10
6
3,21-16,32
0,82
Índice de HOMA
1,94
1,52
1,84
1,13
1,95
1,13
>4,65
0,98
Triglicerídeos
(mg/dl)
166
66
128
67
159
91
<150
0,63
HDL (mg/dl)
48
7
52
9
52
20
>40
0,79
LDL (mg/dl)
125
38
126
35
115
28
<100
0,81
Colesterol Total
(mg/dl)
206
41
203
41
199
24
<200
0,92
26
A tabela 3 apresenta as médias dos três componentes do somatotipo e a
comparação na avaliação inicial, após 8 e 16 semanas de intervenção com TR. Os
resultados não apresentaram diferenças significativas quando comparados pelo DES
entre a 8ª semana e avaliação inicial (DES=0,75) e entre a 16ª semana e avaliação
inicial (DES=0,88).
Tabela 3 – Médias dos componentes do somatotipo antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção com TR.
Somatotipo
Basal
8ª Semana
16ª Semana
ENDOMORFIA
4,21
4,06
3,79
MESOMORFIA
4,63
4,91
5,10
ECTOMORFIA
1,22
1,90
1,84
DES ≥1
(Basal – 8ª)
DES ≥1
(Basal – 16ª)
0,75
0,88
A tabela 4 apresenta a frequência percentual do perfil somatotípico do sujeitos
investigados antes, após 8 e 16 semanas de intervenção. Onde pode-se observar em
valores percentuais a predominância do componente mesomorfo no decorres das
avaliações.
Tabela 4 – Frequência percentual das classificações dos somatotipos antes, após 8 e
16 semanas de intervenção com TR.
Basal
8ª Semana
16ª Semana
Somatotipo
n
%
n
%
n
%
Endomesomórfico
2
29%
1
14%
0
0%
Endomesomorfo
2
29%
2
29%
2
29%
Mesoendomórfico
2
29%
3
43%
4
57%
Mesoectomorfo
0
0%
0
0%
1
14%
Ectomesomorfo
1
13%
1
14%
0
0%
27
Tabela 5 – Descrição dos valores médios e dos deltas de mudança percentual da 8ª
semana e da 16ª semana.
1ª Semana
8ª Semana
16ª Semana
Média
Média
Média
∆8ª
∆16ª
FCR (bpm)
115
127
137
11%
20%
FCR60
98
100
100
2%
2%
FCR120
86
91
93
6%
8%
∆FCR 60``
∆FCR 120``
17
25
27
37
37
40
60%
48%
119%
60%
LF
56
69
70
22%
25%
HF
44
31
30
-29%
-32%
2,24
4,47
3,90
100%
74%
95
92
83
-3%
-13%
8
8
10
2%
21%
1,94
1,84
1,95
-5%
1%
166
128
159
-23%
-4%
48
52
52
9%
9%
LDL (mg/dl)
125
126
115
0%
-8%
Colesterol
Total (mg/dl)
206
203
199
-2%
-4%
FCR
VFC
LF/HF
Perfil
Glicêmico
Glicose
(mg/dl)
Insulina
(µIU/ml)
Índice de
HOMA
Perfil
Lipídico
Triglicerídeos
(mg/dl)
HDL (mg/dl)
28
A figura 1 apresenta os marcadores autonômicos da variabilidade da frequência
cardíaca analisados pelo domínio da frequência antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção com o TR.
Figura 1 – Marcadores autonômicos da variabilidade da frequência
cárdica.
A figura 2 apresenta os deltas de mudança percentual dos marcadores da
variabilidade da frequência cardíaca nos momentos, antes, com 8 semanas e 16
semanas após a intervenção com TR.
120%
100%
80%
60%
LF
40%
HF
LF/HF
20%
0%
BASAL
8 SEMANAS
16 SEMANAS
-20%
-40%
Figura 2 – Delta de mudança percentual dos marcadores autonômicos da
variabilidade da frequência cardíaca.
29
A figura 3 apresenta as variáveis de frequência cardíaca de recuperação antes,
após 8 e 16 semanas de intervenção com TR.
Figura 3 – Variáveis de frequência cardíaca de recuperação.
A figura 4 apresenta os deltas de mudança percentual das variáveis de frequência
cardíaca de recuperação final, após 60s e 120s. Também são apresentados os
respectivos deltas da frequência cardíaca de 60s e 120s, no início, após 8 e 16
semanas de intervenção com TR.
