GUIA AGRISUD INTERNATIONAL Edição 2010 A agroecologia, guia prático 20 ANOS DE APRENDIZAGEM EM ANGOLA - BRASIL - CAMBOJA GABÃO - HAITI - ÍNDIA - LAOS - MADAGÁSCAR - MARROCOS - MAURITÂNIA NÍGER - RD DO CONGO - SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - SENEGAL - SRI LANKA Agrisud: empreender contra a pobreza AGRISUD INTERNATIONAL AGRISUD, Associação de Solidariedade Internacional, trabalha desde 1992 no desenvolvimento económico dos países do Sul. A sua vocação: favorecer a transição de populações em estado de pobreza para uma situação de autonomia económica e social, através da criação de pequenas explorações e empresas agrícolas (PEAs) familiares, duráveis, inseridas no mercado local. Estas PEAs criam empregos e geram rendimentos. Respondem às necessidades dos mercados locais e reduzem as importações alimentares. Em 2010, Agrisud representava: Desde 1992, Agrisud representa também: 14 países de intervenção em África, Ásia, América do Sul 165 colaboradores, 6 em França, 159 no terreno 29 parceiros operacionais do Norte e do Sul 37 programas de desenvolvimento em execução 4,8 milhões de euros mobilizados para implementar estes programas 2 ciclos de formação à disposição das ONGs: gestão de programas centrados sobre a PEA e práticas agroecológicas 27 500 PEAs criadas das quais 3.350 em 2009 100 000 empregos duráveis dos quais 12.000 em 2009 155 000 toneladas de produtos alimentares em 2009 32 milhões de euros de rendimentos líquidos gerados em 2009 2 300 toneladas de carbono sequestradas em 2009 90 ONGs parceiras formadas entre as quais 22 em 2009 250 000 pessoas que sairam da pobreza das quais 31.600 em 2009 Organismos associados à iniciativa da Agrisud para a promoção da agroecologia: AADC (Angola), ABIO (Brasil), AGRIDEV (RD do Congo), AGRICAM (Camboja), AGRIDEL (Níger), AMADESE (Madagáscar), AVAPAS (Burkina Faso), CARE Madagáscar (Madagáscar), CARI (França), CAVTK (RD do Congo), CIRAD (França), Colibri (França), CPAS Diembering (Senegal), CRAFOD (RD do Congo), CTHA (Madagáscar), EAN (Níger), France Volontaires (França), HARC (Índia), JAPPOO Développement (Senegal), Jardins d’Afrique (Senegal), IGAD (Gabão), Intelligence Verte (França), ORMVA Ouarzazate (Marrocos), PAFO Luang Prabang (Laos), RAIL (Níger), SYDIP (RD do Congo), Terre et Humanisme Maroc (Marrocos), Terre et Humanisme France (França), Vétérimed (Haiti). Todas as práticas mencionadas neste guia resultam da experiência da Agrisud, ao lado dos agricultores, nos seus diferentes terrenos de intervenção. Todas as fotos de ilustração foram feitas nestes mesmos sítios. O presente guia pode também ser descarregado gratuitamente em formato ebook no site www.agrisud.org 2 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Edito Já passaram quase 20 anos que a Agrisud está empenhada na luta contra a pobreza e na garantia da segurança alimentar das populações pobres em vários países da África, Ásia e América do Sul. longo prazo. Assim, como ele, não aceitamos face ao desafio alimentar que a agroecologia não seja difusa de forma mais alargada e que ela não conste prioritariamente nos programas agrícolas dos países que hoje tentam relançar a sua agricultura. A nossa estratégia é acompanhar estas populações na criação de pequenas explorações agrícolas PEAs familiares duráveis, inseridas nos mercados locais. Estas PEAs geram receitas, empregos e maisvalia local ao mesmo tempo respondendo às necessidades dos mercados: produzindo produtos locais para os mercados locais. É por esta razão, que com a nossa grande experiência adquirida pelo contato com os agricultores, decidimos que era tempo de recolher os frutos da nossa longa aprendizagem da agroecologia a fim de a partilhar em primeira mão com todas as nossas equipas no terreno e com os agricultores que elas enquadram, mas também com os nossos parceiros e com todos que desejam aproveitar desta experiência para servir aos mesmos objetivos. «Empreender contra a pobreza», representa de uma forma resumida a nossa iniciativa que permitiu criar 27.500 PEAs até então, ou seja mais de 100.000 empregos em uma dúzia de países. Quase dois anos de trabalho foram necessários para identificar e colocar em forma estas boas práticas. As equipas de cada país foram mobilizadas para recolher e partilhar as suas próprias experiências de terreno. Mas neste exercício o mérito pertence em particular a um “núcleo duro” composto por Sylvain Berton, Elphège Ghestem, Ivonig Caillaud bem como Leïla Berton. A Iden studio realizou a parte gráfica. Um bem haja a esta equipa! Esta iniciativa basea-se em particular, sobre um bom conhecimento dos mercados e sobre um percurso de profissionalização e acompanhamento do empreendedor na sua atividade. Se a finalidade da Agrisud é antes de tudo social, a abordagem é deliberadamente económica, apoiando-se sobre as forças da economia de mercado. Jacques Baratier, o nosso fundador, definiu as bases da Agrisud desta forma. Esta abordagem é também ecológica, privilegiando práticas que se baseiam primeiramente no bom senso, e que permitam conciliar o desenvolvimento com uma fraca pressão sobre o meio ambiente e a gestão sustentável dos recursos naturais. Estamos aprendendo por esta via desde a criação da Agrisud, mas foi essencialmente com o impulso de Robert Lion, o nosso presidente, que ficamos ainda mais atentos à dimensão ecológica das nossas ações e à necessidade de limitar os efeitos negativos das interações entre o Homem e o seu meio. Onde origina a nossa aposta sobre a agroecologia. É esta agroecologia que queremos colocar como uma alternativa aos esquemas agrícolas clássicos, privilegiando modelos familiares sustentáveis, atentos ao respeito do ambiente, economicamente competitivos, portadores de um desenvolvimento humano, preocupados com a segurança alimentar e a saúde das populações. Desta forma, com o passar dos tempos, nós convertemos em praticantes da agroecologia. É ela que torna as nossas ações atentas às dimensões económica, social e ambiental. Esta abordagem sistemática, permite preservar os equilíbrios muitas vezes frágeis entre o Homem e o seu ambiente, assegurando a perenidade económica e social destas atividades. Desta forma, ela pode contribuir eficazmente aos desafios alimentares do planeta, tanto em quantidade quanto em qualidade. Estamos convencidos, como Pierre Rabhi o expressa no seu prefácio, que a agroecologia tem o seu lugar entre a produção tradicional insuficientemente eficaz e as práticas modernas dispendiosas e insustentáveis para os países em desenvolvimento. Da mesma forma como afirma neste manual Olivier de Schutter, estamos convencidos que a agroecologia e o direito à alimentação estão destinados a convergir e com o tempo a estabelecer uma aliança natural para melhor garantir a segurança alimentar a Agradecemos a Caisse des Dépôts, Veolia Environnement e o Club Méditerranée por nos terem ativamente apoiado nesta iniciativa. Desta forma, estamos felizes de vos apresentar este Guia prático da agroecologia, que se apresenta em forma de uma compilação de fichas. Estas fichas abordam os “fundamentos” da agroecologia, depois descrevem os principais sistemas de produção e as práticas agroecológicas que são associadas. O olhar sobre estas práticas é ao mesmo tempo económico, social, e ambiental. Esta recolha não é exaustiva. Ela é por natureza evolutiva e será enriquecida com novas fichas sobre outros temas, como a pecuária, pouco abordada nesta primeira edição. Ela será alimentada pelas contribuições de terreno e pelas trocas que ela suscitará. O Guia é livremente acessível em formato eletrónico ebook sobre o site da Agrisud www.agrisud.org, associado a um fórum de discussão que permitirá ao leitor comentar e enriquecer o nosso trabalho. Uma versão deste Guia existe também em Francês e outra em Inglês. Para facilitar a transferência destes conhecimentos para o terreno, ferramentas pedagógicas foram elaboradas a partir do conteúdo deste Guia. Elas permitem conduzir em condições reais sessões de formação prática para os técnicos de terreno, os agricultores e as ONGs parceiras. Por este exercício, a Agrisud não pretende colocar um certificado agroecológico sobre todas as suas ações de terreno, ainda temos muitos progressos a realizar ao preço da paciência e da pedagogia. Da mesma forma, não há nenhuma pretenção científica, a única certificação provém dos agricultores com quem temos vindo a experimentar estas práticas ao longo deste tempo. Boa leitura, até já no nosso fórum! Yvonnick Huet Director geral AGRISUD International 3 Prefácio de Olivier de Schutter Para o agricultor a agroecologia consiste em tentar imitar a natureza no seu trabalho do campo. Ela baseia-se sobre as complementaridades entre diferentes plantas e diferentes animais. Aposta na capacidade de integração dos ecossistemas. Reconhece a complexidade inerente aos sistemas naturais. Recompensa a inteligência e a criatividade, diferente da agricultura industrial que pretende alterar a natureza nos seus elementos, simplificando e tornando monótona a atividade do agricultor. Concebe a agricultura, não como um processo que transforma os insumos (adubos e pesticidas) em produção agrícola, mas como um ciclo, onde os subprodutos servem de insumos, os animais e as leguminosas contribuem para fertilizarem os solos e as ervas daninhas têm uma função útil. A agroecologia é sobretudo, uma forma de responder aos desafios deste século. Para entender esta afirmativa, cito alguns fatos: A agricultura é responsável por 33% da emissão de gases com efeito estufa de origem humana. Cerca de quase metade (14%) resulta de práticas agrícolas não sustentáveis, e da utilização de adubos de síntese, fonte de óxido de azoto, um dos gases com maior efeito estufa. Durante um período de sessenta anos a eficácia energética da agricultura industrial foi dividida por vinte. Segundo o departamento da agricultura dos Estados Unidos, em 1940 era preciso 1,0 caloria de energia fóssil para produzir 2,3 calorias de alimentos, em 2000 era preciso 10 calorias de energia fóssil para produzir 1,0 caloria de alimento. Desta forma, a agricultura petrolífera de hoje destrói rapidamente os ecossistemas de que ela depende, desenvolvendo uma dependência em energias condenadas a desaparecer, e em que os preços serão no futuro mais voláteis e mais elevados. Pelo contrário, a agroecologia é uma fonte de resiliência, tanto a escala de uma região, de um país ou de uma pessoa. A África (onde hoje se pretende iniciar uma “Revolução Verde”) importa 90% dos seus adubos químicos, e uma proporção elevada de minerais que são destinados a fertilizar os solos, o que constitui uma base frágil onde se pretende construir uma segurança alimentar. Da mesma forma que os países, os camponeses que dependem de insumos custosos para a sua produção, não estão ao abrigo dos choques económicos que podem resultar das brutais subidas de preços. O contrário acontece, quando os camponeses priorizam o uso dos biopesticidas ou adubos orgânicos, que são produzidos localmente através do composto, do estrume ou pela utilização de plantas que podem captar o azoto e fertilizar os solos. O custo da produção cai e os rendimentos líquidos aumentam às vezes de forma espetacular. Como então, explicar que a agroecologia seja pouco difundida? Como compreender que a agroecologia não consta como prioridade nos programas agrícolas dos países que hoje tentam reformar a sua agricultura? Várias razões explicam sem dúvida a lentidão 4 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 dos governos em fazer dessa prática um eixo prioritário das suas ações, como: Certos bloqueios mentais, pela convicção fortemente ancorada numa concepção do que representa a modernização agrícola, acreditando que o progresso da agricultura passa necessariamente pelo aumento dos insumos, pela irrigação e mecanização avançada, tendo como base o modelo da “Revolução Verde” de 1960. A resistência de certos meios, como o dos produtores de insumos de síntese, para quem o desenvolvimento em grande escala das práticas agroecológicas significaria uma perda do mercado. Certas práticas agroecológicas são intensivas em mão-de-obra, sendo mais fáceis de serem praticadas em pequenas parcelas, onde o trabalhador agrícola está ligado à terra, e investindo a longo prazo. Desta forma a agroecologia opõe-se à ideia de que o progresso significa necessariamente o aumento da produtividade da mão-de-obra, o que quer dizer, produzir mais com menos trabalho e mais capital. Como não aceitar a evidência e a urgência nos tempos de hoje, de desenvolver o emprego e de apostar numa melhor produtividade, não dos homens e das mulheres mas, sobretudo, dos recursos naturais que se esgotam rapidamente? Observando outros aspectos, percebemos que a agroecologia é intensiva em mão-deobra, mas também o é, em conhecimento. Ela supõe transferência de saberes, baseia-se sobre trocas entre os agricultores e transforma-os em especialistas. Ao invés das boas práticas virem dos laboratórios, tem a sua origem nos locais de experimentação, que são os campos onde se cultiva. Desta forma, a agroecologia é uma fonte de emancipação para os camponeses, transformando o agricultor de mero receptor de conselhos para coautor, equilibrando as relações entre os detentores e os utilizadores do saber, e assim o camponês encontra-se dos dois lados ao mesmo tempo. Nos países onde a exclusão dos camponeses das decisões políticas, constituiu uma das maiores causas do fraco investimento na agricultura, e mais ainda das escolhas nas políticas agrícolas, que sacrificaram tanto a justiça social quanto a durabilidade ambiental, faz com que a agroecologia tenha efeitos subversivos consideráveis. É por todas estas razões, que a agroecologia e o direito à alimentação estão destinados a convergir e com o tempo, a celebrar uma aliança natural, porque a agroecologia pode reforçar a capacidade dos camponeses com maiores dificuldades em se alimentarem, podendo garantir uma maior segurança alimentar a longo prazo. Reforçando o lugar dos camponeses no sistema da produção agrícola em que muitas vezes foram reduzidos a simples agentes de execução. Por tudo isso, a agroecologia é um instrumento ao serviço do direito do homem a uma alimentação adequada, ou seja, o direito a uma alimentação digna. Saúdo a publicação deste Guia como uma contribuição, em favor de sistemas agrícolas e alimentares mais justos e mais duráveis. Olivier de Schutter Relator especial das Nações Unidas sobre o direito à alimentação Prefácio de Pierre Rabhi Imaginar hoje uma crise alimentar mundial parece impossível para o cidadão dos países ricos. A superabundância de alimentos que ele faz uso e abusa o instalou numa segurança quase indestrutível. Nada mais banal que a comida que mobiliza somente 13% do orçamento das famílias dos países ditos desenvolvidos… Esta segurança é todavia ilusória visto que a alimentação faz objeto de transportes e transfêrencias incessantes. O término destes trânsitos colocaria em evidência a incapacidade das populações em sustentar de forma autónoma, com os recursos dos seus diversos territórios de vida, as suas necessidades vitais. Além disso, esta alimentação é oriunda de um modo de produção fundado essencialmente sobre a química de síntese, com o uso de pesticidas prejudiciais aos ambientes naturais e à saúde humana e animal. Este fato foi colocado em evidência por cientistas que a deontologia transcende os compromissos e as numerosas falsificações produzidos por uma sociedade que fez da finança o bem supremo. Quanto aos países ditos em desenvolvimento, o volume de alimentos necessários para manter a sua existência não para de diminuir, em particular em função de uma lógica que os mobiliza a produzirem para exportar, com base em insumos caros, produções submissas à arbitrária e implacável lei do mercado internacional. Por esta razão e por outras ainda, a agricultura moderna subvencionada dos países ricos tida por erradicar as penúrias alimentares no planeta, os tragicamente agravou. Num contexto de um mundo em crise política, económica, geopolítica, ecológica, energética e humana, a problemática da alimentação não pode continuar a ser tratada como uma questão subsidiária sem risco de um desastre social considerável. Pela preponderância absoluta que ela representa para cada uma e cada um de nós sem a menor exceção, a alimentação constitui o desafio mais decisivo para a continuação da nossa história. Comparada à crise alimentar já presente e que não deixa de ganhar amplitude, a crise financeira será tida como uma anedota. Podemos afirmar que hoje, todos os parâmetros relativos à problemática da alimentação são negativos: os solos destruídos pela erosão, a desflorestação irresponsável, práticas agronómicas prejudiciais à sua vitalidade biológica, a água poluída e insalubre, 60 % do património de sementes constituído pela humanidade desde 10.000 anos já está perdido em benefício dos híbridos e da impostura dos OGMs, o desaparecimento e o abandono das terras produtivas pelos camponeses em benefício da concentração urbana improdutiva geradora de miséria, a afetação dos terrenos desflorestados à produção de biocombustíveis, a extinção das abelhas e outros insetos indispensáveis à polinização, etc. Este cenário objetivamente verificável, inscreve-se entre outros, nos riscos climáticos e meteorológicos cada vez mais imprevisíveis, como podemos constatar em toda a esfera terrestre. A isto têm que ser acrescentadas as violências intestinas que não deixam de multiplicar, e que têm efeitos desastrosos sobre a produção alimentar. Enquanto os países ricos se obstinam numa agricultura que não pode produzir sem destruir, os países em desenvolvimento estão num dilema entre produção tradicional insuficientemente eficaz e práticas modernas dispendiosas e insustentáveis para eles. Para tomar somente um exemplo, a fabricação de uma tonelada de adubo necessita de duas toneladas de petróleo, ele mesmo indexado ao dolár cujo valor é determinado pelo humor da bolsa de valores. No entanto, hoje, as reservas de petróleo esgotam inexoravelmente. Basear o futuro alimentar sobre esta matéria expõe a decepções e impasses sem precedente. A agroecologia que começamos a experimentar desde os anos 1962 na nossa própria quinta sobre solos pedregosos do sul da França, e a partir de 1981 em zona semi árida do Burkina Faso, demostrou depois de aplicações rigorosas, o seu rendimento e a sua pertinência como alternativa universal validada especialmente pelos camponeses mais pobres1. Até a prova do contrário, a agroecologia cujo presente Guia mostra os aspetos operacionais, é a única via possível para o futuro alimentar em geral, e o dos países ditos em desenvolvimento em particular. Eu não posso deixar de agradecer a associação Agrisud, por ter aceito integrar no seu programa de solidariedade já muito consistente, a alternativa agroecológica que ela constatou a pertinência, e que ela se aplica connosco a propagar nos seus vários sítios operacionais. Mas, esta aliança nunca poderia ter sido selada sem o encontro das consciências trabalhando com a mesma determinação e convicção para melhorar as condições das populações excluídas pela modernidade. Assim, o encontro de Janeiro de 2008 com Robert Lion, Yvonnick Huet, Dominique Eraud e eu mesmo foi determinante. Ela foi um pontapé de saída decisivo para uma colaboração já frutuosa e que sem dúvida, o será cada vez mais. Pierre Rabhi Fundador do movimento Colibris e de Terra e Humanismo Crédito foto: © Corine Brisbois Ler “A Oferenda ao crepúsculo” publicado pela editora l’Harmattan, que descreve e justifica esta experiência positiva – prémio em 1989 pelo Ministério da Agricultura Francês. 1 5 Alternativa para uma agricultura durável A agroecologia inscreve-se no quadro da ecologia, ela interessa pelas interações entre o Homem e o seu meio, bem como as suas consequências, tentando minimizar os efeitos negativos de certas atividades humanas. Visa a preservação do meio ambiente, a renovação durável dos recursos naturais necessários à produção (água, solo, biodiversidade...) e a economia no uso dos recursos não renováveis. Ao reduzir o uso dos produtos químicos até serem abandonados, tende então para uma agricultura biológica e contribui para melhorar a saúde dos agricultores e dos consumidores. As práticas agroecológicas combinam respostas de ordem técnica que permitem conciliar produtividade, fraca pressão sobre o meio ambiente e gestão durável dos recursos naturais. Trata-se assim do equilíbrio entre o Homem, as suas atividades agropecuárias e a natureza. Agroecologia, agricultura de conservação, agricultura ecologicamente responsável, são tantas denominações visando a promoção de uma agricultura durável, respeitosa do meio ambiente, economicamente eficiente, portadora de um desenvolvimento humano preocupado fortemente com a segurança alimentar e a saúde das populações. Respeitosa do meio ambiente Economicamente eficiente AGROECOLOGIA Produtor, Sul de Marrocos Comerciante, Sri Lanka Portadora de desenvolvimento humano Família, Camboja É esta agroecologia que orienta as ações da AGRISUD junto dos agricultores nos seus diferentes países de intervenção, com uma abordagem sistemática que abrange tanto as componentes económicas quanto as sociais e ambientais. Esta abordagem sistémica permite preservar os equilíbrios muitas vezes frágeis entre o Homem e o seu meio. A AGRISUD pretende progredir neste caminho para se converter plenamente num operador da ecologia. 6 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 A agroecologia: uma resposta eficaz para conciliar segurança alimentar, preservação dos agrossistemas e desenvolvimento económico e social Qualquer que seja o lugar e qualquer que seja o tamanho da sua exploração agrícola, o agricultor tem como preocupação fundamental, valorizar a sua produção. A agroecologia basea-se num conjunto de práticas agrícolas ao serviço desta valorização. O agricultor gera rendimentos para satisfazer as suas próprias necessidades, contribui à segurança alimentar e à melhoria da saúde da sua própria família e das populações que ele abastece. Os resultados medem-se especialmente em termos de qualidade nutricional, sanitária e ambiental dos produtos e são avaliados também em termos de preservação do potencial de produção. A agroecologia deve ser implementada a nível da totalidade de um espaço produtivo: “terroir”, zona baixa, perímetro de produção... Um agricultor praticando a agroecologia terá um impacto sobre a preservação do seu agrossistema tanto mais importante que se os seus vizinhos adoptarem as mesmas práticas. Enquanto preserva os equilíbrios, a agroecologia pode pretender atingir um certo nível de intensificação para contribuir de forma eficaz para os desafios alimentares do planeta. Tabela sintética das vantagens e dos inconvenientes das práticas agroecológicas: NÍVEL VANTAGENS INCONVENIENTES Ambiental Gestão durável dos recursos naturais: fertilidade dos solos, recursos hídricos e biodiversidade Redução da pegada ecológica e proteção contra as poluições agrícolas Luta contra a erosão e a desertificação Boa gestão dos “terroirs” e dos equilíbrios ecológicos Redução da pressão sobre o meio ambiente e os ecossistemas Efeitos Económico Redução dos encargos ligados à utilização dos insumos químicos de síntese e/ou a certas técnicas (trabalho do solo, corte e queima, monda…) Valorização dos materiais existentes localmente Possibilidade de melhor valorizar os produtos provenientes das práticas agroecológicas (melhor preço ou preferência da parte dos consumidores) Durabilidade do potencial de produção agrícola e da atividade económica Em Social Melhoria Evolução da segurança alimentar em quantidade e regularidade da qualidade nutricional e organoléptica dos produtos Melhor proteção sanitária dos agricultores, da sua família e dos consumidores, graças à redução do uso dos produtos químicos Maior autonomia dos produtores permitida pela redução da dependência em relação aos fornecedores de insumos Rendimentos gerados investidos no desenvolvimento social (educação saúde...) Valorização dos conhecimentos e da experiência dos produtores e dos recursos locais, técnicas adaptáveis aos diferentes contextos Melhoria de alguns tratamentos fitossanitários naturais menos imediatos em relação aos produtos químicos de síntese mas vantajosos a médio e longo prazos Necessidade eventual de espaços complementares, para integrar as práticas agroecológicas (criação de “bocage”, plantas de cobertura…) alguns casos, rendimentos inferiores, compensados pela redução dos encargos e pela melhoria da fertilidade a longo prazo Necessidades às vezes maiores em mão-de-obra para algumas operações Fraca valorização da qualidade dos produtos devido ao poder de compra limitado dos consumidores necessária das práticas tradicionais ou convencionais necessitando vontade e motivação Alternativa para uma agricultura durável 7 O guia, manual do utilizador Estrutura do guia O guia é organizado em função dos sistemas de cultivo e do tipo de clima, fatores determinantes na escolha das práticas agroecológicas. Parte 1 / Os fundamentos: Apresentação das interações entre os diferentes elementos que são o solo, a água, a planta, o animal e a paisagem no seio de um agrossistema e identificação dos grandes princípios ligados à gestão destes elementos. Parte 2 / Os sistemas de produção: Apresentação das características agroecológicas das zonas climáticas e descrição rápida dos sistemas de cultivo e da valorização das produções com o exemplo de alguns países. Parte 3 / As práticas: Descrição do princípio, dos métodos de implementação e das vantagens e desvantagens a nível técnico, económico e ambiental das diferentes práticas. Apresentado sob a forma de fichas, o guia permite ao utilizador adaptar a sua leitura conforme o seu interesse, sem necessariamente seguir um caminho linear. Parte 1 / Os fundamentos 1 ficha apresentando um esquema geral explicativo das interações existentes entre o solo, a água, a planta, o animal e a paisagem no seio de um agrossistema; 5 fichas apresentando para cada um dos 5 elementos (solo, água, planta, animal e paisagem) os grandes princípios da sua gestão e as práticas agrícolas associadas, as consequências das más e boas práticas agrícolas e o testemunho de um produtor. Descrição detalhada de uma ficha: Apresentação dos grandes princípios para uma gestão racional do elemento 8 Provérbio exprimindo uma ideia chave ligada à gestão do elemento Práticas agrícolas ilustradas Esquematização das consequências das diferentes práticas agrícolas Testemunho de um produtor sobre uma determinada prática AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Parte 2 / Os sistemas de produção 6 fichas apresentando os diferentes contextos agroecológicos e a implementação da atividade agrícola através do exemplo de vários países: sistemas hortícolas em zona húmida (Camboja, Madagáscar) e em zona seca (Marrocos, Níger), sistemas frutícolas em zona húmida (Camboja, Sri Lanka) e em zona seca (Marrocos, Níger), sistemas de culturas alimentares pluviais (Gabão) e sistemas rizícolas irrigados (Madagáscar). As 6 fichas apresentam também os efeitos das diferentes práticas agroecológicas sobre o solo, a água, a planta e a paisagem. Descrição detalhada de uma ficha: Quadro de apresentação da situação agroecológica Quadro das práticas agroecológicas associadas ao sistema para responder aos desafios identificados Apresentação dos efeitos diretos e indiretos das práticas sobre o solo, a água, a planta e a paisagem Descrição da atividade tal como é praticada através das intervenções da AGRISUD Identificação dos desafios da atividade à luz das condições agroecológicas Ilustrações das práticas através de fotos Parte 3 / As práticas 29 fichas apresentando o princípio, os métodos de implementação e as vantagens e desvantagens de cada prática... … classificadas em 6 temáticas: gestão da água (3 fichas); produção de fertilizantes (4 fichas); horticultura (10 fichas); fruticultura (3 fichas); culturas alimentares pluviais (7 fichas) e rizicultura irrigada (2 fichas). Descrição detalhada de uma ficha: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Obter plantas de qualidade; » Dispor de plantas sãs e vigorosas, de forma a limitar os tratamentos fi fitossanitários (redução dos custos); » Garantir a fase de arranque dos ciclos culturais e uma produção máxima. Condições de implementação: » Dispor de um terreno com uma fonte de água; » Dispor de areia, de terra proveniente da cama florestal e de estrume curtido ou de composto bem curtido; » Dispor de sementes de qualidade; » Dispor das ferramentas (pá, regador equipado com um chuveiro com perfurações fi finas, peneira); » Dispor de madeira, caules de cereais, folhas de bananeiras, tábuas de madeira, bambus... para fabricar o canteiro suspenso em bancadas. O local do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deverá satisfazer a maioria dos seguintes critérios: Escolha do terreno Justifi ficativa Proximidade de uma fonte de água ¼ Facilitar a rega Próximo da casa (se possível) ¼ ¼ Facilitar o cuidado e a manutenção do viveiro Afastar o viveiro das zonas de produção (risco fitossanitário) Protegido do vento e dos animais ¼ Evitar as perdas devidas às rajadas de vento e/ou à divagação dos animais Afastado das parcelas em fim de cultivo ¼ Evitar os ataques das pragas presentes nas culturas ¼ Evitar o sobreconsumo de água e o estresse térmico das plantas, assim como a deterioração das bolsas e plantas pelas chuvas fortes Protegido da chuva e do sol, mas arejado depois da sementeira e antes da emergência, depois afastar a palha de modo a deixar o caule das plantas livres, mantendo o empalhamento nas interlinhas (conservação da humidade e proteção das plantas jovens); - Monda: arrancar as infestantes para evitar a concorrência e a infestação do viveiro, esta operação deve ser feita regularmente, para evitar o arranque das plantas no mesmo tempo que as infestantes com sistema radicular já demasiado desenvolvido; - Controlo do estado sanitário: eliminar as plantas doentes e fracas. Estas etapas desenrolam-se regularmente conforme as necessidades até que as plantas estejam prontas para a transplantação. A duração de um ciclo de produção depende da cultura. Mesa feita a com om b bambu, ambu, ambu m RD do Cong n o Mesa feita com m tá ábuass de e madeira m , Sri ri La Lanka Lanka a substituir as plantas mortas ou atacadas (complantação); Económicas À Limita as perdas provocadas pela podridão das sementeiras e pelos ataques de pragas; Â Representa um custo de construção das infraestruturas para viveiros de grandes superfícies. Ambientais de síntese. Para facilitar a recuperação das plantas na parcela, é possível endurecer as plantas no viveiro antes da sua transplantação. Deve ser feito no fim da fase do viveiro: ¼ reduzindo ¼ evitando consideravelmente as regas; fornecer azoto às plantas; as redes de proteção. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR O viveiro suspenso em bancadas é uma prática que permite aos produtores, iniciar mais cedo a sua produção na estação chuvosa mantendo um domínio técnico de qualidade do viveiro. Os produtores podem colher precocemente em relação aos outros e aproveitar preços mais vantajosos. Ao reduzir a podridão das sementeiras e as infestações por parte dos nemátodos graças a um substrato sã e regularmente renovado, os produtores diminuem os seus encargos de exploração, o que os permite investirem mais facilmente e de forma efi ficiente na compra de sementes de qualidade. Construir uma mesa que pode conter o subtrato com uma espessura ra de d 5 a 10 cm, a 1 m de altura do solo (mesa em bambu com cama de folhas de bananeiras, mesa com feixes fe de e caules de milho ou sorgo…) Mesa feita eita com om ttroncos roncos oncos de on d banane banan b ba iras ass e caules au aules ules de mi milho,, Madagáscar Madagá a das sementeiras) e reduz os riscos de ataques pelas aves e outras pragas; À Permite uma boa fertilização assegurando o vigor das plantas jovens; À Permite um melhor controlo do meio de cultura; À Favorece uma emergência regular das plantas jovens; Â Necessita fabricar uma infraestrutura; Â É difícil de implementar para viveiros com grandes superfícies. À Permite controlar o meio de cultivo sem recorrer aos insumos químicos OBSERVAÇÕES ¼ retirando 2-A fabricação da mesa À Protege contra as pragas e doenças do solo (nemátodos com galhos e podridão À Permite reservar plantas no viveiro, depois da transplantação, para 1 / Os fundamentos 1-A escolha do local Vantagens e desvantagens Técnicas (de manhã e no fim da tarde) para economizar a água, evitar as regas excessivas no fim da tarde na estação chuvosa ou em zona húmida, utilizar um regador com chuveiro com perfurações finas para não danificar as plantas jovens; - Empalhamento: cobrir a cama de sementes com palha seca finamente cortada 2 / Os sistemas de produção Efeitos: Método 5-A manutenção - Rega: manter a terra húmida sem a ensopar, privilegiar os períodos mais frescos PARA IR MAIS LO Ficha: Composta Ficha: Composta Ficha: Curtição d Viveiro com empa emp lhame lha lham lhamento Plantas antas as jovens j en vigorosas e sãs sã Ficha: Tratament 3 / As práticas Para tal, o viveiro suspenso em bancadass (sobrelevado) é o mais indicado. O viveiro suspenso em bancadas permite produzir plantas ao abrigo das degradações frequentemente encontradas a nível do solo: substrato sã e de qualidade renovado a cada ciclo, solo sem acumulação permanente de água na estação chuvosa, facilidade de cobertura do viveiro para proteger as plantas jovens. 1 / Os fundamentos Portanto, é oportuno colocar as plantas num ambiente sã e controlado desde a sementeira até a transplantação. Princípio 2 / Os sistemas de produção Princípio, método (etapas da implementação ilustradas por fotos, esquemas, quadros…) Viveiro suspenso em bancadas Horticultura A produção de plantas hortícolas sãs e robustas no viveiro, constitui a primeira etapa-chave do sucesso de uma cultura. 3 / As práticas Descrição sumária da prática, identificação dos países, quadro dos efeitos, objetivos e condições de implementação da prática “Vantagens e desvantagens” da prática a nível técnico, económico e ambiental Síntese “O que é importante assimilar” Referência a outras fichas para informações complementares “Para ir mais longe” O guia, manual do utilizador 9 10 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Sumário Sumário 1/ Os fundamentos 17 21 O solo 25 A água 29 A planta O animal 33 1 57 2 A paisagem 2/ Os sistemas de produção 41 Sistemas hortícolas 49 Sistemas de produção frutífera 55 Sistemas de culturas alimentares pluviais Sistemas rizícolas irrigados 3/ As práticas 59 Gestão da água 73 Produção de fertilizantes 89 Horticultura 127 Fruticultura 141 Culturas alimentares pluviais 169 3 Rizicultura irrigada SUMÁRIO 11 Os elementos e a sua interação num agrossistema.............15 O solo............................................................................................17 A água..........................................................................................21 A planta........................................................................................25 O animal.......................................................................................29 A paisagem..................................................................................33 12 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Província de Luang Prabang, Laos 3 / As práticas 1 / Os fundamentos OS FUNDAMENTOS 13 14 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Os elementos e a sua interação num agrossistema Vapor de água O solo resulta da alteração da rocha-mãe e é modificado pelo Homem; O solo contém os elementos nutritivos necessários ao desenvolvimento da planta que os assimila pela absorção da água (função do sistema radicular); As plantas do grupo das leguminosas fixam o azoto no solo; A água do sub-solo permite a irrigação das plantas e a 1 / Os fundamentos O Solo, a Água, a Planta, o Animal e a Paisagem estão em constante interação: A planta nutre o animal; O animal fornece matéria orgânica (estrume); ele nutre o solo que por sua vez nutre a planta = reciclagem; Reciclagem favorecida pela atividade dos micro-organismos Reciclagem favorecida pela atividade dos micro-organismos A paisagem protege a planta (quebra-vento) e nutre o solo (fornecimento de biomassa) que nutre as plantas = reciclagem; A planta protege o solo dos efeitos da radiação solar, dos ventos e das chuvas torrenciais; Os vegetais pela fotosíntese absorvem o gás carbónico, fixam o carbono e libertam o oxigénio na atmosfera. Rocha-mãe Um solo protegido e enriquecido com matéria orgânica tem uma melhor capacidade de retenção de água e uma melhor capacidade de fixação dos elementos nutritivos ()... Os elementos e a sua interação dentro de um agrossistema 3 / As práticas Um ecossistema é um meio definido onde os seres vivos (animais e vegetais) interagem com a matéria inerte numa relação de interdependência para formar uma unidade ecológica. Quando o conjunto dos equilíbrios do ecossistema é preservado, a fauna e a flora (micro, meso e macro fauna e flora) desenvolvem-se em complementaridade o que permite o equilíbrio do sistema (círculo virtuoso). Um agrossistema é um ecossistema específico no qual o Homem intervem aplicando técnicas de produção agrícola, como a preparação dos solos para cultivo (lavoura do solo, adubação com matéria orgânica), a instalação e a manutenção das culturas, implementando atividades pecuárias e praticando uma boa adubação em compensação das exportações de minerais. A intervenção do Homem deve ser racionalizada tomando em conta os mecanismos naturais, para preservar os equilíbrios indispensáveis para o desenvolvimento durável da sua atividade agrícola. A agroecologia combina soluções de ordem técnica que permitem ao Homem conciliar a produtividade com uma fraca pressão sobre o meio ambiente e a gestão durável dos recursos naturais. Integra as interações entre o solo, a água, a planta, o animal e a paisagem com o objetivo de integrar a atividade no seu meio e basea-se sobre um certo número de princípios na gestão destes elementos (cf. fichas Solo, Água, Planta, Animal e Paisagem). 2 / Os sistemas de produção sustentação das plantas de enraizamento profundo; 15 16 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Preparação de um composto, Níger O solo « Restitua à terra as suas perdas e ela regalar-te-á com os seus bens » 3 / As práticas - Provérbio marroquino - OS FUNDAMENTOS / O solo 17 O solo, base e produto da matéria viva. O solo é a camada terrestre superior oriunda da tranformação da rocha-mãe. Este evolui pela ação dos fatores do meio (clima e vegetação) e do Homem que o transforma ao longo do tempo. O solo garante diferentes funções: a função alimentar (contém os elementos necessários ao desenvolvimento das culturas); função de suporte (onde o Homem desenvolve as suas atividades) e função ambiental (retenção de água, base da paisagem…). É fundamental gerir este recurso de uma forma responsável para o preservar e o valorizar. Três grandes princípios devem ser tomados em conta, através da implementação de diferentes práticas complementares 1. Um trabalho cuidadoso do solo que melhora a sua estrutura e permite o desenvolvimento natural da microfauna e da microflora nos diferentes estratos. Ex.de práticas agrícolas associadas: - Sacha; - Lavoura mínima; - Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura, empalhamento. 2. Uma gestão da fertilidade do solo baseada prioritariamente nos elementos orgânicos, cuja incorporação é essencial para conservar e melhorar a estrutura, a aeração, a retenção da água e a absorção dos elementos nutritivos. NOTA A adubação mineral pode ser utilizada em complemento da adubação orgânica. Empalhamento 18 Composto líquido AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ex. de práticas agrícolas associadas: - Fornecimento de composto sólido e líquido; - Fornecimento de estrume curtido; - Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura, empalhamento; - Pousios melhorados; - Adubação de correção (calcário moído, areia, calagem…) para manter o solo e restaurar os solos degradados; - Adubação de fundo fosfocálcica entre outros para melhorar a textura dos solos; - Fornecimentos específicos de cobertura para corregir eventuais carências. 3. Uma cobertura vegetal permanente do solo para preservar a fertilidade dos solos cultivados a longo prazo. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Sucessões culturais e afolhamento; - Associações de culturas; - Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura, empalhamento. Bananeiras sobre Brachiária Fornecimento de fosfato natural Beringelas sobre cobertura vegetal Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre o solo 1 / Os fundamentos Monocultura: esgotamento dos solos Associações e sucessões de culturas, diversificação: variação dos elementos absorvidos pelas plantas; cobertura vegetal permanente do solo Fabricação de composto, curtição do estrume Fertilização orgânica Queima dos resíduos de culturas: mineralização e fornecimento de K Solos compactados pobres em matéria orgânica Lixiviação dos elementos minerais: N, P, K, Ca, Mg... Cobertura vegetal Disponibilidade em nutrientes limitada Nutrientes disponíveis após mineralização: N, P, K, Ca, Mg... Boa retenção dos minerais e da água no solo Conservação da estrutura e da fertilidade do solo Pouca vida no solo: acentua a compactação e o empobrecimento Dinamismo da vida no solo: reciclagem dos elementos orgânicos, criação de húmus; aeração/decompactação Insuficiência dos fornecimentos de matéria orgânica (importância dos encargos em insumos químicos de síntese) Culturas não diversificadas Fornecimentos consequentes de matéria orgânica (redução dos encargos em insumos químicos de síntese) Diversidade de culturas Degradação da estrutura dos solos Preservação da estabilidade da estrutura dos solos Esgotamento do solo (exploração não sustentável) Preservação da fertilidade do solo (exploração sustentável) OS FUNDAMENTOS / O solo 3 / As práticas Fertilização: estrume não curtido em pequena quantidade + adubos químicos de síntese Práticas agroecológicas 2 / Os sistemas de produção Práticas inadaptadas 19 Palavras de produtores... Pastor Léon Produtor em Andranomavo, Madagáscar Pastor Léon fala-nos sobre o composto... « A produção do composto é um trabalho considerável. É por esta razão que no início eu não queria seguir as orientações dos técnicos da AGRISUD. Comecei a experimentar com uma pequena quantidade de composto, que utilizei para adubar uns quinze pés de tomate na minha parcela. Observei uma grande diferença: o tomate cultivado com estrume e adubos químicos desenvolve muito mais rapidamente no início, mas perde as suas folhas depois da terceira colheita, e obtivemos seis colheitas no total. Mas para o tomate que plantei utilizando composto, as folhas permaneceram nas plantas até a decima-segunda colheita, e os rebentos continuaram a rebrotar produzindo novas flores e novos frutos ». Pastor Léon é seguido no âmbito de um projeto de profissionalização da agricultura na Região de Itasy em Madagáscar. Ele é atualmente um dos produtores de referência na sua fokontany (aldeia). Depois de ações pilotos em 2008, o projeto entrou desde o ano 2009 numa fase de divulgação em 8 Concelhos e envolve 720 agricultores nos seguintes domínios: - sistema de rizicultura intensiva (SRI); - culturas alimentares pluviais; - culturas hortícolas e frutíferas. Um sistema de acompanhamento das fileiras agrícolas e dos mercados, acompanha o reforço e a diversificação da produção, que na sua maior parte é valorizada nos mercados regionais e nos de Antananarivo. 20 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Irrigação de uma horta caseira, Laos A água « Não deite fora o resto da água do teu jarro quando a chuva se anuncia » 3 / As práticas - Provérbio africano - OS FUNDAMENTOS / A água 21 A água, sem ela, não há cultivo nem criação de gado. O ciclo da água é também o ciclo da vida. Quer ela seja líquida ou gasosa, presente no solo ou na atmosfera, ela permite a vida do solo, transporta os elementos nutritivos para a planta e dá de beber aos Homens e aos animais. A água pode também ser devastadora; ela degrada os solos pela sua ação, destrói as culturas com as chuvas torrenciais, e às vezes provoca inundações. É então necessário adotar práticas responsáveis para gerir os excessos e/ou as carências deste recurso. Quatro grandes princípios devem ser tomados em conta, através da implementação de diferentes práticas complementares 1. Uma mobilização dos recursos hídricos de uma forma económica e responsável e uma irrigação racional e organizada. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Organização da distribuição da água; - Infraestruturas, redes de irrigação e materiais de extração da água adaptados. 2. Um uso da água responsável para evitar os desperdícios (preservar o recurso) e os gastos energéticos supérfluos. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Trabalho dos terrenos (aplainamento, canais, perfis dos canteiros, covas…); - Culturas em curvas de níveis. 3. Uma conservação da água nos solos garantida em benefício das plantas cultivadas. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Fornecimento de adubo orgânico de fundo (composto e estrume curtido); Poço, Níger 22 Bomba com pedal, Níger AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 - Sacha; - Amontoa; - Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura, empalhamento; - Associação de culturas; - Criação de “bocage” (sebes vivas e quebra-vento). 4. Uma proteção da água contra as poluições (efluentes orgânicos ou químicos). Ex. de práticas agrícolas associadas: - Tratamentos e adubos naturais biodegradáveis; - Recolha e utilização adaptada de “urina” e estercos; - Redução na utilização de pesticidas químicos de síntese por uma estratégia integrada de luta fitosanitária. Cultivo em covas, Madagáscar Arrozal SRI, Madagáscar Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre a água Criação de um “bocage”: conservação da humidade nas parcelas, infiltração da água Evapotranspiração elevada Ausência de “bocage”: dessecação das culturas pelo efeito do vento e do sol 1 / Os fundamentos Práticas agroecológicas Evapotranspiração limitada Ausência de cobertura do solo: compactação, ascensão capilar, dessecação 2 / Os sistemas de produção Práticas inadaptadas Cobertura vegetal permanente: conservação da humidade no solo O recurso hídrico esgota-se Importância dos trabalhos e dos encargos de irrigação Grande consumo de água Redução dos períodos de cultivo na estação seca (falta de água) Esgotamento dos recursos hídricos (cultivo não durável e culturas regularmente expostas ao estresse hídrico) Conservação da humidade no solo para as culturas Solo bem fertilizado, rico em matéria orgânica: boa retenção de água O recurso hídrico é bem conservado e renova-se Limitação do tempo e dos encargos de irrigação Práticas económicas e medidas de conservação da água no solo Possibilidade de culturas na estação seca (domínio na gestão da água) 3 / As práticas Disponibilidade de água limitada para as culturas Solo com queima, pobre em matéria orgânica: fraca retenção de água Conservação dos recursos hídricos (exploração durável e culturas sem estresse hídrico) OS FUNDAMENTOS / A água 23 Palavras de produtores... Norberto Produtor em Avaradalana, Madagáscar Norberto fala-nos sobre os benefícios da prática do empalhamento… « O cultivo com empalhamento reduz em 4 vezes a frequência da irrigação. Durante a estação seca, há uma grande quantidade de palhas disponíveis, as atividades agrícolas são reduzidas e como o tempo é muito seco, o empalhamento ajuda-nos muito. Por outro lado na estação das chuvas, temos menor necessidade de economizar água, e sobretudo, temos demasiado trabalho com as culturas de sequeiro. Mas no próximo ano tentarei utilizar o empalhamento, visto que as infestantes crescem rápido e que o empalhamento pode nos ajudar a reduzí-las ». Norberto foi um dos primeiros agricultores a ser integrado no projeto piloto de profissionalização na região de Itasy em Madagáscar. Iniciado em 2008, este projeto de 18 meses pretendia reforçar os sistemas agrícolas e diversificar a produção em função das necessidades de aprovisionamento dos mercados. Um primeiro grupo de 86 agricultores provenientes de 16 fokontany (aldeias) foi formado para trabalhar sobre a melhoria da rizicultura, das culturas alimentares de sequeiro e do cultivo de legumes em campo aberto. Foi também feito um diagnóstico agrário da zona e das explorações agrícolas; foram identificadas 7 grandes fileiras: tomate, batata comum, cebola, arroz, papaia, ananás, milho. As primeiras ações incidiram na apropriação pelos produtores das boas práticas agroecológicas para, entre outros, melhorar e conservar a fertilidade dos solos (fabricação de composto) e melhorar a gestão da água (empalhamento). Graças aos ganhos deste projeto, uma fase de extensão foi lançada em 2009. 