A agroecologia - Agrisud International

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GUIA
AGRISUD INTERNATIONAL
Edição 2010
A agroecologia, guia prático
20 ANOS DE APRENDIZAGEM EM ANGOLA - BRASIL - CAMBOJA
GABÃO - HAITI - ÍNDIA - LAOS - MADAGÁSCAR - MARROCOS - MAURITÂNIA
NÍGER - RD DO CONGO - SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - SENEGAL - SRI LANKA
Agrisud: empreender contra a pobreza
AGRISUD INTERNATIONAL
AGRISUD, Associação de Solidariedade Internacional, trabalha desde 1992 no desenvolvimento económico dos países do Sul.
A sua vocação: favorecer a transição de populações em estado de pobreza para uma situação de autonomia económica e social, através da criação
de pequenas explorações e empresas agrícolas (PEAs) familiares, duráveis, inseridas no mercado local.
Estas PEAs criam empregos e geram rendimentos. Respondem às necessidades dos mercados locais e reduzem as importações alimentares.
Em 2010, Agrisud representava:
Desde 1992, Agrisud representa também:
 14 países de intervenção em África, Ásia, América do Sul
 165 colaboradores, 6 em França, 159 no terreno
 29 parceiros operacionais do Norte e do Sul
 37 programas de desenvolvimento em execução
 4,8 milhões de euros mobilizados para implementar estes programas
 2 ciclos de formação à disposição das ONGs: gestão
de programas centrados sobre a PEA e práticas agroecológicas
 27 500 PEAs criadas das quais 3.350 em 2009
 100 000 empregos duráveis dos quais 12.000 em 2009
 155 000 toneladas de produtos alimentares em 2009
 32 milhões de euros de rendimentos líquidos gerados em 2009
 2 300 toneladas de carbono sequestradas em 2009
 90 ONGs parceiras formadas entre as quais 22 em 2009
 250 000 pessoas que sairam da pobreza das quais 31.600 em 2009
Organismos associados à iniciativa da Agrisud para a promoção da agroecologia:
AADC (Angola), ABIO (Brasil), AGRIDEV (RD do Congo), AGRICAM (Camboja), AGRIDEL (Níger), AMADESE (Madagáscar), AVAPAS (Burkina Faso),
CARE Madagáscar (Madagáscar), CARI (França), CAVTK (RD do Congo), CIRAD (França), Colibri (França), CPAS Diembering (Senegal), CRAFOD (RD
do Congo), CTHA (Madagáscar), EAN (Níger), France Volontaires (França), HARC (Índia), JAPPOO Développement (Senegal), Jardins d’Afrique
(Senegal), IGAD (Gabão), Intelligence Verte (França), ORMVA Ouarzazate (Marrocos), PAFO Luang Prabang (Laos), RAIL (Níger), SYDIP (RD do
Congo), Terre et Humanisme Maroc (Marrocos), Terre et Humanisme France (França), Vétérimed (Haiti).
Todas as práticas mencionadas neste guia resultam da experiência da Agrisud,
ao lado dos agricultores, nos seus diferentes terrenos de intervenção.
Todas as fotos de ilustração foram feitas nestes mesmos sítios.
O presente guia pode também ser descarregado gratuitamente em formato ebook no site www.agrisud.org
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AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Edito
Já passaram quase 20 anos que a Agrisud está empenhada na
luta contra a pobreza e na garantia da segurança alimentar das
populações pobres em vários países da África, Ásia e América do Sul.
longo prazo. Assim, como ele, não aceitamos face ao desafio alimentar que a agroecologia
não seja difusa de forma mais alargada e que ela não conste prioritariamente nos programas
agrícolas dos países que hoje tentam relançar a sua agricultura.
A nossa estratégia é acompanhar estas populações na criação de
pequenas explorações agrícolas PEAs familiares duráveis, inseridas
nos mercados locais. Estas PEAs geram receitas, empregos e maisvalia local ao mesmo tempo respondendo às necessidades dos
mercados: produzindo produtos locais para os mercados locais.
É por esta razão, que com a nossa grande experiência adquirida pelo contato com os
agricultores, decidimos que era tempo de recolher os frutos da nossa longa aprendizagem
da agroecologia a fim de a partilhar em primeira mão com todas as nossas equipas no
terreno e com os agricultores que elas enquadram, mas também com os nossos parceiros
e com todos que desejam aproveitar desta experiência para servir aos mesmos objetivos.
«Empreender contra a pobreza», representa de uma forma
resumida a nossa iniciativa que permitiu criar 27.500 PEAs até
então, ou seja mais de 100.000 empregos em uma dúzia de países.
Quase dois anos de trabalho foram necessários para identificar e colocar em forma estas
boas práticas. As equipas de cada país foram mobilizadas para recolher e partilhar as suas
próprias experiências de terreno. Mas neste exercício o mérito pertence em particular a um
“núcleo duro” composto por Sylvain Berton, Elphège Ghestem, Ivonig Caillaud bem como
Leïla Berton. A Iden studio realizou a parte gráfica. Um bem haja a esta equipa!
Esta iniciativa basea-se em particular, sobre um bom conhecimento dos mercados
e sobre um percurso de profissionalização e acompanhamento do empreendedor
na sua atividade. Se a finalidade da Agrisud é antes de tudo social, a abordagem é
deliberadamente económica, apoiando-se sobre as forças da economia de mercado.
Jacques Baratier, o nosso fundador, definiu as bases da Agrisud desta forma.
Esta abordagem é também ecológica, privilegiando práticas que se baseiam primeiramente
no bom senso, e que permitam conciliar o desenvolvimento com uma fraca pressão sobre
o meio ambiente e a gestão sustentável dos recursos naturais. Estamos aprendendo por
esta via desde a criação da Agrisud, mas foi essencialmente com o impulso de Robert
Lion, o nosso presidente, que ficamos ainda mais atentos à dimensão ecológica das nossas
ações e à necessidade de limitar os efeitos negativos das interações entre o Homem e o
seu meio. Onde origina a nossa aposta sobre a agroecologia.
É esta agroecologia que queremos colocar como uma alternativa aos esquemas agrícolas
clássicos, privilegiando modelos familiares sustentáveis, atentos ao respeito do
ambiente, economicamente competitivos, portadores de um desenvolvimento humano,
preocupados com a segurança alimentar e a saúde das populações. Desta forma, com
o passar dos tempos, nós convertemos em praticantes da agroecologia. É ela que torna
as nossas ações atentas às dimensões económica, social e ambiental. Esta abordagem
sistemática, permite preservar os equilíbrios muitas vezes frágeis entre o Homem e o
seu ambiente, assegurando a perenidade económica e social destas atividades. Desta
forma, ela pode contribuir eficazmente aos desafios alimentares do planeta, tanto em
quantidade quanto em qualidade.
Estamos convencidos, como Pierre Rabhi o expressa no seu prefácio, que a agroecologia
tem o seu lugar entre a produção tradicional insuficientemente eficaz e as práticas
modernas dispendiosas e insustentáveis para os países em desenvolvimento.
Da mesma forma como afirma neste manual Olivier de Schutter, estamos convencidos
que a agroecologia e o direito à alimentação estão destinados a convergir e com o
tempo a estabelecer uma aliança natural para melhor garantir a segurança alimentar a
Agradecemos a Caisse des Dépôts, Veolia Environnement e o Club Méditerranée por nos
terem ativamente apoiado nesta iniciativa.
Desta forma, estamos felizes de vos apresentar este Guia prático da agroecologia, que se
apresenta em forma de uma compilação de fichas. Estas fichas abordam os “fundamentos”
da agroecologia, depois descrevem os principais sistemas de produção e as práticas
agroecológicas que são associadas. O olhar sobre estas práticas é ao mesmo tempo
económico, social, e ambiental.
Esta recolha não é exaustiva. Ela é por natureza evolutiva e será enriquecida com novas
fichas sobre outros temas, como a pecuária, pouco abordada nesta primeira edição. Ela
será alimentada pelas contribuições de terreno e pelas trocas que ela suscitará.
O Guia é livremente acessível em formato eletrónico ebook sobre o site da Agrisud www.agrisud.org,
associado a um fórum de discussão que permitirá ao leitor comentar e enriquecer o nosso
trabalho. Uma versão deste Guia existe também em Francês e outra em Inglês.
Para facilitar a transferência destes conhecimentos para o terreno, ferramentas pedagógicas
foram elaboradas a partir do conteúdo deste Guia. Elas permitem conduzir em condições reais
sessões de formação prática para os técnicos de terreno, os agricultores e as ONGs parceiras.
Por este exercício, a Agrisud não pretende colocar um certificado agroecológico sobre todas
as suas ações de terreno, ainda temos muitos progressos a realizar ao preço da paciência e da
pedagogia. Da mesma forma, não há nenhuma pretenção científica, a única certificação provém
dos agricultores com quem temos vindo a experimentar estas práticas ao longo deste tempo.
Boa leitura, até já no nosso fórum!
Yvonnick Huet
Director geral
AGRISUD International
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Prefácio de Olivier de Schutter
Para o agricultor a agroecologia consiste em tentar imitar a
natureza no seu trabalho do campo. Ela baseia-se sobre as
complementaridades entre diferentes plantas e diferentes animais.
Aposta na capacidade de integração dos ecossistemas. Reconhece
a complexidade inerente aos sistemas naturais. Recompensa a
inteligência e a criatividade, diferente da agricultura industrial
que pretende alterar a natureza nos seus elementos, simplificando
e tornando monótona a atividade do agricultor. Concebe a
agricultura, não como um processo que transforma os insumos
(adubos e pesticidas) em produção agrícola, mas como um ciclo,
onde os subprodutos servem de insumos, os animais e as leguminosas
contribuem para fertilizarem os solos e as ervas daninhas têm uma função útil.
A agroecologia é sobretudo, uma forma de responder aos desafios deste século. Para
entender esta afirmativa, cito alguns fatos: A agricultura é responsável por 33% da
emissão de gases com efeito estufa de origem humana. Cerca de quase metade (14%)
resulta de práticas agrícolas não sustentáveis, e da utilização de adubos de síntese, fonte
de óxido de azoto, um dos gases com maior efeito estufa. Durante um período de sessenta
anos a eficácia energética da agricultura industrial foi dividida por vinte. Segundo o
departamento da agricultura dos Estados Unidos, em 1940 era preciso 1,0 caloria de
energia fóssil para produzir 2,3 calorias de alimentos, em 2000 era preciso 10 calorias de
energia fóssil para produzir 1,0 caloria de alimento. Desta forma, a agricultura petrolífera
de hoje destrói rapidamente os ecossistemas de que ela depende, desenvolvendo uma
dependência em energias condenadas a desaparecer, e em que os preços serão no futuro
mais voláteis e mais elevados.
Pelo contrário, a agroecologia é uma fonte de resiliência, tanto a escala de uma região,
de um país ou de uma pessoa. A África (onde hoje se pretende iniciar uma “Revolução
Verde”) importa 90% dos seus adubos químicos, e uma proporção elevada de minerais
que são destinados a fertilizar os solos, o que constitui uma base frágil onde se pretende
construir uma segurança alimentar. Da mesma forma que os países, os camponeses que
dependem de insumos custosos para a sua produção, não estão ao abrigo dos choques
económicos que podem resultar das brutais subidas de preços. O contrário acontece,
quando os camponeses priorizam o uso dos biopesticidas ou adubos orgânicos, que são
produzidos localmente através do composto, do estrume ou pela utilização de plantas
que podem captar o azoto e fertilizar os solos. O custo da produção cai e os rendimentos
líquidos aumentam às vezes de forma espetacular.
Como então, explicar que a agroecologia seja pouco difundida? Como compreender
que a agroecologia não consta como prioridade nos programas agrícolas dos países que
hoje tentam reformar a sua agricultura? Várias razões explicam sem dúvida a lentidão
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AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
dos governos em fazer dessa prática um eixo prioritário das suas ações, como: Certos
bloqueios mentais, pela convicção fortemente ancorada numa concepção do que
representa a modernização agrícola, acreditando que o progresso da agricultura passa
necessariamente pelo aumento dos insumos, pela irrigação e mecanização avançada,
tendo como base o modelo da “Revolução Verde” de 1960. A resistência de certos meios,
como o dos produtores de insumos de síntese, para quem o desenvolvimento em grande
escala das práticas agroecológicas significaria uma perda do mercado. Certas práticas
agroecológicas são intensivas em mão-de-obra, sendo mais fáceis de serem praticadas
em pequenas parcelas, onde o trabalhador agrícola está ligado à terra, e investindo a
longo prazo. Desta forma a agroecologia opõe-se à ideia de que o progresso significa
necessariamente o aumento da produtividade da mão-de-obra, o que quer dizer, produzir
mais com menos trabalho e mais capital. Como não aceitar a evidência e a urgência nos
tempos de hoje, de desenvolver o emprego e de apostar numa melhor produtividade,
não dos homens e das mulheres mas, sobretudo, dos recursos naturais que se esgotam
rapidamente?
Observando outros aspectos, percebemos que a agroecologia é intensiva em mão-deobra, mas também o é, em conhecimento. Ela supõe transferência de saberes, baseia-se
sobre trocas entre os agricultores e transforma-os em especialistas. Ao invés das boas
práticas virem dos laboratórios, tem a sua origem nos locais de experimentação, que são
os campos onde se cultiva. Desta forma, a agroecologia é uma fonte de emancipação para
os camponeses, transformando o agricultor de mero receptor de conselhos para coautor,
equilibrando as relações entre os detentores e os utilizadores do saber, e assim o camponês
encontra-se dos dois lados ao mesmo tempo. Nos países onde a exclusão dos camponeses
das decisões políticas, constituiu uma das maiores causas do fraco investimento na
agricultura, e mais ainda das escolhas nas políticas agrícolas, que sacrificaram tanto a
justiça social quanto a durabilidade ambiental, faz com que a agroecologia tenha efeitos
subversivos consideráveis.
É por todas estas razões, que a agroecologia e o direito à alimentação estão destinados
a convergir e com o tempo, a celebrar uma aliança natural, porque a agroecologia pode
reforçar a capacidade dos camponeses com maiores dificuldades em se alimentarem,
podendo garantir uma maior segurança alimentar a longo prazo. Reforçando o lugar dos
camponeses no sistema da produção agrícola em que muitas vezes foram reduzidos a
simples agentes de execução. Por tudo isso, a agroecologia é um instrumento ao serviço
do direito do homem a uma alimentação adequada, ou seja, o direito a uma alimentação
digna. Saúdo a publicação deste Guia como uma contribuição, em favor de sistemas
agrícolas e alimentares mais justos e mais duráveis.
Olivier de Schutter
Relator especial das Nações Unidas
sobre o direito à alimentação
Prefácio de Pierre Rabhi
Imaginar hoje uma crise alimentar mundial parece impossível para
o cidadão dos países ricos. A superabundância de alimentos que
ele faz uso e abusa o instalou numa segurança quase indestrutível.
Nada mais banal que a comida que mobiliza somente 13% do
orçamento das famílias dos países ditos desenvolvidos…
Esta segurança é todavia ilusória visto que a alimentação faz objeto de
transportes e transfêrencias incessantes. O término destes trânsitos
colocaria em evidência a incapacidade das populações em sustentar de
forma autónoma, com os recursos dos seus diversos territórios de vida,
as suas necessidades vitais. Além disso, esta alimentação é oriunda de
um modo de produção fundado essencialmente sobre a química de
síntese, com o uso de pesticidas prejudiciais aos ambientes naturais e à saúde humana e
animal. Este fato foi colocado em evidência por cientistas que a deontologia transcende
os compromissos e as numerosas falsificações produzidos por uma sociedade que fez da
finança o bem supremo.
Quanto aos países ditos em desenvolvimento, o volume de alimentos necessários para
manter a sua existência não para de diminuir, em particular em função de uma lógica
que os mobiliza a produzirem para exportar, com base em insumos caros, produções
submissas à arbitrária e implacável lei do mercado internacional.
Por esta razão e por outras ainda, a agricultura moderna subvencionada dos países ricos
tida por erradicar as penúrias alimentares no planeta, os tragicamente agravou. Num
contexto de um mundo em crise política, económica, geopolítica, ecológica, energética
e humana, a problemática da alimentação não pode continuar a ser tratada como uma
questão subsidiária sem risco de um desastre social considerável. Pela preponderância
absoluta que ela representa para cada uma e cada um de nós sem a menor exceção,
a alimentação constitui o desafio mais decisivo para a continuação da nossa história.
Comparada à crise alimentar já presente e que não deixa de ganhar amplitude, a crise
financeira será tida como uma anedota.
Podemos afirmar que hoje, todos os parâmetros relativos à problemática da alimentação
são negativos: os solos destruídos pela erosão, a desflorestação irresponsável, práticas
agronómicas prejudiciais à sua vitalidade biológica, a água poluída e insalubre, 60 %
do património de sementes constituído pela humanidade desde 10.000 anos já está
perdido em benefício dos híbridos e da impostura dos OGMs, o desaparecimento e
o abandono das terras produtivas pelos camponeses em benefício da concentração
urbana improdutiva geradora de miséria, a afetação dos terrenos desflorestados à
produção de biocombustíveis, a extinção das abelhas e outros insetos indispensáveis
à polinização, etc.
Este cenário objetivamente verificável, inscreve-se entre outros, nos riscos climáticos e
meteorológicos cada vez mais imprevisíveis, como podemos constatar em toda a esfera
terrestre. A isto têm que ser acrescentadas as violências intestinas que não deixam de
multiplicar, e que têm efeitos desastrosos sobre a produção alimentar.
Enquanto os países ricos se obstinam numa agricultura que não pode produzir sem destruir, os
países em desenvolvimento estão num dilema entre produção tradicional insuficientemente
eficaz e práticas modernas dispendiosas e insustentáveis para eles. Para tomar somente um
exemplo, a fabricação de uma tonelada de adubo necessita de duas toneladas de petróleo,
ele mesmo indexado ao dolár cujo valor é determinado pelo humor da bolsa de valores. No
entanto, hoje, as reservas de petróleo esgotam inexoravelmente. Basear o futuro alimentar
sobre esta matéria expõe a decepções e impasses sem precedente.
A agroecologia que começamos a experimentar desde os anos 1962 na nossa própria quinta
sobre solos pedregosos do sul da França, e a partir de 1981 em zona semi árida do Burkina
Faso, demostrou depois de aplicações rigorosas, o seu rendimento e a sua pertinência como
alternativa universal validada especialmente pelos camponeses mais pobres1.
Até a prova do contrário, a agroecologia cujo presente Guia mostra os aspetos operacionais,
é a única via possível para o futuro alimentar em geral, e o dos países ditos em
desenvolvimento em particular. Eu não posso deixar de agradecer a associação Agrisud, por
ter aceito integrar no seu programa de solidariedade já muito consistente, a alternativa
agroecológica que ela constatou a pertinência, e que ela se aplica connosco a propagar nos
seus vários sítios operacionais.
Mas, esta aliança nunca poderia ter sido selada sem o encontro das consciências
trabalhando com a mesma determinação e convicção para melhorar as condições das
populações excluídas pela modernidade. Assim, o encontro de Janeiro de 2008 com
Robert Lion, Yvonnick Huet, Dominique Eraud e eu mesmo foi determinante. Ela foi um
pontapé de saída decisivo para uma colaboração já frutuosa e que sem dúvida, o será
cada vez mais.
Pierre Rabhi
Fundador do movimento Colibris
e de Terra e Humanismo
Crédito foto: © Corine Brisbois
Ler “A Oferenda ao crepúsculo” publicado pela editora l’Harmattan, que descreve e justifica esta
experiência positiva – prémio em 1989 pelo Ministério da Agricultura Francês.
1
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Alternativa para uma agricultura durável
A agroecologia inscreve-se no quadro da ecologia, ela interessa pelas interações entre o Homem e o seu meio, bem como as suas consequências, tentando
minimizar os efeitos negativos de certas atividades humanas.
Visa a preservação do meio ambiente, a renovação durável dos recursos naturais necessários à produção (água, solo, biodiversidade...) e a economia no uso dos
recursos não renováveis. Ao reduzir o uso dos produtos químicos até serem abandonados, tende então para uma agricultura biológica e contribui para melhorar a
saúde dos agricultores e dos consumidores.
As práticas agroecológicas combinam respostas de ordem técnica que permitem conciliar produtividade, fraca pressão sobre o meio ambiente e gestão durável dos
recursos naturais. Trata-se assim do equilíbrio entre o Homem, as suas atividades agropecuárias e a natureza.
Agroecologia, agricultura de conservação, agricultura ecologicamente responsável, são tantas denominações visando a promoção de uma agricultura durável,
respeitosa do meio ambiente, economicamente eficiente, portadora de um desenvolvimento humano preocupado fortemente com a segurança alimentar e a saúde
das populações.
Respeitosa do
meio ambiente
Economicamente
eficiente
AGROECOLOGIA
Produtor, Sul de Marrocos
Comerciante, Sri Lanka
Portadora de
desenvolvimento humano
Família, Camboja
É esta agroecologia que orienta as ações da AGRISUD junto dos agricultores nos seus diferentes países de intervenção, com uma abordagem sistemática que
abrange tanto as componentes económicas quanto as sociais e ambientais.
Esta abordagem sistémica permite preservar os equilíbrios muitas vezes frágeis entre o Homem e o seu meio.
A AGRISUD pretende progredir neste caminho para se converter plenamente num operador da ecologia.
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AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
A agroecologia: uma resposta eficaz para conciliar segurança alimentar, preservação dos agrossistemas e desenvolvimento económico e social
Qualquer que seja o lugar e qualquer que seja o tamanho da sua exploração agrícola, o agricultor tem como preocupação fundamental, valorizar a sua produção.
A agroecologia basea-se num conjunto de práticas agrícolas ao serviço desta valorização. O agricultor gera rendimentos para satisfazer as suas próprias necessidades,
contribui à segurança alimentar e à melhoria da saúde da sua própria família e das populações que ele abastece. Os resultados medem-se especialmente em
termos de qualidade nutricional, sanitária e ambiental dos produtos e são avaliados também em termos de preservação do potencial de produção.
A agroecologia deve ser implementada a nível da totalidade de um espaço produtivo: “terroir”, zona baixa, perímetro de produção... Um agricultor praticando a
agroecologia terá um impacto sobre a preservação do seu agrossistema tanto mais importante que se os seus vizinhos adoptarem as mesmas práticas.
Enquanto preserva os equilíbrios, a agroecologia pode pretender atingir um certo nível de intensificação para contribuir de forma eficaz para os desafios alimentares
do planeta.
Tabela sintética das vantagens e dos inconvenientes das práticas agroecológicas:
NÍVEL
VANTAGENS
INCONVENIENTES
Ambiental

Gestão
durável dos recursos naturais: fertilidade dos solos, recursos
hídricos e biodiversidade

Redução da pegada ecológica e proteção contra as poluições agrícolas

Luta contra a erosão e a desertificação

Boa gestão dos “terroirs” e dos equilíbrios ecológicos

Redução da pressão sobre o meio ambiente e os ecossistemas

Efeitos
Económico

Redução
dos encargos ligados à utilização dos insumos químicos de síntese
e/ou a certas técnicas (trabalho do solo, corte e queima, monda…)

Valorização dos materiais existentes localmente

Possibilidade de melhor valorizar os produtos provenientes das práticas
agroecológicas (melhor preço ou preferência da parte dos consumidores)

Durabilidade do potencial de produção agrícola e da atividade económica

Em
Social

Melhoria

Evolução
da segurança alimentar em quantidade e regularidade
da qualidade nutricional e organoléptica dos produtos

Melhor proteção sanitária dos agricultores, da sua família e dos consumidores,
graças à redução do uso dos produtos químicos

Maior autonomia dos produtores permitida pela redução da dependência em
relação aos fornecedores de insumos

Rendimentos gerados investidos no desenvolvimento social (educação saúde...)

Valorização dos conhecimentos e da experiência dos produtores e dos recursos
locais, técnicas adaptáveis aos diferentes contextos

Melhoria
de alguns tratamentos fitossanitários naturais
menos imediatos em relação aos produtos químicos de
síntese mas vantajosos a médio e longo prazos

Necessidade eventual de espaços complementares, para
integrar as práticas agroecológicas (criação de “bocage”,
plantas de cobertura…)
alguns casos, rendimentos inferiores, compensados pela
redução dos encargos e pela melhoria da fertilidade a longo
prazo