140%
120%
100%
FCR
FC60
80%
FC120
60%
∆60
40%
∆120
20%
0%
BASAL
8 SEMANAS
16 SEMANAS
Figura 4 – Delta de mudança percentual das variáveis da frequência cardíaca
de recuperação.
30
A figura 5 apresenta as variáveis bioquímica do perfil glicêmico: glicemia de
jejum, inulina de jejum e o índice de HOMA, antes, após 8 e 16 semanas de intervenção
com o TR.
Figura 5 – Variáveis bioquímicas do perfil glicêmico.
A figura 6 apresenta os deltas das variáveis bioquímicas do perfil glicêmico,
antes, após 8 e 16 semanas de intervenção com TR.
25%
20%
15%
10%
GLICEMIA
5%
INSULINA
HOMA
0%
BASAL
8ª SEMANA
16ª SEMANA
-5%
-10%
-15%
Figura 6 – Delta de mudança percentual das variáveis bioquímicas do perfil
glicêmico.
31
A figura 7 apresenta as variáveis bioquímicas do perfil lipídico: Triglicerídeos,
HDL colesterol, LDL colesterol e colesterol total, antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção com TR.
Figura 7 – Variáveis bioquímicas do perfil lipídico.
A figura 8 apresenta os deltas das variáveis bioquímicas do perfil lipídico antes,
após 8 e 16 semanas de intervenção com TR.
15%
10%
5%
0%
-5%
-10%
TGL
BASAL
8ª SEMANA
16ª SEMANA
HDL
LDL
CT
-15%
-20%
-25%
Figura 8 – Delta de mudança percentual das variáveis bioquímicas do perfil
lipídico.
32
A figura 9 apresenta as variáveis de tonelagem relativa e distância percorrida no
TC6, verificados no início, após 8 e 16 semanas de intervenção com o TR.
Figura 9 – Tonelagem relativa e distância percorrida.
A figura 10 apresenta os deltas das variáveis, tonelagem relativa e distância
percorrida no teste de caminhada de 6 minutos antes, após 8 e 16 semanas de
intervenção com TR.
180%
160%
140%
120%
100%
TONELAGEM
80%
DISTÂNCIA
60%
40%
20%
0%
BASAL
8ª SEMANA
16ª SEMANA
Figura 10 – Delta de mudança da tonelagem relativa e distância percorrida.
33
A figura 11 apresenta as somatocartas de acordo com os períodos de
intervenção.
Figura 11 – Somatocartas dos sujeitos antes, após 8 e 16 semanas de intervenção com TR.
34
7. DISCUSSÃO
A hipótese do estudo surgiu da premissa que o treinamento resistido aplicado em
16 semanas proporcionaria benefícios à função autonômica cardíaca, nos parâmetros
bioquímicos e na mudança do somatotipo de pessoas vivendo com HIV/AIDS.
Em nossos resultados, poucas foram as variáveis que apresentaram diferenças
estatisticamente significativas. Nesse sentido partindo do pressuposto que diferenças
absolutas ocorreram, é imprescindível entender as causas que possam ter contribuído
para a o comportamento dessas variáveis, sendo assim, fazemos ressalvas discutindo
alguns achados.
Ao analisar os resultados das comparações das variáveis da variabilidade da
frequência cardíaca, não se pode aceitar a hipótese derivada “existe diferença”, apesar
dos valores médios do delta de mudança terem apresentado aumento no marcador de
baixa frequência (LF) antes de iniciarmos a intervenção com treinamento resistido,
sendo superior ao marcador de alta frequência (HF) que está mais associado ao
sistema parassimpático, seguindo a ideia de que a infecção pelo HIV ou seu tratamento
medicamentoso podem progressivamente, levar a uma reativação vagal e simpática
mais lenta (BORGES; SOARES; FARINATTI, 2012). O mesmo continuou a acontecer
após 8 semanas, repetindo-se na avaliação da 16ª semana de treinamento. O
marcador LF apresentou novamente aumento, predominando-se sobre o HF,
demonstrando uma maior atividade simpática e menor atividade parassimpática.
Provavelmente por não existir investigações abrangentes de todos os índices de VFC
de pessoas vivendo com HIV/AIDS, os nossos resultados quando comparados a
estudos que sugeriram valores padronizados de VFC (BIGGER et al., 1995),
demonstram fugir da normalidade, portanto, não há conclusões evidentes. Essa lacuna
pode existir porque outros estudos omitiram os limites normais para a idade, o sexo, e
o ambiente, além de que a fonte de dados é pequena para serem analisados e darem
suporte ao que se diz normal (MALIK et al., 1996).
