TÍTULO: ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR EM CRIANÇA PORTADORA DE MIELOMENINGOCELE - RELATO DE CASO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FISIOTERAPIA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO LUSÍADA AUTOR(ES): FLAVIA ALVES OLIVEIRA DE AQUINO ORIENTADOR(ES): PRISCILA LANZILLOTTA 1. RESUMO A mielomeningocele é uma má formação congênita com defeito no fechamento do tubo neural, sendo a mais freqüente em alterações de espinha bífida. As crianças com mielomeningocele necessitam de cuidados especiais no manuseio e de uma equipe interdisciplinar. Durante uma avaliação inicial os achados clínicos mostram alterações e desordens importantes de desenvolvimento, sendo necessário avaliar e descrever as alterações do desenvolvimento motor infantil de forma precoce. Este artigo trata-se de um relato de caso descritivo que avaliou o desenvolvimento motor infantil em um paciente de 17 meses portadora de mielomeningocele em nível torácico. Foi aplicada a escala de Alberta Infant Motor Scale sendo avaliado por pontos descrevendo suas deficiências e relatadas as posturas não alcançadas pelo paciente que futuramente devem ser trabalhadas para promoção e melhora do desenvolvimento infantil deste paciente. 2. INTRODUÇÃO A espinha bífida é uma malformação congênita decorrente de defeito no fechamento do tubo neural (DFTN) que envolve tecidos sobrejacentes à medula espinhal, arco vertebral, músculos dorsais e pele representando 75% das malformações do tubo neural (GAIVA, NEVES, SIQUEIRA, 2009). Dentre os defeitos de fechamentos do tubo neural a mielomeningocele (MMC) é a mais frequente, afetando 85% do total dos casos. Externamente visualiza-se a espinha bífida aberta e uma bolsa revestida por epiderme, que contém seu interior: medula ou raízes nervosas (ROCCO, SAITO, FERNANDES, 2007). As causas da doença são desconhecidas, mas com características multifatoriais (genéticas e ambientais): sabe-se que mulheres de dieta pobre em ácido fólico (vitamina B9) possuem uma maior chance de terem filhos afetados pela doença. A incidência mundial é variável, sendo em média 1 para 1.000 nascidos vivos. (CARAFFA, BIANCHI, 2012). O quadro clínico da MMC se manifesta através das alterações ortopédicas, neurológicas e genitálias; sendo que as ortopédicas ocorrem sob a forma de contraturas musculares generalizadas, deformidades da coluna espinhal, hipercifose e escoliose, as quais posteriormente geram dores articulares (SOARES, et al., 2006). Para Santos et al., (2007) as seguintes manifestações podem ser observadas no lactente ou em crianças de tenra idade portadoras de MMC: paralisia flácida, diminuição da força muscular, atrofia muscular, diminuição dos reflexos tendíneos, diminuição ou abolição da sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva, além de deformidades de origem paralítica e congênita. Aguiar et al., (2003) descrevem que a criança com MMC pode apresentar incapacidades crônicas grave por toda vida, gerando dependências ao sistema público de saúde que é estimado nos Estados Unidos em gastos de aproximadamente US$294.000.000. De acordo com Moura et al., (2010) já no nascimento, as crianças mielomeningocele necessitam de cuidados especiais no manuseio e de uma equipe interdisciplinar especializada para o seu tratamento. Durante uma avaliação inicial os achados clínicos mostram uma criança hipotônica, recémoperada, com o comprometimento de múltiplos órgãos e sistemas. O tratamento crianças portadoras de MMC requer intervenção clínica e cirúrgica precoce. A cirurgia de correção tem como finalidade diminuir a exposição da medula espinhal e raízes ao meio ambiente e a perda liquórica, o que possibilita a reparação nervosa e melhora funcional (BRANDÃO, FUJISAWA, CARDOSO, 2009). De acordo Robaiana (2011) a intervenção fisioterapêutica visa a melhora da função, da independência, promovendo assim funcionalidade e qualidade de vida a este paciente. Spers, Garbellini, Penach (2011) relatam que