Necessidades às vezes maiores em mão-de-obra para algumas
operações

Fraca valorização da qualidade dos produtos devido ao poder
de compra limitado dos consumidores
necessária das práticas tradicionais ou
convencionais necessitando vontade e motivação
Alternativa para uma agricultura durável
7
O guia, manual do utilizador
Estrutura do guia
O guia é organizado em função dos sistemas de cultivo e do tipo de clima, fatores determinantes na escolha das práticas agroecológicas.
Parte 1 / Os fundamentos: Apresentação das interações entre os diferentes elementos que são o solo, a água, a planta, o animal e a paisagem no seio de um
agrossistema e identificação dos grandes princípios ligados à gestão destes elementos.
Parte 2 / Os sistemas de produção: Apresentação das características agroecológicas das zonas climáticas e descrição rápida dos sistemas de cultivo e da
valorização das produções com o exemplo de alguns países.
Parte 3 / As práticas: Descrição do princípio, dos métodos de implementação e das vantagens e desvantagens a nível técnico, económico e ambiental das
diferentes práticas.
Apresentado sob a forma de fichas, o guia permite ao utilizador adaptar a sua leitura conforme o seu interesse, sem necessariamente seguir um caminho linear.
Parte 1 / Os fundamentos
 1 ficha apresentando um esquema geral explicativo das interações existentes entre o solo, a água, a planta, o
animal e a paisagem no seio de um agrossistema;
 5 fichas apresentando para cada um dos 5 elementos (solo, água, planta, animal e paisagem) os grandes
princípios da sua gestão e as práticas agrícolas associadas, as consequências das más e boas práticas agrícolas e
o testemunho de um produtor.
Descrição detalhada de uma ficha:
Apresentação dos grandes princípios
para uma gestão racional do elemento
8
Provérbio exprimindo uma ideia
chave ligada à gestão do elemento
Práticas agrícolas ilustradas
Esquematização das consequências
das diferentes práticas agrícolas
Testemunho de um produtor sobre
uma determinada prática
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Parte 2 / Os sistemas de produção
 6 fichas apresentando os diferentes contextos agroecológicos e a implementação da atividade agrícola através do
exemplo de vários países: sistemas hortícolas em zona húmida (Camboja, Madagáscar) e em zona seca (Marrocos,
Níger), sistemas frutícolas em zona húmida (Camboja, Sri Lanka) e em zona seca (Marrocos, Níger), sistemas
de culturas alimentares pluviais (Gabão) e sistemas rizícolas irrigados (Madagáscar). As 6 fichas apresentam
também os efeitos das diferentes práticas agroecológicas sobre o solo, a água, a planta e a paisagem.
Descrição detalhada de uma ficha:
Quadro de apresentação da situação
agroecológica
Quadro das práticas agroecológicas
associadas ao sistema para responder aos
desafios identificados
Apresentação dos efeitos diretos e
indiretos das práticas sobre o solo, a
água, a planta e a paisagem
Descrição da atividade tal como é
praticada através das intervenções da
AGRISUD
Identificação dos desafios da atividade
à luz das condições agroecológicas
Ilustrações das práticas através de fotos
Parte 3 / As práticas
 29 fichas apresentando o princípio, os métodos de implementação e as vantagens e desvantagens de cada
prática...
 … classificadas em 6 temáticas: gestão da água (3 fichas); produção de fertilizantes (4 fichas); horticultura (10
fichas); fruticultura (3 fichas); culturas alimentares pluviais (7 fichas) e rizicultura irrigada (2 fichas).
Descrição detalhada de uma ficha:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Obter plantas de qualidade;
» Dispor de plantas sãs e vigorosas, de forma a limitar
os tratamentos fi
fitossanitários (redução dos custos);
» Garantir a fase de arranque dos ciclos culturais e uma
produção máxima.
Condições de implementação:
» Dispor de um terreno com uma fonte de água;
» Dispor de areia, de terra proveniente da cama
florestal e de estrume curtido ou de composto bem
curtido;
» Dispor de sementes de qualidade;
» Dispor das ferramentas (pá, regador equipado com
um chuveiro com perfurações fi
finas, peneira);
» Dispor de madeira, caules de cereais, folhas de
bananeiras, tábuas de madeira, bambus... para
fabricar o canteiro suspenso em bancadas.
O local do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deverá satisfazer a maioria dos seguintes
critérios:
Escolha do terreno
Justifi
ficativa
Proximidade de uma fonte de água
¼
Facilitar a rega
Próximo da casa (se possível)
¼
¼
Facilitar o cuidado e a manutenção do viveiro
Afastar o viveiro das zonas de produção (risco fitossanitário)
Protegido do vento e dos animais
¼
Evitar as perdas devidas às rajadas de vento e/ou à divagação dos animais
Afastado das parcelas em fim de
cultivo
¼
Evitar os ataques das pragas presentes nas culturas
¼
Evitar o sobreconsumo de água e o estresse térmico das plantas, assim
como a deterioração das bolsas e plantas pelas chuvas fortes
Protegido da chuva e do sol, mas
arejado
depois da sementeira e antes da emergência, depois afastar a palha de modo
a deixar o caule das plantas livres, mantendo o empalhamento nas interlinhas
(conservação da humidade e proteção das plantas jovens);
- Monda: arrancar as infestantes para evitar a concorrência e a infestação do
viveiro, esta operação deve ser feita regularmente, para evitar o arranque das
plantas no mesmo tempo que as infestantes com sistema radicular já demasiado
desenvolvido;
- Controlo do estado sanitário: eliminar as plantas doentes e fracas.
Estas etapas desenrolam-se regularmente conforme as necessidades até que
as plantas estejam prontas para a transplantação. A duração de um ciclo de
produção depende da cultura.
Mesa feita
a com
om b
bambu,
ambu,
ambu
m
RD do Cong
n o
Mesa feita com
m tá
ábuass de
e madeira
m
,
Sri
ri La
Lanka
Lanka
a
substituir as plantas mortas ou atacadas (complantação);
Económicas
À Limita as perdas provocadas pela podridão das sementeiras e pelos
ataques de pragas;
 Representa um custo de construção das infraestruturas para viveiros de
grandes superfícies.
Ambientais
de síntese.
Para facilitar a recuperação das plantas na parcela, é possível endurecer as plantas
no viveiro antes da sua transplantação. Deve ser feito no fim da fase do viveiro:
¼ reduzindo
¼ evitando
consideravelmente as regas;
fornecer azoto às plantas;
as redes de proteção.
ˆ O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
O viveiro suspenso em bancadas é uma prática que permite aos produtores,
iniciar mais cedo a sua produção na estação chuvosa mantendo um domínio
técnico de qualidade do viveiro. Os produtores podem colher precocemente
em relação aos outros e aproveitar preços mais vantajosos.
Ao reduzir a podridão das sementeiras e as infestações por parte dos
nemátodos graças a um substrato sã e regularmente renovado, os produtores
diminuem os seus encargos de exploração, o que os permite investirem mais
facilmente e de forma efi
ficiente na compra de sementes de qualidade.
Construir uma mesa que pode conter o subtrato com uma espessura
ra de
d 5 a 10 cm, a 1 m de altura do solo
(mesa em bambu com cama de folhas de bananeiras, mesa com feixes
fe
de
e caules de milho ou sorgo…)
Mesa feita
eita com
om ttroncos
roncos
oncos de
on
d banane
banan
b
ba
iras
ass
e caules
au
aules
ules de mi
milho,, Madagáscar
Madagá
a
das sementeiras) e reduz os riscos de ataques pelas aves e outras pragas;
À Permite uma boa fertilização assegurando o vigor das plantas jovens;
À Permite um melhor controlo do meio de cultura;
À Favorece uma emergência regular das plantas jovens;
 Necessita fabricar uma infraestrutura;
Â É difícil de implementar para viveiros com grandes superfícies.
À Permite controlar o meio de cultivo sem recorrer aos insumos químicos
OBSERVAÇÕES
¼ retirando
2-A fabricação da mesa
À Protege contra as pragas e doenças do solo (nemátodos com galhos e podridão
À Permite reservar plantas no viveiro, depois da transplantação, para
1 / Os fundamentos
1-A escolha do local
Vantagens e desvantagens
Técnicas
(de manhã e no fim da tarde) para economizar a água, evitar as regas excessivas
no fim da tarde na estação chuvosa ou em zona húmida, utilizar um regador com
chuveiro com perfurações finas para não danificar as plantas jovens;
- Empalhamento: cobrir a cama de sementes com palha seca finamente cortada
2 / Os sistemas de produção
Efeitos:
Método
5-A manutenção
- Rega: manter a terra húmida sem a ensopar, privilegiar os períodos mais frescos
PARA IR MAIS LO
Ficha: Composta
Ficha: Composta
Ficha: Curtição d
Viveiro com empa
emp lhame
lha
lham
lhamento
Plantas
antas
as jovens
j en vigorosas e sãs
sã
Ficha: Tratament
3 / As práticas
Para tal, o viveiro suspenso em bancadass (sobrelevado)
é o mais indicado.
O viveiro suspenso em bancadas permite produzir plantas ao abrigo das degradações frequentemente
encontradas a nível do solo: substrato sã e de qualidade renovado a cada ciclo, solo sem acumulação
permanente de água na estação chuvosa, facilidade de cobertura do viveiro para proteger as plantas jovens.
1 / Os fundamentos
Portanto, é oportuno colocar as plantas num
ambiente sã e controlado desde a sementeira até
a transplantação.
Princípio
2 / Os sistemas de produção
Princípio,
método
(etapas
da
implementação ilustradas por fotos,
esquemas, quadros…)
Viveiro suspenso em bancadas
Horticultura
A produção de plantas hortícolas sãs e robustas
no viveiro, constitui a primeira etapa-chave do
sucesso de uma cultura.
3 / As práticas
Descrição
sumária
da
prática,
identificação dos países, quadro dos
efeitos, objetivos e condições de
implementação da prática
“Vantagens e desvantagens” da prática a
nível técnico, económico e ambiental
Síntese “O que é importante assimilar”
Referência a outras fichas para informações
complementares “Para ir mais longe”
O guia, manual do utilizador
9
10
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Sumário
Sumário
1/ Os fundamentos
17
21
O solo
25
A água
29
A planta
O animal
33
1
57
2
A paisagem
2/ Os sistemas de produção
41
Sistemas hortícolas
49
Sistemas de
produção frutífera
55
Sistemas de culturas
alimentares pluviais
Sistemas rizícolas irrigados
3/ As práticas
59
Gestão
da água
73
Produção
de fertilizantes
89
Horticultura
127
Fruticultura
141
Culturas
alimentares pluviais
169
3
Rizicultura
irrigada
SUMÁRIO
11
Os elementos e a sua interação num agrossistema.............15
O solo............................................................................................17
A água..........................................................................................21
A planta........................................................................................25
O animal.......................................................................................29
A paisagem..................................................................................33
12
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Província de Luang Prabang, Laos
3 / As práticas
1 / Os fundamentos
OS FUNDAMENTOS
13
14
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Os elementos e a sua interação num agrossistema
Vapor de água
O solo resulta da alteração da rocha-mãe e é modificado
pelo Homem;
O solo contém os elementos nutritivos necessários ao
desenvolvimento da planta que os assimila pela absorção da
água (função do sistema radicular);
As plantas do grupo das leguminosas fixam o azoto no solo;
A água do sub-solo permite a irrigação das plantas e a
1 / Os fundamentos
O Solo, a Água, a Planta, o Animal e a Paisagem estão em
constante interação:
A planta nutre o animal;
O animal fornece matéria orgânica (estrume); ele nutre o
solo que por sua vez nutre a planta = reciclagem;
Reciclagem
favorecida pela
atividade dos
micro-organismos
Reciclagem
favorecida pela
atividade dos
micro-organismos
A paisagem protege a planta (quebra-vento) e nutre
o solo (fornecimento de biomassa) que nutre as plantas =
reciclagem;
A planta protege o solo dos efeitos da radiação solar, dos
ventos e das chuvas torrenciais;
Os vegetais pela fotosíntese absorvem o gás carbónico,
fixam o carbono e libertam o oxigénio na atmosfera.
Rocha-mãe
Um solo protegido e enriquecido com matéria orgânica tem
uma melhor capacidade de retenção de água e uma melhor
capacidade de fixação dos elementos nutritivos ()...
Os elementos e a sua interação dentro de um agrossistema
3 / As práticas
Um ecossistema é um meio definido onde os seres vivos (animais e vegetais) interagem com a matéria inerte numa relação de interdependência para formar uma unidade
ecológica. Quando o conjunto dos equilíbrios do ecossistema é preservado, a fauna e a flora (micro, meso e macro fauna e flora) desenvolvem-se em complementaridade o que
permite o equilíbrio do sistema (círculo virtuoso).
Um agrossistema é um ecossistema específico no qual o Homem intervem aplicando técnicas de produção agrícola, como a preparação dos solos para cultivo (lavoura do
solo, adubação com matéria orgânica), a instalação e a manutenção das culturas, implementando atividades pecuárias e praticando uma boa adubação em compensação
das exportações de minerais.
A intervenção do Homem deve ser racionalizada tomando em conta os mecanismos naturais, para preservar os equilíbrios indispensáveis para o desenvolvimento durável
da sua atividade agrícola.
A agroecologia combina soluções de ordem técnica que permitem ao Homem conciliar a produtividade com uma fraca pressão sobre o meio ambiente e a gestão durável
dos recursos naturais. Integra as interações entre o solo, a água, a planta, o animal e a paisagem com o objetivo de integrar a atividade no seu meio e basea-se sobre um certo
número de princípios na gestão destes elementos (cf. fichas Solo, Água, Planta, Animal e Paisagem).
2 / Os sistemas de produção
sustentação das plantas de enraizamento profundo;
15
16
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Preparação de um composto, Níger
O solo
« Restitua à terra as suas perdas e ela regalar-te-á com os seus bens »
3 / As práticas
- Provérbio marroquino -
OS FUNDAMENTOS / O solo
17
O solo, base e produto da matéria viva.
O solo é a camada terrestre superior oriunda da tranformação da rocha-mãe. Este evolui pela ação dos fatores do meio
(clima e vegetação) e do Homem que o transforma ao longo do tempo.
O solo garante diferentes funções: a função alimentar (contém os elementos necessários ao desenvolvimento das culturas);
função de suporte (onde o Homem desenvolve as suas atividades) e função ambiental (retenção de água, base da paisagem…).
 É fundamental gerir este recurso de uma forma responsável para o preservar e o valorizar.
Três grandes princípios devem ser tomados em conta, através da implementação de diferentes práticas complementares
1. Um trabalho cuidadoso do solo que melhora a sua estrutura e permite o
desenvolvimento natural da microfauna e da microflora nos diferentes estratos.
Ex.de práticas agrícolas associadas:
- Sacha;
- Lavoura mínima;
- Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura,
empalhamento.
2. Uma gestão da fertilidade do solo baseada prioritariamente nos elementos
orgânicos, cuja incorporação é essencial para conservar e melhorar a estrutura,
a aeração, a retenção da água e a absorção dos elementos nutritivos.
 NOTA
A adubação mineral pode ser utilizada em complemento da adubação orgânica.
Empalhamento
18
Composto líquido
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Fornecimento de composto sólido e líquido;
- Fornecimento de estrume curtido;
- Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura,
empalhamento;
- Pousios melhorados;
- Adubação de correção (calcário moído, areia, calagem…) para manter o solo
e restaurar os solos degradados;
- Adubação de fundo fosfocálcica entre outros para melhorar a textura dos
solos;
- Fornecimentos específicos de cobertura para corregir eventuais carências.
3. Uma cobertura vegetal permanente do solo para preservar a fertilidade
dos solos cultivados a longo prazo.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Sucessões culturais e afolhamento;
- Associações de culturas;
- Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura,
empalhamento.
Bananeiras sobre Brachiária
Fornecimento de fosfato natural
Beringelas sobre cobertura vegetal
Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre o solo
1 / Os fundamentos
Monocultura:
esgotamento dos solos
Associações
e sucessões de culturas,
diversificação:
variação dos elementos
absorvidos pelas plantas;
cobertura vegetal
permanente do solo
Fabricação de composto,
curtição do estrume
Fertilização
orgânica
Queima dos resíduos
de culturas:
mineralização
e fornecimento de K
Solos compactados
pobres em
matéria orgânica
Lixiviação dos
elementos minerais:
N, P, K, Ca, Mg...
Cobertura
vegetal
Disponibilidade
em nutrientes
limitada
Nutrientes disponíveis
após mineralização:
N, P, K, Ca, Mg...
Boa retenção
dos minerais e
da água no solo
Conservação
da estrutura e
da fertilidade do solo
Pouca vida no solo:
acentua a compactação e o empobrecimento
Dinamismo da vida no solo:
reciclagem dos elementos orgânicos, criação de húmus;
aeração/decompactação
Insuficiência dos fornecimentos de matéria orgânica
(importância dos encargos em insumos químicos de síntese)
Culturas não diversificadas
Fornecimentos consequentes de matéria orgânica
(redução dos encargos em insumos químicos de síntese)
Diversidade de culturas
 Degradação da estrutura dos solos
 Preservação da estabilidade da estrutura dos solos
 Esgotamento do solo (exploração não sustentável)
 Preservação da fertilidade do solo (exploração sustentável)
OS FUNDAMENTOS / O solo
3 / As práticas
Fertilização:
estrume
não curtido
em pequena
quantidade
+ adubos
químicos
de síntese
Práticas agroecológicas
2 / Os sistemas de produção
Práticas inadaptadas
19
Palavras de produtores...
Pastor Léon
Produtor em Andranomavo, Madagáscar
Pastor Léon fala-nos sobre o composto...
« A produção do composto é um trabalho considerável. É por esta razão que no
início eu não queria seguir as orientações dos técnicos da AGRISUD.
Comecei a experimentar com uma pequena quantidade de composto, que utilizei
para adubar uns quinze pés de tomate na minha parcela.
Observei uma grande diferença: o tomate cultivado com estrume e adubos
químicos desenvolve muito mais rapidamente no início, mas perde as suas folhas
depois da terceira colheita, e obtivemos seis colheitas no total.
Mas para o tomate que plantei utilizando composto, as folhas permaneceram nas
plantas até a decima-segunda colheita, e os rebentos continuaram a rebrotar
produzindo novas flores e novos frutos ».
Pastor Léon é seguido no âmbito de um projeto de profissionalização da agricultura na Região de Itasy em Madagáscar. Ele é atualmente um dos produtores
de referência na sua fokontany (aldeia).
Depois de ações pilotos em 2008, o projeto entrou desde o ano 2009 numa fase de divulgação em 8 Concelhos e envolve 720 agricultores nos seguintes domínios:
- sistema de rizicultura intensiva (SRI);
- culturas alimentares pluviais;
- culturas hortícolas e frutíferas.
Um sistema de acompanhamento das fileiras agrícolas e dos mercados, acompanha o reforço e a diversificação da produção, que na sua maior parte é valorizada
nos mercados regionais e nos de Antananarivo.
20
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Irrigação de uma horta caseira, Laos
A água
« Não deite fora o resto da água do teu jarro quando a chuva se anuncia »
3 / As práticas
- Provérbio africano -
OS FUNDAMENTOS / A água
21
A água, sem ela, não há cultivo nem criação de gado.
O ciclo da água é também o ciclo da vida. Quer ela seja líquida ou gasosa, presente no solo ou na atmosfera, ela permite a vida
do solo, transporta os elementos nutritivos para a planta e dá de beber aos Homens e aos animais.
A água pode também ser devastadora; ela degrada os solos pela sua ação, destrói as culturas com as chuvas torrenciais, e às
vezes provoca inundações.
 É então necessário adotar práticas responsáveis para gerir os excessos e/ou as carências deste recurso.
Quatro grandes princípios devem ser tomados em conta, através da implementação de diferentes práticas complementares
1. Uma mobilização dos recursos hídricos de uma forma económica e responsável
e uma irrigação racional e organizada.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Organização da distribuição da água;
- Infraestruturas, redes de irrigação e materiais de extração da água adaptados.
2. Um uso da água responsável para evitar os desperdícios (preservar o recurso)
e os gastos energéticos supérfluos.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Trabalho dos terrenos (aplainamento, canais, perfis dos canteiros, covas…);
- Culturas em curvas de níveis.
3. Uma conservação da água nos solos garantida em benefício das plantas cultivadas.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Fornecimento de adubo orgânico de fundo (composto e estrume curtido);
Poço, Níger
22
Bomba com pedal, Níger
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
- Sacha;
- Amontoa;
- Sistemas de cultivo com Cobertura Vegetal (SCV): plantas de cobertura,
empalhamento;
- Associação de culturas;
- Criação de “bocage” (sebes vivas e quebra-vento).
4. Uma proteção da água contra as poluições (efluentes orgânicos ou químicos).
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Tratamentos e adubos naturais biodegradáveis;
- Recolha e utilização adaptada de “urina” e estercos;
- Redução na utilização de pesticidas químicos de síntese por uma estratégia
integrada de luta fitosanitária.
Cultivo em covas, Madagáscar
Arrozal SRI, Madagáscar
Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre a água
Criação de
um “bocage”:
conservação
da humidade
nas parcelas,
infiltração da água
Evapotranspiração elevada
Ausência de “bocage”:
dessecação das
culturas pelo efeito
do vento e do sol
1 / Os fundamentos
Práticas agroecológicas
Evapotranspiração limitada
Ausência de cobertura do solo:
compactação,
ascensão capilar,
dessecação
2 / Os sistemas de produção
Práticas inadaptadas
Cobertura vegetal
permanente:
conservação da
humidade no solo
O recurso hídrico
esgota-se
Importância dos trabalhos e dos encargos de irrigação
Grande consumo de água
Redução dos períodos de cultivo na estação seca (falta de água)
 Esgotamento dos recursos hídricos (cultivo não durável e culturas
regularmente expostas ao estresse hídrico)
Conservação da
humidade no solo
para as culturas
Solo bem fertilizado,
rico em matéria orgânica:
boa retenção de água
O recurso hídrico é bem conservado
e renova-se
Limitação do tempo e dos encargos de irrigação
Práticas económicas e medidas de conservação da água no solo
Possibilidade de culturas na estação seca (domínio na gestão da água)
3 / As práticas
Disponibilidade
de água limitada
para as
culturas
Solo com queima, pobre
em matéria orgânica:
fraca retenção de água
 Conservação dos recursos hídricos (exploração durável e culturas sem
estresse hídrico)
OS FUNDAMENTOS / A água
23
Palavras de produtores...
Norberto
Produtor em Avaradalana, Madagáscar
Norberto fala-nos sobre os benefícios da prática do empalhamento…
« O cultivo com empalhamento reduz em 4 vezes a frequência da irrigação.
Durante a estação seca, há uma grande quantidade de palhas disponíveis, as
atividades agrícolas são reduzidas e como o tempo é muito seco, o empalhamento
ajuda-nos muito.
Por outro lado na estação das chuvas, temos menor necessidade de economizar
água, e sobretudo, temos demasiado trabalho com as culturas de sequeiro.
Mas no próximo ano tentarei utilizar o empalhamento, visto que as infestantes
crescem rápido e que o empalhamento pode nos ajudar a reduzí-las ».
Norberto foi um dos primeiros agricultores a ser integrado no projeto piloto de profissionalização na região de Itasy em Madagáscar. Iniciado em 2008, este
projeto de 18 meses pretendia reforçar os sistemas agrícolas e diversificar a produção em função das necessidades de aprovisionamento dos mercados.
Um primeiro grupo de 86 agricultores provenientes de 16 fokontany (aldeias) foi formado para trabalhar sobre a melhoria da rizicultura, das culturas alimentares
de sequeiro e do cultivo de legumes em campo aberto. Foi também feito um diagnóstico agrário da zona e das explorações agrícolas; foram identificadas 7
grandes fileiras: tomate, batata comum, cebola, arroz, papaia, ananás, milho.
As primeiras ações incidiram na apropriação pelos produtores das boas práticas agroecológicas para, entre outros, melhorar e conservar a fertilidade dos solos
(fabricação de composto) e melhorar a gestão da água (empalhamento).
Graças aos ganhos deste projeto, uma fase de extensão foi lançada em 2009.
24
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Plantação de ananás debaixo de bananeiras , Sri Lanka
A planta
« Sache todas as tuas plantas de sorgo porque não sabes qual delas te dará os seus grãos »
OS FUNDAMENTOS / A planta
3 / As práticas
- Provérbio nigeriano -
25
A planta, selvagem ou domesticada, rica pela sua diversidade, é a base dos agrossistemas.
A planta alimenta o Homem e os animais. Pela fotosíntese ela produz o oxigénio e fixa o carbono. As suas raízes colonizam o solo
e favorecem a vida subterrânea, a sua parte aérea protege o solo e cria um ambiente propício aos seres vivos.
 Ela pode ser erva daninha, cheia de espinhos, ou mesmo venenosa, mas a sua presença nunca é por acaso. É então
necessário preservar a diversidade das plantas.
Dois grandes princípios devem ser tomados em conta, através da implementação de diferentes práticas complementares
1. Uma adaptação das produções vegetais ao ecossistema, correspondente aos
anseios dos produtores e dos consumidores.
2. Um domínio dos sistemas de cultivo privilegiando as complementaridades no
espaço e no tempo.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Produções em que as exigências estão adaptadas aos recursos disponíveis
(água e solo);
- Produções orientadas para os mercados locais;
- Conhecimento das variedades locais adaptadas;
- Valorização dos conhecimentos e práticas agrícolas locais;
- Produção local de sementes.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Associações de culturas;
- Sucessões culturais;
- Criação de “bocage” (sebes e quebra-ventos);
- Associação culturas e criação de gado;
- Adubação orgânica;
- Tratamentos fitosanitários utilizando no máximo produtos naturais (a base
de ním, tabaco, malagueta...) ou produtos que se degradam sem prejuízos
para o ambiente.
Faixas alternadas ananás / bananeiras, Sri Lanka
26
Cultura de quiabo, Gabão
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Comerciante, Laos
Cultura de Lemon grass, Índia
Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre a planta
Não há integração
culturas / criação animal
X
Monocultura:
persistência das pragas
e doenças
Fertilização inadaptada
com fraco fornecimento
de matéria orgânica:
falta de vigor das culturas,
sensibilidade
Falta de diversidade de culturas
Mau domínio dos períodos de abundância e de penúria de produtos
Importância dos encargos em insumos químicos de síntese: adubação
inadaptada; luta química
Má sinergia entre culturas e criação de gado
 Exploração a curto prazo e criação de desequilíbrios
Tratamentos naturais
e luta integrada:
proteção do solo,
da água, da fauna e
da flora do solo,
nível aceitável de perdas
Associações de culturas:
complementaridade
entre as culturas,
limitação do
desenvolvimento
das pragas
1 / Os fundamentos
Tratamentos químicos de
síntese sistemáticos:
resistência das pragas,
eliminação dos auxiliares,
poluição das águas e
dos solos, desaparecimento
da fauna e da flora do solo
Sebes vivas:
barreira física contra a
propagação das pragas
e doenças; microclima
favorável às culturas
Variedades e itinerários
técnicos adaptados:
cultivo possível todo o ano,
tratamentos limitados
2 / Os sistemas de produção
Itinerários técnicos
mal controlados:
cultivo durante todo
o ano impossível
Práticas agroecológicas
Integração culturas / criação animal:
forragem
Sucessões culturais:
quebra dos ciclos
das pragas e doenças,
absorção equilibrada dos
nutrientes do solo
Fertilização adaptada
privilegiando os fornecimentos
de matéria orgânica:
culturas robustas,
resistentes
Diversificação das culturas
Complementaridade das culturas no tempo e no espaço
Encargos de exploração reduzidos: adubação adaptada, métodos
preventivos e produtos naturais
Integração culturas / criação de gado
3 / As práticas
Práticas inadaptadas
 Exploração durável e promoção dos equilíbrios
OS FUNDAMENTOS / A planta
27
Palavras de produtores…
Brahim Meskaoui
Agricultor em Afra, Marrocos
Brahim fala-nos sobre a diversificação das suas culturas...
« Os meus pais eram agricultores, e aprendi muitas coisas com eles. Costumava
observar o que faziam os vizinhos e os agricultores das aldeias onde tinha alugado
e comprado parcelas. Também, com os meus filhos experimentamos novas
técnicas que se revelaram ser eficazes. Aproveitamos desta forma para cultivar
todas as nossas parcelas durante o ano inteiro e a minha mulher pode cozinhar
legumes variados para alimentar os 17 membros da família, e ainda podemos
comercializar os nossos legumes e plantas aromáticas a um bom preço, quando
a oferta local tende a escassear. O meu primogénio Mohamed é responsável pelo
transporte e pela venda semanal da produção em dois souks no inverno e 3 souks
no verão.
Estou a aprender novas práticas com os técnicos do projeto Agrisud. Nós
aprendemos a fabricar composto e a tratar as plantas com produtos naturais
simples e com custos reduzidos como o alho, o gengibre, o sabão preto, etc ».
Brahim Meskaoui é acompanhado no quadro de um projeto de melhoria das práticas agrícolas numa região de oásis no sul de Marrocos. Ele é um produtor de
referência na sua douar (aldeia).
191 produtores e produtoras são também acompanhados nas províncias de Ouarzazate e de Zagora dentro dos projetos da AGRISUD nos seguintes domínios:
- fruticultura (oleicultura);
- horticultura;
- pequena criação ovina.
O acompanhamento técnico e económico e o apoio na organização profissional permitem segurar, reforçar e diversificar as atividades agrícolas em que as
produções são valorizadas nos souks (mercados locais) de Skoura, Agdz e Ouarzazate.
28
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Ovelha, Marrocos
O animal
« Dá-me palha e eu te darei leite »
3 / As práticas
- Provérbio marroquino -
OS FUNDAMENTOS / O animal
29
O animal, um precioso aliado para o agricultor e para o equilíbrio da exploração agrícola.
A criação de animais garante diferentes funções que dão resposta às necessidades do Homem: a função alimentar (carne, leite), a
função utilitária (lã para tecelagem, energia animal para a tração…), a função económica (tesouraria, receitas complementares…).
A atividade de criação de animais é um elemento de equilíbrio dos sistemas agrícolas: trocas entre as culturas e os animais (alimentação,
restituição da matéria orgânica).
 É necessário criar e manter sinergias entre as atividades de produção vegetal e a criação de animais.
Dois grandes princípios devem ser tomados em conta através da implementação de diferentes práticas complementares
1. A adaptação da produção animal ao ecossistema, respondendo a uma
demanda dos produtores e consumidores.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Produção em que as exigências são adaptadas aos recursos disponíveis;
- Produções orientadas para os mercados locais;
- Conhecimento de raças locais adaptadas;
- Valorização dos saberes e práticas locais;
- Produção local de rebanho.
Avicultor, Congo
30
Criação de suínos, Camboja
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
2. O domínio dos sistemas de criação que valorizam os recursos alimentares
locais e restituem a matéria orgânica.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Integração culturas/criação de gado;
- Valorização dos recursos locais para a alimentação do gado;
- Produção de matéria orgânica a ser utilizada nas parcelas.
Criação de ovelhas, Marrocos
Criação de suínos, Laos
1 / Os fundamentos
Palavras de produtores...
Dim Touch
Avicultor em Anlong Tasek Leu, Camboja
2 / Os sistemas de produção
Dim Touch fala-nos sobre a sua criação de galinhas…
«Depois de melhorar a manutenção da capoeira, a alimentação e o bem-estar
dos animais, e programando a criação dos frangos para a venda nas épocas das
festas khmer e chinesas, cheguei à conclusão que a criacão de aves podia ser
uma atividade económica de grande valor.
Atualmente desejo aumentar a minha produção. Eu tenho um terreno um pouco
retirado da aldeia num local favorável com sombra onde quero construir uma
capoeira maior ».
Dim Touch é um dos criadores apoiados pelo projeto de luta contra a pobreza pela promoção de fileiras agrícolas orientadas para o mercado da hotelaria e
restauração nas Províncias de Siem Reap e de Kandal no Camboja.
Entre 2004 e 2008, 120 criadores reforçaram e diversificaram os seus sistemas de produção, visando especificamente o mercado da hotelaria e da restauração.
Em 2009, 73 novos criadores aderiram à iniciativa e contribuem ao aprovisionamento dos mercados locais e dos hotéis de Siem Reap e de Phnom Penh:
- produtos hortícolas (repolho e couve, cebolinha, feijão-espargo, alface, pepino…);
3 / As práticas
- cogumelos (pleurotes);
- carne (de porco e aves).
Os 73 beneficiários apoiados pelo projeto em 2009, produziram em um ano 215 toneladas de produtos agrícolas que vieram alimentar os mercados locais em
redo de Siem Reap e de Phnom Penh.
OS FUNDAMENTOS / O animal
31
32
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Paisagem malagasy
A paisagem
« Quem planta árvores na sua juventude, terá abrigos na sua velhice »
3 / As práticas
- Provérbio malagasy -
OS FUNDAMENTOS / A paisagem
33
A paisagem, elemento fundamental do “terroir” e das suas diferentes unidades de produção.
A paisagem é modelada pelo Homem que deixa nela as suas marcas. As marcas deixadas pelas atividades agrícolas podem ser
positivas quando estas atividades conservam um equilíbrio com o seu ambiente, ou negativas quando contribuem para destruir
a paisagem que as integra, colocando-se em perigo.
Pela ação do Homem e pelos efeitos da natureza nasce um sistema agroecologicamente durável ou não.
 É então essencial inserir as atividades de produção dentro de uma visão global de organização da paisagem.
Três grandes princípios devem ser respeitados através da implementação de diferentes práticas complementares
1. A realização de construções contra a erosão para preservar os espaços
cultivados, privilegiando o aspeto de “bocage” e a diversidade das plantas
cultivadas, valorizar as águas pluviais, combater a erosão e as inundações,
recarregar os lençóis freáticos.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Faixas relvadas;
- Terraços agrícolas e cultivo em curvas de nível;
- Plantação de espécies florestais.
2. A manutenção da biodiversidade pela conservação e o desenvolvimento de
uma fauna e flora adaptadas, em equilíbrio com o seu ambiente local.
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Variedades locais adaptadas;
- Associações e sucessões de culturas;
- Valorização das espécies e dos matérias locais;
- Associação de culturas com a pecúaria.
Culturas ao pé do Monte Bangu, RDC
34
Paisagem marroquina
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
3. A arborização e a revegetação dos terrenos disponíveis para privilegiar
uma diversidade de espécies para a madeira ou a lenha, para o artesanato, a
alimentação humana e animal, a regeneração dos solos…
Ex. de práticas agrícolas associadas:
- Reabilitação dos pomares e plantações florestais;
- Cobertura do solo (cama de palha);
- Sebes e quebra-ventos;
- Técnicas de viveiros;
- Fixação de dunas;
- Agrofloresta.
Arrozal e pomar, Índia
Sebe viva de Glyricídia, Sri Lanka
Consequências das diferentes práticas agrícolas sobre a paisagem
Práticas agroecológicas
1 / Os fundamentos
Práticas inadaptadas
Arborização
Ausência de “bocage”:
dessecação e alteração
da estrutura dos solos,
aridez das zonas de cultivo,
forte evapotranspiração
Cultivo
em curvas
de nível
Cobertura
do solo
Escoamento superficial
rápido da água e
arrastamento dos solos:
erosão (o esgotamento dos solos
não permite mais o cultivo)
e assoreamento das zonas
baixas e ribeiras
Irrigação
mal
controlada
Diminuição do
recurso hídrico
Erosão
Falta de proteção dos solos
Más práticas culturais em terrenos inclinados
Má gestão dos recursos hídricos
 Potencial do “terroir” ameaçado
Ausência de
cobertura
do solo:
lixiviação
Redução dos
escoamentos
superficiais,
estabilização dos solos,
boa infiltração da
água no solo
Utilização racional da água
Proteção dos solos
e renovação
da fertilidade
Renovação e armazenamento
do recurso hídrico
Luta contra a erosão nos terrenos inclinados
Proteção dos solos
Boas práticas culturais
Gestão durável dos recursos hídricos
3 / As práticas
Cultivo ao longo
das vertentes
Faixas
enrelvadas
e socalcos
2 / Os sistemas de produção
Desenvolvimento
de um “bocage”
proteção do solo,
conservação da
humidade, renovação
da matéria orgânica
 Potencial do “terroir” preservado / melhorado
OS FUNDAMENTOS / A paisagem
35
Palavras de produtores...
Chanthramanikay
Horticultora e fruticultora em Thampalakamam, Sri Lanka
Chamthramanikay fala-nos sobre a valorização intensiva da sua parcela…
« Tenho duas crianças que cuido sozinha porque o meu marido é inválido. Sou
proprietária do meu terreno mas antigamente eu não conseguia cultivá-lo de
forma produtiva, e tinha sempre de ir trabalhar nos arrozais vizinhos como
trabalhadora.
Hoje tenho boas colheitas e desejo adquirir um outro terreno na aldeia para
o trabalhar como o primeiro, e não ser mais obrigada a trabalhar em terrenos
alheios.
É graças aos apoios da AGRISUD que a minha situação mudou. Eles ajudaramme a cavar um poço, plantei uma sebe viva de Gliricídia e fruteiras: coqueiros,
papaieiras, ananás, bananeiras,…
As técnicas aprendidas permitem-me também cultivar legumes debaixo das
espécies frutíferas ».
Chanthramanikay é uma das produtoras que beneficiou dos apoios do projeto de renascimento das atividades agrícolas e de reforço do setor agrícola depois da
catástrofe do tsunami, no distrito de Trincomalee (Noroeste do Sri Lanka).
Entre 2005 e 2009, este projeto envolveu 988 famílias de pequenos produtores em 36 aldeias do distrito, famílias que foram diretamente afetadas pelo tsunami na
zona costeira, ou deslocadas durante os 25 anos de guerra civil. Em ambos os casos, a atividade agrícola devia ser reconstruída…
As ações foram orientadas para o reforço e a diversificação dos sistemas agrícolas para garantir a segurança alimentar e o aprovisionamento dos mercados locais:
- cultura de chalota em campo aberto em zona costeira;
- culturas hortícolas: diversos legumes (tomate, couve, repolho, cenoura, beterraba, cebola…);
- culturas frutíferas: coqueiros, papaieiras, bananeiras, ananás e citrinos;
- pequenas atividades geradoras de rendimentos: artesanato agrícola, transformação de produtos e pequena criação avícola.
36
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
37
Sistemas hortícolas....................................................... 41
- Horticultura em zona húmida.................................. 41
- Horticultura em zona seca....................................... 45
Sistemas de produção frutífera................................... 49
- Fruticultura em zona húmida................................... 49
- Fruticultura em zona seca........................................ 53
Sistemas de culturas alimentares pluviais.................. 55
- Culturas alimentares pluviais.................................... 55
Sistemas rizícolas irrigados.......................................... 57
- Rizicultura irrigada..................................................... 57
38
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
1 / Os fundamentos
2 / Os sistemas de produção
Região de Tahoua, Níger
3 / As práticas
2 / Os sistemas de produção
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO
39
40
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Horticultura em zona húmida
Sistemas hortícolas
Exemplo do Camboja
Água:
Duas particularidades hidrográficas:
- o Mekong atravessa o país cerca de 300 km de distância;
- o lago Tonlé Sap enche das águas do Mekong na estação
das chuvas, e alimenta o rio por sua vez na estação seca.
A maior parte dos camponeses apoiados pelo projeto possuem uma horta ou chamkar de cerca de 0,5
ha perto da sua casa, onde podem cultivar várias culturas com exceção do arroz. As culturas hortícolas
são mais frequentes na estação seca fresca, depois da colheita do arroz e do abaixamento das águas
(de dezembro a março).
A prática da horticultura requer a mobilização de meios financeiros para adquirir as sementes, os
fertilizantes, a irrigação e o emprego dos trabalhadores em complemento da mão-de-obra familiar.
Ela permite em compensação obter um valor acrescentado por unidade de superfície muito mais
importante que o das outras culturas instaladas nas mesmas parcelas.
Principais culturas:
- os legumes de folhas: alface, mostarda, espinafre aquático, couve,
chinese kale… com ciclos curtos limitando os riscos;
A maioria da população concentra-se à volta do lago, nas
margens do Mekong e dos seus afluentes e defluentes.
Estas zonas constituem o coração agrícola do Camboja.
- as outras produções: as cucurbitáceas (pepino, abóbora, melão-
Vegetação:
Cerca de 2/3 do país é coberto por uma floresta
tropical, mais densa nos planaltos. Palmeiras de açúcar
alinham-se ao longo dos diques em volta dos arrozais.
Atividades agrícolas:
O arroz é a cultura alimentar de base. A horticultura, as
outras culturas anuais bem como a fruticultura não são
muito praticadas. A pecuária é essencialmente familiar.
Constrangimentos maiores:
- riscos climáticos: falta de água e irrigação limitada na
estação seca / inundações e possibilidade de drenagem
limitada na estação chuvosa;
- práticas agrícolas precárias: diversificação de culturas
limitada, uso não racional de insumos químicos de síntese,
fraca capacidade de investimento;
- acesso desigual à terra: em média 1 ha por família.
1 / Os fundamentos
Solo:
Bom potencial agronómico nas proximidades das
margens. Os solos aluviais são destinados à rizicultura.
Os solos com fraco potencial são cobertos com florestas.
No Camboja, a atividade hortícola promovida pela Agrisud ao nível familiar corresponde a uma
preocupação para a diversificação das produções agrícolas, de melhoria da segurança alimentar e de
criação de atividades remuneráveis.
2 / Os sistemas de produção
Clima:
Tropical quente e húmido com estações alternadas:
- estação seca: novembro a abril, 30 a 40°C;
- estação chuvosa: maio a outubro, 25 a 30°C, com
fortes precipitações( 1.500 a 2.000 mm/ano).
A atividade de produção hortícola
Mercado de Ta Khmao,
Província de Kandal
de-São-Caetano), os tubérculos (batata doce, mandioca, inhame,
taro), as leguminosas (feijão-aspargo, feijão mungo), as liliáceas
(cebola, cebolinha) e outras culturas como o repolho, a couve-flor, o
pimentão verde, o tomate, a beringela ou a malagueta.
Os desafios
A horticultura pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável se os
constrangimentos forem ultrapassados e os recursos bem utilizados.
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um horticultor são:
o
domínio da gestão dos recursos hídricos (possibilidade de irrigação e drenagem);
a
conservação da fertilidade do solo (sucessões culturais, utilização de adubos orgânicos);
3 / As práticas
Situação agroecológica
a
regularidade das produções no tempo e no espaço (valorização dos períodos não produtivos,
cultivo fora da estação, viveiros suspensos em bancadas);
a
prevenção das doenças e dos parasitas (diversificação das culturas, introdução de novas
variedades).
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona húmida
41
Exemplo de Madagáscar
Situação agroecológica
(Altos planaltos)
Clima:
Subtropical: temperaturas anuais entre 7 e 28°C; com
precipitações de 800 a 1.100 mm/ano.
- estação seca fria: de abril a outubro;
- estação chuvosa quente: de novembro a março.
Solo:
Dois tipos:
- solos aluviais das zonas baixas e das planícies, relativamente
férteis, onde se concentra a produção do arroz;
- solos ferralíticos nas encostas e na base das encostas,
geralmente lixivíados e fortemente degradados.
Água:
Vários lagos, ribeiras, planícies temporariamente
inundadas e zonas de pântanos.
Relevo:
Zona montanhosa (altitude de 600 a 1.700 m), com uma
alternância de colinas desarborizadas e vales.
Vegetação:
Savana herbácea com poucas florestas com exceção
das zonas rearborizadas ou de produção de madeira de
eucalipto ou de pinheiro.
Atividades agricolas:
A rizicultura é praticada na estação das chuvas, e na
estação seca segundo as possibilidades de irrigação. As
principais culturas alimentares pluviais são o milho, a
mandioca, o feijão e o feijão-bambara. A horticultura é
praticada nos arrozais já secos ou na base das encostas.
A fruticultura e a pequena criação familiar (porcos,
patos, galinhas) são praticadas em pequena escala.
A atividade de produção hortícola
Em Madagáscar, a horticultura promovida pela AGRISUD é praticada ao nível familiar, com o objetivo
de diversificar as produções agrícolas e garantir a segurança alimentar das famílias.
Dois sistemas de produção hortícola dominantes são apoiados e praticados :
- o cultivo de legumes de folhas (jambu, couve, couve chinês, erva-moura, alface…) que permite às
famílias mais vulneráveis, entradas regulares de tesouraria permitidas pelas colheitas regulares das
culturas com ciclos curtos, este sistema é praticado durante o ano inteiro nos solos férteis na base
das encostas;
- as culturas com maior valor acrescentado (batata comum, tomate, cebola, cebolinha, alho-porro,
abobrinha, repolho…) que são praticadas nos arrozais, fora da estação de produção do arroz, de
forma muito sazonal (de abril a setembro).
A prática da horticultura fora da estação nos arrozais responde a
dois imperativos:
- garantir tesouraria para financiar a instalação do próximo ciclo
do arroz;
- manter e fertilizar a parcela para a cultura seguinte.
Nos sistemas hortícolas, o uso dos adubos e pesticidas químicos
de síntese, que depende dos meios financeiros do produtor, é
frequente e muitas vezes desproporcional, fazendo diminuir a
rentabilidade das culturas de forma muito nítida.
Horta, Região de Itasy
Os desafios
A horticultura pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável se
os recursos locais forem bem utilizados e valorizados e se os constrangimentos forem ultrapassados.
Constrangimentos maiores:
- chuvas fortes e falta de cobertura florestal: erosão
acelerada das colinas e assoreamento das zonas
baixas;
- pressão fundiária na periferia de Antananarivo:
diminuição das superfícies agrícolas.
42
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um horticultor são:
o
domínio dos itinerários técnicos de forma a aproveitar as oportunidades do mercado (que induz
muitas vezes cultivar, ou ao menos preparar o viveiro, na estação chuvosa);
 o domínio das práticas com custos reduzidos (composto, métodos preventivos, pesticidas naturais
e proteção dos solos);
 o domínio da gestão da água durante o ano inteiro para diminuir os efeitos das inundações na
estação chuvosa e da escassez de água na estação seca;
 a implantação de sucessões culturais do tipo rizicultura de estação chuvosa / horticultura fora
da estação.
 NOTA
As práticas agroecológicas propostas
A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem
efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são o solo, a
água, a planta e a paisagem.
As práticas agroecológicas propostas pela AGRISUD e implementadas pelos
produtores no Camboja e em Madagáscar, permitem responder aos desafios
da produção hortícola em zona húmida.
O objetivo final é ser capaz de produzir regularmente legumes de
qualidade, em quantidade suficiente, com os meios de produção
acessíveis (custos reduzidos e adaptabilidade) e isto, de forma durável.
1 / Os fundamentos
A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas.
Efeito direto
Efeito indireto
EFEITOS
PRÁTICAS
Solos
Água
Planta
Paisagem
Curtição do estrume
Compostagem em leiras
2 / Os sistemas de produção
Compostagem em composteira
Plantação de árvores nos sítios de produção
Viveiro no chão
Viveiro suspenso em bancadas
Adubação orgânica de fundo
Culturas em covas
Sucessões culturais
Associações de culturas
Horticultura em covas, Madagáscar
Empalhamento
Composto líquido
Luta integrada
Cultura de tomate com empalhamento, Madagáscar
Jarro de composto líquido
3 / As práticas
Tratamentos fitossanitários naturais
Empalhamento, Camboja
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona húmida
43
44
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Horticultura em zona seca
Sistemas hortícolas
Exemplos de Marrocos e Níger
No Níger, a horticultura é praticada na estação seca, quando as condições térmicas o permitem (fora
da estação das altas temperaturas) e quando a mão-de-obra familiar não está ocupada com as culturas
pluviais. No entanto, alguns praticam esta atividade de forma contínua (caso das covas nos oásis). No
Sul de Marrocos, a horticultura é praticada todo o ano nos oásis.
Nos dois contextos, a falta de meios orienta os produtores mais pobres para um sistema de produção
principalmente baseado no uso de estrume e sementes locais.
Principais culturas:
Solo:
Solos pobres com défice em matéria orgânica.
- no Níger: cebola, tomate, couve, batata comum, alface, abóbora,
Água:
O recurso depende da presença de um curso de água
permanente ou temporário (liberação da água por
uma barragem, cheia), de charcos (permanentes ou
temporários) ou de um lençol freático pouco profundo.
- no Sul de Marrocos: cenoura, nabo, cebola, favas, couve e ervilha
Vegetação:
Maioritariamente constituída por estepes herbáceos e
arbustivos. Fraca cobertura florestal fora dos oásis.
Atividades agrícolas:
Produção de cereais em sequeiro (com exceção nos
oásis), tamareira, criação sedentária ou transumância
e horticultura nos oásis.
Constrangimentos maiores:
- condições climáticas extremas: raridade das chuvas e
violência das precipitações (Sul de Marrocos); fortes
temperaturas;
- problemas de desarborização e importante desertificação;
- más práticas agrícolas: insuficiência dos fornecimentos
em matéria orgânica, desperdícios de água durante a
rega, sucessões culturais inadequadas, má utilização
dos insumos químicos de síntese.
1 / Os fundamentos
Em Marrocos e no Níger, a atividade hortícola fomentada pela AGRISUD é realizada ao nível das
pequenas explorações agrícolas familiares ou de perímetros irrigados geridos coletivamente mas onde
cada produtor possui uma parcela.
2 / Os sistemas de produção
Clima:
Tropical seco e semi-árido com poucas precipitações e
temperaturas extremas:
- Sul de Marrocos: 110 mm/ano em média; de 0°C com
geadas pouco frequentes no inverno a 45°C no verão;
- Níger: 150 a 500 mm/ano concentrados num curto
período (meados de junho a meados de setembro);
até 50°C e forte amplitude térmica entre estação
quente e inverno.
A atividade de produção hortícola
pimentão, quiabo, hibisco;
(no inverno); tomate, beringela, pimentão e abóbora (no verão).
Uma particularidade: oásis e bacias-oásis
No Sul de Marrocos, os oásis encontram-se ao longo dos oueds (cursos de água
temporários). O sistema de cultivo é estratificado: palmeiras tamareiras/
árvores fruteiras/culturas forrageiras/cerealíferas e/ou hortícolas.
Pimentão, Níger
No Níger, a presença do lençol freático pouco profundo favorece a vegetação. Em forma de uma bacia,
o contorno é arborizado com árvores e palmeiras, e é onde se situam as hortas.
 Os oásis do Sul marroquino com potencial agrícola importante, e as bacias-oásis do Níger são lugares
privilegiados para a horticultura. Estas zonas de cultivo estão hoje ameaçadas pela desertificação
e a invasão de areia.
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um horticultor são:
 o domínio da gestão da água (técnicas de irrigação económicas) e domínio da fertilidade dos solos;
 a programação da produção ao longo do ano (com exceção das bacias-oásis e dos oásis);
 a proteção dos sítios de produção contra o sol, o vento e os animais.
3 / As práticas
Situação agroecológica
(Oásis situado no Sul de Marrocos
e na zona Leste do Níger)
E particularmente, nos oásis e nas bacias-oásis:
 a gestão dúravel da água e o dóminio das ascensões capilares;
 a luta contra a invasão de areia.
OS SISTEMAS DE PRODUÇÂO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona seca
45
Caso específico das bacias-oásis
As bacias-oásis são muitas vezes os únicos espaços propícios às culturas hortícolas em zona seca no Leste do Níger. A presença de um lençol fréatico pouco profundo
permitiu o desenvolvimento de um anel arbóreo onde o micro-clima criado favorece o desenvolvimento das culturas.
Principais constrangimentos: a salinização do solo pela ascenção do lençol freático (natrão) no centro da bacia.
Esquematização de uma bacias-oásis:
Esquematização de um processo de salinização do solo:
Vista de cima:
Zona de dunas
Zona com natrão, inculta
Cintura arbórea + hortas
Cintura arbórea
+ hortas
Evaporação
da água
Zona de transição com
plantas tolerantes
à salinidade
Zona de dunas,
inculta
Ascenção
capilar da
água + sais
Depósitos de sais
Zona com natrão,
inculta
Água doce
Água salgada
Vista de uma bacia-oásis, Níger
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AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Natrão
Água doce
Culturas em uma bacia, Níger
Lençol freático
Cultura de couve – bacias-oásis, Níger
As ascensões dos sais
As obras
Quando se cultiva na zona sensível (onde o natrão não está visível na superfície,
mas presente no solo e no subsolo), as regas na superfície estão sujeitas
à intensidade da radiação solar. A evaporação da água povoca ascensões
capilares da água do solo carregada em sais solúveis (natrão).
- Organização do terreno: instalando sebes e plantando árvores na parcela
A escolha do terreno
- Evitar o cultivo na zona de transição. Se antes
da instalação de uma horta, o solo estiver sem
vegetação, e apresenta uma cor castanha (até
cinzento-verde) e uma estrutura pulverulenta,
é muito provável que neste solo haja ascensões
sazonais dos sais.
- Escolher os terrenos na cintura árborea da bacia;