24 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Plantação de ananás debaixo de bananeiras , Sri Lanka A planta « Sache todas as tuas plantas de sorgo porque não sabes qual delas te dará os seus grãos » OS FUNDAMENTOS / A planta 3 / As práticas - Provérbio nigeriano - 25 A planta, selvagem ou domesticada, rica pela sua diversidade, é a base dos agrossistemas. A planta alimenta o Homem e os animais. Pela fotosíntese ela produz o oxigénio e fixa o carbono. As suas raízes colonizam o solo e favorecem a vida subterrânea, a sua parte aérea protege o solo e cria um ambiente propício aos seres vivos. Ela pode ser erva daninha, cheia de espinhos, ou mesmo venenosa, mas a sua presença nunca é por acaso. É então necessário preservar a diversidade das plantas. Dois grandes princípios devem ser tomados em conta, através da implementação de diferentes práticas complementares 1. Uma adaptação das produções vegetais ao ecossistema, correspondente aos anseios dos produtores e dos consumidores. 2. Um domínio dos sistemas de cultivo privilegiando as complementaridades no espaço e no tempo. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Produções em que as exigências estão adaptadas aos recursos disponíveis (água e solo); - Produções orientadas para os mercados locais; - Conhecimento das variedades locais adaptadas; - Valorização dos conhecimentos e práticas agrícolas locais; - Produção local de sementes. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Associações de culturas; - Sucessões culturais; - Criação de “bocage” (sebes e quebra-ventos); - Associação culturas e criação de gado; - Adubação orgânica; - Tratamentos fitosanitários utilizando no máximo produtos naturais (a base de ním, tabaco, malagueta...) ou produtos que se degradam sem prejuízos para o ambiente. Faixas alternadas ananás / bananeiras, Sri Lanka 26 Cultura de quiabo, Gabão AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Comerciante, Laos Cultura de Lemon grass, Índia Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre a planta Não há integração culturas / criação animal X Monocultura: persistência das pragas e doenças Fertilização inadaptada com fraco fornecimento de matéria orgânica: falta de vigor das culturas, sensibilidade Falta de diversidade de culturas Mau domínio dos períodos de abundância e de penúria de produtos Importância dos encargos em insumos químicos de síntese: adubação inadaptada; luta química Má sinergia entre culturas e criação de gado Exploração a curto prazo e criação de desequilíbrios Tratamentos naturais e luta integrada: proteção do solo, da água, da fauna e da flora do solo, nível aceitável de perdas Associações de culturas: complementaridade entre as culturas, limitação do desenvolvimento das pragas 1 / Os fundamentos Tratamentos químicos de síntese sistemáticos: resistência das pragas, eliminação dos auxiliares, poluição das águas e dos solos, desaparecimento da fauna e da flora do solo Sebes vivas: barreira física contra a propagação das pragas e doenças; microclima favorável às culturas Variedades e itinerários técnicos adaptados: cultivo possível todo o ano, tratamentos limitados 2 / Os sistemas de produção Itinerários técnicos mal controlados: cultivo durante todo o ano impossível Práticas agroecológicas Integração culturas / criação animal: forragem Sucessões culturais: quebra dos ciclos das pragas e doenças, absorção equilibrada dos nutrientes do solo Fertilização adaptada privilegiando os fornecimentos de matéria orgânica: culturas robustas, resistentes Diversificação das culturas Complementaridade das culturas no tempo e no espaço Encargos de exploração reduzidos: adubação adaptada, métodos preventivos e produtos naturais Integração culturas / criação de gado 3 / As práticas Práticas inadaptadas Exploração durável e promoção dos equilíbrios OS FUNDAMENTOS / A planta 27 Palavras de produtores… Brahim Meskaoui Agricultor em Afra, Marrocos Brahim fala-nos sobre a diversificação das suas culturas... « Os meus pais eram agricultores, e aprendi muitas coisas com eles. Costumava observar o que faziam os vizinhos e os agricultores das aldeias onde tinha alugado e comprado parcelas. Também, com os meus filhos experimentamos novas técnicas que se revelaram ser eficazes. Aproveitamos desta forma para cultivar todas as nossas parcelas durante o ano inteiro e a minha mulher pode cozinhar legumes variados para alimentar os 17 membros da família, e ainda podemos comercializar os nossos legumes e plantas aromáticas a um bom preço, quando a oferta local tende a escassear. O meu primogénio Mohamed é responsável pelo transporte e pela venda semanal da produção em dois souks no inverno e 3 souks no verão. Estou a aprender novas práticas com os técnicos do projeto Agrisud. Nós aprendemos a fabricar composto e a tratar as plantas com produtos naturais simples e com custos reduzidos como o alho, o gengibre, o sabão preto, etc ». Brahim Meskaoui é acompanhado no quadro de um projeto de melhoria das práticas agrícolas numa região de oásis no sul de Marrocos. Ele é um produtor de referência na sua douar (aldeia). 191 produtores e produtoras são também acompanhados nas províncias de Ouarzazate e de Zagora dentro dos projetos da AGRISUD nos seguintes domínios: - fruticultura (oleicultura); - horticultura; - pequena criação ovina. O acompanhamento técnico e económico e o apoio na organização profissional permitem segurar, reforçar e diversificar as atividades agrícolas em que as produções são valorizadas nos souks (mercados locais) de Skoura, Agdz e Ouarzazate. 28 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Ovelha, Marrocos O animal « Dá-me palha e eu te darei leite » 3 / As práticas - Provérbio marroquino - OS FUNDAMENTOS / O animal 29 O animal, um precioso aliado para o agricultor e para o equilíbrio da exploração agrícola. A criação de animais garante diferentes funções que dão resposta às necessidades do Homem: a função alimentar (carne, leite), a função utilitária (lã para tecelagem, energia animal para a tração…), a função económica (tesouraria, receitas complementares…). A atividade de criação de animais é um elemento de equilíbrio dos sistemas agrícolas: trocas entre as culturas e os animais (alimentação, restituição da matéria orgânica). É necessário criar e manter sinergias entre as atividades de produção vegetal e a criação de animais. Dois grandes princípios devem ser tomados em conta através da implementação de diferentes práticas complementares 1. A adaptação da produção animal ao ecossistema, respondendo a uma demanda dos produtores e consumidores. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Produção em que as exigências são adaptadas aos recursos disponíveis; - Produções orientadas para os mercados locais; - Conhecimento de raças locais adaptadas; - Valorização dos saberes e práticas locais; - Produção local de rebanho. Avicultor, Congo 30 Criação de suínos, Camboja AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 2. O domínio dos sistemas de criação que valorizam os recursos alimentares locais e restituem a matéria orgânica. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Integração culturas/criação de gado; - Valorização dos recursos locais para a alimentação do gado; - Produção de matéria orgânica a ser utilizada nas parcelas. Criação de ovelhas, Marrocos Criação de suínos, Laos 1 / Os fundamentos Palavras de produtores... Dim Touch Avicultor em Anlong Tasek Leu, Camboja 2 / Os sistemas de produção Dim Touch fala-nos sobre a sua criação de galinhas… «Depois de melhorar a manutenção da capoeira, a alimentação e o bem-estar dos animais, e programando a criação dos frangos para a venda nas épocas das festas khmer e chinesas, cheguei à conclusão que a criacão de aves podia ser uma atividade económica de grande valor. Atualmente desejo aumentar a minha produção. Eu tenho um terreno um pouco retirado da aldeia num local favorável com sombra onde quero construir uma capoeira maior ». Dim Touch é um dos criadores apoiados pelo projeto de luta contra a pobreza pela promoção de fileiras agrícolas orientadas para o mercado da hotelaria e restauração nas Províncias de Siem Reap e de Kandal no Camboja. Entre 2004 e 2008, 120 criadores reforçaram e diversificaram os seus sistemas de produção, visando especificamente o mercado da hotelaria e da restauração. Em 2009, 73 novos criadores aderiram à iniciativa e contribuem ao aprovisionamento dos mercados locais e dos hotéis de Siem Reap e de Phnom Penh: - produtos hortícolas (repolho e couve, cebolinha, feijão-espargo, alface, pepino…); 3 / As práticas - cogumelos (pleurotes); - carne (de porco e aves). Os 73 beneficiários apoiados pelo projeto em 2009, produziram em um ano 215 toneladas de produtos agrícolas que vieram alimentar os mercados locais em redo de Siem Reap e de Phnom Penh. OS FUNDAMENTOS / O animal 31 32 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Paisagem malagasy A paisagem « Quem planta árvores na sua juventude, terá abrigos na sua velhice » 3 / As práticas - Provérbio malagasy - OS FUNDAMENTOS / A paisagem 33 A paisagem, elemento fundamental do “terroir” e das suas diferentes unidades de produção. A paisagem é modelada pelo Homem que deixa nela as suas marcas. As marcas deixadas pelas atividades agrícolas podem ser positivas quando estas atividades conservam um equilíbrio com o seu ambiente, ou negativas quando contribuem para destruir a paisagem que as integra, colocando-se em perigo. Pela ação do Homem e pelos efeitos da natureza nasce um sistema agroecologicamente durável ou não. É então essencial inserir as atividades de produção dentro de uma visão global de organização da paisagem. Três grandes princípios devem ser respeitados através da implementação de diferentes práticas complementares 1. A realização de construções contra a erosão para preservar os espaços cultivados, privilegiando o aspeto de “bocage” e a diversidade das plantas cultivadas, valorizar as águas pluviais, combater a erosão e as inundações, recarregar os lençóis freáticos. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Faixas relvadas; - Terraços agrícolas e cultivo em curvas de nível; - Plantação de espécies florestais. 2. A manutenção da biodiversidade pela conservação e o desenvolvimento de uma fauna e flora adaptadas, em equilíbrio com o seu ambiente local. Ex. de práticas agrícolas associadas: - Variedades locais adaptadas; - Associações e sucessões de culturas; - Valorização das espécies e dos matérias locais; - Associação de culturas com a pecúaria. Culturas ao pé do Monte Bangu, RDC 34 Paisagem marroquina AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 3. A arborização e a revegetação dos terrenos disponíveis para privilegiar uma diversidade de espécies para a madeira ou a lenha, para o artesanato, a alimentação humana e animal, a regeneração dos solos… Ex. de práticas agrícolas associadas: - Reabilitação dos pomares e plantações florestais; - Cobertura do solo (cama de palha); - Sebes e quebra-ventos; - Técnicas de viveiros; - Fixação de dunas; - Agrofloresta. Arrozal e pomar, Índia Sebe viva de Glyricídia, Sri Lanka Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre a paisagem Práticas agroecológicas 1 / Os fundamentos Práticas inadaptadas Arborização Ausência de “bocage”: dessecação e alteração da estrutura dos solos, aridez das zonas de cultivo, forte evapotranspiração Cultivo em curvas de nível Cobertura do solo Escoamento superficial rápido da água e arrastamento dos solos: erosão (o esgotamento dos solos não permite mais o cultivo) e assoreamento das zonas baixas e ribeiras Irrigação mal controlada Diminuição do recurso hídrico Erosão Falta de proteção dos solos Más práticas culturais em terrenos inclinados Má gestão dos recursos hídricos Potencial do “terroir” ameaçado Ausência de cobertura do solo: lixiviação Redução dos escoamentos superficiais, estabilização dos solos, boa infiltração da água no solo Utilização racional da água Proteção dos solos e renovação da fertilidade Renovação e armazenamento do recurso hídrico Luta contra a erosão nos terrenos inclinados Proteção dos solos Boas práticas culturais Gestão durável dos recursos hídricos 3 / As práticas Cultivo ao longo das vertentes Faixas enrelvadas e socalcos 2 / Os sistemas de produção Desenvolvimento de um “bocage” proteção do solo, conservação da humidade, renovação da matéria orgânica Potencial do “terroir” preservado / melhorado OS FUNDAMENTOS / A paisagem 35 Palavras de produtores... Chanthramanikay Horticultora e fruticultora em Thampalakamam, Sri Lanka Chamthramanikay fala-nos sobre a valorização intensiva da sua parcela… « Tenho duas crianças que cuido sozinha porque o meu marido é inválido. Sou proprietária do meu terreno mas antigamente eu não conseguia cultivá-lo de forma produtiva, e tinha sempre de ir trabalhar nos arrozais vizinhos como trabalhadora. Hoje tenho boas colheitas e desejo adquirir um outro terreno na aldeia para o trabalhar como o primeiro, e não ser mais obrigada a trabalhar em terrenos alheios. É graças aos apoios da AGRISUD que a minha situação mudou. Eles ajudaramme a cavar um poço, plantei uma sebe viva de Gliricídia e fruteiras: coqueiros, papaieiras, ananás, bananeiras,… As técnicas aprendidas permitem-me também cultivar legumes debaixo das espécies frutíferas ». Chanthramanikay é uma das produtoras que beneficiou dos apoios do projeto de renascimento das atividades agrícolas e de reforço do setor agrícola depois da catástrofe do tsunami, no distrito de Trincomalee (Noroeste do Sri Lanka). Entre 2005 e 2009, este projeto envolveu 988 famílias de pequenos produtores em 36 aldeias do distrito, famílias que foram diretamente afetadas pelo tsunami na zona costeira, ou deslocadas durante os 25 anos de guerra civil. Em ambos os casos, a atividade agrícola devia ser reconstruída… As ações foram orientadas para o reforço e a diversificação dos sistemas agrícolas para garantir a segurança alimentar e o aprovisionamento dos mercados locais: - cultura de chalota em campo aberto em zona costeira; - culturas hortícolas: diversos legumes (tomate, couve, repolho, cenoura, beterraba, cebola…); - culturas frutíferas: coqueiros, papaieiras, bananeiras, ananás e citrinos; - pequenas atividades geradoras de rendimentos: artesanato agrícola, transformação de produtos e pequena criação avícola. 36 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 37 Sistemas hortícolas....................................................... 41 - Horticultura em zona húmida.................................. 41 - Horticultura em zona seca....................................... 45 Sistemas de produção frutífera................................... 49 - Fruticultura em zona húmida................................... 49 - Fruticultura em zona seca........................................ 53 Sistemas de culturas alimentares pluviais.................. 55 - Culturas alimentares pluviais.................................... 55 Sistemas rizícolas irrigados.......................................... 57 - Rizicultura irrigada..................................................... 57 38 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 1 / Os fundamentos 2 / Os sistemas de produção Região de Tahoua, Níger 3 / As práticas 2 / Os sistemas de produção OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO 39 40 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Horticultura em zona húmida Sistemas hortícolas Exemplo do Camboja Água: Duas particularidades hidrográficas: - o Mekong atravessa o país cerca de 300 km de distância; - o lago Tonlé Sap enche das águas do Mekong na estação das chuvas, e alimenta o rio por sua vez na estação seca. A maior parte dos camponeses apoiados pelo projeto possuem uma horta ou chamkar de cerca de 0,5 ha perto da sua casa, onde podem cultivar várias culturas com exceção do arroz. As culturas hortícolas são mais frequentes na estação seca fresca, depois da colheita do arroz e do abaixamento das águas (de dezembro a março). A prática da horticultura requer a mobilização de meios financeiros para adquirir as sementes, os fertilizantes, a irrigação e o emprego dos trabalhadores em complemento da mão-de-obra familiar. Ela permite em compensação obter um valor acrescentado por unidade de superfície muito mais importante que o das outras culturas instaladas nas mesmas parcelas. Principais culturas: - os legumes de folhas: alface, mostarda, espinafre aquático, couve, chinese kale… com ciclos curtos limitando os riscos; A maioria da população concentra-se à volta do lago, nas margens do Mekong e dos seus afluentes e defluentes. Estas zonas constituem o coração agrícola do Camboja. - as outras produções: as cucurbitáceas (pepino, abóbora, melão- Vegetação: Cerca de 2/3 do país é coberto por uma floresta tropical, mais densa nos planaltos. Palmeiras de açúcar alinham-se ao longo dos diques em volta dos arrozais. Atividades agrícolas: O arroz é a cultura alimentar de base. A horticultura, as outras culturas anuais bem como a fruticultura não são muito praticadas. A pecuária é essencialmente familiar. Constrangimentos maiores: - riscos climáticos: falta de água e irrigação limitada na estação seca / inundações e possibilidade de drenagem limitada na estação chuvosa; - práticas agrícolas precárias: diversificação de culturas limitada, uso não racional de insumos químicos de síntese, fraca capacidade de investimento; - acesso desigual à terra: em média 1 ha por família. 1 / Os fundamentos Solo: Bom potencial agronómico nas proximidades das margens. Os solos aluviais são destinados à rizicultura. Os solos com fraco potencial são cobertos com florestas. No Camboja, a atividade hortícola promovida pela Agrisud ao nível familiar corresponde a uma preocupação para a diversificação das produções agrícolas, de melhoria da segurança alimentar e de criação de atividades remuneráveis. 2 / Os sistemas de produção Clima: Tropical quente e húmido com estações alternadas: - estação seca: novembro a abril, 30 a 40°C; - estação chuvosa: maio a outubro, 25 a 30°C, com fortes precipitações( 1.500 a 2.000 mm/ano). A atividade de produção hortícola Mercado de Ta Khmao, Província de Kandal de-São-Caetano), os tubérculos (batata doce, mandioca, inhame, taro), as leguminosas (feijão-aspargo, feijão mungo), as liliáceas (cebola, cebolinha) e outras culturas como o repolho, a couve-flor, o pimentão verde, o tomate, a beringela ou a malagueta. Os desafios A horticultura pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável se os constrangimentos forem ultrapassados e os recursos bem utilizados. Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um horticultor são: o domínio da gestão dos recursos hídricos (possibilidade de irrigação e drenagem); a conservação da fertilidade do solo (sucessões culturais, utilização de adubos orgânicos); 3 / As práticas Situação agroecológica a regularidade das produções no tempo e no espaço (valorização dos períodos não produtivos, cultivo fora da estação, viveiros suspensos em bancadas); a prevenção das doenças e dos parasitas (diversificação das culturas, introdução de novas variedades). OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona húmida 41 Exemplo de Madagáscar Situação agroecológica (Altos planaltos) Clima: Subtropical: temperaturas anuais entre 7 e 28°C; com precipitações de 800 a 1.100 mm/ano. - estação seca fria: de abril a outubro; - estação chuvosa quente: de novembro a março. Solo: Dois tipos: - solos aluviais das zonas baixas e das planícies, relativamente férteis, onde se concentra a produção do arroz; - solos ferralíticos nas encostas e na base das encostas, geralmente lixivíados e fortemente degradados. Água: Vários lagos, ribeiras, planícies temporariamente inundadas e zonas de pântanos. Relevo: Zona montanhosa (altitude de 600 a 1.700 m), com uma alternância de colinas desarborizadas e vales. Vegetação: Savana herbácea com poucas florestas com exceção das zonas rearborizadas ou de produção de madeira de eucalipto ou de pinheiro. Atividades agricolas: A rizicultura é praticada na estação das chuvas, e na estação seca segundo as possibilidades de irrigação. As principais culturas alimentares pluviais são o milho, a mandioca, o feijão e o feijão-bambara. A horticultura é praticada nos arrozais já secos ou na base das encostas. A fruticultura e a pequena criação familiar (porcos, patos, galinhas) são praticadas em pequena escala. A atividade de produção hortícola Em Madagáscar, a horticultura promovida pela AGRISUD é praticada ao nível familiar, com o objetivo de diversificar as produções agrícolas e garantir a segurança alimentar das famílias. Dois sistemas de produção hortícola dominantes são apoiados e praticados : - o cultivo de legumes de folhas (jambu, couve, couve chinês, erva-moura, alface…) que permite às famílias mais vulneráveis, entradas regulares de tesouraria permitidas pelas colheitas regulares das culturas com ciclos curtos, este sistema é praticado durante o ano inteiro nos solos férteis na base das encostas; - as culturas com maior valor acrescentado (batata comum, tomate, cebola, cebolinha, alho-porro, abobrinha, repolho…) que são praticadas nos arrozais, fora da estação de produção do arroz, de forma muito sazonal (de abril a setembro). A prática da horticultura fora da estação nos arrozais responde a dois imperativos: - garantir tesouraria para financiar a instalação do próximo ciclo do arroz; - manter e fertilizar a parcela para a cultura seguinte. Nos sistemas hortícolas, o uso dos adubos e pesticidas químicos de síntese, que depende dos meios financeiros do produtor, é frequente e muitas vezes desproporcional, fazendo diminuir a rentabilidade das culturas de forma muito nítida. Horta, Região de Itasy Os desafios A horticultura pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável se os recursos locais forem bem utilizados e valorizados e se os constrangimentos forem ultrapassados. Constrangimentos maiores: - chuvas fortes e falta de cobertura florestal: erosão acelerada das colinas e assoreamento das zonas baixas; - pressão fundiária na periferia de Antananarivo: diminuição das superfícies agrícolas. 42 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um horticultor são: o domínio dos itinerários técnicos de forma a aproveitar as oportunidades do mercado (que induz muitas vezes cultivar, ou ao menos preparar o viveiro, na estação chuvosa); o domínio das práticas com custos reduzidos (composto, métodos preventivos, pesticidas naturais e proteção dos solos); o domínio da gestão da água durante o ano inteiro para diminuir os efeitos das inundações na estação chuvosa e da escassez de água na estação seca; a implantação de sucessões culturais do tipo rizicultura de estação chuvosa / horticultura fora da estação. NOTA As práticas agroecológicas propostas A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são o solo, a água, a planta e a paisagem. As práticas agroecológicas propostas pela AGRISUD e implementadas pelos produtores no Camboja e em Madagáscar, permitem responder aos desafios da produção hortícola em zona húmida. O objetivo final é ser capaz de produzir regularmente legumes de qualidade, em quantidade suficiente, com os meios de produção acessíveis (custos reduzidos e adaptabilidade) e isto, de forma durável. 1 / Os fundamentos A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas. Efeito direto Efeito indireto EFEITOS PRÁTICAS Solos Água Planta Paisagem Curtição do estrume Compostagem em leiras 2 / Os sistemas de produção Compostagem em composteira Plantação de árvores nos sítios de produção Viveiro no chão Viveiro suspenso em bancadas Adubação orgânica de fundo Culturas em covas Sucessões culturais Associações de culturas Horticultura em covas, Madagáscar Empalhamento Composto líquido Luta integrada Cultura de tomate com empalhamento, Madagáscar Jarro de composto líquido 3 / As práticas Tratamentos fitossanitários naturais Empalhamento, Camboja OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona húmida 43 44 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Horticultura em zona seca Sistemas hortícolas Exemplos de Marrocos e Níger No Níger, a horticultura é praticada na estação seca, quando as condições térmicas o permitem (fora da estação das altas temperaturas) e quando a mão-de-obra familiar não está ocupada com as culturas pluviais. No entanto, alguns praticam esta atividade de forma contínua (caso das covas nos oásis). No Sul de Marrocos, a horticultura é praticada todo o ano nos oásis. Nos dois contextos, a falta de meios orienta os produtores mais pobres para um sistema de produção principalmente baseado no uso de estrume e sementes locais. Principais culturas: Solo: Solos pobres com défice em matéria orgânica. - no Níger: cebola, tomate, couve, batata comum, alface, abóbora, Água: O recurso depende da presença de um curso de água permanente ou temporário (liberação da água por uma barragem, cheia), de charcos (permanentes ou temporários) ou de um lençol freático pouco profundo. - no Sul de Marrocos: cenoura, nabo, cebola, favas, couve e ervilha Vegetação: Maioritariamente constituída por estepes herbáceos e arbustivos. Fraca cobertura florestal fora dos oásis. Atividades agrícolas: Produção de cereais em sequeiro (com exceção nos oásis), tamareira, criação sedentária ou transumância e horticultura nos oásis. Constrangimentos maiores: - condições climáticas extremas: raridade das chuvas e violência das precipitações (Sul de Marrocos); fortes temperaturas; - problemas de desarborização e importante desertificação; - más práticas agrícolas: insuficiência dos fornecimentos em matéria orgânica, desperdícios de água durante a rega, sucessões culturais inadequadas, má utilização dos insumos químicos de síntese. 1 / Os fundamentos Em Marrocos e no Níger, a atividade hortícola fomentada pela AGRISUD é realizada ao nível das pequenas explorações agrícolas familiares ou de perímetros irrigados geridos coletivamente mas onde cada produtor possui uma parcela. 2 / Os sistemas de produção Clima: Tropical seco e semi-árido com poucas precipitações e temperaturas extremas: - Sul de Marrocos: 110 mm/ano em média; de 0°C com geadas pouco frequentes no inverno a 45°C no verão; - Níger: 150 a 500 mm/ano concentrados num curto período (meados de junho a meados de setembro); até 50°C e forte amplitude térmica entre estação quente e inverno. A atividade de produção hortícola pimentão, quiabo, hibisco; (no inverno); tomate, beringela, pimentão e abóbora (no verão). Uma particularidade: oásis e bacias-oásis No Sul de Marrocos, os oásis encontram-se ao longo dos oueds (cursos de água temporários). O sistema de cultivo é estratificado: palmeiras tamareiras/ árvores fruteiras/culturas forrageiras/cerealíferas e/ou hortícolas. Pimentão, Níger No Níger, a presença do lençol freático pouco profundo favorece a vegetação. Em forma de uma bacia, o contorno é arborizado com árvores e palmeiras, e é onde se situam as hortas. Os oásis do Sul marroquino com potencial agrícola importante, e as bacias-oásis do Níger são lugares privilegiados para a horticultura. Estas zonas de cultivo estão hoje ameaçadas pela desertificação e a invasão de areia. Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um horticultor são: o domínio da gestão da água (técnicas de irrigação económicas) e domínio da fertilidade dos solos; a programação da produção ao longo do ano (com exceção das bacias-oásis e dos oásis); a proteção dos sítios de produção contra o sol, o vento e os animais. 3 / As práticas Situação agroecológica (Oásis situado no Sul de Marrocos e na zona Leste do Níger) E particularmente, nos oásis e nas bacias-oásis: a gestão dúravel da água e o dóminio das ascensões capilares; a luta contra a invasão de areia. OS SISTEMAS DE PRODUÇÂO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona seca 45 Caso específico das bacias-oásis As bacias-oásis são muitas vezes os únicos espaços propícios às culturas hortícolas em zona seca no Leste do Níger. A presença de um lençol fréatico pouco profundo permitiu o desenvolvimento de um anel arbóreo onde o micro-clima criado favorece o desenvolvimento das culturas. Principais constrangimentos: a salinização do solo pela ascenção do lençol freático (natrão) no centro da bacia. Esquematização de uma bacias-oásis: Esquematização de um processo de salinização do solo: Vista de cima: Zona de dunas Zona com natrão, inculta Cintura arbórea + hortas Cintura arbórea + hortas Evaporação da água Zona de transição com plantas tolerantes à salinidade Zona de dunas, inculta Ascenção capilar da água + sais Depósitos de sais Zona com natrão, inculta Água doce Água salgada Vista de uma bacia-oásis, Níger 46 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Natrão Água doce Culturas em uma bacia, Níger Lençol freático Cultura de couve – bacias-oásis, Níger As ascensões dos sais As obras Quando se cultiva na zona sensível (onde o natrão não está visível na superfície, mas presente no solo e no subsolo), as regas na superfície estão sujeitas à intensidade da radiação solar. A evaporação da água povoca ascensões capilares da água do solo carregada em sais solúveis (natrão). - Organização do terreno: instalando sebes e plantando árvores na parcela A escolha do terreno - Evitar o cultivo na zona de transição. Se antes da instalação de uma horta, o solo estiver sem vegetação, e apresenta uma cor castanha (até cinzento-verde) e uma estrutura pulverulenta, é muito provável que neste solo haja ascensões sazonais dos sais. - Escolher os terrenos na cintura árborea da bacia; Solo apresentando natrão NOTA desbravá-los todavia sem cortar as árvores. NOTA As bacias-oásis são ecossistemas frágeis e protegidos. A cintura arbórea protege estas zonas da invasão das dunas, é portanto, desaconselhado proceder ao corte das palmeiras, uma vez que o corte das árvores pode conduzir ao desaparecimento do potencial agrícola. 1 / Os fundamentos É possível constatar subidas de sal, mesmo se a água no lençol freático não é salgada: o sal está presente no subsolo e sobe por capilaridade. 2 / Os sistemas de produção Na superfície, a água evapora deixando no local depósitos de sal, o solo fica salgado, reduzindo as possibilidades de cultivo. conforme necessidade para criar um ambiente favorável às culturas e à conservação da humidade (cf. Ficha: Plantação de sebes e árvores nos sítios de produção hortícola p 93). Para a plantação das árvores frutíferas, preparar o solo sobre 1 m3 e fazer as devidas correções. - Captação da água: feita o mais longe possível do centro « natronizado » (salgado) da bacia para evitar a subida da água salgada imprópria para a agricultura. Uma bombeamento excessiva de água doce do lençol freático num mesmo ponto favorecerá o avanço da frente salgada. - Multiplicação dos pontos de captação: limitando os débitos de bombeamento para preservar o recurso hídrico. - Escolha das culturas: Em caso de salinidade do solo, privilegiar culturas semi-tolerantes (sorgo, abóbora, cenoura, beringela, alface, tomate, cebola) e tolerantes (cevada, beterraba vermelha) para os primeiros ciclos, até constatar a redução efetiva das subidas de sal graças a outras práticas; Evitar as culturas sensíveis enquanto o problema persistir. Furo, bomba com pedais, canal cimentado O equilíbrio do frágil ecossistema das bacias-oásis basea-se no recurso hídrico e na conservação da cintura arbórea. Portanto, é necessário privilegiar sistemas de irrigação económicos e evitar o uso de motobombas que extraem quantidades muito importantes de água. Pé de mandioca sem empalhamento Trabalho do solo, bacia do Karangou 3 / As práticas Ascensão de sais Culturas, bacia de Baboulwa OS SISTEMAS DE PRODUÇÂO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona seca 47 NOTA As práticas agroecológicas propostas A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são o solo, a água, a planta, a paisagem. As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos produtores no Níger e em Marrocos, permitem responder aos desafios da produção hortícola em zona seca. A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas. O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente legumes de qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável. Efeitos diretos Efeitos indiretos PRÁTICAS EFEITOS Solo Água Planta Paisagem Curtição do estrume Compostagem em leiras Composto líquido Plantação de árvores nos sítios de produção Viveiro suspenso em bancadas Viveiro no solo Adubação orgânica de fundo Sucessões culturais Associações de culturas Empalhamento Culturas em covas Culturas estratificadas, Sul de Marrocos Luta integrada Tratamentos fitossanitários naturais Composteira, Níger 48 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Culturas em covas, Níger Associação de culturas, Sul de Marrocos Sistemas de produção frutífera Fruticultura em zona húmida Exemplo do Camboja As Províncias onde a fruticultura é mais desenvolvida são Battambang e Kampong Cham. Em zona das margens, a maioria das famílias apoiadas possuem um pequeno pomar em volta da casa (1 ou 2 plantas de diferentes espécies: bananeiras, papaieiras, goiabeiras, mangueiras, citrinos) e as frutas obtidas são destinadas ao consumo familiar (somente uma pequena parte é vendida no mercado local). Solo: Bom potencial agronómico nas proximidades das margens. Nos solos aluviais é praticada a rizicultura. Os solos com fraco potencial são cobertos com florestas. As frutas produzidas nos pomares especializados são destinadas aos mercados locais. Várias espécies têm períodos de produção muito curtos (manga, rambutão, jaqueira, sapotilha…) e outros produzem todo o ano (banana, papaia, goiaba…). Água: Duas particularidades hidraúlicas: - o Mekong atravessa o país em 300 km; - o lago do Tonlé Sap enche-se das águas do Mekong na estação das chuvas, alimentando por sua vez o rio na estação seca. A maior parte da população concentra-se à volta do lago, das margens do Mekong e dos seus afluentes e defluentes. Estas zonas constituem o coração do Camboja agrícola. Vegetação: Os 2/3 do país são cobertos por uma floresta tropical, mais densa nos planaltos. Palmeiras de açúcar alinhamse sobre os diques em volta dos arrozais. Atividades agrícolas: O arroz é a cultura alimentar de base. A horticultura, as outras culturas anuais e a fruticultura são menos praticadas. A pecúaria é essencialmente familiar. Constrangimentos maiores: - riscos climáticos: falta de água e irrigação limitada na estação seca / inundações e possibilidade de drenagem limitada na estação chuvosa; - práticas agrícolas precárias: diversificação limitada, uso irracional de insumos de síntese, fraca capacidade de investimento; - acesso desigual à terra: cerca de 1 ha por família. 1 / Os fundamentos No Camboja, a fruticultura fomentada pela AGRISUD situa-se ao nível familiar, e corresponde a uma preocupação de diversificação das produções agrícolas e de melhoria da segurança alimentar. Cultura de papaieiras 2 / Os sistemas de produção Clima: Tropical quente e húmido com estações alternadas: - estação seca: novembro a abril, 30 a 40°C; - estação chuvosa: maio a outubro, 25 a 30°C, fortes precipitações (1.500 a 2.000 mm/ano). A atividade de produção frutífera Em geral, os produtores que iniciam uma produção frutífera são os que dispõem de uma grande superficie e de recursos financeiros, uma vez que a instalação de um pomar exige um fundo de investimento importante. São igualmente os produtores que dominam as técnicas de enxertia, de plantação e de manutenção. AGRISUD trabalhou principalmente sobre o cultivo dos citrinos e de mangueiras nas Províncias de Pursat, Battambang e Banteay Meanchey. Os desafios A produção frutífera pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável caso os constrangimentos forem ultrapassados e os recursos bem utilizados. Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um fruticultor são: 3 / As práticas Situação agroecológica o domínio dos itinerários técnicos desde a instalação das culturas até a sua manutenção; acesso ou a produção de mudas e rebentos de qualidade; o domínio da poda das plantas produtivas; a prevenção das doenças e das pragas; o domínio da gestão dos recursos hídricos. o OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de produção frutífera / Fruticultura em zona húmida 49 Exemplo do Sri Lanka Situação agroecológica (Nordeste) Clima: Tropical húmido com 2 estações alternadas - estação seca: março a agosto, 28 a 32°C; - estação chuvosa: setembro a fevereiro, 26 a 28°C; fortes precipitações no fim do dia e inundações frequentes (1.500 a 1.800 mm/ano). A atividade de produção frutífera No Sri Lanka, as produções frutíferas fomentadas pela AGRISUD são muito diversificadas: fruticultura (citrinos, goiabeiras, coqueiros, mangueiras…) e culturas semi-perenes (papaieiras, bananeiras, anánas). As famílias apoiadas são famílias pobres, geralmente deslocadas ou reinstaladas depois dos episódios sucessivos de guerra. Os seus terrenos são limitados e o objetivo é de produzir de forma diversificada em pequenas superfícies ao abrigo das inundações. As produções obtidas são maioritariamente destinadas à comercialização (mercados locais) mesmo sendo o autoconsumo regular. Solo: Bom potencial agronómico nas zonas de planícies e as zonas baixas (rizicultura). Os solos ao abrigo das inundações por vezes com potencial mais fraco (solos coluviais na base das encostas, solos colinários, periferias dos arrozais e faixas costeiras) são dedicados às culturas pluviais, hortícolas e frutíferas. Dois sistemas frutíferas complementam-se: - os pequenos pomares com fraca densidade de plantação, permitem a atividade hortícola subjacente (tomate, feijão, couve); - as parcelas de cultivo em faixas alternadas de diferentes culturas frutíferas ou em faixas alternadas de culturas frutíferas e de culturas especiais (gengibre, malagueta…). Água: 3 fontes diferenciadas: - os cursos de água permanentes provenientes dos maciços montanhosos do centro sul do país; - os reservatórios artificiais de grande capacidade dedicados à rizicultura irrigada intensiva e os pequenos reservatórios dedicados à rizicultura « jusante » e às culturas hortícolas e frutíferas; - os lençóis freáticos, mobilizados graças aos poços, destinados às culturas hortícolas e frutíferas. Vegetação: Bosques florestais perto das zonas habitadas, floresta degradada nas zonas ao abrigo das inundações com solos pobres e mais densa nos contrafortes montanhosos, coqueiros presentes nas zonas habitadas e cultivadas (exceto arrozais), e na faixa costeira. Pomar no Distrito de Trincomalee Os desafios A produção frutífera pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável caso os recursos locais forem bem utilizados e valorizados, e caso as dificuldades forem ultrapassadas. Atividades agrícolas: A rizicultura é a principal atividade, a horticultura, as outras culturas anuais e a fruticultura são também praticados, a pecúaria é essencialmente familiar. Constrangimentos maiores: - riscos climáticos; - uso irracional dos insumos químicos de síntese; - acesso desigual à terra: 0,5 a 1 ha por família. 50 Nos dois casos, as superfícies são pequenas: 1.000 a 3.000 m² e a atividade fornece um complemento de rendimento que permite entre outros de limitar a procura de outras atividades sazonais remuneradas por parte dos membros da família nos arrozais (« coolies »). AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para um fruticultor são: o domínio dos itinerários técnicos das culturas; acesso ou a produção de mudas e rebentos de qualidade; o domínio da poda das plantas produtivas; a prevenção das doenças e das pragas; o domínio da gestão dos recursos hídricos; a escolha de variedades adaptadas ao meio ambiente e às necessidades do mercado. o As práticas agroecológicas propostas A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são o solo, a água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas no Camboja e no Sri Lanka pelos produtores permitem responder aos desafios da produção frutífera em zona húmida. O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente frutos de qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável. Efeito direto 1 / Os fundamentos NOTA Efeito indireto EFEITOS Solo PRÁTICAS Água Planta Paisagem Curtição do estrume Compostagem em leiras 2 / Os sistemas de produção Compostagem em composteira Viveiro em bolsas Plantação de árvores frutíferas Manutenção de um pomar Plantas de bananeiras Gengibre debaixo de papaieiras, Camboja SCV cobertura permanente com faixas alternadas 3 / As práticas Plantas de coqueiros, Sri Lanka Ananás et bananeiras, Sri Lanka OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de produção frutífera / Fruticultura em zona húmida 51 52 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Sistemas de produção frutífera Fruticultura em zona seca Exemplos do Marrocos e do Níger Solo: Solos pobres com um défice em matéria orgânica. Água: O recurso depende da presença de um curso de água permanente ou temporário (liberação da água por uma barragem, cheia), de charcos (permanentes ou temporários) ou de um lençol freático pouco profundo. Vegetação: Maioritariamente constituída por estepes herbáceos e arbustivos. Fraca cobertura florestal fora dos oásis. Atividades agrícolas: Produção de cereais pluvíais (com exceção nos oásis), tamareiras, pecúaria sedentária ou transumância, horticultura nos oásis. Constrangimentos maiores: - Condições climáticas extremas: raridade das chuvas e violência das precipitações (Sul de Marrocos), fortes temperaturas; - Problemas de desarborização e importante desertificação; - Más práticas agrícolas: fornecimento insuficiente em matéria orgânica, desperdícios de água na irrigação, sucessões culturais inadequadas, má utilização dos insumos químicos de síntese. 1 / Os fundamentos Clima: Tropical seco e semi-árido com poucas precipitações e temperaturas extremas: - Sul de Marrocos: 110 mm/ano em média, de 0°C com geadas pouco frequentes no inverno a 45°C no verão; - Níger: 150 a 500 mm/ano concentrados num curto período (meados de junho a meados de setembro), até 50°C e grande amplitude térmica entre a estação quente e o inverno. A atividade de produção frutífera fomentada pela AGRISUD nos contextos marroquino e nigeriano, corresponde a um esforço de reabilitação dos pomares existentes e/ou de diversificação das culturas. Nos perímetros irrigados geridos coletivamente, a plantação de árvores apresenta igualmente uma vantagem técnica: a proteção das culturas. No Sul de Marrocos, 3 situações existem: - os sistemas de culturas estratificadas nos oásis, principalmente no vale do Drâa onde a cultura da palmeira-tamareira é o pilar do sistema agrícola, por baixo das palmeiras, as amendoeiras e as romeiras abrigam por sua vez culturas forrageiras, cerealíferas e em pequena escala, hortícolas; NB: já há um século que a doença do Bayoud (fungo) está progressivamente exterminando as palmeiras, por isso, em certas zonas, as oliveiras substituem as palmeiras. - os pomares no vale do Dadès, principalmente constituídos por oliveiras, amendoeiras, figueiras, damasqueiros e pessegueiros; - a associação horticultura / produção frutífera nos perímetros irrigados. 2 / Os sistemas de produção (Oásis no sul marroquino e em zona Leste do Níger) A atividade de produção frutífera No Níger, a produção frutífera é pouco desenvolvida: a sua instalação depende principalmente da capacidade do agricultor em disponibilizar terras para plantar árvores e em beneficiar de água suficiente até o inicío da produção. As atividades apoiadas constituem portanto, na maior parte das vezes, uma complementaridade à horticultura (“bocage” propício às culturas irrigadas e contribuição para o desenvolvimento económico das explorações agrícolas). Nos dois contextos, sem apoio adaptado, as práticas culturais ficam elementares: os agricultores cuidam pouco das árvores que aproveitam indiretamente dos fatores de produção fornecidos às culturas hortícolas vizinhas (água, matéria orgânica). Por outro lado, as técnicas de manutenção são muitas vezes desconhecidas (cova, amontoa, poda…). Os agricultores com melhores condições financeiras dominam a prática da cultura e utilizam geralmente os produtos fitossanitários de síntese em fraca quantidade. Palmeiras-tamareiras, Marrocos Romeiras, Marrocos 3 / As práticas Situação agroecológica Cultura de bananeiras, Níger OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de produção frutífera / Fruticultura em zona seca 53 Os desafios As práticas agroecológicas promovidas A produção frutífera pode ser uma atividade económica e/ou de autoconsumo viável e durável, caso o itinerário técnico for dominado e caso os recursos forem bem utilizados. As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos produtores no Marrocos e no Níger, permitem responder a estes desafios. Efeito direto Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para um fruticultor são: No caso dos sistemas de culturas estratificadas dos oásis: o domínio das técnicas específicas no cultivo da palmeira-tamareira (polinização); o acesso a plantas de qualidade para substituir as plantas atacadas pelo Bayoud. No caso dos pomares: o domínio dos fornecimentos em matéria orgânica; o domínio da irrigação; o domínio das técnicas de manutenção; o domínio das técnicas de prevenção contra as doenças e pragas; o acesso a plantas de qualidade para renovar os pomares. No caso da associação horticultura / fruticultura: o acesso a plantas de boa qualidade; o domínio da gestão da água (técnicas de irrigação económicas); a manutenção regular das plantas antes da produção. Polinização, Marrocos 54 Horticultura / fruticultura, Níger AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Efeito indireto EFEITOS PRÁTICAS Solo Água Planta Paisagem Curtição do estrume Compostagem em leiras Viveiro em bolsas Plantação de árvores frutíferas Manutenção de um pomar NOTA A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são: o solo, a água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas. O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente frutas de qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável. Muda frutífera, Níger Muda frutífera, Marrocos Sistemas de culturas alimentares pluviais Culturas alimentares pluviais Exemplo do Gabão Solo: Solos ferralíticos mais ou menos empobrecidos ao longo do tempo. Água: Disponibilidade limitada ao longo da costa, presença de água salobra. Vegetação: Importância das zonas florestais degradadas. Atividades agrícolas: Culturas hortícolas praticadas com o sistema itinerante de corte e queima, horticultura periurbana, fruticultura extensiva. Constrangimentos maiores: As condições agroecológicas particulares são responsáveis: - pela degradação rápida da matéria orgânica; - pela lixiviação dos elementos nutritivos; - pela erosão das zonas inclinadas; - pela infestação importante das parcelas. 1 / Os fundamentos Clima: Tropical húmido de baixa altitude - temperaturas elevadas durante o ano: 25°C em média; - precipitações importantes: 2.700 mm/ano durante 8 a 9 meses (440 mm em novembro), taxa de humidade elevada durante todo o ano (> 80%); - estação seca de junho a setembro. A atividade de produção agrícola pluvial O Gabão conheceu e ainda conhece uma importante migração das populações rurais para os centros urbanos. Estes fluxos de população provocaram uma importante procura de produtos agrícolas nos mercados, principalmente fornecidos pelas importações de géneros alimentares e pelas produções de hortaliças periurbanas. Devido ao aumento da pressão fundiária e à procura alimentar crescente, a prática tradicional de corte e queima que antigamente estava em equilíbrio, hoje não é mais sustentável. Para conservar os seus rendimentos, os produtores devem reduzir o tempo de regeneração da floresta e/ou aumentar as superfícies cultivadas. Os sistemas de culturas alimentares pluviais, apoiados pelo Instituto Gabonês de Apoio ao Desenvolvimento (Instituto membro da rede AGRISUD), são baseados na sedentarização dos sistemas de cultivo e na cobertura permanente dos solos. 