a fisioterapia neuromotora em crianças MMC inicialmente deve verificar dois aspectos: avaliação do nível neurológico da lesão e verificar de forma específica cada etapa do desenvolvimento motor infantil. Visando o desenvolvimento infantil de crianças MMC lactentes, este estudo teve como objetivo avaliar o desenvolvimento motor amplo de uma lactente portadora da MMC através da escala de Alberta Infant Motor Scale (AIMS). Sendo assim, Herreroet al., (2011) afirmam que podemos verificar o desempenho motor que esteja atrasado ou anormal em relação a lactentes normativos aplicando o AIMS, uma vez que esta escala aborda conceitos do desenvolvimento motor como maturação do sistema nervoso central, perspectiva dinâmica e motora e avaliação sequência do desenvolvimento. O paciente portador de MMC pode apresentar muitas complicações e comprometimentos funcionais e alguns, por muitas vezes, podem ser minimizados quando intervenções fisioterapêuticas precoces são realizadas. Ao se conhecer melhor o perfil do paciente com MMC, podem-se traçar por meio de prevenção e proporcionar melhoria de qualidade de vida desses indivíduos através de algumas condutas e informações. Os atrasos motores podem ser as primeiras manifestações de desordens do movimento. A avaliação dos níveis do desenvolvimento motor e função motora de forma precoce possibilita identificação dos níveis de movimento, tornando as intervenções planejadas e otimizadaspossibilitando adequadas decisões quanto à estratégia para melhora do desempenho motor. Ao relatar as habilidades da criança com escalas como a AIMS podemos avaliar e identificar possíveis atrasos de acordo com a faixa etária da criança. Esta escala se trata de uma escala observacional que associa a perspectiva qualitativa e dinâmica sendo relevante aplicar em uma criança portadora do MMC. 3. OBJETIVOS Analisar o desenvolvimento motor infantil de um paciente portador de mielomeningocele nível torácico através da escala AIMS. Verificar através da descrição do desenvolvimento motor infantil em um paciente portador de MMC se existe alguma anormalidade no desenvolvimento infantil que já possa ter intervenção de forma precoce. 4. METODOLOGIA Trata-se de um relato de caso com análise descritiva. A amostra foi constituída de uma criança portadora de mielomeningocele nível torácico baixo (T10 à T12) de dezessete meses que freqüenta a Clínica de Fisioterapia do Centro Universitário Lusíada-Unilus há seis meses, realizando intervenção fisioterapêutica duas vezes na semana com duração de 50 minutos cada sessão. A avaliação motora foi realizada na clinica de Fisioterapia do Centro Universitário Lusíada-Unilus no mês de agosto de 2014. Relato de caso. K.V.L.O., sexo feminino, 17 meses, com histórico gestacional de “SIC” (segundo informações colhidas), gestação de risco devido à idade avançada(40 anos), antecedentes ginecológicos preocupantes como um aborto espontâneo antes da gravidez e também relatou que já possuía dois filhos anteriores. A concepção não foi planejada, porém foi desejada; durante a gestação a mãe fez o uso de medicamentos anti-hipertensivos, suplementação com o ácido fólico e sulfato ferroso. Durante o pré-natal, a médica fetal, desconfiou que o paciente possuía MMC e foi diagnosticado aos cinco meses de gestação. O parto foi do tipo cesárea, com a duração de aproximadamente 2 à 3 horas. A idade gestacional foi de 37 semanas,o paciente apresentou baixo peso, 2,190 kg, com a estatura de 38 cm, com o APGAR desconhecido de acordo com SIC. Paciente foi encaminhado a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a cirurgia de fechamento do tubo neural, usando sonda orogástrica durante internação,e desconhecido o momento de colocada da derivação ventrículo peritoneal (DVP),recebendo alta 52 dias após o nascimento. 