Solo apresentando natrão
 NOTA
desbravá-los todavia sem cortar as árvores.
 NOTA
As bacias-oásis são ecossistemas frágeis e protegidos. A cintura arbórea
protege estas zonas da invasão das dunas, é portanto, desaconselhado
proceder ao corte das palmeiras, uma vez que o corte das árvores pode
conduzir ao desaparecimento do potencial agrícola.
1 / Os fundamentos
É possível constatar subidas de sal, mesmo se a água no lençol freático não é salgada:
o sal está presente no subsolo e sobe por capilaridade.
2 / Os sistemas de produção
Na superfície, a água evapora deixando no local depósitos de sal, o solo fica
salgado, reduzindo as possibilidades de cultivo.
conforme necessidade para criar um ambiente favorável às culturas e
à conservação da humidade (cf. Ficha: Plantação de sebes e árvores nos
sítios de produção hortícola p 93). Para a plantação das árvores frutíferas,
preparar o solo sobre 1 m3 e fazer as devidas correções.
- Captação da água: feita o mais longe possível do centro « natronizado »
(salgado) da bacia para evitar a subida da água salgada imprópria para a
agricultura. Uma bombeamento excessiva de água doce do lençol freático
num mesmo ponto favorecerá o avanço da frente salgada.
- Multiplicação dos pontos de captação: limitando os débitos de bombeamento
para preservar o recurso hídrico.
- Escolha das culturas:
 Em caso de salinidade do solo, privilegiar culturas semi-tolerantes
(sorgo, abóbora, cenoura, beringela, alface, tomate, cebola) e
tolerantes (cevada, beterraba vermelha) para os primeiros ciclos, até
constatar a redução efetiva das subidas de sal graças a outras práticas;
 Evitar as culturas sensíveis enquanto o problema persistir.
Furo, bomba com pedais,
canal cimentado
O equilíbrio do frágil ecossistema das
bacias-oásis basea-se no recurso hídrico
e na conservação da cintura arbórea.
Portanto, é necessário privilegiar
sistemas de irrigação económicos
e evitar o uso de motobombas que
extraem quantidades muito importantes
de água.
Pé de mandioca sem empalhamento
Trabalho do solo, bacia do Karangou
3 / As práticas
Ascensão de sais
Culturas, bacia de Baboulwa
OS SISTEMAS DE PRODUÇÂO / Sistemas hortícolas / Horticultura em zona seca
47
 NOTA
As práticas agroecológicas propostas
A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem
efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são o solo, a
água, a planta, a paisagem.
As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos
produtores no Níger e em Marrocos, permitem responder aos desafios da
produção hortícola em zona seca.
A combinação destes efeitos contribui para o êxito das práticas.
O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente legumes de
qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis
(custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável.
Efeitos diretos
Efeitos indiretos
PRÁTICAS
EFEITOS
Solo
Água
Planta
Paisagem
Curtição do estrume
Compostagem em leiras
Composto líquido
Plantação de árvores nos sítios de produção
Viveiro suspenso em bancadas
Viveiro no solo
Adubação orgânica de fundo
Sucessões culturais
Associações de culturas
Empalhamento
Culturas em covas
Culturas estratificadas, Sul de Marrocos
Luta integrada
Tratamentos fitossanitários naturais
Composteira, Níger
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AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Culturas em covas, Níger
Associação de culturas, Sul de Marrocos
Sistemas de
produção frutífera
Fruticultura em zona húmida
Exemplo do Camboja
As Províncias onde a fruticultura é mais desenvolvida são Battambang
e Kampong Cham. Em zona das margens, a maioria das famílias
apoiadas possuem um pequeno pomar em volta da casa (1 ou 2
plantas de diferentes espécies: bananeiras, papaieiras, goiabeiras,
mangueiras, citrinos) e as frutas obtidas são destinadas ao consumo
familiar (somente uma pequena parte é vendida no mercado local).
Solo:
Bom potencial agronómico nas proximidades das
margens. Nos solos aluviais é praticada a rizicultura. Os
solos com fraco potencial são cobertos com florestas.
As frutas produzidas nos pomares especializados são destinadas aos
mercados locais. Várias espécies têm períodos de produção muito
curtos (manga, rambutão, jaqueira, sapotilha…) e outros produzem
todo o ano (banana, papaia, goiaba…).
Água:
Duas particularidades hidraúlicas:
- o Mekong atravessa o país em 300 km;
- o lago do Tonlé Sap enche-se das águas do Mekong na
estação das chuvas, alimentando por sua vez o rio na
estação seca.
A maior parte da população concentra-se à volta do lago,
das margens do Mekong e dos seus afluentes e defluentes.
Estas zonas constituem o coração do Camboja agrícola.
Vegetação:
Os 2/3 do país são cobertos por uma floresta tropical,
mais densa nos planaltos. Palmeiras de açúcar alinhamse sobre os diques em volta dos arrozais.
Atividades agrícolas:
O arroz é a cultura alimentar de base. A horticultura,
as outras culturas anuais e a fruticultura são menos
praticadas. A pecúaria é essencialmente familiar.
Constrangimentos maiores:
- riscos climáticos: falta de água e irrigação limitada na
estação seca / inundações e possibilidade de drenagem
limitada na estação chuvosa;
- práticas agrícolas precárias: diversificação limitada, uso
irracional de insumos de síntese, fraca capacidade de
investimento;
- acesso desigual à terra: cerca de 1 ha por família.
1 / Os fundamentos
No Camboja, a fruticultura fomentada pela AGRISUD situa-se ao nível familiar, e corresponde a uma
preocupação de diversificação das produções agrícolas e de melhoria da segurança alimentar.
Cultura de papaieiras
2 / Os sistemas de produção
Clima:
Tropical quente e húmido com estações alternadas:
- estação seca: novembro a abril, 30 a 40°C;
- estação chuvosa: maio a outubro, 25 a 30°C, fortes
precipitações (1.500 a 2.000 mm/ano).
A atividade de produção frutífera
Em geral, os produtores que iniciam uma produção frutífera são os
que dispõem de uma grande superficie e de recursos financeiros, uma
vez que a instalação de um pomar exige um fundo de investimento
importante. São igualmente os produtores que dominam as técnicas
de enxertia, de plantação e de manutenção.
AGRISUD trabalhou principalmente sobre o cultivo dos citrinos e de mangueiras nas Províncias de
Pursat, Battambang e Banteay Meanchey.
Os desafios
A produção frutífera pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e durável
caso os constrangimentos forem ultrapassados e os recursos bem utilizados.
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios para um fruticultor são:
3 / As práticas
Situação agroecológica
o
domínio dos itinerários técnicos desde a instalação das culturas até a sua manutenção;
acesso ou a produção de mudas e rebentos de qualidade;
 o domínio da poda das plantas produtivas;
 a prevenção das doenças e das pragas;
 o domínio da gestão dos recursos hídricos.
o
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de produção frutífera / Fruticultura em zona húmida
49
Exemplo do Sri Lanka
Situação agroecológica
(Nordeste)
Clima:
Tropical húmido com 2 estações alternadas
- estação seca: março a agosto, 28 a 32°C;
- estação chuvosa: setembro a fevereiro, 26 a 28°C;
fortes precipitações no fim do dia e inundações
frequentes (1.500 a 1.800 mm/ano).
A atividade de produção frutífera
No Sri Lanka, as produções frutíferas fomentadas pela AGRISUD são muito diversificadas: fruticultura
(citrinos, goiabeiras, coqueiros, mangueiras…) e culturas semi-perenes (papaieiras, bananeiras, anánas).
As famílias apoiadas são famílias pobres, geralmente deslocadas ou reinstaladas depois dos episódios
sucessivos de guerra. Os seus terrenos são limitados e o objetivo é de produzir de forma diversificada
em pequenas superfícies ao abrigo das inundações.
As produções obtidas são maioritariamente destinadas à comercialização (mercados locais) mesmo
sendo o autoconsumo regular.
Solo:
Bom potencial agronómico nas zonas de planícies
e as zonas baixas (rizicultura). Os solos ao abrigo
das inundações por vezes com potencial mais fraco
(solos coluviais na base das encostas, solos colinários,
periferias dos arrozais e faixas costeiras) são dedicados
às culturas pluviais, hortícolas e frutíferas.
Dois sistemas frutíferas complementam-se:
- os pequenos pomares com fraca densidade
de plantação, permitem a atividade hortícola
subjacente (tomate, feijão, couve);
- as parcelas de cultivo em faixas alternadas
de diferentes culturas frutíferas ou em faixas
alternadas de culturas frutíferas e de culturas
especiais (gengibre, malagueta…).
Água:
3 fontes diferenciadas:
- os cursos de água permanentes provenientes dos
maciços montanhosos do centro sul do país;
- os reservatórios artificiais de grande capacidade
dedicados à rizicultura irrigada intensiva e os pequenos
reservatórios dedicados à rizicultura « jusante » e às
culturas hortícolas e frutíferas;
- os lençóis freáticos, mobilizados graças aos poços,
destinados às culturas hortícolas e frutíferas.
Vegetação:
Bosques florestais perto das zonas habitadas, floresta
degradada nas zonas ao abrigo das inundações com solos
pobres e mais densa nos contrafortes montanhosos,
coqueiros presentes nas zonas habitadas e cultivadas
(exceto arrozais), e na faixa costeira.
Pomar no Distrito de Trincomalee
Os desafios
A produção frutífera pode ser uma atividade agrícola económica e/ou de subsistência viável e
durável caso os recursos locais forem bem utilizados e valorizados, e caso as dificuldades forem
ultrapassadas.
Atividades agrícolas:
A rizicultura é a principal atividade, a horticultura,
as outras culturas anuais e a fruticultura são também
praticados, a pecúaria é essencialmente familiar.
Constrangimentos maiores:
- riscos climáticos;
- uso irracional dos insumos químicos de síntese;
- acesso desigual à terra: 0,5 a 1 ha por família.
50
Nos dois casos, as superfícies são pequenas:
1.000 a 3.000 m² e a atividade fornece um
complemento de rendimento que permite entre
outros de limitar a procura de outras atividades
sazonais remuneradas por parte dos membros da
família nos arrozais (« coolies »).
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para um fruticultor são:
o
domínio dos itinerários técnicos das culturas;
acesso ou a produção de mudas e rebentos de qualidade;
 o domínio da poda das plantas produtivas;
 a prevenção das doenças e das pragas;
 o domínio da gestão dos recursos hídricos;
 a escolha de variedades adaptadas ao meio ambiente e às necessidades do mercado.
o
As práticas agroecológicas propostas
A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem
efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são o solo, a
água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o
êxito das práticas
As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas no
Camboja e no Sri Lanka pelos produtores permitem responder aos desafios da
produção frutífera em zona húmida.
O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente frutos de
qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção
acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável.
Efeito direto
1 / Os fundamentos
 NOTA
Efeito indireto
EFEITOS
Solo
PRÁTICAS
Água
Planta
Paisagem
Curtição do estrume
Compostagem em leiras
2 / Os sistemas de produção
Compostagem em composteira
Viveiro em bolsas
Plantação de árvores frutíferas
Manutenção de um pomar
Plantas de bananeiras
Gengibre debaixo de papaieiras, Camboja
SCV cobertura permanente com faixas alternadas
3 / As práticas
Plantas de coqueiros, Sri Lanka
Ananás et bananeiras, Sri Lanka
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de produção frutífera / Fruticultura em zona húmida
51
52
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Sistemas de
produção frutífera
Fruticultura em zona seca
Exemplos do Marrocos e do Níger
Solo:
Solos pobres com um défice em matéria orgânica.
Água:
O recurso depende da presença de um curso de água
permanente ou temporário (liberação da água por
uma barragem, cheia), de charcos (permanentes ou
temporários) ou de um lençol freático pouco profundo.
Vegetação:
Maioritariamente constituída por estepes herbáceos e
arbustivos. Fraca cobertura florestal fora dos oásis.
Atividades agrícolas:
Produção de cereais pluvíais (com exceção nos oásis),
tamareiras, pecúaria sedentária ou transumância,
horticultura nos oásis.
Constrangimentos maiores:
- Condições climáticas extremas: raridade das chuvas e
violência das precipitações (Sul de Marrocos), fortes
temperaturas;
- Problemas
de
desarborização
e
importante
desertificação;
- Más práticas agrícolas: fornecimento insuficiente em
matéria orgânica, desperdícios de água na irrigação,
sucessões culturais inadequadas, má utilização dos
insumos químicos de síntese.
1 / Os fundamentos
Clima:
Tropical seco e semi-árido com poucas precipitações e
temperaturas extremas:
- Sul de Marrocos: 110 mm/ano em média, de 0°C com
geadas pouco frequentes no inverno a 45°C no verão;
- Níger: 150 a 500 mm/ano concentrados num curto período
(meados de junho a meados de setembro), até 50°C e grande
amplitude térmica entre a estação quente e o inverno.
A atividade de produção frutífera fomentada pela AGRISUD nos contextos marroquino e nigeriano,
corresponde a um esforço de reabilitação dos pomares existentes e/ou de diversificação das culturas.
Nos perímetros irrigados geridos coletivamente, a plantação de árvores apresenta igualmente uma
vantagem técnica: a proteção das culturas.
No Sul de Marrocos, 3 situações existem:
- os sistemas de culturas estratificadas nos oásis, principalmente no vale do Drâa onde a cultura da
palmeira-tamareira é o pilar do sistema agrícola, por baixo das palmeiras, as amendoeiras e as
romeiras abrigam por sua vez culturas forrageiras, cerealíferas e em pequena escala, hortícolas;
NB: já há um século que a doença do Bayoud (fungo) está progressivamente exterminando as
palmeiras, por isso, em certas zonas, as oliveiras substituem as palmeiras.
- os pomares no vale do Dadès, principalmente constituídos por oliveiras, amendoeiras, figueiras,
damasqueiros e pessegueiros;
- a associação horticultura / produção frutífera nos perímetros irrigados.
2 / Os sistemas de produção
(Oásis no sul marroquino e em zona Leste do Níger)
A atividade de produção frutífera
No Níger, a produção frutífera é pouco desenvolvida: a sua instalação depende principalmente
da capacidade do agricultor em disponibilizar terras para plantar árvores e em beneficiar de água
suficiente até o inicío da produção. As atividades apoiadas constituem portanto, na maior parte das
vezes, uma complementaridade à horticultura (“bocage” propício às culturas irrigadas e contribuição
para o desenvolvimento económico das explorações agrícolas).
Nos dois contextos, sem apoio adaptado, as práticas culturais ficam elementares: os agricultores
cuidam pouco das árvores que aproveitam indiretamente dos fatores de produção fornecidos às
culturas hortícolas vizinhas (água, matéria orgânica). Por outro lado, as técnicas de manutenção são
muitas vezes desconhecidas (cova, amontoa, poda…).
Os agricultores com melhores condições financeiras dominam a prática da cultura e utilizam geralmente
os produtos fitossanitários de síntese em fraca quantidade.
Palmeiras-tamareiras, Marrocos
Romeiras, Marrocos
3 / As práticas
Situação agroecológica
Cultura de bananeiras, Níger
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de produção frutífera / Fruticultura em zona seca
53
Os desafios
As práticas agroecológicas promovidas
A produção frutífera pode ser uma atividade económica e/ou de autoconsumo
viável e durável, caso o itinerário técnico for dominado e caso os recursos
forem bem utilizados.
As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos
produtores no Marrocos e no Níger, permitem responder a estes desafios.
Efeito direto
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para
um fruticultor são:
No caso dos sistemas de culturas estratificadas dos oásis:
 o domínio das técnicas específicas no cultivo da palmeira-tamareira
(polinização);
 o acesso a plantas de qualidade para substituir as plantas atacadas pelo
Bayoud.
No caso dos pomares:
 o domínio dos fornecimentos em matéria orgânica;
 o domínio da irrigação;
 o domínio das técnicas de manutenção;
 o domínio das técnicas de prevenção contra as doenças e pragas;
 o acesso a plantas de qualidade para renovar os pomares.
No caso da associação horticultura / fruticultura:
 o acesso a plantas de boa qualidade;
 o domínio da gestão da água (técnicas de irrigação económicas);
 a manutenção regular das plantas antes da produção.
Polinização, Marrocos
54
Horticultura / fruticultura, Níger
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Efeito indireto
EFEITOS
PRÁTICAS
Solo
Água
Planta
Paisagem
Curtição do estrume
Compostagem em leiras
Viveiro em bolsas
Plantação de árvores frutíferas
Manutenção de um pomar
 NOTA
A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem
efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são: o solo, a
água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o
êxito das práticas.
O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente frutas de
qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis
(custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável.
Muda frutífera, Níger
Muda frutífera, Marrocos
Sistemas de culturas
alimentares pluviais
Culturas alimentares pluviais
Exemplo do Gabão
Solo:
Solos ferralíticos mais ou menos empobrecidos ao longo
do tempo.
Água:
Disponibilidade limitada ao longo da costa, presença de
água salobra.
Vegetação:
Importância das zonas florestais degradadas.
Atividades agrícolas:
Culturas hortícolas praticadas com o sistema itinerante
de corte e queima, horticultura periurbana, fruticultura
extensiva.
Constrangimentos maiores:
As condições agroecológicas particulares são responsáveis:
- pela degradação rápida da matéria orgânica;
- pela lixiviação dos elementos nutritivos;
- pela erosão das zonas inclinadas;
- pela infestação importante das parcelas.
1 / Os fundamentos
Clima:
Tropical húmido de baixa altitude
- temperaturas elevadas durante o ano: 25°C em
média;
- precipitações importantes: 2.700 mm/ano durante 8
a 9 meses (440 mm em novembro), taxa de humidade
elevada durante todo o ano (> 80%);
- estação seca de junho a setembro.
A atividade de produção agrícola pluvial
O Gabão conheceu e ainda conhece uma importante migração das populações rurais para os centros
urbanos. Estes fluxos de população provocaram uma importante procura de produtos agrícolas nos
mercados, principalmente fornecidos pelas importações de géneros alimentares e pelas produções de
hortaliças periurbanas.
Devido ao aumento da pressão fundiária e à procura alimentar crescente, a prática tradicional de
corte e queima que antigamente estava em equilíbrio, hoje não é mais sustentável. Para conservar os
seus rendimentos, os produtores devem reduzir o tempo de regeneração da floresta e/ou aumentar as
superfícies cultivadas.
Os sistemas de culturas alimentares pluviais, apoiados pelo Instituto Gabonês de Apoio ao Desenvolvimento
(Instituto membro da rede AGRISUD), são baseados na sedentarização dos sistemas de cultivo e na cobertura
permanente dos solos.
2 / Os sistemas de produção
Situação agroecológica
(Província do Estuário)
Ex. de sistemas de cultivo com cobertura vegetal:
- culturas hortícolas em campo aberto com ciclo médio (malagueta, beringela, quiabo…) com cobertura
morta ou em faixas alternadas com plantas de cobertura (Puerária, Mucuna, Brachiária, Stylosanthes…);
- culturas com ciclo longo (mandioca) em faixas alternadas com Brachiária ou Stylosanthes;
- culturas semi-perenes (bananeira) em faixas alternadas com Brachiária.
Ciclo da agricultura itinerante de corte e queima
Regeneração florestal
3 a 5 anos
Pousio jovem
Corte e queima
Culturas pluviais 2
3 / As práticas
Os sistemas agrícolas tradicionais são pouco produtivos
e desequilibrados (tempo de pousio não respeitado)
pelo fato de existir uma procura alimentar urbana em
crescimento contínuo.
Culturas pluviais 1
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas de culturas alimentares pluviais / Culturas alimentares pluviais
55
Os desafios
As práticas agroecológicas promovidas
A agricultura pluvial pode responder de forma durável aos desafios do
desenvolvimento agrícola do Gabão, nomeadamente a melhoria da cobertura
das necessidades alimentares da população se os constrangimentos forem
ultrapassados e os recursos bem utizados.
As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos
produtores no Gabão, mas também em Angola, em Madagáscar e em RD Congo,
permitem responder a estes desafios.
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para
um agricultor gabonês são:
a
proteção do solo e a gestão da sua fertilidade;
 o domínio da infestação das parcelas;
 o uso limitado dos insumos químicos de síntese;
 a sedentarização da sua atividade agrícola para uma gestão durável do
seu ambiente;
 o desenvolvimento e a diversificação das suas produções para responder
às necessidades alimentares da população urbana.
*SCV: Sistemas de cultivo
sobre Cobertura Vegetal
Efeito direto
Efeito indireto
EFEITOS
PRÁTICAS
Solo
Água
Planta
Curtição do estrume
Compostagem em leiras
Compostagem em composteira
Culturas em curvas de nível
 NOTA
Plantação de árvores nas parcelas de cultivo pluvial
A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem
efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são: o solo, a
água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o
êxito das práticas.
Culturas em socalcos
SCV*: plantas de cobertura
SCV cobertura permanente em faixas alternadas
SCV cobertura morta produzida no local
O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente hortaliças e
frutas de qualidade, em quantidade suficiente com os meios de produção
acessíveis (custos reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável.
Ananás debaixo de bananeiras
56
Mandioca sobre Brachiária
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Taro sobre Brachiária
Culturas em filas
Paisagem
Sistemas rizícolas
irrigadoss
Rizicultura irrigada
Exemplo de Madagáscar
Clima:
Subtropical: temperaturas anuais entre 7 e 28°C,
precipitações de 800 a 1.100 mm/ano.
- estação seca e fria: abril a outubro;
- estação chuvosa e quente: novembro a março.
Principal cultura em Madagáscar, o arroz é o cereal alimentar de base: os agricultores dão a prioridade
a esta cultura tanto pela afetação dos recursos fundiários quanto pela mobilização da mão-de-obra.
A rizicultura é praticada pela maior parte dos agricultores, mas importantes diferenças devem ser
realçadas: superfícies, estatutos fundiários dos arrozais e nível de domínio na gestão da água (capacidade
de irrigar e drenar um arrozal). O calendário rizícola depende destes fatores e inclui 1 ou 2 ciclos.
Solo:
Dois tipos:
- solos aluviais das zonas baixas e das planícies relativamente
férteis, onde se concentra a produção de arroz;
- solos ferralíticos das encostas e na base das encostas,
geralmente lixiviados e fortemente degradados.
Três calendários rizícolas são possíveis:
Relevo:
Zona montanhosa (altitude de 600 a 1.700 m), com uma
alternância de colinas desmatadas e vales.
Vegetação:
Savana herbácea, com poucas superfícies arborizadas
com exceção às zonas rearborizadas ou de produção de
eucalipto ou pinheiro.
Atividades agrícolas:
A rizicultura é praticada na estação chuvosa e, segundo as
possibilidades de irrigação, na estação seca. As culturas
alimentares pluviais dominantes são o milho, a mandioca,
o feijão e o feijão-bambara. A horticultura é praticada nos
arrozais drenados ou nas bases das encostas. A fruticultura
e a pequena criação familiar (porcos, patos, galinhas) são
praticadas em pequena escala.
Constrangimentos maiores:
- fortes chuvas e falta de cobertura arborizada: importante
erosão nas colinas e assoreamento das zonas baixas;
- pressão fundiária nas periferias de Antananarivo:
diminuição das superficíes agrícolas.
- Vary Aloha: transplantação em agosto / colheita em
novembro-dezembro, o ciclo da estação seca é praticado
nos arrozais que permitem uma irrigação suficiente em
estação seca, que tem como vantagem uma colheita
precoce que permite preparar um ciclo da grande
estação, mas com rendimentos muito fracos (espigamento
em estação fria);
- Vary Salasala: transplantação em novembro / colheita em
fevereiro-março. Este outro ciclo de estação seca é praticado
Arrozais, Região de Itasy
nas parcelas inundadas durante a estação das chuvas;
- Varibe: transplantação em dezembro-janeiro / colheita em maio. Este ciclo é o principal ciclo de
arroz em Madagáscar, que oferece os melhores resultados.
2 / Os sistemas de produção
Água:
Vários lagos, ribeiras, planícies temporariamente
inundadas e zonas pantanosas.
1 / Os fundamentos
A atividade rizícola
A maioria dos produtores pratica itinerários tradicionais pouco produtivos (1 a 2 t/ha) em função
do potencial (4 a 6 t/ha em SRI- Sistema de Rizicultura Intensiva).
Os desafios
A produção do arroz irrigado é primordial para a cobertura das necessidades alimentares das famílias e
pode representar uma atividade económica. Estas culturas são viáveis e duráveis se os recursos locais
forem bem utilizados e se os constrangimentos forem ultrapassados.
Tomando em conta as condições agroecológicas, os desafios maiores para um rizicultor são:
 o domínio dos itinerários técnicos mais produtivos, especialmente do SRI (cuidando bem da
vertente da fertilização, primordial para a durabilidade do sistema);
 o respeito das regras de sucessão para privilegiar uma alternância rizicultura irrigada - horticultura
ou leguminosa para aproveitar a melhoria do solo e para preservar a fertilidade;
 o domínio da gestão da água para diminuir os efeitos das inundações na estação chuvosa e da
escassez de água na estação seca.
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO / Sistemas rizícolas irrigados / Rizicultura irrigada
3 / As práticas
Situação agroecológica (Altos-Planaltos)
57
As práticas agroecológicas promovidas
As práticas agroecológicas fomentadas pela AGRISUD e implementadas pelos
produtores de Madagáscar, permitem responder aos desafios da produção de
arroz irrigado.
Efeito direto
Efeito indireto
EFEITOS
Solo
PRÁTICAS
Água
Planta
Paisagem
Curtição do estrume
Compostagem em leiras
Sistema de Rizicultura Intensiva, SRI
Viveiro rizícola
 NOTA
A agroecologia envolve mecanismos biológicos: uma prática agrícola tem
efeitos diretos e indiretos sobre os diferentes elementos que são: o solo, a
água, a planta, a paisagem. A combinação destes efeitos contribui para o
êxito das práticas.
O objetivo final é de ser capaz de produzir regularmente arroz de qualidade,
em quantidade suficiente com os meios de produção acessíveis (custos
reduzidos, adaptabilidade) e isto, de forma durável.
Debulha do arroz
Compostagem
58
Lavoura com arado
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Marcação das linhas de transplantação
Transplantação em linha
Monda mecanizada
59
Gestão da água......................................................63
- Mobilização dos recursos hídricos
e sistema de irrigação...........................................63
- Gestão da água nas parcelas cultivadas.......69
- Proteção da água contra as poluições...........73
Produção de fertilizantes.........................................77
- Curtição do estrume............................................77
- Compostagem em leiras.....................................81
- Compostagem em composteira........................89
- Composto líquido.................................................91
Horticultura............................................................... 93
- Plantação de sebes e árvores nos locais de
produção hortícola (criação de um “bocage”)..........93
- Viveiro no solo.......................................................97
- Viveiro suspenso em bancadas...........................101
- Adubação orgânica de fundo............................105
- Cultivo em covas...................................................109
- Sucessões culturais...............................................111
- Associações de culturas......................................117
- Empalhamento.....................................................121
- Luta integrada......................................................123
- Tratamentos fitossanitários naturais....................127
60
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Fruticultura..............................................................131
- Viveiro em bolsas......................................................131
- Plantação de árvores frutíferas...............................137
- Manutenção do pomar...........................................141
Culturas alimentares pluviais......................................145
- Plantação de sebes e árvores nos locais de
produção de culturas alimentares pluviais
(criação de um “bocage”)..................................................... 145
- Cultivo em curvas de nível.......................................149
- Culturas em terraços................................................153
- Sistemas de Cultivo sobre Cobertura Vegetal
(SCV)..........................................................................157
- Plantas de cobertura................................................159
- SCV sobre cobertura permanente em faixas
alternadas................................................................. 165
- SCV sobre cobertura morta.....................................169
Rizicultura irrigada.......................................................173
- Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI.......................173
- Viveiro rizícola............................................................179
3 / As práticas
2 / Os sistemas de produção
Região de Anofy, Madagáscar
3 / As práticas
61
1 / Os fundamentos
62
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Mobilização dos recursos hídricos
e sistemas de irrigação
Gestão da água
Os sistemas de irrigação permitem captar as águas subterrâneas ou as águas de superfície (lagos, rios,
nascentes…) para o uso agrícola. As obras devem ser eficientes para responder às necessidades das
produções, com custos aceitáveis sem colocar em perigo os recursos hídricos a longo prazo.
Para isto é necessário:
Diferentes tipos de obras podem ser realizadas:
poços, furos, reservatórios, tanques de retenção…
Mas em todos os casos, os sistemas de irrigação
devem responder às necessidades das culturas e
ao potencial dos recursos hídricos. Eles devem
proteger o recurso hídrico.
- escolher um sítio adaptado;
Na maioria dos países nos quais a AGRISUD
intervém, infraestruturas hidro-agrícolas foram
realizadas. Algumas destas infraestruturas são
apresentadas nesta ficha.
Método
Efeitos:
- o estatuto fundiário: risco de conflitos se os utlizadores da água não são os proprietários dos terrenos
Solos
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Mobilizar de forma eficiente o recurso hídrico;
» Construir infraestruturas perenes;
» Limitar os encargos de irrigação (tempo de trabalho
e quantidade de água mobilizada).
Condições de implementação:
1 / Os fundamentos
Princípio
- identificar um dispositivo adequado para a mobilização do recurso hídrico (tipo de captação e meio
de extração, tomada de água para aproveitamento das águas de superfície);
- identificar um dispositivo de adução da água que limita as perdas;
- definir uma rede de distribuição eficiente.
2 / Os sistemas de produção
Em certos contextos, a fraqueza e/ou a
irregularidade das precipitações, tornam o cultivo
sem irrigação difícil ou mesmo impossível. A
questão da mobilização dos recursos hídricos é
então colocada.
1-A escolha do local de instalação
O local da instalação das infraestruturas não é aleatório. Vários critérios devem ser tomados em conta,
entre os quais:
onde as infraestruturas serão realizadas;
- a natureza do solo e das águas de superfície e subterrâneas:
- para adaptar as obras às caraterísticas dos solos (ex. sem equipamento específico, é difícil cavar
poços nos terrenos muito rochosos, outro ex. nos contextos onde os cursos de água são submissos
a fortes cheias, é difícil realizar captações de água);
- para evitar os riscos de salinidade (ex. nas bacias-oásis, não cavar poços perto da zona “com
natrão”).
- a presença eventual de outros utilizadores que partilham o recurso;
» Conhecer o potencial dos recursos hídricos no local
de intervenção;
3 / As práticas
» Dispor dos referenciais técnico-económicos das
infraestructuras existentes (se disponivéis);
» Conhecer as necessidades de água das culturas no
contexto local (clima, qualidade dos solos…);
» Dispor dos meios (materiais e humanos) para realizar
as obras.
Curso de água, Marrocos
Culturas na margem de um rio, Nam Khan, Laos
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação
63
- o afastamento em relação à zona irrigada: evitar os custos adicionais ligados
ao transporte da água até o perímetro irrigado;
- o afastamento das fontes de poluição eventuais: por exemplo: não construir
poços na proximidade das zonas de pernoitamento dos animaís (existentes ou
antigas), não captar nos cursos de água a jusante dos lavadouros;
- para os poços, o controlo da presença da água e dos débitos potenciais
do lençol freático: controlo dos outros poços nas proximidades, sondagem
preliminar se necessário.
 NOTA
Para qualquer infraestrutura, é necessário ter em conta as realizações existentes nas
proximidades e/ou os estudos: sondagens, testes de qualidade das águas…
É também necessário ter em conta a presença eventual de outros utilizadores que
partilham o recurso.
2-O dispositivo de mobilização do recurso hídrico
O dispositivo de mobilização corresponde ao tipo de captação (furo, poço,
tomada de água) e aos meios de extração (balde, bomba com pedais,
motobombas…).
Construção de um poço, Marrocos
Poço, Sri Lanka
Construção de um poço, Sri Lanka
 NOTA
Com exceção dos casos específicos, a construção de poços não necessita obrigatoriamente
de meios importantes. Eles podem ser feitos pelos artesãos locais com custos reduzidos.
64
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Cacimba não equipada, RD do Congo
Alguns exemplos de meios de extração:
3-O sistema de adução da água
O dispositivo de adução da água “transporta” a água do ponto de captação
até a entrada da zona de irrigação.
2 / Os sistemas de produção
Bomba com eixo vertical, Marrocos
1 / Os fundamentos
Em certos casos, o canal ou tubo principal pode ser muito comprido, o que
implica custos de construção importantes. As soluções para evitar as perdas
de água no dispositivo de adução, devem ser promovidas sistematicamente.
Equipamento de extração, poço, Níger
Canal de adução da água em construção, Camboja
Suporte e roldana, poço, Sri Lanka
3 / As práticas
Bomba com pedais, Níger
 NOTA
Existe uma diversidade de meios de extração, desde equipamentos dos mais
simples (balde) aos mais sofisticados (bombas solares). O importante é adaptar o
equipamento às necessidades de água. Por exemplo: uma bomba com pedais não
pode irrigar mais do que 3.000 m², um balde permite irrigar no máximo 500 m².
Séguia cimentada, Marrocos
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação
65
4-A rede de distribuição
A rede de distribuição “distribui” a água em cada parcela (quadros e
canteiros de culturas).
Depósito de armanezamento, Marrocos
Canalização PVC enterrada, Marrocos
Depósito de armanezamento, Marrocos
Canal cimentado, Marrocos
Canal d’amenée d’eau en cours d’aménagement, Cambodge
Tanque, Níger
Irrigação com regador, Camboja
 NOTA
No caso em que a água deve ser transportada a mão (irrigação com regador), certificar
que o percurso entre a fonte de água (armazenamento ou captação) e a parcela a
irrigar não ultrapassa mais que 50 metros.
66
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Construção de uma cisterna, RD do Congo
5-As obras anexas
Vantagens e desvantagens
Muitas vezes, as obras hidro-agrícolas necessitam obras secundárias
importantes para assegurar a qualidade, a manutenção ou a segurança das
obras.
Técnicas
 Garante uma disponibilidade de água suficiente;
 Reduz o tempo de trabalho ligado à extração e ao transporte manual da água:
1 / Os fundamentos
disponibilidade para uma melhor manutenção das culturas;
 Certas técnicas de irrigação simples e económicas não permitem irrigar
grandes superfícies.
Económicas
 Limita os encargos de rega (mão-de-obra temporária);
 Certas infraestruturas de irrigação podem ser caras (canais cimentados,
sistemas de gota-a-gota, bombagem solar);
 Custos de exploração importantes em caso de bombagem motorizada.
Cacimba em construção, Sri Lanka
Ambientais
2 / Os sistemas de produção
Proteção de um poço, Marrocos
 Sedentariza as atividades agrícolas: o cultivo irrigado num determinado
perímetro é uma alternativa à prática itinerante da agricultura de corte
e queima;
 Pode provocar uma pressão considerável sobre o recurso hídrico.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Cada sistema de irrigação deve ser adaptado à situação. Antes de escolher
as infraestruturas, é necessário bem analisar as necessidades de água e as
técnicas de construção que podem ser executadas localmente.
Dois tipos de custos devem também ser analisados: os custos da realização
da obra e dos seus equipamentos (motobombas, obras de superfície…) e
os custos do funcionamento e da manutenção dos sistemas de irrigação
(manutenção das motobombas, reparação dos canais, limpeza dos poços…).
3 / As práticas
A água de um poço agrícola nunca é potável e isso deve ser levado em
conta pelos utilizadores e pelas estruturas de apoio.
 PARA IR MAIS LONGE
Teste de qualidade da água (mecenato de competência VEOLIA Env.), Níger
Ficha: Gestão da água nas parcelas cultivadas (p. 69)
Ficha: Proteção da água contra as poluições (p. 73)
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Mobilização dos recursos hídricos e sistemas de irrigação
67
68
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Gestão da água nas parcelas cultivadas
Gestão da água
Princípio
1 / Os fundamentos
O desenvolvimento durável das atividades
agrícolas depende da gestão dos recursos hídricos.
Para garantir a continuidade e o desenvolvimento a longo prazo das atividades agrícolas, a gestão do
recurso hídrico necessita:
Uma gestão racional, adaptada às necessidades
das culturas e às condições do meio, permite bem
valorizar o recurso e ao mesmo tempo, preservá-lo.
- escolher um dispositivo adaptado para a distribuição da água;
As “boas práticas” para uma gestão eficiente e o
domínio da gestão da água, são sistematicamente
promovidas dentro dos programas da AGRISUD.
plantas cultivadas e que limitam as perdas pela evapotranspiração;
- dosear e realizar os fornecimentos segundo as necessidades da planta e as condições físicas do meio;
- adotar práticas que visam atenuar os efeitos negativos das águas durante as fortes chuvas.
- adotar as práticas culturais que garantem a conservação da água nos solos em benefício das
Efeitos:
Solo
2 / Os sistemas de produção
Método
1-A escolha do dispositivo de distribuição
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Otimizar a utilização do recurso hídrico;
» Preservar o recurso;
» Limitar os encargos da irrigação (tempo de trabalho
e quantidade de água mobilizada);
» Limitar os efeitos da saturação hídrica dos solos
nefastos para as culturas;
» Limitar a lixiviação dos solos;
» Limitar os efeitos da erosão ligados aos escoamentos
superficiais.
O dispositivo de distribuição deve permitir fornecer as quantidades de água suficientes para cobrir as
necessidades das culturas limitando ao mesmo tempo as perdas.
- Escolher um sistema de distribuição económico em água:
- irrigação por sulco em vez de submersão (exceto para a rizicultura irrigada);
- irrigação localizada (gota-a-gota , micro-aspersão, rega em covas...);
- para a rizicultura, preferir os sistemas SRI em arrozais corretamente aplainados e preparados (com
uma fraca lâmina de água).
- Adaptar as obras e as técnicas de transporte de água às condições físicas do meio e aos materiais
disponíveis para limitar as perdas:
- canais revestidos (betão, argila compactada, tijolos);
- rede de tubos (PVC, polietileno);
- transporte com regador...
Condições de implementação:
» Dispor de uma fonte de água (poço, charco, furo,
curso de água temporário ou permanente…);
3 / As práticas
» Dispor de meios de captação ou de extração
adaptados (canais, bombas, balde...);
» Conhecer a capacidade do recurso (quantidade
disponível, tempo de recarga dos lençóis freáticos);
» Conhecer as necessidades de água das culturas no
contexto local (clima, qualidade dos solos…).
Micro-aspersores, Sri Lanka
Irrigação, Camboja
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Gestão da água nas parcelas cultivadas
69
2-As práticas culturais para as culturas irrigadas
- Empalhar as culturas.
Certas práticas permitem melhorar a capacidade de retenção de água dos
solos, limitar as perdas pela evaporação, favorecer a infiltração e limitar a
erosão (para os solos inclinados).
- Realizar uma adubação orgânica de fundo (estrume curtido, composto).
Graças ao fornecimento de matéria orgânica, o solo bem estruturado e rico em
húmus, vai agir como uma esponja e melhor reter a água. Uma melhor retenção de
água nos solos limita os fornecimentos de água em quantidade e/ou em frequência.
Solo sem fornecimento de matéria orgânica:
-
Solo com fornecimento
de matéria orgânica:
-
-
Crosta superficial
-
Solo argiloso:
a água fica na
superfície e escorre
Solo arenoso:
a água infiltra-se
e perde-se
A água infiltra-se
e fica retida no solo
Rega sobre empalhamento, Camboja
70
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
A cobertura do solo limita a sua dessecação pelo vento e pelo sol, permite uma
melhor conservação da água no solo, o que reduz os fornecimentos.
Por outro lado, o empalhamento depois da sua decomposição, converte numa
fonte de matéria orgânica com efeitos positivos na melhoria da capacidade de
retenção da água no solo (cf. parágrafo precedente).
Associar as culturas.
As culturas associadas têm uma função a dois níveis. O seu sistema radicular
preserva uma boa estrutura do solo, o que ajuda a manter a sua capaciade
de retenção de água. As partes aéreas cobrem o solo, limitam a evaporação e
protegem o solo da compactação ligada às regas.
Garantir boas sucessões culturais.
As sucessões culturais permitem: por um lado ter uma cobertura permanente
do solo (ausência de compactação e menor evaporação), por outro lado
conservar uma boa textura do solo (conservação de um teor de matéria
orgânica suficiente).
Praticar a sacha: « Uma sacha corresponde a duas regas ».
A sacha permite quebrar a camada superficial do solo, favorece a infiltração
da água e permite evitar a ascensão capilar que provoca uma importante
evaporação, e às vezes, ascensões salinas.
Preparar as parcelas de culturas em terrenos inclinados.
No caso do cultivo irrigado em terrenos inclinados, um trabalho de preparação
dos terrenos é muitas vezes necessário para limitar os escoamentos superficiais:
construção de terraços, canteiros de culturas perpendiculares à inclinação…
Estas técnicas permitem limitar a erosão e favorecem a infiltração da água.
Instalar as culturas nos terrenos inclinados.
Em zona inclinada, as culturas são implantadas segundo as curvas de nível
para evitar a canalização de águas no sentido da inclinação e favorecer a sua
dispersão.
Monda, Índia
Culturas hortícolas em terraços, Madagáscar
3-A dosagem apropriada dos fornecimentos de água
Os fornecimentos de água necessários ao desenvolvimento das culturas
dependem das condições do meio e das espécies cultivadas.
Uma falta de água provoca um murchamento das plantas e a sua dessecação.
Um excesso de água conduz a uma asfixia, à podridão das raízes e do colo e
constitui um risco maior de desenvolvimento de bacterioses ou de doenças
critogámicas.
Quando a irrigação é praticada, torna-se indispensável fornecer às culturas
a quantidade de água útil e sem excesso, em função da demanda climática
(precipitações menos evapotranspiração) e a qualidade dos solos (textura e
estrutura= capacidade de retenção de água).
Outro exemplo: Se a capacidade de retenção de água dos solos é fraca,
preferir os fornecimentos em doses limitadas e com frequência elevada.
- Adaptar as práticas culturais à disponibilidade do recurso hídrico para as
culturas exigentes ou em caso de recurso limitado.
Exemplo: Prática de cultivo em SRI para a rizicultura.
- Localizar os fornecimentos.
Em zona seca (demanda climática elevada) ou em caso de raridade do
recurso, os fornecimentos devem ser localizados: trabalhar os canteiros de
forma a realizar as regas apenas nas covas.
- Trabalhar os canteiros de culturas hortícolas em função da estação cultural.
Na estação seca, preparar canteiros com um perfil escavado de forma a concentrar
a água a nível da cultura. Na estação húmida, preparar canteiros sobrelevados
que permitem uma boa drenagem e evitam os riscos de excesso de água.
- Garantir as boas associações de culturas.
Associar as culturas com as mesmas necessidades de água (mas que podem
explorar camadas de solo diferentes) para adaptar a quantidade da água
fornecida e a valorizar melhor.
- Preferir uma irrigação « ligeira » em caso de aspersão ou de rega com regador.
Na estação chuvosa, a irrigação é constituída por fornecimentos de complemento,
enquanto na estação seca, a irrigação cobre as perdas pela evapotranspiração
(entre 5 e 10 litros de água/m²/dia em zona com fraca higrometria).
- Adaptar a irrigação (doses e frequência) às necessidades das plantas em
função do seu estado de desenvolvimento e das características do solo.
Ex. Para as plantinhas, preferir fornecer a água em doses limitadas e com
frequência elevada. Ao contrário, para uma beringela bem desenvolvida com
um enraizamento profundo num solo com boa retenção de água, preferir
fornecer quantidades de água mais importantes mas com menor frequência.
1 / Os fundamentos
O desenvolvimento do “bocage” pela instalação de sebes vivas, quebraventos ou árvores frutíferas, limita a evaporação da água e a dessecação
das culturas (conservação da humidade). A criação de um “bocage” permite
também fornecer de forma regular matéria orgânica, reduzir as perdas em
húmus (redução da mineralização) e aumentar a capacidade de retenção da
água nos solos.
2 / Os sistemas de produção
- Arborizar os locais de produção.
Rega, RD do Congo
Utilizar um chuveiro de regador com
perfurações finas ou preferir regadores
(sprinkler) projetando gotas finas
em raios de aspersão relativamente
limitados para evitar um efeito
“splash” muito importante (projeções
de lamas e destruição da estrutura
do solo pelo impacto da água) e para
distribuir a água de irrigação de forma
homogênea.
 OBSERVAÇÕES
 Os períodos de rega são escolhidos fora dos períodos de forte insolação. No caso
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Gestão da água nas parcelas cultivadas
3 / As práticas
Parcelas hortícolas, Madagáscar
contrário, os riscos de queimar as plantas e de ter perdas por evaporação são
mais importantes. Além disso, a planta é incapaz de absorver a água visto que
os estômatos estão fechados (reflexo de proteção para evitar uma transpiração
excessiva).
 Exceto para as plantas jovens transplantadas que devem ser regadas duas vezes
por dia 10 dias seguintes à transplantação, preferir as regas pela manhã em vez
de as no fim do dia, para evitar manter um grau elevado de humidade noturna
favorável ao desenvolvimento das doenças (como o míldio).
71
4-As práticas para atenuar os efeitos negativos durante as chuvas torrenciais
Vantagens e desvantagens
Seja em zona seca ou em zona húmida, muitas vezes, o produtor deve enfrentar
a intensidade das chuvas que é um fator importante de degradação dos solos e
das culturas.
Técnicas
Boas práticas devem ser então aplicadas para aproveitar os fornecimentos de
água e limitar os estragos das chuvas (escoamento superficial e erosão).
- Trabalhar ao longo das curvas de nível em terrenos inclinados (lavoura do
solo e sementeira) para limitar o escoamento superficial.
Para as culturas pluviais em zonas inclinadas, o modo de implantação das
culturas tem um papel preponderante:
- na valorização da água (favorecer a infiltração da água);
- na proteção dos terrenos contra a erosão, que provoca o arrastamento das camadas
superficiais, um desaparecimento dos elementos finos, a criação de ravinas e a
destruição das culturas (favorecer a dispersão dos escoamentos superficiais).
- Realizar obras anti-erosivas para reduzir os escoamentos.
As obras nas vertentes cultivadas (terraços, semi-luas, banquetas, cordões de
pedras…) contribuem para a dispersão dos escoamentos superficiais, a redução
da velocidade da água e a limitação da sua força erosiva. Favorecem também
a infiltração da água e uma boa recarga da reserva útil em água dos solos.
- Arborizar as zonas de cultivo para atenuar os efeitos negativos das fortes chuvas.
A presença das árvores tem uma dupla função de controlo dos escoamentos
superficiais e de melhoria da infiltração das águas de superfície. Além disso,
a criação de um “bocage” protege o solo dos efeitos diretos da compactação
provocada pelas chuvas fortes.
- Garantir uma cobertura permanente dos solos.
Um solo coberto de forma permanente (associações e sucessões culturais,
empalhamento, plantas de cobertura) está protegido dos efeitos diretos da chuva
e da erosão provocada pelos escoamentos superficiais. Em estação chuvosa,
qualquer período em que o solo está sem cobertura é um período de risco.
 NOTA
Favorecer a infiltração da água, em vez de a canalizar para a evacuar, protege
os solos da erosão. As águas dos escoamentos superficiais a jusante das zonas
de cultivo estão menos carregadas de matérias em suspensão e limitam o
assoreamento (zonas baixas, vales rizícolas…). Além disso, a qualidade das
águas é preservada, o que beneficia os ecossistemas aquáticos das ribeiras,
dos rios e das fozes.
72
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
 Garante uma disponibilidade de água suficiente;
 Limita os riscos de lixiviação e de saturação hídrica dos solos;
 Evita a erosão provocada pelos escoamentos superficiais e pela compactação
dos solos;
 Certas técnicas de irrigação simples e económicas não permitem irrigar
grandes superfícies.
Económicas
 Limita os encargos ligados aos trabalho de irrigação e “aumenta” desta
forma o tempo de trabalho para a manutenção das culturas;
 Limita a quantidade e o custo energético em caso de motobombeamento
(motorização térmica ou elétrica não solar);
 Certas infraestruturas de irrigação podem ser custosas a instalar (canais de
transporte em betão, gota-a-gota);
 Pode gerar outras despesas de mão-de-obra (empalhamento, sacha).
Ambientais
 Garante a durabilidade do recurso hídrico;
 Garante a conservação de uma humidade favorável à fauna e à flora;
 Limita a utilização exagerada das energias poluentes (bombagem de água)
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
O recurso hídrico, quer seja limitado ou não, não deve ser desperdiçado.
É necessário adaptar as práticas à capacidade do meio, às necessidades das
culturas e à vontade de preservar o recurso hídrico e o ambiente.
Para assegurar a boa disponibilidade da água, é necessário aplicar um conjunto
de práticas que permitam limitar as perdas e otimizar as quantidades fornecidas.
 PARA IR MAIS LONGE
Fichas: Curtição do estrume (p. 77) / Adubação orgânica de fundo (p. 105)
Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação
de um “bocage”) (p. 93)
Ficha: Cultivo em covas (p. 109)
Ficha: Associações de culturas (p. 117)
Fichas: Empalhamento (p. 121) / Sistemas de cultivo sobre Cobertura
Vegetal (p. 157)
Proteção da água contra as poluições
Gestão da água
Princípio
1 / Os fundamentos
A implementação de práticas agroecológicas
permite proteger as águas subterrâneas e de
superfície, limitando os efeitos poluentes da
atividade agropecuária.
Preservar a água das poluições agrícolas constitui um desafio importante. A água permite o equilíbrio
dos ecossistemas, a irrigação das culturas, o abeberamento do gado e o abastecimento em água das
populações.
O desafio é conservar a qualidade do recurso
hídrico.
Para garantir a proteção contra as poluições de origem agrícola, vários eixos de intervenção devem ser
implementados de forma complementar:
Com efeito, uma água de qualidade permite
preservar os ecossistemas e garantir aos utilizadores
a disponibilidade do recurso sem risco sanitário.
- a promoção dos insumos (adubos, produtos fitossanitários) facilmente degradáveis e sem perigo para
o ambiente, como alternativa aos produtos químicos de síntese, e a não utilização dos herbicidas;
- a recuperação dos efluentes das explorações pecuárias;
lençóis freáticos e dos cursos de água.
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Limitar a dispersão dos efluentes da pecúaria e dos
produtos químicos e orgânicos poluentes;
» Proteger o recurso hídrico de uma contaminação
muitas vezes irreversível.
Condições de implementação:
» Dispor das infraestruturas necessárias para recolher
»
»
Método
1-O uso dos insumos naturais e a não utilização dos herbicidas químicos
Para a fertlilização e proteção fitossanitária das suas culturas, o produtor pode utilizar insumos
naturais:
- composto à base de biomassa local: resíduos de culturas e estrume, ou estrume curtido, que são
excelentes fertilizantes, podem ser complementados com produtos naturais como as cinzas, o
calcário moído e o fosfato natural para melhorar os seus efeitos;
- soluções à base de plantas (ním, tabaco, papaia…) ou de minerais (cobre, enxofre…), que são
alternativas aos tratamentos à base de produtos químicos de síntese, contra as pragas e doenças.
os excrementos animais: cercas, valas, lamas de
recuperação dos chorumes...;
Dispor de palha para a cama dos animais nas cercas;
Dispor de ferramentas ou de infraestruturas para
valorizar os estrumes animais recolhidos;
Saber preparar a matéria orgânica;
Conhecer as plantas ou os minerais naturais de
interesse e o seu modo de preparação e de utilização,
para limitar o uso de produtos químicos de síntese.
Micro-asperseurs,
Sri Lanka
Tratamento à base
de malagueta, alho
e gengibre, Marrocos