2 / Os sistemas de produção Situação agroecológica (Província do Estuário) Ex. de sistemas de cultivo com cobertura vegetal: - culturas hortícolas em campo aberto com ciclo médio (malagueta, beringela, quiabo…) com cobertura morta ou em faixas alternadas com plantas de cobertura (Puerária, Mucuna, Brachiária, Stylosanthes…); - culturas com ciclo longo (mandioca) em faixas alternadas com Brachiária ou Stylosanthes; - culturas semi-perenes (bananeira) em faixas alternadas com Brachiária. Ciclo da agricultura itinerante de corte e queima Regeneração florestal 3 a 5 anos Pousio jovem Corte e queima Culturas pluviais 2 3 / As práticas Os sistemas agrícolas tradicionais são pouco produtivos e desequilibrados (tempo de pousio não respeitado) pelo fato de existir uma procura alimentar urbana em crescimento contínuo. Culturas pluviais 1 OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de culturas alimentares pluviais / Culturas alimentares pluviais 55 Os desafios As práticas agroecológicas promovidas A agricultura pluvial pode responder de forma durável aos desafios do desenvolvimento agrícola do Gabão, nomeadamente a melhoria da cobertura das necessidades alimentares da população se os constrangimentos forem ultrapassados e os recursos bem utizados. As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos produtores no Gabão, mas também em Angola, em Madagáscar e em RD Congo, permitem responder a estes desafios. Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para um agricultor gabonês são: a proteção do solo e a gestão da sua fertilidade; o domínio da infestação das parcelas; o uso limitado dos insumos químicos de síntese; a sedentarização da sua atividade agrícola para uma gestão durável do seu ambiente; o desenvolvimento e a diversificação das suas produções para responder às necessidades alimentares da população urbana. *SCV: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal Efeito direto Efeito indireto EFEITOS PRÁTICAS Solo Água Planta Curtição do estrume Compostagem em leiras Compostagem em composteira Culturas em curvas de nível NOTA Plantação de árvores nas parcelas de cultivo pluvial A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são: o solo, a água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas. Culturas em socalcos SCV*: plantas de cobertura SCV cobertura permanente em faixas alternadas SCV cobertura morta produzida no local O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente hortaliças e frutas de qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável. Ananás debaixo de bananeiras 56 Mandioca sobre Brachiária AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Taro sobre Brachiária Culturas em filas Paisagem Sistemas rizícolas irrigadoss Rizicultura irrigada Exemplo de Madagáscar Clima: Subtropical: temperaturas anuais entre 7 e 28°C, precipitações de 800 a 1.100 mm/ano. - estação seca e fria: abril a outubro; - estação chuvosa e quente: novembro a março. Principal cultura em Madagáscar, o arroz é o cereal alimentar de base: os agricultores dão a prioridade a esta cultura tanto pela afetação dos recursos fundiários quanto pela mobilização da mão-de-obra. A rizicultura é praticada pela maior parte dos agricultores, mas importantes diferenças devem ser realçadas: superfícies, estatutos fundiários dos arrozais e nível de domínio na gestão da água (capacidade de irrigar e drenar um arrozal). O calendário rizícola depende destes fatores e inclui 1 ou 2 ciclos. Solo: Dois tipos: - solos aluviais das zonas baixas e das planícies relativamente férteis, onde se concentra a produção de arroz; - solos ferralíticos das encostas e na base das encostas, geralmente lixiviados e fortemente degradados. Três calendários rizícolas são possíveis: Relevo: Zona montanhosa (altitude de 600 a 1.700 m), com uma alternância de colinas desmatadas e vales. Vegetação: Savana herbácea, com poucas superfícies arborizadas com exceção às zonas rearborizadas ou de produção de eucalipto ou pinheiro. Atividades agrícolas: A rizicultura é praticada na estação chuvosa e, segundo as possibilidades de irrigação, na estação seca. As culturas alimentares pluviais dominantes são o milho, a mandioca, o feijão e o feijão-bambara. A horticultura é praticada nos arrozais drenados ou nas bases das encostas. A fruticultura e a pequena criação familiar (porcos, patos, galinhas) são praticadas em pequena escala. Constrangimentos maiores: - fortes chuvas e falta de cobertura arborizada: importante erosão nas colinas e assoreamento das zonas baixas; - pressão fundiária nas periferias de Antananarivo: diminuição das superficíes agrícolas. - Vary Aloha: transplantação em agosto / colheita em novembro-dezembro, o ciclo da estação seca é praticado nos arrozais que permitem uma irrigação suficiente em estação seca, que tem como vantagem uma colheita precoce que permite preparar um ciclo da grande estação, mas com rendimentos muito fracos (espigamento em estação fria); - Vary Salasala: transplantação em novembro / colheita em fevereiro-março. Este outro ciclo de estação seca é praticado Arrozais, Região de Itasy nas parcelas inundadas durante a estação das chuvas; - Varibe: transplantação em dezembro-janeiro / colheita em maio. Este ciclo é o principal ciclo de arroz em Madagáscar, que oferece os melhores resultados. 2 / Os sistemas de produção Água: Vários lagos, ribeiras, planícies temporariamente inundadas e zonas pantanosas. 1 / Os fundamentos A atividade rizícola A maioria dos produtores pratica itinerários tradicionais pouco produtivos (1 a 2 t/ha) em função do potencial (4 a 6 t/ha em SRI- Sistema de Rizicultura Intensiva). Os desafios A produção do arroz irrigado é primordial para a cobertura das necessidades alimentares das famílias e pode representar uma atividade económica. Estas culturas são viáveis e duráveis se os recursos locais forem bem utilizados e se os constrangimentos forem ultrapassados. Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para um rizicultor são: o domínio dos itinerários técnicos mais produtivos, especialmente do SRI (cuidando bem da vertente da fertilização, primordial para a durabilidade do sistema); o respeito das regras de sucessão para privilegiar uma alternância rizicultura irrigada - horticultura ou leguminosa para aproveitar a melhoria do solo e para preservar a fertilidade; o domínio da gestão da água para diminuir os efeitos das inundações na estação chuvosa e da escassez de água na estação seca. OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas rizícolas irrigados / Rizicultura irrigada 3 / As práticas Situação agroecológica (Altos-Planaltos) 57 As práticas agroecológicas promovidas As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos produtores de Madagáscar, permitem responder aos desafios da produção de arroz irrigado. Efeito direto Efeito indireto EFEITOS Solo PRÁTICAS Água Planta Paisagem Curtição do estrume Compostagem em leiras Sistema de Rizicultura Intensiva, SRI Viveiro rizícola NOTA A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são: o solo, a água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas. O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente arroz de qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável. Debulha do arroz Compostagem 58 Lavoura com arado AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Marcação das linhas de transplantação Transplantação em linha Monda mecanizada 59 Gestão da água......................................................63 - Mobilização dos recursos hídricos e sistema de irrigação...........................................63 - Gestão da água nas parcelas cultivadas.......69 - Proteção da água contra as poluições...........73 Produção de fertilizantes.........................................77 - Curtição do estrume............................................77 - Compostagem em leiras.....................................81 - Compostagem em composteira........................89 - Composto líquido.................................................91 Horticultura............................................................... 93 - Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”)..........93 - Viveiro no solo.......................................................97 - Viveiro suspenso em bancadas...........................101 - Adubação orgânica de fundo............................105 - Cultivo em covas...................................................109 - Sucessões culturais...............................................111 - Associações de culturas......................................117 - Empalhamento.....................................................121 - Luta integrada......................................................123 - Tratamentos fitossanitários naturais....................127 60 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Fruticultura..............................................................131 - Viveiro em bolsas......................................................131 - Plantação de árvores frutíferas...............................137 - Manutenção do pomar...........................................141 Culturas alimentares pluviais......................................145 - Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”)..................................................... 145 - Cultivo em curvas de nível.......................................149 - Culturas em terraços................................................153 - Sistemas de Cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV)..........................................................................157 - Plantas de cobertura................................................159 - SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas................................................................. 165 - SCV sobre cobertura morta.....................................169 Rizicultura irrigada.......................................................173 - Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI.......................173 - Viveiro rizícola............................................................179 3 / As práticas 2 / Os sistemas de produção Região de Anofy, Madagáscar 3 / As práticas 61 1 / Os fundamentos 62 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação Gestão da água Os sistemas de irrigação permitem captar as águas subterrâneas ou as águas de superfície (lagos, rios, nascentes…) para o uso agrícola. As obras devem ser eficientes para responder às necessidades das produções, com custos aceitáveis sem colocar em perigo os recursos hídricos a longo prazo. Para isto é necessário: Diferentes tipos de obras podem ser realizadas: poços, furos, reservatórios, tanques de retenção… Mas em todos os casos, os sistemas de irrigação devem responder às necessidades das culturas e ao potencial dos recursos hídricos. Eles devem proteger o recurso hídrico. - escolher um sítio adaptado; Na maioria dos países nos quais a AGRISUD intervém, infraestruturas hidro-agrícolas foram realizadas. Algumas destas infraestruturas são apresentadas nesta ficha. Método Efeitos: - o estatuto fundiário: risco de conflitos se os utlizadores da água não são os proprietários dos terrenos Solos Água Planta Paisagem Objetivos: » Mobilizar de forma eficiente o recurso hídrico; » Construir infraestruturas perenes; » Limitar os encargos de irrigação (tempo de trabalho e quantidade de água mobilizada). Condições de implementação: 1 / Os fundamentos Princípio - identificar um dispositivo adequado para a mobilização do recurso hídrico (tipo de captação e meio de extração, tomada de água para aproveitamento das águas de superfície); - identificar um dispositivo de adução da água que limita as perdas; - definir uma rede de distribuição eficiente. 2 / Os sistemas de produção Em certos contextos, a fraqueza e/ou a irregularidade das precipitações, tornam o cultivo sem irrigação difícil ou mesmo impossível. A questão da mobilização dos recursos hídricos é então colocada. 1-A escolha do local de instalação O local da instalação das infraestruturas não é aleatório. Vários critérios devem ser tomados em conta, entre os quais: onde as infraestruturas serão realizadas; - a natureza do solo e das águas de superfície e subterrâneas: - para adaptar as obras às caraterísticas dos solos (ex. sem equipamento específico, é difícil cavar poços nos terrenos muito rochosos, outro ex. nos contextos onde os cursos de água são submissos a fortes cheias, é difícil realizar captações de água); - para evitar os riscos de salinidade (ex. nas bacias-oásis, não cavar poços perto da zona “com natrão”). - a presença eventual de outros utilizadores que partilham o recurso; » Conhecer o potencial dos recursos hídricos no local de intervenção; 3 / As práticas » Dispor dos referenciais técnico-económicos das infraestructuras existentes (se disponivéis); » Conhecer as necessidades de água das culturas no contexto local (clima, qualidade dos solos…); » Dispor dos meios (materiais e humanos) para realizar as obras. Curso de água, Marrocos Culturas na margem de um rio, Nam Khan, Laos AS PRÁTICAS / Gestão da água / Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação 63 - o afastamento em relação à zona irrigada: evitar os custos adicionais ligados ao transporte da água até o perímetro irrigado; - o afastamento das fontes de poluição eventuais: por exemplo: não construir poços na proximidade das zonas de pernoitamento dos animaís (existentes ou antigas), não captar nos cursos de água a jusante dos lavadouros; - para os poços, o controlo da presença da água e dos débitos potenciais do lençol freático: controlo dos outros poços nas proximidades, sondagem preliminar se necessário. NOTA Para qualquer infraestrutura, é necessário ter em conta as realizações existentes nas proximidades e/ou os estudos: sondagens, testes de qualidade das águas… É também necessário ter em conta a presença eventual de outros utilizadores que partilham o recurso. 2-O dispositivo de mobilização do recurso hídrico O dispositivo de mobilização corresponde ao tipo de captação (furo, poço, tomada de água) e aos meios de extração (balde, bomba com pedais, motobombas…). Construção de um poço, Marrocos Poço, Sri Lanka Construção de um poço, Sri Lanka NOTA Com exceção dos casos específicos, a construção de poços não necessita obrigatoriamente de meios importantes. Eles podem ser feitos pelos artesãos locais com custos reduzidos. 64 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Cacimba não equipada, RD do Congo Alguns exemplos de meios de extração: 3-O sistema de adução da água O dispositivo de adução da água “transporta” a água do ponto de captação até a entrada da zona de irrigação. 2 / Os sistemas de produção Bomba com eixo vertical, Marrocos 1 / Os fundamentos Em certos casos, o canal ou tubo principal pode ser muito comprido, o que implica custos de construção importantes. As soluções para evitar as perdas de água no dispositivo de adução, devem ser promovidas sistematicamente. Equipamento de extração, poço, Níger Canal de adução da água em construção, Camboja Suporte e roldana, poço, Sri Lanka 3 / As práticas Bomba com pedais, Níger NOTA Existe uma diversidade de meios de extração, desde equipamentos dos mais simples (balde) aos mais sofisticados (bombas solares). O importante é adaptar o equipamento às necessidades de água. Por exemplo: uma bomba com pedais não pode irrigar mais do que 3.000 m², um balde permite irrigar no máximo 500 m². Séguia cimentada, Marrocos AS PRÁTICAS / Gestão da água / Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação 65 4-A rede de distribuição A rede de distribuição “distribui” a água em cada parcela (quadros e canteiros de culturas). Depósito de armanezamento, Marrocos Canalização PVC enterrada, Marrocos Depósito de armanezamento, Marrocos Canal cimentado, Marrocos Canal d’amenée d’eau en cours d’aménagement, Cambodge Tanque, Níger Irrigação com regador, Camboja NOTA No caso em que a água deve ser transportada a mão (irrigação com regador), certificar que o percurso entre a fonte de água (armazenamento ou captação) e a parcela a irrigar não ultrapassa mais que 50 metros. 66 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Construção de uma cisterna, RD do Congo 5-As obras anexas Vantagens e desvantagens Muitas vezes, as obras hidro-agrícolas necessitam obras secundárias importantes para assegurar a qualidade, a manutenção ou a segurança das obras. Técnicas Garante uma disponibilidade de água suficiente; Reduz o tempo de trabalho ligado à extração e ao transporte manual da água: 1 / Os fundamentos disponibilidade para uma melhor manutenção das culturas; Certas técnicas de irrigação simples e económicas não permitem irrigar grandes superfícies. Económicas Limita os encargos de rega (mão-de-obra temporária); Certas infraestruturas de irrigação podem ser caras (canais cimentados, sistemas de gota-a-gota, bombagem solar); Custos de exploração importantes em caso de bombagem motorizada. Cacimba em construção, Sri Lanka Ambientais 2 / Os sistemas de produção Proteção de um poço, Marrocos Sedentariza as atividades agrícolas: o cultivo irrigado num determinado perímetro é uma alternativa à prática itinerante da agricultura de corte e queima; Pode provocar uma pressão considerável sobre o recurso hídrico. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Cada sistema de irrigação deve ser adaptado à situação. Antes de escolher as infraestruturas, é necessário bem analisar as necessidades de água e as técnicas de construção que podem ser executadas localmente. Dois tipos de custos devem também ser analisados: os custos da realização da obra e dos seus equipamentos (motobombas, obras de superfície…) e os custos do funcionamento e da manutenção dos sistemas de irrigação (manutenção das motobombas, reparação dos canais, limpeza dos poços…). 3 / As práticas A água de um poço agrícola nunca é potável e isso deve ser levado em conta pelos utilizadores e pelas estruturas de apoio. PARA IR MAIS LONGE Teste de qualidade da água (mecenato de competência VEOLIA Env.), Níger Ficha: Gestão da água nas parcelas cultivadas (p. 69) Ficha: Proteção da água contra as poluições (p. 73) AS PRÁTICAS / Gestão da água / Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação 67 68 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Gestão da água nas parcelas cultivadas Gestão da água Princípio 1 / Os fundamentos O desenvolvimento durável das atividades agrícolas depende da gestão dos recursos hídricos. Para garantir a continuidade e o desenvolvimento a longo prazo das atividades agrícolas, a gestão do recurso hídrico necessita: Uma gestão racional, adaptada às necessidades das culturas e às condições do meio, permite bem valorizar o recurso e ao mesmo tempo, preservá-lo. - escolher um dispositivo adaptado para a distribuição da água; As “boas práticas” para uma gestão eficiente e o domínio da gestão da água, são sistematicamente promovidas dentro dos programas da AGRISUD. plantas cultivadas e que limitam as perdas pela evapotranspiração; - dosear e realizar os fornecimentos segundo as necessidades da planta e as condições físicas do meio; - adotar práticas que visam atenuar os efeitos negativos das águas durante as fortes chuvas. - adotar as práticas culturais que garantem a conservação da água nos solos em benefício das Efeitos: Solo 2 / Os sistemas de produção Método 1-A escolha do dispositivo de distribuição Água Planta Paisagem Objetivos: » Otimizar a utilização do recurso hídrico; » Preservar o recurso; » Limitar os encargos da irrigação (tempo de trabalho e quantidade de água mobilizada); » Limitar os efeitos da saturação hídrica dos solos nefastos para as culturas; » Limitar a lixiviação dos solos; » Limitar os efeitos da erosão ligados aos escoamentos superficiais. O dispositivo de distribuição deve permitir fornecer as quantidades de água suficientes para cobrir as necessidades das culturas limitando ao mesmo tempo as perdas. - Escolher um sistema de distribuição económico em água: - irrigação por sulco em vez de submersão (exceto para a rizicultura irrigada); - irrigação localizada (gota-a-gota , micro-aspersão, rega em covas...); - para a rizicultura, preferir os sistemas SRI em arrozais corretamente aplainados e preparados (com uma fraca lâmina de água). - Adaptar as obras e as técnicas de transporte de água às condições físicas do meio e aos materiais disponíveis para limitar as perdas: - canais revestidos (betão, argila compactada, tijolos); - rede de tubos (PVC, polietileno); - transporte com regador... Condições de implementação: » Dispor de uma fonte de água (poço, charco, furo, curso de água temporário ou permanente…); 3 / As práticas » Dispor de meios de captação ou de extração adaptados (canais, bombas, balde...); » Conhecer a capacidade do recurso (quantidade disponível, tempo de recarga dos lençóis freáticos); » Conhecer as necessidades de água das culturas no contexto local (clima, qualidade dos solos…). Micro-aspersores, Sri Lanka Irrigação, Camboja AS PRÁTICAS / Gestão da água / Gestão da água nas parcelas cultivadas 69 2-As práticas culturais para as culturas irrigadas - Empalhar as culturas. Certas práticas permitem melhorar a capacidade de retenção de água dos solos, limitar as perdas pela evaporação, favorecer a infiltração e limitar a erosão (para os solos inclinados). - Realizar uma adubação orgânica de fundo (estrume curtido, composto). Graças ao fornecimento de matéria orgânica, o solo bem estruturado e rico em húmus, vai agir como uma esponja e melhor reter a água. Uma melhor retenção de água nos solos limita os fornecimentos de água em quantidade e/ou em frequência. Solo sem fornecimento de matéria orgânica: - Solo com fornecimento de matéria orgânica: - - Crosta superficial - Solo argiloso: a água fica na superfície e escorre Solo arenoso: a água infiltra-se e perde-se A água infiltra-se e fica retida no solo Rega sobre empalhamento, Camboja 70 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 A cobertura do solo limita a sua dessecação pelo vento e pelo sol, permite uma melhor conservação da água no solo, o que reduz os fornecimentos. Por outro lado, o empalhamento depois da sua decomposição, converte numa fonte de matéria orgânica com efeitos positivos na melhoria da capacidade de retenção da água no solo (cf. parágrafo precedente). Associar as culturas. As culturas associadas têm uma função a dois níveis. O seu sistema radicular preserva uma boa estrutura do solo, o que ajuda a manter a sua capaciade de retenção de água. As partes aéreas cobrem o solo, limitam a evaporação e protegem o solo da compactação ligada às regas. Garantir boas sucessões culturais. As sucessões culturais permitem: por um lado ter uma cobertura permanente do solo (ausência de compactação e menor evaporação), por outro lado conservar uma boa textura do solo (conservação de um teor de matéria orgânica suficiente). Praticar a sacha: « Uma sacha corresponde a duas regas ». A sacha permite quebrar a camada superficial do solo, favorece a infiltração da água e permite evitar a ascensão capilar que provoca uma importante evaporação, e às vezes, ascensões salinas. Preparar as parcelas de culturas em terrenos inclinados. No caso do cultivo irrigado em terrenos inclinados, um trabalho de preparação dos terrenos é muitas vezes necessário para limitar os escoamentos superficiais: construção de terraços, canteiros de culturas perpendiculares à inclinação… Estas técnicas permitem limitar a erosão e favorecem a infiltração da água. Instalar as culturas nos terrenos inclinados. Em zona inclinada, as culturas são implantadas segundo as curvas de nível para evitar a canalização de águas no sentido da inclinação e favorecer a sua dispersão. Monda, Índia Culturas hortícolas em terraços, Madagáscar 3-A dosagem apropriada dos fornecimentos de água Os fornecimentos de água necessários ao desenvolvimento das culturas dependem das condições do meio e das espécies cultivadas. Uma falta de água provoca um murchamento das plantas e a sua dessecação. Um excesso de água conduz a uma asfixia, à podridão das raízes e do colo e constitui um risco maior de desenvolvimento de bacterioses ou de doenças critogámicas. Quando a irrigação é praticada, torna-se indispensável fornecer às culturas a quantidade de água útil e sem excesso, em função da demanda climática (precipitações menos evapotranspiração) e a qualidade dos solos (textura e estrutura= capacidade de retenção de água). Outro exemplo: Se a capacidade de retenção de água dos solos é fraca, preferir os fornecimentos em doses limitadas e com frequência elevada. - Adaptar as práticas culturais à disponibilidade do recurso hídrico para as culturas exigentes ou em caso de recurso limitado. Exemplo: Prática de cultivo em SRI para a rizicultura. - Localizar os fornecimentos. Em zona seca (demanda climática elevada) ou em caso de raridade do recurso, os fornecimentos devem ser localizados: trabalhar os canteiros de forma a realizar as regas apenas nas covas. - Trabalhar os canteiros de culturas hortícolas em função da estação cultural. Na estação seca, preparar canteiros com um perfil escavado de forma a concentrar a água a nível da cultura. Na estação húmida, preparar canteiros sobrelevados que permitem uma boa drenagem e evitam os riscos de excesso de água. - Garantir as boas associações de culturas. Associar as culturas com as mesmas necessidades de água (mas que podem explorar camadas de solo diferentes) para adaptar a quantidade da água fornecida e a valorizar melhor. - Preferir uma irrigação « ligeira » em caso de aspersão ou de rega com regador. Na estação chuvosa, a irrigação é constituída por fornecimentos de complemento, enquanto na estação seca, a irrigação cobre as perdas pela evapotranspiração (entre 5 e 10 litros de água/m²/dia em zona com fraca higrometria). - Adaptar a irrigação (doses e frequência) às necessidades das plantas em função do seu estado de desenvolvimento e das características do solo. Ex. Para as plantinhas, preferir fornecer a água em doses limitadas e com frequência elevada. Ao contrário, para uma beringela bem desenvolvida com um enraizamento profundo num solo com boa retenção de água, preferir fornecer quantidades de água mais importantes mas com menor frequência. 1 / Os fundamentos O desenvolvimento do “bocage” pela instalação de sebes vivas, quebraventos ou árvores frutíferas, limita a evaporação da água e a dessecação das culturas (conservação da humidade). A criação de um “bocage” permite também fornecer de forma regular matéria orgânica, reduzir as perdas em húmus (redução da mineralização) e aumentar a capacidade de retenção da água nos solos. 2 / Os sistemas de produção - Arborizar os locais de produção. Rega, RD do Congo Utilizar um chuveiro de regador com perfurações finas ou preferir regadores (sprinkler) projetando gotas finas em raios de aspersão relativamente limitados para evitar um efeito “splash” muito importante (projeções de lamas e destruição da estrutura do solo pelo impacto da água) e para distribuir a água de irrigação de forma homogênea. OBSERVAÇÕES Os períodos de rega são escolhidos fora dos períodos de forte insolação. No caso AS PRÁTICAS / Gestão da água / Gestão da água nas parcelas cultivadas 3 / As práticas Parcelas hortícolas, Madagáscar contrário, os riscos de queimar as plantas e de ter perdas por evaporação são mais importantes. Além disso, a planta é incapaz de absorver a água visto que os estômatos estão fechados (reflexo de proteção para evitar uma transpiração excessiva). Exceto para as plantas jovens transplantadas que devem ser regadas duas vezes por dia 10 dias seguintes à transplantação, preferir as regas pela manhã em vez de as no fim do dia, para evitar manter um grau elevado de humidade noturna favorável ao desenvolvimento das doenças (como o míldio). 71 4-As práticas para atenuar os efeitos negativos durante as chuvas torrenciais Vantagens e desvantagens Seja em zona seca ou em zona húmida, muitas vezes, o produtor deve enfrentar a intensidade das chuvas que é um fator importante de degradação dos solos e das culturas. Técnicas Boas práticas devem ser então aplicadas para aproveitar os fornecimentos de água e limitar os estragos das chuvas (escoamento superficial e erosão). - Trabalhar ao longo das curvas de nível em terrenos inclinados (lavoura do solo e sementeira) para limitar o escoamento superficial. Para as culturas pluviais em zonas inclinadas, o modo de implantação das culturas tem um papel preponderante: - na valorização da água (favorecer a infiltração da água); - na proteção dos terrenos contra a erosão, que provoca o arrastamento das camadas superficiais, um desaparecimento dos elementos finos, a criação de ravinas e a destruição das culturas (favorecer a dispersão dos escoamentos superficiais). - Realizar obras anti-erosivas para reduzir os escoamentos. As obras nas vertentes cultivadas (terraços, semi-luas, banquetas, cordões de pedras…) contribuem para a dispersão dos escoamentos superficiais, a redução da velocidade da água e a limitação da sua força erosiva. Favorecem também a infiltração da água e uma boa recarga da reserva útil em água dos solos. - Arborizar as zonas de cultivo para atenuar os efeitos negativos das fortes chuvas. A presença das árvores tem uma dupla função de controlo dos escoamentos superficiais e de melhoria da infiltração das águas de superfície. Além disso, a criação de um “bocage” protege o solo dos efeitos diretos da compactação provocada pelas chuvas fortes. - Garantir uma cobertura permanente dos solos. Um solo coberto de forma permanente (associações e sucessões culturais, empalhamento, plantas de cobertura) está protegido dos efeitos diretos da chuva e da erosão provocada pelos escoamentos superficiais. Em estação chuvosa, qualquer período em que o solo está sem cobertura é um período de risco. NOTA Favorecer a infiltração da água, em vez de a canalizar para a evacuar, protege os solos da erosão. As águas dos escoamentos superficiais a jusante das zonas de cultivo estão menos carregadas de matérias em suspensão e limitam o assoreamento (zonas baixas, vales rizícolas…). Além disso, a qualidade das águas é preservada, o que beneficia os ecossistemas aquáticos das ribeiras, dos rios e das fozes. 72 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Garante uma disponibilidade de água suficiente; Limita os riscos de lixiviação e de saturação hídrica dos solos; Evita a erosão provocada pelos escoamentos superficiais e pela compactação dos solos; Certas técnicas de irrigação simples e económicas não permitem irrigar grandes superfícies. Económicas Limita os encargos ligados aos trabalho de irrigação e “aumenta” desta forma o tempo de trabalho para a manutenção das culturas; Limita a quantidade e o custo energético em caso de motobombeamento (motorização térmica ou elétrica não solar); Certas infraestruturas de irrigação podem ser custosas a instalar (canais de transporte em betão, gota-a-gota); Pode gerar outras despesas de mão-de-obra (empalhamento, sacha). Ambientais Garante a durabilidade do recurso hídrico; Garante a conservação de uma humidade favorável à fauna e à flora; Limita a utilização exagerada das energias poluentes (bombagem de água) O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR O recurso hídrico, quer seja limitado ou não, não deve ser desperdiçado. É necessário adaptar as práticas à capacidade do meio, às necessidades das culturas e à vontade de preservar o recurso hídrico e o ambiente. Para assegurar a boa disponibilidade da água, é necessário aplicar um conjunto de práticas que permitam limitar as perdas e otimizar as quantidades fornecidas. PARA IR MAIS LONGE Fichas: Curtição do estrume (p. 77) / Adubação orgânica de fundo (p. 105) Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) (p. 93) Ficha: Cultivo em covas (p. 109) Ficha: Associações de culturas (p. 117) Fichas: Empalhamento (p. 121) / Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (p. 157) Proteção da água contra as poluições Gestão da água Princípio 1 / Os fundamentos A implementação de práticas agroecológicas permite proteger as águas subterrâneas e de superfície, limitando os efeitos poluentes da atividade agropecuária. Preservar a água das poluições agrícolas constitui um desafio importante. A água permite o equilíbrio dos ecossistemas, a irrigação das culturas, o abeberamento do gado e o abastecimento em água das populações. O desafio é conservar a qualidade do recurso hídrico. Para garantir a proteção contra as poluições de origem agrícola, vários eixos de intervenção devem ser implementados de forma complementar: Com efeito, uma água de qualidade permite preservar os ecossistemas e garantir aos utilizadores a disponibilidade do recurso sem risco sanitário. - a promoção dos insumos (adubos, produtos fitossanitários) facilmente degradáveis e sem perigo para o ambiente, como alternativa aos produtos químicos de síntese, e a não utilização dos herbicidas; - a recuperação dos efluentes das explorações pecuárias; lençóis freáticos e dos cursos de água. Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Limitar a dispersão dos efluentes da pecúaria e dos produtos químicos e orgânicos poluentes; » Proteger o recurso hídrico de uma contaminação muitas vezes irreversível. Condições de implementação: » Dispor das infraestruturas necessárias para recolher » » Método 1-O uso dos insumos naturais e a não utilização dos herbicidas químicos Para a fertlilização e proteção fitossanitária das suas culturas, o produtor pode utilizar insumos naturais: - composto à base de biomassa local: resíduos de culturas e estrume, ou estrume curtido, que são excelentes fertilizantes, podem ser complementados com produtos naturais como as cinzas, o calcário moído e o fosfato natural para melhorar os seus efeitos; - soluções à base de plantas (ním, tabaco, papaia…) ou de minerais (cobre, enxofre…), que são alternativas aos tratamentos à base de produtos químicos de síntese, contra as pragas e doenças. os excrementos animais: cercas, valas, lamas de recuperação dos chorumes...; Dispor de palha para a cama dos animais nas cercas; Dispor de ferramentas ou de infraestruturas para valorizar os estrumes animais recolhidos; Saber preparar a matéria orgânica; Conhecer as plantas ou os minerais naturais de interesse e o seu modo de preparação e de utilização, para limitar o uso de produtos químicos de síntese. Micro-asperseurs, Sri Lanka Tratamento à base de malagueta, alho e gengibre, Marrocos 3 / As práticas » » 2 / Os sistemas de produção - a implementação de práticas para limitar a lixiviação dos solos que pode ser fonte de poluição dos Irrigation, Cambodge Composteira, Madagáscar AS PRÁTICAS / Gestão da água / Proteção da água contra as poluições 73 NOTA 2-A recuperação dos efluentes das atividades pecuárias Não é por serem naturais que os produtos utilizados não são nocivos. Por exemplo, em forte concentração, o estrume de aves pode produzir efluentes azotados que são carregados pelas águas de rega ou pelas fortes chuvas e poluem os lençóis e os cursos de água. Os efluentes das atividades pecuárias (chorumes e estrumes) produzem rapidamente nitratos solúveis na água. Em forte concentração, eles podem provocar a poluição das reservas de água subterrânea e dos cursos de água. Se o estrume de aves for utilizado puro, como adubo de cobertura, o produtor deve fracionar as suas aplicações: no máximo 40 g de estrume seco por aplicação e por m², com intervalos de 3 semanas no mínimo. - cercar os animais e recolher regularmente os excrementos sólidos, a limpeza Para a manutenção das suas culturas, o produtor pode substituir o uso dos herbicidas: - pela luta física (monda mecânica, sacha manual); - pelo empalhamento e pelas plantas de cobertura que limitam a infestação das parcelas; - por associações e sucessões de culturas que evitam a infestação das parcelas. Os adubos químicos de síntese têm um efeito « destruturante » nos solos (destruição do complexo argilo-húmico) diminuindo desta forma a capacidade de retenção da água. No caso em que, apesar de tudo, o produtor decidir utilizar herbicidas, é aconselhável fornecer previamente matéria orgânica (e caso for necessário, calcário) para retê-los (adsorção do complexo argilo-húmico). Caso contrário, pode poluir os lençóis freáticos (pela lixiviação) e os rendimentos das culturas não serão melhorados (os elementos lixiviados não são absorvidos pelas plantas). Para evitar os riscos de poluição, é necessário: regular das cercas é indispensável para preservar a qualidade do produto recolhido, mas também para evitar o arrastamento dos poluentes provocado pelas chuvas (infiltração no lençol freático, escoamento para os cursos de água); - cobrir o solo dos edifícios pecuários com cama (palha, glumas e glumelas) para absorver e limitar os escoamentos dos chorumes; - prever se possível, a construção de uma placa ligeiramente inclinada nas instalações de suinicultura, de valas e de tanques de recuperação dos estrumes e chorumes. Os materiais recolhidos (cama proveniente das cercas, estrumes, estercos e chorumes) podem ser valorizados sob forma de estrume curtido ou composto (cf. parágrafo 1). 3-As práticas para limitar a lixiviação dos solos Os elementos minerais presentes no solo são facilmente lixiviados pelas chuvas ou pelas águas de irrigação, e isto com maior amplitude quando o solo tem fraca capacidade de fixação. Os elementos lixiviados encontram-se depois no lençol freático. Certas práticas devem ser implementadas para melhorar a capacidade de fixação dos solos (capacidade de adsorção dos minerais) e desta forma, evitar a lixiviação. - Limitar o trabalho do solo e garantir uma cobertura permanente. Um trabalho limitado do solo e uma cobertura permanente, permitem garantir uma estrutura estável, favorável à formação do complexo argilo-húmico e desta forma, à preservação de uma boa capacidade de adsorção dos elementos minerais. Cerca, Laos 74 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Solo degradado, Níger Plantas de cobertura, Gabão Uma sobredosagem de adubos favorece as perdas mas também as poluições pela lixiviação. Os adubos devem ser aplicados em cobertura se necessário, mas de forma fracionada. Solos com estruturas mais frágeis (textura com baixo teor de argila e/ou de húmus, teor limitado em cálcio), têm uma capacidade de adsorção mais fraca. Nesto caso, é imperativo fracionar as aplicações de adubos. - Realizar uma adubação orgânica de fundo (estrume curtido, composto). Durante a decomposição da matéria orgânica pelos organismos vivos no solo, tem formação de húmus que, ligado às partículas de argila, constitui o complexo argilo-húmico. Este complexo adsorve os elementos minerais e os protege da lixiviação. Depois da adsorção, são liberados progressivamente e assimilados regularmente pelas plantas cultivadas. Vantagens e desvantagens Técnicas Melhora a estrutura dos solos (fornecimento de matéria orgânica), o que favorece a fixação dos elementos minerais; Práticas simples de implementar; 1 / Os fundamentos - Dosear e fracionar as aplicações de adubos químicos e orgânicos. Requer uma disponibilidade importante de matéria orgânica; Necessita um trabalho importante para o pernoitamento dos animais e a recolha das matérias orgânicas. Económicas Reduz os custos ligados aos tratamentos fitossanitários, ao uso dos adubos químicos de síntese e dos herbicidas; Reduz as perdas e a reposição de fertilizantes lixiviados; 2 / Os sistemas de produção Representa um custo se o produtor não dispor de adubo orgânico. Ambientais Limita a utilização de produtos químicos de síntese e de herbicidas que têm efeitos nocivos sobre o ambiente; Favorece uma boa gestão dos efluentes das atividades pecuárias geralmente muito poluentes. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR As práticas agrícolas são muitas vezes poluentes e podem colocar em perigo a qualidade das águas: efluentes das atividades pecuárias mal geridos, má habilidade na aplicação de adubos, utilização abusiva de pesticidas e herbicidas. O produtor deve ter o cuidado de adotar práticas que visam limitar estas poluições: uso de produtos naturais e dosagem das aplicações; utilização ou abandono dos herbicidas; recuperação e/ou valorização dos efluentes das atividades pecuárias; preservação de uma boa estrutura dos solos que favoreça a fixação dos elementos minerais e limite a sua lixiviação. não NOTA A prática da queima é fortemente desaconselhada visto que mineraliza diretamente a matéria orgânica. O fogo acelera a perda de matéria orgânica do solo, conduzindo à sua destruturação e à alteração das suas propriedades biológicas e físico-químicas: redução do trabalho dos organismos vivos, da capacidade de retenção de água e da capacidade de adsorção dos elementos minerais. PARA IR MAIS LONGE Fichas: Compostagem (p. 89) / Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105) Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127) Fichas: Associações de culturas (p. 117) / Sucessões culturais (p. 111) Ficha: Empalhamento (p. 121) Fichas: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157) AS PRÁTICAS / Gestão da água / Proteção da água contra as poluições 3 / As práticas Bertalha (Basella) com empalhamento, Sri Lanka 75 76 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Curtição do estrume Produção de fertilizantes Em geral, os estrumes (excrementos brutos ou misturados com a cama, estrume seco…) são armazenados pelos produtores na forma de monte ao ar livre durante um período prolongado, e são depois distribuídos na parcela. Esta forma de armazenamento tem como consequências: - uma perda da qualidade do estrume, devido à exposição ao calor e à chuva (liberação do azoto para a atmosfera, lixiviação dos elementos fertilizantes, destruição dos micro-organismos úteis...); - uma decomposição incompleta e heterogênea do estrume; - um risco de contaminação das parcelas durante a fertilização (fonte de doenças e de sementes de Água Planta Paisagem Objetivos: » Tornar os elementos nutritivos facilmente disponíveis para a planta, graças a uma melhor decomposição do estrume; » Limitar o risco de aquecimento durante a decomposição do estrume; » Limitar os riscos de propagação das infestantes, pragas, bactérias e outros fungos presentes no estrume. 2 / Os sistemas de produção infestantes). Efeitos: Solo Princípio 1 / Os fundamentos A curtição do estrume é uma operação que consiste em preparar o estrume bruto antes de incorporá-lo no solo para a fertilização. Apresenta como vantagem o fato de melhorar a qualidade da matéria orgânica incorporada no solo. Esta prática foi principalmente implementada no quadro dos programas da AGRISUD em Marrocos, no Níger, no Camboja e na Índia. Contudo, o uso do estrume é geralmente o modo de fertilização mais frequente, tendo em conta que está disponível localmente e com baixo custo (ao contrário dos adubos químicos de síntese). Recomenda-se então utilizar o estrume depois do processo de curtição para: - preservar a sua qualidade graças a melhores condições de armazenamento; - melhorar a sua decomposição para poder utilizá-lo de forma eficaz e sem risco para a planta. Método A prática consiste em provocar uma fermentação do estrume do tipo compostagem (na presença de ar e com elevação da temperatura). Duas técnicas são possíveis em função das condições climáticas da zona (higrometria, chuvas, calor…). Condições de implementação: » Dispor de estrume bruto ou de cama de animais entre Estrume bruto Preparação de estrume bruto Monte de estrume curtido 3 / As práticas 1,5 e 3 kg por m² conforme o tipo de culturas e a duração do seu ciclo (uma média de 2,5 kg por m² para uma parcela com várias culturas); » Dispor de um espaço sombreado e de palhas para cobrir o estrume (caso da curtição do estrume na forma de monte); » Dispor das ferramentas necessárias (uma pá para cavar a fossa, fragmentar e amontoar o estrume e um regador); » Dispor de uma fonte de água próxima. Estrume em fase de curtição AS PRATICAS / Produção Matièrede organique fertilizantes / Le/ Recyclage Curtição dodu estrume fumier 77 1-A reciclagem em zona seca - Cavar uma fossa e colocar o estrume previamente fragmentado em camadas de 20 a 30 cm; - Humedecer cada camada sem provocar encharcamento antes de passar para a seguinte; - Cobrir a fossa com terra; - Regar 1 vez por semana e revolver o estrume 2 vezes com 3 semanas de intervalo (quando o estrume resfriar); - O estrume está pronto quando não aquece mais. 2-A reciclagem em zona húmida - Juntar o estrume na sombra, por exemplo: debaixo de uma árvore, e fragmentá-lo; - Humedecer progressivamente mas sem encharcar a matéria (risco de lixiviação dos elementos solúveis); - Amontoar o estrume em pequenos montes (1 m de altura para 1,5 m de diâmetro) ou em leiras (1 m de altura para 1 m de largura, o comprimento depende da quantidade de estrume disponível) e compactar ligeiramente; Etapa 1: Escavação da fossa Escavação da fossa (continuação) Etapa 2: Fornecimento do estrume Etapa 3: Controlo da temperatura - Proteger o estrume do sol e do vento com palhas (ervas da savana antes da produção de sementes, palmas…); - Regar em caso de ressecamento; - Efetuar uma viragem depois do estrume ter resfriado (2 semanas); - Amontoar de novo, regar e cobrir; - O estrume está pronto depois de ter resfriado totalmente. Depois de curtido, se não for utilizado imediatamente, o estrume pode ser conservado. OBSERVAÇÕES: Se o estrume estiver com muita palha, ele pode ser misturado com estrume fino ou acrescentar uma fonte de azoto para acelerar a sua decomposição (esterco de galinha ou de morcego, chorumes,...). É possível enriquecer o estrume curtido misturando cinza (fornecimento de potássio), fosfato natural (fornecimento de fósforo), glumas... em função das necessidades do solo (carência em elementos, melhoria da estrutura) e/ou das culturas (necessidades específicas em um ou vários elementos). 78 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 3-O uso do estrume curtido Vantagens e desvantagens Conforme o seu estado de transformação, o estrume curtido pode ser utilizado: - grosseiro (jovem): utilização como adubação de fundo (restauração da fertilidade); Técnicas - maduro: misturado no solo, a nível do horizonte explorado pelas raízes (em É de melhor qualidade que o estrume bruto; viveiro, e em cobertura de sementeira para os viveiros hortícolas e rizícolas. Em função do seu uso, o estrume curtido é aplicado da seguinte forma: - para a horticultura: 25 a 30 kg por canteiro de 10 m² espalhados no chão antes da aração. Em caso de quantidade limitada, reduzir as doses e localizar a nível das covas (um punhado com as duas mãos juntas); - para as culturas pluviais: 10 a 20 t/ha espalhadas no chão antes da aração ou fornecidas de forma localizada; - para os viveiros: incorporar 3 a 5 kg/m². 1 / Os fundamentos - bem decomposto: utilizado na fruticultura para preencher as bolsas de Permite uma boa decomposição dos estrumes com muita palha; Não é tão rico como um bom composto. Económicas Mobilização limitada da mão-de-obra; Custo de realização limitado, se o produtor possuir estrume. Ambientais Permite a complementaridade agricultura/pecuária; Melhora os solos sem recorrer aos produtos químicos de síntese; 2 / Os sistemas de produção caso de quantidade limitada, fazer aplicações localizadas); Prática simples de implementar (em comparação com a compostagem); Prática adaptada às zonas de criação de animais; Permite a reciclagem dos excrementos pecuários; Apresenta riscos de poluição em caso de rega excessiva (saturação da capacidade de fixação dos efluentes pelo solo). NOTA Cada planta não tem a mesma capacidade para aproveitar o estrume curtido. Assim, cada tipo de planta tem as suas preferências segundo o grau de decomposição da matéria orgânica. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A curtição do estrume é fácil de realizar, necessária e eficaz para a valorização deste subproduto das atividades pecuárias. 3 / As práticas Apesar de ser menos eficiente que a compostagem, esta prática é certamente mais adaptada às zonas sahelianas tendo em conta as condições sócio-económicas e ambientais, é dizer: concorrência para a matéria vegetal, disponibilidade limitada em palhas e importância das atividades pecuárias. PARA IR MAIS LONGE Aplicação de estrume curtido, RD do Congo Ficha: Compostagem em leiras (p. 81) Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105) AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Curtição do estrume 79 80 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Compostagem em leiras Produção de fertilizantes Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Elaborar um fertilizante orgânico de qualidade com matérias primas disponíveis localmente; » Tornar os elementos nutritivos facilmente disponíveis para a planta depois humificação e mineralização; » Limitar os riscos de propagação das infestantes, pragas, bactérias e outras doenças presentes no estrume e nas palhas. Condições de implementação: Zona seca: » Dispor de um terreno com uma fonte de água e das ferramentas necessárias (carrinho de mão, regador, pá, forquilha, peneira); » Dispor dos materiais para produzir o composto (estrume, palha, argila ou areia segundo o tipo de solo, cinzas de madeira, pó de osso…). 