uma oficina de experimentação

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Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos
Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças
Oficinas
OFICINA: Trajetórias e Paisagens Sonoras: uma oficina de experimentação
Coordenadores: Francisco Costa Benedicto Ottoni- [email protected]; Raquel
Gomes de Sousa- [email protected]; Geografia UFRJ- AGB-RIO
RESUMO:
A análise da paisagem na geografia é predominantemente exercida pelo sentido visual.
O objetivo central da oficina é despertar às pessoas para novas percepções da paisagem
através dos sentidos como a audição, olfato e o tato, e não somente a visão. Afinal,
como é ser um geógrafo cego? Acreditamos que aguçarmos outros sentidos é uma
forma de aprimorar nossa leitura da paisagem, contribuindo também para a sensação e
experiência do novo. Além disso, identificar a subjetividade ao analisarmos a paisagem,
pois esta está carregada de simbolismos que estão relacionados com a experiência de
cada indivíduo com o espaço. A memória sensorial é uma forma de acessar o lugar onde
o outro vive. A oficina se utilizará de recursos audiovisuais para que os participantes
ouçam trajetos geográficos gravados pelos coordenadores em ambientes urbanos e não
urbanos, e para que juntos possamos construir a paisagem visual imaginada e percebida
a partir da paisagem sonora e decifrar as características espaciais materiais e simbólicas
contidas nela.
Introdução:
Na geografia tradicional e clássica o conceito de paisagem é percebido como a
expressão materializada das relações do homem com a natureza num espaço
circunscrito1. A noção de paisagem estava profundamente atrelada à possibilidade
visual e material. Essa forma de compreender o espaço difere muito daquela sugerida
pela Nova Geografia Cultural e Humanista. Segundo essa corrente, a paisagem não é
dada apenas por um objeto, o aspecto simbólico e cultural é muito relevante. Segundo
Augustin Berque (1984), a paisagem é uma marca, pois reflete as condições objetivas e
subjetivas do homem vinculada as suas necessidades e possibilidades, e também é
matriz no sentido que ela induz a continuidade daquelas condições, e a reprodução de
certos valores. Acerca da relevância do aspecto simbólico da paisagem podemos citar
também Cosgrove e Meining:
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Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3
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“Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são o produto da apropriação e
transformação do meio ambiente pelo homem” (Denis Cosgrove 1988,p.121)
“Qualquer paisagem é composta não apenas por aquilo que está à frente de nossos olhos, mas também
por aquilo que se esconde em nossas mentes”(Donald W. Meinig 2002, p.35)
Além da inclusão da importância das teias de significados que constitui a
paisagem, um outro aspecto que tem sido discutido e reavaliado é a predominância da
visão como único sentido de apreensão da realidade.2Milton Santos (1996, p. 61) atenta
que a paisagem não é composta “apenas de volumes, mas também de cores, movimentos,
odores, sons, etc.”. A leitura da paisagem apenas visual é limitante, os outros sentidos como
o olfato, audição e tato ficam na maioria das vezes negligenciados. Sobre a importância do
outros sentidos na experiência e percepção da paisagem Meinig e Tuan afirmam:
“É a paisagem como ambiente, que abrange tudo o que vivenciamos e que, como conseqüência, faz com
que o observador cultive a sensibilidade para o detalhe, para a textura, a cor, todas as nuanças das
relações visuais, e mais, porque o ambiente ocupa todos os sentidos, também os sons e odores e um
inefável sentido de lugar como algo proveitoso.”Meinig (2002, p.40)
“um ser humano percebe o mundo simultaneamente através de todos os seus sentidos. A informação
potencialmente disponível é imensa. No entanto, no dia a dia do homem, é utilizado somente uma
pequena porção do seu poder inato para experienciar”. Tuan (1980, p. 12)
OBJETIVOS:
O objetivo central da oficina é despertar às pessoas para novas percepções da
paisagem através dos sentidos como a audição, olfato e o tato, e não somente a visão.
Afinal, como é ser um geógrafo cego? Acreditamos que aguçarmos outros sentidos é
uma forma de aprimorar nossa leitura da paisagem, contribuindo também para a
sensação e experiência do novo. Além disso, identificar a subjetividade ao analisarmos a
paisagem, pois esta está carregada de simbolismos que estão relacionados com a
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Ver mais sobre no artigo de Jorge Gaspar (2001)
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experiência de cada indivíduo com o espaço. A memória sensorial é uma forma de
acessar o lugar onde o outro vive.