O índice de LF/HF é considerado uma medida de equilíbrio simpato-vagal, os
resultados das médias após a intervenção, apresentaram valores superiores quando
comparados com avaliação inicial à intervenção. No entanto, essa diferença foi
observada em valores absolutos, não apresentando diferença estatística, não podendo
35
afirmar que os sujeitos apresentaram um desequilíbrio simpato-vagal. Pesquisas
recentes investigaram os efeitos da terapia antirretroviral na função autonômica
cardíaca (SOLIMAN EZ FAU - ROEDIGER et al., 2013) e a duração da infecção pelo
HIV na diminuição do componente cardíaco parassimpático e simpático (FIORENTINI
et al., 2012). No entanto, não encontramos estudos em que avaliaram a função
autonômica cardíaca após uma intervenção com treinamento resistido em pessoas
com HIV/AIDS.
Os resultados da FCR apresentaram aumento nos valores das médias mas não
foram considerados significativos. Esse aumento, reflete a intensidade maior utilizada
durante o teste de caminhada de 6 minutos, onde foi encontrada diferença significativa
entre a 16ª semana para a avaliação inicial (p=0,011). Valentini et al, 2009
(VALENTINI; PARATI, 2009) explica que com aumento das intensidades de exercício,
a frequência cardíaca aumenta gradativamente, considerando que, em maiores cargas
de trabalho, esse aumento mais pronunciado da frequência cardíaca é resultado da
retirada parassimpática e ativação simpática. Quando existe um aumento gradativo
da intensidade do exercício, em paralelo ocorre um incremento gradual na atividade
nervosa simpática (ARAI et al., 1989) somado à influência de mecanismos intrínsecos,
provocando aumentos adicionais da frequência cardíaca.
Foram encontradas diferenças significativas (p=0,014) nas mudanças da
frequência cardíaca em recuperação de 60 segundos menos a frequência cardíaca
final, que é representada pelo delta 60 entre a avaliação da 16ª semana e a avaliação
inicial. A variável apresentou recuperação mais rápida dos batimentos cardíacos na
última avaliação após a intervenção, sugerindo que, ao contrário dos mecanismos
fisiológicos do aumento da intensidade da atividade física, a recuperação da
frequência cardíaca após o exercício, tem sido atribuída a uma rápida reativação
parassimpática nos primeiros segundos da recuperação, seguida de uma gradual
retirada simpática. O treinamento resistido parece ter promovido efeito no desempenho
aeróbio, pois uma maior recuperação na frequência cardíaca foi observada após a
intervenção, podendo ser explicado pelo fato de que um alto volume de ejeção pode
ser devido ao redirecionamento do sangue da periferia para regiões centrais do corpo,
ampliando o retorno venoso e facilitando o enchimento dos ventrículos (FERNANDES
et al., 2008). Nossos resultados não sustentam a ideia de que a frequência cardíaca
36
de recuperação é prejudicada em indivíduos vivendo com HIV independente da
combinação da HAART (CADE et al., 2008). Ao praticar uma atividade física regular,
a frequência cardíaca é reduzida, como também no exercício submáximo, onde a
frequência cardíaca máxima diminui ligeiramente ou permanece inalterada com o
treinamento crônico (VALENTINI; PARATI, 2009).
O treinamento resistido aumentou consideravelmente a força do sujeitos
investigados, fato este observado pela diferença da tonelagem relativa, onde
apresentou aumentos significativos em todas as três avaliações, sugerindo melhoria
da eficiência muscular e hipertrofia muscular proveniente da cronicidade do
treinamento resistido. É importante ressaltar que nessa população há uma incidência
progressiva na diminuição da massa corporal magra, caracterizando como outra
indesejável mudança oriunda da infecção pelo HIV e da HAART, que por sua vez,
associa-se à redução da capacidade do sistema músculo esquelético em gerar
força.(FERNANDES et al., 2008; BRITO et al., 2013; PAULA; FALCÃO; PACHECO,
2013).