1 / Os fundamentos Princípio A compostagem é uma aceleração do processo natural de decomposição dos resíduos orgânicos. Uma atividade bacteriana intensa é a principal responsável pela decomposição, necessitando de oxigénio e produzindo calor. O composto que resulta tem uma função de corretor do solo e de adubo. Existem diferentes técnicas de compostagem entre as quais a compostagem em leiras. Método de compostagem em leiras em zona seca O método consiste em decompor as matérias orgânicas e vegetais através duma fermentação aeróbia. 1-A escolha do local A plataforma de compostagem deve estar situada na proximidade das hortas (local de utilização do composto), próximo de uma fonte de água e de currais de animais (disponibilidade de estrume), na sombra de uma sebe ou uma árvore (para favorecer o conservação da humidade). 2 / Os sistemas de produção A compostagem em leiras consiste em colocar uma mistura de matérias primas em montes estreitos e compridos chamados « leiras ». O método permite compostar quantidades maiores de matéria orgânica do que o método em pilha (composteira). Esta prática foi essencialmente desenvolvida no quadro dos programas da AGRISUD no Níger (em zona seca) e em Madagáscar (em zona húmida). 2-A área de compostagem Cavar 4 fossas vizinhas de 1,5 m de largura, 3 a 6 m de comprimento e 20 cm de profundidade. Se a sombra for fornecida pela presença de uma árvore, afastar 2 m desta árvore (presença das raízes no solo). A área de compostagem deve incluir um tanque de embebição para humedecer as palhas antes da sua compostagem. Se o solo for argiloso, a água será retida mais facilmente; caso contrário, cobrir as paredes e o solo com uma lona de plástico. 3-A preparação dos materiais - Mergulhar as palhas durante 2 dias dentro do tanque previsto para o efeito, ou regá-las abundantemente. Molhar também os outros materiais amontoados (glumas, folhas…); - Fragmentar o estrume e humedecê-lo (sem lixiviá-lo); - Queimar e esmagar os ossos para os reduzir em pó. 3 / As práticas Zona húmida: » Dispor de um terreno com uma fonte de água e das ferramentas necessárias (regador, catana, cesto, forquilha, pá); » Dispor dos materiais para produzir o composto (estrume, palha, ervas, troncos de bananeiras, resíduos de cana depois da destilação, cinzas..). Escavação das fossas para compostagem, Níger Enchimento da fossa de embebição Humidificação das glumas de milhete AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras 81 4-A montagem da leira (método testado no Níger) Regar abundantemente o fundo da fossa (até a formação de poças de água). Depois, a leira do composto é construída: é composta por uma sucessão de 5 camadas, elas mesmas constituídas de uma sucessão de várias sub-camadas de materiais homogêneos. Composição de uma camada: - Sub-camada de argila (solo arenoso) ou de areia (solo argiloso); - sub-camada de estrume; - sub-camada de fosfato natural ou de pó de osso; - sub-camada de palha humidificada; - sub-camada de cinzas. Para 800 kg de composto (leira de 1 m x 3 m): 17 carrinhos de mão de palha; 7 carrinhos de mão de esterco, de estrume com palha ou de estrume seco; 1 carrinho de mão de argila ou de areia (segundo o tipo de solo); 15 a 18 regadores de água; 20 punhados de cinza de madeira; 20 punhados de pó de osso, de penas e desperdícios de peixe ou de fosfato natural; Outros materiais possíveis: ervas, palmas moídas, leguminosas, folhas de árvores, glumas, cascas de amendoim, cascas diversas… Água 82 Estrume AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Palhas Depois da montagem das diferentes camadas, a leira tem uma forma trapezoidal (esquema abaixo). As dimensões (indicativas) devem permitir: 80 cm - manipular facilmente a leira com uma 2m forquilha; - reter a água sem exigir grandes esforços de escavação; 1m - uma boa fermentação no centro da 3m leira (humidade, aeração, calor). 20 cm 1m 5-A proteção Para proteger a leira da dessecação causada pelo vento e/ou pelo sol, é aconselhado cobrí-la com: - uma cobertura de terra, esteiras, sacos de tela tecida ou palha cortada muito fina (não utilizar matérias plásticas impermeáveis); - uma camada de palha curta cobrindo a totalidade da leira. Em caso de chuva, a leira pode ser coberta (lona plástica) para evitar a lixiviação do composto. Deve ser descoberta depois da chuva para facilitar a sua aeração. Penas Pó de osso + cinzas Água 6-A manutenção do composto 7-O controlo - Revolver o composto todos os 15 dias, passando da primeira à segunda Depois da montagem da leira e para cada revolvimento, é necessário controlar a elevação da temperatura. Esta indica a qualidade da fermentação. Durante o revolvimento da primeira fossa, a segunda fossa fica cheia, libertando a primeira. Esta pode em seguida ser de novo enchida com materiais frescos a compostar… e desta forma até o enchimento das 4 fossas, todas num estado diferente de compostagem. Composto 0 a 15 dias (15 d) 1eira viragem Composto 15 a 30 d (30 d) 2nda viragem Composto 30 a 45 d (45 d) 3eira viragem Composto 45 a 60 d O controlo efetua-se pelo tato: introduzir estacas no coração da leira, no meio e nos lados. Retirar as estacas, estas devem estar quentes. Se o controlo não indicar nenhum calor 2 dias depois da montagem ou de um revolvimento, abrir a leira: - se estiver parcialmente seca ou na sua totalidade, humedecê-la (sem água, a fermentação não pode acontecer); - se não estiver seca, adicionar estrume ou regar com chorume, que são ativadores (o azoto contido e as bactérias permitem a decomposição). 8-A evolução do composto Durante o processo de compostagem: - o volume diminui à medida que as matérias vegetais se decompõem; - a composição fica homogênea, não permitindo mais distinguir os elementos iniciais. No final, o composto é ligeiro, húmido e arejado e de cor castanho escuro. Um bom composto não tem mau cheiro (nada de podridão); o seu cheiro lembra o das camas florestais. Utilização (60 d) Aplicação localizada de composto 9-A conservação Caso o composto não for utilizado imediatamente, é aconselhável fazê-lo secar em camadas finas, na sombra, durante 2 dias, para depois o conservar em montes ou em sacos ao abrigo do sol e da humidade. 3 / As práticas Novo enchimento 1 / Os fundamentos Os revolvimentos permitem misturar os elementos, arejá-los e humedecê-los, o que permite reativar a fermentação. Cada 15 dias, a leira de composto deve aquecer e depois esfriar no momento da diminuição da atividade bacteriana. 2 / Os sistemas de produção fossa, depois da segunda à terceira, e assim de seguida. As camadas de cima encontram-se no fundo da fossa seguinte e as partes exteriores da leira encontram-se no centro; - Regar com 1 a 2 regadores no momento de revolver cada uma das camadas. Controlo da temperatura do composto com ajuda de uma estaca AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras 83 Método de compostagem em leiras em zona húmida 3-A recolha e a preparação dos materiais Como em zona seca, o método consiste em decompor as matérias orgânicas e vegetais por uma fermentação aeróbia. Um composto com uma maior diversidade de elementos é mais rico. Deve ser constituído das seguintes matérias: 1-A escolha do local - matérias ricas em celulose: palha, sabugo, folhagem; A área de compostagem deve estar situada na proximidade das hortas (locais de utilização do composto), próximo de uma fonte de água e dos currais de animais (disponibilidade de estrume), numa zona não inundável. azolla, estrume...); - matérias ricas em fósforo (P): pó de osso; - matérias ricas em potássio (K): troncos de bananeiras, cinzas; - ativadores: estrume, desperdícios de cana de açúcar depois da destilação. 2-A construção do local - Mondar e nivelar o terreno; - Construir um abrigo suficientemente alto para poder proteger o composto, de - matérias ricas em azoto (N): matérias verdes (sobretudo as leguminosas, Para facilitar a sua decomposição, os materiais de grande tamanho (palha, ervas, bananeiras) devem ser cortados. forma a poder manipular as matérias ficando de pé; - Cavar valas de evacuação da água ao redor da composteira; - Plantar sebes vivas ao redor dos abrigos (para manter a humidade e fornecer matérias vegetais). Exemplo de construção de uma composteira em Madagáscar Preparação das matérias para compostar, Madagáscar OBSERVAÇÕES: O Outros exemplos de construção de composteiras em Madagáscar 84 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 pó de osso e as cinzas podem ser incorporados ao composto no momento da montagem, dos revolvimentos ou da aplicação do composto nos terrenos. Em caso de utilização da azolla, murchar a planta ao sol (3 dias) ou misturá-la com cinzas para facilitar a sua dessecação. 4-A montagem da leira O monte de composto é constituído de uma sucessão de camadas, essas são constituídas por uma sucessão de várias sub-camadas de materiais homogêneos como indica o seguinte esquema: 1 / Os fundamentos 1. Colocar os troncos de bananeiras cortados em faixas de 1,5 m de largura e 2 m mínimo de comprimento: o comprimento da leira depende do comprimento da composteira (comprimento da composteira diminuído de 1,5 m para facilitar o revolvimento) e da quantidade do material a compostar. Colocar os elementos grosseiros na base do monte de composto permite melhorar a aeração. 2. Colocar uma camada aproximadamente 20 cm de matéria 3. Depois da rega, colocar uma camada de aproximadamente 5 cm de estrume. REGA Repetir estas operações até obter uma leira de 1,5 de altura. 4. Depois da rega, colocar uma camada de aproximadamente 15 cm de matéria verde sobre o estrume. Depois regar de novo. REGA Composteira, Madagáscar OBSERVAÇÕES: Depois da montagem das diferentes camadas, a leira de composto mede 1,5 m de largura por 1,5 m de altura. O seu comprimento depende do espaço disponível, mas também da quantidade dos diferentes materiais a compostar. No entanto, este comprimento não deverá ser inferior a 1,5 m. Estas dimensões são indicativas e devem permitir: manipular As medidas e os materiais são indicativos e podem ser modificados em função da experiência e das quantidades disponíveis. 3 / As práticas REGA Todas as camadas devem ser regadas. A quantidade da água varia em função da humidade inicial dos materiais e da dimensão da leira. A leira de composto deve ser corretamente molhada mas não encharcada. 2 / Os sistemas de produção seca sobre os fragmentos de bananeiras. a leira facilmente com uma forquilha; uma boa fermentação no coração da leira (humidade, aeração, calor). AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras 85 5-A proteção 7-O controlo Cobrir a leira com uma camada de palha (cerca de 10 cm) para manter uma humidade constante. Controlar a elevação da temperatura (verificação da fermentação). O controlo efetua-se pelo tato: introduzir estacas nos lados e no meio, até o coração da leira, para controlar o aquecimento. 3 dias depois da montagem da leira ou de um revolvimento, retirar as estacas e controlar pelo tato: - se estiver quente: - a fermentação já iniciou, introduzir novamente as estacas, tudo está certo; - se estiver frio: - verificar que a leira esteja bem húmida, se não for o caso, molhá-la (sem água, não há fermentação); - se a leira já estiver húmida: aumentar as quantidades de estrume e de matéria verde ou regar com chorume (fornecimento de azoto) para ativar a fermentação. 6-A condução do composto Os revolvimentos são efetuados de 10 em 10 dias em média, depois da constatação do aumento da temperatura e o seu arrefecimento progressivo. Durante o revolvimento da leira: - respeitar a ordem das camadas de forma que as de cima se encontrem em baixo; - enterrar os materiais do exterior para o centro da leira; - regar as novas camadas cada 20 a 30 cm. No fim do revolvimento, o composto deve voltar a ser colocado em leira, e a fermentação recomeça nos dias seguintes (produção de calor). Revolvimento do composto 86 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 O composto está maduro quando a leira depois do revolvimento não aquecer. É preciso esperar em média 1 mês e meio (3 a 4 revolvimentos). Um composto maduro tem uma composição fina e uma cor castanha. Os diferentes materiais não são mais identificáveis. O seu cheiro lembra o da cama florestal. 8-A conservação Para uma boa conservação, o composto deve ser armazenado: - ao abrigo do sol para limitar as perdas de azoto; - ao abrigo da chuva para evitar a lixiviação dos elementos minerais. Nestas condições, o composto pode ser conservado vários meses. Conservação do composto Utilização do composto Vantagens e desvantagens Segundo o seu estado de decomposição, o composto pode ser utilizado: Técnicas - grosseiro, jovem: utilização como adubo de recuperação (restauração da Realizável com diferentes tipos de matérias orgânicas locais; - para a horticultura: 25 a 30 kg por canteiro de 10 m², aplicados na superfície do solo antes da lavoura. No caso de quantidade limitada, reduzir as doses e localizar a nível das covas (um punhado de duas mãos juntas); - para as culturas pluviais: 10 a 20 t/ha aplicadas na superfície do solo antes da lavoura ou fornecidas de forma localizada; - para os viveiros: incorporar 5 a 8 kg/m² de canteiro, depois da sementeira, espalhar de forma uniforme cerca de 0,5 kg/m². NOTA Cada planta tem uma capacidade diferente de aproveitar o composto. Desta forma, cada tipo de planta tem as suas preferências segundo o grau de decomposição da matéria. Tempo de compostagem (indicativo) Plantas 15-30 d (composto grosseiro, jovem) Batata comum, abóbora, pepino, tomate, beringela, quiabo, malagueta, melancia, milho, melão, alho porro, pimentão 30 a 45 d (composto maduro) Alface, couve, espinafre, nabo, cereais 45 a 60 d (composto bem curtido) Cenoura, rabanete, alho, cebola, aipo, morango, plantas medicinais, aromáticas e temperos, viveiros hortícolas 1 / Os fundamentos Entra em concorrência com a pecúaria para a utilização das palhas. Económicas Produz um fertilizante de qualidade que tem um impato positivo e durável sobre os rendimentos; Permite uma valorização das matérias disponíveis localmente; Em alguns contextos, reduz os encargos ligados à compra de fertilizantes químicos de síntese se o fertilizante orgânico for produzido localmente; Exige uma forte mobilização em mão-de-obra; Representa um custo de realização em zona húmida (construção do abrigo). 2 / Os sistemas de produção Segundo o seu destino, o composto é utilizado e doseado como aqui indicado: - para arrozais (SRI): - adubação de fundo: aplicar (10 t/ha no mínimo) antes da primeira lavoura; - adubação de manutenção: aplicar nas linhas antes da monda (cerca de 5 t/ha). Exige uma prática suficiente para bem controlar a fermentação; Ambientais Melhora os solos sem recorrer aos produtos químicos de síntese; Permite uma valorização da biomassa natural; Permite uma manutenção das zonas de pousio sem queima (corte das palhas). O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A prática da compostagem em leiras é facilmente adaptável e permite a valorização de vários subprodutos vegetais. O composto que resulta pode ser utilizado para todas as culturas. Segundo o seu grau de maturidade, o seu uso varia, pode ser utilizado como adubação de fundo ou como adubação de manutenção. No entanto, a quantidade a aplicar na parcela deve ser suficiente. Em caso de quantidade disponível limitada, é preferível reduzir as superfícies cultivadas e/ou colocar o composto de forma localizada em vez de aplicálo em pequenas doses. A experiência demonstra que a principal dificuldade reside na capacidade de mobilizar a matéria vegetal sobretudo na estação seca, e produzir desta forma composto em quantidade suficiente. 3 / As práticas fertilidade de fundo); - maduro: misturado com a terra, a nível da camada explorada pelas raízes (caso as quantidades forem limitadas, fazer aplicações localizadas); - bem curtido: utilização em fruticultura para o enchimento dos vasos, e em cobertura de sementeira para os viveiros hortícolas e rizícolas. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105) AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras 87 88 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Compostagem em composteira Produção de fertilizantes Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Produzir um fertilizante orgânico de qualidade com as matérias primas disponíveis localmente; » Limitar os riscos de propagação das infestantes, pragas, bactérias e fungos que se encontram no estrume e nas palhas. Condições de implementação: » Dispor de um terreno sombreado e de uma fonte de água; » Dispor das ferramentas necessárias (regador, catana, forquilha, pá); » Dispor dos seguintes materiais: - Bambus ou estacas de madeira para a composteira; - Matérias secas: palhas, ervas, glumas ou folhas secas (exceto o eucalipto); - Matérias verdes: ervas, folhas com rápida decomposição, troncos de bananeiras; - Estrume, camas de animais, resíduos de cana depois da destilação, chorumes, composto líquido…; - Cinzas, pó de osso, resíduos de peixe…; - Lixo doméstico fermentável e separado. 1 / Os fundamentos Esta prática foi essencialmente desenvolvida no quadro dos programas da AGRISUD no Camboja e no Sri Lanka. A prática consiste em decompor as matérias orgânicas e vegetais por uma fermentação aeróbia, este processo é realizado numa composteira. Método 1-A fabricação da composteira Construir um cubo de 1 m3 com tábuas de madeira ou em bambu (sem fundo); Escolher um lugar sombreado, perto de uma fonte de água e das instalações de criação animal; Revolver a terra onde a composteira será instalada para a arrejar; Colocar uma estaca de madeira (2 m) no centro da composteira. A composteira deve ser feita de forma que se abre para poder movê-la sem alterar a estrutura das camadas do composto. - 2 / Os sistemas de produção Este método permite uma decomposição homogênea das matérias a compostar e um processo de compostagem mais rápido. Princípio 2-A preparação dos materiais e o enchimento da composteira - Cortar os materiais (matéria orgânica seca e húmida) em pedaços de tamanho inferior a 25 cm; - Recolher estrume de ruminantes, galinhas ou porcos; - Colocar em alternância uma camada de matéria seca, uma camada de matéria fresca e uma camada de estrume - 25 cm de matéria seca seguido de uma rega; - 10 a 15 cm de matéria húmida com uma ligeira rega; - 5 cm de estrume fragmentado ou húmido; - 0,5 cm de cinza. - Regar abundantemente sem lixiviar a pilha; - Colocar novas camadas até encher a composteira; - Mover e retirar a estaca do meio para criar uma chaminé de ventilação (para favorecer as condições aeróbias). Composto em composteira, Camboja Composteira, Sri Lanka 3 / As práticas A compostagem em composteira consiste em colocar uma mistura de matérias primas num recipiente com paredes entrançadas chamado de « composteira ». Composteira, Camboja AS PRÁTICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em composteira 89 3-A condução da compostagem Vantagens e desvantagens - Manter uma humidade constante regando regularmente a composteira com Técnicas água; - Revolver a mistura de 10 em 10 dias: - revolver a terra numa superfície de 1 m² ao lado da composteira; - deslocar a composteira e colocá-la em cima do m² revolvido; - encher a composteira revolvendo o composto, camada por camada (a camada superior fica agora de baixo); - regar. O composto deve ser corretamente molhado mas não encharcado, limitar a quantidade de água fornecida para não lixiviar o composto. 4-O acompanhamento Introduzir uma estaca de madeira dentro do composto para certificar o aumento da temperatura, que indica a boa fermentação da matéria vegetal. Se o composto não aumentar de temperatura três dias depois do enchimento da composteira ou depois do seu revolvimento, molhar e aumentar as quantidades de estrume e de matéria verde (fornecimento de azoto). Para ativar a decomposição, o composto pode ser regado com estrume ou composto líquido. O composto fica pronto depois de 30 a 45 dias: - a cor é castanha; - a matéria encontra-se à temperatura ambiente (ausência de calor); - o composto não tem mau cheiro; - contém minhocas. Retirar a composteira, para uma nova utilização. Não deixar o cubo de composto maduro exposto à chuva para evitar a lixiviação ou ao sol, para evitar a dessecação e a perda de azoto. O composto utiliza-se da mesma forma que o produzido em leiras (p. 81). Realizável com diferentes tipos de matérias orgânicas locais; Processo de compostagem rápido e que produz uma matéria muito homogênea; Permite um enchimento progressivo em materiais (durante 2-3 dias); Exige conhecimento e experiência prática para bem controlar a fermentação; Entra em concorrência com a pecuária para a utilização das palhas. Económicas Produz um fertilizante de qualidade que tem um impacto positivo e durável sobre os rendimentos; Permite uma valorização dos materiais disponíveis localmente; Exige uma forte mobilização em mão-de-obra. Ambientais Melhora os solos sem recorrer aos produtos químicos de síntese; Permite uma valorização da biomassa natural; Permite uma manutenção das zonas de pousio sem queima (corte das palhas). O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A compostagem em composteira é uma prática facilmente adaptável que permite a valorização de vários subprodutos vegetais. Segundo o seu nível de maturidade, o composto é utilizado diferentemente, ele pode ser utilizado como adubação de fundo ou como adubação de manutenção. Em caso de quantidade disponível limitada, é preferível reduzir as superfícies cultivadas e/ou colocar o composto de forma localizada em vez de aplicá-lo em pequenas doses. A principal dificuldade reside na capacidade de mobilizar as matérias vegetais, sobretudo em período seco, e produzir desta forma composto em quantidade suficiente. PARA IR MAIS LONGE Reutillização de uma composteira, Camboja 90 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Compostagem em leiras (p. 81) Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Composto líquido Produção de fertilizantes Método Paisagem insetos, bactérias e outras pragas. Condições de implementação: » Dispor de estrume: esterco de galinha ou de morcego, esterco de porco, estrume de vaca, esterco de ovino...; » Dispor de materiais vegetais (folhas): Chromolaena odorata (Eupathorium): nematifuga; Nicotiana tabacum (tabaco): insetifuga; Tetradenia riparia: bactericida; Ním: inseticida; Tithonia diversifolia: pesticida; Leguminosas (Sesbania grandiflora e rostrata, Leucaena leucocephala, Cassia siameaor e spectabilis, Moringa oleifera): favorecem o fornecimento de azoto. - Etapa 1: Adquirir um tambor ou um jarro de 100 litros mínimo; - Etapa 2: Encher um saco de fibras tecidas com: - 10 Kg de uma mistura de folhas; - 6 Kg de estrume. - Etapa 3: Encher o tambor ou o jarro com 100 litros de água; - Etapa 4: Colocar o saco fechado na água com uma grande pedra por cima para que o saco esteja completamente imerso; - Etapa 5: Fechar o tambor ou o jarro com a sua tampa ou uma esteira para evitar as moscas e o mau cheiro, por razões de segurança (risco para as crianças), não fechar hermeticamente para evitar a fermentação anaeróbia que vai produzir ácidos que podem queimar as folhas; - Etapa 6: Dois dias depois da etapa 5, mexer a água durante 5 minutos e acrescentar água, se necessário (o saco deve permanecer imerso), repetir a operação pelo menos uma vez por semana. - Etapa 7: Depois de 3 a 6 semanas (a duração do processo varia em função da temperatura no exterior), o composto líquido está pronto, claro e sem mau cheiro. O composto líquido pode ser conservado durante um mês num lugar protegido e na sombra. 2 / Os sistemas de produção Planta 3 / As práticas Água Objetivos: » Melhorar a fertilidade do solo; » Melhorar a decomposição do empalhamento; » Obter um efeito fitossanitário contra os ataques dos - A fabricação do composto líquido basea-se num processo de fermentação da matéria vegetal em meio aquoso. 1-A fabricação do composto líquido Efeitos: Solo Princípio 1 / Os fundamentos O composto líquido é uma mistura aquosa fermentada, que pode ser utilizada como adubo e/ou como produto de tratamento conforme os materiais que o compõem. » Dispor de um saco de fibras tecidas e de um tambor ou de um jarro; » Dispor de uma estaca de madeira. Etapa 2 Etapa 3 Etapa 6 AS PRÁTICAS / Produção de fertilizantes / Composto líquido 91 Vantagens e desvantagens 2-A utilização do composto - Diretamente na parcela: aplicar o composto líquido 2 semanas depois da transplantação, ou 3 semanas depois da germinação, na época da floração ou quando sintomas de carência aparecerem (perda da cor verde devido à carência em azoto). Diluição: 50/50. Dosagem: 2,5 a 3 litros por m² ou 0,3 litro por cova no caso de fornecimento localizado. - Sobre a folhagem (evitar aplicar nas plantas jovens). Diluir à razão de 1/4 de composto líquido dentro de 3/4 de água e aplicar à razão de 1 a 2 litros/m² (usar um regador com chuveiro com perfurações finas). O composto líquido pode ser fornecido como adubo foliar, com a ajuda de um pulverizador, depois de ter sido previamente filtrado com um pano fino. O composto pode ser aplicado todas as semanas até a floração. Técnicas Realizável com vários tipos de materiais vegetais, conforme os efeitos desejados e as complementaridades procuradas; Necessita de recipientes suficientemente grandes e impermeáveis que nem sempre estão disponíveis com um preço abordável. Económicas Representa um custo de implementação reduzido (caso haja disponibilidade de recipientes). Ambientais Melhora a estrutura dos solos caso o composto líquido seja pulverizado sobre camadas de empalhamento; Limita o uso de pesticidas químicos de síntese quando se utilizam plantas com efeito de pesticidas na preparação do composto. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR... O composto líquido é um fertilizante de grande valor para a adubação de manutenção e é um adubo foliar eficaz. O uso de composto líquido nas parcelas com empalhamento permite, uma decomposição rápida das palhas e portanto um enriquecimento do solo em matéria orgânica. Tambor, Sri Lanka Fossa cimentada para composto líquido, Madagáscar A incorporação de plantas de interesse para a fabricação de biopesticidas, permite acrescentar um efeito regulador sobre as pragas e as doenças das culturas. PARA IR MAIS LONGE: Ficha: Empalhamento (p. 121) Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127) Ficha: Culturas em covas (p. 109) Jarro com composto líquido, Camboja 92 Utilização de composto líquido, Camboja AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Limitar os danos provocados pelo vento e/ou pelo pastoreio dos animais; A implantação dos arbustos e das árvores em forma de sebes vivas ou de forma espalhada nas zonas hortícolas, permite criar um “bocage” favorável ao desenvolvimento das culturas. As sebes vivas e as árvores têm os seguintes efeitos: - protetor: protegem as culturas dos danos causados pelo vento e/ou pelos animais soltos; - regulador: graças à sua sombra e ao seu efeito quebra-vento, facilitam a conservação da humidade dos solos e aumentam a higrometria na época seca e na época chuvosa, o seu sistema radicular profundo permite uma ascenção das águas subterrâneas; - enriquecedor: ao produzir biomassa, as árvores e particularmente as leguminosas (fornecimento de azoto), participam no ciclo da matéria orgânica de forma direta (decomposição da cama) ou indireta (compostagem), por outro lado, o seu sistema radicular permite a aeração do solo (propriedades estruturantes das árvores tais como as acácias) e a reciclagem dos elementos minerais lixiviados nas camadas profundas do solo; - económico: sejam florestais ou frutíferas, os produtos e subprodutos das árvores podem ser valorizados pelo autoconsumo ou pela sua comercialização (frutos, lenha ou madeira…). A criação de um “bocage” permite um aumento significativo da produtividade dos espaços cultivados (número de ciclos anuais, diversidade e associação de culturas…) e permite uma intensificação durável dos sistemas agrícolas sem colocar em perigo os recursos naturais mobilizados. » Criar um ambiente (“bocage”) favorável às culturas (humidade, sombra, diversidade); Zonas Exemplos de espécies utilizadas Zona seca Acacia senegal, Prosopis africana, Parkinsonia aculeata, Calotropis procera, Agave sisalana (sisal), Azadirachta indica (ním), Jatropha curcas Zona húmida Crotalaria grahamiana, Cajanus cajan, Acacia dealbata, Dodonaea Madagáscariensis, Glyricidia sepium, Leucaena leucocephala, Sesbania rostrata, Tephrosia candida, Flemingia congesta, Acacia mangium e auriculiformis » Reciclar os elementos minerais lixiviados; » Produzir uma biomassa que pode ser valorizada na exploração agrícola; » Criar hábitats ecológicos propícios à conservação dos equilíbrios agroecológicos. Condições de implementação: » Dispor de uma fonte de água próxima; » Dispor de plantas privilegiando as variedades locais de qualidade; » Dispor de ferramentas (pá ou enxada, material de rega) e de materiais para a proteção das plantas jovens. 1 / Os fundamentos Princípio 2 / Os sistemas de produção A criação de um “bocage” é uma técnica de agrofloresta que consiste em implantar arbustos e árvores à volta e dentro das parcelas cultivadas. Em função da sua densidade, da sua disposição e da sua natureza, estes limitam a insolação e o vento, o que favorece a conservação da humidade no solo e a criação de um micro-clima favorável às culturas. O sistema radicular destas plantações permite, a absorção e a reciclagem dos elementos minerais que migraram nas camadas profundas do solo. A biomassa produzida pode também ser valorizada para a fertilização orgânica e o empalhamento dos canteiros hortícolas. Efeitos: Arborização de um sítio de produção hortícola, Níger AS PRÁTICAS / Horticultura / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) 3 / As práticas Horticultura 93 Método As sebes são alinhamentos de arbustos ou árvores em volta das parcelas ou como linhas de separação das parcelas de grande dimensão. 1-Os diferentes tipos de sebes - A sebe quebra-vento: sebe perpendicular aos ventos dominantes, serve para A sebe quebra-vento Quebra-vento permeável Vento O quebra-vento é permeável ao vento: o fluxo de ar que atravessa a sebe protege as plantas contra as rajadas de vento que passam por cima. « quebrar » os ventos dominantes e proteger as culturas. Um quebra-vento protege uma cultura sobre uma distância atrás da sebe de 10 a 20 vezes a sua altura (ou seja sobre 20 a 40 m para uma sebe de 2 m de altura). Ex. de espécies: Jatropha, Acácia, Azadirachta (Ním), Parkinsonia, Tephrosia... que se pode plantar em associação. Não há danos a nível das culturas Quebra-vento impermeável - A sebe de proteção: geralmente plantada em complemento das barreiras tais como arame farpado e rede, é constituída por plantas com espinhos ou espécies geralmente não consumidas pelos animais soltos, serve para impedir a entrada do rebanho nas hortas. Ex. de espécies: Eufórbia, Prosopis, Jujuba, cacto, sisal... O quebra-vento é impermeável ao vento: as rajadas de vento passam por cima da sebe e descem por trás em turbilhões. Vento - A sebe de produção de biomassa: geralmente plantada na proximidade das composteiras ou das parcelas, é regularmente podada, as mondas servem para a produção de composto ou para a prática do empalhamento. Ex. de espécies: arbustos leguminosos, Tephrosia, Leucæna, Flemingia, Glyricidia, Acácias... Danos a nível das culturas Esquematização da implantação de sebes numa horta 2-O dimensionamento O número de plantas depende do tipo de árvores, do seu destino e da poda realizada. Quebra-vento Sentido do vento dominante ALGUNS DADOS INDICATIVOS As sebes de proteção são plantadas na periferia das hortas. As sebes de produção de biomassa são plantadas ao longo das parcelas cultivadas. Devem ser densas: 2 a 3 plantas por metro linear. Plantar as árvores à razão de 1 planta para cada metro com duas filas em quincôncio. Estas duas linhas distam-se 0,8 m. Os quebra-ventos são plantados em linha simples ou em filas duplas. O espaçamento das árvores é normalmente mais elevado do que nas sebes de proteção (1 planta por m2). Quando existe duas filas, plantar as linhas em quincôncio com um espaço inter-linha de 1,5 m. Sebe viva intermediária (se necessário) Composteira Canteiro NOTA Um quebra-vento demasiado denso, e portanto impermeável, provoca danos sobre as culturas (criação de turbilhões). 94 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Sebes vivas: proteção, “bocage”, biomassa 5-As associações As sebes podem ser implantadas: Além do simples fato de plantar sebes, o produtor pode tirar proveito das complementaridades entre as culturas e as árvores. A densidade de plantação das árvores não deverá prejudicar as culturas. As sebes são implantadas no início da época chuvosa (pouco depois de uma boa chuva), para permitir que a planta enraize bem antes da época seca. Para as plantas transplantadas: - Realizar uma excavação cerca de 30 cm x 30 cm x 30 cm (conforme o futuro desenvolvimento da planta); - Plantar a muda mantendo o colo a nível do solo. Em zona seca, deixar uma cova para recolher as águas das chuvas e manter a humidade no solo. Em zona húmida, plantar em camalhões (cova encima do camalhão); - Regar em caso de fraca pluviometria, é necessário fornecer água pelo menos uma vez por semana (2 vezes durante as primeiras semanas). As plantas serão assim capazes de resistir à seca; - Proteger as plantas jovens contra os animais soltos (ramos, redes, esteiras…). 4-Manutenção - Replantar depois de um mês ou no início da época das chuvas do ano seguinte. A experiência demostra que um certo número de plantas morrem durante o primeiro ano, e que é necessário realizar a replantação destas covas. - Podar as árvores em função do porte desejado para a planta: Porte caraterístico Trabalho de poda Sebe viva de proteção Arbustivo Cortar a parte de cima das plantas regularmente a 1,2 – 1,5 m Quebra-vento Grande Cortar os ramos em excesso para preservar uma permeabilidade ao vento de 40% (apreciação visual) Sebe de produção de biomassa Arbustivo Cortar a parte de cima das plantas regularmente a 1 - 1,2 m Tipos de sebes As podas de manutenção são geralmente praticadas no início da época chuvosa. Mas para a produção de biomassa e a proteção do sítio, é necessário realizar regularmente as podas conforme o desenvolvimento da sebe. As árvores aproveitam da fertilização fornecida às culturas subjacentes, de uma humidade constante graças à irrigação, da monda regular dos canteiros e da sacha do solo (manutenção). As culturas subjacentes tiram proveito dos efeitos reguladores e benéficos das árvores: sombra, cama, reciclagem da água e dos elementos lixiviados, melhoria e proteção da estrutura do solo. O produtor pode plantar diferentes tipos de árvores: - leguminosas arbustivas (sistemas agroflorestais): as leguminosas enriquecem o solo em azoto (Glyricidia, Acacia mangium e auriculiformis). - àrvores frutíferas (complementaridade dos rendimentos frutos / legumes): as árvores de pequeno porte são recomendadas para o interior das parcelas (ex. goiabeiras, romeiras, citrinos), as grandes árvores são plantadas na periféria caso haja espaço suficiente (ex. mangueiras); - àrvores forrageiras (complementaridade culturas / pecuária): as espécies leguminosas devem ser privilegiadas (Faidherbia albida, Glyricidia, Leucaena...). 2 / Os sistemas de produção da sebe). Ex: Moringa, Acacia mangium e auriculiformis, Leucaena; - por estaca (ex: Glyricídia); - por transplantação. Casos particulares: - Moringa: particularmente útil porque pode ser regularmente podada, originando um porte baixo com numerosos ramos para a produção de folhas comestíveis; - Ním: utilizável para a produção de biopesticidas, de madeira e de lenha. No entanto, a sua envergadura deve incitar o produtor a controlá-lo no local ou a colocá-lo apenas na periferia enquanto quebra-vento. Associação bananeira – quiabo 3 / As práticas - por sementeira direta (covas espaçadas de 50 cm a 1 m conforme a utilidade 1 / Os fundamentos 3-A implantação das sebes e dos quebra-ventos Associação fruticultura - horticultura AS PRÁTICAS / Horticultura / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) 95 Vantagens e desvantagens Técnicas Conserva a água do solo e da planta (reduz a evapotranspiração); Protege contra o vento e os animais; Fornece matéria vegetal para o empalhamento ou a compostagem; Cria um micro-clima propício às culturas; Permite a reciclagem dos minerais lixiviados; Favorece a aeração do solo e a melhoria da vida microbiana do solo; Requer um tempo de instalação bastante longo (1 a 2 estações); Requer uma manutenção regular; Prática consumidora de espaço; É necessário ser proprietário do terreno. Económicas Sebe quebra-vento na periferia de uma horta, Laos Limita a substituição das cercas e a degradação provocada pelos animais soltos (sebes vivas de proteção); Fornece recursos diversificados (frutos, lenha, biopesticidas...); Permite aumentar os períodos de cultivo e melhora os rendimentos; Economiza água para a rega (graças à redução da evapotranspiração); Representa um custo se as plantas forem compradas; Requer uma mão-de-obra importante (plantação, rega, poda). Ambientais Restaura a cobertura vegetal; Protege contra a erosão hídrica e eólica; Limita os cortes abusivos das árvores; Melhora a biodiversidade (fauna e flora). O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A arborização das parcelas melhora claramente as condições de cultivo (melhoria dos solos, reciclagem da água e dos elementos minerais, microclima favorável) e permite uma diversificação das produções (lenha, frutos…). Depois da plantação, a proteção e a rega de compensação permitem às plantas jovens se instalarem rapidamente e de forma durável. É necessário fazer a manutenção destas árvores para que possam realizar as suas funções: proteção das culturas, produção de biomassa… As fruteiras beneficiam dos cuidados fornecidos pelo produtor às culturas subjacentes. No entanto, é necessário organizar o espaço para garantir que futuramente as árvores não entrem em concorrência prejudicial com as culturas hortícolas. A associação horticultura-fruticultura permite valorizar melhor a parcela. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Viveiro em bolsas (p. 131) Ficha: Plantação de árvores frutíferas (p. 137) Plantação de um quebra-vento, Níger 96 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Manutenção do pomar (p. 141) Viveiro no solo Horticultura O viveiro no solo consiste em produzir plantas sãs e vigorosas num local organizado, com uma boa gestão da água, do solo e das técnicas de cultivo. Método 1-A escolha do local As plantas jovens são frágeis: devem ficar num local protegido onde o ambiente é controlado. Para isso, a localização deve satisfazer as seguintes condições: Escolha do terreno Efeitos: Justificativa Proximidade de uma fonte de água Dispor de recursos Facilitar a rega Objetivos: Próximo da casa (se possível) Garantir uma manutenção regular do viveiro Afastar o viveiro das zonas de produção (risco » Produzir plantas de qualidade; » Dispor de plantas sãs e vigorosas que limitam o uso Sem viveiro anterior Limitar Fora do alcance de uma inundação Evitar Solo Água Planta Paisagem de tratamentos fitossanitários (redução dos custos); » Assegurar o início dos ciclos das culturas e uma produção máxima. Condições de implementação: 1 / Os fundamentos O viveiro é uma etapa delicada que será determinante para o sucesso dos ciclos de produção (plantas sãs e vigorosas em quantidade suficiente), o cumprimento dos períodos de cultivo (calendário cultural) e a economia da exploração agrícola (produtividade, qualidade do produto). Princípio Protegido do vento e dos animais Ligeiramente sombreado 2 / Os sistemas de produção Certas culturas necessitam passar uma fase de cultivo em viveiro: pimentão, beringela, tomate, beterraba, alface, repolho, cebola... hídricos durante toda a duração do viveiro fitossanitário) os riscos fitossanitários os riscos de inundação Evitar as perdas devido às rajadas de vento e à divagação dos animais Limitar a evaporação Proteger as plantas da forte insolação e do calor excessivo » Dispor de um terreno ligeiramente sombreado nas horas de forte insolação e de um acesso à água; » Assegurar-se que o sítio está protegido contra o vento, os animais e as chuvas fortes; » Dispor de sementes de qualidade e de estrume 3 / As práticas orgânico; » Dispor de ferramentas (pá ou enxada, ancinho, material de rega, peneira); » Dispor de uma rede de proteção para as plantas caso necessário. Viveiros de tomate, Sul de Marrocos Viveiros, Sul de Marrocos AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro no solo 97 2-As etapas prévias à instalação dos viveiros 5–A sementeira - Limpeza: mondar (não enterrar as infestantes) e nivelar o terreno; Conforme as plantas, 2 técnicas são possíveis: - Lavoura: preparar o solo (arejar o solo, tornando-o solto para facilitar - sementeira em linha: facilidade para mondar e retirar as plantas a transplantar; - sementeira a lanço: ganho de tempo durante a sementeira. a penetração e o crescimento das raízes, despedregar, enterrar a matéria orgânica presente na superfície). 3-O dimensionamento e a programação A implementação dos viveiros depende da programação das culturas de forma a gerir as sucessões culturais e a boa valorização da exploração agrícola. A dimensão e a duração do viveiro dependem da superfície a cultivar e do tipo de cultura. Por exemplo: para 180 m² de plantas de tomateiro transplantadas, é preciso um viveiro de 1 m² durante 15 a 20 dias, para 50 m² de plantas de cebola transplantadas, é preciso um viveiro de 1 m² durante 40 a 45 dias. Depois da sementeira: cobrir as sementes com uma camada fina de terra ou areia (com uma espessura cerca de 3 vezes o tamanho da semente) e regar com um regador com chuveiro com perfurações finas (uma rega muito violenta ou por submersão pode mover as sementes). Culturas Sementes (g) Tipo de sementeira aconselhada Número de dias no viveiro Número de plantas a transplantar 4-A preparação dos canteiros A altura dos canteiros de viveiro varia conforme a estação: na estação chuvosa, os canteiros são elevados (15 a 20 cm da superfície do solo) para permitir uma boa drenagem, na estação seca, são ligeiramente cavadas (5 a 10 cm) para conservar a humidade. - Dimensionar e levantar os canteiros (largura de cerca de 1 m para facilitar a manutenção); - Tornar a terra solta, despedregar e incorporar areia em solos compactos; Distâncias na transplantação (interlinhas x na linha, em m) Repolho 3 Em linha 25-30 400 0,4 x 0,6 96 Tomate 4 Em linha 15-20 600 0,7 x 0,6 252 36 Alface 0,4 - 0,6 A lanço 15-20 400 0,3 x 0,3 Cebola 1,25 - 2 A lanço 40-45 250 0,1 x 0,2 5 Pimentão 2 Em linha 35-40 300 0,6 x 0,4 72 Malagueta 2 Em linha 35-40 300 0,6 x 0,4 72 Beringela 0,8 Em linha 35-40 160 0,7 x 0,6 40 - Incorporar o adubo orgânico: composto fino bem curtido (5 a 8 kg/m²) ou estrume bem curtido (3 a 5 kg/m²); - Replanar com ancinho; - Desinfetar o solo com água fervida (10 l/m²) e deixar resfriar antes de realizar as sementeiras. Viveiro mais baixo que o nível do solo, Sul de Marrocos 98 Viveiro mais alto que o nível do solo, Angola AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Superfície transplantada (m²) Transplantação de cebola em Madagáscar 7-A manutenção Rega: - o viveiro deve sempre estar húmido, contudo sem estar encharcado; - escolher as horas frescas para regar (parte da manhã e fim da tarde); - utilizar um regador equipado com um chuveiro com perfurações finas para não danificar as plantas. - Para proteger o viveiro contra o frio, as fortes chuvas ou a dessecação, é necessário cobrí-lo com palhas ou palmas, que devem ser retirados quando começarem a influenciar o crescimento das plantas (o empalhamento poderá ser mantido a nível das interlinhas). 1 / Os fundamentos 6-A proteção NOTA As regas no fim da tarde nas zonas húmidas e quentes podem favorecer o desenvolvimento das podridões de origem critogámica ou bacteriana. Monda - desbaste: - mondar regularmente para impedir a infestação das ervas daninhas. Um empalhamento das interlinhas pode limitar o risco de infestação; - realizar um desbaste para conservar apenas as plantas robustas, bem desenvolvidas, fazendo o desbaste depois de 15-20 dias em geral… a adaptar conforme as culturas. Proteção com palha - Para proteger o viveiro contra os insetos, lagartixas e outras pragas, é possível instalar uma rede de mosquiteiro de proteção. Rede de mosquiteiro de proteção Tratamentos: - arrancar as plantas atacadas e tratar a cultura caso necessário; - dar prioridade aos métodos preventivos e ao uso de produtos naturais (cf. Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais p 127) Lona de proteção - Para proteger o viveiro contra as fortes chuvas ou o frio em alguns contextos, é possível instalar uma lona de proteção. 2 / Os sistemas de produção Empalhamento com palmas Alguns dias depois da transplantação, as plantas não utilizadas devem ser destruídas para limitar os riscos de doenças. OBSERVAÇÕES Rede de proteção Viveiro com lona, Sul de Marrocos 3 / As práticas Apesar de terem sido desinfetados, os viveiros no solo podem estar sujeitos a uma nova contaminação pelas pragas e pelas doenças no solo. Neste caso, utilizar viveiros suspensos em bancadas (cf. Ficha: Viveiro suspenso em bancadas p 101). Para facilitar a recuperação das plantas na parcela, deve-se trabalhar no sentido de ter plantinhas vigorosas tomando os seguintes cuidados: reduzir consideravelmente as regas; evitar fornecer azoto; retirar as redes de proteção. AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro no solo 99 Vantagens e desvantagens Técnicas Prática simples de implementar; Manutenção fácil; Produz plantas robustas; Permite reservar plantas no viveiro, depois da transplantação, para substituir as plantas mortas ou atacadas (complantação); Sensível aos ataques das pragas do solo (apesar de ter sido feito uma desinfeção do local no início). Económicas Permite poupar sementes; Viveiro, Sri Lanka Reduz os custos de tratamentos das culturas transplantadas (plantas robustas e resistentes aos ataques das pragas e doenças). Ambientais Reduz o uso dos pesticidas pela produção de plantas robustas e pela aplicação de métodos de prevenção das pragas e doenças. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR O viveiro é uma etapa delicada que requer atenção e cuidado durante a sua preparação e o seu maneio. O sucesso técnico (respeito do calendário) e económico (despesas de sementes e tratamentos) depende do sucesso desta etapa em que a planta se encontra no viveiro. Viveiro pimentão / repolho, Sri Lanka A produção de plantas robustas é a primeira regra da luta preventiva contra as doenças e pragas. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Compostagem em leiras (p. 81) Ficha: Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Viveiro suspenso em bancadas (p. 101) Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127) Sementeira em linha debaixo de sombra, Sri Lanka 100 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Viveiro no solo, Sul de Marrocos Viveiro suspenso em bancadas Horticultura Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Método 1-A escolha do local O local do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deverá satisfazer a maioria dos seguintes critérios: Escolha do terreno Proximidade de uma fonte de água Objetivos: » Obter plantas de qualidade; » Dispor de plantas sãs e vigorosas, de forma a limitar os tratamentos fitossanitários (redução dos custos); » Garantir a fase de arranque dos ciclos culturais e uma produção máxima. Condições de implementação: » Dispor de um terreno com uma fonte de água; » Dispor de areia, de terra proveniente da cama florestal e de estrume curtido ou de composto bem curtido; » Dispor de sementes de qualidade; » Dispor das ferramentas (pá, regador equipado com um chuveiro com perfurações finas, peneira); » Dispor de madeira, caules de cereais, folhas de bananeiras, tábuas de madeira, bambus... para fabricar o canteiro suspenso em bancadas. 