3 / As práticas
»
»
2 / Os sistemas de produção
- a implementação de práticas para limitar a lixiviação dos solos que pode ser fonte de poluição dos
Irrigation, Cambodge
Composteira,
Madagáscar
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Proteção da água contra as poluições
73
 NOTA
2-A recuperação dos efluentes das atividades pecuárias
Não é por serem naturais que os produtos utilizados não são nocivos. Por
exemplo, em forte concentração, o estrume de aves pode produzir efluentes
azotados que são carregados pelas águas de rega ou pelas fortes chuvas e
poluem os lençóis e os cursos de água.
Os efluentes das atividades pecuárias (chorumes e estrumes) produzem
rapidamente nitratos solúveis na água. Em forte concentração, eles podem
provocar a poluição das reservas de água subterrânea e dos cursos de água.
Se o estrume de aves for utilizado puro, como adubo de cobertura, o
produtor deve fracionar as suas aplicações: no máximo 40 g de estrume seco
por aplicação e por m², com intervalos de 3 semanas no mínimo.
- cercar os animais e recolher regularmente os excrementos sólidos, a limpeza
Para a manutenção das suas culturas, o produtor pode substituir o uso dos
herbicidas:
- pela luta física (monda mecânica, sacha manual);
- pelo empalhamento e pelas plantas de cobertura que limitam a infestação
das parcelas;
- por associações e sucessões de culturas que evitam a infestação das parcelas.
Os adubos químicos de síntese têm um efeito « destruturante » nos solos
(destruição do complexo argilo-húmico) diminuindo desta forma a capacidade
de retenção da água.
No caso em que, apesar de tudo, o produtor decidir utilizar herbicidas, é
aconselhável fornecer previamente matéria orgânica (e caso for necessário,
calcário) para retê-los (adsorção do complexo argilo-húmico). Caso contrário,
pode poluir os lençóis freáticos (pela lixiviação) e os rendimentos das culturas
não serão melhorados (os elementos lixiviados não são absorvidos pelas plantas).
Para evitar os riscos de poluição, é necessário:
regular das cercas é indispensável para preservar a qualidade do produto
recolhido, mas também para evitar o arrastamento dos poluentes provocado
pelas chuvas (infiltração no lençol freático, escoamento para os cursos de água);
- cobrir o solo dos edifícios pecuários com cama (palha, glumas e glumelas)
para absorver e limitar os escoamentos dos chorumes;
- prever se possível, a construção de uma placa ligeiramente inclinada nas
instalações de suinicultura, de valas e de tanques de recuperação dos estrumes
e chorumes.
Os materiais recolhidos (cama proveniente das cercas, estrumes, estercos e
chorumes) podem ser valorizados sob forma de estrume curtido ou composto
(cf. parágrafo 1).
3-As práticas para limitar a lixiviação dos solos
Os elementos minerais presentes no solo são facilmente lixiviados pelas chuvas ou pelas
águas de irrigação, e isto com maior amplitude quando o solo tem fraca capacidade de
fixação. Os elementos lixiviados encontram-se depois no lençol freático.
Certas práticas devem ser implementadas para melhorar a capacidade de fixação
dos solos (capacidade de adsorção dos minerais) e desta forma, evitar a lixiviação.
- Limitar o trabalho do solo e garantir uma cobertura permanente.
Um trabalho limitado do solo e uma cobertura permanente, permitem garantir
uma estrutura estável, favorável à formação do complexo argilo-húmico e desta
forma, à preservação de uma boa capacidade de adsorção dos elementos minerais.
Cerca, Laos
74
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Solo degradado, Níger
Plantas de cobertura, Gabão
Uma sobredosagem de adubos favorece as perdas mas também as poluições
pela lixiviação. Os adubos devem ser aplicados em cobertura se necessário,
mas de forma fracionada. Solos com estruturas mais frágeis (textura com
baixo teor de argila e/ou de húmus, teor limitado em cálcio), têm uma
capacidade de adsorção mais fraca. Nesto caso, é imperativo fracionar as
aplicações de adubos.
- Realizar uma adubação orgânica de fundo (estrume curtido, composto).
Durante a decomposição da matéria orgânica pelos organismos vivos no
solo, tem formação de húmus que, ligado às partículas de argila, constitui o
complexo argilo-húmico. Este complexo adsorve os elementos minerais e os
protege da lixiviação. Depois da adsorção, são liberados progressivamente e
assimilados regularmente pelas plantas cultivadas.
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Melhora a estrutura dos solos (fornecimento de matéria orgânica), o que
favorece a fixação dos elementos minerais;
 Práticas simples de implementar;
1 / Os fundamentos
- Dosear e fracionar as aplicações de adubos químicos e orgânicos.
 Requer uma disponibilidade importante de matéria orgânica;
 Necessita um trabalho importante para o pernoitamento dos animais e a
recolha das matérias orgânicas.
Económicas
 Reduz os custos ligados aos tratamentos fitossanitários, ao uso dos adubos
químicos de síntese e dos herbicidas;
 Reduz as perdas e a reposição de fertilizantes lixiviados;
2 / Os sistemas de produção
 Representa um custo se o produtor não dispor de adubo orgânico.
Ambientais
 Limita a utilização de produtos químicos de síntese e de herbicidas que
têm efeitos nocivos sobre o ambiente;
 Favorece uma boa gestão dos efluentes das atividades pecuárias
geralmente muito poluentes.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
As práticas agrícolas são muitas vezes poluentes e podem colocar em perigo a
qualidade das águas: efluentes das atividades pecuárias mal geridos, má habilidade
na aplicação de adubos, utilização abusiva de pesticidas e herbicidas. O produtor
deve ter o cuidado de adotar práticas que visam limitar estas poluições:
 uso
de produtos naturais e dosagem das aplicações;
utilização ou abandono dos herbicidas;
 recuperação e/ou valorização dos efluentes das atividades pecuárias;
 preservação de uma boa estrutura dos solos que favoreça a fixação dos
elementos minerais e limite a sua lixiviação.
 não
 NOTA
A prática da queima é fortemente desaconselhada visto que mineraliza
diretamente a matéria orgânica. O fogo acelera a perda de matéria
orgânica do solo, conduzindo à sua destruturação e à alteração das
suas propriedades biológicas e físico-químicas: redução do trabalho dos
organismos vivos, da capacidade de retenção de água e da capacidade de
adsorção dos elementos minerais.
 PARA IR MAIS LONGE
Fichas: Compostagem (p. 89) / Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105)
Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127)
Fichas: Associações de culturas (p. 117) / Sucessões culturais (p. 111)
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Fichas: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157)
AS PRÁTICAS / Gestão da água / Proteção da água contra as poluições
3 / As práticas
Bertalha (Basella) com empalhamento, Sri Lanka
75
76
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Curtição do estrume
Produção de fertilizantes
Em geral, os estrumes (excrementos brutos ou misturados com a cama, estrume seco…) são
armazenados pelos produtores na forma de monte ao ar livre durante um período prolongado, e são
depois distribuídos na parcela.
Esta forma de armazenamento tem como consequências:
- uma perda da qualidade do estrume, devido à exposição ao calor e à chuva (liberação do azoto
para a atmosfera, lixiviação dos elementos fertilizantes, destruição dos micro-organismos úteis...);
- uma decomposição incompleta e heterogênea do estrume;
- um risco de contaminação das parcelas durante a fertilização (fonte de doenças e de sementes de
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Tornar os elementos nutritivos facilmente disponíveis
para a planta, graças a uma melhor decomposição
do estrume;
» Limitar o risco de aquecimento durante a
decomposição do estrume;
» Limitar os riscos de propagação das infestantes,
pragas, bactérias e outros fungos presentes no
estrume.
2 / Os sistemas de produção
infestantes).
Efeitos:
Solo
Princípio
1 / Os fundamentos
A curtição do estrume é uma operação que
consiste em preparar o estrume bruto antes de
incorporá-lo no solo para a fertilização.
Apresenta como vantagem o fato de melhorar a
qualidade da matéria orgânica incorporada no
solo.
Esta prática foi principalmente implementada no
quadro dos programas da AGRISUD em Marrocos,
no Níger, no Camboja e na Índia.
Contudo, o uso do estrume é geralmente o modo de fertilização mais frequente, tendo em conta que
está disponível localmente e com baixo custo (ao contrário dos adubos químicos de síntese).
Recomenda-se então utilizar o estrume depois do processo de curtição para:
- preservar a sua qualidade graças a melhores condições de armazenamento;
- melhorar a sua decomposição para poder utilizá-lo de forma eficaz e sem risco para a planta.
Método
A prática consiste em provocar uma fermentação do estrume do tipo compostagem (na presença de ar
e com elevação da temperatura).
Duas técnicas são possíveis em função das condições climáticas da zona (higrometria, chuvas, calor…).
Condições de implementação:
» Dispor de estrume bruto ou de cama de animais entre
Estrume bruto
Preparação de estrume bruto
Monte de estrume curtido
3 / As práticas
1,5 e 3 kg por m² conforme o tipo de culturas e a
duração do seu ciclo (uma média de 2,5 kg por m²
para uma parcela com várias culturas);
» Dispor de um espaço sombreado e de palhas para
cobrir o estrume (caso da curtição do estrume na
forma de monte);
» Dispor das ferramentas necessárias (uma pá para
cavar a fossa, fragmentar e amontoar o estrume e
um regador);
» Dispor de uma fonte de água próxima.
Estrume em fase de curtição
AS PRATICAS / Produção
Matièrede
organique
fertilizantes
/ Le/ Recyclage
Curtição dodu
estrume
fumier
77
1-A reciclagem em zona seca
- Cavar uma fossa e colocar o estrume previamente fragmentado em camadas
de 20 a 30 cm;
- Humedecer cada camada sem provocar encharcamento antes de passar para
a seguinte;
- Cobrir a fossa com terra;
- Regar 1 vez por semana e revolver o estrume 2 vezes com 3 semanas de
intervalo (quando o estrume resfriar);
- O estrume está pronto quando não aquece mais.
2-A reciclagem em zona húmida
- Juntar o estrume na sombra, por exemplo: debaixo de uma árvore, e
fragmentá-lo;
- Humedecer progressivamente mas sem encharcar a matéria (risco de lixiviação
dos elementos solúveis);
- Amontoar o estrume em pequenos montes (1 m de altura para 1,5 m de
diâmetro) ou em leiras (1 m de altura para 1 m de largura, o comprimento
depende da quantidade de estrume disponível) e compactar ligeiramente;
Etapa 1: Escavação da fossa
Escavação da fossa (continuação)
Etapa 2: Fornecimento do estrume
Etapa 3: Controlo da temperatura
- Proteger o estrume do sol e do vento com palhas (ervas da savana antes da
produção de sementes, palmas…);
- Regar em caso de ressecamento;
- Efetuar uma viragem depois do estrume ter resfriado (2 semanas);
- Amontoar de novo, regar e cobrir;
- O estrume está pronto depois de ter resfriado totalmente.
Depois de curtido, se não for utilizado imediatamente, o estrume pode ser
conservado.
 OBSERVAÇÕES:
 Se o estrume estiver com muita palha, ele pode ser misturado com estrume
fino ou acrescentar uma fonte de azoto para acelerar a sua decomposição
(esterco de galinha ou de morcego, chorumes,...).
 É possível enriquecer o estrume curtido misturando cinza (fornecimento de
potássio), fosfato natural (fornecimento de fósforo), glumas... em função
das necessidades do solo (carência em elementos, melhoria da estrutura)
e/ou das culturas (necessidades específicas em um ou vários elementos).
78
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
3-O uso do estrume curtido
Vantagens e desvantagens
Conforme o seu estado de transformação, o estrume curtido pode ser utilizado:
- grosseiro (jovem): utilização como adubação de fundo (restauração da
fertilidade);
Técnicas
- maduro: misturado no solo, a nível do horizonte explorado pelas raízes (em
 É de melhor qualidade que o estrume bruto;
viveiro, e em cobertura de sementeira para os viveiros hortícolas e rizícolas.
Em função do seu uso, o estrume curtido é aplicado da seguinte forma:
- para a horticultura: 25 a 30 kg por canteiro de 10 m² espalhados no chão
antes da aração. Em caso de quantidade limitada, reduzir as doses e localizar
a nível das covas (um punhado com as duas mãos juntas);
- para as culturas pluviais: 10 a 20 t/ha espalhadas no chão antes da aração
ou fornecidas de forma localizada;
- para os viveiros: incorporar 3 a 5 kg/m².
1 / Os fundamentos
- bem decomposto: utilizado na fruticultura para preencher as bolsas de
 Permite uma boa decomposição dos estrumes com muita palha;
 Não é tão rico como um bom composto.
Económicas
 Mobilização limitada da mão-de-obra;
 Custo de realização limitado, se o produtor possuir estrume.
Ambientais
 Permite a complementaridade agricultura/pecuária;
 Melhora os solos sem recorrer aos produtos químicos de síntese;
2 / Os sistemas de produção
caso de quantidade limitada, fazer aplicações localizadas);
 Prática simples de implementar (em comparação com a compostagem);
 Prática adaptada às zonas de criação de animais;
 Permite a reciclagem dos excrementos pecuários;
 Apresenta riscos de poluição em caso de rega excessiva (saturação da
capacidade de fixação dos efluentes pelo solo).
 NOTA
Cada planta não tem a mesma capacidade para aproveitar o estrume
curtido. Assim, cada tipo de planta tem as suas preferências segundo o
grau de decomposição da matéria orgânica.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A curtição do estrume é fácil de realizar, necessária e eficaz para a
valorização deste subproduto das atividades pecuárias.
3 / As práticas
Apesar de ser menos eficiente que a compostagem, esta prática é
certamente mais adaptada às zonas sahelianas tendo em conta as
condições sócio-económicas e ambientais, é dizer: concorrência para a
matéria vegetal, disponibilidade limitada em palhas e importância das
atividades pecuárias.
 PARA IR MAIS LONGE
Aplicação de estrume curtido, RD do Congo
Ficha: Compostagem em leiras (p. 81)
Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105)
AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Curtição do estrume
79
80
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Compostagem em leiras
Produção de fertilizantes
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Elaborar um fertilizante orgânico de qualidade com
matérias primas disponíveis localmente;
» Tornar os elementos nutritivos facilmente disponíveis
para a planta depois humificação e mineralização;
» Limitar os riscos de propagação das infestantes,
pragas, bactérias e outras doenças presentes no
estrume e nas palhas.
Condições de implementação:
Zona seca:
» Dispor de um terreno com uma fonte de água e das
ferramentas necessárias (carrinho de mão, regador,
pá, forquilha, peneira);
» Dispor dos materiais para produzir o composto
(estrume, palha, argila ou areia segundo o tipo de
solo, cinzas de madeira, pó de osso…).
1 / Os fundamentos
Princípio
A compostagem é uma aceleração do processo natural de decomposição dos resíduos orgânicos. Uma
atividade bacteriana intensa é a principal responsável pela decomposição, necessitando de oxigénio
e produzindo calor. O composto que resulta tem uma função de corretor do solo e de adubo. Existem
diferentes técnicas de compostagem entre as quais a compostagem em leiras.
Método de compostagem em leiras em zona seca
O método consiste em decompor as matérias orgânicas e vegetais através duma fermentação aeróbia.
1-A escolha do local
A plataforma de compostagem deve estar situada na proximidade das hortas (local de utilização do
composto), próximo de uma fonte de água e de currais de animais (disponibilidade de estrume), na
sombra de uma sebe ou uma árvore (para favorecer o conservação da humidade).
2 / Os sistemas de produção
A compostagem em leiras consiste em colocar
uma mistura de matérias primas em montes
estreitos e compridos chamados « leiras ». O
método permite compostar quantidades maiores
de matéria orgânica do que o método em pilha
(composteira).
Esta prática foi essencialmente desenvolvida no
quadro dos programas da AGRISUD no Níger (em
zona seca) e em Madagáscar (em zona húmida).
2-A área de compostagem
Cavar 4 fossas vizinhas de 1,5 m de largura, 3 a 6 m de comprimento e 20 cm de profundidade. Se
a sombra for fornecida pela presença de uma árvore, afastar 2 m desta árvore (presença das raízes no
solo). A área de compostagem deve incluir um tanque de embebição para humedecer as palhas antes
da sua compostagem. Se o solo for argiloso, a água será retida mais facilmente; caso contrário, cobrir
as paredes e o solo com uma lona de plástico.
3-A preparação dos materiais
- Mergulhar as palhas durante 2 dias dentro do tanque previsto para o efeito, ou regá-las
abundantemente. Molhar também os outros materiais amontoados (glumas, folhas…);
- Fragmentar o estrume e humedecê-lo (sem lixiviá-lo);
- Queimar e esmagar os ossos para os reduzir em pó.
3 / As práticas
Zona húmida:
» Dispor de um terreno com uma fonte de água e das
ferramentas necessárias (regador, catana, cesto,
forquilha, pá);
» Dispor dos materiais para produzir o composto
(estrume, palha, ervas, troncos de bananeiras,
resíduos de cana depois da destilação, cinzas..).
Escavação das fossas para compostagem, Níger
Enchimento da fossa de embebição
Humidificação das glumas de milhete
AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras
81
4-A montagem da leira (método testado no Níger)
Regar abundantemente o fundo da fossa (até a formação de poças de água).
Depois, a leira do composto é construída: é composta por uma sucessão de 5
camadas, elas mesmas constituídas de uma sucessão de várias sub-camadas de
materiais homogêneos.
Composição de uma camada:
- Sub-camada de argila (solo arenoso) ou de
areia (solo argiloso);
- sub-camada de estrume;
- sub-camada de fosfato natural ou de pó
de osso;
- sub-camada de palha humidificada;
- sub-camada de cinzas.
Para 800 kg de composto (leira de 1 m x 3 m):
17 carrinhos de mão de palha;
7 carrinhos de mão de esterco, de estrume com palha ou de estrume seco;
1 carrinho de mão de argila ou de areia (segundo o tipo de solo);
15 a 18 regadores de água;
20 punhados de cinza de madeira;
20 punhados de pó de osso, de penas e desperdícios de peixe ou de fosfato
natural;
Outros materiais possíveis: ervas, palmas moídas, leguminosas, folhas de
árvores, glumas, cascas de amendoim, cascas diversas…
Água
82
Estrume
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Palhas
Depois da montagem das diferentes camadas, a leira tem uma forma trapezoidal
(esquema abaixo).
As dimensões (indicativas) devem permitir:
80 cm
- manipular facilmente a leira com uma
2m
forquilha;
- reter a água sem exigir grandes
esforços de escavação;
1m
- uma boa fermentação no centro da
3m
leira (humidade, aeração, calor).
20 cm
1m
5-A proteção
Para proteger a leira da dessecação causada pelo vento e/ou pelo sol, é
aconselhado cobrí-la com:
- uma cobertura de terra, esteiras, sacos de tela tecida ou palha cortada muito
fina (não utilizar matérias plásticas impermeáveis);
- uma camada de palha curta cobrindo a totalidade da leira.
Em caso de chuva, a leira pode ser coberta (lona plástica) para evitar a
lixiviação do composto. Deve ser descoberta depois da chuva para facilitar a
sua aeração.
Penas
Pó de osso + cinzas
Água
6-A manutenção do composto
7-O controlo
- Revolver o composto todos os 15 dias, passando da primeira à segunda
Depois da montagem da leira e para cada revolvimento, é necessário controlar
a elevação da temperatura. Esta indica a qualidade da fermentação.
Durante o revolvimento da primeira fossa, a segunda fossa fica cheia,
libertando a primeira. Esta pode em seguida ser de novo enchida com
materiais frescos a compostar… e desta forma até o enchimento das 4
fossas, todas num estado diferente de compostagem.
Composto
0 a 15 dias
(15 d) 1eira
viragem
Composto
15 a 30 d
(30 d) 2nda
viragem
Composto
30 a 45 d
(45 d) 3eira
viragem
Composto
45 a 60 d
O controlo efetua-se pelo tato: introduzir estacas no coração da leira, no
meio e nos lados. Retirar as estacas, estas devem estar quentes.
Se o controlo não indicar nenhum calor 2 dias depois da montagem ou de um
revolvimento, abrir a leira:
- se estiver parcialmente seca ou na sua totalidade, humedecê-la (sem água,
a fermentação não pode acontecer);
- se não estiver seca, adicionar estrume ou regar com chorume, que são
ativadores (o azoto contido e as bactérias permitem a decomposição).
8-A evolução do composto
Durante o processo de compostagem:
- o volume diminui à medida que as matérias vegetais se decompõem;
- a composição fica homogênea, não permitindo mais distinguir os elementos
iniciais.
No final, o composto é ligeiro, húmido e arejado e de cor castanho escuro.
Um bom composto não tem mau cheiro (nada de podridão); o seu cheiro
lembra o das camas florestais.
Utilização
(60 d)
Aplicação localizada de composto
9-A conservação
Caso o composto não for utilizado imediatamente, é aconselhável fazê-lo
secar em camadas finas, na sombra, durante 2 dias, para depois o conservar
em montes ou em sacos ao abrigo do sol e da humidade.
3 / As práticas
Novo
enchimento
1 / Os fundamentos
Os revolvimentos permitem misturar os elementos, arejá-los e humedecê-los,
o que permite reativar a fermentação.
Cada 15 dias, a leira de composto deve aquecer e depois esfriar no momento
da diminuição da atividade bacteriana.
2 / Os sistemas de produção
fossa, depois da segunda à terceira, e assim de seguida. As camadas de cima
encontram-se no fundo da fossa seguinte e as partes exteriores da leira
encontram-se no centro;
- Regar com 1 a 2 regadores no momento de revolver cada uma das camadas.
Controlo da temperatura do composto com ajuda de uma estaca
AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras
83
Método de compostagem em leiras em zona húmida
3-A recolha e a preparação dos materiais
Como em zona seca, o método consiste em decompor as matérias orgânicas e
vegetais por uma fermentação aeróbia.
Um composto com uma maior diversidade de elementos é mais rico. Deve ser
constituído das seguintes matérias:
1-A escolha do local
- matérias ricas em celulose: palha, sabugo, folhagem;
A área de compostagem deve estar situada na proximidade das hortas (locais
de utilização do composto), próximo de uma fonte de água e dos currais de
animais (disponibilidade de estrume), numa zona não inundável.
azolla, estrume...);
- matérias ricas em fósforo (P): pó de osso;
- matérias ricas em potássio (K): troncos de bananeiras, cinzas;
- ativadores: estrume, desperdícios de cana de açúcar depois da destilação.
2-A construção do local
- Mondar e nivelar o terreno;
- Construir um abrigo suficientemente alto para poder proteger o composto, de
- matérias ricas em azoto (N): matérias verdes (sobretudo as leguminosas,
Para facilitar a sua decomposição, os materiais de grande tamanho (palha,
ervas, bananeiras) devem ser cortados.
forma a poder manipular as matérias ficando de pé;
- Cavar valas de evacuação da água ao redor da composteira;
- Plantar sebes vivas ao redor dos abrigos (para manter a humidade e fornecer
matérias vegetais).
Exemplo de construção de uma composteira em Madagáscar
Preparação das matérias para compostar, Madagáscar
 OBSERVAÇÕES:
O
Outros exemplos de construção de composteiras em Madagáscar
84
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
pó de osso e as cinzas podem ser incorporados ao composto no momento
da montagem, dos revolvimentos ou da aplicação do composto nos
terrenos.
 Em caso de utilização da azolla, murchar a planta ao sol (3 dias) ou
misturá-la com cinzas para facilitar a sua dessecação.
4-A montagem da leira
O monte de composto é constituído de uma sucessão de camadas, essas são constituídas por uma
sucessão de várias sub-camadas de materiais homogêneos como indica o seguinte esquema:
1 / Os fundamentos
1. Colocar os troncos de bananeiras cortados em faixas de 1,5 m de
largura e 2 m mínimo de comprimento: o comprimento da leira depende
do comprimento da composteira (comprimento da composteira diminuído
de 1,5 m para facilitar o revolvimento) e da quantidade do material a
compostar. Colocar os elementos grosseiros na base do monte de composto
permite melhorar a aeração.
2. Colocar uma camada aproximadamente 20 cm de matéria
3. Depois da rega, colocar uma camada de aproximadamente
5 cm de estrume.
REGA
Repetir
estas
operações
até obter
uma leira
de 1,5 de
altura.
4. Depois da rega, colocar uma camada de aproximadamente
15 cm de matéria verde sobre o estrume. Depois regar
de novo.
REGA
Composteira, Madagáscar
 OBSERVAÇÕES:
Depois da montagem das diferentes camadas, a leira
de composto mede 1,5 m de largura por 1,5 m de
altura.
O seu comprimento depende do espaço disponível,
mas também da quantidade dos diferentes materiais
a compostar. No entanto, este comprimento não
deverá ser inferior a 1,5 m.
Estas dimensões são indicativas e devem permitir:
 manipular
As medidas e os materiais são indicativos e podem ser modificados em função da experiência e
das quantidades disponíveis.
3 / As práticas
REGA
Todas as camadas devem ser regadas. A quantidade da
água varia em função da humidade inicial dos materiais
e da dimensão da leira. A leira de composto deve ser
corretamente molhada mas não encharcada.
2 / Os sistemas de produção
seca sobre os fragmentos de bananeiras.
a leira facilmente com uma forquilha;
 uma
boa fermentação no coração da leira
(humidade, aeração, calor).
AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras
85
5-A proteção
7-O controlo
Cobrir a leira com uma camada de palha (cerca de 10 cm) para manter uma
humidade constante.
Controlar a elevação da temperatura (verificação da fermentação).
O controlo efetua-se pelo tato: introduzir estacas nos lados e no meio, até o
coração da leira, para controlar o aquecimento.
3 dias depois da montagem da leira ou de um revolvimento, retirar as estacas
e controlar pelo tato:
- se estiver quente:
- a fermentação já iniciou, introduzir novamente as estacas, tudo está certo;
- se estiver frio:
- verificar que a leira esteja bem húmida, se não for o caso, molhá-la (sem
água, não há fermentação);
- se a leira já estiver húmida: aumentar as quantidades de estrume e de
matéria verde ou regar com chorume (fornecimento de azoto) para ativar
a fermentação.
6-A condução do composto
Os revolvimentos são efetuados de 10 em 10 dias em média, depois da
constatação do aumento da temperatura e o seu arrefecimento progressivo.
Durante o revolvimento da leira:
- respeitar a ordem das camadas de forma que as de cima se encontrem em baixo;
- enterrar os materiais do exterior para o centro da leira;
- regar as novas camadas cada 20 a 30 cm.
No fim do revolvimento, o composto deve voltar a ser colocado em leira, e a
fermentação recomeça nos dias seguintes (produção de calor).
Revolvimento do composto
86
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
O composto está maduro quando a leira depois do revolvimento não aquecer.
É preciso esperar em média 1 mês e meio (3 a 4 revolvimentos).
Um composto maduro tem uma composição fina e uma cor castanha. Os
diferentes materiais não são mais identificáveis. O seu cheiro lembra o da cama
florestal.
8-A conservação
Para uma boa conservação, o composto deve ser armazenado:
- ao abrigo do sol para limitar as perdas de azoto;
- ao abrigo da chuva para evitar a lixiviação dos elementos minerais.
Nestas condições, o composto pode ser conservado vários meses.
Conservação do composto
Utilização do composto
Vantagens e desvantagens
Segundo o seu estado de decomposição, o composto pode ser utilizado:
Técnicas
- grosseiro, jovem: utilização como adubo de recuperação (restauração da
 Realizável com diferentes tipos de matérias orgânicas locais;
- para a horticultura: 25 a 30 kg por canteiro de 10 m², aplicados na superfície
do solo antes da lavoura. No caso de quantidade limitada, reduzir as doses e
localizar a nível das covas (um punhado de duas mãos juntas);
- para as culturas pluviais: 10 a 20 t/ha aplicadas na superfície do solo antes
da lavoura ou fornecidas de forma localizada;
- para os viveiros: incorporar 5 a 8 kg/m² de canteiro, depois da sementeira,
espalhar de forma uniforme cerca de 0,5 kg/m².
 NOTA
Cada planta tem uma capacidade diferente de aproveitar o composto.
Desta forma, cada tipo de planta tem as suas preferências segundo o grau
de decomposição da matéria.
Tempo de compostagem
(indicativo)
Plantas
15-30 d
(composto grosseiro, jovem)
Batata comum, abóbora, pepino, tomate, beringela,
quiabo, malagueta, melancia, milho, melão, alho
porro, pimentão
30 a 45 d
(composto maduro)
Alface, couve, espinafre, nabo, cereais
45 a 60 d
(composto bem curtido)
Cenoura, rabanete, alho, cebola, aipo, morango,
plantas medicinais, aromáticas e temperos, viveiros
hortícolas
1 / Os fundamentos
 Entra em concorrência com a pecúaria para a utilização das palhas.
Económicas
 Produz um fertilizante de qualidade que tem um impato positivo e durável
sobre os rendimentos;
 Permite uma valorização das matérias disponíveis localmente;
 Em alguns contextos, reduz os encargos ligados à compra de fertilizantes
químicos de síntese se o fertilizante orgânico for produzido localmente;
 Exige uma forte mobilização em mão-de-obra;
 Representa um custo de realização em zona húmida (construção do abrigo).
2 / Os sistemas de produção
Segundo o seu destino, o composto é utilizado e doseado como aqui indicado:
- para arrozais (SRI):
- adubação de fundo: aplicar (10 t/ha no mínimo) antes da primeira lavoura;
- adubação de manutenção: aplicar nas linhas antes da monda (cerca de 5 t/ha).
 Exige uma prática suficiente para bem controlar a fermentação;
Ambientais
 Melhora os solos sem recorrer aos produtos químicos de síntese;
 Permite uma valorização da biomassa natural;
 Permite uma manutenção das zonas de pousio sem queima (corte das palhas).
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A prática da compostagem em leiras é facilmente adaptável e permite a
valorização de vários subprodutos vegetais.
O composto que resulta pode ser utilizado para todas as culturas. Segundo o
seu grau de maturidade, o seu uso varia, pode ser utilizado como adubação
de fundo ou como adubação de manutenção.
No entanto, a quantidade a aplicar na parcela deve ser suficiente. Em
caso de quantidade disponível limitada, é preferível reduzir as superfícies
cultivadas e/ou colocar o composto de forma localizada em vez de aplicálo em pequenas doses.
A experiência demonstra que a principal dificuldade reside na capacidade
de mobilizar a matéria vegetal sobretudo na estação seca, e produzir desta
forma composto em quantidade suficiente.
3 / As práticas
fertilidade de fundo);
- maduro: misturado com a terra, a nível da camada explorada pelas raízes
(caso as quantidades forem limitadas, fazer aplicações localizadas);
- bem curtido: utilização em fruticultura para o enchimento dos vasos, e em
cobertura de sementeira para os viveiros hortícolas e rizícolas.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105)
AS PRATICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em leiras
87
88
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Compostagem em composteira
Produção de fertilizantes
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Produzir um fertilizante orgânico de qualidade com
as matérias primas disponíveis localmente;
» Limitar os riscos de propagação das infestantes,
pragas, bactérias e fungos que se encontram no
estrume e nas palhas.
Condições de implementação:
» Dispor de um terreno sombreado e de uma fonte de
água;
» Dispor das ferramentas necessárias (regador, catana,
forquilha, pá);
» Dispor dos seguintes materiais:
- Bambus ou estacas de madeira para a composteira;
- Matérias secas: palhas, ervas, glumas ou folhas
secas (exceto o eucalipto);
- Matérias verdes: ervas, folhas com rápida
decomposição, troncos de bananeiras;
- Estrume, camas de animais, resíduos de cana depois
da destilação, chorumes, composto líquido…;
- Cinzas, pó de osso, resíduos de peixe…;
- Lixo doméstico fermentável e separado.
1 / Os fundamentos
Esta prática foi essencialmente desenvolvida no
quadro dos programas da AGRISUD no Camboja e
no Sri Lanka.
A prática consiste em decompor as matérias orgânicas e vegetais por uma fermentação aeróbia, este
processo é realizado numa composteira.
Método
1-A fabricação da composteira
Construir um cubo de 1 m3 com tábuas de madeira ou em bambu (sem fundo);
Escolher um lugar sombreado, perto de uma fonte de água e das instalações de criação animal;
Revolver a terra onde a composteira será instalada para a arrejar;
Colocar uma estaca de madeira (2 m) no centro da composteira.
A composteira deve ser feita de forma que se abre para poder movê-la sem alterar a estrutura das
camadas do composto.
-
2 / Os sistemas de produção
Este método permite uma decomposição
homogênea das matérias a compostar e um
processo de compostagem mais rápido.
Princípio
2-A preparação dos materiais e o enchimento da composteira
- Cortar os materiais (matéria orgânica seca e húmida) em pedaços de tamanho inferior a 25 cm;
- Recolher estrume de ruminantes, galinhas ou porcos;
- Colocar em alternância uma camada de matéria seca, uma camada de matéria fresca e uma
camada de estrume
- 25 cm de matéria seca seguido de uma rega;
- 10 a 15 cm de matéria húmida com uma ligeira rega;
- 5 cm de estrume fragmentado ou húmido;
- 0,5 cm de cinza.
- Regar abundantemente sem lixiviar a pilha;
- Colocar novas camadas até encher a composteira;
- Mover e retirar a estaca do meio para criar uma chaminé de ventilação (para favorecer as condições
aeróbias).
Composto em composteira, Camboja
Composteira, Sri Lanka
3 / As práticas
A compostagem em composteira consiste em
colocar uma mistura de matérias primas num
recipiente com paredes entrançadas chamado de
« composteira ».
Composteira, Camboja
AS PRÁTICAS / Produção de fertilizantes / Compostagem em composteira
89
3-A condução da compostagem
Vantagens e desvantagens
- Manter uma humidade constante regando regularmente a composteira com
Técnicas
água;
- Revolver a mistura de 10 em 10 dias:
- revolver a terra numa superfície de 1 m² ao lado da composteira;
- deslocar a composteira e colocá-la em cima do m² revolvido;
- encher a composteira revolvendo o composto, camada por camada (a
camada superior fica agora de baixo);
- regar.
O composto deve ser corretamente molhado mas não encharcado, limitar a
quantidade de água fornecida para não lixiviar o composto.
4-O acompanhamento
Introduzir uma estaca de madeira dentro do composto para certificar o
aumento da temperatura, que indica a boa fermentação da matéria vegetal.
Se o composto não aumentar de temperatura três dias depois do enchimento da
composteira ou depois do seu revolvimento, molhar e aumentar as quantidades
de estrume e de matéria verde (fornecimento de azoto).
Para ativar a decomposição, o composto pode ser regado com estrume ou
composto líquido.
O composto fica pronto depois de 30 a 45 dias:
- a cor é castanha;
- a matéria encontra-se à temperatura ambiente (ausência de calor);
- o composto não tem mau cheiro;
- contém minhocas.
Retirar a composteira, para uma nova utilização. Não deixar o cubo de
composto maduro exposto à chuva para evitar a lixiviação ou ao sol, para evitar
a dessecação e a perda de azoto.
O composto utiliza-se da mesma forma que o produzido em leiras (p. 81).
 Realizável com diferentes tipos de matérias orgânicas locais;
 Processo de compostagem rápido e que produz uma matéria muito homogênea;
 Permite um enchimento progressivo em materiais (durante 2-3 dias);
 Exige conhecimento e experiência prática para bem controlar a fermentação;
 Entra em concorrência com a pecuária para a utilização das palhas.
Económicas
 Produz um fertilizante de qualidade que tem um impacto positivo e durável
sobre os rendimentos;
 Permite uma valorização dos materiais disponíveis localmente;
 Exige uma forte mobilização em mão-de-obra.
Ambientais
 Melhora os solos sem recorrer aos produtos químicos de síntese;
 Permite uma valorização da biomassa natural;
 Permite uma manutenção das zonas de pousio sem queima (corte das palhas).
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A compostagem em composteira é uma prática facilmente adaptável que
permite a valorização de vários subprodutos vegetais.
Segundo o seu nível de maturidade, o composto é utilizado diferentemente, ele
pode ser utilizado como adubação de fundo ou como adubação de manutenção.
Em caso de quantidade disponível limitada, é preferível reduzir as superfícies
cultivadas e/ou colocar o composto de forma localizada em vez de aplicá-lo em
pequenas doses.
A principal dificuldade reside na capacidade de mobilizar as matérias vegetais,
sobretudo em período seco, e produzir desta forma composto em quantidade
suficiente.
 PARA IR MAIS LONGE
Reutillização de uma composteira, Camboja
90
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Compostagem em leiras (p. 81)
Ficha: Adubação orgânica de fundo (p. 105)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Composto líquido
Produção de fertilizantes
Método
Paisagem
insetos, bactérias e outras pragas.
Condições de implementação:
» Dispor de estrume: esterco de galinha ou de
morcego, esterco de porco, estrume de vaca, esterco
de ovino...;
» Dispor de materiais vegetais (folhas):
Chromolaena odorata (Eupathorium): nematifuga;
Nicotiana tabacum (tabaco): insetifuga;
Tetradenia riparia: bactericida;
Ním: inseticida;
Tithonia diversifolia: pesticida;
Leguminosas (Sesbania grandiflora e rostrata,
Leucaena leucocephala, Cassia siameaor e
spectabilis, Moringa oleifera): favorecem o
fornecimento de azoto.
- Etapa 1: Adquirir um tambor ou um jarro de 100 litros mínimo;
- Etapa 2: Encher um saco de fibras tecidas com:
- 10 Kg de uma mistura de folhas;
- 6 Kg de estrume.
- Etapa 3: Encher o tambor ou o jarro com 100 litros de água;
- Etapa 4: Colocar o saco fechado na água com uma grande pedra por cima para que o saco esteja
completamente imerso;
- Etapa 5: Fechar o tambor ou o jarro com a sua tampa ou uma esteira para evitar as moscas e o mau
cheiro, por razões de segurança (risco para as crianças), não fechar hermeticamente para evitar a
fermentação anaeróbia que vai produzir ácidos que podem queimar as folhas;
- Etapa 6: Dois dias depois da etapa 5, mexer a água durante 5 minutos e acrescentar água, se
necessário (o saco deve permanecer imerso), repetir a operação pelo menos uma vez por semana.
- Etapa 7: Depois de 3 a 6 semanas (a duração do processo varia em função da temperatura no exterior),
o composto líquido está pronto, claro e sem mau cheiro.
O composto líquido pode ser conservado durante um mês num lugar protegido e na sombra.
2 / Os sistemas de produção
Planta
3 / As práticas
Água
Objetivos:
» Melhorar a fertilidade do solo;
» Melhorar a decomposição do empalhamento;
» Obter um efeito fitossanitário contra os ataques dos
-
A fabricação do composto líquido basea-se num processo de fermentação da matéria vegetal em meio
aquoso.
1-A fabricação do composto líquido
Efeitos:
Solo
Princípio
1 / Os fundamentos
O composto líquido é uma mistura aquosa
fermentada, que pode ser utilizada como adubo
e/ou como produto de tratamento conforme os
materiais que o compõem.
» Dispor de um saco de fibras tecidas e de um tambor
ou de um jarro;
» Dispor de uma estaca de madeira.
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 6
AS PRÁTICAS / Produção de fertilizantes / Composto líquido
91
Vantagens e desvantagens
2-A utilização do composto
- Diretamente na parcela: aplicar o composto líquido 2 semanas depois da
transplantação, ou 3 semanas depois da germinação, na época da floração
ou quando sintomas de carência aparecerem (perda da cor verde devido à
carência em azoto). Diluição: 50/50. Dosagem: 2,5 a 3 litros por m² ou 0,3
litro por cova no caso de fornecimento localizado.
- Sobre a folhagem (evitar aplicar nas plantas jovens). Diluir à razão de 1/4 de
composto líquido dentro de 3/4 de água e aplicar à razão de 1 a 2 litros/m²
(usar um regador com chuveiro com perfurações finas). O composto líquido
pode ser fornecido como adubo foliar, com a ajuda de um pulverizador, depois
de ter sido previamente filtrado com um pano fino.
O composto pode ser aplicado todas as semanas até a floração.
Técnicas
 Realizável com vários tipos de materiais vegetais, conforme os efeitos
desejados e as complementaridades procuradas;
 Necessita de recipientes suficientemente grandes e impermeáveis que nem
sempre estão disponíveis com um preço abordável.
Económicas
 Representa um custo de implementação reduzido (caso haja disponibilidade
de recipientes).
Ambientais
 Melhora a estrutura dos solos caso o composto líquido seja pulverizado sobre
camadas de empalhamento;
 Limita o uso de pesticidas químicos de síntese quando se utilizam plantas
com efeito de pesticidas na preparação do composto.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR...
O composto líquido é um fertilizante de grande valor para a adubação de
manutenção e é um adubo foliar eficaz.
O uso de composto líquido nas parcelas com empalhamento permite, uma
decomposição rápida das palhas e portanto um enriquecimento do solo em
matéria orgânica.
Tambor, Sri Lanka
Fossa cimentada para composto líquido,
Madagáscar
A incorporação de plantas de interesse para a fabricação de biopesticidas,
permite acrescentar um efeito regulador sobre as pragas e as doenças das
culturas.
 PARA IR MAIS LONGE:
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127)
Ficha: Culturas em covas (p. 109)
Jarro com composto líquido, Camboja
92
Utilização de composto líquido,
Camboja
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Plantação de sebes e árvores nos locais
de produção hortícola (criação de um “bocage”)
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Limitar os danos provocados pelo vento e/ou pelo
pastoreio dos animais;
A implantação dos arbustos e das árvores em forma de sebes vivas ou de forma espalhada nas zonas
hortícolas, permite criar um “bocage” favorável ao desenvolvimento das culturas.
As sebes vivas e as árvores têm os seguintes efeitos:
- protetor: protegem as culturas dos danos causados pelo vento e/ou pelos animais soltos;
- regulador: graças à sua sombra e ao seu efeito quebra-vento, facilitam a conservação da humidade
dos solos e aumentam a higrometria na época seca e na época chuvosa, o seu sistema radicular
profundo permite uma ascenção das águas subterrâneas;
- enriquecedor: ao produzir biomassa, as árvores e particularmente as leguminosas (fornecimento de
azoto), participam no ciclo da matéria orgânica de forma direta (decomposição da cama) ou indireta
(compostagem), por outro lado, o seu sistema radicular permite a aeração do solo (propriedades
estruturantes das árvores tais como as acácias) e a reciclagem dos elementos minerais lixiviados nas
camadas profundas do solo;
- económico: sejam florestais ou frutíferas, os produtos e subprodutos das árvores podem ser
valorizados pelo autoconsumo ou pela sua comercialização (frutos, lenha ou madeira…).
A criação de um “bocage” permite um aumento significativo da produtividade dos espaços cultivados
(número de ciclos anuais, diversidade e associação de culturas…) e permite uma intensificação
durável dos sistemas agrícolas sem colocar em perigo os recursos naturais mobilizados.
» Criar um ambiente (“bocage”) favorável às culturas
(humidade, sombra, diversidade);
Zonas
Exemplos de espécies utilizadas
Zona seca
Acacia senegal, Prosopis africana,
Parkinsonia
aculeata,
Calotropis
procera, Agave sisalana (sisal),
Azadirachta indica (ním), Jatropha
curcas
Zona húmida
Crotalaria
grahamiana,
Cajanus
cajan, Acacia dealbata, Dodonaea
Madagáscariensis, Glyricidia sepium,
Leucaena
leucocephala,
Sesbania
rostrata,
Tephrosia
candida,
Flemingia congesta, Acacia mangium e
auriculiformis
» Reciclar os elementos minerais lixiviados;
» Produzir uma biomassa que pode ser valorizada na
exploração agrícola;
» Criar hábitats ecológicos propícios à conservação dos
equilíbrios agroecológicos.
Condições de implementação:
» Dispor de uma fonte de água próxima;
» Dispor de plantas privilegiando as variedades locais
de qualidade;
» Dispor de ferramentas (pá ou enxada, material de
rega) e de materiais para a proteção das plantas
jovens.
1 / Os fundamentos
Princípio
2 / Os sistemas de produção
A criação de um “bocage” é uma técnica de
agrofloresta que consiste em implantar arbustos
e árvores à volta e dentro das parcelas cultivadas.
Em função da sua densidade, da sua disposição e
da sua natureza, estes limitam a insolação e o
vento, o que favorece a conservação da humidade
no solo e a criação de um micro-clima favorável
às culturas.
O sistema radicular destas plantações permite, a
absorção e a reciclagem dos elementos minerais
que migraram nas camadas profundas do solo. A
biomassa produzida pode também ser valorizada
para a fertilização orgânica e o empalhamento
dos canteiros hortícolas.
Efeitos:
Arborização de um sítio de produção hortícola, Níger
AS PRÁTICAS / Horticultura / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”)
3 / As práticas
Horticultura
93
Método
As sebes são alinhamentos de arbustos ou árvores em volta das parcelas ou
como linhas de separação das parcelas de grande dimensão.
1-Os diferentes tipos de sebes
- A sebe quebra-vento: sebe perpendicular aos ventos dominantes, serve para
A sebe quebra-vento
Quebra-vento permeável
Vento
O quebra-vento é permeável ao
vento: o fluxo de ar que atravessa
a sebe protege as plantas contra
as rajadas de vento que passam
por cima.
« quebrar » os ventos dominantes e proteger as culturas.
Um quebra-vento protege uma cultura sobre uma distância atrás da sebe de 10 a
20 vezes a sua altura (ou seja sobre 20 a 40 m para uma sebe de 2 m de altura).
Ex. de espécies: Jatropha, Acácia, Azadirachta (Ním), Parkinsonia, Tephrosia...
que se pode plantar em associação.
Não há danos a nível
das culturas
Quebra-vento impermeável
- A sebe de proteção: geralmente plantada em complemento das barreiras
tais como arame farpado e rede, é constituída por plantas com espinhos ou
espécies geralmente não consumidas pelos animais soltos, serve para impedir
a entrada do rebanho nas hortas.
Ex. de espécies: Eufórbia, Prosopis, Jujuba, cacto, sisal...
O quebra-vento é impermeável ao
vento: as rajadas de vento passam
por cima da sebe e descem por
trás em turbilhões.
Vento
- A sebe de produção de biomassa: geralmente plantada na proximidade das
composteiras ou das parcelas, é regularmente podada, as mondas servem para
a produção de composto ou para a prática do empalhamento.
Ex. de espécies: arbustos leguminosos, Tephrosia, Leucæna, Flemingia,
Glyricidia, Acácias...
Danos a nível
das culturas
Esquematização da implantação de sebes numa horta
2-O dimensionamento
O número de plantas depende do tipo de árvores, do seu destino e da poda
realizada.
Quebra-vento
Sentido do
vento dominante
 ALGUNS DADOS INDICATIVOS
 As sebes de proteção são plantadas na periferia das hortas. As sebes de produção
de biomassa são plantadas ao longo das parcelas cultivadas. Devem ser densas: 2 a
3 plantas por metro linear. Plantar as árvores à razão de 1 planta para cada metro
com duas filas em quincôncio. Estas duas linhas distam-se 0,8 m.
 Os quebra-ventos são plantados em linha simples ou em filas duplas. O espaçamento
das árvores é normalmente mais elevado do que nas sebes de proteção (1 planta
por m2). Quando existe duas filas, plantar as linhas em quincôncio com um espaço
inter-linha de 1,5 m.
Sebe viva intermediária (se necessário)
Composteira
Canteiro
 NOTA
Um quebra-vento demasiado denso, e portanto impermeável, provoca danos
sobre as culturas (criação de turbilhões).
94
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Sebes vivas: proteção, “bocage”, biomassa
5-As associações
As sebes podem ser implantadas:
Além do simples fato de plantar sebes, o produtor pode tirar proveito
das complementaridades entre as culturas e as árvores. A densidade de
plantação das árvores não deverá prejudicar as culturas.
As sebes são implantadas no início da época chuvosa (pouco depois de uma
boa chuva), para permitir que a planta enraize bem antes da época seca. Para
as plantas transplantadas:
- Realizar uma excavação cerca de 30 cm x 30 cm x 30 cm (conforme o futuro
desenvolvimento da planta);
- Plantar a muda mantendo o colo a nível do solo. Em zona seca, deixar uma
cova para recolher as águas das chuvas e manter a humidade no solo. Em
zona húmida, plantar em camalhões (cova encima do camalhão);
- Regar em caso de fraca pluviometria, é necessário fornecer água pelo menos
uma vez por semana (2 vezes durante as primeiras semanas). As plantas
serão assim capazes de resistir à seca;
- Proteger as plantas jovens contra os animais soltos (ramos, redes,
esteiras…).
4-Manutenção
- Replantar depois de um mês ou no início da época das chuvas do ano seguinte.
A experiência demostra que um certo número de plantas morrem durante o
primeiro ano, e que é necessário realizar a replantação destas covas.
- Podar as árvores em função do porte desejado para a planta:
Porte
caraterístico
Trabalho de poda
Sebe viva
de proteção
Arbustivo
Cortar a parte de cima das plantas regularmente a 1,2 – 1,5 m
Quebra-vento
Grande
Cortar os ramos em excesso para preservar
uma permeabilidade ao vento de 40% (apreciação visual)
Sebe de produção
de biomassa
Arbustivo
Cortar a parte de cima das plantas regularmente a 1 - 1,2 m
Tipos de sebes
As podas de manutenção são geralmente praticadas no início da época
chuvosa. Mas para a produção de biomassa e a proteção do sítio, é necessário
realizar regularmente as podas conforme o desenvolvimento da sebe.
As árvores aproveitam da fertilização fornecida às culturas subjacentes,
de uma humidade constante graças à irrigação, da monda regular dos
canteiros e da sacha do solo (manutenção). As culturas subjacentes tiram
proveito dos efeitos reguladores e benéficos das árvores: sombra, cama,
reciclagem da água e dos elementos lixiviados, melhoria e proteção da
estrutura do solo.
O produtor pode plantar diferentes tipos de árvores:
- leguminosas arbustivas (sistemas agroflorestais): as leguminosas enriquecem
o solo em azoto (Glyricidia, Acacia mangium e auriculiformis).
- àrvores frutíferas (complementaridade dos rendimentos frutos / legumes):
as árvores de pequeno porte são recomendadas para o interior das parcelas
(ex. goiabeiras, romeiras, citrinos), as grandes árvores são plantadas na
periféria caso haja espaço suficiente (ex. mangueiras);
- àrvores forrageiras (complementaridade culturas / pecuária): as espécies
leguminosas devem ser privilegiadas (Faidherbia albida, Glyricidia, Leucaena...).
2 / Os sistemas de produção
da sebe). Ex: Moringa, Acacia mangium e auriculiformis, Leucaena;
- por estaca (ex: Glyricídia);
- por transplantação.
Casos particulares:
- Moringa: particularmente útil porque pode ser regularmente podada, originando
um porte baixo com numerosos ramos para a produção de folhas comestíveis;
- Ním: utilizável para a produção de biopesticidas, de madeira e de lenha. No
entanto, a sua envergadura deve incitar o produtor a controlá-lo no local ou
a colocá-lo apenas na periferia enquanto quebra-vento.
Associação bananeira – quiabo
3 / As práticas
- por sementeira direta (covas espaçadas de 50 cm a 1 m conforme a utilidade
1 / Os fundamentos
3-A implantação das sebes e dos quebra-ventos
Associação fruticultura - horticultura
AS PRÁTICAS / Horticultura / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de um “bocage”)
95
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Conserva a água do solo e da planta (reduz a evapotranspiração);
 Protege contra o vento e os animais;
 Fornece matéria vegetal para o empalhamento ou a compostagem;
 Cria um micro-clima propício às culturas;
 Permite a reciclagem dos minerais lixiviados;
 Favorece a aeração do solo e a melhoria da vida microbiana do solo;
 Requer um tempo de instalação bastante longo (1 a 2 estações);
 Requer uma manutenção regular;
 Prática consumidora de espaço;
 É necessário ser proprietário do terreno.
Económicas
Sebe quebra-vento na periferia de uma horta, Laos
 Limita a substituição das cercas e a degradação provocada pelos animais
soltos (sebes vivas de proteção);
 Fornece recursos diversificados (frutos, lenha, biopesticidas...);
 Permite aumentar os períodos de cultivo e melhora os rendimentos;
 Economiza água para a rega (graças à redução da evapotranspiração);
 Representa um custo se as plantas forem compradas;
 Requer uma mão-de-obra importante (plantação, rega, poda).
Ambientais
 Restaura a cobertura vegetal;
 Protege contra a erosão hídrica e eólica;
 Limita os cortes abusivos das árvores;
 Melhora a biodiversidade (fauna e flora).
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A arborização das parcelas melhora claramente as condições de cultivo
(melhoria dos solos, reciclagem da água e dos elementos minerais, microclima favorável) e permite uma diversificação das produções (lenha,
frutos…).
Depois da plantação, a proteção e a rega de compensação permitem às
plantas jovens se instalarem rapidamente e de forma durável. É necessário
fazer a manutenção destas árvores para que possam realizar as suas funções:
proteção das culturas, produção de biomassa…
As fruteiras beneficiam dos cuidados fornecidos pelo produtor às culturas
subjacentes. No entanto, é necessário organizar o espaço para garantir que
futuramente as árvores não entrem em concorrência prejudicial com as
culturas hortícolas.
A associação horticultura-fruticultura permite valorizar melhor a parcela.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Viveiro em bolsas (p. 131)
Ficha: Plantação de árvores frutíferas (p. 137)
Plantação de um quebra-vento, Níger
96
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Manutenção do pomar (p. 141)
Viveiro no solo
Horticultura
O viveiro no solo consiste em produzir plantas sãs e vigorosas num local organizado, com uma boa
gestão da água, do solo e das técnicas de cultivo.
Método
1-A escolha do local
As plantas jovens são frágeis: devem ficar num local protegido onde o ambiente é controlado. Para
isso, a localização deve satisfazer as seguintes condições:
Escolha do terreno
Efeitos:
Justificativa
Proximidade de uma fonte de água