Mesmo não fazendo parte de nossos objetivos específicos, verificamos que o
treinamento resistido interferiu no desempenho do teste de caminhada de 6 minutos,
onde os sujeitos aumentaram a distância percorrida, apresentado significância. O teste
tem um tempo curto de duração e é semelhante a uma caminhada de rotina. Os
sujeitos eram todos sedentários, o que fortalece a ideia de que qualquer exercício físico
controlado melhoraria a aptidão física, influenciando no desempenho do teste
(FECHIO et al., 2012). Supõe-se que o treinamento resistido tenha desenvolvido
adaptações neurais ao ponto de desenvolver a coordenação inter e intra muscular
influenciado para um maior distância percorrida (MAIOR; ALVES, 2003). Outra
explicação pode ser dada pela economia do movimento. Simões et al, (2010) (SIMÕES
et al., 2010) encontrou correlações moderadas e significantes quando relacionou a
potência média de membros inferiores com o desempenho no teste de 6 minutos em
idosos. Em outro estudo (HARTMAN et al., 2007) também realizado com idosos, foi
encontrado que um programa de treinamento resistido tem efeito sobre a economia de
exercícios durante as tarefas diárias e podem apresentar mais facilidades quando
realizadas atividades físicas.
37
Em nosso estudo, dentre as variáveis utilizadas para avaliar o controle glicêmico
(glicemia de jejum, insulina de jejum, e Índice de HOMA), apesar do valor da glicemia
ter reduzido após a 8ª e 16ª semana de intervenção, não foram encontradas diferenças
significativas. Possivelmente as 16 semanas de treinamento não foram suficientes ao
ponto de reduzir a glicemia e insulina, indo de encontro aos achados, onde afirmam
que o TR realizado em apenas 12 semanas reduz a glicemia e promove melhorias na
ação da insulina em homens jovens sedentários e com sobrepeso (CROYMANS et al.,
2013). No entanto, com a população vivendo com HIV, alguns estudos investigaram o
mecanismo de associação das alterações metabólicas com a HAART, não sendo
elucidado totalmente estas associações, sugerido que a gênese da SLHIV é
multifatorial e dentre os aspectos que podem estar associados destacam-se o tempo
de infecção, o tipo de HAART, a idade, o IMC, sexo (TROIAN et al., 2005; DE ARAUJO
et al., 2007).
As explicações para os fatores que estão envolvidos no processo de alterações
na homeostase da glicose, especialmente resistência à insulina, também não são
totalmente esclarecidas. Associam hiperglicemia e resistência à insulina à terapia
medicamentosa, principalmente aos inibidores de protease, ao tempo de infecção, pela
a ação direta do vírus às células b-pancreáticas, além de fatores como aumento de
gordura abdominal e dislipidemia (DUBÉ, 2000).
Quanto à insulina, observou-se um acréscimo na média do grupo após a
intervenção e manutenção no Índice de HOMA, porém, em nossos resultados não
encontramos diferença significativa. Apesar disso, na literatura é documentado que o
treinamento resistido melhora o controle glicêmico, principalmente, ao aumento da
sensibilidade a insulina, quando feito em conjunto com aconselhamento dietético
(TIBANA; PRESTES, 2013).
As variáveis analisadas no perfil lipídico não apresentaram diferenças
significativas, apesar de apresentarem em seus valores absolutos e nos deltas,
aumento no HDL e diminuição no LDL, triglicerídeos e colesterol total. Há poucos
estudos sobre a influência do treinamento resistido nessa população, apresentando
ainda, metodologias muito divergentes e diferentes tempos de intervenção, devido à
falta de consenso da intensidade e duração do treinamento, estágio da doença em que
está a amostra, variação no uso dos medicamentos da HAART e elaboração e controle
38
do protocolo de treinamento (SOUZA; MARQUES, 2009). Sabemos também, que a
maioria dos estudos demonstram melhoria significativa da composição corporal
através da prática do exercício físico, tornando-se necessários mais estudos para
investigar o treinamento físico no perfil lipídico, na resistência à insulina e nas
alterações glicêmicas em pessoas vivendo com HIV/AIDS (JUCHEM; LAZZAROTTO,
2010).
Em especial ao treinamento resistido, estudos afirmam aumento significativo da
massa magra e do HDL e diminuição da gordura corporal e dos triglicerídeos
(LINDEGAARD et al., 2008), sugerindo que a hipertrofia muscular induzida pelo
treinamento resistido pode promover a depuração dos triglicerídeos da circulação de
homens infectados com HIV tratados com terapia antiviral (YARASHESKI et al., 2001).