1 / Os fundamentos Para tal, o viveiro suspenso em bancadas (sobrelevado) é o mais indicado. O viveiro suspenso em bancadas permite produzir plantas ao abrigo das degradações frequentemente encontradas a nível do solo: substrato sã e de qualidade renovado a cada ciclo, solo sem acumulação permanente de água na estação chuvosa, facilidade de cobertura do viveiro para proteger as plantas jovens. Próximo da casa (se possível) Justificativa Facilitar a rega Facilitar o cuidado e Afastar o viveiro das a manutenção do viveiro zonas de produção (risco fitossanitário) Protegido do vento e dos animais Evitar as perdas devidas às rajadas de vento e/ou à divagação dos animais Afastado das parcelas em fim de cultivo Evitar os ataques das pragas presentes nas culturas Protegido da chuva e do sol, mas arejado 2 / Os sistemas de produção Portanto, é oportuno colocar as plantas num ambiente sã e controlado desde a sementeira até a transplantação. Princípio Evitar o sobreconsumo de água e o estresse térmico das plantas, assim como a deterioração das bolsas e plantas pelas chuvas fortes 2-A fabricação da mesa Construir uma mesa que pode conter o subtrato com uma espessura de 5 a 10 cm, a 1 m de altura do solo (mesa em bambu com cama de folhas de bananeiras, mesa com feixes de caules de milho ou sorgo…) Mesa feita com troncos de bananeiras e caules de milho, Madagáscar Mesa feita com bambu, RD do Congo 3 / As práticas A produção de plantas hortícolas sãs e robustas no viveiro, constitui a primeira etapa-chave do sucesso de uma cultura. Mesa feita com tábuas de madeira, Sri Lanka AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro suspenso em bancadas 101 3-A preparação do substrato O substrato deve ser bem homogêneo (bem misturado) e ter uma composição fina. Componente Proporção Areia 1/4 do substrato Estrutura solta, drenagem da água Propriedades Estrume curtido ou composto bem curtido 1/4 do substrato Retenção da nutritivos Terra (proveniente da cama florestal se possível) 1/2 do substrato Elementos de base do substrato humidade, Areia fina elementos Composto 4-O maneio do viveiro Sementeira: - Abrir sulcos no substrato com uma profundidade de 3 vezes o tamanho da As proporções dos diferentes materiais devem ser adaptadas em função da qualidade inicial da componente « terra ». semente; - Semear em linhas com uma distância de 10 a 15 cm; - Cobrir os sulcos com areia branca previamente desinfetada com água fervida; - Recobrir e calcar as linhas de sementeira com uma pequena tábua; As etapas da preparação do substrato: - Regar suficientemente, mas sem excesso (2 regas com 30 minutos Peneiração dos diferentes elementos Mistura dos componentes Colocação do substrato sobre a mesa (5 a 10 cm de espessura) Desinfeção do substrato de intervalo) com uma água de boa qualidade. Proteção: Conforme as necessidades, cobrir o viveiro para proteger a cama de sementes ou as plantas jovens: - contra as fortes chuvas: filme plástico; - contra a insolação e o calor excessivos: rede de sombra; - contra os insetos e outras pragas: rede de mosquiteiro. A proteção instala-se sobre arcos de bambus ou de madeira. Peneiração Peneiração Colocar água a ferver Vazar a água fervida sobre o substrato Peneira e substrato 102 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 NOTA Deixar resfriar Retirar o filme protetor quando as condições o permitirem. Instalação de uma rede de proteção Viveiro coberto por um filme plástico 5-A manutenção Vantagens e desvantagens - Rega: manter a terra húmida sem a ensopar, privilegiar os períodos mais frescos Técnicas depois da sementeira e antes da emergência, depois afastar a palha de modo a deixar o caule das plantas livres, mantendo o empalhamento nas interlinhas (conservação da humidade e proteção das plantas jovens); - Monda: arrancar as infestantes para evitar a concorrência e a infestação do viveiro, esta operação deve ser feita regularmente, para evitar o arranque das plantas no mesmo tempo que as infestantes com sistema radicular já demasiado desenvolvido; - Controlo do estado sanitário: eliminar as plantas doentes e fracas. Estas etapas desenrolam-se regularmente conforme as necessidades até que as plantas estejam prontas para a transplantação. A duração de um ciclo de produção depende da cultura. das sementeiras) e reduz os riscos de ataques pelas aves e outras pragas; Permite reservar plantas no viveiro, depois da transplantação, para 1 / Os fundamentos - Empalhamento: cobrir a cama de sementes com palha seca finamente cortada Protege contra as pragas e doenças do solo (nemátodos com galhos e podridão substituir as plantas mortas ou atacadas (complantação); Permite uma boa fertilização assegurando o vigor das plantas jovens; Permite um melhor controlo do meio de cultura; Favorece uma emergência regular das plantas jovens; Necessita fabricar uma infraestrutura; É difícil de implementar para viveiros com grandes superfícies. Económicas Limita as perdas provocadas pela podridão das sementeiras e pelos 2 / Os sistemas de produção (de manhã e no fim da tarde) para economizar a água, evitar as regas excessivas no fim da tarde na estação chuvosa ou em zona húmida, utilizar um regador com chuveiro com perfurações finas para não danificar as plantas jovens; ataques de pragas; Representa um custo de construção das infraestruturas para viveiros de grandes superfícies. Ambientais Permite controlar o meio de cultivo sem recorrer aos insumos químicos de síntese. OBSERVAÇÕES Para facilitar a recuperação das plantas na parcela, é possível endurecer as plantas no viveiro antes da sua transplantação. Deve ser feito no fim da fase do viveiro: reduzindo consideravelmente as regas; evitando fornecer azoto às plantas; retirando as redes de proteção. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR O viveiro suspenso em bancadas é uma prática que permite aos produtores, iniciar mais cedo a sua produção na estação chuvosa mantendo um domínio técnico de qualidade do viveiro. Os produtores podem colher precocemente em relação aos outros e aproveitar preços mais vantajosos. Ao reduzir a podridão das sementeiras e as infestações por parte dos nemátodos graças a um substrato sã e regularmente renovado, os produtores diminuem os seus encargos de exploração, o que os permite investirem mais facilmente e de forma eficiente na compra de sementes de qualidade. 3 / As práticas PARA IR MAIS LONGE Ficha: Compostagem em leiras (p. 81) Ficha: Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Viveiro com empalhamento Plantas jovens vigorosas e sãs Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127) AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro suspenso em bancadas 103 104 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Adubação orgânica de fundo Horticultura Sendo destinada a enriquecer o solo e garantir a disponibilidade dos elementos necessários ao bom desenvolvimento da cultura, a adubação de fundo é fundamental e permite limitar consideravelmente o uso dos adubos químicos de síntese, podendo até mesmo substituí-los na totalidade. Solo A adubação orgânica de fundo melhora a estrutura do solo: - aumento da capacidade de retenção da água; - aumento da capacidade de adsorção (fixação) e de liberação dos elementos minerais; - aeração do solo, melhoria da porosidade; - aumento da atividade biológica do solo (micro e macro fauna). A adubação orgânica de fundo fornece os elementos nutritivos necessários à cultura e compensa as exportações de nutrientes dos ciclos culturais anteriores. Esquematização da adubação de fundo e dos seus efeitos: Solo pouco fértil Efeitos: Água Planta 1 / Os fundamentos A adubação é considerada “de fundo” porque é realizada antes da implantação da cultura e tem efeito a longo prazo. Princípio Solo fértil 2 / Os sistemas de produção Uma das primeiras etapas na implementação de uma cultura hortícola é o fornecimento de adubo orgânico de fundo (estrume curtido ou composto). Sementeira ou transplantação Paisagem Objetivos: Adubação orgânica de fundo » Melhorar a estrutura física, as caraterísticas biológicas e químicas do solo e por consequência, a sua fertilidade; » Fornecer os elementos necessários ao crescimento da planta, restituir os elementos absorvidos pela cultura anterior (limitar o uso dos adubos químicos de síntese); » Favorecer o enraizamento das culturas para uma boa alimentação em elementos minerais. Liberação dos nutrientes necessários à planta após mineralização Humificação Melhoria da estrutura do solo Melhoria da capacidade de adsorção e de retenção do solo Condições de implementação: quantidades suficientes (2 a 3 kg / m² e para cada aplicação, sabendo que uma aplicação cobre cerca de 4 a 6 meses de cultivo conforme as suas exigências); » Dispor de ferramentas (enxada ou daba, carroça ou carrinho de mão e pá); » Realizar a adubação pelo menos 15 dias antes da sementeira ou da transplantação. Preparação de um composto, Níger Estrume curtido, Índia 3 / As práticas » Dispor de composto ou estrume bem curtido em Aplicação de estrume, Madagáscar AS PRÁTICAS / Horticultura / Adubação orgânica de fundo 105 Método A prática ilustrada... O adubo de fundo (adubo orgânico + complementos minerais naturais) é incorporado a uma profundidade de 25 a 30 cm, pelo menos 15 dias antes da implantação da cultura para reduzir os riscos de aquecimento que podem queimar as plantas jovens. É fornecido de preferência no início dos principais ciclos sazonais: - 1 a 2 vezes por ano em zona seca; - 2 a 3 vezes por ano em zona húmida. Materiais Comentários Dosagem Estrume bem curtido Não expor o estrume ao sol e à chuva 2 a 3 kg/m² em função das exigências das culturas Composto sólido Escolher um composto pouco curtido. Em caso de disponibilidade limitada, reservar o uso do composto para adubação de fundo das culturas exigentes ou com forte valor acrescentado 1 a 3 kg/m² em função das exigências das culturas Palhas secas e folhas diversas + composto líquido Não utilizar as folhas de eucalipto (fitotoxicidade) Solução de 5 l de composto líquido puro + 5 l de água Aplicação de 2,5 a 3 l/m² Palhas secas e folhas diversas + esterco de galinha ou de morcego Regar a matéria seca antes de enterrá-la 80 g de esterco seco /m² Cinza de madeira Em complemento ao fornecimento de matéria orgânica (composto, estrume, palhas) 200 a 300 g/m² Calcário moído Em complemento ao fornecimento de matéria orgânica (composto, estrume, palhas) nos solos ácidos 60 a 80 g/m² Fosfato natural Em complemento ao fornecimento de matéria orgânica (composto, estrume, palhas) 100 a 120 g/m² 106 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Aplicação de cinzas, Madagáscar Incorporação do composto, RDC Vantagens e desvantagens Técnicas Permite à planta absorver facilmente no solo, os elementos necessários ao 1 / Os fundamentos seu crescimento, ao longo do processo de humificação / mineralização da matéria orgânica; Melhora a estrutura e a fertilidade do solo, permitindo assim estabilizar e/ ou melhorar os rendimentos; Prática simples de implementar; Apresenta uma melhor eficiência quando as aplicações são localizadas; Requer uma disponibilidade importante em matéria orgânica; Necessita de manutenção importante. Económicas 2 / Os sistemas de produção Estabiliza e/ou melhora as receitas da atividade e diminui os encargos de produção; Limita o uso de tratamentos fitossanitários e adubos químicos de síntese, devido ao bom crescimento e ao vigor das culturas; Representa um custo caso o produtor não dispor de adubo orgânico. Ambientais Compensa as exportações de elementos nutritivos e preserva a fertilidade; Aplicação de estrume, Madagáscar Limita o uso de adubos químicos de síntese; Favorece a biodiversidade e a vida biológica dos solos. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Ao prever uma reserva de matéria orgânica progressivamente decomposta e mineralizada, de fácil absorção, o produtor garante às suas culturas um bom crescimento e um bom desenvolvimento, preserva de forma durável as qualidades agronómicas do seu solo. A boa saúde das plantas limita o uso dos tratamentos fitossanitários e melhora os rendimentos. 3 / As práticas Cada tipo de cultura hortícola (legumes frutos, de folhas ou raízes) tem necessidades diferentes: pode ser útil realizar uma complementação mineral (produtos naturais) da matéria orgânica. PARA IR MAIS LONGE Estrume curtido, Níger Ficha: Compostagem em leiras (p. 81) Ficha: Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) AS PRÁTICAS / Horticultura / Adubação orgânica de fundo 107 108 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Cultivo em covas Horticultura Esta prática é implementada especialmente em Madagáscar. Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » » » » Localizar os fornecimentos de matéria orgânica; Localizar os fornecimentos de água; Otimizar o uso dos recursos limitados; Limitar as operações culturais. 1 / Os fundamentos Princípio As culturas são implementadas de forma a localizar as aplicações de matéria orgânica e água. Permite também preservar estes recursos raros em benefício da cultura. Método O canteiro em que são realizadas as covas é um canteiro hortícola « clássico »: faz-se a sementeira diretamente nas covas ou ainda a transplantação a partir do viveiro. Este sistema permite localizar os fornecimentos de água e fertilizantes. - Delimitar o canteiro e realizar a lavoura do solo necessária; - Cavar uma cova para cada planta a transplantar (20 a 30 cm de diâmetro e 15 a 20 cm de profundidade), as distâncias entre plantas dependem do sistema radicular e do desenvolvimento aéreo das culturas escolhidas; - Colocar dentro de cada cova o composto ou o estrume curtido em quantidade apropriada (um punhado com as duas mãos unidas, ou seja, cerca de 300 g): os fornecimentos localizados desta forma permitem concentrar a matéria orgânica na cova, quando se encontra em quantidade limitada (otimização do recurso); - Misturar com um pouco da terra retirada do buraco e regar; - Semear ou transplantar depois de 2 semanas no centro da cova e guardar a forma ligeiramente rebaixada da mesma; - Localizar os diferentes amanhos culturais a nível da cova: rega, monda, empalhamento, fertilização… 2 / Os sistemas de produção Nos contextos onde a matéria orgânica e a água são limitadas, o cultivo em covas é particularmente aconselhado para permitir satisfazer as necessidades da planta, enquanto limita o desperdício destes recursos. NOTA Para os solos compactos e argilosos, é possível fazer as covas com o auxílio de um jarro redondo. Vantagem: a cova confecionada é praticamente mantida ao longo das sucessões culturais, apenas os fornecimentos de composto e a limpeza das covas são realizados. É possível fazer associações de culturas, incluindo dentro das covas, e adaptar o tamanho da cova em função do tipo de plantas e do seu número. 3 / As práticas Condições de implementação: » Dispor de sementes ou plantas a transplantar; » Dispor das ferramentas necessárias (pá, enxada ou daba); » Dispor de composto ou estrume curtido; » Dispor de uma fonte de água. AS PRÁTICAS / Horticultura / Cultivo em covas 109 A prática ilustrada... Vantagens e desvantagens Técnicas Permite fornecer matéria orgânica e água de forma adaptada às necessidades das culturas (apesar destes recursos serem limitados); Técnica complementar das outras práticas agroecológicas (empalhamento, fertilização...); Permite evitar que os fornecimentos de água e matéria orgânica beneficiem às infestantes (redução dos trabalhos de monda entre as covas); Requer um trabalho importante quando o solo é compactado; A manutenção é difícil quando o solo é muito arenoso. Económicas Melhora a eficiência da adubação e da rega, favorece a economia da água; Reduz de forma significativa a superfície trabalhada, graças à localização dos diferentes amanhos culturais; Requer tempo durante a preparação do solo com relação a uma lavoura simples. Ambientais Permite economizar o recurso hídrico. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A concorrência em relação à matéria orgânica pode ser importante e o recurso hídrico pode esgotar. O cultivo em covas reduz de forma significativa as adubações e as reservas para a planta. A prática das covas é uma boa alternativa para os produtores que têm o hábito de dispersar o adubo (disponível em quantidade limitada) em canteiros de grande superfície (o efeito fertilidade é neste caso fraco). PARA IR MAIS LONGE Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Empalhamento (p. 121) Ficha: Associações de culturas (p. 117) 110 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Sucessões culturais Horticultura Não aplicá-la pode provocar uma diminuição da fertilidade do solo e a multiplicação das doenças, pragas e infestantes, o não respeito desta técnica pode também provocar um desequilíbrio ecológico e perdas económicas para o produtor. Numa sucessão ou rotação cultural, culturas diferentes sucedem-se numa mesma parcela. Ex: tomate > nabo > fava A rotação é a repetição das mesmas sucessões culturais de forma cíclica numa mesma parcela. Ex: tomate > nabo > fava > tomate > nabo > fava … A planificação das culturas e das suas sucessões é estabelecida conforme as seguintes regras: - Evitar cultivar duas vezes consecutivas culturas da mesma família tendo como objetivo limitar a propagação das pragas e doenças, que têm como caraterísticas atacar uma mesma família de plantas; (cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: as diferentes famílias de plantas) Água Planta Paisagem Objetivos: » Manter e melhorar a estrutura e a fertilidade dos solos; » Quebrar o ciclo das pragas e doenças e limitar o uso - Evitar cultivar duas vezes consecutivas culturas com os mesmos órgãos (fruto, folha, raíz) com o objetivo de não exportar do solo os mesmos elementos minerais. A fertilidade do solo é neste caso bem valorizada e mantida, e a estrutura do solo é preservada; (cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: as plantas e os órgãos) - Plantar no início da sucessão as culturas exigentes com o objetivo de valorizar o fornecimento de matéria orgânica, composto ou estrume curtido; (cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: os legumes e as suas necessidades fisiológicas) dos pesticidas; » Diversificar a produção; » Aproveitar dos mecanismos naturais para limitar os amanhos culturais e os encargos em insumos de síntese. - Alternar as culturas que proporcionam uma boa cobertura do solo e as plantas com fraca cobertura Condições de implementação: - Esperar o tempo suficiente antes de cultivar novamente uma mesma cultura na mesma parcela. » Conhecer as regras de implementação das sucessões culturais; 2 / Os sistemas de produção Efeitos: Solo Princípio 1 / Os fundamentos A sucessão planificada das culturas numa mesma parcela é muito importante. do solo com o objetivo de limitar a infestação das parcelas pelas infestantes; (cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: as plantas com boa e fraca cobertura do solo) (cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: os intervalos a respeitar antes de cultivar a mesma cultura na mesma parcela) » Estar disposto a produzir culturas diversificadas. Tomate Alface Cenoura 3 / As práticas Exemplo de sucessão cultural na mesma parcela Horta, Laos AS PRÁTICAS / Horticultura / Sucessões culturais 111 Revisões teóricas Apresentação das principais plantas cultivadas na horticultura CRUCÍFERAS LEGUMINOSAS LILIÁCEAS CUCURBITÁCEAS MALVÁCEAS LABIÁDAS Rabanete Nabo Colza Agrião Rúcula Couve-flor Couve Fava Ervilha Trevo Feijão Lentilha Luzerna Alho Cebola Cebolinha Alho-porro Aspargo Chalota Cebolinha-francesa Melão Abóbora Melancia Abobrinha Pepino Quiabo Hibisco Tomilho Manjericão Hortelã Salva CHENOPODIÁCEAS UMBELIFERAS COMPOSÍTEAS SOLANÁCEAS NOTA: As Solanáceas são muito presentes devido à sua importância no consumo alimentar doméstico e na economia das explorações agrícolas. Amaranto Beterraba Bertalha (Basella) Espinafre Salsa Aipo Cenoura Funcho Coentro Alface Girassol Malagueta Tomate Erva moura Pimentão Beringela Batata comum No entanto, não é aconselhado cultivar mais da metade do terreno de forma a dispor do espaço suficiente para alternar com outras culturas de famílias de plantas diferentes. A sucessão permite quebrar o ciclo das pragas e doenças que têm como caraterísticas atacar as culturas de uma mesma família botânica, pela introdução de culturas não hospedeiras. Por exemplo: o cultivo do rabanete com colo cor-de-rosa ou do amendoim (plantas armadilhas) permite quebrar o ciclo dos nemátodos que se desenvolvem com o cultivo das solanáceas. Outro exemplo: o cultivo do tomate permite quebrar o ciclo da mosca branca que ataca a cenoura. 112 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 As hortaliças e as suas necessidades fisiológicas Existe 3 grandes grupos de plantas hortícolas de acordo com a parte consumida, que têm necessidades em elementos minerais diferentes: Na prática agroecológica, uma grande parte da fertilidade é fornecida ao solo pelo produtor pela incorporação de matéria orgânica (composto, estrume curtido) no momento da preparação do solo e/ou durante a adubação de manutenção. A quantidade varia em função da qualidade dos solos e das outras práticas de melhoria da fertilidade dos solos (ciclos de adubo verde,…). Legumes de folhas Alface, repolho, couve, amaranto, erva moura, hibisco, salsa, aipo, alho-porro,... Necessidades importantes em elementos azotados (N) Legumes raízes, tubérculos e bulbos Batata comum, alho, cebola, rabanete, nabo, cenoura, beterraba, gengibre,... Necessidades importantes em elementos potássicos (K) Aconselha-se realizar as sucessões culturais na seguinte ordem: 1. Legume fruto > 2. Legume de folhas > 3. Legume raíz No entanto, muitas vezes, a quantidade reduzida de matéria orgânica à disposição do produtor é um fator limitante, daí a importância de bem conhecer as necessidades das culturas para otimizar a adubação. Legumes exigentes (adubação orgânica superior a 2 kg/m²) Beringela, aipo*, repolho*, pepino, abóbora, espinafre*, funcho, milho, melão, alho-porro, pimentão, batata comum, tomate, abobrinha. 2 / Os sistemas de produção Legumes frutos Tomate, beringela, pimentão, malagueta, pepino, abóbora, abobrinha, quiabo, melão, melancia,... Necessidades importantes em elementos fosforados (P) 1 / Os fundamentos As plantas e os órgãos Legumes moderadamente exigentes (adubação orgânica inferior a 2 kg/m²) Aspargo, beterraba*, cenoura, alface*. Legumes pouco exigentes Bertalha (Basella) Beterraba As plantas absorvem em níveis diferentes os nutrientes contidos no solo conforme o seu enraizamento (cf. esquema abaixo) e de acordo com as suas exigências. A sucessão de culturas permite evitar que as plantas absorvam em maior quantidade os mesmos elementos quando plantadas de forma contínua na mesma parcela. Uma fertilização complementar repõe os nutrientes exportados pelas culturas anteriores. (adubação orgânica pontual) Alho, fava, chalota, nabo, cebola, rabanete, feijão, ervilha. * Culturas que exigem um composto bem curtido. As outras culturas toleram um composto meio-curtido, enquanto que as abóboras preferem um composto pouco curtido (aceitam mesmo estrume fresco). Pimentão Alface Cenoura Tomate Profundidade do solo Alface Cebola 3 / As práticas Tomate Aconselha-se efetuar as sucessões culturais por ordem decrescente quanto à exigência das culturas. No início da sucessão, os ciclos das culturas beneficiam de uma adubação importante (adubação orgânica de fundo). Os ciclos das culturas seguintes dispõem de menor quantidade de matéria orgânica (devem assim ser menos exigentes). AS PRÁTICAS / Horticultura / Sucessões culturais 113 As plantas com boa e fraca cobertura do solo Alguns conselhos As culturas que sufocam as infestantes são as que proporcionam uma boa cobertura do solo, ou cujo desenvolvimento permite sachar ou fazer um empalhamento. Introdução de leguminosas As culturas que não limitam a infestação pelas ervas daninhas são as que não cobrem suficientemente o solo e que não permitem realizar as mondas ou fazer um empalhamento. Para limitar a proliferação das infestantes, recomenda-se alternar: - culturas com boa cobertura do solo (ex.: tomate, ervilha, batata comum…); - e culturas com fraca cobertura do solo (ex.: cenoura, nabo, cebola...). Devido à sua capacidade em fixar o azoto do ar, os ciclos de leguminosas podem ser inseridos nas sucessões culturais. A sua produção pode ser consumida, servir como forragem, incorporada como adubo verde ou utilizada como planta de cobertura. Os ciclos de leguminosas podem ser inseridos em diferentes momentos: - antes de uma cultura cujas necessidades em azoto são importantes (solanáceas, legumes frutos, legumes exigentes); - no fim de uma sucessão para enriquecer o solo. Os intervalos antes de cultivar de novo uma mesma planta Introdução de plantas desparasitantes Um provérbio marroquino diz: « palha com palha origina batalha », o que significa que não se pode cultivar duas vezes consecutivas na mesma parcela, sem deixar um tempo suficiente entre cada ciclo. Algumas plantas têm propriedades desparasitantes. Além dos efeitos da sucessão cultural sobre as pragas e doenças, têm a propriedade de « limpar » uma parcela. Alguns exemplos: - a cenoura pode ser cultivada na mesma parcela de 2 em 2 anos, desenvolve-se bem depois de uma cultura mondada ou que cobre o solo, especialmente uma solanácea (ex.: tomate); - a cebola pode ser cultivada na mesma parcela de 2 em 2 anos, desenvolve-se bem depois de uma cultura mondada; - a batata comum pode ser cultivada cada 2 a 3 anos, constitui uma excelente planta para iniciar uma sucessão cultural. É um bom precedente cultural para o milho; - o melão pode ser cultivado no mesmo terreno depois de 3 ou 4 anos... Ex.: cultivo de um ciclo de cravo da Índia (Tagetes sp.), planta repulsiva contra os nemátodos, antes de uma cultura sensível a nemátodos como a batata comum ou o tomate; Ervilha, leguminosa 114 Feijão, leguminosa AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Outro ex.: cultivo de um ciclo de amendoim, de rabanete ou de nabo, plantas armadilhas dos nemátodos. Um ciclo de plantas desparasitantes pode ser introduzido na sucessão, em caso de ataque detectado ou de risco de proliferação depois de uma cultura muito « atrativa ». Batata comum, planta que cobre o solo Ciclo de amendoim contra os nemátodos Programação das sucessões culturais Vantagens e desvantagens Além das regras enunciadas na primeira parte (Princípio), 2 fatores têm que ser tomados em conta a nível da programação das sucessões: Técnicas - o efeito do precedente cultural: os efeitos positivos que a cultura colhida Adapta-se às necessidades dos produtores; - a sensibilidade da cultura seguinte: todas as culturas não reagem da mesma forma aos efeitos da cultura anterior. Ex.: a cebola não produz bem se plantada sucedendo uma leguminosa. Económicas Reduz as compras de insumos (pesticidas, herbicidas); Ambientais Favorece a diversificação das culturas; Reduz a pressão parasitária e limita o uso de produtos fitossanitários; Mantém e melhora a estrutura do solo. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR... Beringela Pela sua ação sobre o solo e o controlo do parasitismo e das infestantes, a sucessão de culturas apresenta um interesse económico e ambiental. Repolho Não existe nenhum esquema definido para realizar uma sucessão de culturas: tudo depende do ambiente de cultivo, da escolha dos sistemas de produção e das prioridades do produtor. No entanto, é necessário tomar em conta na programação: Cebolinha as Abobrinha as Cenoura Aipo Alface Erva moura Hibisco Salsa Malagueta Couve Pimentão Rabanete Tomate 2 / Os sistemas de produção Favorece a biodiversidade; famílias das culturas; suas exigências em elementos nutritivos; as suas caraterísticas em termos de cobertura do solo (controlo das infestantes); os prazos a respeitar antes de cultivar de novo a mesma planta; os efeitos precedentes e sensibilidade da cultura seguinte. PARA IR MAIS LONGE: 3 / As práticas Tomate Pimentão Rabanete Couve Malagueta Salsa Hibisco Alface Erva moura Cebolinha Abobrinha Repolho Aipo Cenoura Bertalha Beringela Requer disponibilidade em sementes diversificadas. Amaranto Bertalha Precedentes culturais Amaranto Sucessão inapropriada É difícil implementar em explorações agrícolas de tamanho reduzido; Contribui para o aumento dos rendimentos. Culturas seguintes Sucessão recomendada 1 / Os fundamentos (cultura precedente) pode ter sobre a cultura a seguir. Ex.: os efeitos positivos do cultivo de uma leguminosa sobre uma cultura de tomate ou de abóbora; Princípios de base simples a aplicar; Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Associações de culturas (p. 117) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Luta integrada (p. 123) AS PRÁTICAS / Horticultura / Sucessões culturais 115 116 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Associações de culturas Horticultura Princípio 1 / Os fundamentos A presença de diferentes plantas numa mesma parcela hortícola, constitui uma associação de culturas. Esta prática permite uma boa valorização das superfícies agrícolas e favorece as complementaridades entre as plantas cultivadas. A prática das associações de culturas consiste em plantar ou semear várias culturas numa mesma parcela: os ciclos culturais são paralelos ou sobrepõem. Estas associações complementam-se de diferentes formas conforme a sua configuração no espaço e/ ou no tempo. Existem diferentes tipos de associações de culturas, em função das caraterísticas das plantas e das suas complementaridades a nível da mobilização dos nutrientes do solo e da água, do seu desenvolvimento no espaço (aéreo e subterrâneo) e da sua capacidade a interagir. 2 / Os sistemas de produção 1-A configuração das associações - « as culturas misturadas »: mistura de várias culturas que se desenvolvem ao mesmo tempo sem configuração espacial particular, mas com densidades específicas. Por exemplo, uma mistura de legumes de folhas: amaranto, erva moura, couve. Instalação: as sementeiras ou transplantações acontecem ao mesmo tempo sem configuração espacial particular. - « as culturas em linhas ou em faixas alternadas »: mistura de várias culturas que se desenvolvem ao mesmo tempo com uma organização específica em linhas ou faixas alternadas (ex. linhas de abobrinhas + faixas de cebola) ou no centro e na periferia da parcela (ex. abóbora + milho / coentro + alho). Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Instalação: as sementeiras são realizadas ao mesmo tempo com uma configuração espacial específica e conforme um espaçamento médio (ex. cebola + cenoura = interlinha (40 cm + 30 cm)/2 = 35 cm ). Objetivos: » Otimizar o uso do espaço de cultivo; » Proteger o solo e as culturas, limitando o uso de insumos químicos de síntese; » Diversificar as produções e assegurar os rendimentos dos produtores; 3 / As práticas » Melhorar a produção em qualidade e quantidade. Condições de implementação: » Dispor de sementes hortícolas diversificadas; » Conhecer as boas e as más práticas em termos da associação das culturas. Milho / Feijões Cebola / Repolho Abobrinha / Nabo AS PRÁTICAS / Horticultura / Associações de culturas 117 - « as culturas intercalares »: plantação de uma cultura de ciclo curto debaixo ou entre a cultura principal (ex.: rabanete + alface ou cebola + alface). Instalação: a cultura com o ciclo mais curto é plantada entre as linhas da cultura com o ciclo mais longo, respeitando o espaçamento normal. As sementeiras devem ser realizadas ao mesmo tempo. - « a cultura secundária »: uma primeira cultura é instalada, seguida de uma segunda, no momento em que a primeira atinge o estado reprodutivo antes da colheita (ex.: luzerna + nabo). A segunda cultura desenvolve-se sem ser prejudicada depois da colheita da primeira cultura. Instalação: a instalação da segunda cultura depende da velocidade do crescimento e da duração do ciclo da primeira cultura. - « a associação com plantas satelitas »: presença de algumas plantas de uma ou várias culturas isoladas no meio de uma cultura principal ou na sua periferia. Esta configuração é adaptada para inserir plantas armadilhas. Por exemplo: associação de beringela no meio de uma cultura de batata comum contra o besouro-da-batata comum. Instalação: respeitar o espaçamento da cultura principal. Pé de amaranto produtor de sementes Amaranto transplantado Batata doce Associação satelita batata doce / amaranto Culturas intercalares repolho / alface 118 Associação satelita alface / cebola AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 2-A escolha das associações Quando várias espécies são cultivadas no mesmo período na mesma parcela, estão sujeitas a relações de concorrência ou de complementaridade em termos de acesso aos fatores do meio. Três fatores devem ser tomados em conta para definir as associações: - o sistema radicular (ex.: couve + alface); - o acesso à água e aos elementos minerais (ex.: legumes frutos + legumes de folhas); - as necessidades de luz (ex.: coentro, salsa, aipo protegidos pela fava ou pela malagueta; gengibre debaixo de papaieira). As associações mais interessantes em termos agronómicos são as que, a nível do espaço aéreo e subterrâneo, valorizam as complementaridades e limitam as concorrências entre espécies. Desta forma trata-se de promover as associações que asseguram a proteção das culturas ou que favorecem a sinergia entre as culturas. Alguns exemplos do efeito protetor - Culturas à volta da parcela ou criação de “bocage” para beneficiar de um efeito quebra-vento: - milho, sebes de alecrim. - Associações de certas espécies para beneficiar de um efeito protetor (em relação às doenças) ou um efeito repulsivo (em relação às pragas): - losna contra os pulgões; - cravo da Índia (Tagetes sp.) contra os nemátodos; - Liliáceas e plantas aromáticas que têm propriedades repulsivas. - Associação com uma planta particularmente “atrativa” cultivada na periferia da parcela para concentrar as pragas e evitar a sua disseminação na cultura principal (efeito armadilha): - as beringelas atraem os besouros-da-batata na periferia das parcelas de batata comum. Culturas intercalares couve / beringela Culturas intercalares repolho / espinafre d’água entre culturas com mesmo desenvolvimento (a nível do espaço aéreo e do espaço subterrâneo); Técnicas Prática simples de implementar e fácil de adaptar; Protege o solo (dos raios solares e dos ventos) e as culturas; a Permite uma melhor valorização do espaço ao longo do tempo (associação riscos Requer um conhecimento das associações de interesse e uma certa habi- concorrência de uma cultura com forte desenvolvimento sobre outra cultura com fraco desenvolvimento (efeito de sombra); de perdas se existirem doenças e pragas comuns. entre culturas de ciclo curto e culturas de ciclo longo); lidade para as conduzir; NOTA Pode aumentar o caráter penoso do trabalho na parcela. As associações de culturas permitem ter rendimentos: Económicas - diversificados e seguros (caso uma cultura tenha um rendimento limitado Permite uma melhor produção em termos de quantidade, qualidade e ou com fraca procura no mercado, é possível compensar com os rendimentos das outras culturas); - escalonados (colheitas escalonadas). É interessante favorecer as associações entre uma cultura de ciclo curto e uma cultura de ciclo longo que permitem obter rendimentos regulares (ciclo curto), completados por uma receita importante fornecida pela cultura de ciclo longo. 1 / Os fundamentos concorrências Vantagens e desvantagens diversidade; Reduz os custos em insumos químicos de síntese pela promoção das 2 / Os sistemas de produção A escolha das culturas a associar é muito importante. As más associações podem provocar: complementaridades entre culturas (efeito repulsivo, pesticida...); Otimiza o uso do espaço, do tempo e dos recursos (solo, água, insumos...). Ambientais Valoriza as complementaridades entre as plantas; Permite uma valorização da biodiversidade; Regula as populações de pragas / predadores. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR... A diversidade é fonte de segurança. O horticultor pode tirar proveito das complementaridades entre as plantas, para otimizar o uso dos recursos da sua exploração agrícola. A longo prazo, a promoção das associações de culturas limita o uso dos insumos de síntese custosos e melhora os rendimentos (ganhos económicos significantes). Couve + coentro Milho + feijão 3 / As práticas PARA IR MAIS LONGE: Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) (p. 93) Ficha: Sucessões culturais (p. 111) AS PRÁTICAS / Horticultura / Associações de culturas 119 120 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Empalhamento Horticultura Efeitos: Solo Princípio 1 / Os fundamentos O empalhamento ou mulching é a técnica de cobrir o solo com vegetais ou resíduos de vegetais, com a finalidade de protegê-lo contra as agressões climáticas. É particularmente eficaz para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento das culturas. A prática do empalhamento consiste em cobrir o solo dos canteiros das culturas hortícolas para que nunca fique desprotegido. Além do seu efeito protetor contra a erosão e as infestantes, influencia diretamente os fornecimentos de água e a fertilidade do solo, favorecendo assim a vida biológica do solo. Esta prática deve geralmente ser feita antes da sementeira e/ou da transplantação. Método - Cortar as palhas antes da produção de sementes (ou recolher os outros materiais disponíveis), e Água Planta Paisagem deixá-las a murcharem ao sol (2 a 3 dias); Objetivos: » Limitar as perdas de água por evaporação; » Proteger o solo durante as fortes chuvas e limitar os respingos de terra sobre as plantas jovens; 2 / Os sistemas de produção - Preparar os canteiros para o cultivo; - Colocar a palha em camadas de 5 a 10 cm sobre a totalidade do canteiro, evitando cobrir demasiado as plantas caso a cultura já seja instalada, no caso de empalhamento antes da sementeira ou plantação, as covas devem estar descobertas de forma a permitir às plantas desenvolverem e limitar a propagação das doenças bacterianas e fúngicas. » Fornecer matéria orgânica ao solo; » Criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da vida biológica no solo; » Reduzir o caráter penoso do trabalho pela redução das operações de sacha e monda. » Dispor de plantas ou resíduos de vegetais: palha (25 a 30 kg para cada m² de solo, com uma espessura de 5 a 10 cm), folhas de árvores, farelo de arroz, plantas secas silvestres ou cultivadas (Brachiária, Stylosanthes,...), ramos de milheto, folhas de palmeira, etc. Atenção: não utilizar plantas já frutificadas (presença de sementes que podem depois germinar). » Dispor de um pequeno equipamento (carrinho de mão, forquilha,...). Tomate com empalhamento, Madagáscar Batata comum com empalhamento, Madagáscar O empalhamento pode constituir um abrigo para as lesmas e os caracóis: adotar medidas preventivas e/ou curativas (ex.: armadilha com cerveja, cinzas, pó de malagueta,...). Palha amontoada, Camboja 3 / As práticas Condições de implementação: Empalhamento com folhas de cana, Camboja AS PRÁTICAS / Horticultura / Empalhamento 121 A prática ilustrada... Vantagens e desvantagens Técnicas Prática simples de implementar; Pode ser realizado com diferentes tipos de materiais disponíveis localmente; Reduz pela metade as quantidades de água a fornecer nos solos pesados, e por um terço nos solos leves (diminuindo a quantidade de água e a frequência da rega); Protege os solos; Entra em concorrência com a compostagem para as matérias primas; Atrai as lesmas, caracóis e térmites; Apresenta um risco de apodrecimento do colo quando a palha fica em contato direto com as plantas. Económicas Reduz os custos de irrigação (água, combustível e/ou mão-de-obra); Ao longo do tempo, aumenta os rendimentos (proteção dos solos e fornecimento de matéria orgânica); Limita o uso de mão-de-obra graças à redução das sachas e mondas; Requer a mobilização de mão-de-obra caso a superfície seja importante; Entra em concorrência com a alimentação do gado. Ambientais Protege a estrutura do solo contra as fortes chuvas e a dessecação pelos raios solares; Cria um ambiente favorável à vida biológica do solo. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR... OBSERVAÇÕES: - O farelo de arroz, de milheto e outros resíduos da debulha, muitas vezes não valorizados, constituem um empalhamento eficaz; - No caso de ataques de térmites, empalhar associando folhas de ním à palha; - Para melhorar diretamente a fertilidade do solo, é útil associar empalhamento e composto líquido, isso permite uma decomposição rápida da palha e o enriquecimento do solo em matéria orgânica; - Os empalhamentos do tipo « prateado » têm um efeito visual repulsivo sobre os insetos (especialmente trips e pulgões). 122 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 O empalhamento permite proteger os solos contra as fortes chuvas (estrutura e fertilidade) ou a dessecação (gestão da humidade). Para permitir a difusão desta prática, é necessário determinar no local o material disponível apropriado e adaptar a espessura do empalhamento às condições climáticas. PARA IR MAIS LONGE: Ficha: Composto líquido (p. 91) Ficha: Princípios dos Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157) Ficha: Plantas de cobertura (p. 159) para o meio ambiente (risco de contaminação da água e do solo, redução da biodiversidade,...); - Perigo para a saúde humana provocado pelas manipulações e pelo consumo dos produtos tratados; - Aumento dos encargos da exploração a curto e longo prazo de forma crescente. O que leva a privilegiar a luta integrada, onde os produtos químicos de síntese são utilizados apenas como último recurso. Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Implementar um conjunto de medidas fundamentadas, visando limitar os riscos fitossanitários sobre as culturas; » Limitar o uso dos pesticidas químicos de síntese; » Limitar as despesas de insumos privilegiando ações naturais e preventivas. Condições de implementação: » Conhecer as pragas e doenças; » Conhecer os princípios da luta integrada; » Conhecer os modos de preparação e dispor da matéria prima para a fabricação de biopesticidas. Luta Luta biológica e A luta integrada associa o conjunto dos meios de luta disponíveis para Agronómica tratamentos naturais proteger as culturas contra os seus inimigos. Existem diferentes métodos de luta: - A luta agronómica privilegia o uso das práticas agrícolas preventivas (utilização de matéria orgânica, manutenção das culturas,...); - A luta física usa armadilhas, cercas, técnicas de afugentamento ou recolha manual; - A luta biológica introduz predadores ou parasitas das pragas, plantas Luta Luta repulsivas ou que funcionam como armadilhas; Química Física - A luta baseada em tratamentos naturais utiliza biopesticidas, geralmente de contato; - A luta química utiliza pesticidas de síntese, de contato ou sistémicos. A luta integrada visa manter as populações de pragas em níveis suficientemente baixos para que não causem prejuízos económicos. Privilegia métodos preventivos para prevenir a aparição dos inimigos das culturas e recorre aos métodos curativos para combater uma praga quando provoca grandes danos. 2 / Os sistemas de produção - Perigo Princípio Método 1-A luta agronómica Implementar boas práticas culturais para prevenir a chegada ou a disseminação das pragas e doenças. Utilizar sementes e plantas de qualidade - Escolher variedades resistentes ou tolerantes, desde que sejam adaptadas às condições agroecológicas da zona de produção; - Procurar sementes ou plantas de qualidade compradas num fornecedor credenciado ou produzidas respeitando os critérios de escolha e o modo de conservação das sementes; Ninho de formigas arborícolas - Para as sementes locais, cultura de tomate desinfetar com água quente (50°C) antes da sementeira, para eliminar certas pragas nas sementes. 3 / As práticas O uso abusivo dos pesticidas químicos de síntese origina os seguintes problemas: 1 / Os fundamentos Luta integrada Horticultura Gafanhoto AS PRÁTICAS / Horticultura / Luta integrada 123 Fazer viveiros para produzir plantas sãs e vigorosas Cuidar das culturas para evitar as contaminações e os riscos de propagação - Escolher um local arejado, protegido contra a exposição direta ao sol, - - mas sem ser completamente sombreado; Afastar os viveiros das culturas em fase final de ciclo e dos pomares; Efetuar uma fertilização orgânica e desinfetar o substrato (água fervida: 10 l/m²); Implementar medidas de proteção contra as pragas: rede de mosquiteiro contra os insetos, sobrelevação do substrato até 1 m contra as pragas do solo, filme plástico contra as intempéries; Respeitar as densidades de sementeira, fazer o desbaste quando necessário; Transplantar apenas as plantas vigorosas e destruir as plantas fracas que sobram, de forma a não atrair as pragas e doenças; Mudar a terra para cada novo viveiro. Preparar o meio de cultivo para aumentar o vigor das plantas - Fornecer uma adubação orgânica de fundo bem preparada (estrume curtido, composto); - Preparar o terreno: lavoura, amontoa, destorramento, drenagem, conforme terreno e as necessidades das culturas; o - Respeitar as densidades para evitar a concorrência entre plantas; - Empalhar as parcelas para limitar o desenvolvimento das infestantes, favorecer a vida biológica e manter a humidade no solo; Adubação de fundo - Prever rede para sombrear as culturas sensíveis ao sol e às chuvas fortes. Canteiro hortícola empalhado 124 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 - Sachar, mondar, regar sem excesso, empalhar, efetuar uma adubação de manutenção,...; - Durante os amanhos culturais, evitar ferir as raízes ou as folhas; - Arrancar as plantas atacadas e queimá-las; - Não molhar a folhagem das culturas sensíveis (ex.: tomate, alface); - Mondar regularmente as parcelas e ao seu Monda redor, e enterrar os restos vegetais; - No fim da produção, arrancar a cultura, e enterrar ou queimar os restos infestados para evitar a propagação das pragas e doenças. Valorizar a diversidade das culturas e as suas complementariedades no espaço e no tempo - Respeitar as regras das rotações de culturas; - Fazer as boas associações de culturas para uma boa gestão do espaço e das pragas e doenças. Respeitar as estações do ano e as boas práticas culturais - Semear ou plantar uma cultura sensível a uma praga ou doença de forma que a fase crítica do seu desenvolvimento esteja fora dos períodos de proliferação da praga ou doença. Ex.: plantar o tomate de forma que não seja em plena fase de produção nos períodos mais quentes e secos (períodos propícios aos ácaros). - Adaptar as práticas culturais às estações. Ex.: para as culturas hortícolas, cultivar em terrenos drenados e amontoar os canteiros, ou cultivar em camalhões na época quente e húmida para evitar os excessos de água propícios às doenças fúngicas. Monda no início da campanha agrícola Composto 4-A luta com base em tratamentos fitossanitários naturais Estas barreiras físicas podem ser: - uma cerca (sebe ou rede) para proteger a horta contra os animais soltos; - uma sebe viva entre as parcelas para limitar a contaminação das pragas, há de anotar que algumas essências contidas nas plantas têm propriedades repulsivas (ex. Tephrosia contra pulgões); - armadilhas para capturar (armadilha com cerveja contra caracóis, ratoeira,...), destabilizar ou apanhar as pragas (armadilhas com feromonas), afugentar as pragas (cinzas contra os moluscos, espantalho contra as aves,...); - uma recolha das pragas (caracóis, gafanhotos, lagartas,...), eliminá-las antes da infestação. 3-A luta biológica Manter um nível de predadores suficiente para controlar a população das pragas. - Conhecer as pragas e os auxiliares (predadores ou parasitas); - Não tratar com pesticidas de síntese de largo espectro que podem aumentar a vulnerabilidade da parcela; - Multiplicar os locais de hábitat para a fauna silvestre (caixas de nidificação, charcos,...) para favorecer a biodiversidade na horta, e assim o equilíbrio entre as populações. Para estes métodos serem mais eficazes, recomenda-se trabalhar a nível do «terroir». Eliminar as pragas e doenças utilizando biopesticidas. 2 tipos de produtos existem: - os produtos repulsivos que permitem afastar as pragas; - os produtos que eliminam as pragas por contato direto. 1 / Os fundamentos Implementar barreiras físicas e armadilhas para impedir a invasão da cultura pelas pragas e a sua disseminação. Foto ao lado: pulverização de uma mistura alho, gengibre e malagueta para combater o trips numa parcela de chalota (Sri Lanka). 5-A luta química com base em pesticidas de síntese Eliminar as pragas e doenças utilizando pesticidas químicos de síntese. 