5. DESENVOLVIMENTO A paciente foi submetida à uma anamnese, e após foram colhidos dados doseu desenvolvimento motor. Ao descrevermos este desenvolvimento, ainda de acordo com a anamnese foi relatado que a paciente realizou o sustento cefálico aproximadamente aos 7 meses, e até o momento da avaliação não realizava o rolamento. Paciente sentou com e sem apoio com 11 meses. Ressaltando também que o paciente faz uso de órtese AFO rígida bilateral e tala extensora noturna para alongamento. A escala utilizada para avaliar o presente trabalho foi a Escala Motora Infantil Alberta (traduzida do inglês Alberta Infant Motor Scale) e se caracteriza por uma avaliação comportamental de bebês, que foi validado e padronizado no Canadá, por fisioterapeutas que queriam avaliar o desenvolvimento motor (DM) de recém nascidos pré termos (RNPT) e a termo (RNT) (FORMIGA, 2003). AIMS trata-se de uma escala fidedigna, capaz de diferenciar o desempenho motor normal ao anormal e de fácil aplicação(HERRERO, et al.,2011). A avaliação é realizada para verificar o desenvolvimento motor, sendo uma escala de mensuração da maturação motora grossa de crianças desde o nascimento até a locomoção independente. Trata-se de uma avaliação objetiva com pouca manipulação, baseando-se no repertório de movimento espontâneo demonstrada pela criança e validada para a população brasileira. (MACHADO, et al.,2014). Formiga (2003) descreve que a escala AIMS é um instrumento baseado na neuromaturação e na perspectiva dos sistemas dinâmicos levando em consideração as influências da maturação neurológica da criança, do ambiente, da gravidade e da postura no desenvolvimento motor. De acordo com Melo e Leite (2011), a idade utilizada pela escala é de 0 a 18 meses, a escala consiste de 58 itens organizados e representados por figuras,logo abaixo de cada uma, que contém uma breve descrição dentro de 4 posturas: prono (21), supino (9), sentado (12) e de pé (16). Os padrões motores são analisados por três conceitos: alinhamento postural, movimentos antigravitacionais, e superfície de contato. Sendo que, após avaliar cada postura na quais a criança é observada livremente são atribuídos a ela escores em cada posição (SILVA, et al.,2011). A escala AIMS ao contrário das avaliações clínicas neurológicas enfatiza as habilidades funcionais e a qualidade do movimento. É um instrumento padronizado, com normas de desenvolvimento por idade e também com o propósito de identificar o atraso de desenvolvimento motor, acompanhar a longitudinalmente o DM de crianças de 0 a 18 meses e avaliar a eficácia dos programas de intervenção. Tendo em vista a descrição da escala AIMS e sua funcionalidade foi aplicado no lactente para analisar o desenvolvimento motor,uma vez que a escala analisa várias posições, qualidade de cada movimento e se baseia no desenvolvimento neuromaturacional da criança e sua relação com estímulos ambientais. Melo e Leite (2011)relatam o uso da escala AIMS em crianças que apresentam lesões no sistema central (SNC) e acrescenta que estas podem apresentar repertório motor típico, sendo assim a avaliação não deve ter o foco apenas nas limitações ou restrições, os profissionais da reabilitação devem conhecer as habilidades que as crianças devem apresentar e de maneira podem ser aperfeiçoadas, dando ênfase no processo não somente no resultado, fazendo com que ao avaliarmos pacientes com lesões de SNC pela escala AIMS possamos dar um importante suporte para o processo de avaliar e observar o desenvolvimento de crianças. 6. RESULTADOS A escala se compõe de 58 itens entre 4 posturas: prono, supino, sentado e em pé. A posição em prono obtém 21 itens, sendo que o paciente não executou nenhuma atividade nessa posição (gráfico 1). Gráfico 1. Posição prono Posição prona 100 100 80 60 40 20 0 0 Posturas não alcançadas Posturas alcançadas Já na posição supino,das as nove (9) atividadesanalisadas, o paciente executou duas (2), indicando 22% das tarefas (gráfico 2). Gráfico 2. Posição supino Posição supino 88% 100 80 60 40 22% 20 0 Posturas não alcançadas Posturas alcançadas Das 12 atividades na posição sentada, a paciente executou 6 posturas (50%) (gráfico 3). Gráfico 