Em nosso estudo, apesar de alguns parâmetros do perfil lipídico, especialmente os
triglicerídeos, terem apresentado redução, essa diferença não foi significativa.
Enfatizamos que todos estes parâmetros bioquímicos estão propícios à
interferência de diversos fatores na população com HIV, por exemplo, a resistência à
insulina pode ser causada por aumento de peso, alteração na distribuição de gordura
corporal e uso de inibidores de protease retroviral (SAMARAS et al., 2007). De forma
geral, o controle glicêmico e perfil lipídico, além de aspectos como genética, consumo
alimentar, nível e tempo de atividade física, gordura e abdominal, como também o
tempo de infecção e o tipo terapia medicamentosa utilizada podem afetar tais
parâmetros, pois estudos afirmam de longa data, que é incontestável e descrita a
associação das drogas antirretrovirais com a síndrome lipodisdrófica (TSUDA et al.,
2012), que está relacionada a redistribuição de gordura, podendo representar maiores
chances de distúrbios no metabolismo da glicose e lipídios.
Compreendemos que um dos fatores limitantes do nosso estudo que pode ter
influenciado os resultados foi o tempo da intervenção, pois a literatura afirma que é
necessário a adoção do exercício regular por longo período, para então, promover
alterações importantes em variáveis associadas à saúde e qualidade de vida em
pessoas com HIV, como o perfil lipídico.(BRITO et al., 2011; YAHIAOUI; MCGOUGH;
VOSS, 2012).
39
No decorrer de nosso estudo, pelas experiências vividas, supõe-se haver
interferência de aspectos psicomorfofuncionais nos nossos resultados, pois mesmo
sem haver mudanças significativas em todas as variáveis de VFC e bioquímicas,
constatamos que os sujeitos aderiam ao treinamento e que suas modificações
corporais podiam ser observadas visualmente.
Nos estudos com treinamento resistido em PVHIV, a composição corporal é
analisada através de IMC, massa livre de gordura e massa gorda, além de testes de
força em alguns estudo como forma de se avaliar a eficácia do treinamento
(ROUBENOFF; WILSON, 2001; YARASHESKI et al., 2001; LINDEGAARD et al., 2008;
BRITO et al., 2013). No entanto, nenhum estudo foi realizado utilizando o somatotipo
como forma de avaliar as modificações decorrentes do exercícios físico em PVHIV.
O estudo do somatotipo constitui-se, portanto em valioso instrumento de
informação que permite a visualização global das modificações morfológicas ocorridas
em função de alterações processadas simultaneamente no nível do tecido muscular.
O surgimento do somatotipo permitiu classificar através de uma escala numérica, o
tipo físico, fazendo acabar dessa maneira com as distorções que surgiam pela falta de
objetividade que caracterizava outras técnicas de avaliação (GUEDES, 2006).
A partir do exposto nas somatocartas pode-se observar uma tendência dos
sujeitos à mesomorfia após 8 semanas de treinamento, predominando essa
característica após as 16 semanas de intervenção, porém sem diferenças
significativas, quando analisado pelo DES. Inicialmente o componente endomorfia se
destacava com 58%, após 8 semanas houve uma redução de 15%, passando então a
predominar a mesomorfia. Após 16 semanas de intervenção os componentes com
características de endomorfia sofreram uma redução maior, atingindo 29% em relação
a avaliação inicial. Ao final da intervenção os componentes com características de
mesomorfia passaram a predominar com 71% na amostra, observando estes dados e
as médias dos componentes do somatotipo (Tabela 4). Em dados absolutos
entendemos que o exercício físico reduziu a endomorfia, que está associada ao
acúmulo de adipócitos relacionados ao risco de desenvolvimento de doenças
cardiovasculares e menor capacidade funcional (WILLIAMS et al., 1997; SINGH,
2007). Esta modificação está associada com a redução dos valores de adiposidade e,
principalmente pelo aumento da massa muscular.
40
O aumento da tonelagem relativa fortalece o pensamento da hipertrofia gerado
pela cronicidade do treinamento resistido, uma vez que o componente predominante
da somatotipia nesse estudo foi a mesomorfia, caracterizada pela presença de
muscularidade. Esta modificações corporais possivelmente devem-se ao fato dá
lipólise advinda da adaptação ao treino (BRITO et al., 2013) e aumento da hipertrofia,
o que representa um importante fator de combate a HAART, já que a mesma parece
interferir no aumento de massa muscular (DEEKS; LEWIN; HAVLIR, 2013).