2 / Os sistemas de produção 2-A luta física Da mesma forma que para os tratamentos naturais, existem 2 tipos de pesticidas químicos de síntese: - os produtos repulsivos que permitem afastar as pragas; - os produtos que eliminam as pragas, seja por contato direto (pesticidas de contato), seja quando estas pragas consomem a planta que já absorveu o produto (pesticidas sistémicos). NOTA A utilização dos pesticidas de síntese justifica-se apenas quando existir um risco elevado de perder a produção: deve ser considerada apenas como último recurso, caso uma praga ou doença se desenvolver apesar de todas as medidas preventivas e curativas naturais. Para um uso racional dos pesticidas de síntese: - consultar a legislação para utlizar apenas os produtos autorizados; - escolher os produtos que tenham uma ação seletiva, menos efeitos secundários 3 / As práticas sobre o meio ambiente e que sejam menos tóxicos para a saúde humana; - fazer alternância dos princípios ativos e dos modos de ação; - atuar no momento em que a praga esteja mais vulnerável ao pesticida; - respeitar rigorosamente as precauções de utilização dos pesticidas Armadilha para caracóis Espantalho (equipamento adaptado e em condição, proteção, intervalo de segurança antes da colheita,...). AS PRÁTICAS / Horticultura / Luta integrada 125 Vantagens e desvantagens Técnicas Protege as culturas; Propõe várias práticas e técnicas complementares; Adapta-se em função das matérias primas disponíveis; Requer um bom conhecimento das pragas e doenças, assim como dos métodos de luta adaptados. Económicas Oferece uma melhor garantia para a colheita; Limita o uso de pesticidas químicos de síntese (custosos); Requer uma boa observação da parcela para que uma infestação seja eliminada antes de acabar com a cultura. Ambientais Privilegia os equilíbrios naturais; Favorece a biodiversidade. Parcela hortícola onde se pratica a luta integrada, Camboja O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR... Na sua estratégia de proteção das culturas, o produtor deve recorrer a diversos métodos: físico, agronómico, biológico,... O uso dos pesticidas químicos de síntese apenas deve ser privilegiado em último recurso. Um ambiente de cultivo sã e culturas robustas limitam os riscos fitossanitários. A preservação dos equilíbrios naturais deve permitir manter um nível de perda aceitável, muitas vezes mais rentável do que o uso desenfreado de pesticidas químicos. PARA IR MAIS LONGE: Perímetro hortícola onde se pratica a luta integrada, RDC 126 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Sucessões culturais (p. 111) Ficha: Associações de culturas (p. 117) Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127) Tratamentos fitossanitários naturais Horticultura 1 / Os fundamentos Princípio Os tratamentos fitossanitários naturais, utilizam substâncias ativas obtidas a partir de preparações com base em plantas ou outros minerais, tais como os produtos cúpricos ou enxofrados (calda bordalesa), as cinzas,... Estas preparações podem agir de diferentes formas: - repulsão: pelo seu cheiro ou pela sua presença, os produtos formam uma barreira que afasta os parasitas, ex.: solução insetifuga, aplicação de cinzas,...; - inibição da reprodução: algumas matérias ativas influem sobre a reprodução das pragas, impedindo assim a sua proliferação, ex.: feromonas (armadilhas), extratos de cravos (inibidor direto da reprodução), óleo de ním (inibidor do desenvolvimento e do crescimento de certos insetos); - erradicação: a solução mata os parasitas, ex: soluções fungicidas, inseticidas,...; 2 / Os sistemas de produção Na natureza, certas plantas ou minerais têm a capacidade de repelir ou eliminar parasitas, graças às moleculas naturais que contêm. O produtor pode utilizâ-las para preparar soluções chamadas « biopesticidas ». Estes biopesticidas apresentam vantagens em relação aos produtos químicos de síntese. Com efeito, as matérias ativas industriais, utilizadas pela fabricação dos produtos fitossanitários, muitas vezes são nocivas para o meio ambiente e para o Homem, sendo tóxicas e dificilmente degradáveis. Por outro lado, a importância dos custos ligados ao uso destes produtos de síntese, pode reduzir fortemente a rentabilidade das culturas. Muitas vezes, o produtor não pode proteger as suas culturas pela falta de recursos financeiros. - emissão de bio-fumigantes (ácidos orgânicos voláteis) provenientes da decomposição da matéria orgânica, ex.: folhas de moringa, estrume,... Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » » » » Chromolaena Papaieira Ním Limitar os ataques parasitários nas culturas; Reduzir os custos em insumos químicos de síntese; Limitar os riscos sobre o meio ambiente e o Homem; Preservar os equilíbrios naturais entre as populações (as pragas e os seus inimigos). 3 / As práticas Condições de implementação: » Saber identificar as pragas e as doenças; » Conhecer as plantas e os minerais, os seus efeitos e os seus modos de utilização; » Dispor do equipamento (recipiente, pilão e almofariz, faca, pulverizador,...). Lemon grass, Manjericão Malagueta AS PRÁTICAS / Horticultura / Tratamentos fitossanitários naturais 127 Exemplos de plantas e do seu uso como tratamento natural Plantas Parte utilizada Pragas e doenças Efeito Preparação Aplicação Pilar finamente 1 kg de folhas frescas Misturar dentro de 10 litros de água Acrescentar argila na solução para diminuir Papaieira Folha Oídio Ferrugem Fungicida o mau cheiro Colocar a mistura numa vasilha e tapá-la deixando uma abertura para permitir a entrada do ar Agitar todos os dias Depois de 15 dias de fermentação, filtrar e utilizar diretamente sem diluir Secar e pilar quando o fruto estiver bem seco Colocar 2 colheres de pó dentro de 10 litros de água e deixar macerar durante 12 h 2 litros da mistura e acrescentar 4 litros de água com sabão previamente preparada Recuperar Malagueta Fruto Afídeos ou pulgões Inseticida Esfarelar Tabaco Folha, caule Pulgões, lagartas, ácaros Vírus do enrolamento das folhas do pimentão Insetifuga Inseticida Fungicida Acaricida Arroz Farelo Oídio das cucurbitáceas Fungicida Manjericão Folha e caule Insetos e fungos em geral Inseticida Fungicida Moringa oleifera Folha Fungos (podridão das sementeiras no viveiro) Fungicida AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Como preventivo: Aplicar 1 mês antes da proliferação prevista do inseto Repetir o tratamento a cada 10 em 10 dias Aplicar à razão de 0,6 litro para 10 m² Como curativo: Aplicar à razão de 1,2 litros para 10 m² Repetir regularmente até o desaparecimento dos insetos 1 kg de folhas secas e colocar o pó obtido dentro de um saquinho Mergulhar o saquinho dentro de 9 litros de água, tapar o recipiente e deixar macerar durante 24h Ralar um pedaço de sabão branco e colocar 2 pitadas (3 dedos) dentro de 1 litro de água, agitar bem Depois de 24 h, agitar, expremer fortemente o saquinho encima do recipiente Retirar o saquinho e filtrar a decocção Acrescentar o litro de água com sabão com o filtrado Aplicar Medir 1/3 de litro de farelo de arroz muito Misturar com 10 litros de água Deixar macerar durante 6 horas Filtrar e utilizar diretamente sem diluir Como preventivo: Aplicar 2 vezes por semana à razão de 1 litro para 10 m² fino Colocar 128 Como preventivo: Aplicar cada 15 dias à razão de 1 litro para 10 m² Como curativo: Aplicar logo depois da aparição dos síntomas Aplicar cada semana à razão de 2 litros para 10 m² a solução com o pulverizador ou com ajuda de um ramo Tratar as culturas com a solução obtida (0,1 litro para 10 m²) Para uma boa eficácia, o tratamento deve ser repetido regularmente (duração da eficácia de 5 dias) 200 g de folhas dentro de 1 litro de água durante uma noite, triturar as folhas e filtrar Acrescentar 1 ml de sabão líquido previamente preparado e misturar bem Como preventivo: Pulverizar o macerado + água com sabão à razão de 3 litros para 10 m² Incorporar Como preventivo: Incorporar 1 kg/m² de viveiro viveiros as folhas frescas nas covas ou nos Efeito Preparação Aplicação e pilar os dentes de alho bem secos Deixar macerar 2 colheres de pó dentro de 10 litros de água durante 12 h Misturar 2 litros da preparação com 4 litros de água com sabão previamente preparada Como preventivo: Aplicar 1 mês antes da proliferação prevista do inseto Repetir o tratamento a cada 10 em 10 dias Aplicar na parcela à razão de 0,6 litro para 10 m² Como curativo: Aplicar à razão de 1,2 litros para 10 m² Repetir regularmente até o desaparecimento dos insetos Secar Alho Bulbo Afídeos ou pulgões Insetifuga Picar Chromolaena Lemon grass Planta inteira Planta inteira Nemátodos do solo Bactérias em geral Nematicida Bactericida preventivo Folha Diferentes insetos pragas: Muito eficaz contra as lagartas e as larvas dos coleópteros (Agrotis), as moscas minadoras, os gafanhotos e as cigarrinhas. Ním Fruto Diferentes insetos pragas: Muito eficaz contra as lagartas e as larvas dos coleópteros (Agrotis), as moscas minadoras, os gafanhotos e as cigarrinhas. Inseticida Palmeira Inflorescência macho Ácaros tetranicos Acaricida Ním Inseticida as folhas e as raízes e incorporálas ao composto sólido Picar o sistema radicular e incorporá-lo ao composto líquido Cf. Ficha sobre o composto p 81 Triturar cerca de 50 g de folhas de Lemon grass, deixar macerar durante alguns minutos dentro de 2 litros de água quente Filtrar Como preventivo: Pulverizar o macerado + água com sabão à razão de 3 litros para 10 m² Pilar 3 Deixar kg de folhas com um almofariz macerar dentro de 10 litros de água durante 6 à 12 horas até a água se tornar verde Filtrar e expremer Acrescentar água com sabão para completar a mistura até 30 litros Como preventivo: 2 técnicas para combater a infestação dos insetos no solo com a folha de ním não macerada: Utilizar como adubo verde incorporando as folhas no solo ou debaixo dos canteiros de viveiros; Utilizar como matéria verde incorporando as folhas no composto. Como curativo: Pulverizar a mistura ním macerado + água com sabão à razão de 3 litros para 10 m², o período de eficácia do produto é de 6 a 10 dias Pilar ligeiramente os frutos frescos para retirar a casca e secar no sol durante alguns dias Retirar a casca que sobrar e pilar os caroços para transformá-los em pó Utilizar sob forma de pó ou continuar a preparação Colocar 1/3 de litro de pó a macerar dentro de 10 litros de água durante 12 horas Filtrar Em pó: Misturar 1 medida de pó com 4 medidas de cinzas finas de madeira Polvilhar sobre as plantas aproveitando do orvalho da manhã para fixar o pó Aplicar a preparação sobre 100 m² Em líquido: Pulverizar à razão de 1 litro para 10 m² Queimar Como curativo: Polvilhar em caso de ataque de ácaro tetranico as inflorescências machos de palmeiras AS PRÁTICAS / Horticultura / Tratamentos fitossanitários naturais 129 1 / Os fundamentos Pragas e doenças 2 / Os sistemas de produção Parte utilizada 3 / As práticas Plantas Vantagens e desvantagens Técnicas Representam soluções eficazes em termos de tratamentos preventivos como curativos, conforme as plantas ou os minerais utilizados nas preparações; De fácil realização com recursos locais; Propõe numerosas possibilidades de tratamento; Requer um conhecimento das plantas e dos minerais, e das suas propriedades; Necessita geralmente de várias aplicações sucessivas; Às vezes pode ser menos eficaz que os tratamentos fitossanitários de síntese. Económicas Representa custos reduzidos (materiais disponíveis localmente). Ambientais É pouco nefasto para o ambiente; Mantém os equilíbrios entre populações antagonistas e pragas; Representa um risco de poluição ligado à toxicidade de certas matérias ativas (nicotina do tabaco). Preparação de tratamento com ním Preparação de tratamento com ním Jarro contendo biopesticidas Ataques de ácaros vermelhos sobre beringela Beterrabas de boa qualidade Alface de boa qualidade O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Os tratamentos fitossanitários naturais, utilizam matérias ativas geralmente pouco tóxicas. Requerem muitas vezes várias aplicações para controlar uma invasão de praga sem, contudo, devastar a fauna natural na sua globalidade. A sua eficácia é verificada e são mais baratos para os produtores que podem preferir preparações com matérias primas existentes localmente. Oferecem uma alternativa interessante frente às dificuldades de abastecimento em insumos químicos de síntese e permitem diminuir de forma significativa os encargos de exploração. Estas práticas preservam o meio ambiente e a saúde humana. Apesar de serem naturais, a aplicação dos biopesticidas deve respeitar as mesmas precauções que no caso do uso dos pesticidas químicos de síntese. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Luta integrada (p. 123) 130 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Viveiro em bolsas Fruticultura Água Planta Paisagem Método 1-A escolha da localização do viveiro O local de instalação do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deve tomar em conta a maioria dos seguintes critérios: Critérios de seleção Proximidade de uma fonte de água necessidades de implantação de pomares ou de criação de “bocage”; » Desenvolver eventualmente uma atividade de viveirista. Condições de implementação: Justificativa Facilitar a rega Facilitar a gestão do espaço Evitar as perdas ligadas a uma inundação Proximidade do hábitat doméstico Facilitar a vigilância e a manutenção do viveiro Acessibilidade Facilitar Facilitar o abastecimento do viveiro em terra, areia, composto,... o escoamento da produção Objetivos: » Produzir mudas frutíferas sãs e vigorosas para as 1 / Os fundamentos O viveiro em bolsas consiste em produzir mudas frutíferas em bolsas ou sacos de plástico para facilitar a manutenção, o transporte e a plantação das mudas. Estas mudas serão utilizadas diretamente (pés francos) ou depois de enxertia. Terreno plano e não inundável Efeitos: Solo Princípio Proteção contra o sol 2 / Os sistemas de produção A produção de mudas frutíferas, sãs e robustas, é a primeira etapa chave do sucesso de um pomar. O domínio do viveiro em bolsas é importante para qualquer produtor desejando produzir por ele mesmo as árvores que pretende plantar ou os porta-enxertos que pretende utilizar. Permite também desenvolver uma atividade remuneradora de viveirista, atividade que pode ser associada ou não com outra atividade agrícola. Esta prática do viveiro em bolsas é implementada no âmbito dos programas da AGRISUD, mais particularmente no Niger, em Madagáscar e no Camboja. Evitar a dessecação, o consumo excessivo de água e o estresse hídrico das mudas 2-A preparação do sítio - Limpar: eliminar as infestantes e nivelar o terreno; - Proteger: assegurar a proteção do sítio contra os animais e o vento (cerca, sebe viva, sebe morta); - Proteger contra o excesso de insolação: cobertura natural (sombra das árvores) ou artificial (estrutura de sombreamento). sementes de qualidade prontas para plantação (produção de pés-francos e porta-enxertos) ou de garfos (produção de plantas enxertadas); » Dispor das ferramentas necessárias à implementação do viveiro (bolsas, regador, carrinho de mão, pá, peneira); » Dispor de materiais para assegurar a proteção das mudas (cerca,...). Produção de plantas no Níger 3 / As práticas » Dispor de um terreno protegido com acesso à água; » Dispor de areia, composto ou estrume curtido, e Produção de plantas no Níger AS PRÁTICAS / Fruticultura / Viveiro em bolsas 131 3-A preparação dos canteiros 5-O enchimento das bolsas Os canteiros do viveiro podem ser preparados da seguinte forma: As bolsas devem ser: - 1 m de largura por 3 a 6 m de comprimento para facilitar a manutenção; - opacas para proteger as raízes do sol; - ligeiramente cavados (5 a 10 cm) para conservar a humidade e para garantir a - perfuradas na sua parte inferior (6 a 8 furos) para não reter a água em excesso; estabilidade das bolsas que favorece depois o bom porte das mudas; - dispostos por forma que a largura dos canteiros seja frente ao vento dominante para evitar a secagem das mudas. Para facilitar o acesso às plantas, deixar um espaço de 50 cm a 1 m entre os canteiros: 0.5 m - adaptadas ao tipo de mudas a produzir (forma e tamanho). Para garantir o bom porte da bolsa e reduzir as perdas durante o seu transporte antes da transplantação: - Encher completamente as bolsas uma por uma; - Evitar dobragens a nível do plástico; - Compactar de vez em quando, durante o enchimento, para ter homogeneidade em todo o volume da bolsa. 6-A disposição 1m Para otimizar o espaço e facilitar as contagens, um canteiro contém em geral 500 a 1.000 bolsas eretas, apertadas umas contra as outras e bem alinhadas. 7-A rega Regar as bolsas até a sementeira, a terra deve estar húmida mas sem ser encharcada. É útil fazer empalhamento do fundo e das partes laterais do canteiro para proteger as mudas assim como os espaços entre os canteiros, para impedir o crescimento das infestantes. 4-A preparação do substrato O substrato deve ser homogêneo (bem misturado) e de composição fina. Componente Proporção Propriedades Areia bem peneirada 2/3 do substrato Estrutura ligeira do substrato Drenagem da água Estrume ou composto bem curtido 1/3 do substrato Retenção da humidade e dos elementos nutritivos Deixar o substrato 2 a 3 dias na sombra e humedecê-lo regularmente até o enchimento das bolsas. 132 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Viveiro de citrinos debaixo de sombra 8-A sementeira 9-A manutenção do viveiro Antes de semear, o viveirista deverá dispor de sementes de boa qualidade, prontas para germinar. - Rega: 2 vezes por dia (manhã e fim da tarde) à razão de 2 regadores de A profundidade da sementeira é determinada pelo tamanho das sementes: 7 litros para cada cem bolsas. Para não danificar as mudas, utilizar um chuveiro de regador com perfurações finas. Exemplos Sementes pequenas (diâmetro inferior a 0,5 cm) 3 a 4 sementes enterradas por bolsa a 1 cm no meio da bolsa Goiabeiras, romeiras, citrinos Sementes grossas (diâmetro superior a 0,5 cm 1 semente por bolsa (na vertical, parte oca por baixo a 3 cm de profundidade) Mangueiras, safus, abacateiras Depois da sementeira, encher as covas e regar abundantemente com regador equipado com chuveiro. NOTA Evitar realizar sementeiras na época fria, porque o frio limita o bom desenvolvimento e o crescimento das mudas. humidade e proteção dos brotos jovens). Retirar a palha logo que a plantinha atingir a altura de 1 cm. - Monda: mondar as bolsas e os espaços entre os canteiros para evitar a invasão pelas infestantes. - Desbaste: eliminar as plantas em excesso e conservar apenas uma planta vigorosa no centro da bolsa. Em alguns casos, as plantas desbastadas podem ser utilizadas para encher as bolsas em que a germinação não funcionou. - Sacha: raspar logo que necessário a terra na superfície das bolsas para evitar a formação de uma crosta impermeável e permitir a infiltração da água. 2 / Os sistemas de produção Técnica 1 / Os fundamentos - Empalhamento: empalhar as bolsas antes da emergência (conservação da Tipo de sementes - Poda radicular: levantar as bolsas cada 15 em 15 dias (logo que as raízes sairem da bolsa) para evitar o enraizamento das bolsas no solo. Se as raízes tiverem perfurado o plástico, cortá-las com uma lâmina bem afiada. - Poda aérea: podar as mudas que desenvolveram ramos em excesso. - Agrupamento das mudas por tamanho e vigor, para evitar que o desenvolvimento das mudas mais fracas seja afetado pela concorrência para a luz da parte das mudas mais vigorosas. A técnica dos germinadores para mangueiras: Para alguns tipos de sementes com casca dura, tais como as mangueiras, cuja capacidade de conservação é fraca (a amêndoa é rapidamente degradada por oxidação), a técnica dos germinadores permite conservar a semente e ter brotos jovens até depois do período das mangas. NOTA O viveiro em bolsas pode também ser utilizado para produzir mudas enxertadas. As mudas podem neste caso ser diretamente utilizadas (ex. da aroeira-mansa, fotos abaixo) ou enxertadas (ex. da videira). O germinador é um pequeno canteiro de 1 a 2 m2, de 10 a 15 cm de profundidade e instalado na sombra. 3 / As práticas Depois da despolpagem, as amêndoas são colocadas (verticalmente, parte oca por baixo) em camadas finas e depois cobertas por uma camada de 3 cm de areia branca. Da mesma forma como para o resto do viveiro, é preciso regar os germinadores regularmente para conservar a sua humidade. Logo que as plantas apresentarem brotos de 1 a 2 cm, transplantá-las nas bolsas. Também é possível deixá-las crescerem um pouco mais e transplantá-las na terra no “estado castanho/moreno” (cor castanhadourada das folhas – 40 dias). AS PRÁTICAS / Fruticultura / Viveiro em bolsas 133 10-A enxertia A enxertia permite a uma árvore aproveitar as qualidades complementares de outra árvore, sendo as duas árvores de variedades diferentes, mas da mesma família. Esta técnica é geralmente utilizada para associar resistência e produtividade de duas plantas: - o porta-enxerto (ou cavalo): variedade robusta, resistente e adaptada ao meio, vai receber a enxertia. Deve medir pelo menos 50 cm (diâmetro de um lápis), e ter 7 a 8 meses de idade; - o garfo (ou enxerto): parte jovem (raminho, gema vegetativa) de uma árvore reconhecida pela qualidade e pelo tamanho dos seus frutos. É geralmente recolhido numa árvore já enxertada chamada “porta-enxerto”. Retirada da casca Ligadura do garfo Exemplo da enxertia das mangueiras Etapa 1: A recolha do garfo O garfo é um pedaço de ramo com a gema terminal mais madura possível, sem brotação. Este garfo é recolhido sobre o porta-enxerto (mangueira enxertada), o seu tamanho é de 10 a 12 cm. As folhas do garfo são suprimidas. Corte de um ramo jovem Poda do enxerto Ramo parcialmente descascado Etapa 1 Etapa 2: A enxertia A técnica é chamada « enxertia por fenda simples », porta-enxerto e garfo são unidos um com o outro e atados. - Aparar o porta-enxerto e o garfo: retirar a casca com cerca de 10 cm de comprimento no lugar onde os dois pedaços serão unidos (cuidado para não cavar a madeira); - Cortar a parte basal do garfo em forma de cunha e encaixá-la na parte basal do porta-enxerto terminada por uma lingueta (porção de casca descolada na sua parte superior); - Unir as duas partes descascadas, com a cunha dentro da lingueta, e gemas para cima; - Cobrir completamente o enxerto e a região da enxertia com ajuda de uma fita plástica apertada, não deverá haver entrada de ar; - Regar diariamente e abundamente o porta-enxerto Poda e retirada parcial da casca do sujeito Colocação do enxerto Manutenção: - 15 dias depois da enxertia: retirar o plástico a nível do garfo unicamente para permitir o crescimento do garfo, amarrar por baixo; - A 20 dias: se o garfo desenvolver, a enxertia pegou; - Depois do crescimento do garfo: eliminar os rebentos do “porta-enxerto” por cima do garfo para permitir o seu desenvolvimento. 134 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ligadura Etapa 2 Exemplo da enxertia dos citrinos Retirar uma vareta (ramo terminal maduro) com vários olhos ou borbulhas (gemas vegetativas). Cortar as folhas e a parte apical terminal. A partir desta vareta, cada borbulha será retirada para a realização de uma enxertia. Corte do enxerto Corte dos espinhos 1 / Os fundamentos Etapa 1: A recolha do garfo Corte das borbulhas Etapa 1 Etapa 2: A enxertia Incisão da casca Abertura da incisão na casca 2 / Os sistemas de produção Corte da parte que vai receber a borbulha A enxertia é chamada « por borbulha », porta-enxerto e borbulha (ou gema) são unidos um com o outro e amarrados. - Cortar o porta-enxerto a 30 cm do solo; Introdução da borbulha - Efetuar uma incisão em forma de T na casca do ramo receptor no terço superior; - Descolar a casca para fazer duas linguetas na parte superior do T; - Introduzir cuidadosamente a borbulha contra a madeira entre as duas linguetas; Ligadura - Unir as linguetas para conter a borbulha deixando uma abertura para Fechamento da casca permitir o seu crescimento; - Amarrar o enxerto com ajuda de uma fita plástica, de baixo para cima, a gema não deve ser amarrada completamente; Etapa 2 - Regar diariamente e abundamente o porta-enxerto. NOTA - Podar a planta para que apenas o garfo se desenvolva; - 10 dias depois da enxertia: se a borbulha desenvolver, a enxertia pegou. O produtor deve conhecer o modo de produção das árvores frutíferas que selecionou. Os safus, romeiras e goiabeiras são árvores de tipo “pésfrancos”: as novas plantas provêm de sementeiras e não de enxertias como é o caso para mangueiras, citrinos ou macieiras. AS PRÁTICAS / Fruticultura / Viveiro em bolsas 3 / As práticas Manutenção: 135 Vantagens e desvantagens Técnicas Produção de pés-francos de fácil domínio; Requer equipamentos; Técnicas de enxertia mais difíceis de dominar. Económicas Necessita poucos investimentos se a escolha do terreno respeitar os critérios de seleção; Pode ser uma fonte de rendimentos adicionais (atividade de viveirista associada à atividade de produção frutífera); Realizável tanto em pequena escala (atividade secundária) como em grande escala (atividade principal); Representa lucros importantes graças à venda das mudas de fruteiras, sobretudo se forem enxertadas; Requer investimentos se os critérios de escolha do terreno não forem reunidos; Necessita investir dinheiro ou tempo para a construção de uma cerca. Ambientais Contribui para a reflorestação, criação de pomares, e reconstituição da cobertura vegetal e de “bocage”,... NOTA O viveiro em bolsas pode também ser aplicado para a produção de mudas florestais. As mudas podem neste caso ser utilizadas para arborizar as parcelas ou reflorestar as zonas desnudas. Viveiro para mudas frutíferas O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR O respeito dos critérios de seleção para a implementação de um viveiro é fundamental e não deve ser ignorado. A organização espacial permite trabalhar corretamente e otimizar os tempos de trabalhos. A boa preparação do substrato e o bom enchimento das bolsas permitem ao produtor produzir mudas vigorosas e sãs. Uma vez realizada a sementeira, é a manutenção regular que permite ao produtor produzir mudas de boa qualidade e respeitar as suas encomendas. A poda radicular é uma operação de manutenção necessária para evitar que as mudas se enraizem no solo (o que levaria a ferí-las imediatamente antes da transplantação, comprometendo portanto a recuperação da planta). A enxertia permite obter árvores com produção de boa qualidade e adequada às expetativas dos consumidores (escolha das boas variedades). PARA IR MAIS LONGE Mudas de pimenta rosa num viveiro 136 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Compostagem (p. 81) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) (p. 93) Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) (p. 145) O cultivo de árvores frutíferas constitui uma oportunidade económica para os produtores. Pode ser realizado com ou sem associação com culturas irrigadas ou pluviais debaixo de pomares. Princípio Em ambos os casos, a etapa da plantação é da maior importância para garantir o sucesso do cultivo. Trata-se de garantir às mudas frutíferas um bom desenvolvimento e assegurar uma produção rápida e de qualidade. Método As árvores frutíferas podem ser cultivadas em zonas planas ou com uma fraca inclinação (<10%). Os solos devem ser férteis, permeáveis e bem drenados para evitar as inundações prolongadas. Efeitos: - desbravar tanto quanto possível o terreno, tomando cuidado para preservar a camada superficial do solo 1 / Os fundamentos Plantação de árvores frutíferas Fruticultura A plantação de árvores frutíferas deve responder a um certo número de critérios para garantir o sucesso técnico e otimizar o espaço. O produtor prestará uma atenção especial às seguintes etapas: a escolha e a preparação do terreno, as densidades, a abertura das covas e a plantação das mudas frutíferas. 1-A escolha e a preparação do terreno Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Obter árvores vigorosas e resistentes; » Assegurar uma boa produção frutífera e das culturas subjacentes, se for o caso; » Limitar os tratamentos fitossanitários; » Contribuir para a valorização da paisagem. 2 / Os sistemas de produção Antes de realizar a plantação, é necessário: e eventualmente as espécies vegetais raras que não entram em concorrência com as árvores frutíferas; - preparar o terreno conforme as suas caraterísticas: nas planícies inundáveis ou terrenos hidromórficos, criar camalhões e canais de drenagem suficientemente profundos para drenar uma camada de solo suficiente (a terra retirada dos canais pode servir para a construção dos camalhões), nos terrenos muito inclinados, construir terraços (cf. esquemas abaixo); - instalar quebra-ventos à volta do pomar se necessário. Estruturação do espaço em terrenos muito inclinados Estruturação do espaço em zonas inundáveis ou hidromórficas Condições de implementação: » Ser proprietário de um terreno com uma superfície que permite as plantações (respeito das densidades); » Dispor de uma fonte de água; » Dispor de plantas adaptadas ao tipo de solo; » Dispor das ferramentas necessárias (pá, picareta, soltos; » Prever, caso for necessário, uma proteção das árvores contra o vento (sebe quebra-vento). 3 / As práticas enxada, regador); » Dispor de composto ou estrume curtido e de palhas; » Prever uma proteção das mudas contra os animais NOTA É imperativo dispor de uma fonte de água suficiente para satisfazer a necessidade de água das árvores frutíferas durante os 2 primeiros anos depois da plantação. Em geral, as árvores frutíferas jovens são plantadas no início da estação chuvosa para que aproveitem das precipitações de forma a superar a “crise da transplantação”. AS PRÁTICAS / Fruticultura / Plantação de árvores frutíferas 137 2-As densidades A densidade depende das espécies e variedades cultivadas e dos sistemas de cultivo escolhidos. No caso em que não há cultivo debaixo do pomar, as árvores frutíferas podem ser relativamente próximas umas das outras: - Árvores com desenvolvimento limitado (citrinos, 3,5m goiabeiras, graviolas, romeiras): 4 m na linha x 4m interlinha de 3,5 m; - Árvores com desenvolvimento importante 6m (mangueiras, lichias, abacateiros, safus): 7 m na 7m linha x interlinha de 6 m. A plantação em quincôncio permite otimizar o espaço. Etapas da abertura das covas: Etapa 1: Cavar a parte superficial do solo e colocá-la num lado (1/3 da altura). Etapa 2: Cavar a parte inferior e colocar a terra no outro lado (2/3 restantes). Deixar a cova ao sol durante 7 a 10 dias. OBSERVAÇÕES: Para os pomares em associação com culturas subjacentes, prever distâncias entre árvores superiores, no mínimo de 1,5 vez às distâncias para os pomares sem cultura subjacente. Isso facilita os trabalhos e favorece a insolação das culturas. Uma orientação Leste-Oeste das linhas de plantação é geralmente recomendada para preservar uma insolação suficiente das culturas subjacentes. 3-A abertura das covas A abertura das covas deve ser realizada, cerca de um mês antes da plantação, respeitando as densidades (cf. Esquema ao lado). As dimensões das covas dependem das espécies e variedades cultivadas: - 0,8 m x 0,8 m x 0,8 m = 0,5 m3 para as árvores com desenvolvimento limitado; - 1 m x 1 m x 1 m = 1 m3 para as árvores com desenvolvimento importante. Etapa 3: Fertilizar a terra superficial, fazer correção da terra do fundo. - Pequenas covas (0,5mx0,5mx0,5m): 5 kg de composto e 2,5 kg de estrume; - Grandes covas (0,8mx0,8mx0,8m): 15 kg de composto e 7,5 kg de estrume. Em caso de presença importante de térmites, incorporar folhas de ním, fruto de ním pilado, cinzas… às diferentes camadas da mistura. Mistura composto + terra arável Mistura folhas de leguminosas murchas + estrume com palha + terra do subsolo 30 cm Etapa 4: Encher a cova colocando a terra da superfície no último e criando um camalhão de 25 cm a 30 cm de altura e uma caldeira de plantação. Mélange compost Etapa 5: Regar abundantemente e empalhar o camalhão. Plantação de pessegueiros e ameixeiras no Sul de Marrocos 138 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Esperar 2 a 3 semanas antes de realizar a plantação de forma a permitir que os elementos fertilizantes continuem a sua decomposição sem risco para a jovem planta (elevação da temperatura do estrume). Regar regularmente durante este período caso as chuvas forem escassas. 4-A plantação 1 / Os fundamentos Etapa 1: Reduzir a superfície foliar da planta, cortando a terceira parte terminal das folhas bem desenvolvidas na parte inferior da planta, para diminuir a transpiração (dessecação) enquanto a planta está a desenvolver o seu sistema radicular. Etapa 2: Afastar o empalhamento e abrir uma cova no centro do camalhão de 10 a 15 cm de profundidade. Empalhamento Rega 2 / Os sistemas de produção Etapa 3: - Cortar a bolsa plástica com uma lâmina afiada mantendo o torrão de terra a nível das raízes; - Colocar a planta na terra até o colo (para as árvores enxertadas, assegurar-se que a enxertia fique bem fora do solo). Colo a nível do solo Etapa 4: Comprimir o solo e fazer uma caldeira dupla ligeiramente levantada ao pé da planta para facilitar a rega. Etapa 5: Proteger a planta: - Empalhar a caldeira para limitar a evaporação (8 cm de espessura no mínimo); contra o vento; - Se o pomar não estiver cercado, proteger a planta para evitar que os animais soltos a possam estragar (esteira, ramos com espinhos…). Etapa 6: Regar abundantemente enchendo a caldeira. NOTA Plantar de preferência durante a estação chuvosa nas horas menos quentes, no final da tarde. 3 / As práticas - Colocar um tutor se necessário para a proteger NOTA Depois da plantação, não esquecer de recuperar as bolsas de plástico na parcela AS PRÁTICAS / Fruticultura / Plantação de árvores frutíferas 139 Vantagens e desvantagens Técnicas Favorece o bom desenvolvimento das árvores frutíferas; Permite uma frutificação precoce (uma boa plantação permite ganhar pelo menos um ano para a frutificação); Respeitar as normas de densidade o que cria um ambiente sã (redução da pressão parasitária) e permite implantar culturas subjacentes; Requer trabalhos anti-erosivos das fortes vertentes ou uma drenagem das zonas hidromórficas e inundáveis. Económicas Garante uma produção precoce e de qualidade; Requer uma quantidade importante de matéria orgânica; Mobiliza uma mão-de-obra importante para cavar os buracos. Ambientais Valoriza o espaço e os recursos disponíveis pela associação fruticultura / culturas subjacentes; Permite a arborização e o desenvolvimento de “bocage”. Instalação de um pomar, Madagáscar O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A preparação do solo e a manutenção regular das plantas jovens permitem ao produtor obter árvores bem desenvolvidas e, consequentemente, uma produção rápida e de boa qualidade. Do mesmo modo, o recurso hídrico deve ser gerido de forma eficiente: as árvores frutíferas precisam de água durante os períodos secos, especialmente nos primeiros anos, mas são sensíveis às inundações prolongadas e ao encharcamento dos solos. PARA IR MAIS LONGE Plantação de citrinos e culturas hortícolas, Madagáscar 140 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Empalhamento (p. 121) Fichas: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”) (p. 93) / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) (p. 145) Ficha: Viveiro em bolsas (p. 131) Manutenção do pomar Fruticultura Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Garantir o bom desenvolvimento das árvores e 1 / Os fundamentos Os trabalhos de manutenção dos pomares devem ser adaptados tanto à estação quanto à fase de desenvolvimento das árvores, para garantir uma produção durável de frutos em quantidade, qualidade e regularidade. Princípio Os trabalhos de manutenção do pomar ajudam as árvores frutíferas a ter um bom desenvolvimento, e ser vigorosas. Tornam as árvores menos sensíveis às pressões das pragas e das doenças e portanto, garantem uma melhor produção de frutos. Podemos distinguir 4 tipos de trabalhos de manutenção: a monda, a irrigação, a adubação e a poda. Método 1-A monda As infestantes (ervas daninhas) entram em concorrência com as plantações em termos de mobilização da água e dos elementos nutritivos e constituem um abrigo propício à proliferação das pragas. Portanto, podem provocar uma queda nos rendimentos e uma diminuição da qualidade dos produtos. 2 / Os sistemas de produção A boa condução de uma plantação de árvores frutíferas é uma garantia para ter uma boa produção e uma longevidade importante do pomar. Uma monda regular deve ser realizada: - debaixo das árvores: empalhar os camalhões e eliminar as infestantes que crescem através do empalhamento; - entre as árvores (na ausência de cultura subjacente): cortar manual ou mecanicamente sem arrancar as infestantes (manutenção de uma cobertura controlada). consequentemente, uma produção regular de frutos em quantidade e qualidade; » Garantir a longevidade do pomar; » Limitar a pressão fitossanitária; » Limitar os encargos de exploração ligados aos tratamentos fitossanitários. Condições de implementação: » Dispor das ferramentas necessárias à realização dos Monda debaixo de oliveiras e palmeiras-tamareiras, Sul de Marrocos NOTA 3 / As práticas trabalhos de manutenção (tesoura de poda, serra, escada, enxada, pulverizador); » Dispor de palhas, composto e estrume curtido; » Dispor de látex para cicatrizar as feridas em caso de poda. Os resíduos da monda servem para empalhar as árvores e as culturas associadas ou são levados para a composteira. Se for escolhido manter o pomar relvado, preferir introduzir plantas de cobertura úteis à manutenção da fertilidade dos solos, e que ao mesmo tempo servem para a realização do empalhamento (Arachis pintoï, Stylosanthes, Brachiária, luzerna…). AS PRÁTICAS / Fruticultura / Manutenção do pomar 141 2-A irrigação 3-A adubação orgânica de manutenção As árvores frutíferas têm necessidades importantes de água quando são jovens e durante os períodos secos prolongados. Para satisfazer estas necessidades, sem desperdiciar o recurso hídrico, é aconselhado: - mondar e sachar para aumentar a infiltração da água no solo (exceto se plantas de cobertura permanente forem implantadas); - empalhar a base das árvores para conservar a humidade do solo; - incorporar regularmente matéria orgânica (composto ou estrume curtido) para melhorar a retenção de água no solo. A adubação de manutenção é realizada em três períodos distintos: 2 meses antes da floração, 15 dias depois da floração e 75 dias depois da floração. Os tipos de adubos variam em função da idade das árvores: - para as árvores jovens, fornecimento de composto, complementos azotados e potássicos; - para as árvores mais velhas, fornecimento de composto e complementos fosfo-potássicos. Em todos os casos: - colocar o composto no solo em forma de círculo cujo diâmetro é o mesmo que o da copa da árvore; - realizar uma sacha para incorporar o composto no solo e tornar a terra superficial debaixo da árvore mais solta. A frequência da rega para as plantas jovens varia conforme as estações: - na estação seca, a irrigação é regular, 2 vezes por semana, mas poderá ser reduzida a 1 vez por semana se o produtor aplicar as diferentes práticas acima detalhadas; - na estação chuvosa, uma irrigação de compensação é realizada se as chuvas atrasarem. Em todos os casos, é preciso assegurar-se que não haja estagnação prolongada de água (superior a 3 horas) na base das árvores para evitar o apodrecimento do colo e das raízes, e a limitação do desenvolvimento radicular. Por isso, uma manutenção dos camalhões é aconselhada: empalhamento, criação de uma cova... Para os pomares nas zonas temporariamente inundáveis ou hidromórficas, plantar as árvores jovens encima de camalhões altos (40 a 50 cm) para mantê-las fora da água. NOTA A associação horticultura / fruticultura garante às árvores frutíferas uma boa disponibilidade de água e de fertilizantes que são fornecidos às culturas hortícolas. É possível associar o uso de composto líquido para regar o empalhamento na base das árvores. 4-A poda das árvores O porte da árvore determina a sua produção. A poda, que determina o porte, representa portanto uma operação necessária. É aconselhado dar à árvore um porte arejado e uma copa larga em vez de denso e em altura. Em regra geral: - desbastar as árvores para deixar penetrar a luz no centro dos ramos; - retirar os ramos atacados; - eliminar os ramos em excesso e os rebentos para limitar o consumo inútil dos elementos nutritivos e reservá-los para a produção dos frutos; - controlar o desenvolvimento aéreo da árvore para facilitar a colheita dos frutos. Poda das árvores jovens não embardadas (1 a 3 anos) - Conservar 3 a 4 ramos a 60/80 cm de altura do solo, selecionar os ramos que crescem para o exterior (futuros ramos principais); - Eliminar sistematicamente os brotos demasiado baixos e os que crescem para o interior da copa; - Se a planta for formada por um caule único, é necessário provocar o Lemon grass debaixo de lichias 142 Abobrinhas debaixo de citrinos AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 desenvolvimento de ramos secundários cortando a extremidade do caule no 2° ano depois da plantação. - A poda de formação realiza-se nas árvores jovens e consiste em modelar o seu aspeto, pode variar consoante o produtor desejar uma árvore de forma livre, em vaso, arbustiva, embardada... - A poda de manutenção mantém o porte definido pelas podas de formação, enquanto permite fazer evoluir a árvore para o seu aspeto definitivo, consiste simplesmente em suprimir os ramos doentes, mortos ou quebrados para limitar a pressão parasitária. OBSERVAÇÕES: Durante a poda, é necessário proteger as feridas mais importantes aplicando um látex protetor. Cada ferida constitui um potencial ponto de entrada de doenças que podem pôr em perigo a planta inteira. 1 / Os fundamentos Diferentes tipos de poda existem conforme a fase de desenvolvimento das árvores frutíferas. As podas praticadas no momento das fases de dormências vegetativas (por exemplo no inverno em Marrocos) provocam feridas que demoram mais tempo para cicatrizar. Portanto, é preciso protegê-las através da aplicação de látex. - A poda de frutificação favorece a frutificação e portanto, desempenha um 2 / Os sistemas de produção papel importante no desenvolvimento das árvores frutíferas e no controlo da produção, esta poda deve ser realizada apenas nas árvores formadas e nunca nas árvores jovens, não é sistemática, especialmente para as árvores com desenvolvimento importante (chamados de forma livre). - A poda de rejuvenescimento pratica-se quando as árvores ou os pomares foram abandonados durante alguns anos, este tipo de poda « severa » consiste em eliminar todos os ramos doentes e em desbastar a árvore eliminando os ramos em excesso ou mal dispostos, paralelamente à uma poda de rejuvenescimento, o solo deve ser trabalhado na base das árvores e uma adubação importante deve ser efetuada. Poda de frutificação Aplicação de látex Poda de rejuvenescimento, Marrocos 3 / As práticas NOTA Numa dinâmica de produção frutífera, o desbaste dos frutos é uma prática importante para garantir colheitas regulares, a produção de frutos sadios e de calibre grande. Permite evitar uma sobreprodução de frutos de calibre pequeno, limita a quebra dos ramos devido ao peso dos frutos, e evita os ataques das doenças e das pragas nos frutos. AS PRÁTICAS / Fruticultura / Manutenção do pomar 143 Vantagens e desvantagens Técnicas Garante uma melhor proteção do pomar; Limita as pressões das pragas e doenças; Favorece a conservação da humidade, valoriza os fornecimentos de adubos às culturas (reciclagem dos elementos lixiviados pelas árvores frutíferas) e a manutenção do pomar graças à associação culturas subjacentes / árvores frutíferas; Requer um domínio da prática suficiente, especialmente para fazer a poda. Económicas Garante uma melhor produção; Reduz os custos em produtos fitossanitários; Necessita uma adubação importante em matéria orgânica. Ambientais Garante a perenidade dos pomares e portanto, mantém o papel da árvore na paisagem a longo prazo; Limita a degradação dos solos (erosão, alteração da estrutura, lixiviação) graças a uma cobertura permanente (pomares com solos enrelvados ou cultivados). Amendoeiras, Sul de Marrocos O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Depois da plantação, a manutenção regular das plantas permite otimizar o desenvolvimento das árvores e portanto, obter uma produção de boa qualidade. Uma poda bem feita (copa arejada, eliminação dos ramos parasitados ou mortos...) limita os riscos de doenças e ataques de pragas. Tem um papel determinante a nível do estado sanitário do pomar, assim como da futura produção (precocidade, qualidade e quantidade). É também importante manter uma cobertura permanente dos solos debaixo dos pomares: enrelvamento regularmente cortado, associação com culturas subjacentes ou plantas de cobertura. PARA IR MAIS LONGE Pomar e culturas, Índia 144 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Composto líquido (p. 91) Ficha: Empalhamento (p. 121) Ficha: Plantação de árvores frutíferas (p. 137) Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Criar um ambiente favorável às culturas (humidade, » » » » sombra, diversidade); Diversificar a produção; Limitar os estragos causados pelo vento e/ou pelos animais em divagação (sebes de proteção e quebraventos); Reciclar os elementos minerais lixiviados; Produzir biomassa valorizável na exploração agrícola. 1 / Os fundamentos Princípio A implantação de arbustos e árvores em forma de sebes vivas, ou de forma dispersa, permite criar um “bocage” favorável ao desenvolvimento das culturas. As sebes vivas e as árvores tem um efeito ao mesmo tempo: - protetor: protegem as culturas dos estragos causados pelo vento e/ou pelos animais em divagação; - regulador: pela sua sombra e pelo efeito de quebra-vento, participam na conservação da humidade nos solos e de uma melhor higrometria na estação seca e na estação das chuvas, o seu sistema radicular profundo permite uma subida das águas subterrâneas; 2 / Os sistemas de produção A criação de um “bocage” é uma técnica de agrofloresta que consiste em plantar arbustos e árvores em volta e dentro das parcelas cultivadas para criar um efeito de “bocage”. Segundo a sua densidade, a sua disposição e a sua natureza, estes limitam a insolação e o vento, o que favorece a conservação da humidade no solo e a criação de um microclima favorável às culturas. O sistema radicular destas plantações permite a absorção e a reciclagem dos elementos minerais que migraram para as camadas profundas do solo. A biomassa produzida pode também ser valorizada para a fertilização orgânica e o empalhamento. Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) - enriquecedor: graças à produção de biomassa, as árvores, e mais particularmente as leguminosas (fornecimento de azoto), participam no ciclo da matéria orgânica de forma direta (decomposição da cama das folhas) ou indireta (compostagem), ainda o seu sistema radicular permite a aeração do solo (propriedades estruturantes das árvores tais como as acácias) e a reciclagem dos elementos minerais lixiviados nas camadas profundas do solo; - económico: quer sejam florestais ou frutíferas, os produtos e os subprodutos das árvores, podem ser valorizados pelo autoconsumo ou pela sua comercialização (frutos, lenha ou madeira de construção…). A criação de um “bocage” permite um aumento significativo da produtividade dos espaços cultivados (número de ciclos anuais, diversidade e associação de culturas) e permite uma intensificação durável dos sistemas agrícolas sem colocar em perigo os recursos naturais mobilizados. Zonas Exemplos de espécies utilizáveis Zona seca Acacia senegal, Prosopis africana, Parkinsonia aculeata, Calotropis procera, Agave sisalana (sisal), Azadirachta indica (ním), Jatropha curcas Zona húmida Crotalaria grahamiana, Cajanus cajan, Acacia dealbata, Dodonaea Madagáscariensis, Glyricidia sepium, Leucaena leucocephala, Sesbania rostrata, Tephrosia candida, Flemingia congesta, Acacia mangium e auriculiformis Condições de implementação: » Ser proprietário do terreno e dispor de uma fonte de água próxima; » Dispor de plantas, estacas ou sementes, privilegiando as variedades locais de qualidade; » Dispor de ferramentas (pá ou enxada, material de rega) e de materiais para a proteção das plantinhas. “Bocage”, Sri Lanka AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) 3 / As práticas Culturas alimentares pluviais 145 Método A sebe quebra-vento As sebes são alinhamentos de arbustos ou árvores em bordura de parcelas ou como divisórias de parcelas com grandes dimensões. Quebra-vento permeável 1-Os diferentes tipos de sebes - A sebe quebra-vento é perpendicular ao vento dominante, serve para Vento “quebrar” os ventos dominantes para proteger as culturas. Ex. de espécies: Jatropha, Acacia, Azadirachta (Ním), Parkinsonia, Tephrosia... a ser plantadas em associação. Um quebra-vento protege uma cultura atrás da sebe numa distância de aproximadamente 10 a 20 vezes a sua altura (ou seja, 20 a 40 metros para uma sebe de 2 metros de altura). Não há danos a nível das culturas Quebra-vento impermeável - A sebe de proteção é muitas vezes plantada em complemento de barreiras (arame farpado, redes), é constituída por espinhosos ou espécies geralmente não apetecíveis pelos animais em divagação e serve para impedir a entrada dos animais nas parcelas. Ex. de espécies: Eufórbia, Acácia, Prosopis, Jujuba, Cacto, Sisal... O quebra-vento é permeável ao vento: o fluxo de ar que atravessa a sebe protege as culturas das rajadas que passam por cima da sebe. O quebra-vento é impermeável ao vento: as rajadas passam por cima da sebe e descem por trás em turbilhões. Vento - A sebe de produção de biomassa é geralmente plantada na proximidade das parcelas, é regularmente podada e os restos da poda servem para a fabricação do composto ou a realização de empalhamento. Ex. de espécies: Acacia mangium e auriculiformis, Tephrosia, Leucæna, Flemingia... - A sebe anti-erosiva é plantada a nível dos taludes ou dos diques e terraços, permite fixar as obras, reter o solo e favorecer a infiltração da água. Exemplo de plantação de sebes em terrenos inclinados: 40 a 50 m Sebes vivas a nível dos taludes anti-erosivos O número de plantas depende do tipo de árvores, da sua função e da poda efetuada sobre as árvores. ALGUNS DADOS INDICATIVOS As sebes de proteção são plantadas em periferia das parcelas. As sebes de produção Parcela NOTA Um quebra-vento muito denso, impermeável, provoca danos sobre as culturas (criação de turbilhões). 