Dispor de recursos

Facilitar a rega
Objetivos:
Próximo da casa (se possível)

Garantir uma manutenção regular do viveiro

Afastar o viveiro das zonas de produção (risco
» Produzir plantas de qualidade;
» Dispor de plantas sãs e vigorosas que limitam o uso
Sem viveiro anterior

Limitar
Fora do alcance de uma inundação

Evitar
Solo
Água
Planta
Paisagem
de tratamentos fitossanitários (redução dos custos);
» Assegurar o início dos ciclos das culturas e uma
produção máxima.
Condições de implementação:
1 / Os fundamentos
O viveiro é uma etapa delicada que será
determinante para o sucesso dos ciclos de
produção (plantas sãs e vigorosas em quantidade
suficiente), o cumprimento dos períodos de cultivo
(calendário cultural) e a economia da exploração
agrícola (produtividade, qualidade do produto).
Princípio
Protegido do vento e dos animais
Ligeiramente sombreado
2 / Os sistemas de produção
Certas culturas necessitam passar uma fase de
cultivo em viveiro: pimentão, beringela, tomate,
beterraba, alface, repolho, cebola...
hídricos durante toda a duração do viveiro
fitossanitário)
os riscos fitossanitários
os riscos de inundação

Evitar
as perdas devido às rajadas de vento e à divagação dos
animais

Limitar a evaporação

Proteger as plantas da
forte insolação e do calor excessivo
» Dispor de um terreno ligeiramente sombreado nas
horas de forte insolação e de um acesso à água;
» Assegurar-se que o sítio está protegido contra o
vento, os animais e as chuvas fortes;
» Dispor de sementes de qualidade e de estrume
3 / As práticas
orgânico;
» Dispor de ferramentas (pá ou enxada, ancinho,
material de rega, peneira);
» Dispor de uma rede de proteção para as plantas caso
necessário.
Viveiros de tomate, Sul de Marrocos
Viveiros, Sul de Marrocos
AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro no solo
97
2-As etapas prévias à instalação dos viveiros
5–A sementeira
- Limpeza: mondar (não enterrar as infestantes) e nivelar o terreno;
Conforme as plantas, 2 técnicas são possíveis:
- Lavoura: preparar o solo (arejar o solo, tornando-o solto para facilitar
- sementeira em linha: facilidade para mondar e retirar as plantas a transplantar;
- sementeira a lanço: ganho de tempo durante a sementeira.
a penetração e o crescimento das raízes, despedregar, enterrar a matéria
orgânica presente na superfície).
3-O dimensionamento e a programação
A implementação dos viveiros depende da programação das culturas de forma
a gerir as sucessões culturais e a boa valorização da exploração agrícola.
A dimensão e a duração do viveiro dependem da superfície a cultivar e do tipo
de cultura. Por exemplo: para 180 m² de plantas de tomateiro transplantadas,
é preciso um viveiro de 1 m² durante 15 a 20 dias, para 50 m² de plantas de
cebola transplantadas, é preciso um viveiro de 1 m² durante 40 a 45 dias.
Depois da sementeira: cobrir as sementes com uma camada fina de terra ou
areia (com uma espessura cerca de 3 vezes o tamanho da semente) e regar com
um regador com chuveiro com perfurações finas (uma rega muito violenta ou
por submersão pode mover as sementes).
Culturas
Sementes
(g)
Tipo de
sementeira
aconselhada
Número
de dias
no
viveiro
Número de
plantas
a
transplantar
4-A preparação dos canteiros
A altura dos canteiros de viveiro varia conforme a estação: na estação chuvosa,
os canteiros são elevados (15 a 20 cm da superfície do solo) para permitir uma
boa drenagem, na estação seca, são ligeiramente cavadas (5 a 10 cm) para
conservar a humidade.
- Dimensionar e levantar os canteiros (largura de cerca de 1 m para facilitar
a manutenção);
- Tornar a terra solta, despedregar e incorporar areia em solos compactos;
Distâncias na
transplantação
(interlinhas
x na linha,
em m)
Repolho
3
Em linha
25-30
400
0,4 x 0,6
96
Tomate
4
Em linha
15-20
600
0,7 x 0,6
252
36
Alface
0,4 - 0,6
A lanço
15-20
400
0,3 x 0,3
Cebola
1,25 - 2
A lanço
40-45
250
0,1 x 0,2
5
Pimentão
2
Em linha
35-40
300
0,6 x 0,4
72
Malagueta
2
Em linha
35-40
300
0,6 x 0,4
72
Beringela
0,8
Em linha
35-40
160
0,7 x 0,6
40
- Incorporar o adubo orgânico: composto fino bem curtido (5 a 8 kg/m²) ou
estrume bem curtido (3 a 5 kg/m²);
- Replanar com ancinho;
- Desinfetar o solo com água fervida (10 l/m²) e deixar resfriar antes de realizar
as sementeiras.
Viveiro mais baixo que o nível do solo,
Sul de Marrocos
98
Viveiro mais alto que o nível do solo,
Angola
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Superfície
transplantada
(m²)
Transplantação de cebola em Madagáscar
7-A manutenção
Rega:
- o viveiro deve sempre estar húmido, contudo sem estar
encharcado;
- escolher as horas frescas para regar (parte da manhã e
fim da tarde);
- utilizar um regador equipado com um chuveiro com
perfurações finas para não danificar as plantas.
- Para proteger o viveiro contra o frio, as fortes chuvas ou a dessecação, é
necessário cobrí-lo com palhas ou palmas, que devem ser retirados quando
começarem a influenciar o crescimento das plantas (o empalhamento poderá
ser mantido a nível das interlinhas).
1 / Os fundamentos
6-A proteção
 NOTA
As regas no fim da tarde nas zonas húmidas e quentes
podem favorecer o desenvolvimento das podridões de
origem critogámica ou bacteriana.
Monda - desbaste:
- mondar regularmente para impedir a infestação das ervas
daninhas. Um empalhamento das interlinhas pode limitar
o risco de infestação;
- realizar um desbaste para conservar apenas as plantas
robustas, bem desenvolvidas, fazendo o desbaste depois
de 15-20 dias em geral… a adaptar conforme as culturas.
Proteção com palha
- Para proteger o viveiro contra os insetos, lagartixas e outras pragas, é
possível instalar uma rede de mosquiteiro de proteção.
Rede de mosquiteiro de proteção
Tratamentos:
- arrancar as plantas atacadas e tratar a cultura caso
necessário;
- dar prioridade aos métodos preventivos e ao uso de
produtos naturais (cf. Ficha: Tratamentos fitossanitários
naturais p 127)
Lona de proteção
- Para proteger o viveiro contra as fortes chuvas ou o frio em alguns contextos,
é possível instalar uma lona de proteção.
2 / Os sistemas de produção
Empalhamento com palmas
Alguns dias depois da transplantação, as plantas não utilizadas devem ser
destruídas para limitar os riscos de doenças.
 OBSERVAÇÕES
Rede de proteção
Viveiro com lona, Sul de Marrocos
3 / As práticas
Apesar de terem sido desinfetados, os viveiros no solo podem estar sujeitos a
uma nova contaminação pelas pragas e pelas doenças no solo. Neste caso, utilizar
viveiros suspensos em bancadas (cf. Ficha: Viveiro suspenso em bancadas p 101).
Para facilitar a recuperação das plantas na parcela, deve-se trabalhar no
sentido de ter plantinhas vigorosas tomando os seguintes cuidados:
 reduzir consideravelmente as regas;
 evitar fornecer azoto;
 retirar as redes de proteção.
AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro no solo
99
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Prática simples de implementar;
 Manutenção fácil;
 Produz plantas robustas;
 Permite reservar plantas no viveiro, depois da transplantação, para substituir
as plantas mortas ou atacadas (complantação);
 Sensível aos ataques das pragas do solo (apesar de ter sido feito uma
desinfeção do local no início).
Económicas
 Permite poupar sementes;
Viveiro, Sri Lanka
 Reduz os custos de tratamentos das culturas transplantadas (plantas robustas
e resistentes aos ataques das pragas e doenças).
Ambientais
 Reduz o uso dos pesticidas pela produção de plantas robustas e pela
aplicação de métodos de prevenção das pragas e doenças.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
O viveiro é uma etapa delicada que requer atenção e cuidado durante a sua
preparação e o seu maneio.
O sucesso técnico (respeito do calendário) e económico (despesas de
sementes e tratamentos) depende do sucesso desta etapa em que a planta
se encontra no viveiro.
Viveiro pimentão / repolho, Sri Lanka
A produção de plantas robustas é a primeira regra da luta preventiva contra
as doenças e pragas.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Compostagem em leiras (p. 81)
Ficha: Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Viveiro suspenso em bancadas (p. 101)
Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127)
Sementeira em linha debaixo de sombra,
Sri Lanka
100
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Viveiro no solo,
Sul de Marrocos
Viveiro suspenso em bancadas
Horticultura
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Método
1-A escolha do local
O local do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deverá satisfazer a maioria dos seguintes
critérios:
Escolha do terreno
Proximidade de uma fonte de água
Objetivos:
» Obter plantas de qualidade;
» Dispor de plantas sãs e vigorosas, de forma a limitar
os tratamentos fitossanitários (redução dos custos);
» Garantir a fase de arranque dos ciclos culturais e uma
produção máxima.
Condições de implementação:
» Dispor de um terreno com uma fonte de água;
» Dispor de areia, de terra proveniente da cama
florestal e de estrume curtido ou de composto bem
curtido;
» Dispor de sementes de qualidade;
» Dispor das ferramentas (pá, regador equipado com
um chuveiro com perfurações finas, peneira);
» Dispor de madeira, caules de cereais, folhas de
bananeiras, tábuas de madeira, bambus... para
fabricar o canteiro suspenso em bancadas.
1 / Os fundamentos
Para tal, o viveiro suspenso em bancadas (sobrelevado)
é o mais indicado.
O viveiro suspenso em bancadas permite produzir plantas ao abrigo das degradações frequentemente
encontradas a nível do solo: substrato sã e de qualidade renovado a cada ciclo, solo sem acumulação
permanente de água na estação chuvosa, facilidade de cobertura do viveiro para proteger as plantas jovens.
Próximo da casa (se possível)
Justificativa

Facilitar
a rega

Facilitar o cuidado e

Afastar o viveiro das
a manutenção do viveiro
zonas de produção (risco fitossanitário)
Protegido do vento e dos animais

Evitar
as perdas devidas às rajadas de vento e/ou à divagação dos animais
Afastado das parcelas em fim de
cultivo

Evitar
os ataques das pragas presentes nas culturas
Protegido da chuva e do sol, mas
arejado
2 / Os sistemas de produção
Portanto, é oportuno colocar as plantas num
ambiente sã e controlado desde a sementeira até
a transplantação.
Princípio

Evitar
o sobreconsumo de água e o estresse térmico das plantas, assim
como a deterioração das bolsas e plantas pelas chuvas fortes
2-A fabricação da mesa
Construir uma mesa que pode conter o subtrato com uma espessura de 5 a 10 cm, a 1 m de altura do solo
(mesa em bambu com cama de folhas de bananeiras, mesa com feixes de caules de milho ou sorgo…)
Mesa feita com troncos de bananeiras
e caules de milho, Madagáscar
Mesa feita com bambu, RD do Congo
3 / As práticas
A produção de plantas hortícolas sãs e robustas
no viveiro, constitui a primeira etapa-chave do
sucesso de uma cultura.
Mesa feita com tábuas de madeira,
Sri Lanka
AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro suspenso em bancadas
101
3-A preparação do substrato
O substrato deve ser bem homogêneo (bem misturado) e ter uma composição fina.
Componente
Proporção
Areia
1/4 do substrato
Estrutura solta, drenagem da água
Propriedades
Estrume curtido ou
composto bem curtido
1/4 do substrato
Retenção da
nutritivos
Terra (proveniente da cama
florestal se possível)
1/2 do substrato
Elementos de base do substrato
humidade,
Areia fina
elementos
Composto
4-O maneio do viveiro
Sementeira:
- Abrir sulcos no substrato com uma profundidade de 3 vezes o tamanho da
As proporções dos diferentes materiais devem ser adaptadas em função da
qualidade inicial da componente « terra ».
semente;
- Semear em linhas com uma distância de 10 a 15 cm;
- Cobrir os sulcos com areia branca previamente desinfetada com água fervida;
- Recobrir e calcar as linhas de sementeira com uma pequena tábua;
As etapas da preparação do substrato:
- Regar suficientemente, mas sem excesso (2 regas com 30 minutos
Peneiração dos
diferentes elementos
Mistura dos
componentes
Colocação do substrato sobre a
mesa (5 a 10 cm de espessura)
Desinfeção
do substrato
de intervalo) com uma água de boa qualidade.
Proteção:
Conforme as necessidades, cobrir o viveiro para proteger a cama de sementes
ou as plantas jovens:
- contra as fortes chuvas: filme plástico;
- contra a insolação e o calor excessivos: rede de sombra;
- contra os insetos e outras pragas: rede de mosquiteiro.
A proteção instala-se sobre arcos de bambus ou de madeira.
Peneiração
Peneiração
Colocar água
a ferver
Vazar a água
fervida sobre o
substrato
Peneira e substrato
102
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
 NOTA
Deixar resfriar
Retirar o filme protetor quando as condições o permitirem.
Instalação de uma rede de proteção
Viveiro coberto por um filme plástico
5-A manutenção
Vantagens e desvantagens
- Rega: manter a terra húmida sem a ensopar, privilegiar os períodos mais frescos
Técnicas
depois da sementeira e antes da emergência, depois afastar a palha de modo
a deixar o caule das plantas livres, mantendo o empalhamento nas interlinhas
(conservação da humidade e proteção das plantas jovens);
- Monda: arrancar as infestantes para evitar a concorrência e a infestação do
viveiro, esta operação deve ser feita regularmente, para evitar o arranque das
plantas no mesmo tempo que as infestantes com sistema radicular já demasiado
desenvolvido;
- Controlo do estado sanitário: eliminar as plantas doentes e fracas.
Estas etapas desenrolam-se regularmente conforme as necessidades até que
as plantas estejam prontas para a transplantação. A duração de um ciclo de
produção depende da cultura.
das sementeiras) e reduz os riscos de ataques pelas aves e outras pragas;
 Permite reservar plantas no viveiro, depois da transplantação, para





1 / Os fundamentos
- Empalhamento: cobrir a cama de sementes com palha seca finamente cortada
 Protege contra as pragas e doenças do solo (nemátodos com galhos e podridão
substituir as plantas mortas ou atacadas (complantação);
Permite uma boa fertilização assegurando o vigor das plantas jovens;
Permite um melhor controlo do meio de cultura;
Favorece uma emergência regular das plantas jovens;
Necessita fabricar uma infraestrutura;
É difícil de implementar para viveiros com grandes superfícies.
Económicas
 Limita as perdas provocadas pela podridão das sementeiras e pelos
2 / Os sistemas de produção
(de manhã e no fim da tarde) para economizar a água, evitar as regas excessivas
no fim da tarde na estação chuvosa ou em zona húmida, utilizar um regador com
chuveiro com perfurações finas para não danificar as plantas jovens;
ataques de pragas;
 Representa um custo de construção das infraestruturas para viveiros de
grandes superfícies.
Ambientais
 Permite controlar o meio de cultivo sem recorrer aos insumos químicos
de síntese.
 OBSERVAÇÕES
Para facilitar a recuperação das plantas na parcela, é possível endurecer as plantas
no viveiro antes da sua transplantação. Deve ser feito no fim da fase do viveiro:
 reduzindo
consideravelmente as regas;
 evitando fornecer azoto às plantas;
 retirando as redes de proteção.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
O viveiro suspenso em bancadas é uma prática que permite aos produtores,
iniciar mais cedo a sua produção na estação chuvosa mantendo um domínio
técnico de qualidade do viveiro. Os produtores podem colher precocemente
em relação aos outros e aproveitar preços mais vantajosos.
Ao reduzir a podridão das sementeiras e as infestações por parte dos
nemátodos graças a um substrato sã e regularmente renovado, os produtores
diminuem os seus encargos de exploração, o que os permite investirem mais
facilmente e de forma eficiente na compra de sementes de qualidade.
3 / As práticas
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Compostagem em leiras (p. 81)
Ficha: Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Viveiro com empalhamento
Plantas jovens vigorosas e sãs
Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127)
AS PRÁTICAS / Horticultura / Viveiro suspenso em bancadas
103
104
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Adubação orgânica de fundo
Horticultura
Sendo destinada a enriquecer o solo e garantir a
disponibilidade dos elementos necessários ao bom
desenvolvimento da cultura, a adubação de fundo é
fundamental e permite limitar consideravelmente
o uso dos adubos químicos de síntese, podendo até
mesmo substituí-los na totalidade.
Solo
A adubação orgânica de fundo melhora a estrutura do solo:
- aumento da capacidade de retenção da água;
- aumento da capacidade de adsorção (fixação) e de liberação dos elementos minerais;
- aeração do solo, melhoria da porosidade;
- aumento da atividade biológica do solo (micro e macro fauna).
A adubação orgânica de fundo fornece os elementos nutritivos necessários à cultura e compensa as
exportações de nutrientes dos ciclos culturais anteriores.
Esquematização da adubação de fundo e dos seus efeitos:
Solo pouco fértil
Efeitos:
Água
Planta
1 / Os fundamentos
A adubação é considerada “de fundo” porque é
realizada antes da implantação da cultura e tem
efeito a longo prazo.
Princípio
Solo fértil
2 / Os sistemas de produção
Uma das primeiras etapas na implementação de
uma cultura hortícola é o fornecimento de adubo
orgânico de fundo (estrume curtido ou composto).
Sementeira ou
transplantação
Paisagem
Objetivos:
Adubação orgânica de fundo
» Melhorar a estrutura física, as caraterísticas
biológicas e químicas do solo e por consequência, a
sua fertilidade;
» Fornecer os elementos necessários ao crescimento
da planta, restituir os elementos absorvidos pela
cultura anterior (limitar o uso dos adubos químicos
de síntese);
» Favorecer o enraizamento das culturas para uma boa
alimentação em elementos minerais.
Liberação dos nutrientes
necessários à planta após
mineralização
Humificação
Melhoria da estrutura do solo
Melhoria da capacidade
de adsorção e de retenção do solo
Condições de implementação:
quantidades suficientes (2 a 3 kg / m² e para cada
aplicação, sabendo que uma aplicação cobre cerca de
4 a 6 meses de cultivo conforme as suas exigências);
» Dispor de ferramentas (enxada ou daba, carroça ou
carrinho de mão e pá);
» Realizar a adubação pelo menos 15 dias antes da
sementeira ou da transplantação.
Preparação de um composto,
Níger
Estrume curtido, Índia
3 / As práticas
» Dispor de composto ou estrume bem curtido em
Aplicação de estrume, Madagáscar
AS PRÁTICAS / Horticultura / Adubação orgânica de fundo
105
Método
A prática ilustrada...
O adubo de fundo (adubo orgânico + complementos minerais naturais) é
incorporado a uma profundidade de 25 a 30 cm, pelo menos 15 dias antes
da implantação da cultura para reduzir os riscos de aquecimento que podem
queimar as plantas jovens.
É fornecido de preferência no início dos principais ciclos sazonais:
- 1 a 2 vezes por ano em zona seca;
- 2 a 3 vezes por ano em zona húmida.
Materiais
Comentários
Dosagem
Estrume bem curtido
Não expor o estrume ao sol e
à chuva
2 a 3 kg/m² em função das
exigências das culturas
Composto sólido
Escolher um composto
pouco curtido. Em caso de
disponibilidade limitada,
reservar o uso do composto
para adubação de fundo das
culturas exigentes ou com
forte valor acrescentado
1 a 3 kg/m² em função das
exigências das culturas
Palhas secas e folhas
diversas + composto
líquido
Não utilizar as folhas de
eucalipto (fitotoxicidade)
Solução de 5 l de composto
líquido puro + 5 l de água
Aplicação de 2,5 a 3 l/m²
Palhas secas e folhas
diversas + esterco de
galinha ou de morcego
Regar a matéria seca antes de
enterrá-la
80 g de esterco seco /m²
Cinza de madeira
Em complemento ao
fornecimento de matéria
orgânica (composto, estrume,
palhas)
200 a 300 g/m²
Calcário moído
Em complemento ao
fornecimento de matéria
orgânica (composto, estrume,
palhas) nos solos ácidos
60 a 80 g/m²
Fosfato natural
Em complemento ao
fornecimento de matéria
orgânica (composto, estrume,
palhas)
100 a 120 g/m²
106
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Aplicação de cinzas, Madagáscar
Incorporação do composto, RDC
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Permite à planta absorver facilmente no solo, os elementos necessários ao




1 / Os fundamentos

seu crescimento, ao longo do processo de humificação / mineralização da
matéria orgânica;
Melhora a estrutura e a fertilidade do solo, permitindo assim estabilizar e/
ou melhorar os rendimentos;
Prática simples de implementar;
Apresenta uma melhor eficiência quando as aplicações são localizadas;
Requer uma disponibilidade importante em matéria orgânica;
Necessita de manutenção importante.
Económicas
2 / Os sistemas de produção
 Estabiliza e/ou melhora as receitas da atividade e diminui os encargos de
produção;
 Limita o uso de tratamentos fitossanitários e adubos químicos de síntese,
devido ao bom crescimento e ao vigor das culturas;
 Representa um custo caso o produtor não dispor de adubo orgânico.
Ambientais
 Compensa as exportações de elementos nutritivos e preserva a fertilidade;
Aplicação de estrume, Madagáscar
 Limita o uso de adubos químicos de síntese;
 Favorece a biodiversidade e a vida biológica dos solos.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Ao prever uma reserva de matéria orgânica progressivamente decomposta
e mineralizada, de fácil absorção, o produtor garante às suas culturas um
bom crescimento e um bom desenvolvimento, preserva de forma durável
as qualidades agronómicas do seu solo.
A boa saúde das plantas limita o uso dos tratamentos fitossanitários e
melhora os rendimentos.
3 / As práticas
Cada tipo de cultura hortícola (legumes frutos, de folhas ou raízes) tem
necessidades diferentes: pode ser útil realizar uma complementação
mineral (produtos naturais) da matéria orgânica.
 PARA IR MAIS LONGE
Estrume curtido, Níger
Ficha: Compostagem em leiras (p. 81)
Ficha: Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
AS PRÁTICAS / Horticultura / Adubação orgânica de fundo
107
108
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Cultivo em covas
Horticultura
Esta prática é implementada especialmente em
Madagáscar.
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
»
»
»
»
Localizar os fornecimentos de matéria orgânica;
Localizar os fornecimentos de água;
Otimizar o uso dos recursos limitados;
Limitar as operações culturais.
1 / Os fundamentos
Princípio
As culturas são implementadas de forma a localizar as aplicações de matéria orgânica e água. Permite
também preservar estes recursos raros em benefício da cultura.
Método
O canteiro em que são realizadas as covas é um canteiro hortícola « clássico »: faz-se a sementeira
diretamente nas covas ou ainda a transplantação a partir do viveiro. Este sistema permite localizar os
fornecimentos de água e fertilizantes.
- Delimitar o canteiro e realizar a lavoura do solo necessária;
- Cavar uma cova para cada planta a transplantar (20 a 30 cm de diâmetro e 15 a 20 cm de profundidade), as
distâncias entre plantas dependem do sistema radicular e do desenvolvimento aéreo das culturas escolhidas;
- Colocar dentro de cada cova o composto ou o estrume curtido em quantidade apropriada (um punhado
com as duas mãos unidas, ou seja, cerca de 300 g): os fornecimentos localizados desta forma permitem
concentrar a matéria orgânica na cova, quando se encontra em quantidade limitada (otimização do recurso);
- Misturar com um pouco da terra retirada do buraco e regar;
- Semear ou transplantar depois de 2 semanas no centro da cova e guardar a forma ligeiramente
rebaixada da mesma;
- Localizar os diferentes amanhos culturais a nível da cova: rega, monda, empalhamento, fertilização…
2 / Os sistemas de produção
Nos contextos onde a matéria orgânica e
a água são limitadas, o cultivo em covas é
particularmente aconselhado para permitir
satisfazer as necessidades da planta, enquanto
limita o desperdício destes recursos.
 NOTA
Para os solos compactos e argilosos, é possível fazer as covas com o auxílio de um jarro redondo.
Vantagem: a cova confecionada é praticamente mantida ao longo das sucessões culturais, apenas
os fornecimentos de composto e a limpeza das covas são realizados.
É possível fazer associações de culturas, incluindo dentro das covas, e adaptar o tamanho da cova
em função do tipo de plantas e do seu número.
3 / As práticas
Condições de implementação:
» Dispor de sementes ou plantas a transplantar;
» Dispor das ferramentas necessárias (pá, enxada ou
daba);
» Dispor de composto ou estrume curtido;
» Dispor de uma fonte de água.
AS PRÁTICAS / Horticultura / Cultivo em covas
109
A prática ilustrada...
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Permite fornecer matéria orgânica e água de forma adaptada às necessidades
das culturas (apesar destes recursos serem limitados);
 Técnica complementar das outras práticas agroecológicas (empalhamento,
fertilização...);
 Permite evitar que os fornecimentos de água e matéria orgânica beneficiem
às infestantes (redução dos trabalhos de monda entre as covas);
 Requer um trabalho importante quando o solo é compactado;
 A manutenção é difícil quando o solo é muito arenoso.
Económicas
 Melhora a eficiência da adubação e da rega, favorece a economia da água;
 Reduz de forma significativa a superfície trabalhada, graças à localização
dos diferentes amanhos culturais;
 Requer tempo durante a preparação do solo com relação a uma lavoura
simples.
Ambientais
 Permite economizar o recurso hídrico.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A concorrência em relação à matéria orgânica pode ser importante e o
recurso hídrico pode esgotar. O cultivo em covas reduz de forma significativa
as adubações e as reservas para a planta.
A prática das covas é uma boa alternativa para os produtores que têm
o hábito de dispersar o adubo (disponível em quantidade limitada) em
canteiros de grande superfície (o efeito fertilidade é neste caso fraco).
 PARA IR MAIS LONGE
Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Ficha: Associações de culturas (p. 117)
110
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Sucessões culturais
Horticultura
Não aplicá-la pode provocar uma diminuição da
fertilidade do solo e a multiplicação das doenças,
pragas e infestantes, o não respeito desta técnica
pode também provocar um desequilíbrio ecológico
e perdas económicas para o produtor.
Numa sucessão ou rotação cultural, culturas diferentes sucedem-se numa mesma parcela.
Ex: tomate > nabo > fava
A rotação é a repetição das mesmas sucessões culturais de forma cíclica numa mesma parcela.
Ex: tomate > nabo > fava > tomate > nabo > fava …
A planificação das culturas e das suas sucessões é estabelecida conforme as seguintes regras:
- Evitar cultivar duas vezes consecutivas culturas da mesma família tendo como objetivo limitar a
propagação das pragas e doenças, que têm como caraterísticas atacar uma mesma família de plantas;
(cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: as diferentes famílias de plantas)
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Manter e melhorar a estrutura e a fertilidade dos
solos;
» Quebrar o ciclo das pragas e doenças e limitar o uso
- Evitar cultivar duas vezes consecutivas culturas com os mesmos órgãos (fruto, folha, raíz) com o
objetivo de não exportar do solo os mesmos elementos minerais. A fertilidade do solo é neste caso
bem valorizada e mantida, e a estrutura do solo é preservada;
(cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: as plantas e os órgãos)
- Plantar no início da sucessão as culturas exigentes com o objetivo de valorizar o fornecimento de
matéria orgânica, composto ou estrume curtido;
(cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: os legumes e as suas necessidades fisiológicas)
dos pesticidas;
» Diversificar a produção;
» Aproveitar dos mecanismos naturais para limitar
os amanhos culturais e os encargos em insumos de
síntese.
- Alternar as culturas que proporcionam uma boa cobertura do solo e as plantas com fraca cobertura
Condições de implementação:
- Esperar o tempo suficiente antes de cultivar novamente uma mesma cultura na mesma parcela.
» Conhecer as regras de implementação das sucessões
culturais;
2 / Os sistemas de produção
Efeitos:
Solo
Princípio
1 / Os fundamentos
A sucessão planificada das culturas numa mesma
parcela é muito importante.
do solo com o objetivo de limitar a infestação das parcelas pelas infestantes;
(cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: as plantas com boa e fraca cobertura do solo)
(cf. páginas seguintes, Revisões teóricas: os intervalos a respeitar antes de cultivar a mesma cultura
na mesma parcela)
» Estar disposto a produzir culturas diversificadas.
Tomate
Alface
Cenoura
3 / As práticas
Exemplo de sucessão cultural na mesma parcela
Horta, Laos
AS PRÁTICAS / Horticultura / Sucessões culturais
111
Revisões teóricas
Apresentação das principais plantas cultivadas na horticultura
CRUCÍFERAS
LEGUMINOSAS
LILIÁCEAS
CUCURBITÁCEAS
MALVÁCEAS
LABIÁDAS
Rabanete
Nabo
Colza
Agrião
Rúcula
Couve-flor
Couve
Fava
Ervilha
Trevo
Feijão
Lentilha
Luzerna
Alho
Cebola
Cebolinha
Alho-porro
Aspargo
Chalota
Cebolinha-francesa
Melão
Abóbora
Melancia
Abobrinha
Pepino
Quiabo
Hibisco
Tomilho
Manjericão
Hortelã
Salva
CHENOPODIÁCEAS
UMBELIFERAS
COMPOSÍTEAS
SOLANÁCEAS
 NOTA:
As Solanáceas são muito presentes devido à sua
importância no consumo alimentar doméstico e na
economia das explorações agrícolas.
Amaranto
Beterraba
Bertalha (Basella)
Espinafre
Salsa
Aipo
Cenoura
Funcho
Coentro
Alface
Girassol
Malagueta
Tomate
Erva moura
Pimentão
Beringela
Batata comum
No entanto, não é aconselhado cultivar mais da
metade do terreno de forma a dispor do espaço
suficiente para alternar com outras culturas de
famílias de plantas diferentes.
A sucessão permite quebrar o ciclo das pragas e doenças que têm como caraterísticas atacar as culturas de uma mesma família botânica, pela introdução de
culturas não hospedeiras.
Por exemplo: o cultivo do rabanete com colo cor-de-rosa ou do amendoim (plantas armadilhas) permite quebrar o ciclo dos nemátodos que se desenvolvem
com o cultivo das solanáceas.
Outro exemplo: o cultivo do tomate permite quebrar o ciclo da mosca branca que ataca a cenoura.
112
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
As hortaliças e as suas necessidades fisiológicas
Existe 3 grandes grupos de plantas hortícolas de acordo com a parte consumida,
que têm necessidades em elementos minerais diferentes:
Na prática agroecológica, uma grande parte da fertilidade é fornecida ao
solo pelo produtor pela incorporação de matéria orgânica (composto, estrume
curtido) no momento da preparação do solo e/ou durante a adubação de
manutenção. A quantidade varia em função da qualidade dos solos e das
outras práticas de melhoria da fertilidade dos solos (ciclos de adubo verde,…).
Legumes de folhas
Alface, repolho, couve,
amaranto, erva moura,
hibisco, salsa, aipo,
alho-porro,...
Necessidades
importantes em
elementos azotados (N)
Legumes raízes,
tubérculos e bulbos
Batata comum, alho,
cebola, rabanete, nabo,
cenoura, beterraba,
gengibre,...
Necessidades
importantes em
elementos potássicos (K)
Aconselha-se realizar as sucessões culturais na seguinte ordem:
1. Legume fruto >
2. Legume de folhas >
3. Legume raíz
No entanto, muitas vezes, a quantidade reduzida de matéria orgânica
à disposição do produtor é um fator limitante, daí a importância de bem
conhecer as necessidades das culturas para otimizar a adubação.
Legumes exigentes
(adubação orgânica superior a 2 kg/m²)
Beringela, aipo*, repolho*, pepino, abóbora, espinafre*, funcho, milho,
melão, alho-porro, pimentão, batata comum, tomate, abobrinha.
2 / Os sistemas de produção
Legumes frutos
Tomate, beringela,
pimentão, malagueta,
pepino, abóbora,
abobrinha, quiabo,
melão, melancia,...
Necessidades
importantes em
elementos fosforados (P)
1 / Os fundamentos
As plantas e os órgãos
Legumes moderadamente exigentes
(adubação orgânica inferior a 2 kg/m²)
Aspargo, beterraba*, cenoura, alface*.
Legumes pouco exigentes
Bertalha (Basella)
Beterraba
As plantas absorvem em níveis diferentes os nutrientes contidos no solo conforme
o seu enraizamento (cf. esquema abaixo) e de acordo com as suas exigências. A
sucessão de culturas permite evitar que as plantas absorvam em maior quantidade
os mesmos elementos quando plantadas de forma contínua na mesma parcela.
Uma fertilização complementar repõe os nutrientes exportados pelas culturas
anteriores.
(adubação orgânica pontual)
Alho, fava, chalota, nabo, cebola, rabanete, feijão, ervilha.
* Culturas que exigem um composto bem curtido. As outras culturas toleram
um composto meio-curtido, enquanto que as abóboras preferem um composto
pouco curtido (aceitam mesmo estrume fresco).
Pimentão
Alface
Cenoura
Tomate
Profundidade
do solo
Alface
Cebola
3 / As práticas
Tomate
Aconselha-se efetuar as sucessões culturais por ordem decrescente quanto à
exigência das culturas.
No início da sucessão, os ciclos das culturas beneficiam de uma adubação
importante (adubação orgânica de fundo). Os ciclos das culturas seguintes dispõem
de menor quantidade de matéria orgânica (devem assim ser menos exigentes).
AS PRÁTICAS / Horticultura / Sucessões culturais
113
As plantas com boa e fraca cobertura do solo
Alguns conselhos
As culturas que sufocam as infestantes são as que proporcionam uma boa
cobertura do solo, ou cujo desenvolvimento permite sachar ou fazer um
empalhamento.
Introdução de leguminosas
As culturas que não limitam a infestação pelas ervas daninhas são as que não
cobrem suficientemente o solo e que não permitem realizar as mondas ou fazer
um empalhamento.
Para limitar a proliferação das infestantes, recomenda-se alternar:
- culturas com boa cobertura do solo (ex.: tomate, ervilha, batata comum…);
- e culturas com fraca cobertura do solo (ex.: cenoura, nabo, cebola...).
Devido à sua capacidade em fixar o azoto do ar, os ciclos de leguminosas podem
ser inseridos nas sucessões culturais. A sua produção pode ser consumida, servir
como forragem, incorporada como adubo verde ou utilizada como planta de
cobertura.
Os ciclos de leguminosas podem ser inseridos em diferentes momentos:
- antes de uma cultura cujas necessidades em azoto são importantes
(solanáceas, legumes frutos, legumes exigentes);
- no fim de uma sucessão para enriquecer o solo.
Os intervalos antes de cultivar de novo uma mesma planta
Introdução de plantas desparasitantes
Um provérbio marroquino diz: « palha com palha origina batalha », o que
significa que não se pode cultivar duas vezes consecutivas na mesma parcela,
sem deixar um tempo suficiente entre cada ciclo.
Algumas plantas têm propriedades desparasitantes. Além dos efeitos da
sucessão cultural sobre as pragas e doenças, têm a propriedade de « limpar »
uma parcela.
Alguns exemplos:
- a cenoura pode ser cultivada na mesma parcela de 2 em 2 anos, desenvolve-se
bem depois de uma cultura mondada ou que cobre o solo, especialmente uma
solanácea (ex.: tomate);
- a cebola pode ser cultivada na mesma parcela de 2 em 2 anos, desenvolve-se
bem depois de uma cultura mondada;
- a batata comum pode ser cultivada cada 2 a 3 anos, constitui uma excelente
planta para iniciar uma sucessão cultural. É um bom precedente cultural para
o milho;
- o melão pode ser cultivado no mesmo terreno depois de 3 ou 4 anos...
Ex.: cultivo de um ciclo de cravo da Índia (Tagetes sp.), planta repulsiva
contra os nemátodos, antes de uma cultura sensível a nemátodos como a
batata comum ou o tomate;
Ervilha, leguminosa
114
Feijão, leguminosa
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Outro ex.: cultivo de um ciclo de amendoim, de rabanete ou de nabo, plantas
armadilhas dos nemátodos.
Um ciclo de plantas desparasitantes pode ser introduzido na sucessão, em
caso de ataque detectado ou de risco de proliferação depois de uma
cultura muito « atrativa ».
Batata comum, planta que cobre o solo
Ciclo de amendoim contra
os nemátodos
Programação das sucessões culturais
Vantagens e desvantagens
Além das regras enunciadas na primeira parte (Princípio), 2 fatores têm que
ser tomados em conta a nível da programação das sucessões:
Técnicas
- o efeito do precedente cultural: os efeitos positivos que a cultura colhida
 Adapta-se às necessidades dos produtores;
- a sensibilidade da cultura seguinte: todas as culturas não reagem da mesma
forma aos efeitos da cultura anterior.
Ex.: a cebola não produz bem se plantada sucedendo uma leguminosa.
Económicas
 Reduz as compras de insumos (pesticidas, herbicidas);
Ambientais
 Favorece a diversificação das culturas;
 Reduz a pressão parasitária e limita o uso de produtos fitossanitários;
 Mantém e melhora a estrutura do solo.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR...
Beringela
Pela sua ação sobre o solo e o controlo do parasitismo e das infestantes, a
sucessão de culturas apresenta um interesse económico e ambiental.
Repolho
Não existe nenhum esquema definido para realizar uma sucessão de culturas:
tudo depende do ambiente de cultivo, da escolha dos sistemas de produção
e das prioridades do produtor. No entanto, é necessário tomar em conta na
programação:
Cebolinha
 as
Abobrinha
 as
Cenoura
Aipo
Alface
Erva moura
Hibisco
Salsa
Malagueta
Couve
Pimentão
Rabanete
Tomate
2 / Os sistemas de produção
 Favorece a biodiversidade;
famílias das culturas;
suas exigências em elementos nutritivos;
 as suas caraterísticas em termos de cobertura do solo (controlo das
infestantes);
 os prazos a respeitar antes de cultivar de novo a mesma planta;
 os efeitos precedentes e sensibilidade da cultura seguinte.
 PARA IR MAIS LONGE:
3 / As práticas
Tomate
Pimentão
Rabanete
Couve
Malagueta
Salsa
Hibisco
Alface
Erva moura
Cebolinha
Abobrinha
Repolho
Aipo
Cenoura
Bertalha
Beringela
 Requer disponibilidade em sementes diversificadas.
Amaranto
Bertalha
Precedentes culturais
Amaranto
Sucessão
inapropriada
 É difícil implementar em explorações agrícolas de tamanho reduzido;
 Contribui para o aumento dos rendimentos.
Culturas seguintes
Sucessão
recomendada
1 / Os fundamentos
(cultura precedente) pode ter sobre a cultura a seguir.
Ex.: os efeitos positivos do cultivo de uma leguminosa sobre uma cultura de
tomate ou de abóbora;
 Princípios de base simples a aplicar;
Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Associações de culturas (p. 117)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Luta integrada (p. 123)
AS PRÁTICAS / Horticultura / Sucessões culturais
115
116
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Associações de culturas
Horticultura
Princípio
1 / Os fundamentos
A presença de diferentes plantas numa mesma
parcela hortícola, constitui uma associação
de culturas. Esta prática permite uma boa
valorização das superfícies agrícolas e favorece as
complementaridades entre as plantas cultivadas.
A prática das associações de culturas consiste em plantar ou semear várias culturas numa mesma
parcela: os ciclos culturais são paralelos ou sobrepõem.
Estas associações complementam-se de diferentes formas conforme a sua configuração no espaço e/
ou no tempo.
Existem diferentes tipos de associações de culturas, em função das caraterísticas das plantas e das suas
complementaridades a nível da mobilização dos nutrientes do solo e da água, do seu desenvolvimento
no espaço (aéreo e subterrâneo) e da sua capacidade a interagir.
2 / Os sistemas de produção
1-A configuração das associações
- « as culturas misturadas »: mistura de várias culturas que se desenvolvem
ao mesmo tempo sem configuração espacial particular, mas com densidades
específicas. Por exemplo, uma mistura de legumes de folhas: amaranto,
erva moura, couve.
Instalação: as sementeiras ou transplantações acontecem ao mesmo
tempo sem configuração espacial particular.
- « as culturas em linhas ou em faixas alternadas »: mistura de várias culturas
que se desenvolvem ao mesmo tempo com uma organização específica em
linhas ou faixas alternadas (ex. linhas de abobrinhas + faixas de cebola) ou
no centro e na periferia da parcela (ex. abóbora + milho / coentro + alho).
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Instalação: as sementeiras são realizadas ao mesmo tempo com uma
configuração espacial específica e conforme um espaçamento médio (ex.
cebola + cenoura = interlinha (40 cm + 30 cm)/2 = 35 cm ).
Objetivos:
» Otimizar o uso do espaço de cultivo;
» Proteger o solo e as culturas, limitando o uso de
insumos químicos de síntese;
» Diversificar as produções e assegurar os rendimentos
dos produtores;
3 / As práticas
» Melhorar a produção em qualidade e quantidade.
Condições de implementação:
» Dispor de sementes hortícolas diversificadas;
» Conhecer as boas e as más práticas em termos da
associação das culturas.
Milho / Feijões
Cebola / Repolho
Abobrinha / Nabo
AS PRÁTICAS / Horticultura / Associações de culturas
117
- « as culturas intercalares »: plantação de uma cultura de ciclo curto debaixo
ou entre a cultura principal (ex.: rabanete + alface ou cebola + alface).
Instalação: a cultura com o ciclo mais curto é plantada entre as linhas
da cultura com o ciclo mais longo, respeitando o espaçamento normal. As
sementeiras devem ser realizadas ao mesmo tempo.
- « a cultura secundária »: uma primeira cultura é instalada, seguida de uma
segunda, no momento em que a primeira atinge o estado reprodutivo antes
da colheita (ex.: luzerna + nabo). A segunda cultura desenvolve-se sem ser
prejudicada depois da colheita da primeira cultura.
Instalação: a instalação da segunda cultura depende da velocidade do
crescimento e da duração do ciclo da primeira cultura.
- « a associação com plantas satelitas »: presença de algumas plantas de
uma ou várias culturas isoladas no meio de uma cultura principal ou na sua
periferia. Esta configuração é adaptada para inserir plantas armadilhas. Por
exemplo: associação de beringela no meio de uma cultura de batata comum
contra o besouro-da-batata comum.
Instalação: respeitar o espaçamento da cultura principal.
Pé de amaranto produtor de sementes
Amaranto transplantado
Batata doce
Associação satelita batata doce / amaranto
Culturas intercalares repolho / alface
118
Associação satelita alface / cebola
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
2-A escolha das associações
Quando várias espécies são cultivadas no mesmo período na mesma parcela,
estão sujeitas a relações de concorrência ou de complementaridade em
termos de acesso aos fatores do meio. Três fatores devem ser tomados em
conta para definir as associações:
- o sistema radicular (ex.: couve + alface);
- o acesso à água e aos elementos minerais (ex.: legumes frutos + legumes de
folhas);
- as necessidades de luz (ex.: coentro, salsa, aipo protegidos pela fava ou pela
malagueta; gengibre debaixo de papaieira).
As associações mais interessantes em termos agronómicos são as que, a nível
do espaço aéreo e subterrâneo, valorizam as complementaridades e limitam as
concorrências entre espécies.
Desta forma trata-se de promover as associações que asseguram a proteção das
culturas ou que favorecem a sinergia entre as culturas.
Alguns exemplos do efeito protetor
- Culturas à volta da parcela ou criação de “bocage” para beneficiar de um
efeito quebra-vento:
- milho, sebes de alecrim.
- Associações de certas espécies para beneficiar de um efeito protetor (em
relação às doenças) ou um efeito repulsivo (em relação às pragas):
- losna contra os pulgões;
- cravo da Índia (Tagetes sp.) contra os nemátodos;
- Liliáceas e plantas aromáticas que têm propriedades repulsivas.
- Associação com uma planta particularmente “atrativa” cultivada na periferia
da parcela para concentrar as pragas e evitar a sua disseminação na cultura
principal (efeito armadilha):
- as beringelas atraem os besouros-da-batata na periferia das parcelas de
batata comum.
Culturas intercalares
couve / beringela
Culturas intercalares
repolho / espinafre d’água
entre culturas com mesmo desenvolvimento (a nível do
espaço aéreo e do espaço subterrâneo);
Técnicas
 Prática simples de implementar e fácil de adaptar;
 Protege o solo (dos raios solares e dos ventos) e as culturas;
a
 Permite uma melhor valorização do espaço ao longo do tempo (associação
 riscos
 Requer um conhecimento das associações de interesse e uma certa habi-
concorrência de uma cultura com forte desenvolvimento sobre outra
cultura com fraco desenvolvimento (efeito de sombra);
de perdas se existirem doenças e pragas comuns.
entre culturas de ciclo curto e culturas de ciclo longo);
lidade para as conduzir;
 NOTA
 Pode aumentar o caráter penoso do trabalho na parcela.
As associações de culturas permitem ter rendimentos:
Económicas
- diversificados e seguros (caso uma cultura tenha um rendimento limitado
 Permite uma melhor produção em termos de quantidade, qualidade e
ou com fraca procura no mercado, é possível compensar com os rendimentos
das outras culturas);
- escalonados (colheitas escalonadas). É interessante favorecer as associações
entre uma cultura de ciclo curto e uma cultura de ciclo longo que permitem
obter rendimentos regulares (ciclo curto), completados por uma receita
importante fornecida pela cultura de ciclo longo.
1 / Os fundamentos
 concorrências
Vantagens e desvantagens
diversidade;
 Reduz os custos em insumos químicos de síntese pela promoção das
2 / Os sistemas de produção
A escolha das culturas a associar é muito importante.
As más associações podem provocar:
complementaridades entre culturas (efeito repulsivo, pesticida...);
 Otimiza o uso do espaço, do tempo e dos recursos (solo, água, insumos...).
Ambientais
 Valoriza as complementaridades entre as plantas;
 Permite uma valorização da biodiversidade;
 Regula as populações de pragas / predadores.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR...
A diversidade é fonte de segurança.
O horticultor pode tirar proveito das complementaridades entre as plantas,
para otimizar o uso dos recursos da sua exploração agrícola.
A longo prazo, a promoção das associações de culturas limita o uso dos
insumos de síntese custosos e melhora os rendimentos (ganhos económicos
significantes).
Couve + coentro
Milho + feijão
3 / As práticas
 PARA IR MAIS LONGE:
Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação
de um “bocage”) (p. 93)
Ficha: Sucessões culturais (p. 111)
AS PRÁTICAS / Horticultura / Associações de culturas
119
120
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Empalhamento
Horticultura
Efeitos:
Solo
Princípio
1 / Os fundamentos
O empalhamento ou mulching é a técnica de cobrir
o solo com vegetais ou resíduos de vegetais, com
a finalidade de protegê-lo contra as agressões
climáticas. É particularmente eficaz para criar
um ambiente favorável ao desenvolvimento das
culturas.
A prática do empalhamento consiste em cobrir o solo dos canteiros das culturas hortícolas para que
nunca fique desprotegido. Além do seu efeito protetor contra a erosão e as infestantes, influencia
diretamente os fornecimentos de água e a fertilidade do solo, favorecendo assim a vida biológica do solo.
Esta prática deve geralmente ser feita antes da sementeira e/ou da transplantação.
Método
- Cortar as palhas antes da produção de sementes (ou recolher os outros materiais disponíveis), e
Água
Planta
Paisagem
deixá-las a murcharem ao sol (2 a 3 dias);
Objetivos:
» Limitar as perdas de água por evaporação;
» Proteger o solo durante as fortes chuvas e limitar os
respingos de terra sobre as plantas jovens;
2 / Os sistemas de produção
- Preparar os canteiros para o cultivo;
- Colocar a palha em camadas de 5 a 10 cm sobre a totalidade do canteiro, evitando cobrir demasiado
as plantas caso a cultura já seja instalada, no caso de empalhamento antes da sementeira ou
plantação, as covas devem estar descobertas de forma a permitir às plantas desenvolverem e limitar
a propagação das doenças bacterianas e fúngicas.
» Fornecer matéria orgânica ao solo;
» Criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da
vida biológica no solo;
» Reduzir o caráter penoso do trabalho pela redução
das operações de sacha e monda.
» Dispor de plantas ou resíduos de vegetais: palha (25
a 30 kg para cada m² de solo, com uma espessura
de 5 a 10 cm), folhas de árvores, farelo de arroz,
plantas secas silvestres ou cultivadas (Brachiária,
Stylosanthes,...), ramos de milheto, folhas de
palmeira, etc.
Atenção: não utilizar plantas já frutificadas (presença
de sementes que podem depois germinar).
» Dispor de um pequeno equipamento (carrinho de
mão, forquilha,...).
Tomate com empalhamento, Madagáscar
Batata comum com empalhamento, Madagáscar
O empalhamento pode constituir um abrigo para as lesmas e os caracóis: adotar medidas preventivas
e/ou curativas (ex.: armadilha com cerveja, cinzas, pó de malagueta,...).
Palha amontoada, Camboja
3 / As práticas
Condições de implementação:
Empalhamento com folhas de cana, Camboja
AS PRÁTICAS / Horticultura / Empalhamento
121
A prática ilustrada...
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Prática simples de implementar;
 Pode ser realizado com diferentes tipos de materiais disponíveis localmente;
 Reduz pela metade as quantidades de água a fornecer nos solos pesados,