A literatura afirma que PVHIV sofrem mudanças corporais, como a lipodistrofia,
que afetam diretamente parâmetros fisiológicos e psicológicos(DUDGEON et al.,
2004). Como também, tem mostrado que a lipodistrofia tem impacto significativo no
comportamento social do sujeito, sendo encontrado nesses estudos comportamento
de isolamento, depressão e distorções da sua percepção corporal (BLASHILL;
VANDER WAL, 2010).
Intervenções devem ser realizadas o quanto antes ao início do tratamento para
amenizar os efeitos adversos da medicação, proporcionando um melhor bem-estar
psicossocial (SEIDL; MACHADO, 2008), o que de certa forma interfere positivamente
na adesão e aderência ao tratamento e no enfrentamento da doença.
As alterações corporais decorrentes da lipodsitrofia em pessoas vivendo com
HIV, faz-se necessário descrever de um modo adequado e interpretar os aspectos
relacionados com as alterações na forma do corpo. O método da somatotipia parece
ser uma nova ferramenta a ser inserida nas avaliações morfológicas dessa população.
41
8. CONCLUSÃO
O treinamento resistido quando aplicado em 16 semanas demonstrou melhoria
na recuperação da frequência cardíaca após um esforço submáximo, mesmo não
sendo identificadas melhorias na variabilidade da frequência cardíaca, e apesar de não
ser suficiente para produzir diferenças significativas nos parâmetros bioquímicos e nos
componentes do somatotipo, pôde-se perceber melhoria nos valores médios de
glicemia e perfil lipídico, assim como redução do componente de endomorfia.
9. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES
Este estudo nos fez pensar como algumas pesquisas por si só nos fazem
esquecer alguns princípios, como por exemplo, os da individualidade biológica, o qual
revela diz que cada organismo reage de formas diferentes ao mesmo estimulo
aplicado, gerando adaptações especificas. É muito comum aplicar um protocolo de
exercícios físicos a um grupo de pessoas, a fim de derrubar hipóteses de que aquela
intervenção proporcionará benefícios ou não quando comparadas a um grupo controle.
Deixamos muitas vezes de perceber as mudanças individuas proporcionadas pelo
protocolo aplicado em cada indivíduo, para escrevermos o que aconteceu
supostamente numa média de grupo, onde por muitas vezes, as transformações
importantes passaram a não ser descritas por não apresentarem valores significantes
quando comparados em uma estatística tradicional. Porém, essas mesmas
informações possam ter contribuído significativamente, não a média do grupo
investigado, mas em uma informação precisa de cada sujeito estudado.
As pessoas vivendo com HIV/AIDS apresentam uma característica bastante
diferente das demais populações, quando o tema abordado é a própria doença.
Somente o uso de diferentes combinações terapêuticas para retardar a replicação do
vírus justifica a gama de possibilidades de aumentar mais ainda a especificidade de
cada sujeito. Fatores físicos e psicológicos, somados a outras variáveis intervenientes,
como exemplo, o estilo de vida adotado, tornam-se difíceis de ser controlados e
assumem um papel importante na vida destas pessoas.
42
No decorrer de nosso estudo, percebemos variáveis passíveis de controle, como
a associação do treinamento a uma dieta controlada. Vimos que o treinamento
resistido quando trabalhado de forma isolada e com uma duração de 16 semanas não
foi suficiente para proporcionar todos os benefícios hipoteticamente construídos, no
entanto, não podemos afirmar o mesmo, se o treinamento resistido continuasse a ser
aplicado por um período mais longo.
A satisfação expressa nos rostos dos sujeitos ao verem os resultados das
avaliações antropométricas, faz pensar sobre as modificações ocorridas na autoestima
de cada um, o que pode ter contribuído para uma melhor qualidade vida. Desta forma,
faz-se uma interessante estratégia, investigar a imagem corporal e sua relação com a
qualidade de vida antes e após uma intervenção.
Outros métodos de treinamento seriam interessantes aplicar, como exemplo, o
treinamento funcional direcionando as regiões mais afetadas pela lipodistrofia, ou
quem sabe, a comparação de diferentes métodos de treinamentos aplicados à mesma
população, ao ponto de ver qual método é mais eficaz em diferentes parâmetros, sejam
eles, imunológicos ou morfofuncionais. A maior dificuldade encontrada em nosso
estudo foi controlar as possíveis variáveis intervenientes. Pensamos que, com o
controle maior dessas variáveis poderíamos ter encontrado maiores e mais diferenças.