146 Cada tipo de sebe tem funções diferentes que podem ser complementares. O produtor pode associar diferentes tipos de sebes e realizar uma sebe mista « multi-função ». 2-O dimensionamento 40 a 50 m 1 m de desnível Danos a nível das culturas AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 de biomassa são plantadas ao longo das parcelas de cultivo. Elas devem ser densas, com 2 a 3 plantas por ml. Plantar as mudas à razão de 1 planta cada metro sobre 2 filas em quincôncio. Estas duas linhas devem ter um espaçamento de 0,8 m. Os quebra-ventos são plantados em linhas simples ou em filas duplas. O espaçamento das árvores é geralmente mais elevado que para as sebes de proteção (1 planta por m²). Quando tem uma fila dupla, plantar as linhas em quincôncio com um espaço entre as linhas de 1,5 m. NOTA As sebes podem ser instaladas: - por sementeira direta (covas distantes de 50 cm a 1 m em função do uso da sebe). Ex: Moringa, Acacia mangium e auriculiformis, Leucaena; - por estaca (ex: Glyricidia); - por transplantação. As parcelas de cultivo pluvial não sendo irrigadas, é importante escolher espécies frutíferas adaptadas às condições climáticas (resistência aos períodos de seca). 4-A manutenção - Replantar depois de um mês ou no inicio da estação chuvosa do ano seguinte. A experiência demostra que um certo número de plantas morrem durante o primeiro ano, é então necessário proceder à replantação. - Podar as árvores em função do porte desejado para a planta: 5-As associações Para além do simples fato de plantar sebes, o produtor pode tirar benefício das complementaridades entre as culturas e as árvores. A densidade de plantação das árvores não deverá prejudicar as culturas. As árvores aproveitam da fertilização fornecida às culturas subjacentes, de uma humidade constante graças à irrigação, à monda regular dos canteiros e da sacha do solo (manutenção). As culturas subjacentes aproveitam dos efeitos reguladores e fertilizador das árvores: sombra, cama de folhas, reciclagem da água e dos elementos lixiviados. 2 / Os sistemas de produção As sebes são implantadas no início da estação chuvosa (depois de uma boa chuva), para permitir um bom desenvolvimento da planta antes do período seco. Para as plantas transplantadas: - Abrir buracos cerca de 30 cm x 30 cm x 30 cm (em função do desenvolvimento futuro da planta); - Plantar a planta guardando o colo a nível do solo. Em zona seca, deixar uma cova que permite a recolha das águas de chuva e a conservação da humidade no solo. Em zona húmida, plantar com camalhão (cova em cima do camalhão); - Regar, em caso de fraca pluviometria, é necessário fornecer água pelo menos uma vez por semana (2 vezes durante as primeiras semanas). Desta forma, as plantas serão capazes de resistir a seca; - Proteger as plantinhas que não estão ao abrigo dos animais em divagação (ramos, redes, esteiras…). 1 / Os fundamentos 3-A instalação das sebes e dos quebra-ventos - Associação fruticultura e culturas anuais ou semi-perenes: as árvores frutíferas ou as filas de árvores são instaladas com espaçamentos que permitem a prática de culturas intercalares. As culturas hortícolas e frutícolas indicadas são o amendoim, a batata doce, a bananeira e o ananás... Regras da associação: - Deixar um espaço suficiente entre as culturas intercalares e filas de árvores; - Implantar filas de árvores de leste para oeste (insolação das culturas); - Aumentar os espaçamentos das filas de árvores em relação a um pomar sem associação de culturas, se a associação for prolongada a longo prazo; Trabalhos de poda Sebe viva de proteção Arbustivo Cortar regularmente as plantas a 1,2 – 1,5 m de altura Quebra-vento de proteção Grande Cortar os ramos em excesso para preservar uma permeabilidade ao vento de 40% (apreciação visual) Sebe de produção de biomassa Arbustivo Cortar regularmente as plantas a 1 1,2 m de altura As podas de manutenção são geralmente realizadas no início da estação chuvosa. Mas para a produção de biomassa e a proteção do sítio, é necessário realizar podas regulares em função do desenvolvimento da sebe. - Agrofloresta: termo genérico para qualificar as associações entre árvores, arbustos e culturas associadas. As árvores e arbustos podem ser implantados em volta da parcela (divisória) ou em linha preservando faixas de culturas. Nos solos inclinados, as linhas de plantação das árvores seguem as curvas de nível. A largura aconselhada das faixas de culturas é no mínimo de 10 metros. Regras da associação: - Não plantar árvores de forma muito densa e preferir espécies com sistema 3 / As práticas Tipos de sebes Porte caraterístico radicular pivotante: Acacia, Leucaena...; - Podar para não perturbar as culturas (sombra) ou as operações culturais (raízes e ramos). Os resíduos da poda podem servir de lenha, de tutores…; - Implantar as linhas de árvores de leste para oeste (insolação das culturas). AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) 147 Vantagens e desvantagens Técnicas Conserva a água no solo e protege a planta (reduz a evapotranspiração); Protege contra o vento e os animais; Fornece matéria vegetal para o empalhamento ou o composto; Cria um microclima propício às culturas; Permite a reciclagem dos minerais lixiviados; Favorece a aeração e melhora a vida microbiana do solo; Requer um tempo de implementação relativamente longo (1 a 2 estações); Requer uma manutenção regular; Prática consumidora de espaço; Necessita de ser proprietário fundiário. Económicas Cultivo em faixas, Gabão Limita a renovação das cercas e as degradações dos animais (sebes vivas de proteção); Fornece recursos variados (frutos, madeira, biopesticidas...); Permite o alongamento dos períodos de cultivo e melhora os rendimentos; Permite economias de rega (pela redução da evapotranspiração); Representa um custo se as plantas devem ser compradas; Requer uma mão-de-obra importante (plantação, rega das plantinhas, poda). Ambientais Restaura a cobertura vegetal; Protege contra a erosão hídrica e eólica; Limita os cortes abusivos de árvores; Melhora a biodiversidade (fauna e flora). O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A plantação de árvores e sebes vivas nas parcelas melhora nitidamente as condições de cultivo (melhoria dos solos, reciclagem da água e dos elementos minerais, micro-clima favorável) e permite uma diversificação das produções (madeira, frutos…). Depois da sua plantação, a proteção e a rega de compensação permitem as plantinhas fixarem no solo rapidamente e duravelmente. É necessário cuidar destas árvores para que possam garantir as suas funções: proteção das culturas, fornecimento de biomassa… As árvores frutíferas aproveitam dos cuidados fornecidos pelo produtor às culturas subjacentes. No entanto, é necessário organizar o espaço para garantir que com o tempo, as árvores não entrem em concorrência com as culturas pluviais. A associação entre culturas pluviais e árvores frutíferas permite uma melhor valorização da parcela. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Viveiro em bolsas (p. 131) Ficha: Plantação de árvores frutíferas (p. 137) Parcela de ananás protegida por árvores, Sri Lanka 148 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Manutenção do pomar (p. 141) Culturas alimentares pluviais Esta prática limita a erosão repartindo o escoamento, reduzindo a sua velocidade e favorecendo a infiltração da água no solo. Ela foi implementada essencialmente no quadro dos programas da AGRISUD em Madagáscar e em República Democrática do Congo. Efeitos: Solo Agua Planta Paisagem Objetivos: » Lutar contra a erosão dos solos inclinados; » Melhorar a infiltração da água nos solos e diminuir a velocidade dos escoamentos superficiais; » Melhorar as condições de cultivo e então, os rendimentos. 1 / Os fundamentos É então necessário saber traçar curvas de nível para fazer as sementeiras e as plantações seguindo as curvas de nível em terrenos pouco inclinados. Princípio Nos locais com fraco declive, inferior a 10%, o cultivo em curvas de nível é aconselhável para favorecer a infiltração da água nos solos e limitar os efeitos do escoamento superficial (arrastamento da camada superior do solo e tranporte para as zonas baixas e os vales, criação de ravinas). A prática consiste em realizar trabalhos culturais e a sementeira, não no sentido da inclinação, mas ao longo de curvas de nível previamente traçadas. Em terrenos com declive superior a 10%, os trabalhos culturais em curvas de nível devem ser associados como outras medidas (cf. Ficha: Culturas em terraços p 153). Método A curva de nível é uma linha imaginária ou materializada segundo uma altitude constante: ela é horizontal . O traçado de uma curva de nível necessita de um instrumento chamado “nível”. Quando não é possivel fazer intervir um topógrafo, o triângulo em A, fácíl de confecionar, pode ser utilizado. Revisão sobre o « triângulo em A »: - O A é simétrico; - X1 = X2 = 2 m; x1 x2 - Y1 = Y2 = 1 m; - O fio de prumo indica a medida do Fio de prumo desnível entre os dois pés do A; Graduação 30 20 10 0 10 20 30 - A graduação deve ser escalonada em função do espaçamento dos pés Y1 Y2 do « A ». 2 / Os sistemas de produção Os problemas de erosão encontrados nos terrenos inclinados são principalmente devidos aos escoamentos de água nos terrenos nus. Trabalhando o solo e implantando as culturas no sentido da inclinação, o agricultor aumenta o fenômeno. Cultivo em curvas de nível - A graduação: 30CM 25CM 20CM 15CM 10CM 5CM 0 5CM 10CM 15CM 20CM 25CM 30CM Condições de implementação: superior a 10%; Encostas cultivadas Vale rizícola 3 / As práticas » Dispor de um terreno em que a inclinação não seja » Dispor de um triângulo em A e estacas; » Dispor de sementes ou estacas prontas a serem plantadas; » Dispor de composto ou de estrume curtido. Zonas de cultivo, Madagáscar AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Cultivo em curvas de nível 149 1-O traçado de uma curva de nível 2-A instalação das culturas em curvas de nível Antes de realizar o traçado, é importante garantir que o declive do terreno seja inferior a 10%. - Desbravar a parcela a ser instalada, reservando a camada superior do solo e eventualmente as espécies vegetais raras; - Na parte superior da parcela, traçar uma primeira curva plantando estacas nos pontos com mesma altitude (se a parcela for muito grande, marcar somente 1 ponto em cada 2 ou 3 pontos). Estes pontos são obtidos com a ajuda do nível, fazendo sucessivamente pivotar uma perna sobre a outra como o esquema em baixo indicado. O fio de prumo indica o ponto de horizontalidade do nível. - Uma vez a primeira linha traçada, medir 1 m de desnível no sentido do declive e recomeçar o traçado das curvas de 1 em 1 m, e isso até a parte inferior da parcela (se a parcela tiver uma fraca inclinação, <5%, desenhar as curvas de 0,5 em 0,5 m de desnível). 30 20 10 0 10 30 20 30 10 20 10 0 30 20 Sentido da vertente Uma vez as curvas de nível implantadas perpendicularmente à inclinação: - Colocar-se entre duas curvas de nível e abrir sulcos paralelos a estas “curvas mestras” (elas servem para guardar o alinhamento). Os espaçamentos entre os sulcos correspondem aos espaçamentos clássicos entre linhas para sementeiras ou plantações em terrenos não inclinados; - realizar as sementeiras em covas com fornecimento de matéria orgânica e colocar as covas em quincôncio conservando os espaçamentos clássicos entre filas e entre plantas de uma mesma fila em terrenos não inclinados; - ou efetuar a sementeira em linha depois de ter colocado a matéria organica nos sulcos; - em caso de implantação de estacas (mandioca por exemplo), respeitar os espaçamentos utilizados em terrenos não inclinados. Curvas mestras 1 m de desnível Sulcos de sementeira ou plantação 1 m de desnível Sentido da vertente NOTA A irregularidade do terreno pode provocar uma irregularidade muito importante da curva de nível que deve ser corrigida tomando em conta o aspeto geral. Sem esta correção, as operações culturais serão mais difíceis e sobretudo, os escoamentos superficiais que devem ser reduzidos pelas obras anti-erosivas serão mal repartidos. Linha definitiva depois da correção 150 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Estacas Ilustração da traçagem de curvas de nível, RD do Congo Ilustração de más e boas praticas em Madagáscar: Erosão dos solos Ravinas Culturas no sentido da inclinação 1 / Os fundamentos Valas mal posicionadas Culturas em curvas de nível Vantagens e desvantagens 2 / Os sistemas de produção Técnicas Prática simples de ser aplicada (construção e utilização fácil do nível em A); Representa um trabalho às vezes difícil para os produtores que não têm o hábito; Prática que não pode ser utilizada para os solos em que o declive é superior a 10%. Colonização de encostas sem adoção de boas práticas em Madagáscar O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Económicas Tem um fraco custo de realização; Preserva o potencial produtivo do solo. Ambientais Luta contra a erosão do solo com fraco declive; Contribui para a preservação a longo prazo do recurso “solo”; Luta contra o assoreamento das zonas baixas. Os produtores têm tendência em semear no sentido da inclinação e construir canais de evacuação das águas paralelos à inclinação. Estas práticas aumentam os fenônemos da erosão e ameaçam o potencial agrícola dos terrenos, incluindo os com fraco declive. Para lutar contra a erosão dos solos pouco inclinados (<10%), é importante instalar as culturas perpendicularmente ao sentido da inclinação, alinhando-se sobre as curvas de nível previamente implantadas. Para os terrenos com maior declive, as curvas de nível servirão para a construção dos terraços de culturas. PARA IR MAIS LONGE 3 / As práticas Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Ficha: Culturas em terraços (p. 153) Culturas em curvas de nível, RD do Congo Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) (p. 145) AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Cultivo em curvas de nível 151 152 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Culturas alimentares pluviais A construção de terraços limita a erosão repartindo o escoamento, reduzindo a velocidade e favorecendo a infiltração da água no solo. Esta prática foi essencialmente implementada no quadro dos programas da AGRISUD em Madagáscar, na Índia, no Sri Lanka e em RD do Congo. 1 / Os fundamentos Nos terrenos com forte declive (>10% e <25%), estes problemas de erosão são principalmente devidos aos escoamentos superficiais da água. Princípio A prática consiste em construir taludes ao longo das curvas de nível (cf. Ficha: Cultivo em curvas de nível p. 149). A erosão progressiva das encostas, retida pelo sistema de taludes, e a sua alteração progressiva pelo trabalho do solo, deve conduzir à formação de terraços. Com o tempo estes terraços permitem limitar os riscos de erosão do solo. 1. Traçagem das curvas de nível com intervalo de 1 m de desnível 2. Construção vegetalização dos taludes e 3. Diminuição progressiva do declive com os trabalhos culturais 2 / Os sistemas de produção Na valorização de um terreno inclinado, o produtor deve garantir a perenidade da sua atividade tomando em conta o risco da erosão do solo. Culturas em terraços 1m 1m Efeitos: Solo Agua Planta Paisagem Objetivos: » Limitar a erosão das parcelas inclinadas; » Preservar a qualidade do solo; » Limitar os riscos de destruição das culturas. Condições de implementação: » Dispor de um terreno em que o declive esteja entre Terraços de culturas pluviais 3 / As práticas 10 e 25%; » Ter materializado previamente as curvas de nível com um intervalo de 1 m de desnível; » Dispor de um arado ou de uma ferramenta equivalente; » Dispor de material vegetal de fixação pronto para a implantação (Pennisetum, Vetiver, Tephrosia, Cassia…). Zonas de cultivo, Madagáscar AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Culturas em terraços 153 Método NOTA 1-A instalação dos taludes Enquanto o desenvolvimento das plantas fixadoras não permite uma estabilização efetiva do talude e uma boa infiltração das águas de escoamento, a realização de valas de dissipação a jusante do talude, permite recuperar a água e a terra carregada nas valas e de repartir de novo as águas de escoamento. Confeção das valas de dissipação: na base do talude e em função da curva de nível, cavar uma vala de dissipação de 50 cm de largura x 30 cm de profundidade. - Criar linhas de paragem de lavoura elevando camalhões segundo as curvas de nível materializadas pelas estacas. A constituição dos camalhões faz-se em 2 etapas: - montagem grosseira dos camalhões com arado; - acabamento manual estando sempre atento em fazer subir a terra da jusante para a montante (constituição de pequenos taludes). - Vegetalizar os taludes com plantas “fixadoras”. As plantas usuais são Sentido da vertente e dos escoamentos superficiais Talude ao longo das curvas de nível Vegetalização m geralmente gramíneas vivazes com enraizamento robusto e profundo (Vetiver, Brachiaria, Pennisetum...) ou arbustos muito densos (Tephrosia, Flemingia, Leucæna, Cassia…): - preparar o material vegetal (quebra da dormência para as sementes, preparação das moitas de vetiver, preparação das estacas de Pennisetum…); - instalar as plantas fixadoras a nível dos taludes. Vetiver Métodos de plantação Em quincôncio a 20 cm x 20 cm Brachiária Sementeira em dupla linha: espaçamento entre linhas de 20 cm, entre plantas de 5 cm Pennisetum Uma linha de cada lado do camalhão: espaçamento de 50 cm na linha Leguminosas arbustivas Sementeira em linha sobre o camalhão: 5 cm sobre a linha Vala de dissipação acompanhando as curvas de nível 0,3 Espécies 2m 0,5m 2-A constituição dos terraços - Efetuar uma lavoura pouco profunda pouco tempo antes da estação das chuvas seguindo as curvas de nível; - Revolver a terra para a jusante de forma a reduzir progressivamente a inclinação ao longo das lavouras sucessivas. Para isto, utilizar de preferência um arado reversível; - Limitar a lavoura a 20 cm da vala de dissipação do talude situada na montante. Planta de vetiver 154 Cultura de batata comum - Kivu do Norte AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Terraços e plantação de vetiver Vantagens e desvantagens Esquematização da realização de uma lavoura em terreno inclinado: Técnicas Técnica simples de aplicar; Talude 1 / Os fundamentos m Realizável com materiais disponíveis localmente; 0,3 Necessita tempo (confeção progressiva dos terraços). 2m 0,5m Económicas Vala de dissipação Sentido da progressão do trabalho da lavoura: de baixo para cima Aumenta a permanência das culturas em zonas inclinadas; Sentido da inclinação Sentido da lavoura Mobiliza uma mão-de-obra importante para a traçagem das curvas de nível e a construção dos taludes. Ambientais Reduz a erosão dos solos nas parcelas com forte inclinação; Melhora a infiltração da água no solo (recarga do lençol freático). 2 / Os sistemas de produção m Terra despejada para jusante 0,3 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR 2m 0,5m NOTA As obras segundo o grau de inclinação A construção dos taludes e dos terraços permite limitar a erosão dos solos inclinados. Permite a exploração durável dos terrenos agrícolas com fortes inclinações. Nesta prática, é primordial fixar os taludes vegetalizando-os e trabalhar paralelamente às curvas de nível. Para preparar encostas com inclinação de 10 a 15%, podem ser planeados terraços vegetalizados. Para os terrenos com forte inclinação (>15%), o método é o mesmo mas trata-se de terraços planos onde: - os taludes que se transformam depois - o grau da inclinação obriga a nivelar imediatamente os terraços por escavação e enchimento. Esta técnica de preparação de terrenos com forte inclinação é exigente em mão-de-obra. Zona de culturas em terraços, Madagáscar 3 / As práticas em terraços, ficam solidamente estabilizados por paredes de pedra seca ou por barreiras vegetais e plantações de arbustos; PARA IR MAIS LONGE Ficha: Cultivo em curvas de nível (p. 149) AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Culturas em terraços 155 156 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Princípio Os SCV reúnem o conjunto dos sistemas de cultivo baseados no princípio fundamental de cobertura permanente do solo. A prática tem um objetivo duplo de proteção e de fertilização. A zona tropical húmida é, basicamente, um meio frágil e rapidamente degradável se os modos de cultivo não forem adaptados, os SCV oferecem uma alternativa concreta a uma agricultura de corte e queima. Esta prática foi principalmente implementada no âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em menor escala, em Madagáscar e no Laos. Na superfície do solo - Proteção contra erosão hídrica e eólica; - Alimentação das culturas por mineralização; - Controlo das infestantes; Ca, Mg, K, P... Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Camas Objetivos: » Limitar a erosão e proteger a estrutura do solo; » Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem dos elementos minerais; » Melhorar as condições de cultivo e por consequente, os rendimentos; » Controlar a infestação das parcelas de cultivo pelas ervas daninhas. 1 / Os fundamentos Os Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) consistem em reproduzir os ecossistemas florestais, onde a produção de cama protege e fertiliza o solo de forma permanente. Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) - Redução da evaporação e regulação térmica. Papel da cobertura vegetal do solo 2 / Os sistemas de produção Culturas alimentares pluviais Dentro do solo - Conservação da estrutura do solo; - Desenvolvimento da vida biológica; - Reciclagem dos elementos minerais; - Melhoria da fertilidade do solo pela produção de húmus. Mineralização Ca, Mg, K, P... A cobertura vegetal pode ser um mulch morto (palhas provenientes de fora da parcela ou da destruição in loco de uma planta de cobertura) ou uma planta viva (planta de cobertura) associada com a cultura principal. Condições de implementação: » Dispor de uma biomassa importante, cultivada e/ Exemplos de plantas produtoras de biomassa: - Brachiária, Mucuna, Stylosanthes, Puerária; - Leguminosas. Malagueta empalhada com palhas provenientes de outra parcela Taro sobre cobertura morta 3 / As práticas ou importada: resíduos de monda e outras plantas silvestres, palhas de cereais, folhas de árvores… Bananeiras sobre cobertura viva de Brachiária AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) 157 Método Vantagens e desvantagens A prática do SCV é diferente conforme os sistemas de cultivo e em função da proveniência e do período de produção da cobertura vegetal. Técnicas Assim sendo, em todos os casos: - o solo deve sempre ser coberto; - o solo não deve ser trabalhado, nem lavrado, ou então minimamente; - a sementeira, a transplantação ou as plantações são efetuadas diretamente dentro da cobertura vegetal, morta ou viva. Cinco sistemas podem ser identificados: - SCV sobre resíduos de colheita e infestantes: a cobertura vegetal é apenas garantida pelos resíduos de colheita e infestantes que cresceram durante o inter-cultivo; - SCV sobre cobertura morta importada: o solo é coberto por palha proveniente de parcelas vizinhas; - SCV sobre cobertura morta produzida in loco: a cobertura morta é produzida em sucessão antes ou depois da cultura principal, por exemplo, cultura de milho sobre Mucuna; - SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas: na mesma parcela, alternam faixas mortas e faixas vivas, as faixas vivas são cortadas e a palha é espalhada sobre as faixas mortas. Por exemplo, plantação de bananeiras sobre faixas mortas alternadas com faixas vivas de Brachiária; - SCV sobre cobertura viva permanente: a planta de cobertura e a cultura principal são conduzidas em associação na mesma parcela. Por exemplo, cultura de palmeiras de óleo ou de heveas sobre Puerária. Protege o solo e limita as infestantes (diminuição do caráter penoso do trabalho); Mantém e melhora a fertilidade do solo, garante rendimentos a longo prazo; Melhora a alimentação hídrica da planta; Permite uma flexibilidade nos calendários de trabalho; Apresenta uma dificuldade para controlar mecanicamente a cobertura vegetal sobre grandes extensões de terrenos em zona quente e húmida. Económicas Estabiliza e mantém a produção; Diminui os custos de produção e aumenta de forma durável os resultados económicos; Necessita um investimento para a instalação e, eventualmente, o controlo das plantas de cobertura. Ambientais Reduz os fenômenos de erosão dos solos; Favorece a fixação do carbono; Reduz a desflorestação limitando as práticas de corte e queima; Provoca um risco de poluição da água e do solo em caso de utilização de herbicidas (o uso de herbicidas naturais está atualmente em fase de pesquisa). O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Os SCV permitem manter e melhorar a produção enquanto protegem o solo, mas a sua implantação requer um investimento adicional em relação aos sistemas ditos « convencionais ». Nestes sistemas, a produção de uma biomassa importante é fundamental. É necessário assegurar-se que o produtor tenha acesso a um ambiente que o permita produzir. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Plantas de cobertura (p. 159) Ficha: SCV sobre cobertura morta (p. 169) Ficha: SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas (p. 165) Mandioca sobre Brachiária 158 Amendoim sobre Mucuna AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Empalhamento (p. 121) Culturas alimentares pluviais Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Limitar a erosão e proteger a estrutura do solo; » Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem dos elementos minerais; » Melhorar as condições de cultivo e por conseguinte, os rendimentos; » Controlar a infestação das parcelas por ervas daninhas. 1 / Os fundamentos Princípio As plantas de cobertura são plantas capazes de produzir uma quantidade importante de biomassa e que dispõem de um sistema radicular capaz de estruturar o solo na profundidade. Conforme as suas especificidades, as plantas de cobertura podem apresentar diferentes interesses: fornecimento de azoto, utilização para a alimentação do gado… Portanto, a escolha das plantas de cobertura não é aleatória. A Brachiária, o Stylosanthes, a Mucuna ou a Puerária são as principais plantas de cobertura utilizadas nos SCV. Método 2 / Os sistemas de produção Os Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) baseam-se no princípio fundamental de cobertura permanente do solo. Esta cobertura pode ser garantida pelas plantas de cobertura, utilizadas mortas (palhas cortadas fora da parcela ou empalhamento proveniente da destruição in loco de uma planta de cobertura) ou vivas, associadas com a cultura principal. A escolha da planta de cobertura não é aleatória. É necessário conhecer as caraterísticas das principais plantas de cobertura para poder controlar a sua implantação e a sua gestão ao longo do tempo. As caraterísticas das plantas apresentadas nesta ficha provêm dos dados obtidos no âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em menor escala, em Madagáscar. Plantas de cobertura 1–A escolha das plantas de cobertura Na escolha das plantas de cobertura devem ser tomados em conta os seguintes elementos determinantes: - as caraterísticas dos solos (pobres ou ricos, compactados ou não); - as caraterísticas da cultura principal: por exemplo, a sua exigência em matéria orgânica (se a cultura for exigente em matéria orgânica, uma planta de cobertura capaz de produzir biomassa rapidamente e em quantidade suficiente será escolhida); - as caraterísticas da planta de cobertura em sí: ciclo anual ou plurianual, capacidade de reproduzir sozinha ou assistida, período de produção de sementes, necessidade do uso de herbicidas em caso de eliminação da planta e velocidade de decomposição da sua biomassa; - o SCV escolhido. NOTA É necessário desbravar o terreno e realizar uma monda manual das infestantes 2 dias antes da sementeira das plantas de cobertura. instalar sistemas SCV com uma duração prevista de 2 a 3 anos; » Ter previamente preparado o terreno (desbravamento, monda); » Conhecer as principais caraterísticas das plantas de cobertura e os princípios das associações de culturas. Brachiária Stylosanthes Mucuna 3 / As práticas Condições de implementação: » Dispor de um terreno de tamanho suficiente para Puerária AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantas de cobertura 159 2-A Brachiaria ruziziensis Programação da cobertura Tratamento das sementes e das estacas Planta com forte potencial para restaurar a - Humedecer as sementes dentro de uma solução de nitrato de potássio (solução fertilidade do solo e para reestruturar um solo degradado. Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in loco ou de um sistema sobre cobertura permanente com faixas alternadas: Vantagens Desenvolvimento rápido (3 a 4 meses) Forte produção de biomassa aérea e subterrânea (20 t de matéria seca aérea por ha e por ano) Fornecimento de azoto médio para a cultura principal (50 a 80 kg por ha) Sistema radicular poderoso capaz de restaurar a macroporosidade, permitindo recuperar os elementos nutritivos lixiviados na profundidade e recarregar o solo em carbono Boa capacidade em conectar-se à água capilária profunda na época seca Forte limitação da erosão dos solos, uma vez a cobertura bem instalada (depois de 4 meses) Planta perene facilitando a gestão da data de ré-início do cultivo assim como a data da sua implantação Ausência de risco de proliferação das sementes não fértis Instalação fácil como cultura intercalar do milho Controlo prolongado das infestantes graças à sua velocidade de decomposição lenta Controla a imperata e as Ciperáceas 160 - Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de precipitações, e o mais cedo possível A Brachiária é uma gramínea muita folhosa, estolonífera, de porte ereto e perene, que se adapta aos solos compactados, pobres e ácidos. É utilizada como planta de cobertura de média e longa duração, como empalhamento ou alimento para o gado. Constrangimentos Dificuldade para produzir a semente de fornecer um complemento de azoto no início do ciclo da cultura principal (relação C/N elevado) Não há fixação de azoto simbiótico como é o caso com as leguminosas Taxa fraca de germinação (inferior a 30%) Tratamento obrigatório das sementes Destruição total difícil por via mecânica (uso de herbicida) Necessidade Mandioca sobre cobertura morta de Brachiária AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 para obter um ciclo de 7 a 12 meses e beneficiar de uma biomassa importante; - Cultura intercalar: no mesmo momento da sementeira do milho (pluviometria limitada) ou 30 dias depois (melhor pluviometria), 60 dias depois da sementeira do quiabo, semear imediatamente depois de uma monda. a 2%) durante 24 horas e depois secar; - Untar as estacas com uma mistura de argila e fósforo (solução a 1,5%). Implantação da cobertura Sementeira: - Cultura isolada: covas distantes de 40 cm x 40 cm; - Cultura intercalar: 2 linhas (como para a cultura isolada) entre 2 linhas de cultura. Para 1 ha, utilizar 3 a 6 kg de sementes, à razão de 8 a 15 sementes por cova (em função do tratamento ou não das sementes), profundidade da sementeira: 1 a 2 cm. Dez dias depois da sementeira, ressemear as covas onde não houve emergência. Propagação por estaca: Espaçamentos idênticos à sementeira, 2 estacas com 3 nós por cova (2 nós enterrados) ou 2 pedaços de moita com 2 perfilhos por cova, para 1 ha, é necessário 125.000 estacas ou pedaços. Plantar novas estacas 15 a 20 dias depois da plantação inicial para substituir as estacas que não pegaram. Manutenção da cobertura Uma monda é aconselhável durante o primeiro mês. Milho sobre cobertura morta de Brachiária produzida in loco Malagueta sobre cobertura permanente em faixas alternadas de Brachiária fertilidade do solo e para reestruturar um solo degradado. Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in loco ou de um sistema sobre cobertura permanente com faixas alternadas: Vantagens Implantação com sementes ou estacas Fornecimento importante de azoto para a cultura principal (100 a 150 kg / ha) perene facilitando a gestão da data de reinício do cultivo, assim como das datas da sua implantação Sistema radicular poderoso capaz de restaurar a macro-porosidade, permitindo recuperar os elementos nutritivos lixiviados na profundidade e recarregar o solo em carbono Excelente adaptação às plantas com tubérculos, graças ao seu sistema radicular criando uma forte macroporosidade Boa capacidade em conectar-se à água capilária profunda na época seca Tolerante à seca, permanece verde durante os 4 meses da época seca Controlo prolongado de infestantes (velocidade de decomposição lenta) Bom controlo da erosão quando apresenta uma cobertura bem instalada (4 meses) Destruição sem herbicida por corte próximo ao solo Planta Constrangimentos Instalação difícil com um crescimento lento no início do ciclo (4 a 6 meses para a sua instalação) Tempo de monda importante durante a fase de instalação Fraca taxa de germinação (< 30%) Tratamento obrigatório das sementes Prazo de conservação das sementes limitado a 1 ano Produção de biomassa aérea e subterrânea média (10 t de matéria seca aérea por ha e por ano) Forte sensibilidade à antracnose, escolha de cultivares resistentes Produção limitada nos solos argilosos Medianamente tolerante à humidade Em sistemas de corte intensivo, lignificação importante dos perfilhos e limitação da duração de vida até 3 ou 4 anos 1 / Os fundamentos Planta com forte potencial para restaurar a Tratamento das sementes e das estacas - Humedecer as sementes 30 min dentro de água a 70°C, depois deixar escorrer e semear; - Untar as estacas com uma mistura de argila e fósforo (fosfato natural, solução a 1,5 %). Implantação da cobertura Sementeira: - Cultura isolada: covas distantes de 40 cm x 40 cm; - Cultura intercalar: 2 linhas (como para a cultura isolada) entre 2 linhas de cultura. Para 1 ha, utilizar 1,5 a 3 kg de sementes, à razão de 5 a 10 sementes por cova (em função do tratamento ou não das sementes), profundidade da sementeira: 1 cm. Dez dias depois da sementeira, ressemear as covas onde não houve emergência. 2 / Os sistemas de produção O Stylosanthes é uma leguminosa perene, de porte ereto ou semi-rasteira e lignificada na base, que se adapta aos solos não argilosos difíceis de cultivar (compactados, pobres e ácidos). É utilizado como planta de cobertura de média e longa duração, como empalhamento ou como alimento para a gado. Programação da cobertura - Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de precipitações, o mais cedo possível para obter um ciclo de 7 a 12 meses e beneficiar de uma biomassa importante; - Cultura intercalar: no mesmo momento da sementeira do milho (pluviometria limitada) ou 30 dias depois (melhor pluviometria), 60 dias depois da sementeira do quiabo, semear imediatamente depois de uma monda. Propagação por estaca: Espaçamentos idênticos à sementeira, 4 estacas com 4 a 5 nós por cova (2 nós enterrados). Para 1 ha, utilizar 250.000 estacas em cultura isolada e 165.000 em cultura intercalar. Plantar de novo 15 a 20 dias depois da plantação inicial para substituir as estacas que não pegaram. Manutenção da cobertura 2 a 3 mondas durante a primeira fase da instalação. 3 / As práticas 3-O Stylosanthes Mandioca sobre cobertura permanente em faixas alternadas de Stylosanthes AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantas de cobertura 161 4-A Mucuna cochinchinensis Programação da cobertura A Mucuna é uma leguminosa anual (ciclo de 6 a 7 meses), rasteira e volúvel que necessita de solos com fertilidade média, bem drenados e pouco compactados. É recomendada como planta de cobertura de curta duração. Planta com forte potencial para manter a fertilidade do meio e para restaurar a fertilidade de um solo « esgotado ». Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in loco ou de um sistema sobre cobertura permanente em faixas alternadas: Vantagens Fornecimento importante de azoto para a cultura principal (150 a 200 kg / ha) Bom controlo da erosão graças à cobertura rápida do solo Cultura anual que pode ser conduzida sem intervenção para a criação da cobertura morta Bem adaptada a todas as culturas em SCV sobre cobertura morta Produção de sementes importante e fácil Poder germinativo elevado Nenhum tratamento das sementes antes da sementeira Bom controlo das infestantes durante a sua instalação e, se a biomassa for suficiente, durante a fase crítica de arranque das culturas Instalação fácil como cultura intercalar do milho Controlo por corte, necessita uma dose limitada de herbicida em caso de necessidade de parar o ciclo Armadilha para nematodos Luta contra a imperata 162 Constrangimentos Planta trepadeira que pode sufocar as culturas na ausência de controlo Desenvolvimento reduzido em solo compactado e com baixa fertilidade Ciclo longo de 6 meses para produzir uma biomassa importante (5 a 7 t de matéria seca por ha) Sensível aos excessos de água Necessita pelos menos 2 meses de época das chuvas para conseguir resistir uma época seca de 4 meses Duração limitada de controlo das infestantes (30 a 45 dias) devido à rápida decomposição Controlo limitado das Ciperáceas Risco de seleção das Ciperáceas e das Commelináceas uma vez restaurada e mantida a fertilidade Sistema radicular pouco profundo, reciclagem limitada dos elementos lixiviados Conservação das sementes em condições normais limitada a 6 meses Destruição total difícil por via mecânica (uso de herbicida) AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 - Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de chuvas, o mais cedo possível para obter um ciclo de 150 a 180 dias em função das precipitações; - Cultura intercalar do milho: 30 dias depois da sementeira do milho, semear logo após uma monda. Tratamento das sementes e das estacas: Nenhum tratamento necessário. Instalação da cobertura Sementeira: - Cultura isolada: 1 semente por cova, distante de 50 cm x 50 cm com uma profundidade de 2 a 4 cm ou 2 sementes por cova distantes de 50 cm x 100 cm com uma profundidade de 2 a 4 cm; - Cultura intercalar: 1 semente por cova, distante de 40 cm numa linha entre 2 filas de milho, com uma profundidade de 2 a 4 cm. Para 1 ha, é preciso 30 a 40 kg de sementes. A sementeira com 2 sementes por cova é mais adaptada para os terrenos com pressão limitada de infestantes. Semear de novo as covas onde não houve emergência, 10 dias depois da sementeira. Manutenção da cobertura: Nenhuma operação necessária. Recuperação de Mucuna depois de cultivo de milho Quiabo sobre cobertura morta de Mucuna Amendoim sobre cobertura morta de Mucuna Programação da cobertura Vantagens Emergência correta, boa velocidade de crescimento, produção de biomassa muito importante Fornecimento importante de azoto (100 a 150 kg / ha) Planta perene facilitando a gestão da data de cultivo assim como as datas da sua implantação Produção de sementes importante e fácil Se o plantio for cedo, possibilidade de obter sementes logo no primeiro ano Fácil instalação como cultura intercalar do milho Bom controlo da erosão quando bem instalada (depois de 6 meses) Recarga contínua em elementos nutritivos do solo, através da cama que se forma permanentemente Excelente controlo das infestantes apesar de um fraco controlo na fase de instalação Ausência de manutenção Tolerante às condições de hidromorfia temporária Luta contra a Imperata e controlo da Mimosa invisa Constrangimentos Planta trepadeira com risco de asfixia das culturas na ausência de controlo Desenvolvimento lento no início de ciclo Ciclo longo superior a 6 meses para produzir uma biomassa importante Sistema radicular pouco profundo, reciclagem limitada dos elementos lixiviados Adaptação média às plantas com tubérculos devido ao seu sistema radicular que cria pouca macroporosidade Necessidade de tratamento das sementes antes da sementeira Necessita pelo menos, 2 meses de época das chuvas para resistir 4 meses de época seca Em cobertura morta, duração de controlo limitada a 30 / 45 dias devido à sua decomposição rápida Difícil destruição total por via mecânica (uso de herbicida) curta, semear cedo para ter um ciclo de um ano antes da implantação das culturas de ciclo longo (floração logo no primeiro ano). Produção de sementes: esperar 18 meses antes de cultivar (floração durante a segunda época seca); - Cultura intercalar: 5 a 7 dias depois da sementeira do milho, para identificar as linhas de sementeira. Em caso de época chuvosa curta, semear o milho cedo. Para as outras culturas de ciclo curto, contar 260 a 320 dias de cobertura conforme a duração dos ciclos. 1 / Os fundamentos Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in loco ou de um sistema sobre cobertura permanente em faixas alternadas: - Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de chuvas. Em caso de época chuvosa Para evitar o aumento do tempo dedicado à primeira sacha do milho (30 dias depois da sementeira), devido à necessidade de cuidar das plantas jovens de Puerária, é possível semear depois da primeira monda. Tratamento das sementes e das estacas 2 / Os sistemas de produção A Puerária é uma leguminosa perene, volúvel que pode se desenvolver em solos não compactados, ácidos, com uma fertilidade fraca. É aconselhada como planta de cobertura de média e longa duração. Planta com forte potencial para restaurar a fertilidade do meio, eliminar as infestantes e limitar os riscos de erosão. - Mergulhar 1 h na água a 70°C, escorrer e semear; - Ou mergulhar 20 min em ácido sulfúrico concentrado (1 volume de ácido para 2 volumes de sementes), lavar com água, escorrer e semear. Instalação da cobertura Sementeira: - Cultura isolada: covas ao quadrado distantes de 50 cm x 50 cm; - Cultura intercalar: dupla linha ao quadrado de 40 cm x 40 cm entre duas linhas de milho. Para 1 ha, é preciso 3 a 6 kg de sementes, à razão de 4 a 8 sementes por cova (conforme o tratamento escolhido), profundidade da sementeira: 1 cm. Semear de novo as covas onde não houve emergência 10 dias depois da sementeira. Manutenção da cobertura: Nenhuma operação necessária. 3 / As práticas 5-A Pueraria phaseloides Cobertura de Puerária AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantas de cobertura 163 6-As plantas utilizadas para a produção de biomassa Vantagens e desvantagens Exemplos de plantas de cobertura úteis para a produção de biomassa utilizada para fazer empalhamento: Técnicas Plantas de cobertura Panicum maximum Pennisetum purpureum Brachiaria decumbens 164 Vantagens Presença em quantidade importante em zona de pousio Fornecimento regular (recarga) fácil Decomposição lenta Complementaridade com a pecuária em termos de forragem Presença importante na periferia das parcelas Fornecimento regular (recarga) fácil Complementaridade com a pecuária em termos de forragem Decomposição lenta Complementaridade com a pecuária em termos de forragem Constrangimentos Risco de proliferação da planta (se utilizar palha com muitas sementes) Adaptação limitada às culturas com forte densidade Fornecimento em azoto necessário no início do ciclo, para compensar o efeito de imobilização do azoto pelas bactérias envolvidas na decomposição Palha irritante e com folhas afiadas Transplantação difícil Necessidade de utilizar apenas as partes jovens para evitar o desenvolvimento radicular a nível dos internós Decomposição rápida, limitando a luta contra as infestantes e obrigando fazer recarga com palhas para as culturas de ciclo longo Impossibilidade de praticar cultura com forte densidade Fornecimento em azoto necessário no início do ciclo para compensar o efeito de imobilização do azoto pelas bactérias envolvidas na decomposição Necessidade de gerir uma parcela de produção (plantação por estacas, fertilização) Fornecimento regular na parcela difícil Impossibilidade de praticar culturas com forte densidade Fornecimento em azoto necessário no início do ciclo, para compensar o efeito de imobilização do azoto pelas bactérias envolvidas na decomposição AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Prática possível com uma gama de plantas diversas; Apresenta numerosos interesses (plantas de cobertura multi-função): proteção dos solos, plantas forrageiras, adubo verde...; Reduz o tempo de trabalho (sacha e manutenção); Requer um domínio técnico para evitar as concorrências entre as plantas de cobertura e a cultura principal. Económicas Utiliza plantas disponíveis localmente; Permite uma sinergia culturas / pecuária; Limita os encargos reduzindo os fornecimentos de adubação orgânica e mineral; Mantém e melhora os rendimentos e a margem económica; Representa um investimento para a implantação das plantas de cobertura. Ambientais Reduz os fenômenos de erosão dos solos; Permite um fornecimento em azoto conforme a planta utilizada; Pode provocar a poluição da água e do solo, no caso de utilização de herbicidas (o uso de herbicidas naturais está atualmente na fase de pesquisa). O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A escolha da planta de cobertura far-se-á em função das caraterísticas do meio (estrutura do solo, acidez, hidromorfia, fertilidade, pluviometria, etc.), das propriedades das diferentes plantas de cobertura, do SCV escolhido e das capacidades de investimento do produtor. A dificuldade reside no controlo da cobertura vegetal. É necessário privilegiar os métodos de controlo mecânico e utilizar os herbicidas apenas como último recurso para limitar a poluição das águas e dos solos. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157) Ficha: SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas (p. 165) Ficha: SCV sobre cobertura morta (p. 169) Ficha: Empalhamento (p. 121) Culturas alimentares pluviais Esta prática foi principalmente implementada no âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em menor escala, em Madagáscar. 1 / Os fundamentos A cultura principal é implantada nas faixas mortas. As faixas vivas são regularmente cortadas e a palha serve de cobertura nas faixas mortas. Princípio Num SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas, o terreno coberto com uma planta de cobertura é dividido em faixas. Uma faixa em cada duas (a faixa viva) serve para fornecer a biomassa para empalhar as faixas mortas. Nas faixas mortas, as infestantes são controladas através do fornecimento de biomassa e por uma ação mecânica. É nas faixas mortas que a cultura é instalada. A faixa viva durante o cultivo anterior torna-se a faixa morta para a cultura a seguir. Esquema 1: a mandioca é associada às faixas de produção de biomassa (plantas de cobertura). Mandioca Planta de cobertura Planta de cobertura Mandioca Planta de cobertura Mandioca 2 / Os sistemas de produção O sistema SCV com cobertura permanente com faixas alternadas consiste em alternar faixas mortas e faixas vivas de uma planta de cobertura. SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Limitar a erosão e proteger a estrutura dos solos; » Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem dos elementos minerais; » Melhorar as condições de cultivo e por conseguinte, os rendimentos; » Controlar a infestação das parcelas cultivadas. Condições de implementação: Esquema 2: a mandioca realiza o seu ciclo (14 a 18 meses) aproveitando as melhorias do solo permitidas graças à planta de cobertura da mandioca. A planta de cobertura desenvolve-se novamente ou outra planta de cobertura é instalada. Mês 1 Mês 2 1 - Destruição / passagem por cima da planta de cobertura Mês 3 ... 