e por um terço nos solos leves (diminuindo a quantidade de água e a
frequência da rega);
Protege os solos;
Entra em concorrência com a compostagem para as matérias primas;
Atrai as lesmas, caracóis e térmites;
Apresenta um risco de apodrecimento do colo quando a palha fica em
contato direto com as plantas.
Económicas
 Reduz os custos de irrigação (água, combustível e/ou mão-de-obra);
 Ao longo do tempo, aumenta os rendimentos (proteção dos solos e fornecimento
de matéria orgânica);
 Limita o uso de mão-de-obra graças à redução das sachas e mondas;
 Requer a mobilização de mão-de-obra caso a superfície seja importante;
 Entra em concorrência com a alimentação do gado.
Ambientais
 Protege a estrutura do solo contra as fortes chuvas e a dessecação pelos
raios solares;
 Cria um ambiente favorável à vida biológica do solo.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR...
 OBSERVAÇÕES:
- O farelo de arroz, de milheto e outros resíduos da debulha, muitas vezes
não valorizados, constituem um empalhamento eficaz;
- No caso de ataques de térmites, empalhar associando folhas de ním à palha;
- Para melhorar diretamente a fertilidade do solo, é útil associar
empalhamento e composto líquido, isso permite uma decomposição rápida
da palha e o enriquecimento do solo em matéria orgânica;
- Os empalhamentos do tipo « prateado » têm um efeito visual repulsivo
sobre os insetos (especialmente trips e pulgões).
122
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
O empalhamento permite proteger os solos contra as fortes chuvas (estrutura
e fertilidade) ou a dessecação (gestão da humidade).
Para permitir a difusão desta prática, é necessário determinar no local o
material disponível apropriado e adaptar a espessura do empalhamento às
condições climáticas.
 PARA IR MAIS LONGE:
Ficha: Composto líquido (p. 91)
Ficha: Princípios dos Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157)
Ficha: Plantas de cobertura (p. 159)
para o meio ambiente (risco de
contaminação da água e do solo, redução da
biodiversidade,...);
- Perigo para a saúde humana provocado pelas
manipulações e pelo consumo dos produtos
tratados;
- Aumento dos encargos da exploração a curto e
longo prazo de forma crescente.
O que leva a privilegiar a luta integrada, onde os
produtos químicos de síntese são utilizados apenas
como último recurso.
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Implementar um conjunto de medidas fundamentadas,
visando limitar os riscos fitossanitários sobre as
culturas;
» Limitar o uso dos pesticidas químicos de síntese;
» Limitar as despesas de insumos privilegiando ações
naturais e preventivas.
Condições de implementação:
» Conhecer as pragas e doenças;
» Conhecer os princípios da luta integrada;
» Conhecer os modos de preparação e dispor da matéria
prima para a fabricação de biopesticidas.
Luta
Luta
biológica e
A luta integrada associa o conjunto dos meios de luta disponíveis para
Agronómica
tratamentos
naturais
proteger as culturas contra os seus inimigos.
Existem diferentes métodos de luta:
- A luta agronómica privilegia o uso das práticas agrícolas preventivas
(utilização de matéria orgânica, manutenção das culturas,...);
- A luta física usa armadilhas, cercas, técnicas de afugentamento ou recolha
manual;
- A luta biológica introduz predadores ou parasitas das pragas, plantas
Luta
Luta
repulsivas ou que funcionam como armadilhas;
Química
Física
- A luta baseada em tratamentos naturais utiliza biopesticidas, geralmente
de contato;
- A luta química utiliza pesticidas de síntese, de contato ou sistémicos.
A luta integrada visa manter as populações de pragas em níveis suficientemente baixos para que não
causem prejuízos económicos. Privilegia métodos preventivos para prevenir a aparição dos inimigos
das culturas e recorre aos métodos curativos para combater uma praga quando provoca grandes danos.
2 / Os sistemas de produção
- Perigo
Princípio
Método
1-A luta agronómica
Implementar boas práticas culturais para prevenir a chegada ou a disseminação das pragas e
doenças.
 Utilizar sementes e plantas de qualidade
- Escolher variedades resistentes ou tolerantes, desde que sejam adaptadas às condições agroecológicas
da zona de produção;
- Procurar sementes ou plantas
de qualidade compradas num
fornecedor credenciado ou
produzidas
respeitando
os
critérios de escolha e o modo
de conservação das sementes;
Ninho de formigas arborícolas
- Para
as sementes locais,
cultura de tomate
desinfetar com água quente
(50°C) antes da sementeira, para eliminar certas pragas nas sementes.
3 / As práticas
O uso abusivo dos pesticidas químicos de síntese
origina os seguintes problemas:
1 / Os fundamentos
Luta integrada
Horticultura
Gafanhoto
AS PRÁTICAS / Horticultura / Luta integrada
123
 Fazer viveiros para produzir plantas sãs e vigorosas
 Cuidar das culturas para evitar as contaminações e os riscos de propagação
- Escolher um local arejado, protegido contra a exposição direta ao sol,
-
-
mas sem ser completamente sombreado;
Afastar os viveiros das culturas em fase final de ciclo e dos pomares;
Efetuar uma fertilização orgânica e desinfetar o substrato (água fervida:
10 l/m²);
Implementar medidas de proteção contra as pragas: rede de mosquiteiro
contra os insetos, sobrelevação do substrato até 1 m contra as pragas do
solo, filme plástico contra as intempéries;
Respeitar as densidades de sementeira, fazer o desbaste quando
necessário;
Transplantar apenas as plantas vigorosas e destruir as plantas fracas que
sobram, de forma a não atrair as pragas e doenças;
Mudar a terra para cada novo viveiro.
 Preparar o meio de cultivo para aumentar o vigor das plantas
- Fornecer uma adubação orgânica de fundo
bem preparada (estrume curtido, composto);
- Preparar o terreno: lavoura, amontoa,
destorramento, drenagem, conforme
terreno e as necessidades das culturas;
o
- Respeitar as densidades para evitar a
concorrência entre plantas;
- Empalhar
as parcelas para limitar o
desenvolvimento das infestantes, favorecer
a vida biológica e manter a humidade no
solo;
Adubação de fundo
- Prever rede para sombrear as culturas
sensíveis ao sol e às chuvas fortes.
Canteiro hortícola empalhado
124
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
- Sachar, mondar, regar sem excesso, empalhar,
efetuar uma adubação de manutenção,...;
- Durante os amanhos culturais, evitar ferir as
raízes ou as folhas;
- Arrancar as plantas atacadas e queimá-las;
- Não molhar a folhagem das culturas sensíveis
(ex.: tomate, alface);
- Mondar regularmente as parcelas e ao seu
Monda
redor, e enterrar os restos vegetais;
- No fim da produção, arrancar a cultura,
e enterrar ou queimar os restos infestados para evitar a propagação das pragas
e doenças.
 Valorizar a diversidade das culturas e as suas complementariedades no
espaço e no tempo
- Respeitar as regras das rotações de culturas;
- Fazer as boas associações de culturas para uma boa gestão do espaço e
das pragas e doenças.
 Respeitar as estações do ano e as boas práticas culturais
- Semear ou plantar uma cultura sensível a uma praga ou doença de forma
que a fase crítica do seu desenvolvimento esteja fora dos períodos de
proliferação da praga ou doença.
Ex.: plantar o tomate de forma que não seja em plena fase de produção
nos períodos mais quentes e secos (períodos propícios aos ácaros).
- Adaptar as práticas culturais às estações.
Ex.: para as culturas hortícolas, cultivar em terrenos drenados e amontoar
os canteiros, ou cultivar em camalhões na época quente e húmida para
evitar os excessos de água propícios às doenças fúngicas.
Monda no início da campanha agrícola
Composto
4-A luta com base em tratamentos fitossanitários naturais
Estas barreiras físicas podem ser:
- uma cerca (sebe ou rede) para proteger a horta contra os animais soltos;
- uma sebe viva entre as parcelas para limitar a contaminação das pragas,
há de anotar que algumas essências contidas nas plantas têm propriedades
repulsivas (ex. Tephrosia contra pulgões);
- armadilhas para capturar (armadilha com cerveja contra caracóis,
ratoeira,...), destabilizar ou apanhar as pragas (armadilhas com feromonas),
afugentar as pragas (cinzas contra os moluscos, espantalho contra as
aves,...);
- uma recolha das pragas (caracóis, gafanhotos, lagartas,...), eliminá-las
antes da infestação.
3-A luta biológica
Manter um nível de predadores suficiente para controlar a população das
pragas.
- Conhecer as pragas e os auxiliares (predadores ou parasitas);
- Não tratar com pesticidas de síntese de largo espectro que podem aumentar
a vulnerabilidade da parcela;
- Multiplicar os locais de hábitat para a fauna silvestre (caixas de nidificação,
charcos,...) para favorecer a biodiversidade na horta, e assim o equilíbrio
entre as populações.
Para estes métodos serem mais eficazes, recomenda-se trabalhar a nível do
«terroir».
Eliminar as pragas e doenças utilizando biopesticidas.
2 tipos de produtos existem:
- os produtos repulsivos que permitem afastar as
pragas;
- os produtos que eliminam as pragas por contato
direto.
1 / Os fundamentos
Implementar barreiras físicas e armadilhas para impedir a invasão da
cultura pelas pragas e a sua disseminação.
Foto ao lado: pulverização de uma mistura alho,
gengibre e malagueta para combater o trips numa
parcela de chalota (Sri Lanka).
5-A luta química com base em pesticidas de síntese
Eliminar as pragas e doenças utilizando pesticidas químicos de síntese.
2 / Os sistemas de produção
2-A luta física
Da mesma forma que para os tratamentos naturais, existem 2 tipos de
pesticidas químicos de síntese:
- os produtos repulsivos que permitem afastar as pragas;
- os produtos que eliminam as pragas, seja por contato direto (pesticidas de
contato), seja quando estas pragas consomem a planta que já absorveu o
produto (pesticidas sistémicos).
 NOTA
A utilização dos pesticidas de síntese justifica-se apenas quando existir um
risco elevado de perder a produção: deve ser considerada apenas como
último recurso, caso uma praga ou doença se desenvolver apesar de todas
as medidas preventivas e curativas naturais.
Para um uso racional dos pesticidas de síntese:
- consultar a legislação para utlizar apenas os produtos autorizados;
- escolher os produtos que tenham uma ação seletiva, menos efeitos secundários
3 / As práticas
sobre o meio ambiente e que sejam menos tóxicos para a saúde humana;
- fazer alternância dos princípios ativos e dos modos de ação;
- atuar no momento em que a praga esteja mais vulnerável ao pesticida;
- respeitar rigorosamente as precauções de utilização dos pesticidas
Armadilha para caracóis
Espantalho
(equipamento adaptado e em condição, proteção, intervalo de segurança
antes da colheita,...).
AS PRÁTICAS / Horticultura / Luta integrada
125
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Protege as culturas;
 Propõe várias práticas e técnicas complementares;
 Adapta-se em função das matérias primas disponíveis;
 Requer um bom conhecimento das pragas e doenças, assim como dos
métodos de luta adaptados.
Económicas
 Oferece uma melhor garantia para a colheita;
 Limita o uso de pesticidas químicos de síntese (custosos);
 Requer uma boa observação da parcela para que uma infestação seja
eliminada antes de acabar com a cultura.
Ambientais
 Privilegia os equilíbrios naturais;
 Favorece a biodiversidade.
Parcela hortícola onde se pratica a luta integrada, Camboja
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR...
Na sua estratégia de proteção das culturas, o produtor deve recorrer a
diversos métodos: físico, agronómico, biológico,...
O uso dos pesticidas químicos de síntese apenas deve ser privilegiado em
último recurso.
Um ambiente de cultivo sã e culturas robustas limitam os riscos fitossanitários.
A preservação dos equilíbrios naturais deve permitir manter um nível de
perda aceitável, muitas vezes mais rentável do que o uso desenfreado de
pesticidas químicos.
 PARA IR MAIS LONGE:
Perímetro hortícola onde se pratica a luta integrada, RDC
126
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Sucessões culturais (p. 111)
Ficha: Associações de culturas (p. 117)
Ficha: Tratamentos fitossanitários naturais (p. 127)
Tratamentos fitossanitários naturais
Horticultura
1 / Os fundamentos
Princípio
Os tratamentos fitossanitários naturais, utilizam substâncias ativas obtidas a partir de preparações com
base em plantas ou outros minerais, tais como os produtos cúpricos ou enxofrados (calda bordalesa),
as cinzas,... Estas preparações podem agir de diferentes formas:
- repulsão: pelo seu cheiro ou pela sua presença, os produtos formam uma barreira que afasta os
parasitas, ex.: solução insetifuga, aplicação de cinzas,...;
- inibição da reprodução: algumas matérias ativas influem sobre a reprodução das pragas, impedindo
assim a sua proliferação, ex.: feromonas (armadilhas), extratos de cravos (inibidor direto da
reprodução), óleo de ním (inibidor do desenvolvimento e do crescimento de certos insetos);
- erradicação: a solução mata os parasitas, ex: soluções fungicidas, inseticidas,...;
2 / Os sistemas de produção
Na natureza, certas plantas ou minerais têm a
capacidade de repelir ou eliminar parasitas,
graças às moleculas naturais que contêm. O
produtor pode utilizâ-las para preparar soluções
chamadas « biopesticidas ».
Estes biopesticidas apresentam vantagens em
relação aos produtos químicos de síntese.
Com efeito, as matérias ativas industriais,
utilizadas pela fabricação dos produtos
fitossanitários, muitas vezes são nocivas para o
meio ambiente e para o Homem, sendo tóxicas e
dificilmente degradáveis.
Por outro lado, a importância dos custos ligados
ao uso destes produtos de síntese, pode reduzir
fortemente a rentabilidade das culturas. Muitas
vezes, o produtor não pode proteger as suas
culturas pela falta de recursos financeiros.
- emissão de bio-fumigantes (ácidos orgânicos voláteis) provenientes da decomposição da matéria
orgânica, ex.: folhas de moringa, estrume,...
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
»
»
»
»
Chromolaena
Papaieira
Ním
Limitar os ataques parasitários nas culturas;
Reduzir os custos em insumos químicos de síntese;
Limitar os riscos sobre o meio ambiente e o Homem;
Preservar os equilíbrios naturais entre as populações
(as pragas e os seus inimigos).
3 / As práticas
Condições de implementação:
» Saber identificar as pragas e as doenças;
» Conhecer as plantas e os minerais, os seus efeitos e
os seus modos de utilização;
» Dispor do equipamento (recipiente, pilão e almofariz,
faca, pulverizador,...).
Lemon grass, Manjericão
Malagueta
AS PRÁTICAS / Horticultura / Tratamentos fitossanitários naturais
127
Exemplos de plantas e do seu uso como tratamento natural
Plantas
Parte
utilizada
Pragas e doenças
Efeito
Preparação
Aplicação

Pilar finamente 1 kg de folhas frescas

Misturar dentro de 10 litros de água

Acrescentar argila na solução para diminuir
Papaieira
Folha
Oídio
Ferrugem
Fungicida
o mau
cheiro

Colocar a mistura numa vasilha e tapá-la deixando
uma abertura para permitir a entrada do ar

Agitar todos os dias

Depois de 15 dias de fermentação, filtrar e utilizar
diretamente sem diluir

Secar e pilar quando o fruto estiver bem seco

Colocar 2 colheres de pó dentro de 10 litros
de
água e deixar macerar durante 12 h
2 litros da mistura e acrescentar 4 litros
de água com sabão previamente preparada

Recuperar
Malagueta
Fruto
Afídeos ou pulgões
Inseticida

Esfarelar
Tabaco
Folha,
caule
Pulgões, lagartas,
ácaros
Vírus do enrolamento
das folhas do pimentão
Insetifuga
Inseticida
Fungicida
Acaricida
Arroz
Farelo
Oídio das cucurbitáceas
Fungicida
Manjericão
Folha e
caule
Insetos e fungos em
geral
Inseticida
Fungicida
Moringa
oleifera
Folha
Fungos (podridão das
sementeiras no viveiro)
Fungicida
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Como preventivo:

Aplicar 1 mês antes da proliferação prevista do
inseto

Repetir o tratamento a cada 10 em 10 dias

Aplicar à razão de 0,6 litro para 10 m²
Como curativo:

Aplicar à razão de 1,2 litros para 10 m²

Repetir regularmente até o desaparecimento dos
insetos
1 kg de folhas secas e colocar o pó obtido
dentro de um saquinho

Mergulhar o saquinho dentro de 9 litros de água,
tapar o recipiente e deixar macerar durante 24h

Ralar um pedaço de sabão branco e colocar 2 pitadas
(3 dedos) dentro de 1 litro de água, agitar bem

Depois de 24 h, agitar, expremer fortemente o
saquinho encima do recipiente

Retirar o saquinho e filtrar a decocção

Acrescentar o litro de água com sabão com o filtrado

Aplicar

Medir 1/3 de litro de farelo de arroz muito

Misturar com 10 litros de água

Deixar macerar durante 6 horas

Filtrar e utilizar diretamente sem diluir
Como preventivo:

Aplicar 2 vezes por semana à razão de 1 litro para
10 m²
fino

Colocar
128
Como preventivo:

Aplicar cada 15 dias à razão de 1 litro para 10 m²
Como curativo:

Aplicar logo depois da aparição dos síntomas

Aplicar cada semana à razão de 2 litros para 10 m²
a solução com o pulverizador ou com ajuda
de um ramo

Tratar as culturas com a solução obtida (0,1 litro
para 10 m²)

Para uma boa eficácia, o tratamento deve ser
repetido regularmente (duração da eficácia de 5
dias)
200 g de folhas dentro de 1 litro de água
durante uma noite, triturar as folhas e filtrar

Acrescentar 1 ml de sabão líquido previamente
preparado e misturar bem
Como preventivo:

Pulverizar o macerado + água com sabão à razão de
3 litros para 10 m²

Incorporar
Como preventivo:

Incorporar 1 kg/m² de viveiro
viveiros
as folhas frescas nas covas ou nos
Efeito
Preparação
Aplicação
e pilar os dentes de alho bem
secos

Deixar macerar 2 colheres de pó dentro
de 10 litros de água durante 12 h

Misturar 2 litros da preparação com 4
litros de água com sabão previamente
preparada
Como preventivo:

Aplicar 1 mês antes da proliferação prevista do inseto

Repetir o tratamento a cada 10 em 10 dias

Aplicar na parcela à razão de 0,6 litro para 10 m²
Como curativo:

Aplicar à razão de 1,2 litros para 10 m²

Repetir regularmente até o desaparecimento dos insetos

Secar
Alho
Bulbo
Afídeos ou pulgões
Insetifuga

Picar
Chromolaena
Lemon grass
Planta inteira
Planta inteira
Nemátodos do solo
Bactérias em geral
Nematicida
Bactericida
preventivo
Folha
Diferentes insetos
pragas:
Muito eficaz contra as
lagartas e as larvas dos
coleópteros (Agrotis),
as moscas minadoras,
os gafanhotos e as
cigarrinhas.
Ním
Fruto
Diferentes insetos
pragas:
Muito eficaz contra as
lagartas e as larvas dos
coleópteros (Agrotis),
as moscas minadoras,
os gafanhotos e as
cigarrinhas.
Inseticida
Palmeira
Inflorescência
macho
Ácaros tetranicos
Acaricida
Ním
Inseticida
as folhas e as raízes e incorporálas ao composto sólido

Picar o sistema radicular e incorporá-lo
ao composto líquido
Cf. Ficha sobre o composto p 81

Triturar
cerca de 50 g de folhas de
Lemon grass, deixar macerar durante
alguns minutos dentro de 2 litros de
água quente

Filtrar
Como preventivo:

Pulverizar o macerado + água com sabão à razão de 3
litros para 10 m²

Pilar 3

Deixar
kg de folhas com um almofariz
macerar dentro de 10 litros de
água durante 6 à 12 horas até a água se
tornar verde

Filtrar e expremer

Acrescentar água com sabão para
completar a mistura até 30 litros
Como preventivo:
2 técnicas para combater a infestação dos insetos no solo
com a folha de ním não macerada:

Utilizar como adubo verde incorporando as folhas no
solo ou debaixo dos canteiros de viveiros;

Utilizar como matéria verde incorporando as folhas no
composto.
Como curativo:

Pulverizar a mistura ním macerado + água com sabão à
razão de 3 litros para 10 m², o período de eficácia do
produto é de 6 a 10 dias

Pilar
ligeiramente os frutos frescos para
retirar a casca e secar no sol durante alguns
dias

Retirar a casca que sobrar e pilar os caroços
para transformá-los em pó

Utilizar sob forma de pó ou continuar a
preparação

Colocar 1/3 de litro de pó a macerar dentro
de 10 litros de água durante 12 horas

Filtrar
Em pó:

Misturar 1 medida de pó com 4 medidas de cinzas finas
de madeira

Polvilhar sobre as plantas aproveitando do orvalho da
manhã para fixar o pó

Aplicar a preparação sobre 100 m²
Em líquido:

Pulverizar à razão de 1 litro para 10 m²

Queimar
Como curativo:

Polvilhar em caso de ataque de ácaro tetranico
as inflorescências machos de
palmeiras
AS PRÁTICAS / Horticultura / Tratamentos fitossanitários naturais
129
1 / Os fundamentos
Pragas e doenças
2 / Os sistemas de produção
Parte utilizada
3 / As práticas
Plantas
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Representam soluções eficazes em termos de tratamentos preventivos como
curativos, conforme as plantas ou os minerais utilizados nas preparações;
 De fácil realização com recursos locais;
 Propõe numerosas possibilidades de tratamento;
 Requer um conhecimento das plantas e dos minerais, e das suas propriedades;
 Necessita geralmente de várias aplicações sucessivas;
 Às vezes pode ser menos eficaz que os tratamentos fitossanitários de síntese.
Económicas
 Representa custos reduzidos (materiais disponíveis localmente).
Ambientais
 É pouco nefasto para o ambiente;
 Mantém os equilíbrios entre populações antagonistas e pragas;
 Representa um risco de poluição ligado à toxicidade de certas matérias ativas (nicotina do tabaco).
Preparação de tratamento com ním
Preparação de tratamento com ním
Jarro contendo biopesticidas
Ataques de ácaros vermelhos
sobre beringela
Beterrabas de boa qualidade
Alface de boa qualidade
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Os tratamentos fitossanitários naturais, utilizam matérias ativas geralmente
pouco tóxicas. Requerem muitas vezes várias aplicações para controlar uma
invasão de praga sem, contudo, devastar a fauna natural na sua globalidade.
A sua eficácia é verificada e são mais baratos para os produtores que podem
preferir preparações com matérias primas existentes localmente.
Oferecem uma alternativa interessante frente às dificuldades de
abastecimento em insumos químicos de síntese e permitem diminuir de
forma significativa os encargos de exploração.
Estas práticas preservam o meio ambiente e a saúde humana.
Apesar de serem naturais, a aplicação dos biopesticidas deve respeitar as
mesmas precauções que no caso do uso dos pesticidas químicos de síntese.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Luta integrada (p. 123)
130
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Viveiro em bolsas
Fruticultura
Água
Planta
Paisagem
Método
1-A escolha da localização do viveiro
O local de instalação do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deve tomar em conta a maioria
dos seguintes critérios:
Critérios de seleção
Proximidade de uma fonte de água
necessidades de implantação de pomares ou de
criação de “bocage”;
» Desenvolver eventualmente uma atividade de
viveirista.
Condições de implementação:
Justificativa

Facilitar
a rega

Facilitar a gestão do espaço

Evitar as perdas ligadas a uma
inundação
Proximidade do hábitat doméstico

Facilitar
a vigilância e a manutenção do viveiro
Acessibilidade

Facilitar

Facilitar
o abastecimento do viveiro em terra, areia, composto,...
o escoamento da produção
Objetivos:
» Produzir mudas frutíferas sãs e vigorosas para as
1 / Os fundamentos
O viveiro em bolsas consiste em produzir mudas frutíferas em bolsas ou sacos de plástico para facilitar
a manutenção, o transporte e a plantação das mudas. Estas mudas serão utilizadas diretamente (pés
francos) ou depois de enxertia.
Terreno plano e não inundável
Efeitos:
Solo
Princípio
Proteção contra o sol
2 / Os sistemas de produção
A produção de mudas frutíferas, sãs e robustas, é
a primeira etapa chave do sucesso de um pomar.
O domínio do viveiro em bolsas é importante
para qualquer produtor desejando produzir por
ele mesmo as árvores que pretende plantar ou os
porta-enxertos que pretende utilizar.
Permite também desenvolver uma atividade
remuneradora de viveirista, atividade que pode
ser associada ou não com outra atividade agrícola.
Esta prática do viveiro em bolsas é implementada
no âmbito dos programas da AGRISUD, mais
particularmente no Niger, em Madagáscar e no
Camboja.

Evitar
a dessecação, o consumo excessivo de água e o estresse hídrico
das mudas
2-A preparação do sítio
- Limpar: eliminar as infestantes e nivelar o terreno;
- Proteger: assegurar a proteção do sítio contra os animais e o vento (cerca, sebe viva, sebe morta);
- Proteger contra o excesso de insolação: cobertura natural (sombra das árvores) ou artificial (estrutura
de sombreamento).
sementes de qualidade prontas para plantação
(produção de pés-francos e porta-enxertos) ou de
garfos (produção de plantas enxertadas);
» Dispor das ferramentas necessárias à implementação do
viveiro (bolsas, regador, carrinho de mão, pá, peneira);
» Dispor de materiais para assegurar a proteção das
mudas (cerca,...).
Produção de plantas no Níger
3 / As práticas
» Dispor de um terreno protegido com acesso à água;
» Dispor de areia, composto ou estrume curtido, e
Produção de plantas no Níger
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Viveiro em bolsas
131
3-A preparação dos canteiros
5-O enchimento das bolsas
Os canteiros do viveiro podem ser preparados da seguinte forma:
As bolsas devem ser:
- 1 m de largura por 3 a 6 m de comprimento para facilitar a manutenção;
- opacas para proteger as raízes do sol;
- ligeiramente cavados (5 a 10 cm) para conservar a humidade e para garantir a
- perfuradas na sua parte inferior (6 a 8 furos) para não reter a água em excesso;
estabilidade das bolsas que favorece depois o bom porte das mudas;
- dispostos por forma que a largura dos canteiros seja frente ao vento dominante
para evitar a secagem das mudas.
Para facilitar o acesso às plantas, deixar um espaço de 50 cm a 1 m entre os
canteiros:
0.5 m
- adaptadas ao tipo de mudas a produzir (forma e tamanho).
Para garantir o bom porte da bolsa e reduzir as perdas durante o seu transporte
antes da transplantação:
- Encher completamente as bolsas uma por uma;
- Evitar dobragens a nível do plástico;
- Compactar de vez em quando, durante o enchimento, para ter homogeneidade
em todo o volume da bolsa.
6-A disposição
1m
Para otimizar o espaço e facilitar as contagens, um canteiro contém em geral
500 a 1.000 bolsas eretas, apertadas umas contra as outras e bem alinhadas.
7-A rega
Regar as bolsas até a sementeira, a terra deve estar húmida mas sem ser
encharcada.
É útil fazer empalhamento do fundo e das partes laterais do canteiro para
proteger as mudas assim como os espaços entre os canteiros, para impedir o
crescimento das infestantes.
4-A preparação do substrato
O substrato deve ser homogêneo (bem misturado) e de composição fina.
Componente
Proporção
Propriedades
Areia bem peneirada
2/3 do substrato
Estrutura ligeira do substrato
Drenagem da água
Estrume ou composto bem
curtido
1/3 do substrato
Retenção da humidade e dos
elementos nutritivos
Deixar o substrato 2 a 3 dias na sombra e humedecê-lo regularmente até o
enchimento das bolsas.
132
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Viveiro de citrinos debaixo de sombra
8-A sementeira
9-A manutenção do viveiro
Antes de semear, o viveirista deverá dispor de sementes de boa qualidade,
prontas para germinar.
- Rega: 2 vezes por dia (manhã e fim da tarde) à razão de 2 regadores de
A profundidade da sementeira é determinada pelo tamanho das sementes:
7 litros para cada cem bolsas. Para não danificar as mudas, utilizar um
chuveiro de regador com perfurações finas.
Exemplos
Sementes pequenas
(diâmetro inferior a 0,5 cm)
3 a 4 sementes enterradas por bolsa
a 1 cm no meio da bolsa
Goiabeiras,
romeiras,
citrinos
Sementes grossas
(diâmetro superior a 0,5 cm
1 semente por bolsa
(na vertical, parte oca por baixo a 3
cm de profundidade)
Mangueiras,
safus,
abacateiras
Depois da sementeira, encher as covas e regar abundantemente com regador
equipado com chuveiro.
 NOTA
Evitar realizar sementeiras na época fria, porque o frio limita o bom
desenvolvimento e o crescimento das mudas.
humidade e proteção dos brotos jovens). Retirar a palha logo que a plantinha
atingir a altura de 1 cm.
- Monda: mondar as bolsas e os espaços entre os canteiros para evitar a
invasão pelas infestantes.
- Desbaste: eliminar as plantas em excesso e conservar apenas uma planta
vigorosa no centro da bolsa. Em alguns casos, as plantas desbastadas podem
ser utilizadas para encher as bolsas em que a germinação não funcionou.
- Sacha: raspar logo que necessário a terra na superfície das bolsas para evitar
a formação de uma crosta impermeável e permitir a infiltração da água.
2 / Os sistemas de produção
Técnica
1 / Os fundamentos
- Empalhamento: empalhar as bolsas antes da emergência (conservação da
Tipo de sementes
- Poda radicular: levantar as bolsas cada 15 em 15 dias (logo que as raízes
sairem da bolsa) para evitar o enraizamento das bolsas no solo. Se as raízes
tiverem perfurado o plástico, cortá-las com uma lâmina bem afiada.
- Poda aérea: podar as mudas que desenvolveram ramos em excesso.
- Agrupamento das mudas por tamanho e vigor, para evitar que o
desenvolvimento das mudas mais fracas seja afetado pela concorrência para
a luz da parte das mudas mais vigorosas.
A técnica dos germinadores para mangueiras:
Para alguns tipos de sementes com casca dura, tais como as mangueiras,
cuja capacidade de conservação é fraca (a amêndoa é rapidamente
degradada por oxidação), a técnica dos germinadores permite conservar a
semente e ter brotos jovens até depois do período das mangas.
 NOTA
O viveiro em bolsas pode também ser utilizado para produzir mudas
enxertadas. As mudas podem neste caso ser diretamente utilizadas (ex. da
aroeira-mansa, fotos abaixo) ou enxertadas (ex. da videira).
O germinador é um pequeno canteiro de 1 a 2 m2, de 10 a 15 cm de
profundidade e instalado na sombra.
3 / As práticas
Depois da despolpagem, as amêndoas são colocadas (verticalmente, parte
oca por baixo) em camadas finas e depois cobertas por uma camada de 3 cm
de areia branca. Da mesma forma como para o resto do viveiro, é preciso
regar os germinadores regularmente para conservar a sua humidade.
Logo que as plantas apresentarem brotos de 1 a 2 cm, transplantá-las
nas bolsas. Também é possível deixá-las crescerem um pouco mais e
transplantá-las na terra no “estado castanho/moreno” (cor castanhadourada das folhas – 40 dias).
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Viveiro em bolsas
133
10-A enxertia
A enxertia permite a uma árvore aproveitar as qualidades complementares
de outra árvore, sendo as duas árvores de variedades diferentes, mas da
mesma família. Esta técnica é geralmente utilizada para associar resistência e
produtividade de duas plantas:
- o porta-enxerto (ou cavalo): variedade robusta, resistente e adaptada ao
meio, vai receber a enxertia. Deve medir pelo menos 50 cm (diâmetro de um
lápis), e ter 7 a 8 meses de idade;
- o garfo (ou enxerto): parte jovem (raminho, gema vegetativa) de uma árvore
reconhecida pela qualidade e pelo tamanho dos seus frutos. É geralmente
recolhido numa árvore já enxertada chamada “porta-enxerto”.
Retirada da casca
Ligadura do garfo
Exemplo da enxertia das mangueiras
Etapa 1: A recolha do garfo
O garfo é um pedaço de ramo com a gema terminal mais madura possível,
sem brotação. Este garfo é recolhido sobre o porta-enxerto (mangueira
enxertada), o seu tamanho é de 10 a 12 cm. As folhas do garfo são suprimidas.
Corte de um
ramo jovem
Poda do
enxerto
Ramo
parcialmente
descascado
Etapa 1
Etapa 2: A enxertia
A técnica é chamada « enxertia por fenda simples », porta-enxerto e garfo
são unidos um com o outro e atados.
- Aparar o porta-enxerto e o garfo: retirar a casca com cerca de 10 cm de
comprimento no lugar onde os dois pedaços serão unidos (cuidado para não
cavar a madeira);
- Cortar a parte basal do garfo em forma de cunha e encaixá-la na parte
basal do porta-enxerto terminada por uma lingueta (porção de casca
descolada na sua parte superior);
- Unir as duas partes descascadas, com a cunha dentro da lingueta, e gemas
para cima;
- Cobrir completamente o enxerto e a região da enxertia com ajuda de uma
fita plástica apertada, não deverá haver entrada de ar;
- Regar diariamente e abundamente o porta-enxerto
Poda e
retirada
parcial da
casca do sujeito
Colocação
do enxerto
Manutenção:
- 15 dias depois da enxertia: retirar o plástico a nível do garfo unicamente para permitir o crescimento do garfo, amarrar por baixo;
- A 20 dias: se o garfo desenvolver, a enxertia pegou;
- Depois do crescimento do garfo: eliminar os rebentos do “porta-enxerto” por cima do garfo para permitir o seu desenvolvimento.
134
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ligadura
Etapa 2
Exemplo da enxertia dos citrinos
Retirar uma vareta (ramo terminal maduro)
com vários olhos ou borbulhas (gemas
vegetativas). Cortar as folhas e a parte
apical terminal. A partir desta vareta, cada
borbulha será retirada para a realização de
uma enxertia.
Corte do
enxerto
Corte dos
espinhos
1 / Os fundamentos
Etapa 1: A recolha do garfo
Corte das
borbulhas
Etapa 1
Etapa 2: A enxertia
Incisão
da casca
Abertura
da incisão
na casca
2 / Os sistemas de produção
Corte da
parte que
vai receber
a borbulha
A enxertia é chamada « por borbulha », porta-enxerto e borbulha (ou
gema) são unidos um com o outro e amarrados.
- Cortar o porta-enxerto a 30 cm do solo;
Introdução
da borbulha
- Efetuar uma incisão em forma de T na casca do ramo receptor no terço
superior;
- Descolar a casca para fazer duas linguetas na parte superior do T;
- Introduzir cuidadosamente a borbulha contra a madeira entre as duas
linguetas;
Ligadura
- Unir as linguetas para conter a borbulha deixando uma abertura para
Fechamento
da casca
permitir o seu crescimento;
- Amarrar o enxerto com ajuda de uma fita plástica, de baixo para cima,
a gema não deve ser amarrada completamente;
Etapa 2
- Regar diariamente e abundamente o porta-enxerto.
 NOTA
- Podar a planta para que apenas o garfo se desenvolva;
- 10 dias depois da enxertia: se a borbulha desenvolver, a enxertia pegou.
O produtor deve conhecer o modo de produção das árvores frutíferas
que selecionou. Os safus, romeiras e goiabeiras são árvores de tipo “pésfrancos”: as novas plantas provêm de sementeiras e não de enxertias como
é o caso para mangueiras, citrinos ou macieiras.
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Viveiro em bolsas
3 / As práticas
Manutenção:
135
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Produção de pés-francos de fácil domínio;
 Requer equipamentos;
 Técnicas de enxertia mais difíceis de dominar.
Económicas
 Necessita poucos investimentos se a escolha do terreno respeitar os critérios
de seleção;
 Pode ser uma fonte de rendimentos adicionais (atividade de viveirista