METODOLOGIA
A oficina trabalhará em especial com o conceito de paisagem sonora. O conceito
de paisagem sonora (Soundscape) foi um neologismo introduzido por Murray
Schafer(2001) que pretendia criar uma analogia com a palavra Landscape (paisagem). A
paisagem sonora, segundo Schafer, seria a soma dos diferentes sons que habitam
determinado ambiente e lugar criando uma unidade. O geógrafo Marcos Torres, com
base no conceito de Schafer, observa que:
“A percepção passa a existir para o ser humano quando este reflete acerca das
experiências obtidas através dos seus sentidos. Essa reflexão o leva a compreender a paisagem, enquanto
campo que o comporta, sendo integrante, e integrado por ela. A paisagem sonora, elemento constituinte
da paisagem, relaciona-se também à cultura, pois nela estão os costumes, as falas e sotaques, as
tendências e preferências musicais,resultando nas adaptabilidades auditivas.”(TORRES,2007p.07)
A oficina será dividida em 3 momentos. Primeiramente explicaremos os
objetivos da mesma, e quais foram as nossas motivações para tal realização. Depois
serão feitos diferentes exercícios de alongamento e movimentação para os alunos se
concentrarem na atividade proposta. Os participantes serão vendados para exibirmos
vídeos contendo trajetórias urbanas e/ou não urbanas, com o objetivo de que as pessoas
escutem apenas os sons dos vídeos. Será pedido para que eles imaginem qual foi o
percurso feito. Ao término da sessão os participantes poderão ser desvendados e
discutiremos qual foi a paisagem construída na imaginação e memória deles. Serão
levantadas questões como: o que conseguiram enxergar pelos sons?; por que e se
tiveram alguma sensação, como medo, felicidade ou aflição?; quais foram os aspectos
sonoros daquela paisagem que levaram a imaginar daquela forma?; quais são as
características sócio-territoriais daquela paisagem que foi possível identificar através
dos sons?; será possível distinguir sons provenientes da natureza ou do homem? Depois
ocorrerá o processo inverso. Exibiremos imagens de trajetórias sem áudio, para que os
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participantes possam construir a paisagem sonora a partir da paisagem visual. Esse será
um exercício feito pelo próprio grupo a partir de sonoplastia.
Em suma, a oficina propõe ser um exercício de imaginação e de aprimoramento
de outros sentidos, principalmente o auditivo para a leitura da paisagem.
Bibliografia:
BERQUE, A. Paisagem-Marca, Paisagem-Matriz: Elementos da Problemática para uma
Geografia Cultural. In Paisagem, Tempo e Cultura, org. R.L. Corrêa e Z. Rosendahl.
Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998.
COSGROVE, Denis. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas
paisagens humanas. In: CORRÊA, Roberto Lobato, ROSENDAHL, Zeny (org.)
Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998a, p.92-123.
CORRÊA, R.L. (2007). Espaço, um conceito-chave da geografia. In Geografia:
conceitos e temas. Org. Iná Elias de Castro, Paulo Cesar da Costa Gomes e Roberto
Lobato Corrêa. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.
GASPAR, Jorge. O Retorno da Paisagem à Geografia. Apontamentos Místicos.
Finisterra,XXXVI, 72, pp. 37-53, Lisboa, 2001. Acessado em maio de 2010:
http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/2001-72/72_08.pdf
MEINIG, Donald W. O olho que observa: dez versões da mesma cena. Espaço e
Cultura (UERJ), n.13, p.35-46, 2002.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.
SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Editora UNESP, 2001
TORRES, M. A. . OS SONS NO/DO ESPAÇO: Fazendo música, pensando Geografia.
In: Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações, 2007,
Salvador. II Colóquio do NEER: espaços culturais: vivências, imaginações e
representações, 2007. v. 1. p. 1-13. Acessado em:
http://www.geografia.ufpr.br/neer/NEER2/Trabalhos_NEER/Ordemalfabetica/Microsof
t%20Word%20-%20MarcosAlbertoTorres.ED1VI.b.pdf
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.
São Paulo: Difusão Editorial, 1980.
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Material Necessário:
-Data show
-Equipamento de som e vídeo
Número de participantes: máximo de 15.
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