3 - Controlo manual da rebrotação da planta de cobertura se necessário 2 - Plantação da mandioca dentro da cobertura morta ... Mês N 4- Colheita da mandioca 5 - Recuperação da planta de cobertura ... Ciclo de cultivo da mandioca (14 a 18 meses) … Ciclo de cultivo da planta de cobertura » Dispor de um terreno com uma superfície suficiente Mandioca em faixas alternadas sobre Brachiária 3 / As práticas para dedicar uma parte das terras à planta de cobertura; » Dispor de sementes de Brachiária, de Stylosanthes ou outras plantas de cobertura adaptadas. Quiabo em faixas alternadas sobre Stylosanthes AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas 165 Método 1-O sistema sobre cobertura permanente em faixas alternadas Implantação da planta de cobertura (Brachiária ou Stylosanthes) Duas opções são possíveis: - no início da época das chuvas, instalar a planta de cobertura no início do sistema para beneficiar rapidamente de uma biomassa importante; - deixar a planta de cobertura se desenvolver durante um ano antes da instalação do SCV. Manutenção - Cortar regularmente a faixa viva em função do desenvolvimento da planta (entre 20 cm e 50 a 60 cm de altura para o Stylosanthes, entre 10 cm e 50 a 60 cm de altura para a Brachiária). Deixar secar 2 dias na faixa viva antes de espalhar a palha encima da faixa morta; 1. Instalação de um sistema Bananeiras sobre Brachiária - Em época de seca, cortar o Stylosanthes bastante baixo (20 cm) ou a Brachiária raso (5 cm) para evitar a competição hídrica com a cultura principal; - Sachar em caso de desenvolvimento de infestantes não controladas pelo empalhamento. O plano de adubação das culturas sobre cobertura morta é o mesmo que para as culturas cultivadas sem cobertura. No entanto, 3 anos depois de uma instalação constante de cobertura morta, a adubação poderá ser reduzida a 20%. Exemplo de instalação de SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas (Gabão): 2. Manutenção da Brachiária 3. Sistema depois de 2 anos Culturas Implantação Culturas de ciclo longo: mandioca, taro Rotação de 3 anos: no ano 1, cultura de ciclo longo, instalada no início da época das chuvas e planta de cobertura instalada de forma contínua, seguida no ano 2 por uma cultura de ciclo longo instalada no meio da época das chuvas com planta de cobertura de forma contínua. Entre cada ciclo de cultivo, 6 a 8 meses só com a planta de cobertura. Culturas de ciclo médio: quiabo, malagueta, beringela Culturas de ciclo médio, instaladas no início da época das chuvas e planta de cobertura de forma contínua, seguidas de 6 a 7 meses só com a cobertura vegetal. Bananeira 166 Cultivo de bananeiras durante 2 ou 3 anos com cobertura vegetal de forma contínua, seguida por 1 ano só com a cobertura vegetal. AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 2-Exemplo da implantação de bananeiras sobre uma cobertura permanente em faixas alternadas de Brachiária 8. Cultivo das bananeiras durante 2 a 3 ciclos (conforme os rendimentos), com corte das faixas vivas para empalhar as faixas mortas e sacha ligeira das faixas vivas. Para 1 ha: - 3 a 6 kg de sementes de Brachiária estacas. - 1.666 ou Cobertura viva Cobertura morta 1 / Os fundamentos 4. Cultivo das bananeiras durante 2 a 3 ciclos (conforme os rendimentos), com corte das faixas vivas para empalhar as faixas mortas (1 vez/mês na época das chuvas, 2 vezes/mês na época seca), e sacha ligeira das faixas vivas. 125.000 rebentos bananeiras. 7. Adubação de fundo e migração das bananeiras por transplantação dos rebentos nas faixas recentemente controladas. 3. Adubação de fundo a nível das covas de plantação e instalação das bananeiras em linhas no centro das faixas mortas (distância entre rebentos: 2 m). 2 / Os sistemas de produção 2. Delimitação da parcela em faixas de 2 m (colocar estacas e passar por cima da planta rolando um tambor enchido até 1/3 com água) e controlo da cobertura de uma faixa em cada 2. de 6. Rolagem e controlo da cobertura a nível das antigas faixas vivas. 5. Invasão das faixas mortas pela planta de cobertura (1 ano), possibilidade de transplantar estacas ou semear a planta de cobertura. 3 / As práticas 1. Instalação da cobertura ou colonização da parcela por uma planta de cobertura existente (1 ano). Bananeiras Algumas práticas consistem em eliminar quimicamente a cobertura vegetal (uso de herbicida tipo Glifosate). Estes produtos químicos são perigosos caso não sejam bem utilizados. O seu uso deve ser considerado apenas quando nenhuma outra técnica seja possível. AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas 167 Vantagens e desvantagens Técnicas Protege os solos e limita as infestantes (diminuição do caráter penoso do trabalho); Mantém e melhora a fertilidade do solo e estabiliza os rendimentos a longo prazo; Favorece a alimentação hídrica da planta; Permite uma flexibilidade nos calendários de trabalhos; Requer apenas uma implantação da cobertura; Permite um controlo manual ou mecânico da cobertura; Apresenta uma dificuldade para o controlo mecânico da cobertura vegetal em grandes superfícies em zonas quentes e húmidas; Requer uma tecnicidade elevada para equilibrar as faixas mortas e vivas; Requer um rigor importante na condução do sistema; Necessita tempo de trabalho para cortar as faixas vivas. Económicas Estabiliza e aumenta a produção; Diminui os custos de produção, especialmente através da redução dos encargos ligados ao trabalho do solo; Necessita de um investimento para a implantação das plantas de cobertura. Sistema Bananeiras em faixas alternadas de Brachiária Ambientais O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Reduz os fenômenos de erosão dos solos; O SCV com cobertura permanente em faixas alternadas é eficaz, permite produzir ao mesmo tempo a cultura e a planta de cobertura. Para a sua implementação, as principais plantas de cobertura são o Stylosanthes e a Brachiária. Favorece a sequestração do carbono; Reduz a desflorestação limitando as práticas de corte e queima; Pode provocar a poluição da água e do solo em caso de uso de herbicidas. Para controlar a cobertura vegetal, é preciso privilegiar os métodos de controlo mecânico e utilizar os herbicidas apenas como último recurso para limitar a poluição das águas e dos solos. É de anotar que o uso de herbicidas naturais está atualmente em fase de pesquisa. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157) Ficha: Plantas de cobertura (p. 159) Ficha: SCV sobre cobertura morta (p. 169) Taro em faixas alternadas de Brachiária 168 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Ficha: Empalhamento (p. 121) Culturas alimentares pluviais Esta prática foi principalmente implementada no âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em menor escala, em Madagáscar e no Laos. Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Limitar a erosão e proteger a estrutura dos solos; » Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem dos elementos minerais; » Melhorar as condições de cultivo e por conseguinte, os rendimentos; » Controlar a infestação das parcelas cultivadas. Condições de implementação: 1 / Os fundamentos A planta de cobertura é destruída e deixada no local. A sementeira da cultura principal realiza-se dentro da cobertura vegetal morta. Princípio Neste tipo de SCV, o terreno é completamente coberto por uma planta de cobertura. Depois disso, a cobertura é controlada para deixar espaço à cultura principal. Esta é diretamente semeada ou plantada sobre a cobertura morta. Depois da colheita, uma nova planta de cobertura pode ser instalada em seguida. Ilustração de um ciclo Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6 Mês 7 Mês 8 de cultivo de milho sobre cobertura morta: 1- Sementeira da 2- Destruição da planta planta de cobertura A planta de cobertura de cobertura 4- Colheita do milho desenvolveu-se durante 3- Sementeira 5- Reinstalação a primeira parte do do milho da planta de ciclo de cultivo. cobertura A cultura do milho é implantada depois da planta de cobertura ser destruída. Beneficia do melhoramento do Melhoria solo permitido pela … Ciclo de cultivo da planta de cobertura do solo planta de cobertura: através da … Ciclo de cultivo do milho aeração pelas raízes, decomposição dos sistemas fornecimento de radiculares matéria orgânica… No fim do ciclo, as raízes que permanecem no solo contribuem ao seu enriquecimento, depois da sua decomposição e graças à ação dos micro-organismos. 2 / Os sistemas de produção No SCV sobre cobertura morta, a planta de cobertura é instalada antes da cultura principal. SCV sobre cobertura morta » Dispor de um terreno com uma superfície suficiente, Milho cultivado sem sacha graças à cobertura morta de Brachiária 3 / As práticas que permite introduzir um tempo de pousio na sucessão das culturas. » Dispor de sementes de plantas de cobertura. Recuperação da Puerária depois da colheita do milho AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura morta 169 Método Neste SCV, as plantas de cobertura regularmente utilizadas são o Stylosanthes, a Brachiária, a Mucuna e a Puerária. 1-Exemplo de instalação de uma cultura de milho sobre cobertura morta de Mucuna (Gabão) 1. Instalação de uma cobertura vegetal (Mucuna) ou cobertura existente. 2. Controlo (ceifa) da cobertura vegetal. Para 1 ha de terreno desbravado: 5. Depois da colheita da parcela, a planta de cobertura invade a parcela e prepara um novo ciclo. 3. Sementeira e 7 dias depois, emergência do milho através da cobertura morta. - 30 a 40 kg de sementes de Mucuna; - 30 a 45 kg de sementes de milho. Cobertura viva 4. Condução da cultura de milho sem trabalho do solo, monda ligeira se necessário, recuperação da planta de cobertura. Cobertura morta Nova cobertura instalada como cultura intercalar Cultura alimentar Em alguns casos (superfície importante e falta de mão-de-obra…), a cobertura vegetal pode ser controlada pelo uso de herbicidas. Este deve ser limitado e racional. 170 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 O N Sistema de cultura de ciclo longo – Brachiária S Estação seca D J F M Pequena estação seca A M J J A Estação chuvosa S O N Estação seca D J F M Pequena estação seca Mandioca ciclo curto (240 d) Milho (70-110 d) Mandioca ciclo curto (240 d) Mandioca ciclo longo (330 d) Taro (270 d) Mandioca ciclo curto (240 d) Mandioca ciclo longo (330 d) Taro (270 d) A M J J 2 / Os sistemas de produção pluviometria (mm) Estação chuvosa 1 / Os fundamentos 2-Exemplo de calendário cultural associando Brachiária e culturas alimentares (Gabão) A Brachiaria ruzizienzis (360 d) Milho (70-110 d) Brachiaria ruzizienzis (330 d) 3 / As práticas NOTA Para todas as plantas: - Privilegiar mondas ligeiras, repetidas, evitando mondas profundas contra as infestantes. As mondas são realizadas através do arranque manual (evitar o uso de ferramentas que possam abrir a cobertura vegetal, o que pode permitir o acesso às infestantes). - Uma boa cobertura morta permite limitar o desenvolvimento das infestantes, o que reduz o caráter penoso dos amanhos culturais, sobretudo na zona tropical húmida. AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura morta 171 Vantagens e desvantagens Técnicas Protege os solos e limita as infestantes (diminuição do caráter penoso do trabalho); Mantém e melhora a fertilidade do solo e estabiliza os rendimentos a longo prazo; Favorece a alimentação hídrica da planta; Não requer nenhuma tecnicidade particular; É adaptada a todas as culturas; Permite uma flexibilidade dos calendários de trabalhos; Controlo mecânico da cobertura vegetal difícil para grandes superfícies em zona quente e húmida; Necessita imobilizar terreno para produzir a cobertura; Requer na maioria dos casos uma nova implantação anual da cobertura. Económicas Estabiliza e aumenta a produção; Diminui os custos de produção especialmente através da redução dos encargos ligados ao trabalho do solo; Necessita de um investimento para a instalação das plantas de cobertura. Mandioca sobre Brachiária Malagueta sobre palha proveniente de outra parcela Ambientais O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Reduz os fenômenos de erosão dos solos; A condução dos SCV com cobertura morta produzida in loco é simples. As aplicações são pertinentes em contextos de pressão fundiária fraca a média. As plantas de cobertura utilizadas são relativamente diversificadas. Favorece a sequestração do carbono; Reduz a desflorestação limitando as práticas de corte e queima; Provoca um risco de poluição da água e do solo em caso de uso de herbicidas. PARA IR MAIS LONGE Ficha: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157) Ficha: Plantas de cobertura (p. 159) Ficha: SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas (p. 165) Ficha: Empalhamento (p. 121) 172 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Para controlar a cobertura vegetal, é preciso privilegiar os métodos de controlo mecânico e utilizar os herbicidas apenas como último recurso para limitar a poluição da água e do solo. É de anotar que o uso de herbicidas naturais está atualmente na fase de pesquisa. Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI Rizicultura irrigada A prática foi desenvolvida no quadro dos programas da AGRISUD em Madagáscar e, em menor escala, no Camboja. 1 / Os fundamentos Este método permite melhorar sensivelmente a produção de arroz, garantindo ao mesmo tempo uma boa gestão da fertilidade do solo, sem necessariamente ter recurso a fortes doses de adubos minerais. Princípio O SRI distingue-se dos outros sistemas de cultivo rizícola pelos seguintes aspetos: - transplantação das plantinhas vigorosas com 2 folhas; transplantação com espaçamento não inferior a 25 cm; monda frequente para controlar as infestantes; domínio da gestão da água para favorecer o perfilhamento, ou seja o desenvolvimento do número de perfilhos por planta de arroz. Estas caraterísticas técnicas são interdependentes para aumentar a produção dos perfilhos (aumento do número de espigas) e para ter um sistema radicular desenvolvido, permitindo um bom enchimento dos numerosos grãos. 2 / Os sistemas de produção O Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI é um sistema de cultivo desenvolvido em Madagáscar pelo padre de Laulanie. Efeitos: Solo Água Planta Paisagem Objetivos: » Melhorar a valorização das parcelas de pequenas superfícies; » Aumentar a produção de arroz; » Limitar a quantidade de sementes utilizadas. Transplantação Monda de uma parcela de SRI Parcela de SRI Condições de implementação: » Dispor de um arrozal plano com um grande domínio 3 / As práticas da gestão da água: entrada e saída de água possível em qualquer momento; » Dispor de plantas de arroz para transplantar; » Dispor de composto em quantidade suficiente: 20 toneladas/hectare em média, a modular segundo o estado inicial de fertilidade do arrozal. Transporte dos molhos de arroz AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI 173 Método Dados indicativos sobre a implantação da cultura: Itinerário técnico geral do SRI: Viveiro Transplantação Colheita Espaçamento (cm) 25 x 25 27,5 x 27,5 30 x 30 Número de plantas/ha 160 000 132 231 111 111 6 5 4 Kg de sementes/ha +/- 1 mês Preparação do terreno 3 a 6 meses segundo as variedades Manutenção e irrigação Trabalhos preliminares Preparação para a colheita Secagem Armazenamento A preparação do arrozal O arrozal deve estar pronto antes da sementeira ou no momento da preparação do viveiro. Condução da cultura - Aplicar o composto: no mínimo 10 t/ha; 1-Os trabalhos preliminares - Arar profundamente para trazer à superfície os elementos fertilizantes A escolha das sementes O conhecimento das caraterísticas varietais é primordial na escolha da semente a utilizar: duração do ciclo (curto/longo), fotoperiodismo (sensibilidade à duração do dia), tolerância/resistência às doenças, fenótipo (comprimento da palha, número de perfilhos…). Caraterísticas de algumas variedades correntemente utilizadas em Madagáscar: 174 O viveiro O sucesso do SRI é condicionado por uma boa programação dos trabalhos, e mais particularmente pela passagem do viveiro para o campo (cf. Ficha: Viveiro rizícola p 179). Nome Duração do ciclo Forma do grão Boeing Variável Longa X265 135 dias X915 Comportamento em cultivo Recomendação Sensível ao fotoperiodismo, palha curta Estação das chuvas Oval Bom perfilhamento, palha mediana Estação das chuvas 125 dias Oval Perfilhamento bastante bom, palha mediana Em estação seca e solo rico Mailaka 115 dias Oval Arroz precoz, palha curta Em estação seca FOFIFA 160 135 dias Oval Palha longa, tolerante ao granizo Estação das chuvas Chine 125 dias Curta Palha curta, muito precoz Em estação seca Congo 125 dias Curta Palha curta, muito precoz Em estação seca AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 lixiviados; - 7 dias depois, efetuar uma gradagem, uma monda e um destorramento; - 7 a 15 dias depois , efetuar uma segunda aração; - 4 dias depois, fazer uma nova gradagem seguida por uma inundação ligeira da parcela; - Aplanar para nivelar o solo; - Abrir um canal em volta do arrozal para servir como tampão para as entradas e saídas da água. OBSERVAÇÕES: - A prática do SRI necessita de um fornecimento consequente de composto. O produtor deve assegurar que ele dispõe de quantidade suficiente, caso contrário, a fertilidade do arrozal pode diminuir rapidamente. - As necessidades de composto são avaliadas em 20 t/ha em média, com 2 aplicações: no momento da preparação do arrozal (como adubação de fundo) e no momento da segunda monda (cf. parágrafo 3, os trabalhos culturais). A 2nda aplicação completa a 1ª: 10 t / 10 t; 15 t / 5 t… - Se o terreno for turfoso, acrescentar terra para tornar o solo mais firme e permitir uma boa ancoragem da planta, equilibrar os elementos fertilizantes efetuando um ciclo hortícola antes da instalação do SRI (as culturas hortícolas consomem o excesso de azoto e limitam desta forma a produção de muitas glumelas em detrimento do grão). 2-A condução da cultura Drenagem do arrozal 1 dia antes da marcação das linhas de transplantação Fazer entrar a água depois da transplantação completa Depois do desaparecimento das linhas, secar até aparição de fendas no solo Mondar todos os 10 dias 2nda monda Fazer entrar a água alguns dias antes da monda Manter uma lâmina de água para a monda, depois drenar a água 1 / Os fundamentos Transplantação Fornecimento de composto Colheita Manter uma lâmina de água para a monda, depois drenar a água Apesar de suportar a inundação e de ser exigente em água, o arroz não é uma planta aquática. Ao contrário das práticas tradicionais onde os arrozais são inundados constantemente, o SRI propõe drenar regularmente o arrozal para favorecer o perfilhamento das plantinhas. O aumento do nível da lâmina de água permite bloquear o perfilhamento em benefício do enchimento dos grãos. Aumentar a lâmina de água a 8-10 cm antes do encanamento Drenar completamente o arrozal pelo menos 2 semanas antes da ceifa 2 / Os sistemas de produção 1a monda, retransplantação Plantas de arroz no estado de perfilhamento 3 / As práticas Marcação das linhas de transplantação SRI em grande escala AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI 175 A marcação das linhas de transplantação Antes da transplantação, passar o ancinho marcador de linha. Esta ferramenta permite facilitar a monda e a transplantação (economia em mão-de-obra e autonomia dos transplantadores): - Secar o solo um dia antes de transplantar (2 dias antes para os solos turfosos); - Utilizar duas cordas para ter o alinhamento de início ao longo da parcela; - Arrastar o ancinho marcador de linha ao longo da corda somente na primeira traçagem; - Regressar de trás para frente e traçar perpendicularmente (de forma a obter uma grelha); - A grelha desenhada serve de alinhamento para continuar a marcação das linhas de transplantação; - Continuar até que a grelha da parcela esteja completa. A interseção das duas linhas perpendiculares constitui o ponto de transplantação. É preferível transplantar a medida do avanço do ancinho marcador de linha. Esquematização da marcação das linhas de transplantação de uma parcela rizícola Parcela antes da marcação das linhas de transplantação Primeira passagem do ancinho marcador de linha Passagem perpendicular Passagem perpendicular às primeiras linhas marcadas A transplantação (plantinhas com 2 folhas) - Arrancar as plantinhas do viveiro conservando a terra à volta da raiz e do grão; - Transplantar as plantinhas uma por uma, introduzindo a plantinha na ranhura feita pelo ancinho marcador de linha para não orientar as raízes para cima; - Colocar as plantinhas a nível dos cruzamentos feitos pelo ancinho marcador de linha; -Depois do transplante completo da parcela , fazer entrar a água para aplanar o solo e favorecer a recuperação das plantas. Depois do desaparecimento das marcas, drenar completamente o arrozal para favorecer o desenvolvimento radicular e o perfilhamento das plantinhas. A manutenção As mondas - 1a monda - 10 dias depois da transplantação, fazer entrar a água alguns dias antes para amolecer o solo, utilisar o sachador; - 2nda monda - 10 dias depois da primeira: manter uma lâmina de água para a monda, utilisar o sachador e recomeçar logo outra vez com a mão, drenar depois o arrozal para estimular o perfilhamento; - Mondas seguintes - cada 10 em 10 dias, em função da necessidade: manter uma lâmina de água para mondar com o sachador, depois drenar. A retransplantação: no momento da 1a monda, utilisar as plantinhas que sobraram no viveiro. A fertilização: fornecer o composto um dia antes ou no momento da 2nda monda. O controlo do perfilhamento: antes do encanamento, aumentar a lâmina de água até 8-10 cm para parar o perfilhamento. O não domínio do perfilhamento pode produzir muita casca em detrimento do grão (as espigas são numerosas mas os grãos não estão cheios). Primeira passagem do ancinho marcador de linha na segunda faixa Realização da monda 176 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 3-A colheita e as operações pós-colheita Vantagens e desvantagens A colheita Técnicas Apresenta uma boa taxa de adoção pelos produtores; Realizável de forma menos constrangedora (mas menos produtiva): trata- Económicas Permite um aumento dos rendimentos de 2 t/ha (tradicional) a 6-8 t/ha; Permite uma melhor valorização das parcelas rizícolas. A secagem e a conservação Ambientais - Depois do trilhamento, secar bem os grãos para eliminar o excesso de Permite uma cobertura permanente do solo, uma vez que o aumento da humidade (o indicador tradicional consiste em fricionar com ajuda do calcanhar: se os grãos se descascarem facilmente sem quebra, estes estão bem secos); - Uma vez debulhado, o arroz deve ser conservado em sacos de plástico ou de tela tecida colocados encima de paletes num ambiente bem seco e não muito quente. 1 / Os fundamentos se do SRM, Sistema Rizícola Melhorado, que requer um menor controlo da água e plantinhas mais velhas na transplantação (2 a 3 semanas); Necessita de uma importante renovação da fertilidade do solo; Requer um domínio quase total da gestão da água na parcela; Necessita de uma programação muito precisa das atividades da exploração. 2 / Os sistemas de produção Drenar a parcela pelo menos 2 semanas antes da ceifa para obter um colheita homogênea em termos de maturidade. - Durante a colheita, deixar secar o arroz ceifado durante 3 dias no arrozal ou transportá-lo e colocá-lo em meda para que os grãos terminem a sua maturidade; - Trilhar o arrroz 3 dias depois; - Não queimar as palhas, utilizá-las como empalhamento ou em compostagem. Espalhar e molhar as palhas no arrozal, para depois as enterrar no momento da aração. produção de um ciclo de arroz torna o produtor mais disposto a diversificar a sua produção para os ciclos seguintes; Apresenta um risco de esgotamento dos solos em caso de não renovação da fertilidade. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR Os itinerários técnicos do SRI permitem que os produtores aumentem os rendimentos. Mesmo se os tempos de trabalhos aumentam ligeiramente, este aumento faz-se em benefício de uma melhor repartição dos trabalhos na exploração. 3 / As práticas Em contrapartida, a prática deve imperativamente ser acompanhada de uma estratégia de renovação da fertilidade para poder ser praticada de forma durável. PARA IR MAIS LONGE Trilhamento do arroz Ficha: Viveiro rizícola (p. 179) Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI 177 178 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Viveiro rizícola Rizicultura irrigada O viveiro rizícola foi essencialmente desenvolvido em sistema de rizicultura intensiva (SRI) ou em sistema de rizicultura melhorada (SRM), no quadro dos programas da AGRISUD em Madagáscar. Vários fatores devem ser tomados em conta antes de programar a instalação de um viveiro: - o local de implantação, que não é aleatório; - a estação, que influi sobre as técnicas de viveiro; - o tamanho da superfície a transplantar e a disponibilidade de mão-de-obra, que influi sobre os dimensionamentos do viveiro e sobre o seu escalonamento. Método 1-A escolha do local de implantação do viveiro O local de implantação do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deve satisfazer a maioria dos seguintes critérios: Critérios de seleção Efeitos: Justificativa Proximidade de uma fonte de água Facilitar a irrigação Proximidade do hábitat doméstico Facilitar o controlo e a manutenção do viveiro Objetivos: Proteção contra o vento e os animais Evitar as perdas devidas às rajadas de vento e/ou à divagação dos animais » Produzir plantinhas em quantidade e de qualidade; » Otimizar as sementes de arroz adquiridas; » Assegurar um bom início da cultura. Para limitar o transporte das plantinhas, é preferível instalar o viveiro na proximidade do arrozal mas o controlo do viveiro será mais difícil que se o viveiro estiver próximo da casa. Solo Água Planta 1 / Os fundamentos Por consequência, o viveiro rizícola constitui uma fase delicada que o produtor deve dominar se ele quer começar os seus itinerários técnicos em boas condições. Princípio 2 / Os sistemas de produção Em rizicultura irrigada, a produção de plantinhas de qualidade é uma etapa decisiva para o êxito da cultura. Paisagem Condições de implementação: » Dispor de sementes de arroz; » Dispor de composto, de palhas ou ainda de folhas verdes; » Dispor das ferramentas nesessárias para a confeção 3 / As práticas dos camalhões (pá, ancinho…) e de tábuas de madeira para fabricar suportes móveis; » Dispor de uma rede de proteção. Viveiro rizícola sobre folhas de bananeiras, Madagáscar AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Viveiro rizícola 179 2-A preparção das sementes Segundo as estações, os viveiros rizícolas são instalados diferentemente. - Debulhar para separar as sementes de má qualidade; - Fazer ferver água e deixar esfriar até 50°C; - Mergulhar a semente pelo menos 30 min e até 12 horas (esfriamento total) Em estação quente (estação das chuvas em Madagáscar), preparar os canteiros em camalhões para favorecer a drenagem. para eliminar as doenças e quebrar a dormência; - Retirar a semente do banho, deitá-la dentro de um pano molhado e colocálo em local quente (perto de uma lareira, num composto…) até as sementes germinarem (em geral, durante 24 horas); - Quando as sementes estão no estado “gérmen de 1 mm visivel”, semear em viveiro. - Amontoar o canteiro de viveiro; 3-A preparação e o acompanhamento dos viveiros - Para 1 ha de arrozal a transplantar com espaçamentos de 25 x 25 cm = 4 a 12 kg de sementes em função da densidade da sementeira, semeadas num viveiro de 100 m². - Colocar uma camada de composto encima do - - canteiro; Regar abundantemente; Semear a lanço de forma homogênea as sementes pré-germinadas; Cobrir a sementeira com uma camada fina de composto ou de terra; Empalhar para proteger contra as aves e a insolação; Desde os 1os rebentos, abrir o empalhamento e retirálo para não perturbar as plântulas em crescimento; - Retirar a palha 2 dias antes do dia previsto para a transplantação. A duração do viveiro é de 8 a 15 dias. A transplantação faz-se quando as plantas estão no estado 2 folhas. Viveiro rizícola sobre camalhão, Madagáscar Parcela rizícola depois de plantação OBSERVAÇÕES: Se a terra for argilosa, é preferível misturá-la com areia para facilitar a separação das plantas no momento da transplantação. 180 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Plantas prontas para ser transplantadas A técnica de sementeira em mesa: - Preparar um canteiro de sementeira amovível; - Colocar uma camada de matéria verde facilmente degradável no fundo do suporte amovível; - Colocar um substrato bem misturado (1/3 composto, 1/3 terra, 1/3 areia fina) cerca de 5 cm encima da camada vegetal; - Semear em linha ou a lanço; - Regar e esperar para o estado de 2 folhas para transplantar. No fim da tarde, proteger o canteiro do frio e retirar a proteção pela manhã, quando o orvalho desaparecer. A técnica de sementeira em mesa apenas se aplica para arrozais de superfície limitada. 1 / Os fundamentos Vantagens e desvantagens Técnicas Prática simples de implementar; Permite uma manutenção fácil; Permite a produção de plantas robustas; Requer materiais para a construção dos suportes amóveis e dos abrigos; Limita quantitativamente a produção de plantas (no caso da técnica de sementeira em mesa). Económicas 2 / Os sistemas de produção Na época fria seca, é preciso proteger a plântula do frio e favorecer a germinação. O viveiro deve neste caso fornecer calor pela decomposição de folhas verdes. Duas técnicas de sementeira são possíveis: A técnica de sementeira debaixo de abrigo: - Cobrir o viveiro com uma lona trensada formando um túnel (proteção contra o frio); - Cavar o solo na superfície total do viveiro (cerca de 10 cm); - Colocar uma camada de matéria verde facilmente degradável (ex.: Tephrosia, folhas de ním,...); - Cobrir com terra previamente misturada com composto; - Realizar as sementeiras em linha ou a lanço 4 dias depois do início da produção de calor ligada à degradação da matéria verde; - Regar e esperar para o estado de 2 folhas para transplantar. Permite poupar sementes; Garante taxas elevadas de sucesso durante a transplantação. Ambientais Limita os riscos fitossanitários devido à robustez das plantas. O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR A realização de viveiros garante a robustez das plantinhas de arroz e permite uma economia de sementes. A programação e o sucesso dos viveiros devem permitir ao produtor respeitar o calendário de trabalho SRI (transplantação das plantinhas no estado de 2 folhas). PARA IR MAIS LONGE Viveiro rizícola sobre mesa 3 / As práticas Ficha: Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI (p. 173) Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89) Ficha: Curtição do estrume (p. 77) Viveiro rizícola sob abrigo AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Viveiro rizícola 181 Léxico Acaricida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger a planta contra os ataques de ácaros (artrópodos microscópicos da família dos aracnídeos – aranhas) pelo seu efeito letal. Adsorção: fixação dos elementos sobre um substrato (ex. adsorção dos elementos minerais sobre o complexo argilo-húmico...). Adubo verde: cultura temporária destinada a ser incorporada no solo de forma a fornecer elementos nutritivos à próxima cultura. Adubo de cobertura: adubo fornecido durante o cultivo em complemento da adubação de fundo inicial. O fornecimento regular de adubo de cobertura permite satisfazer as necessidades das plantas em função do seu estado de desenvolvimento. Adubo foliar: adubo líquido pulverizado na folhagem das plantas. Aeróbio: em presença de oxigênio. Afrouxar o solo: ação que consiste em tornar a terra mais solta, através dos amanhos culturais (lavoura, escarificação, sacha,...) que dividem a terra e tornam a camada superficial mais permeável às raízes e aos elementos fornecidos. Agrofloresta: modo de produção associando o cultivo de árvores e arbustos, e culturas subjacentes ou intercalares (culturas hortícolas, forrageiras,...). A agrofloresta favorece a biodiversidade no seio dos agro-ecossistemas e melhora a produtividade enquanto limita a degradação dos solos. Agrossistema ou agro-ecossistema: ecossistema onde o Homem intervém pela implementação de técnicas de produção vegetal e animal. Bocage: Tipo de paisagem rural criada pelo Homem, constituída por sebes de árvores grandes que rodeam parcelas cultivadas ou prados. Cacimba: poço largo e pouco profundo que explora o lençol freático superficial. Complexo argilo-húmico: associação entre argila e húmus num complexo ligado pelos iões cálcio ou ferro. O húmus protege a argila contra a dispersão, estabiliza a estrutura e forma com a argila um “cimento” que permite a construção de agregados sólidos capazes de resistir à degradação pela água (D. Soltner), também chamado “complexo adsorvente”, tendo um pápel fundamental no armazenamento e na restituição da água e dos elementos nutritivos à planta. Cordão de pedras: dispositivo composto por blocos de pedras dispostos em curvas de nível, para lutar contra a erosão hídrica, favorecendo a dispersão e a infiltração da água, assim como o depósito dos elementos sólidos transportados na montante do cordão. Correção de solo: melhoramento das propriedades físicas, químicas e biológicas de um solo pelo fornecimento de elementos em défice (calcário, matéria orgânica,...). Corte e queima: prática agrícola pela qual parcelas são desmatadas, limpadas pelo fogo (ramos, cepas, resíduos,...) e cultivadas de forma descontinuada, implicando períodos de pousio mais longos que a duração do cultivo. Cultivo pluvial / de sequeiro: cultivo de plantas cujo crescimento e desenvolvimento depende do fornecimento natural de água das chuvas, sem recorrer a qualquer sistema de rega artificial. Cultura alimentar: cultura principalmente destinada ao consumo alimentar local. Cultura anual / bianual: cultura realizada com um ou 2 ciclos anuais: culturas hortícolas, mandioca, amendoim, milho,... Anaeróbio: na ausência de oxigênio. Cultura perene: cultura presente na mesma parcela durante vários anos (> 5 anos): pomares, plantações florestais,... Ascensão capilar: subida das águas subterrâneas nos capilares do solo provocada pela evaporação. Cultura semi-perene: cultura presente na mesma parcela durante alguns anos (2 a 5 anos): ananás, bananeira, papaieira,... Bacteriose: doença provocada por uma bactéria. Banqueta: pequeno terraço de culturas. Cultura subjacente: cultura implementada debaixo de outra cultura (ex. culturas hortícolas debaixo de pomares). Biodiversidade: a biodiversidade ou diversidade biológica diz respeito à diversidade natural dos organismos vivos, animais e vegetais, que contém um ecossistema. Debulhar: ação que consiste em limpar os grãos, a debulha pode ser realizada com ajuda de um cesto utilizado como uma peneira. Biomassa: conjunto de matéria orgânica de origem vegetal (folhas de árvores, ervas de savana, resíduos de culturas,...). A biomassa pode ser reciclada para produzir fertilizantes orgânicos (compostagem) ou para cobrir os solos. Desbaste: ação visando eliminar algumas plântulas em excesso provenientes de uma sementeira em viveiro ou numa parcela agrícola, para favorecer o desenvolvimento das plântulas restantes. 182 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Destorramento: ação que consiste em quebrar os torrões de terra. Dispositivos anti-erosivos: conjunto de meios que permitem combater a erosão. Doença critogámica: doença provocada por um fungo. Drenagem: ação que consiste em favorecer a evacuação da água presente em excesso nos solos. Ecossistema: conjunto de elementos (fauna, flora, solo, água, clima,...) que constituem um meio natural e interagem uns com os outros. Efluentes: produtos líquidos ou semi-líquidos lançados no meio, que são às vezes capazes de contaminá-lo, podem ser de natureza orgânica ou química. Emurchimento: perda de rigidez dos talos ou das folhas de um vegetal que pode ser causada por uma doença ou um estresse hídrico. Encanamento: processo pelo qual uma gramínea produz a sua semente (estado inicial da produção das sementes). Encharcamento dos solos: saturação em água de uma terra agrícola devido à elevação do nível do lençol freático, a escoamentos superficiais importantes, ou a uma irrigação excessiva, o encharcamento dos solos torna-os mais compactos privando as raízes das plantas do oxigênio. Erosão eólica: designa um fenômeno de erosão causada pelo vento. O vento é um agente importante da erosão nas zonas onde os solos são pouco estruturados, secos, nus ou cobertos por uma vegetação de forma dispersa. Evapotranspiração: quantidade total de água transferida do solo e das plantas para a atmosfera pela evaporação da água a nível do solo e pelas perdas de água através da respiração das plantas. Extração da água: ato de extrair as águas subterrâneas ou da superfície, os meios de extração são os sistemas de extração da água. Farelo: resíduo fino da debulha das cereais (pedaços de sabugo, glumas e glumelas). Fenótipo: conjunto de caracteres aparentes de um ser vivo, corresponde à realização do genótipo (expressão dos genes). Fungicida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra as doenças provocadas por fungos. Gema vegetativa: gema que vai produzir ramos ou folhas. Gretamento: aparecimento de gretas, de fendas. Hábitat ecológico: lugar de vida das espécies vivas animais e vegetais. Herbicida: substância ativa ou preparação utilizada para destruir as espécies herbáceas tais como as infestantes. Higrometria: carateriza o teor em humidade no ar. Humificação: processo de transformação da matéria orgânica fresca em húmus graças, entre outras, à ação da microfauna e microflora do solo. Húmus: no solo, o húmus é o produto da decomposição da matéria orgânica (restos vegetais e animais). Tem um pápel determinante na fertilidade do solo. Erosão hídrica: designa um fenômeno de erosão causada pela água, as precipitações e os escoamentos são responsáveis pela separação e pelo transporte das particulas do solo, até um lugar de sedimentação, este tipo de erosão é fortemente ligado à morfologia do sítio, às caraterísticas do solo existente, à presença e à repartição da vegetação. Inseticida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os ataques dos insetos pelo seu efeito letal. Escarificação: (v. escarificar) ação que consiste em trabalhar a camada superficial de um solo com ajuda de uma escarificador (quadro equipado com dentes). Insetifuga: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os ataques dos insetos pelo seu efeito repulsivo. Estomatos: pequenas aberturas localizadas na parte inferior das folhas, onde se realizam a transpiração e as trocas gasosas das plantas. Irrigação por alagamento: sistema de irrigação que consiste em inundar os canteiros das culturas. Estrutura do solo: conjunto mais ou menos estável dos elementos constitutivos de um solo (argila, areia, limo, húmus, cálcio, ferro,...) em agregados de tamanho variável, os espaços livres formam uma porosidade que permite a passagem da água, dos nutrientes que são dissolvidos e dos gases (oxigênio, azoto). Irrigação por sulco: sistema de irrigação que consiste em levar a água às culturas por uma rede mais ou menos densa de pequenos canais e sulcos cavados a céu aberto. Limpeza: procedimento que consiste em extrair a matéria e os resíduos sólidos acumulados naturalmente no fundo de uma vala, canal, poço,... Estrutura pulverulenta: carateriza a estrutura de um solo composto por partículas muito finas, fracamente agregadas. Lixiviação: perda dos elementos minerais ou orgânicos dissolvidos e transportados pelas águas de infiltração, podemos falar de lixiviação dos solos ou dos estrumes. Infestantes: sin. ervas daninhas. 183 Margagem: técnica agrícola que consiste em enriquecer um solo com calcário e com argila (fornecimento de calcário moído, de marga,...). Micro-clima: clima próprio, referente a uma porção restrita de um território, distinguese do clima geral deste território. Mineralização: processo durante o qual o húmus do solo é degradado e libera os seus constituintes minerais. Semi-lua: pequeno dique em forma de semi-lua, construído em zonas de vertentes que permite a recolha e a infiltração das águas de escoamento superficial e o depósito dos elementos sólidos transportados. Solo aluvial (ou aluvional): solo constituído por aluviões que são depósitos geralmente bastante finos, tais como: areia fina, limo ou argila, transportados pela água a correr e depositados por sedimentação. Natrão: mineral composto entre outros por sais de carbonato de sódio hidratado. Solo coluvial (ou coluvional): solo constituído por coluviões que são depósitos, relativamente grossos, provenientes da erosão eólica ou hídrica de uma vertente, chamados depósitos de vertente, encontram-se no pé e nas vertentes de uma colina ou montanha. Nematicida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os ataques de nemátodos pelo seu efeito letal. Solo ferralítico: solo de cor vermelha, típico das regiões intertropicais, rico em alumínio, em óxido e hidróxido de ferro. Nematifuga: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os ataques de nemátodos pelo seu efeito repulsivo. Solo hidromórfico: solo encharcado com água (de forma temporária ou permanente). Monda: ação que consiste em cortar com uma máquina de mondar as infestantes presentes numa cultura. Nemátodo: pequeno verme do solo (anguilula) que pode ser um parasita das plantas. Podridão das sementeiras: doença das plantas provocada por micro-organismos (entre outros do género Pythium) cujo principal síntoma é o apodrecimento do colo das plântulas. Polinização: transporte dos grãos de pólen (elemento masculino) até o pistilo (elemento feminino) da flor para assegurar a fecundação, este mecanismo natural (muitas vezes realizado pelos insetos) pode também ser feito de forma artificial. Produtos cúpricos: produtos que contêm cobre. Produtos fitossanitários ou pesticidas: conjunto de substâncias ou preparações destinadas a proteger as culturas contra as doenças e pragas, podem ser naturais (biopesticidas) ou químicos. Quebrar a dormência: a dormência é um mecanismo biológico dos vegetais que, na natureza, tem por objetivo impedir que a semente germine enquanto as condições climáticas não sejam favoráveis. Quebrar a dormência consiste em interromper este mecanismo para que as sementes germinem, tendo previamente reunidas as condições para o seu desenvolvimento. Ressementeira / replantação: ação de substituir as plântulas mortas ou fracas numa parcela cultivada. Revegetar: ação que visa instalar num sítio uma vegetação herbácea, arbustiva ou arbórea. Sacha: ação que consiste em quebrar a crosta superficial de um solo compactado com uma ferramenta agrícola, a sacha limita a evaporação por capilaridade da água do solo, favorece a aeração do solo e a infiltração da água. 184 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 Substrato: suporte da cultura. Terroir: Espaço geográfico delimitado, definido a partir de uma comunidade humana que construi ao longo da sua história um conjunto de traços culturais distintivos, de saberes, e de práticas baseadas num sistema de interações entre o meio natural e os fatores humanos. Os conhecimentos e as práticas envolvidos revelam uma originalidade, conferem uma tipicidade e permitem um reconhecimento para os produtos ou serviços originários deste espaço, e daí para os homens que ali vivem. Os terroirs são espaços vivos e inovadores que não podem ser assimilados à única tradição. (Definição proposta por um grupo de trabalho da INRA/INAO e validada durante os Encontros internacionais da UNESCO, Novembro 2005). Textura de um solo: define-se pela proporção relativa das diferentes frações de um solo (areia, limo, argila, calcário, matéria orgânica,...), determina o tipo de solo: ex. solo argiloso, solo limo-argiloso,... Unidade ecológica: espaço apresentando grupos de espécies vegetais e animais específicas e em interação com o meio. Zona baixa: zona baixa geralmente húmida ou hidromórfica, dominada por vertentes que a rodeam e dos quais recebe as águas e as coluviões. O presente guia pode ser também descarregado gratuitamente em formato ebook no site www.agrisud.org Sob reserva de mencionar a Agrisud, a reprodução do formato papel é livre de direito. A Agrisud apreciará ser informada do uso e da difusão que podem ser feitos com esta reprodução, assim como qualquer observação ou comentários sobre este guia. Concepção gráfica e formatação: iden studi o www.idenstudio.com Traduzido do Francês por Simon Baliteau e António Pinto Santos Imprimido utilizando processos preservando o meio ambiente numa tipografia certificada IMPRIM’VERT 185 Conselho de administração Direção geral Presidente Diretor geral Robert Lion, inspetor geral das Finanças, antigo diretor geral, Caixa dos Depósitos Yvonnick Huet, agrónomo, INP-ENSAT Toulouse Secretária Raphaël Vinchent, agrónomo, FUSAGx Gembloux (Belgique) Geneviève Ferone, diretora do desenvolvimento durável, grupo Véolia Environnement Diretor das operações Tesoureiro Diretor financeiro Sylvain Berton, agronomo, IRC Montpellier Frédéric Pascal, membro do Conselho económico e social Administradores Fatima-Zohra Akalay, presidente da associação marroquina AMAID Sylvain Breuzard, empreendedor, antigo presidente do Centro dos Jovens Dirigentes Nathalie Delapalme, inspetora geral das Finanças Marc Gastambide, agrónomo, diretor da federação dos parques naturais regionais Jacques Godfrain, antigo ministro da Cooperação Laurence Harribey, presidente da câmara de Noaillan, professora na Escola de Management de Bordeaux Stéphane Hessel, embaixador de França Charles Josselin, antigo ministro da Cooperação, presidente de Cités Unis France Observador Laurent Vigier, Diretor dos Assuntos europeus e internacionais, Caixa dos Depósitos 186 AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010 AGRISUD INTERNATIONAL Contatos França Sede social 48, Rue de la Sablière, 33500 Libourne Tel/Fax: +33 (0)5 57 25 17 06 Escritório em Paris 195, Bd Saint-Germain, 75007 Paris Tel: +33 (0)1 58 50 41 63 - Fax: +33 (0)1 58 50 03 19 Site internet: www.agrisud.org Email: [email protected] Contatos países de intervenção Angola Arnaldo Almeida e Souza, Rua Rui de Sousa n° 17, 1° Andar, Luanda (244) 923 50 10 51 [email protected] Marrocos Elphège Ghestem, Cite Ibn Sina, Immeuble 25 Appart 9, 10 090 Rabat Agdal (212) 0676 42 41 13 [email protected] Brasil S/c Pauline Grosso, Casa da Gente, Rua Gonçalves Fontes n° 33 / 401, Santa Teresa, Rio de Janeiro (55) (21) 2232 2634 [email protected] Mauritania S/c Cruz-Vermelha Francesa em Mauritânia, BP 2074 Nouakchott 510 rue 23-72 Ilot C +33 (0) 971 539 106 [email protected] Camboja Julie Logel, 408, Groupe 1, village de Krouch, commune de Svay Dang Kum, Siem Reap (855) 77 256 084 [email protected] Gabão Christian Renardet, IGAD, PK8, BP 20423, Libreville (241) 07 28 36 38 [email protected] Haiti Ivonig Caillaud, Centre de Limonade, Cap-Haitien (509) 31 07 46 43 [email protected] Índia S/C Rajiv Gandhi Foundation, Jawahar Bhawan, Dr. Rajendra Road, New Delhi-110 001, (091) 11 37 55 117 [email protected] Laos Claire Kieffer, Route n 1 Muang Viengkham, Luang Prabang province (856) 203 864 175 [email protected] Madagáscar Sylvain Deffontaines, Lot VA26NA, Tsiadana BP 6028 Ambanidia 101 Antananarivo (261) 32 02 76 512 [email protected] Níger Hamidou Goubakoye, BP 11468 Niamey (227) 96 42 34 30 [email protected] RD do Congo Cédric Armien, C/O Escritórios do Crafod, Kimpese, Província do Baixo-Congo (243) 997 231 182 [email protected] Josiane Falla, C/O Projeto PADDFA Nord-Kivu C/O SYDIP 25/27 Avenue Walikale Quartie Kimemi, Butembo, Província do Norte-Kivu (243) 994 362 218 [email protected] São Tomé e Príncipe S/c PAPAFPA, BP 696, São Tomé (239) 221641 [email protected] Senegal Elphège Ghestem, (212) 0676 42 41 13 [email protected] Sri Lanka Sylvain Berton, +33 (0) 971 539 106 [email protected] 187 Depois de 20 anos dedicados à promoção da pequena exploração agrícola familiar, como proteção frente às crises alimentares e alavanca para o desenvolvimento nos países do sul, a Agrisud apresenta este guia das boas práticas agroecológicas*. Esta recolha de experiências tem como ambição, ser útil para todos os que, no terreno, desejam escolher técnicas agrícolas respeitosas do meio ambiente, economicamente eficientes, portadoras de um desenvolvimento humano, atentas à segurança alimentar e à saúde das populações. Uma contribuição para este enorme desafio que é o acesso à alimentação para todos, em quantidade e em qualidade. *também disponível em formato ebook em www.agrisud.org Este guia foi realizado com o apoio: 15 € TTC ISBN: 978-2-9537817-2-4 Contatos França AGRISUD INTERNATIONAL Sede social: 48, Rue de la Sablière, 33500 Libourne - Tel/Fax: +33 (0)5 57 25 17 06 Escritório em Paris: 195, Bd Saint-Germain, 75007 Paris - Tel: +33 (0)1 58 50 41 63 - Fax: +33 (0)1 58 50 03 19 Site internet: www.agrisud.org Email: [email protected]