associada à atividade de produção frutífera);
Realizável tanto em pequena escala (atividade secundária) como em grande
escala (atividade principal);
Representa lucros importantes graças à venda das mudas de fruteiras,
sobretudo se forem enxertadas;
Requer investimentos se os critérios de escolha do terreno não forem
reunidos;
Necessita investir dinheiro ou tempo para a construção de uma cerca.
Ambientais
 Contribui para a reflorestação, criação de pomares, e reconstituição da
cobertura vegetal e de “bocage”,...
 NOTA
O viveiro em bolsas pode também ser aplicado para a produção de mudas
florestais. As mudas podem neste caso ser utilizadas para arborizar as
parcelas ou reflorestar as zonas desnudas.
Viveiro para mudas frutíferas
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
O respeito dos critérios de seleção para a implementação de um viveiro
é fundamental e não deve ser ignorado. A organização espacial permite
trabalhar corretamente e otimizar os tempos de trabalhos.
A boa preparação do substrato e o bom enchimento das bolsas permitem ao
produtor produzir mudas vigorosas e sãs.
Uma vez realizada a sementeira, é a manutenção regular que permite ao
produtor produzir mudas de boa qualidade e respeitar as suas encomendas.
A poda radicular é uma operação de manutenção necessária para evitar que
as mudas se enraizem no solo (o que levaria a ferí-las imediatamente antes
da transplantação, comprometendo portanto a recuperação da planta).
A enxertia permite obter árvores com produção de boa qualidade e adequada
às expetativas dos consumidores (escolha das boas variedades).
 PARA IR MAIS LONGE
Mudas de pimenta rosa num viveiro
136
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Compostagem (p. 81)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação de
um “bocage”) (p. 93)
Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares
pluviais (criação de um “bocage”) (p. 145)
O cultivo de árvores frutíferas constitui uma
oportunidade económica para os produtores.
Pode ser realizado com ou sem associação com
culturas irrigadas ou pluviais debaixo de pomares.
Princípio
Em ambos os casos, a etapa da plantação é da
maior importância para garantir o sucesso do
cultivo. Trata-se de garantir às mudas frutíferas
um bom desenvolvimento e assegurar uma
produção rápida e de qualidade.
Método
As árvores frutíferas podem ser cultivadas em zonas planas ou com uma fraca inclinação (<10%). Os
solos devem ser férteis, permeáveis e bem drenados para evitar as inundações prolongadas.
Efeitos:
- desbravar tanto quanto possível o terreno, tomando cuidado para preservar a camada superficial do solo
1 / Os fundamentos
Plantação de árvores frutíferas
Fruticultura
A plantação de árvores frutíferas deve responder a um certo número de critérios para garantir o sucesso
técnico e otimizar o espaço. O produtor prestará uma atenção especial às seguintes etapas: a escolha e a
preparação do terreno, as densidades, a abertura das covas e a plantação das mudas frutíferas.
1-A escolha e a preparação do terreno
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Obter árvores vigorosas e resistentes;
» Assegurar uma boa produção frutífera e das culturas
subjacentes, se for o caso;
» Limitar os tratamentos fitossanitários;
» Contribuir para a valorização da paisagem.
2 / Os sistemas de produção
Antes de realizar a plantação, é necessário:
e eventualmente as espécies vegetais raras que não entram em concorrência com as árvores frutíferas;
- preparar o terreno conforme as suas caraterísticas: nas planícies inundáveis ou terrenos hidromórficos,
criar camalhões e canais de drenagem suficientemente profundos para drenar uma camada de solo
suficiente (a terra retirada dos canais pode servir para a construção dos camalhões), nos terrenos
muito inclinados, construir terraços (cf. esquemas abaixo);
- instalar quebra-ventos à volta do pomar se necessário.
Estruturação do espaço em terrenos
muito inclinados
Estruturação do espaço em zonas
inundáveis ou hidromórficas
Condições de implementação:
» Ser proprietário de um terreno com uma superfície
que permite as plantações (respeito das densidades);
» Dispor de uma fonte de água;
» Dispor de plantas adaptadas ao tipo de solo;
» Dispor das ferramentas necessárias (pá, picareta,
soltos;
» Prever, caso for necessário, uma proteção das árvores
contra o vento (sebe quebra-vento).
3 / As práticas
enxada, regador);
» Dispor de composto ou estrume curtido e de palhas;
» Prever uma proteção das mudas contra os animais
 NOTA
É imperativo dispor de uma fonte de água suficiente para satisfazer a necessidade de água das
árvores frutíferas durante os 2 primeiros anos depois da plantação.
Em geral, as árvores frutíferas jovens são plantadas no início da estação chuvosa para que aproveitem
das precipitações de forma a superar a “crise da transplantação”.
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Plantação de árvores frutíferas
137
2-As densidades
A densidade depende das espécies e variedades cultivadas e dos sistemas de cultivo
escolhidos. No caso em que não há cultivo debaixo do pomar, as árvores frutíferas
podem ser relativamente próximas umas das outras:
- Árvores com desenvolvimento limitado (citrinos,
3,5m
goiabeiras, graviolas, romeiras): 4 m na linha x
4m
interlinha de 3,5 m;
- Árvores
com
desenvolvimento
importante
6m
(mangueiras, lichias, abacateiros, safus): 7 m na
7m
linha x interlinha de 6 m.
A plantação em quincôncio permite otimizar o espaço.
Etapas da abertura das covas:
Etapa 1: Cavar a parte superficial
do solo e colocá-la num lado (1/3 da
altura).
Etapa 2: Cavar a parte inferior e colocar
a terra no outro lado (2/3 restantes).
Deixar a cova ao sol durante 7 a 10 dias.
 OBSERVAÇÕES:
Para os pomares em associação com culturas subjacentes, prever distâncias
entre árvores superiores, no mínimo de 1,5 vez às distâncias para os
pomares sem cultura subjacente. Isso facilita os trabalhos e favorece a
insolação das culturas. Uma orientação Leste-Oeste das linhas de plantação
é geralmente recomendada para preservar uma insolação suficiente das
culturas subjacentes.
3-A abertura das covas
A abertura das covas deve ser realizada, cerca de um mês antes da plantação,
respeitando as densidades (cf. Esquema ao lado). As dimensões das covas
dependem das espécies e variedades cultivadas:
- 0,8 m x 0,8 m x 0,8 m = 0,5 m3 para as árvores com desenvolvimento limitado;
- 1 m x 1 m x 1 m = 1 m3 para as árvores com desenvolvimento importante.
Etapa 3: Fertilizar a terra superficial,
fazer correção da terra do fundo.
- Pequenas covas (0,5mx0,5mx0,5m): 5
kg de composto e 2,5 kg de estrume;
- Grandes covas (0,8mx0,8mx0,8m): 15
kg de composto e 7,5 kg de estrume.
Em caso de presença importante
de térmites, incorporar folhas de
ním, fruto de ním pilado, cinzas… às
diferentes camadas da mistura.
Mistura
composto
+ terra arável
Mistura folhas
de leguminosas
murchas +
estrume com
palha + terra
do subsolo
30 cm
Etapa 4: Encher a cova colocando a
terra da superfície no último e criando
um camalhão de 25 cm a 30 cm de
altura e uma caldeira de plantação.
Mélange
compost
Etapa 5: Regar abundantemente e empalhar o camalhão.
Plantação de pessegueiros e ameixeiras no Sul de Marrocos
138
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Esperar 2 a 3 semanas antes de realizar a plantação de forma a permitir que
os elementos fertilizantes continuem a sua decomposição sem risco para a
jovem planta (elevação da temperatura do estrume). Regar regularmente
durante este período caso as chuvas forem escassas.
4-A plantação
1 / Os fundamentos
Etapa 1: Reduzir a superfície foliar da planta,
cortando a terceira parte terminal das folhas bem
desenvolvidas na parte inferior da planta, para
diminuir a transpiração (dessecação) enquanto a
planta está a desenvolver o seu sistema radicular.
Etapa 2: Afastar o empalhamento e abrir uma cova no centro do camalhão
de 10 a 15 cm de profundidade.
Empalhamento
Rega
2 / Os sistemas de produção
Etapa 3:
- Cortar a bolsa plástica com uma lâmina afiada
mantendo o torrão de terra a nível das raízes;
- Colocar a planta na terra até o colo (para as
árvores enxertadas, assegurar-se que a enxertia
fique bem fora do solo).
Colo a
nível do solo
Etapa 4: Comprimir o solo e fazer uma caldeira dupla ligeiramente
levantada ao pé da planta para facilitar a rega.
Etapa 5: Proteger a planta:
- Empalhar a caldeira para limitar a evaporação (8
cm de espessura no mínimo);
contra o vento;
- Se o pomar não estiver cercado, proteger a planta
para evitar que os animais soltos a possam estragar
(esteira, ramos com espinhos…).
Etapa 6: Regar abundantemente enchendo a caldeira.
 NOTA
Plantar de preferência durante a estação chuvosa nas horas menos quentes,
no final da tarde.
3 / As práticas
- Colocar um tutor se necessário para a proteger
 NOTA
Depois da plantação, não esquecer de recuperar as bolsas de plástico na
parcela
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Plantação de árvores frutíferas
139
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Favorece o bom desenvolvimento das árvores frutíferas;
 Permite uma frutificação precoce (uma boa plantação permite ganhar pelo
menos um ano para a frutificação);
 Respeitar as normas de densidade o que cria um ambiente sã (redução da
pressão parasitária) e permite implantar culturas subjacentes;
 Requer trabalhos anti-erosivos das fortes vertentes ou uma drenagem das
zonas hidromórficas e inundáveis.
Económicas
 Garante uma produção precoce e de qualidade;
 Requer uma quantidade importante de matéria orgânica;
 Mobiliza uma mão-de-obra importante para cavar os buracos.
Ambientais
 Valoriza o espaço e os recursos disponíveis pela associação fruticultura / culturas
subjacentes;
 Permite a arborização e o desenvolvimento de “bocage”.
Instalação de um pomar, Madagáscar
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A preparação do solo e a manutenção regular das plantas jovens permitem
ao produtor obter árvores bem desenvolvidas e, consequentemente, uma
produção rápida e de boa qualidade.
Do mesmo modo, o recurso hídrico deve ser gerido de forma eficiente: as
árvores frutíferas precisam de água durante os períodos secos, especialmente
nos primeiros anos, mas são sensíveis às inundações prolongadas e ao
encharcamento dos solos.
 PARA IR MAIS LONGE
Plantação de citrinos e culturas hortícolas, Madagáscar
140
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Fichas: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção hortícola (criação
de um “bocage”) (p. 93) / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção
de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”) (p. 145)
Ficha: Viveiro em bolsas (p. 131)
Manutenção do pomar
Fruticultura
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Garantir o bom desenvolvimento das árvores e
1 / Os fundamentos
Os trabalhos de manutenção dos pomares devem
ser adaptados tanto à estação quanto à fase
de desenvolvimento das árvores, para garantir
uma produção durável de frutos em quantidade,
qualidade e regularidade.
Princípio
Os trabalhos de manutenção do pomar ajudam as árvores frutíferas a ter um bom desenvolvimento,
e ser vigorosas. Tornam as árvores menos sensíveis às pressões das pragas e das doenças e portanto,
garantem uma melhor produção de frutos.
Podemos distinguir 4 tipos de trabalhos de manutenção: a monda, a irrigação, a adubação e a poda.
Método
1-A monda
As infestantes (ervas daninhas) entram em concorrência com as plantações em termos de mobilização
da água e dos elementos nutritivos e constituem um abrigo propício à proliferação das pragas. Portanto,
podem provocar uma queda nos rendimentos e uma diminuição da qualidade dos produtos.
2 / Os sistemas de produção
A boa condução de uma plantação de árvores
frutíferas é uma garantia para ter uma boa
produção e uma longevidade importante do
pomar.
Uma monda regular deve ser realizada:
- debaixo das árvores: empalhar os camalhões e eliminar as infestantes que crescem através do empalhamento;
- entre as árvores (na ausência de cultura subjacente): cortar manual ou mecanicamente sem arrancar as
infestantes (manutenção de uma cobertura controlada).
consequentemente, uma produção regular de frutos
em quantidade e qualidade;
» Garantir a longevidade do pomar;
» Limitar a pressão fitossanitária;
» Limitar os encargos de exploração ligados aos
tratamentos fitossanitários.
Condições de implementação:
» Dispor das ferramentas necessárias à realização dos
Monda debaixo de oliveiras e palmeiras-tamareiras, Sul de Marrocos
 NOTA
3 / As práticas
trabalhos de manutenção (tesoura de poda, serra,
escada, enxada, pulverizador);
» Dispor de palhas, composto e estrume curtido;
» Dispor de látex para cicatrizar as feridas em caso de
poda.
Os resíduos da monda servem para empalhar as árvores e as culturas associadas ou são levados para
a composteira.
Se for escolhido manter o pomar relvado, preferir introduzir plantas de cobertura úteis à manutenção
da fertilidade dos solos, e que ao mesmo tempo servem para a realização do empalhamento (Arachis
pintoï, Stylosanthes, Brachiária, luzerna…).
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Manutenção do pomar
141
2-A irrigação
3-A adubação orgânica de manutenção
As árvores frutíferas têm necessidades importantes de água quando são jovens
e durante os períodos secos prolongados. Para satisfazer estas necessidades,
sem desperdiciar o recurso hídrico, é aconselhado:
- mondar e sachar para aumentar a infiltração da água no solo (exceto se
plantas de cobertura permanente forem implantadas);
- empalhar a base das árvores para conservar a humidade do solo;
- incorporar regularmente matéria orgânica (composto ou estrume curtido)
para melhorar a retenção de água no solo.
A adubação de manutenção é realizada em três períodos distintos: 2 meses
antes da floração, 15 dias depois da floração e 75 dias depois da floração.
Os tipos de adubos variam em função da idade das árvores:
- para as árvores jovens, fornecimento de composto, complementos azotados
e potássicos;
- para as árvores mais velhas, fornecimento de composto e complementos
fosfo-potássicos.
Em todos os casos:
- colocar o composto no solo em forma de círculo cujo
diâmetro é o mesmo que o da copa da árvore;
- realizar uma sacha para incorporar o composto no
solo e tornar a terra superficial debaixo da árvore
mais solta.
A frequência da rega para as plantas jovens varia conforme as estações:
- na estação seca, a irrigação é regular, 2 vezes por semana, mas poderá ser
reduzida a 1 vez por semana se o produtor aplicar as diferentes práticas acima
detalhadas;
- na estação chuvosa, uma irrigação de compensação é realizada se as chuvas
atrasarem.
Em todos os casos, é preciso assegurar-se que não haja estagnação prolongada de
água (superior a 3 horas) na base das árvores para evitar o apodrecimento do colo
e das raízes, e a limitação do desenvolvimento radicular. Por isso, uma manutenção
dos camalhões é aconselhada: empalhamento, criação de uma cova...
Para os pomares nas zonas temporariamente inundáveis ou hidromórficas,
plantar as árvores jovens encima de camalhões altos (40 a 50 cm) para
mantê-las fora da água.
 NOTA
A associação horticultura / fruticultura garante às árvores frutíferas uma
boa disponibilidade de água e de fertilizantes que são fornecidos às culturas
hortícolas.
É possível associar o uso de composto líquido para
regar o empalhamento na base das árvores.
4-A poda das árvores
O porte da árvore determina a sua produção. A poda, que determina o porte,
representa portanto uma operação necessária. É aconselhado dar à árvore um
porte arejado e uma copa larga em vez de denso e em altura. Em regra geral:
- desbastar as árvores para deixar penetrar a luz no centro dos ramos;
- retirar os ramos atacados;
- eliminar os ramos em excesso e os rebentos para limitar o consumo inútil
dos elementos nutritivos e reservá-los para a produção dos frutos;
- controlar o desenvolvimento aéreo da árvore para facilitar a colheita dos
frutos.
Poda das árvores jovens não embardadas (1 a 3 anos)
- Conservar 3 a 4 ramos a 60/80 cm de altura do
solo, selecionar os ramos que crescem para o
exterior (futuros ramos principais);
- Eliminar sistematicamente os brotos demasiado
baixos e os que crescem para o interior da copa;
- Se a planta for formada por um caule único, é necessário provocar o
Lemon grass debaixo de lichias
142
Abobrinhas debaixo de citrinos
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
desenvolvimento de ramos secundários cortando a extremidade do caule
no 2° ano depois da plantação.
- A poda de formação realiza-se nas árvores jovens e consiste em modelar o
seu aspeto, pode variar consoante o produtor desejar uma árvore de forma
livre, em vaso, arbustiva, embardada...
- A poda de manutenção mantém o porte definido pelas podas de formação,
enquanto permite fazer evoluir a árvore para o seu aspeto definitivo,
consiste simplesmente em suprimir os ramos doentes, mortos ou quebrados
para limitar a pressão parasitária.
 OBSERVAÇÕES:
Durante a poda, é necessário proteger as feridas mais importantes
aplicando um látex protetor. Cada ferida constitui um potencial ponto de
entrada de doenças que podem pôr em perigo a planta inteira.
1 / Os fundamentos
Diferentes tipos de poda existem conforme a fase de desenvolvimento das
árvores frutíferas.
As podas praticadas no momento das fases de dormências vegetativas (por
exemplo no inverno em Marrocos) provocam feridas que demoram mais
tempo para cicatrizar. Portanto, é preciso protegê-las através da aplicação
de látex.
- A poda de frutificação favorece a frutificação e portanto, desempenha um
2 / Os sistemas de produção
papel importante no desenvolvimento das árvores frutíferas e no controlo da
produção, esta poda deve ser realizada apenas nas árvores formadas e nunca
nas árvores jovens, não é sistemática, especialmente para as árvores com
desenvolvimento importante (chamados de forma livre).
- A poda de rejuvenescimento pratica-se quando as árvores ou os pomares
foram abandonados durante alguns anos, este tipo de poda « severa » consiste
em eliminar todos os ramos doentes e em desbastar a árvore eliminando
os ramos em excesso ou mal dispostos, paralelamente à uma poda de
rejuvenescimento, o solo deve ser trabalhado na base das árvores e uma
adubação importante deve ser efetuada.
Poda de frutificação
Aplicação de látex
Poda de rejuvenescimento, Marrocos
3 / As práticas
 NOTA
Numa dinâmica de produção frutífera, o desbaste dos frutos é uma prática
importante para garantir colheitas regulares, a produção de frutos sadios e
de calibre grande. Permite evitar uma sobreprodução de frutos de calibre
pequeno, limita a quebra dos ramos devido ao peso dos frutos, e evita os
ataques das doenças e das pragas nos frutos.
AS PRÁTICAS / Fruticultura / Manutenção do pomar
143
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Garante uma melhor proteção do pomar;
 Limita as pressões das pragas e doenças;
 Favorece a conservação da humidade, valoriza os fornecimentos de adubos
às culturas (reciclagem dos elementos lixiviados pelas árvores frutíferas) e a
manutenção do pomar graças à associação culturas subjacentes / árvores frutíferas;
 Requer um domínio da prática suficiente, especialmente para fazer a poda.
Económicas
 Garante uma melhor produção;
 Reduz os custos em produtos fitossanitários;
 Necessita uma adubação importante em matéria orgânica.
Ambientais
 Garante a perenidade dos pomares e portanto, mantém o papel da árvore
na paisagem a longo prazo;
 Limita a degradação dos solos (erosão, alteração da estrutura, lixiviação) graças
a uma cobertura permanente (pomares com solos enrelvados ou cultivados).
Amendoeiras, Sul de Marrocos
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Depois da plantação, a manutenção regular das plantas permite otimizar
o desenvolvimento das árvores e portanto, obter uma produção de boa
qualidade.
Uma poda bem feita (copa arejada, eliminação dos ramos parasitados ou
mortos...) limita os riscos de doenças e ataques de pragas. Tem um papel
determinante a nível do estado sanitário do pomar, assim como da futura
produção (precocidade, qualidade e quantidade).
É também importante manter uma cobertura permanente dos solos debaixo
dos pomares: enrelvamento regularmente cortado, associação com culturas
subjacentes ou plantas de cobertura.
 PARA IR MAIS LONGE
Pomar e culturas, Índia
144
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Composto líquido (p. 91)
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Ficha: Plantação de árvores frutíferas (p. 137)
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Criar um ambiente favorável às culturas (humidade,
»
»
»
»
sombra, diversidade);
Diversificar a produção;
Limitar os estragos causados pelo vento e/ou pelos
animais em divagação (sebes de proteção e quebraventos);
Reciclar os elementos minerais lixiviados;
Produzir biomassa valorizável na exploração agrícola.
1 / Os fundamentos
Princípio
A implantação de arbustos e árvores em forma de sebes vivas, ou de forma dispersa, permite criar um
“bocage” favorável ao desenvolvimento das culturas.
As sebes vivas e as árvores tem um efeito ao mesmo tempo:
- protetor: protegem as culturas dos estragos causados pelo vento e/ou pelos animais em divagação;
- regulador: pela sua sombra e pelo efeito de quebra-vento, participam na conservação da humidade
nos solos e de uma melhor higrometria na estação seca e na estação das chuvas, o seu sistema
radicular profundo permite uma subida das águas subterrâneas;
2 / Os sistemas de produção
A criação de um “bocage” é uma técnica de
agrofloresta que consiste em plantar arbustos e
árvores em volta e dentro das parcelas cultivadas
para criar um efeito de “bocage”. Segundo a sua
densidade, a sua disposição e a sua natureza, estes
limitam a insolação e o vento, o que favorece a
conservação da humidade no solo e a criação de
um microclima favorável às culturas. O sistema
radicular destas plantações permite a absorção
e a reciclagem dos elementos minerais que
migraram para as camadas profundas do solo. A
biomassa produzida pode também ser valorizada
para a fertilização orgânica e o empalhamento.
Plantação de sebes e árvores nos locais de
produção de culturas alimentares pluviais
(criação de um “bocage”)
- enriquecedor: graças à produção de biomassa, as árvores, e mais particularmente as leguminosas
(fornecimento de azoto), participam no ciclo da matéria orgânica de forma direta (decomposição da
cama das folhas) ou indireta (compostagem), ainda o seu sistema radicular permite a aeração do solo
(propriedades estruturantes das árvores tais como as acácias) e a reciclagem dos elementos minerais
lixiviados nas camadas profundas do solo;
- económico: quer sejam florestais ou frutíferas, os produtos e os subprodutos das árvores, podem
ser valorizados pelo autoconsumo ou pela sua comercialização (frutos, lenha ou madeira de
construção…).
A criação de um “bocage” permite um aumento significativo da produtividade dos espaços cultivados
(número de ciclos anuais, diversidade e associação de culturas) e permite uma intensificação durável
dos sistemas agrícolas sem colocar em perigo os recursos naturais mobilizados.
Zonas
Exemplos de espécies utilizáveis
Zona seca
Acacia senegal, Prosopis africana,
Parkinsonia aculeata, Calotropis procera,
Agave sisalana (sisal), Azadirachta indica
(ním), Jatropha curcas
Zona húmida
Crotalaria
grahamiana,
Cajanus
cajan, Acacia dealbata, Dodonaea
Madagáscariensis, Glyricidia sepium,
Leucaena leucocephala, Sesbania rostrata,
Tephrosia candida, Flemingia congesta,
Acacia mangium e auriculiformis
Condições de implementação:
» Ser proprietário do terreno e dispor de uma fonte de
água próxima;
» Dispor de plantas, estacas ou sementes, privilegiando
as variedades locais de qualidade;
» Dispor de ferramentas (pá ou enxada, material de
rega) e de materiais para a proteção das plantinhas.
“Bocage”, Sri Lanka
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”)
3 / As práticas
Culturas
alimentares pluviais
145
Método
A sebe quebra-vento
As sebes são alinhamentos de arbustos ou árvores em bordura de parcelas ou
como divisórias de parcelas com grandes dimensões.
Quebra-vento permeável
1-Os diferentes tipos de sebes
- A sebe quebra-vento é perpendicular ao vento dominante, serve para
Vento
“quebrar” os ventos dominantes para proteger as culturas.
Ex. de espécies: Jatropha, Acacia, Azadirachta (Ním), Parkinsonia,
Tephrosia... a ser plantadas em associação.
Um quebra-vento protege uma cultura atrás da sebe numa distância de
aproximadamente 10 a 20 vezes a sua altura (ou seja, 20 a 40 metros para
uma sebe de 2 metros de altura).
Não há danos a nível
das culturas
Quebra-vento impermeável
- A sebe de proteção é muitas vezes plantada em complemento de barreiras (arame
farpado, redes), é constituída por espinhosos ou espécies geralmente não apetecíveis
pelos animais em divagação e serve para impedir a entrada dos animais nas parcelas.
Ex. de espécies: Eufórbia, Acácia, Prosopis, Jujuba, Cacto, Sisal...
O quebra-vento é permeável
ao vento: o fluxo de ar que
atravessa a sebe protege as
culturas das rajadas que
passam por cima da sebe.
O quebra-vento é impermeável ao
vento: as rajadas passam por cima
da sebe e descem por trás em
turbilhões.
Vento
- A sebe de produção de biomassa é geralmente plantada na proximidade das
parcelas, é regularmente podada e os restos da poda servem para a fabricação
do composto ou a realização de empalhamento.
Ex. de espécies: Acacia mangium e auriculiformis, Tephrosia, Leucæna,
Flemingia...
- A sebe anti-erosiva é plantada a nível dos taludes ou dos diques e terraços,
permite fixar as obras, reter o solo e favorecer a infiltração da água.
Exemplo de plantação de sebes em terrenos inclinados:
40 a 50 m
Sebes vivas a
nível dos taludes
anti-erosivos
O número de plantas depende do tipo de árvores, da sua função e da poda
efetuada sobre as árvores.
 ALGUNS DADOS INDICATIVOS
 As sebes de proteção são plantadas em periferia das parcelas. As sebes de produção
Parcela
 NOTA
Um quebra-vento muito denso, impermeável, provoca danos sobre as
culturas (criação de turbilhões).
146
Cada tipo de sebe tem funções diferentes que podem ser complementares.
O produtor pode associar diferentes tipos de sebes e realizar uma sebe mista
« multi-função ».
2-O dimensionamento
40 a 50 m
1 m de
desnível
Danos a nível
das culturas
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
de biomassa são plantadas ao longo das parcelas de cultivo. Elas devem ser densas,
com 2 a 3 plantas por ml. Plantar as mudas à razão de 1 planta cada metro sobre 2
filas em quincôncio. Estas duas linhas devem ter um espaçamento de 0,8 m.
 Os quebra-ventos são plantados em linhas simples ou em filas duplas. O
espaçamento das árvores é geralmente mais elevado que para as sebes de
proteção (1 planta por m²). Quando tem uma fila dupla, plantar as linhas em
quincôncio com um espaço entre as linhas de 1,5 m.
 NOTA
As sebes podem ser instaladas:
- por sementeira direta (covas distantes de 50 cm a 1 m em função do uso da
sebe). Ex: Moringa, Acacia mangium e auriculiformis, Leucaena;
- por estaca (ex: Glyricidia);
- por transplantação.
As parcelas de cultivo pluvial não sendo irrigadas, é importante escolher
espécies frutíferas adaptadas às condições climáticas (resistência aos
períodos de seca).
4-A manutenção
- Replantar depois de um mês ou no inicio da estação chuvosa do ano seguinte.
A experiência demostra que um certo número de plantas morrem durante o
primeiro ano, é então necessário proceder à replantação.
- Podar as árvores em função do porte desejado para a planta:
5-As associações
Para além do simples fato de plantar sebes, o produtor pode tirar benefício
das complementaridades entre as culturas e as árvores. A densidade de
plantação das árvores não deverá prejudicar as culturas.
As árvores aproveitam da fertilização fornecida às culturas subjacentes, de
uma humidade constante graças à irrigação, à monda regular dos canteiros
e da sacha do solo (manutenção). As culturas subjacentes aproveitam dos
efeitos reguladores e fertilizador das árvores: sombra, cama de folhas,
reciclagem da água e dos elementos lixiviados.
2 / Os sistemas de produção
As sebes são implantadas no início da estação chuvosa (depois de uma boa chuva),
para permitir um bom desenvolvimento da planta antes do período seco.
Para as plantas transplantadas:
- Abrir buracos cerca de 30 cm x 30 cm x 30 cm (em função do desenvolvimento
futuro da planta);
- Plantar a planta guardando o colo a nível do solo. Em zona seca, deixar
uma cova que permite a recolha das águas de chuva e a conservação da
humidade no solo. Em zona húmida, plantar com camalhão (cova em cima
do camalhão);
- Regar, em caso de fraca pluviometria, é necessário fornecer água pelo
menos uma vez por semana (2 vezes durante as primeiras semanas). Desta
forma, as plantas serão capazes de resistir a seca;
- Proteger as plantinhas que não estão ao abrigo dos animais em divagação
(ramos, redes, esteiras…).
1 / Os fundamentos
3-A instalação das sebes e dos quebra-ventos
- Associação fruticultura e culturas anuais ou semi-perenes: as árvores
frutíferas ou as filas de árvores são instaladas com espaçamentos que
permitem a prática de culturas intercalares. As culturas hortícolas e frutícolas
indicadas são o amendoim, a batata doce, a bananeira e o ananás...
Regras da associação:
- Deixar um espaço suficiente entre as culturas intercalares e filas de árvores;
- Implantar filas de árvores de leste para oeste (insolação das culturas);
- Aumentar os espaçamentos das filas de árvores em relação a um pomar
sem associação de culturas, se a associação for prolongada a longo prazo;
Trabalhos de poda
Sebe viva de
proteção
Arbustivo
Cortar regularmente as plantas a 1,2 – 1,5 m
de altura
Quebra-vento de
proteção
Grande
Cortar os ramos em excesso para preservar
uma permeabilidade ao vento de 40%
(apreciação visual)
Sebe de produção
de biomassa
Arbustivo
Cortar regularmente as plantas a 1 1,2 m de
altura
As podas de manutenção são geralmente realizadas no início da estação
chuvosa. Mas para a produção de biomassa e a proteção do sítio, é necessário
realizar podas regulares em função do desenvolvimento da sebe.
- Agrofloresta: termo genérico para qualificar as associações entre árvores,
arbustos e culturas associadas. As árvores e arbustos podem ser implantados
em volta da parcela (divisória) ou em linha preservando faixas de culturas.
Nos solos inclinados, as linhas de plantação das árvores seguem as curvas
de nível. A largura aconselhada das faixas de culturas é no mínimo de 10
metros.
Regras da associação:
- Não plantar árvores de forma muito densa e preferir espécies com sistema
3 / As práticas
Tipos de sebes
Porte
caraterístico
radicular pivotante: Acacia, Leucaena...;
- Podar para não perturbar as culturas (sombra) ou as operações culturais
(raízes e ramos). Os resíduos da poda podem servir de lenha, de tutores…;
- Implantar as linhas de árvores de leste para oeste (insolação das culturas).
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas alimentares pluviais (criação de um “bocage”)
147
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Conserva a água no solo e protege a planta (reduz a evapotranspiração);
 Protege contra o vento e os animais;
 Fornece matéria vegetal para o empalhamento ou o composto;
 Cria um microclima propício às culturas;
 Permite a reciclagem dos minerais lixiviados;
 Favorece a aeração e melhora a vida microbiana do solo;
 Requer um tempo de implementação relativamente longo (1 a 2 estações);
 Requer uma manutenção regular;
 Prática consumidora de espaço;
 Necessita de ser proprietário fundiário.
Económicas
Cultivo em faixas, Gabão
 Limita a renovação das cercas e as degradações dos animais (sebes vivas de
proteção);
 Fornece recursos variados (frutos, madeira, biopesticidas...);
 Permite o alongamento dos períodos de cultivo e melhora os rendimentos;
 Permite economias de rega (pela redução da evapotranspiração);
 Representa um custo se as plantas devem ser compradas;
 Requer uma mão-de-obra importante (plantação, rega das plantinhas, poda).
Ambientais
 Restaura a cobertura vegetal;
 Protege contra a erosão hídrica e eólica;
 Limita os cortes abusivos de árvores;
 Melhora a biodiversidade (fauna e flora).
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A plantação de árvores e sebes vivas nas parcelas melhora nitidamente
as condições de cultivo (melhoria dos solos, reciclagem da água e dos
elementos minerais, micro-clima favorável) e permite uma diversificação
das produções (madeira, frutos…).
Depois da sua plantação, a proteção e a rega de compensação permitem
as plantinhas fixarem no solo rapidamente e duravelmente. É necessário
cuidar destas árvores para que possam garantir as suas funções: proteção
das culturas, fornecimento de biomassa…
As árvores frutíferas aproveitam dos cuidados fornecidos pelo produtor às
culturas subjacentes. No entanto, é necessário organizar o espaço para
garantir que com o tempo, as árvores não entrem em concorrência com as
culturas pluviais.
A associação entre culturas pluviais e árvores frutíferas permite uma melhor
valorização da parcela.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Viveiro em bolsas (p. 131)
Ficha: Plantação de árvores frutíferas (p. 137)
Parcela de ananás protegida por árvores, Sri Lanka
148
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Manutenção do pomar (p. 141)
Culturas
alimentares pluviais
Esta prática limita a erosão repartindo o escoamento,
reduzindo a sua velocidade e favorecendo a
infiltração da água no solo.
Ela foi implementada essencialmente no quadro
dos programas da AGRISUD em Madagáscar e em
República Democrática do Congo.
Efeitos:
Solo
Agua
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Lutar contra a erosão dos solos inclinados;
» Melhorar a infiltração da água nos solos e diminuir a
velocidade dos escoamentos superficiais;
» Melhorar as condições de cultivo e então, os
rendimentos.
1 / Os fundamentos
É então necessário saber traçar curvas de nível
para fazer as sementeiras e as plantações seguindo
as curvas de nível em terrenos pouco inclinados.
Princípio
Nos locais com fraco declive, inferior a 10%, o cultivo em curvas de nível é aconselhável para favorecer
a infiltração da água nos solos e limitar os efeitos do escoamento superficial (arrastamento da
camada superior do solo e tranporte para as zonas baixas e os vales, criação de ravinas).
A prática consiste em realizar trabalhos culturais e a sementeira, não no sentido da inclinação, mas ao
longo de curvas de nível previamente traçadas. Em terrenos com declive superior a 10%, os trabalhos
culturais em curvas de nível devem ser associados como outras medidas (cf. Ficha: Culturas em
terraços p 153).
Método
A curva de nível é uma linha imaginária ou materializada segundo uma altitude constante: ela é
horizontal . O traçado de uma curva de nível necessita de um instrumento chamado “nível”. Quando
não é possivel fazer intervir um topógrafo, o triângulo em A, fácíl de confecionar, pode ser utilizado.
Revisão sobre o « triângulo em A »:
- O A é simétrico;
- X1 = X2 = 2 m;
x1
x2
- Y1 = Y2 = 1 m;
- O fio de prumo indica a medida do
Fio de prumo
desnível entre os dois pés do A;
Graduação
30 20 10 0 10 20 30
- A graduação deve ser escalonada
em função do espaçamento dos pés
Y1
Y2
do « A ».
2 / Os sistemas de produção
Os problemas de erosão encontrados nos terrenos
inclinados são principalmente devidos aos
escoamentos de água nos terrenos nus. Trabalhando
o solo e implantando as culturas no sentido da
inclinação, o agricultor aumenta o fenômeno.
Cultivo em curvas de nível
- A graduação:
30CM
25CM
20CM
15CM
10CM
5CM
0
5CM
10CM
15CM
20CM
25CM
30CM
Condições de implementação:
superior a 10%;
Encostas cultivadas
Vale rizícola
3 / As práticas
» Dispor de um terreno em que a inclinação não seja
» Dispor de um triângulo em A e estacas;
» Dispor de sementes ou estacas prontas a serem
plantadas;
» Dispor de composto ou de estrume curtido.
Zonas de cultivo, Madagáscar
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Cultivo em curvas de nível
149
1-O traçado de uma curva de nível
2-A instalação das culturas em curvas de nível
Antes de realizar o traçado, é importante garantir que o declive do terreno seja
inferior a 10%.
- Desbravar a parcela a ser instalada, reservando a camada superior do solo e
eventualmente as espécies vegetais raras;
- Na parte superior da parcela, traçar uma primeira curva plantando estacas nos
pontos com mesma altitude (se a parcela for muito grande, marcar somente 1
ponto em cada 2 ou 3 pontos). Estes pontos são obtidos com a ajuda do nível,
fazendo sucessivamente pivotar uma perna sobre a outra como o esquema em
baixo indicado. O fio de prumo indica o ponto de horizontalidade do nível.
- Uma vez a primeira linha traçada, medir 1 m de desnível no sentido do
declive e recomeçar o traçado das curvas de 1 em 1 m, e isso até a parte
inferior da parcela (se a parcela tiver uma fraca inclinação, <5%, desenhar as
curvas de 0,5 em 0,5 m de desnível).
30 20
10 0 10
30
20 30
10 20
10 0
30 20
Sentido
da vertente
Uma vez as curvas de nível implantadas perpendicularmente à inclinação:
- Colocar-se entre duas curvas de nível e abrir sulcos paralelos a estas “curvas
mestras” (elas servem para guardar o alinhamento). Os espaçamentos
entre os sulcos correspondem aos espaçamentos clássicos entre linhas para
sementeiras ou plantações em terrenos não inclinados;
- realizar as sementeiras em covas com fornecimento de matéria orgânica e
colocar as covas em quincôncio conservando os espaçamentos clássicos entre
filas e entre plantas de uma mesma fila em terrenos não inclinados;
- ou efetuar a sementeira em linha depois de ter colocado a matéria organica
nos sulcos;
- em caso de implantação de estacas (mandioca por exemplo), respeitar os
espaçamentos utilizados em terrenos não inclinados.
Curvas mestras
1 m de desnível
Sulcos de
sementeira
ou plantação
1 m de desnível
Sentido
da vertente
 NOTA
A irregularidade do terreno pode provocar uma irregularidade muito
importante da curva de nível que deve ser corrigida tomando em conta o
aspeto geral. Sem esta correção, as operações culturais serão mais difíceis e
sobretudo, os escoamentos superficiais que devem ser reduzidos pelas obras
anti-erosivas serão mal repartidos.
Linha definitiva
depois da correção
150
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Estacas
Ilustração da traçagem de curvas de nível, RD do Congo
Ilustração de más e boas praticas em Madagáscar:
Erosão dos solos
Ravinas
Culturas no sentido da inclinação
1 / Os fundamentos
Valas mal posicionadas
Culturas em curvas de nível
Vantagens e desvantagens
2 / Os sistemas de produção
Técnicas
 Prática simples de ser aplicada (construção e utilização fácil do nível em A);
 Representa um trabalho às vezes difícil para os produtores que não têm
o hábito;
 Prática que não pode ser utilizada para os solos em que o declive é superior
a 10%.
Colonização de encostas sem adoção de boas práticas em Madagáscar
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Económicas
 Tem um fraco custo de realização;
 Preserva o potencial produtivo do solo.
Ambientais
 Luta contra a erosão do solo com fraco declive;
 Contribui para a preservação a longo prazo do recurso “solo”;
 Luta contra o assoreamento das zonas baixas.
Os produtores têm tendência em semear no sentido da inclinação e
construir canais de evacuação das águas paralelos à inclinação. Estas
práticas aumentam os fenônemos da erosão e ameaçam o potencial
agrícola dos terrenos, incluindo os com fraco declive.
Para lutar contra a erosão dos solos pouco inclinados (<10%), é importante
instalar as culturas perpendicularmente ao sentido da inclinação,
alinhando-se sobre as curvas de nível previamente implantadas.
Para os terrenos com maior declive, as curvas de nível servirão para a
construção dos terraços de culturas.
 PARA IR MAIS LONGE
3 / As práticas
Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Ficha: Culturas em terraços (p. 153)
Culturas em curvas de nível, RD do Congo
Ficha: Plantação de sebes e árvores nos locais de produção de culturas
alimentares pluviais (criação de um “bocage”) (p. 145)
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Cultivo em curvas de nível
151
152
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Culturas
alimentares pluviais
A construção de terraços limita a erosão repartindo o
escoamento, reduzindo a velocidade e favorecendo a
infiltração da água no solo.
Esta prática foi essencialmente implementada no
quadro dos programas da AGRISUD em Madagáscar,
na Índia, no Sri Lanka e em RD do Congo.
1 / Os fundamentos
Nos terrenos com forte declive (>10% e <25%),
estes problemas de erosão são principalmente
devidos aos escoamentos superficiais da água.
Princípio
A prática consiste em construir taludes ao longo das curvas de nível (cf. Ficha: Cultivo em curvas de
nível p. 149).
A erosão progressiva das encostas, retida pelo sistema de taludes, e a sua alteração progressiva pelo
trabalho do solo, deve conduzir à formação de terraços. Com o tempo estes terraços permitem limitar
os riscos de erosão do solo.
1. Traçagem das curvas de nível
com intervalo de 1 m de desnível
2. Construção
vegetalização
dos
taludes
e
3. Diminuição progressiva do
declive com os trabalhos culturais
2 / Os sistemas de produção
Na valorização de um terreno inclinado, o
produtor deve garantir a perenidade da sua
atividade tomando em conta o risco da erosão do
solo.
Culturas em terraços
1m
1m
Efeitos:
Solo
Agua
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Limitar a erosão das parcelas inclinadas;
» Preservar a qualidade do solo;
» Limitar os riscos de destruição das culturas.
Condições de implementação:
» Dispor de um terreno em que o declive esteja entre
Terraços de culturas pluviais
3 / As práticas
10 e 25%;
» Ter materializado previamente as curvas de nível
com um intervalo de 1 m de desnível;
» Dispor de um arado ou de uma ferramenta
equivalente;
» Dispor de material vegetal de fixação pronto para a
implantação (Pennisetum, Vetiver, Tephrosia, Cassia…).
Zonas de cultivo, Madagáscar
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Culturas em terraços
153
Método
 NOTA
1-A instalação dos taludes
Enquanto o desenvolvimento das plantas fixadoras não permite uma
estabilização efetiva do talude e uma boa infiltração das águas de
escoamento, a realização de valas de dissipação a jusante do talude,
permite recuperar a água e a terra carregada nas valas e de repartir de novo
as águas de escoamento.
Confeção das valas de dissipação: na base do talude e em função da curva
de nível, cavar uma vala de dissipação de 50 cm de largura x 30 cm de
profundidade.
- Criar linhas de paragem de lavoura elevando camalhões segundo as curvas de
nível materializadas pelas estacas. A constituição dos camalhões faz-se em 2
etapas:
- montagem grosseira dos camalhões com arado;
- acabamento manual estando sempre atento em fazer subir a terra da
jusante para a montante (constituição de pequenos taludes).
- Vegetalizar os taludes com plantas “fixadoras”. As plantas usuais são
Sentido da vertente e dos escoamentos superficiais
Talude ao longo
das curvas de nível
Vegetalização
m
geralmente gramíneas vivazes com enraizamento robusto e profundo (Vetiver,
Brachiaria, Pennisetum...) ou arbustos muito densos (Tephrosia, Flemingia,
Leucæna, Cassia…):
- preparar o material vegetal (quebra da dormência para as sementes,
preparação das moitas de vetiver, preparação das estacas de Pennisetum…);
- instalar as plantas fixadoras a nível dos taludes.
Vetiver
Métodos de plantação
Em quincôncio a 20 cm x 20 cm
Brachiária
Sementeira em dupla linha: espaçamento entre linhas de 20 cm,
entre plantas de 5 cm
Pennisetum
Uma linha de cada lado do camalhão: espaçamento de 50 cm na linha
Leguminosas
arbustivas
Sementeira em linha sobre o camalhão: 5 cm sobre a linha
Vala de dissipação
acompanhando
as curvas de nível
0,3
Espécies
2m
0,5m
2-A constituição dos terraços
- Efetuar uma lavoura pouco profunda pouco tempo antes da estação das
chuvas seguindo as curvas de nível;
- Revolver a terra para a jusante de forma a reduzir progressivamente a
inclinação ao longo das lavouras sucessivas. Para isto, utilizar de preferência
um arado reversível;
- Limitar a lavoura a 20 cm da vala de dissipação do talude situada na montante.
Planta de vetiver
154
Cultura de batata comum - Kivu do Norte
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Terraços e plantação de vetiver
Vantagens e desvantagens
Esquematização da realização de uma lavoura em terreno inclinado:
Técnicas
 Técnica simples de aplicar;
Talude
1 / Os fundamentos
m
 Realizável com materiais disponíveis localmente;
0,3
 Necessita tempo (confeção progressiva dos terraços).
2m
0,5m
Económicas
Vala de dissipação
Sentido da progressão
do trabalho da lavoura:
de baixo para cima
 Aumenta a permanência das culturas em zonas inclinadas;
Sentido da
inclinação
Sentido da lavoura
 Mobiliza uma mão-de-obra importante para a traçagem das curvas de nível
e a construção dos taludes.
Ambientais
 Reduz a erosão dos solos nas parcelas com forte inclinação;
 Melhora a infiltração da água no solo (recarga do lençol freático).
2 / Os sistemas de produção
m
Terra despejada para jusante
0,3
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
2m
0,5m
 NOTA
As obras segundo o grau de inclinação
A construção dos taludes e dos terraços permite limitar a erosão dos solos
inclinados. Permite a exploração durável dos terrenos agrícolas com fortes
inclinações.
Nesta prática, é primordial fixar os taludes vegetalizando-os e trabalhar
paralelamente às curvas de nível.
Para preparar encostas com inclinação
de 10 a 15%, podem ser planeados
terraços vegetalizados.
Para os terrenos com forte inclinação
(>15%), o método é o mesmo mas
trata-se de terraços planos onde:
- os taludes que se transformam depois
- o grau da inclinação obriga a nivelar imediatamente os terraços por
escavação e enchimento.
Esta técnica de preparação de terrenos com forte inclinação é exigente
em mão-de-obra.
Zona de culturas em terraços, Madagáscar
3 / As práticas
em terraços, ficam solidamente
estabilizados por paredes de pedra
seca ou por barreiras vegetais e
plantações de arbustos;
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Cultivo em curvas de nível (p. 149)
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Culturas em terraços
155
156
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Princípio
Os SCV reúnem o conjunto dos sistemas de cultivo baseados no princípio fundamental de cobertura
permanente do solo. A prática tem um objetivo duplo de proteção e de fertilização.
A zona tropical húmida é, basicamente, um meio
frágil e rapidamente degradável se os modos de
cultivo não forem adaptados, os SCV oferecem
uma alternativa concreta a uma agricultura de
corte e queima.
Esta prática foi principalmente implementada no
âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em
menor escala, em Madagáscar e no Laos.
Na superfície do solo
- Proteção contra erosão hídrica e eólica;
- Alimentação das culturas por mineralização;
- Controlo das infestantes;
Ca, Mg,
K, P...
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Camas
Objetivos:
» Limitar a erosão e proteger a estrutura do solo;
» Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem
dos elementos minerais;
» Melhorar as condições de cultivo e por consequente,
os rendimentos;
» Controlar a infestação das parcelas de cultivo pelas
ervas daninhas.
1 / Os fundamentos
Os Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal
(SCV) consistem em reproduzir os ecossistemas
florestais, onde a produção de cama protege e
fertiliza o solo de forma permanente.
Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal
(SCV)
- Redução da evaporação e regulação térmica.
Papel da
cobertura
vegetal do
solo
2 / Os sistemas de produção
Culturas
alimentares pluviais
Dentro do solo
- Conservação da estrutura do solo;
- Desenvolvimento da vida biológica;
- Reciclagem dos elementos minerais;
- Melhoria da fertilidade do solo pela produção de húmus.
Mineralização
Ca, Mg, K, P...
A cobertura vegetal pode ser um mulch morto (palhas provenientes de fora da parcela ou da destruição
in loco de uma planta de cobertura) ou uma planta viva (planta de cobertura) associada com a cultura
principal.
Condições de implementação:
» Dispor de uma biomassa importante, cultivada e/
Exemplos de plantas produtoras de biomassa:
- Brachiária, Mucuna, Stylosanthes, Puerária;
- Leguminosas.
Malagueta empalhada com palhas
provenientes de outra parcela
Taro sobre cobertura morta
3 / As práticas
ou importada: resíduos de monda e outras plantas
silvestres, palhas de cereais, folhas de árvores…
Bananeiras sobre cobertura
viva de Brachiária
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV)
157
Método
Vantagens e desvantagens
A prática do SCV é diferente conforme os sistemas de cultivo e em função da
proveniência e do período de produção da cobertura vegetal.
Técnicas
Assim sendo, em todos os casos:
- o solo deve sempre ser coberto;
- o solo não deve ser trabalhado, nem lavrado, ou então minimamente;
- a sementeira, a transplantação ou as plantações são efetuadas diretamente
dentro da cobertura vegetal, morta ou viva.
Cinco sistemas podem ser identificados:
- SCV sobre resíduos de colheita e infestantes: a cobertura vegetal é apenas
garantida pelos resíduos de colheita e infestantes que cresceram durante o
inter-cultivo;
- SCV sobre cobertura morta importada: o solo é coberto por palha proveniente
de parcelas vizinhas;
- SCV sobre cobertura morta produzida in loco: a cobertura morta é produzida
em sucessão antes ou depois da cultura principal, por exemplo, cultura de
milho sobre Mucuna;
- SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas: na mesma parcela,
alternam faixas mortas e faixas vivas, as faixas vivas são cortadas e a palha é
espalhada sobre as faixas mortas. Por exemplo, plantação de bananeiras sobre
faixas mortas alternadas com faixas vivas de Brachiária;
- SCV sobre cobertura viva permanente: a planta de cobertura e a cultura
principal são conduzidas em associação na mesma parcela. Por exemplo,
cultura de palmeiras de óleo ou de heveas sobre Puerária.
 Protege o solo e limita as infestantes (diminuição do caráter penoso do




trabalho);
Mantém e melhora a fertilidade do solo, garante rendimentos a longo prazo;
Melhora a alimentação hídrica da planta;
Permite uma flexibilidade nos calendários de trabalho;
Apresenta uma dificuldade para controlar mecanicamente a cobertura
vegetal sobre grandes extensões de terrenos em zona quente e húmida.
Económicas
 Estabiliza e mantém a produção;
 Diminui os custos de produção e aumenta de forma durável os resultados
económicos;
 Necessita um investimento para a instalação e, eventualmente, o controlo
das plantas de cobertura.
Ambientais




Reduz os fenômenos de erosão dos solos;
Favorece a fixação do carbono;
Reduz a desflorestação limitando as práticas de corte e queima;
Provoca um risco de poluição da água e do solo em caso de utilização de
herbicidas (o uso de herbicidas naturais está atualmente em fase de pesquisa).
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Os SCV permitem manter e melhorar a produção enquanto protegem o solo,
mas a sua implantação requer um investimento adicional em relação aos
sistemas ditos « convencionais ».
Nestes sistemas, a produção de uma biomassa importante é fundamental. É
necessário assegurar-se que o produtor tenha acesso a um ambiente que o
permita produzir.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Plantas de cobertura (p. 159)
Ficha: SCV sobre cobertura morta (p. 169)
Ficha: SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas (p. 165)
Mandioca sobre Brachiária
158
Amendoim sobre Mucuna
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Culturas
alimentares pluviais
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Limitar a erosão e proteger a estrutura do solo;
» Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem
dos elementos minerais;
» Melhorar as condições de cultivo e por conseguinte,
os rendimentos;
» Controlar a infestação das parcelas por ervas
daninhas.
1 / Os fundamentos
Princípio
As plantas de cobertura são plantas capazes de produzir uma quantidade importante de biomassa e
que dispõem de um sistema radicular capaz de estruturar o solo na profundidade. Conforme as suas
especificidades, as plantas de cobertura podem apresentar diferentes interesses: fornecimento de
azoto, utilização para a alimentação do gado…
Portanto, a escolha das plantas de cobertura não é aleatória.
A Brachiária, o Stylosanthes, a Mucuna ou a Puerária são as principais plantas de cobertura utilizadas
nos SCV.
Método
2 / Os sistemas de produção
Os Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal
(SCV) baseam-se no princípio fundamental de
cobertura permanente do solo. Esta cobertura
pode ser garantida pelas plantas de cobertura,
utilizadas mortas (palhas cortadas fora da parcela
ou empalhamento proveniente da destruição
in loco de uma planta de cobertura) ou vivas,
associadas com a cultura principal.
A escolha da planta de cobertura não é aleatória. É
necessário conhecer as caraterísticas das principais
plantas de cobertura para poder controlar a sua
implantação e a sua gestão ao longo do tempo.
As caraterísticas das plantas apresentadas nesta
ficha provêm dos dados obtidos no âmbito dos
programas AGRISUD no Gabão e, em menor escala,
em Madagáscar.
Plantas de cobertura
1–A escolha das plantas de cobertura
Na escolha das plantas de cobertura devem ser tomados em conta os seguintes elementos determinantes:
- as caraterísticas dos solos (pobres ou ricos, compactados ou não);
- as caraterísticas da cultura principal: por exemplo, a sua exigência em matéria orgânica (se a
cultura for exigente em matéria orgânica, uma planta de cobertura capaz de produzir biomassa
rapidamente e em quantidade suficiente será escolhida);
- as caraterísticas da planta de cobertura em sí: ciclo anual ou plurianual, capacidade de reproduzir
sozinha ou assistida, período de produção de sementes, necessidade do uso de herbicidas em caso de
eliminação da planta e velocidade de decomposição da sua biomassa;
- o SCV escolhido.
 NOTA
É necessário desbravar o terreno e realizar uma monda manual das infestantes 2 dias antes da
sementeira das plantas de cobertura.
instalar sistemas SCV com uma duração prevista de
2 a 3 anos;
» Ter previamente preparado o terreno (desbravamento,
monda);
» Conhecer as principais caraterísticas das plantas de
cobertura e os princípios das associações de culturas.
Brachiária
Stylosanthes
Mucuna
3 / As práticas
Condições de implementação:
» Dispor de um terreno de tamanho suficiente para
Puerária
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantas de cobertura
159
2-A Brachiaria ruziziensis
Programação da cobertura
Tratamento das sementes e das estacas
 Planta com forte potencial para restaurar a
- Humedecer as sementes dentro de uma solução de nitrato de potássio (solução
fertilidade do solo e para reestruturar um solo
degradado.
Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in loco
ou de um sistema sobre cobertura permanente com faixas alternadas:
Vantagens

Desenvolvimento
rápido (3 a 4 meses)

Forte produção de biomassa aérea e
subterrânea (20 t de matéria seca aérea
por ha e por ano)

Fornecimento de azoto médio para a
cultura principal (50 a 80 kg por ha)

Sistema radicular poderoso capaz
de restaurar a macroporosidade,
permitindo recuperar os elementos
nutritivos lixiviados na profundidade e
recarregar o solo em carbono

Boa capacidade em conectar-se à água
capilária profunda na época seca

Forte limitação da erosão dos solos,
uma vez a cobertura bem instalada
(depois de 4 meses)

Planta perene facilitando a gestão da
data de ré-início do cultivo assim como
a data da sua implantação

Ausência de risco de proliferação das
sementes não fértis

Instalação fácil como cultura intercalar
do milho

Controlo prolongado das infestantes
graças
à
sua
velocidade
de
decomposição lenta

Controla a imperata e as Ciperáceas
160
- Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de precipitações, e o mais cedo possível
A Brachiária é uma gramínea muita folhosa,
estolonífera, de porte ereto e perene, que se
adapta aos solos compactados, pobres e ácidos.
É utilizada como planta de cobertura de média e
longa duração, como empalhamento ou alimento
para o gado.
Constrangimentos

Dificuldade
para produzir a semente
de
fornecer
um
complemento de azoto no início do
ciclo da cultura principal (relação C/N
elevado)

Não há fixação de azoto simbiótico
como é o caso com as leguminosas

Taxa fraca de germinação (inferior a 30%)

Tratamento obrigatório das sementes

Destruição total difícil por via mecânica
(uso de herbicida)

Necessidade
Mandioca sobre cobertura
morta de Brachiária
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
para obter um ciclo de 7 a 12 meses e beneficiar de uma biomassa importante;
- Cultura intercalar: no mesmo momento da sementeira do milho (pluviometria
limitada) ou 30 dias depois (melhor pluviometria), 60 dias depois da sementeira
do quiabo, semear imediatamente depois de uma monda.
a 2%) durante 24 horas e depois secar;
- Untar as estacas com uma mistura de argila e fósforo (solução a 1,5%).
Implantação da cobertura
Sementeira:
- Cultura isolada: covas distantes de 40 cm x 40 cm;
- Cultura intercalar: 2 linhas (como para a cultura isolada) entre 2 linhas de cultura.
Para 1 ha, utilizar 3 a 6 kg de sementes, à razão de 8 a 15 sementes por cova (em
função do tratamento ou não das sementes), profundidade da sementeira: 1 a 2 cm.
Dez dias depois da sementeira, ressemear as covas onde não houve emergência.
Propagação por estaca:
Espaçamentos idênticos à sementeira, 2 estacas com 3 nós por cova (2 nós
enterrados) ou 2 pedaços de moita com 2 perfilhos por cova, para 1 ha, é
necessário 125.000 estacas ou pedaços. Plantar novas estacas 15 a 20 dias
depois da plantação inicial para substituir as estacas que não pegaram.
Manutenção da cobertura
Uma monda é aconselhável durante o primeiro mês.
Milho sobre cobertura morta de Brachiária
produzida in loco
Malagueta sobre cobertura permanente em
faixas alternadas de Brachiária
fertilidade do solo e para reestruturar um
solo degradado.
Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in
loco ou de um sistema sobre cobertura permanente com faixas alternadas:
Vantagens

Implantação
com sementes ou estacas

Fornecimento importante de azoto para a
cultura principal (100 a 150 kg / ha)
perene facilitando a gestão da
data de reinício do cultivo, assim como
das datas da sua implantação

Sistema radicular poderoso capaz
de restaurar a macro-porosidade,
permitindo recuperar os elementos
nutritivos lixiviados na profundidade e
recarregar o solo em carbono

Excelente adaptação às plantas com
tubérculos, graças ao seu sistema radicular
criando uma forte macroporosidade