3. Posição sentada Posição sentada 50 50 50 40 30 20 10 0 Posturas não alcançadas Posturas alcançadas E, em relação à posição em pé, dos 16 itens existentes analisados, a paciente não executou nenhuma postura (gráfico 4). Gráfico 4. Posição em pé Posição em pé 100 100 80 60 40 20 0 0 Posições não alcançadas Posições alcançadas 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A AIMS vem sendo utilizada com o propósito de avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor em lactentes em diferentes situações e contextos de risco, sendo assim um instrumento de confiabilidade em que é possível identificar atrasos no desenvolvimento motor. Ao utilizarmos a escala um paciente MMC podemos quantificar as posturais não alcanças pelo paciente e qualificar as trocas posturais encontradas facilitando futuramente a escolha da intervenção terapêutica na fisioterapia. Entretanto através dos dados ofertados pela escala AIMS podemos apenas observar atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor do paciente, porém não é possível quantificar esse atraso, pois a escala é baseada em uma avaliação qualitativa. Não sendo possível assim, generalizar o caso relatado para todos os portadores de MMC, por ser um relato de caso, sendo necessário realizar pesquisas futuras com mais amostra de pacientes, para embasar o achado desta pesquisa. 8. FONTES CONSULTADAS AGUIAR, M. J. B, et al., Defeitos de fechamento do tubo neural e fatores associados em recém nascidos e natimortos. Jornal de Pediatria, v.79, n.2, 2003. BRANDÃO, A. D; FUJISAWA, D. S; CARDOSO, J. R. Características de crianças com mielomeningocele: implicações para a fisioterapia. Revista Fisioterapia e Movimento, v.22, n.1, pg.69-75, 2009. CARAFFA, A. M; BIANCHI, P. D. A. A hidroterapia no tratamento da mielomeningocele e pé torto congênito: um estudo de caso. Revista Ciência reflexvidade e Incertezas, v.2., n.1, 2012. FORMIGA, C. K. M. R. Programa de intervenção com bebês prétermo e suas famílias: avaliação e subsídios para prevenção de deficiências. Revista Paidéia,v.14, n.29, pg.301-311, 2004. GAIVA, M. A. M; NEVES, A. Q; SIQUEIRA, F. M. G. O cuidado da criança com espinha bífida pela família. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v.13, n.4, pg. 717-725, 2009. HERRERO, D; et al., Escalas de desenvolvimento motor em lactentes: testofinfant motor performance e a escala de Alberta Infant Motor Scale. Revista Brasileiro do Desenvolvimento Humano, 21, n.1, pg.122132, 2011. MACHADO, D. F; et al., Caracterização do desempenho motor de crianças de 0-18 meses matriculadas em creche pública usando a Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS). Revista Digital EFDeportes,, v.18, n.189, fev, 2014. MELO, F. R; LEITE, J. M. R. S. Avaliação do desenvolvimento motor de crianças institucionalizadas na primeira infância. Revista Neurociências, v.19, n.4, pg. 681-685, 2011. MOURA, E. W; et al., Fisioterapia aspectos clínicos e práticos da reabilitação. 2 Ed. São Paulo: Artes Médicas, 2003. ROBAINA, L. Rebilitação na mielomeningocele. Revista Motriz, v.16, n.3, 2011. ROCCO, F. M; SAITO, E. T; FERNANDES, A. C. Perfil dos pacientes mielomeningocele da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) em São Paulo- SP, Brasil. Acta Fisiatra, v.14, n.3, pg.130-133, 2007. SANTOS, F. A. A avaliação da abordagem fisioterapêutica no tratamento de paciente pediátrico portador de mielomeningocele. Revista de Saúde Coletiva, v.1, n.1, pg.01-06, 2010. SILVA, L. P; et al., Confiabilidade da versão brasileira da Alberta Infant Motor Scale com crianças pré-termo e a termo. Revista Ciência da Enfermagem, v.16, n.1, 2011. SPERS, V. R. E; PENACHIM, D. G; GARBELLINI, D. Mielomeningocele: o dia a dia, a visão dos especialistas e o que esperar do futuro.1 Ed. Piracicaba: Unigráfica, 2011. SOARES, A. H. R; et al.,A qualidade de vida de jovens portadores de espinha bífida do Children’sNational Medical Center. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v.11, n.3, 2006.