Exemplificamos como seria complicado montar um grupo o mais seguro possível de
sofrer essas interações. Primeiro teríamos que separar os sujeitos por classe de
medicamentos, depois por faixa estaria, tempo de infecção, tempo de tratamento,
histórico de internação, níveis de CD4, dentre outros inúmeros fatores que faz com
que somente as características da doença sejam percebíveis o quão complicado é,
porém prazeroso trabalhar com essa população.
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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infection in Philadelphia. JAIDS Journal of Acquired Immune Deficiency
Syndromes, v. 39, n. 5, p. 557-561, 2005. ISSN 1525-4135.
ARAI, Y. et al. Modulation of cardiac autonomic activity during and immediately after
exercise. Am J Physiol, v. 256, n. 1 Pt 2, p. H132-41, Jan 1989. ISSN 0002-9513
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52
ANEXOS
53
I ANEXO
Ficha de treinamento
54
II ANEXO
Escala de percepção de esforço adaptado de, Robertson, Robert J., et al. "Concurrent
validation of the OMNI perceived exertion scale for resistance exercise." Medicine and
Science in Sports and Exercise 35.2 (2003): 333-341.
55
III ANEXO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDOO
Esclarecimentos
Este é um convite para você participar da pesquisa “Impacto de aconselhamento dietético e de exercícios
físicos sobre o estado nutricional de pessoas vivendo com HIV”, que é coordenada pelo professor Dr. Paulo
Moreira Silva Dantas. Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento,
retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Essa pesquisa procura analisar e comparar o estado nutricional de adultos vivendo com HIV em uso de terapia
antirretroviral sob três tipos de intervenção: aconselhamento dietético, prática de exercícios físicos e sob as duas
condições em conjunto, sendo importante para que se conheça como estas intervenções influenciam no estado
nutricional.
Caso decida aceitar o convite, você será submetido (a) ao(s) seguinte(s) procedimentos: questionários sócio
demográficos (perguntas sobre renda, moradia, etc.), da história da infecção, sobre hábitos alimentares, atividade
física, características relacionadas ao sono e possíveis sintomas de infecção do trato respiratório, exame físico para
identificar sinais de desnutrição ( observação de cabelo, unhas, pele), avaliação antropométrica (medidas de
tamanhos corporais) e avaliação bioquímica (coleta de sangue). Além desses procedimentos, os pesquisadores
terão acesso ao seu prontuário médico, comprometendo-se com total sigilo das informações.
Os riscos envolvidos com sua participação são mínimos já que os procedimentos realizados seguirão protocolos
seguros e os profissionais envolvidos são devidamente qualificados. Você pode se negar a responder qualquer
questionamento ou participar de qualquer avaliação que cause constrangimento. Você terá os seguintes benefícios
ao participar da pesquisa: Prescrição de treinamento resistido, Avaliação antropométrica completa periódica
gratuita, independente do grupo que participe.
Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum momento. Os dados
serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários.
Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será compensado, caso solicite.
Em qualquer momento, se você sofrer algum dano devido a esta pesquisa, você terá direito a indenização.
Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar
diretamente para Jason Azevedo de Medeiros, no endereço Universidade Federal do Rio Grande do Norte/
Campus Universitário – Departamento de Educação Física, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal/RN ou pelo
telefone (084) 9611-3268.
Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN
no endereço Comitê de ética em pesquisa(CEP/UFRN), Praça do Campus, Campus Universitário, CP 1666, Natal,
59.078-970 ou pelo telefone (084) 3215-3135.
Consentimento Livre e Esclarecido
Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos e
concordo em participar voluntariamente da pesquisa “Impacto de aconselhamento dietético e de exercícios
físicos sobre o estado nutricional de pessoas vivendo com HIV”
Participante da pesquisa:
Nome:__________________________________________________________
Assinatura:_____________________________________________________
Pesquisador responsável: Jason Azevedo de Medeiros
Assinatura:_____________________________________________________
Jason Azevedo de Medeiros, no endereço Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Campus Universitário
– Departamento de Educação Física, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal/RN ou pelo telefone (084) 96113268.Comitê de ética e Pesquisa, no endereço Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço Comitê de
ética em pesquisa (CEP/UFRN), Praça do Campus, Campus Universitário, CP 1666, Natal, 59.078-970 ou pelo
telefone (084) 3215-3135.
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