Boa capacidade em conectar-se à água
capilária profunda na época seca

Tolerante à seca, permanece verde
durante os 4 meses da época seca

Controlo prolongado de infestantes
(velocidade de decomposição lenta)

Bom controlo da erosão quando apresenta
uma cobertura bem instalada (4 meses)

Destruição sem herbicida por corte
próximo ao solo

Planta
Constrangimentos

Instalação
difícil com um crescimento
lento no início do ciclo (4 a 6 meses
para a sua instalação)

Tempo de monda importante durante a
fase de instalação

Fraca taxa de germinação (< 30%)

Tratamento obrigatório das sementes

Prazo de conservação das sementes
limitado a 1 ano

Produção de biomassa aérea e
subterrânea média (10 t de matéria
seca aérea por ha e por ano)

Forte sensibilidade à antracnose,
escolha de cultivares resistentes

Produção limitada nos solos argilosos

Medianamente tolerante à humidade

Em sistemas de corte intensivo,
lignificação importante dos perfilhos e
limitação da duração de vida até 3 ou
4 anos
1 / Os fundamentos
 Planta com forte potencial para restaurar a
Tratamento das sementes e das estacas
- Humedecer as sementes 30 min dentro de água a 70°C, depois deixar
escorrer e semear;
- Untar as estacas com uma mistura de argila e fósforo (fosfato natural, solução
a 1,5 %).
Implantação da cobertura
Sementeira:
- Cultura isolada: covas distantes de 40 cm x 40 cm;
- Cultura intercalar: 2 linhas (como para a cultura isolada) entre 2 linhas de
cultura.
Para 1 ha, utilizar 1,5 a 3 kg de sementes, à razão de 5 a 10 sementes por cova (em
função do tratamento ou não das sementes), profundidade da sementeira: 1 cm.
Dez dias depois da sementeira, ressemear as covas onde não houve emergência.
2 / Os sistemas de produção
O Stylosanthes é uma leguminosa perene, de
porte ereto ou semi-rasteira e lignificada na
base, que se adapta aos solos não argilosos
difíceis de cultivar (compactados, pobres e
ácidos). É utilizado como planta de cobertura
de média e longa duração, como empalhamento
ou como alimento para a gado.
Programação da cobertura
- Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de precipitações, o mais cedo possível
para obter um ciclo de 7 a 12 meses e beneficiar de uma biomassa importante;
- Cultura intercalar: no mesmo momento da sementeira do milho (pluviometria
limitada) ou 30 dias depois (melhor pluviometria), 60 dias depois da sementeira
do quiabo, semear imediatamente depois de uma monda.
Propagação por estaca:
Espaçamentos idênticos à sementeira, 4 estacas com 4 a 5 nós por cova (2 nós
enterrados). Para 1 ha, utilizar 250.000 estacas em cultura isolada e 165.000
em cultura intercalar. Plantar de novo 15 a 20 dias depois da plantação inicial
para substituir as estacas que não pegaram.
Manutenção da cobertura
2 a 3 mondas durante a primeira fase da instalação.
3 / As práticas
3-O Stylosanthes
Mandioca sobre cobertura permanente em faixas alternadas de Stylosanthes
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantas de cobertura
161
4-A Mucuna cochinchinensis
Programação da cobertura
A Mucuna é uma leguminosa anual (ciclo de 6 a 7
meses), rasteira e volúvel que necessita de solos
com fertilidade média, bem drenados e pouco
compactados. É recomendada como planta de
cobertura de curta duração.
 Planta com forte potencial para manter
a fertilidade do meio e para restaurar a
fertilidade de um solo « esgotado ».
Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in loco
ou de um sistema sobre cobertura permanente em faixas alternadas:
Vantagens

Fornecimento
importante de azoto para a
cultura principal (150 a 200 kg / ha)

Bom controlo da erosão graças à
cobertura rápida do solo

Cultura anual que pode ser conduzida
sem intervenção para a criação da
cobertura morta

Bem adaptada a todas as culturas em SCV
sobre cobertura morta

Produção de sementes importante e fácil

Poder germinativo elevado

Nenhum tratamento das sementes antes
da sementeira

Bom controlo das infestantes durante
a sua instalação e, se a biomassa for
suficiente, durante a fase crítica de
arranque das culturas

Instalação fácil como cultura intercalar
do milho

Controlo por corte, necessita uma
dose limitada de herbicida em caso de
necessidade de parar o ciclo

Armadilha para nematodos

Luta contra a imperata
162
Constrangimentos

Planta
trepadeira que pode sufocar as
culturas na ausência de controlo

Desenvolvimento reduzido em solo
compactado e com baixa fertilidade

Ciclo longo de 6 meses para produzir
uma biomassa importante (5 a 7 t de
matéria seca por ha)

Sensível aos excessos de água

Necessita pelos menos 2 meses de
época das chuvas para conseguir
resistir uma época seca de 4 meses

Duração limitada de controlo das
infestantes (30 a 45 dias) devido à
rápida decomposição

Controlo limitado das Ciperáceas

Risco de seleção das Ciperáceas e das
Commelináceas uma vez restaurada e
mantida a fertilidade

Sistema radicular pouco profundo,
reciclagem limitada dos elementos
lixiviados

Conservação das sementes em
condições normais limitada a 6 meses

Destruição total difícil por via
mecânica (uso de herbicida)
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
- Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de chuvas, o mais cedo possível para
obter um ciclo de 150 a 180 dias em função das precipitações;
- Cultura intercalar do milho: 30 dias depois da sementeira do milho, semear
logo após uma monda.
Tratamento das sementes e das estacas: Nenhum tratamento necessário.
Instalação da cobertura
Sementeira:
- Cultura isolada: 1 semente por cova, distante de 50 cm x 50 cm com uma
profundidade de 2 a 4 cm ou 2 sementes por cova distantes de 50 cm x 100 cm
com uma profundidade de 2 a 4 cm;
- Cultura intercalar: 1 semente por cova, distante de 40 cm numa linha entre
2 filas de milho, com uma profundidade de 2 a 4 cm.
Para 1 ha, é preciso 30 a 40 kg de sementes. A sementeira com 2 sementes por
cova é mais adaptada para os terrenos com pressão limitada de infestantes.
Semear de novo as covas onde não houve emergência, 10 dias depois da sementeira.
Manutenção da cobertura: Nenhuma operação necessária.
Recuperação de Mucuna depois de cultivo de milho
Quiabo sobre cobertura
morta de Mucuna
Amendoim sobre cobertura morta de Mucuna
Programação da cobertura
Vantagens

Emergência
correta, boa velocidade
de crescimento, produção de biomassa
muito importante

Fornecimento importante de azoto
(100 a 150 kg / ha)

Planta perene facilitando a gestão da
data de cultivo assim como as datas da
sua implantação

Produção de sementes importante e
fácil

Se o plantio for cedo, possibilidade de
obter sementes logo no primeiro ano

Fácil instalação como cultura intercalar
do milho

Bom controlo da erosão quando bem
instalada (depois de 6 meses)

Recarga contínua em elementos
nutritivos do solo, através da cama que
se forma permanentemente

Excelente controlo das infestantes
apesar de um fraco controlo na fase de
instalação

Ausência de manutenção

Tolerante às condições de hidromorfia
temporária

Luta contra a Imperata e controlo da
Mimosa invisa
Constrangimentos

Planta
trepadeira com risco de asfixia
das culturas na ausência de controlo

Desenvolvimento lento no início de
ciclo

Ciclo longo superior a 6 meses para
produzir uma biomassa importante

Sistema radicular pouco profundo,
reciclagem limitada dos elementos
lixiviados

Adaptação
média
às
plantas
com tubérculos devido ao seu
sistema radicular que cria pouca
macroporosidade

Necessidade de tratamento das
sementes antes da sementeira

Necessita pelo menos, 2 meses de
época das chuvas para resistir 4 meses
de época seca

Em cobertura morta, duração de
controlo limitada a 30 / 45 dias devido
à sua decomposição rápida

Difícil destruição total por via
mecânica (uso de herbicida)
curta, semear cedo para ter um ciclo de um ano antes da implantação
das culturas de ciclo longo (floração logo no primeiro ano). Produção de
sementes: esperar 18 meses antes de cultivar (floração durante a segunda
época seca);
- Cultura intercalar: 5 a 7 dias depois da sementeira do milho, para identificar
as linhas de sementeira. Em caso de época chuvosa curta, semear o milho
cedo. Para as outras culturas de ciclo curto, contar 260 a 320 dias de
cobertura conforme a duração dos ciclos.
1 / Os fundamentos
Utilização da planta no caso de um sistema sobre cobertura morta produzida in
loco ou de um sistema sobre cobertura permanente em faixas alternadas:
- Cultura isolada: a partir de 30-40 mm de chuvas. Em caso de época chuvosa
Para evitar o aumento do tempo dedicado à primeira sacha do milho (30 dias
depois da sementeira), devido à necessidade de cuidar das plantas jovens de
Puerária, é possível semear depois da primeira monda.
Tratamento das sementes e das estacas
2 / Os sistemas de produção
A Puerária é uma leguminosa perene, volúvel
que pode se desenvolver em solos não
compactados, ácidos, com uma fertilidade
fraca. É aconselhada como planta de cobertura
de média e longa duração.
 Planta com forte potencial para restaurar a
fertilidade do meio, eliminar as infestantes e
limitar os riscos de erosão.
- Mergulhar 1 h na água a 70°C, escorrer e semear;
- Ou mergulhar 20 min em ácido sulfúrico concentrado (1 volume de ácido
para 2 volumes de sementes), lavar com água, escorrer e semear.
Instalação da cobertura
Sementeira:
- Cultura isolada: covas ao quadrado distantes de 50 cm x 50 cm;
- Cultura intercalar: dupla linha ao quadrado de 40 cm x 40 cm entre duas
linhas de milho.
Para 1 ha, é preciso 3 a 6 kg de sementes, à razão de 4 a 8 sementes por cova
(conforme o tratamento escolhido), profundidade da sementeira: 1 cm.
Semear de novo as covas onde não houve emergência 10 dias depois da sementeira.
Manutenção da cobertura: Nenhuma operação necessária.
3 / As práticas
5-A Pueraria phaseloides
Cobertura de Puerária
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / Plantas de cobertura
163
6-As plantas utilizadas para a produção de biomassa
Vantagens e desvantagens
Exemplos de plantas de cobertura úteis para a produção de biomassa utilizada
para fazer empalhamento:
Técnicas
Plantas de
cobertura
Panicum
maximum
Pennisetum
purpureum
Brachiaria
decumbens
164
Vantagens

Presença
em
quantidade
importante em zona de pousio

Fornecimento regular (recarga)
fácil

Decomposição lenta

Complementaridade com a
pecuária em termos de forragem

Presença
importante
na
periferia das parcelas

Fornecimento regular (recarga)
fácil

Complementaridade com a
pecuária em termos de forragem

Decomposição
lenta

Complementaridade
com a
pecuária em termos de forragem
Constrangimentos

Risco
de proliferação da planta
(se utilizar palha com muitas
sementes)

Adaptação limitada às culturas
com forte densidade

Fornecimento em azoto necessário
no início do ciclo, para compensar
o efeito de imobilização do azoto
pelas bactérias envolvidas na
decomposição

Palha irritante e com folhas afiadas

Transplantação difícil

Necessidade
de utilizar apenas
as partes jovens para evitar o
desenvolvimento radicular a nível dos
internós

Decomposição rápida, limitando a
luta contra as infestantes e obrigando
fazer recarga com palhas para as
culturas de ciclo longo

Impossibilidade de praticar cultura
com forte densidade

Fornecimento em azoto necessário
no início do ciclo para compensar o
efeito de imobilização do azoto pelas
bactérias envolvidas na decomposição

Necessidade
de gerir uma parcela
de produção (plantação por estacas,
fertilização)

Fornecimento regular na parcela
difícil

Impossibilidade de praticar culturas
com forte densidade

Fornecimento em azoto necessário
no início do ciclo, para compensar o
efeito de imobilização do azoto pelas
bactérias envolvidas na decomposição
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
 Prática possível com uma gama de plantas diversas;
 Apresenta numerosos interesses (plantas de cobertura multi-função):
proteção dos solos, plantas forrageiras, adubo verde...;
 Reduz o tempo de trabalho (sacha e manutenção);
 Requer um domínio técnico para evitar as concorrências entre as plantas de
cobertura e a cultura principal.
Económicas
 Utiliza plantas disponíveis localmente;
 Permite uma sinergia culturas / pecuária;
 Limita os encargos reduzindo os fornecimentos de adubação orgânica e
mineral;
 Mantém e melhora os rendimentos e a margem económica;
 Representa um investimento para a implantação das plantas de cobertura.
Ambientais
 Reduz os fenômenos de erosão dos solos;
 Permite um fornecimento em azoto conforme a planta utilizada;
 Pode provocar a poluição da água e do solo, no caso de utilização de herbicidas
(o uso de herbicidas naturais está atualmente na fase de pesquisa).
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A escolha da planta de cobertura far-se-á em função das caraterísticas do
meio (estrutura do solo, acidez, hidromorfia, fertilidade, pluviometria, etc.),
das propriedades das diferentes plantas de cobertura, do SCV escolhido e das
capacidades de investimento do produtor. A dificuldade reside no controlo da
cobertura vegetal. É necessário privilegiar os métodos de controlo mecânico
e utilizar os herbicidas apenas como último recurso para limitar a poluição
das águas e dos solos.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157)
Ficha: SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas (p. 165)
Ficha: SCV sobre cobertura morta (p. 169)
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Culturas
alimentares pluviais
Esta prática foi principalmente implementada no
âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em
menor escala, em Madagáscar.
1 / Os fundamentos
A cultura principal é implantada nas faixas
mortas. As faixas vivas são regularmente cortadas
e a palha serve de cobertura nas faixas mortas.
Princípio
Num SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas, o terreno coberto com uma planta
de cobertura é dividido em faixas. Uma faixa em cada duas (a faixa viva) serve para fornecer a
biomassa para empalhar as faixas mortas. Nas faixas mortas, as infestantes são controladas através do
fornecimento de biomassa e por uma ação mecânica. É nas faixas mortas que a cultura é instalada. A
faixa viva durante o cultivo anterior torna-se a faixa morta para a cultura a seguir.
Esquema 1: a mandioca é associada às faixas de produção de biomassa (plantas de cobertura).
Mandioca
Planta de
cobertura
Planta de
cobertura
Mandioca
Planta de
cobertura
Mandioca
2 / Os sistemas de produção
O sistema SCV com cobertura permanente com
faixas alternadas consiste em alternar faixas
mortas e faixas vivas de uma planta de cobertura.
SCV sobre cobertura permanente
com faixas alternadas
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Limitar a erosão e proteger a estrutura dos solos;
» Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem
dos elementos minerais;
» Melhorar as condições de cultivo e por conseguinte,
os rendimentos;
» Controlar a infestação das parcelas cultivadas.
Condições de implementação:
Esquema
2:
a
mandioca realiza o
seu ciclo (14 a 18
meses) aproveitando
as melhorias do solo
permitidas graças à
planta de cobertura
da mandioca. A
planta de cobertura
desenvolve-se
novamente ou outra
planta de cobertura
é instalada.
Mês 1
Mês 2
1 - Destruição / passagem por
cima da planta de cobertura
Mês 3
...
3 - Controlo manual da
rebrotação da planta de
cobertura se necessário
2 - Plantação da mandioca
dentro da cobertura morta
...
Mês N
4- Colheita da mandioca
5 - Recuperação da
planta de cobertura
... Ciclo de cultivo da mandioca (14 a 18 meses)
… Ciclo de cultivo da planta de cobertura
» Dispor de um terreno com uma superfície suficiente
Mandioca em faixas alternadas sobre Brachiária
3 / As práticas
para dedicar uma parte das terras à planta de
cobertura;
» Dispor de sementes de Brachiária, de Stylosanthes ou
outras plantas de cobertura adaptadas.
Quiabo em faixas alternadas sobre Stylosanthes
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas
165
Método
1-O sistema sobre cobertura permanente em faixas alternadas
Implantação da planta de cobertura (Brachiária ou Stylosanthes)
Duas opções são possíveis:
- no início da época das chuvas, instalar a planta de cobertura no início do
sistema para beneficiar rapidamente de uma biomassa importante;
- deixar a planta de cobertura se desenvolver durante um ano antes da
instalação do SCV.
Manutenção
- Cortar regularmente a faixa viva em função do desenvolvimento da planta
(entre 20 cm e 50 a 60 cm de altura para o Stylosanthes, entre 10 cm e 50 a
60 cm de altura para a Brachiária). Deixar secar 2 dias na faixa viva antes de
espalhar a palha encima da faixa morta;
1. Instalação de um sistema Bananeiras sobre Brachiária
- Em época de seca, cortar o Stylosanthes bastante baixo (20 cm) ou
a Brachiária raso (5 cm) para evitar a competição hídrica com a cultura
principal;
- Sachar em caso de desenvolvimento de infestantes não controladas pelo
empalhamento.
O plano de adubação das culturas sobre cobertura morta é o mesmo que para as
culturas cultivadas sem cobertura. No entanto, 3 anos depois de uma instalação
constante de cobertura morta, a adubação poderá ser reduzida a 20%.
Exemplo de instalação de SCV sobre cobertura permanente em faixas
alternadas (Gabão):
2. Manutenção da Brachiária
3. Sistema depois de 2 anos
Culturas
Implantação
Culturas de ciclo longo:
mandioca, taro
Rotação de 3 anos: no ano 1, cultura de ciclo longo, instalada no início da época das chuvas e planta de cobertura instalada de forma contínua, seguida
no ano 2 por uma cultura de ciclo longo instalada no meio da época das chuvas com planta de cobertura de forma contínua. Entre cada ciclo de cultivo,
6 a 8 meses só com a planta de cobertura.
Culturas de ciclo médio:
quiabo, malagueta, beringela
Culturas de ciclo médio, instaladas no início da época das chuvas e planta de cobertura de forma contínua, seguidas de 6 a 7 meses só com a cobertura
vegetal.
Bananeira
166
Cultivo de bananeiras durante 2 ou 3 anos com cobertura vegetal de forma contínua, seguida por 1 ano só com a cobertura vegetal.
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
2-Exemplo da implantação de bananeiras sobre uma cobertura permanente em faixas alternadas de Brachiária
8. Cultivo das bananeiras durante 2 a 3 ciclos (conforme
os rendimentos), com corte das faixas vivas para
empalhar as faixas mortas e sacha ligeira das faixas
vivas.
Para 1 ha:
- 3 a 6 kg de sementes de
Brachiária
estacas.
- 1.666
ou
Cobertura viva
Cobertura morta
1 / Os fundamentos
4. Cultivo das bananeiras durante 2 a 3 ciclos (conforme
os rendimentos), com corte das faixas vivas para
empalhar as faixas mortas (1 vez/mês na época das
chuvas, 2 vezes/mês na época seca), e sacha ligeira
das faixas vivas.
125.000
rebentos
bananeiras.
7. Adubação de fundo e migração das bananeiras por
transplantação dos rebentos nas faixas recentemente
controladas.
3. Adubação de fundo a nível das covas de plantação
e instalação das bananeiras em linhas no centro das
faixas mortas (distância entre rebentos: 2 m).
2 / Os sistemas de produção
2. Delimitação da parcela em faixas de 2 m (colocar
estacas e passar por cima da planta rolando um tambor
enchido até 1/3 com água) e controlo da cobertura de
uma faixa em cada 2.
de
6. Rolagem e controlo da cobertura a nível das antigas
faixas vivas.
5. Invasão das faixas mortas pela planta de cobertura
(1 ano), possibilidade de transplantar estacas ou
semear a planta de cobertura.
3 / As práticas
1. Instalação da cobertura ou colonização da parcela
por uma planta de cobertura existente (1 ano).
Bananeiras
Algumas práticas consistem em eliminar quimicamente a cobertura vegetal (uso de herbicida tipo Glifosate).
Estes produtos químicos são perigosos caso não sejam bem utilizados. O seu uso deve ser considerado apenas quando nenhuma outra técnica seja possível.
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura permanente com faixas alternadas
167
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Protege os solos e limita as infestantes (diminuição do caráter penoso do









trabalho);
Mantém e melhora a fertilidade do solo e estabiliza os rendimentos a longo
prazo;
Favorece a alimentação hídrica da planta;
Permite uma flexibilidade nos calendários de trabalhos;
Requer apenas uma implantação da cobertura;
Permite um controlo manual ou mecânico da cobertura;
Apresenta uma dificuldade para o controlo mecânico da cobertura vegetal
em grandes superfícies em zonas quentes e húmidas;
Requer uma tecnicidade elevada para equilibrar as faixas mortas e vivas;
Requer um rigor importante na condução do sistema;
Necessita tempo de trabalho para cortar as faixas vivas.
Económicas
 Estabiliza e aumenta a produção;
 Diminui os custos de produção, especialmente através da redução dos
encargos ligados ao trabalho do solo;
 Necessita de um investimento para a implantação das plantas de cobertura.
Sistema Bananeiras em faixas alternadas de Brachiária
Ambientais
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
 Reduz os fenômenos de erosão dos solos;
O SCV com cobertura permanente em faixas alternadas é eficaz, permite
produzir ao mesmo tempo a cultura e a planta de cobertura. Para a sua
implementação, as principais plantas de cobertura são o Stylosanthes e a
Brachiária.
 Favorece a sequestração do carbono;
 Reduz a desflorestação limitando as práticas de corte e queima;
 Pode provocar a poluição da água e do solo em caso de uso de herbicidas.
Para controlar a cobertura vegetal, é preciso privilegiar os métodos de
controlo mecânico e utilizar os herbicidas apenas como último recurso para
limitar a poluição das águas e dos solos. É de anotar que o uso de herbicidas
naturais está atualmente em fase de pesquisa.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157)
Ficha: Plantas de cobertura (p. 159)
Ficha: SCV sobre cobertura morta (p. 169)
Taro em faixas alternadas de Brachiária
168
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Ficha: Empalhamento (p. 121)
Culturas
alimentares pluviais
Esta prática foi principalmente implementada no
âmbito dos programas AGRISUD no Gabão e, em
menor escala, em Madagáscar e no Laos.
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Limitar a erosão e proteger a estrutura dos solos;
» Favorecer a atividade biológica do solo e a reciclagem
dos elementos minerais;
» Melhorar as condições de cultivo e por conseguinte,
os rendimentos;
» Controlar a infestação das parcelas cultivadas.
Condições de implementação:
1 / Os fundamentos
A planta de cobertura é destruída e deixada no
local. A sementeira da cultura principal realiza-se
dentro da cobertura vegetal morta.
Princípio
Neste tipo de SCV, o terreno é completamente coberto por uma planta de cobertura. Depois disso,
a cobertura é controlada para deixar espaço à cultura principal. Esta é diretamente semeada ou
plantada sobre a cobertura morta.
Depois da colheita, uma nova planta de cobertura pode ser instalada em seguida.
Ilustração de um ciclo
Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6 Mês 7 Mês 8
de cultivo de milho
sobre cobertura morta:
1- Sementeira da
2- Destruição da planta
planta de cobertura
A planta de cobertura
de cobertura
4- Colheita do milho
desenvolveu-se durante
3- Sementeira
5- Reinstalação
a primeira parte do
do milho
da planta de
ciclo de cultivo.
cobertura
A cultura do milho é
implantada depois da
planta de cobertura
ser destruída. Beneficia
do melhoramento do
Melhoria
solo permitido pela … Ciclo de cultivo da planta de cobertura
do solo
planta de cobertura:
através da
… Ciclo de cultivo do milho
aeração pelas raízes,
decomposição
dos sistemas
fornecimento
de
radiculares
matéria orgânica…
No fim do ciclo, as raízes que permanecem no solo contribuem ao seu enriquecimento, depois da sua
decomposição e graças à ação dos micro-organismos.
2 / Os sistemas de produção
No SCV sobre cobertura morta, a planta de
cobertura é instalada antes da cultura principal.
SCV sobre cobertura morta
» Dispor de um terreno com uma superfície suficiente,
Milho cultivado sem sacha graças à cobertura
morta de Brachiária
3 / As práticas
que permite introduzir um tempo de pousio na
sucessão das culturas.
» Dispor de sementes de plantas de cobertura.
Recuperação da Puerária depois da colheita do milho
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura morta
169
Método
Neste SCV, as plantas de cobertura regularmente utilizadas são o Stylosanthes, a Brachiária, a Mucuna e a Puerária.
1-Exemplo de instalação de uma cultura de milho sobre cobertura morta de Mucuna (Gabão)
1. Instalação de uma cobertura vegetal (Mucuna) ou
cobertura existente.
2. Controlo (ceifa) da cobertura vegetal.
Para 1 ha
de terreno
desbravado:
5. Depois da colheita da parcela, a planta de
cobertura invade a parcela e prepara um novo ciclo.
3. Sementeira e 7 dias depois, emergência do milho
através da cobertura morta.
- 30 a 40 kg de
sementes de
Mucuna;
- 30 a 45 kg de
sementes de milho.
Cobertura viva
4. Condução da cultura de milho sem trabalho do solo, monda
ligeira se necessário, recuperação da planta de cobertura.
Cobertura morta
Nova cobertura
instalada como
cultura intercalar
Cultura alimentar
Em alguns casos (superfície importante e falta de mão-de-obra…), a cobertura vegetal pode ser controlada pelo uso de herbicidas. Este deve ser limitado e racional.
170
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
O
N
Sistema de cultura
de ciclo longo – Brachiária
S
Estação seca
D
J
F
M
Pequena estação seca
A
M
J
J
A
Estação chuvosa
S
O
N
Estação seca
D
J
F
M
Pequena estação seca
Mandioca ciclo curto (240 d)
Milho (70-110 d)
Mandioca ciclo curto (240 d)
Mandioca ciclo longo (330 d)
Taro (270 d)
Mandioca ciclo curto (240 d)
Mandioca ciclo longo (330 d)
Taro (270 d)
A
M
J
J
2 / Os sistemas de produção
pluviometria (mm)
Estação chuvosa
1 / Os fundamentos
2-Exemplo de calendário cultural associando Brachiária e culturas alimentares (Gabão)
A
Brachiaria ruzizienzis (360 d)
Milho (70-110 d)
Brachiaria ruzizienzis (330 d)
3 / As práticas
 NOTA
Para todas as plantas:
- Privilegiar mondas ligeiras, repetidas, evitando mondas profundas contra as infestantes. As mondas são realizadas através do arranque manual (evitar o
uso de ferramentas que possam abrir a cobertura vegetal, o que pode permitir o acesso às infestantes).
- Uma boa cobertura morta permite limitar o desenvolvimento das infestantes, o que reduz o caráter penoso dos amanhos culturais, sobretudo na zona
tropical húmida.
AS PRÁTICAS / Culturas alimentares pluviais / SCV sobre cobertura morta
171
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Protege os solos e limita as infestantes (diminuição do caráter penoso do








trabalho);
Mantém e melhora a fertilidade do solo e estabiliza os rendimentos a longo
prazo;
Favorece a alimentação hídrica da planta;
Não requer nenhuma tecnicidade particular;
É adaptada a todas as culturas;
Permite uma flexibilidade dos calendários de trabalhos;
Controlo mecânico da cobertura vegetal difícil para grandes superfícies em
zona quente e húmida;
Necessita imobilizar terreno para produzir a cobertura;
Requer na maioria dos casos uma nova implantação anual da cobertura.
Económicas
 Estabiliza e aumenta a produção;
 Diminui os custos de produção especialmente através da redução dos
encargos ligados ao trabalho do solo;
 Necessita de um investimento para a instalação das plantas de cobertura.
Mandioca sobre Brachiária
Malagueta sobre palha proveniente de
outra parcela
Ambientais
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
 Reduz os fenômenos de erosão dos solos;
A condução dos SCV com cobertura morta produzida in loco é simples. As
aplicações são pertinentes em contextos de pressão fundiária fraca a média.
As plantas de cobertura utilizadas são relativamente diversificadas.
 Favorece a sequestração do carbono;
 Reduz a desflorestação limitando as práticas de corte e queima;
 Provoca um risco de poluição da água e do solo em caso de uso de herbicidas.
 PARA IR MAIS LONGE
Ficha: Sistemas de cultivo sobre Cobertura Vegetal (SCV) (p. 157)
Ficha: Plantas de cobertura (p. 159)
Ficha: SCV sobre cobertura permanente em faixas alternadas (p. 165)
Ficha: Empalhamento (p. 121)
172
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Para controlar a cobertura vegetal, é preciso privilegiar os métodos de
controlo mecânico e utilizar os herbicidas apenas como último recurso para
limitar a poluição da água e do solo. É de anotar que o uso de herbicidas
naturais está atualmente na fase de pesquisa.
Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI
Rizicultura irrigada
A prática foi desenvolvida no quadro dos
programas da AGRISUD em Madagáscar e, em
menor escala, no Camboja.
1 / Os fundamentos
Este método permite melhorar sensivelmente a
produção de arroz, garantindo ao mesmo tempo
uma boa gestão da fertilidade do solo, sem
necessariamente ter recurso a fortes doses de
adubos minerais.
Princípio
O SRI distingue-se dos outros sistemas de cultivo rizícola pelos seguintes aspetos:
-
transplantação das plantinhas vigorosas com 2 folhas;
transplantação com espaçamento não inferior a 25 cm;
monda frequente para controlar as infestantes;
domínio da gestão da água para favorecer o perfilhamento, ou seja o desenvolvimento do número de
perfilhos por planta de arroz.
Estas caraterísticas técnicas são interdependentes para aumentar a produção dos perfilhos (aumento
do número de espigas) e para ter um sistema radicular desenvolvido, permitindo um bom enchimento
dos numerosos grãos.
2 / Os sistemas de produção
O Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI é um
sistema de cultivo desenvolvido em Madagáscar
pelo padre de Laulanie.
Efeitos:
Solo
Água
Planta
Paisagem
Objetivos:
» Melhorar a valorização das parcelas de pequenas
superfícies;
» Aumentar a produção de arroz;
» Limitar a quantidade de sementes utilizadas.
Transplantação
Monda de uma parcela de SRI
Parcela de SRI
Condições de implementação:
» Dispor de um arrozal plano com um grande domínio
3 / As práticas
da gestão da água: entrada e saída de água possível
em qualquer momento;
» Dispor de plantas de arroz para transplantar;
» Dispor de composto em quantidade suficiente: 20
toneladas/hectare em média, a modular segundo o
estado inicial de fertilidade do arrozal.
Transporte dos molhos de arroz
AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI
173
Método
Dados indicativos sobre a implantação da cultura:
Itinerário técnico geral do SRI:
Viveiro
Transplantação
Colheita
Espaçamento (cm)
25 x 25
27,5 x 27,5
30 x 30
Número de plantas/ha
160 000
132 231
111 111
6
5
4
Kg de sementes/ha
+/- 1 mês
Preparação
do terreno
3 a 6 meses segundo as variedades
Manutenção
e irrigação
Trabalhos
preliminares
Preparação
para a colheita
Secagem
Armazenamento
A preparação do arrozal
O arrozal deve estar pronto antes da sementeira ou no momento da preparação
do viveiro.
Condução da cultura
- Aplicar o composto: no mínimo 10 t/ha;
1-Os trabalhos preliminares
- Arar profundamente para trazer à superfície os elementos fertilizantes
A escolha das sementes
O conhecimento das caraterísticas varietais é primordial na escolha da semente
a utilizar: duração do ciclo (curto/longo), fotoperiodismo (sensibilidade à
duração do dia), tolerância/resistência às doenças, fenótipo (comprimento da
palha, número de perfilhos…).
Caraterísticas de algumas variedades correntemente utilizadas em Madagáscar:
174
O viveiro
O sucesso do SRI é condicionado por uma boa programação dos trabalhos, e
mais particularmente pela passagem do viveiro para o campo (cf. Ficha: Viveiro
rizícola p 179).
Nome
Duração
do ciclo
Forma
do grão
Boeing
Variável
Longa
X265
135 dias
X915
Comportamento em cultivo
Recomendação
Sensível ao fotoperiodismo,
palha curta
Estação das
chuvas
Oval
Bom perfilhamento, palha mediana
Estação das chuvas
125 dias
Oval
Perfilhamento bastante bom,
palha mediana
Em estação seca
e solo rico
Mailaka
115 dias
Oval
Arroz precoz, palha curta
Em estação seca
FOFIFA
160
135 dias
Oval
Palha longa, tolerante ao
granizo
Estação das
chuvas
Chine
125 dias
Curta
Palha curta, muito precoz
Em estação seca
Congo
125 dias
Curta
Palha curta, muito precoz
Em estação seca
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
lixiviados;
- 7 dias depois, efetuar uma gradagem, uma monda e um destorramento;
- 7 a 15 dias depois , efetuar uma segunda aração;
- 4 dias depois, fazer uma nova gradagem seguida por uma inundação ligeira
da parcela;
- Aplanar para nivelar o solo;
- Abrir um canal em volta do arrozal para servir como tampão para as
entradas e saídas da água.
 OBSERVAÇÕES:
- A prática do SRI necessita de um fornecimento consequente de composto.
O produtor deve assegurar que ele dispõe de quantidade suficiente, caso
contrário, a fertilidade do arrozal pode diminuir rapidamente.
- As necessidades de composto são avaliadas em 20 t/ha em média, com
2 aplicações: no momento da preparação do arrozal (como adubação de
fundo) e no momento da segunda monda (cf. parágrafo 3, os trabalhos
culturais). A 2nda aplicação completa a 1ª: 10 t / 10 t; 15 t / 5 t…
- Se o terreno for turfoso, acrescentar terra para tornar o solo mais
firme e permitir uma boa ancoragem da planta, equilibrar os elementos
fertilizantes efetuando um ciclo hortícola antes da instalação do SRI (as
culturas hortícolas consomem o excesso de azoto e limitam desta forma a
produção de muitas glumelas em detrimento do grão).
2-A condução da cultura
Drenagem do arrozal 1 dia
antes da marcação das
linhas de transplantação
Fazer entrar a água
depois da transplantação
completa
Depois do desaparecimento
das linhas, secar até
aparição de fendas no solo
Mondar todos
os 10 dias
2nda monda
Fazer entrar a
água alguns dias
antes da monda
Manter uma lâmina de
água para a monda,
depois drenar a água
1 / Os fundamentos
Transplantação
Fornecimento
de composto
Colheita
Manter uma lâmina de
água para a monda,
depois drenar a água
Apesar de suportar a inundação e de ser exigente em água, o arroz não
é uma planta aquática.
Ao contrário das práticas tradicionais onde os arrozais são inundados
constantemente, o SRI propõe drenar regularmente o arrozal para
favorecer o perfilhamento das plantinhas. O aumento do nível da lâmina
de água permite bloquear o perfilhamento em benefício do enchimento
dos grãos.
Aumentar a lâmina de
água a 8-10 cm antes
do encanamento
Drenar completamente
o arrozal pelo menos 2
semanas antes da ceifa
2 / Os sistemas de produção
1a monda,
retransplantação
Plantas de arroz no estado de perfilhamento
3 / As práticas
Marcação das linhas
de transplantação
SRI em grande escala
AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI
175
A marcação das linhas de transplantação
Antes da transplantação, passar o ancinho marcador de linha. Esta ferramenta
permite facilitar a monda e a transplantação (economia em mão-de-obra e
autonomia dos transplantadores):
- Secar o solo um dia antes de transplantar (2
dias antes para os solos turfosos);
- Utilizar duas cordas para ter o alinhamento
de início ao longo da parcela;
- Arrastar o ancinho marcador de linha ao longo
da corda somente na primeira traçagem;
- Regressar de trás para frente e traçar
perpendicularmente (de forma a obter uma
grelha);
- A grelha desenhada serve de alinhamento
para continuar a marcação das linhas de
transplantação;
- Continuar até que a grelha da parcela esteja
completa.
A interseção das duas linhas perpendiculares
constitui o ponto de transplantação. É
preferível transplantar a medida do avanço
do ancinho marcador de linha.
Esquematização da marcação das linhas de transplantação de uma parcela rizícola
Parcela antes da
marcação das linhas de
transplantação
Primeira passagem
do ancinho
marcador de linha
Passagem perpendicular
Passagem perpendicular
às primeiras linhas marcadas
A transplantação (plantinhas com 2 folhas)
- Arrancar as plantinhas do viveiro conservando
a terra à volta da raiz e do grão;
- Transplantar as plantinhas uma por uma,
introduzindo a plantinha na ranhura feita
pelo ancinho marcador de linha para não
orientar as raízes para cima;
- Colocar as plantinhas a nível dos cruzamentos
feitos pelo ancinho marcador de linha;
-Depois do transplante completo da parcela , fazer
entrar a água para aplanar o solo e favorecer a
recuperação das plantas.
Depois do desaparecimento das marcas, drenar completamente o arrozal para
favorecer o desenvolvimento radicular e o perfilhamento das plantinhas.
A manutenção
As mondas
- 1a monda - 10 dias depois da transplantação, fazer entrar a água alguns dias
antes para amolecer o solo, utilisar o sachador;
- 2nda monda - 10 dias depois da primeira: manter uma lâmina de água para
a monda, utilisar o sachador e recomeçar logo outra vez com a mão, drenar
depois o arrozal para estimular o perfilhamento;
- Mondas seguintes - cada 10 em 10 dias, em função da necessidade: manter
uma lâmina de água para mondar com o sachador, depois drenar.
A retransplantação: no momento da 1a monda, utilisar as plantinhas que
sobraram no viveiro.
A fertilização: fornecer o composto um dia antes ou no momento da 2nda monda.
O controlo do perfilhamento: antes do encanamento, aumentar a lâmina de
água até 8-10 cm para parar o perfilhamento. O não domínio do perfilhamento
pode produzir muita casca em detrimento do grão (as espigas são numerosas
mas os grãos não estão cheios).
Primeira passagem
do ancinho marcador
de linha na segunda faixa
Realização da monda
176
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
3-A colheita e as operações pós-colheita
Vantagens e desvantagens
A colheita
Técnicas
 Apresenta uma boa taxa de adoção pelos produtores;
 Realizável de forma menos constrangedora (mas menos produtiva): trata-
Económicas
 Permite um aumento dos rendimentos de 2 t/ha (tradicional) a 6-8 t/ha;
 Permite uma melhor valorização das parcelas rizícolas.
A secagem e a conservação
Ambientais
- Depois do trilhamento, secar bem os grãos para eliminar o excesso de
 Permite uma cobertura permanente do solo, uma vez que o aumento da
humidade (o indicador tradicional consiste em fricionar com ajuda do
calcanhar: se os grãos se descascarem facilmente sem quebra, estes estão
bem secos);
- Uma vez debulhado, o arroz deve ser conservado em sacos de plástico ou
de tela tecida colocados encima de paletes num ambiente bem seco e não
muito quente.
1 / Os fundamentos
se do SRM, Sistema Rizícola Melhorado, que requer um menor controlo da
água e plantinhas mais velhas na transplantação (2 a 3 semanas);
 Necessita de uma importante renovação da fertilidade do solo;
 Requer um domínio quase total da gestão da água na parcela;
 Necessita de uma programação muito precisa das atividades da exploração.
2 / Os sistemas de produção
Drenar a parcela pelo menos 2 semanas antes
da ceifa para obter um colheita homogênea em
termos de maturidade.
- Durante a colheita, deixar secar o arroz
ceifado durante 3 dias no arrozal ou
transportá-lo e colocá-lo em meda para que os
grãos terminem a sua maturidade;
- Trilhar o arrroz 3 dias depois;
- Não queimar as palhas, utilizá-las como
empalhamento ou em compostagem. Espalhar
e molhar as palhas no arrozal, para depois as
enterrar no momento da aração.
produção de um ciclo de arroz torna o produtor mais disposto a diversificar
a sua produção para os ciclos seguintes;
 Apresenta um risco de esgotamento dos solos em caso de não renovação
da fertilidade.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
Os itinerários técnicos do SRI permitem que os produtores aumentem os
rendimentos.
Mesmo se os tempos de trabalhos aumentam ligeiramente, este aumento
faz-se em benefício de uma melhor repartição dos trabalhos na exploração.
3 / As práticas
Em contrapartida, a prática deve imperativamente ser acompanhada de
uma estratégia de renovação da fertilidade para poder ser praticada de
forma durável.
 PARA IR MAIS LONGE
Trilhamento do arroz
Ficha: Viveiro rizícola (p. 179)
Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI
177
178
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Viveiro rizícola
Rizicultura irrigada
O viveiro rizícola foi essencialmente desenvolvido
em sistema de rizicultura intensiva (SRI) ou em
sistema de rizicultura melhorada (SRM), no quadro
dos programas da AGRISUD em Madagáscar.
Vários fatores devem ser tomados em conta antes de programar a instalação de um viveiro:
- o local de implantação, que não é aleatório;
- a estação, que influi sobre as técnicas de viveiro;
- o tamanho da superfície a transplantar e a disponibilidade de mão-de-obra, que influi sobre os
dimensionamentos do viveiro e sobre o seu escalonamento.
Método
1-A escolha do local de implantação do viveiro
O local de implantação do viveiro é um lugar estratégico, a sua escolha deve satisfazer a maioria dos
seguintes critérios:
Critérios de seleção
Efeitos:
Justificativa
Proximidade de uma fonte de água
Facilitar a irrigação
Proximidade do hábitat doméstico
Facilitar o controlo e a manutenção do viveiro
Objetivos:
Proteção contra o vento e os animais
Evitar as perdas devidas às rajadas de vento e/ou à divagação dos
animais
» Produzir plantinhas em quantidade e de qualidade;
» Otimizar as sementes de arroz adquiridas;
» Assegurar um bom início da cultura.
Para limitar o transporte das plantinhas, é preferível instalar o viveiro na proximidade do arrozal
mas o controlo do viveiro será mais difícil que se o viveiro estiver próximo da casa.
Solo
Água
Planta
1 / Os fundamentos
Por consequência, o viveiro rizícola constitui uma
fase delicada que o produtor deve dominar se
ele quer começar os seus itinerários técnicos em
boas condições.
Princípio
2 / Os sistemas de produção
Em rizicultura irrigada, a produção de plantinhas
de qualidade é uma etapa decisiva para o êxito
da cultura.
Paisagem
Condições de implementação:
» Dispor de sementes de arroz;
» Dispor de composto, de palhas ou ainda de folhas
verdes;
» Dispor das ferramentas nesessárias para a confeção
3 / As práticas
dos camalhões (pá, ancinho…) e de tábuas de madeira
para fabricar suportes móveis;
» Dispor de uma rede de proteção.
Viveiro rizícola sobre folhas de bananeiras, Madagáscar
AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Viveiro rizícola
179
2-A preparção das sementes
Segundo as estações, os viveiros rizícolas são instalados diferentemente.
- Debulhar para separar as sementes de má qualidade;
- Fazer ferver água e deixar esfriar até 50°C;
- Mergulhar a semente pelo menos 30 min e até 12 horas (esfriamento total)
Em estação quente (estação das chuvas em Madagáscar), preparar os canteiros
em camalhões para favorecer a drenagem.
para eliminar as doenças e quebrar a dormência;
- Retirar a semente do banho, deitá-la dentro de um pano molhado e colocálo em local quente (perto de uma lareira, num composto…) até as sementes
germinarem (em geral, durante 24 horas);
- Quando as sementes estão no estado “gérmen de 1 mm visivel”, semear em
viveiro.
- Amontoar o canteiro de viveiro;
3-A preparação e o acompanhamento dos viveiros
-
Para 1 ha de arrozal a transplantar com espaçamentos de 25 x 25 cm = 4 a 12 kg de
sementes em função da densidade da sementeira, semeadas num viveiro de 100 m².
- Colocar uma camada de composto encima do
-
-
canteiro;
Regar abundantemente;
Semear a lanço de forma homogênea as sementes
pré-germinadas;
Cobrir a sementeira com uma camada fina de
composto ou de terra;
Empalhar para proteger contra as aves e a insolação;
Desde os 1os rebentos, abrir o empalhamento e retirálo para não perturbar as plântulas em crescimento;
- Retirar a palha 2 dias antes do dia previsto para a transplantação.
A duração do viveiro é de 8 a 15 dias. A transplantação faz-se quando as plantas
estão no estado 2 folhas.
Viveiro rizícola sobre camalhão, Madagáscar
Parcela rizícola depois de plantação
 OBSERVAÇÕES:
Se a terra for argilosa, é preferível misturá-la com areia para facilitar a
separação das plantas no momento da transplantação.
180
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Plantas prontas para ser transplantadas
A técnica de sementeira em mesa:
- Preparar um canteiro de sementeira amovível;
- Colocar uma camada de matéria verde facilmente degradável no fundo do
suporte amovível;
- Colocar um substrato bem misturado (1/3 composto, 1/3 terra, 1/3 areia
fina) cerca de 5 cm encima da camada vegetal;
- Semear em linha ou a lanço;
- Regar e esperar para o estado de 2 folhas para transplantar.
No fim da tarde, proteger o canteiro do frio e retirar a proteção pela manhã,
quando o orvalho desaparecer.
A técnica de sementeira em mesa apenas se aplica para arrozais de
superfície limitada.
1 / Os fundamentos
Vantagens e desvantagens
Técnicas
 Prática simples de implementar;
 Permite uma manutenção fácil;
 Permite a produção de plantas robustas;
 Requer materiais para a construção dos suportes amóveis e dos abrigos;
 Limita quantitativamente a produção de plantas (no caso da técnica de
sementeira em mesa).
Económicas
2 / Os sistemas de produção
Na época fria seca, é preciso proteger a plântula do frio e favorecer a
germinação. O viveiro deve neste caso fornecer calor pela decomposição de
folhas verdes.
Duas técnicas de sementeira são possíveis:
A técnica de sementeira debaixo de abrigo:
- Cobrir o viveiro com uma lona trensada formando um túnel (proteção contra
o frio);
- Cavar o solo na superfície total do viveiro (cerca de 10 cm);
- Colocar uma camada de matéria verde facilmente degradável (ex.:
Tephrosia, folhas de ním,...);
- Cobrir com terra previamente misturada com composto;
- Realizar as sementeiras em linha ou a lanço 4 dias depois do início da
produção de calor ligada à degradação da matéria verde;
- Regar e esperar para o estado de 2 folhas para transplantar.
 Permite poupar sementes;
 Garante taxas elevadas de sucesso durante a transplantação.
Ambientais
 Limita os riscos fitossanitários devido à robustez das plantas.
 O QUE É IMPORTANTE ASSIMILAR
A realização de viveiros garante a robustez das plantinhas de arroz e
permite uma economia de sementes.
A programação e o sucesso dos viveiros devem permitir ao produtor
respeitar o calendário de trabalho SRI (transplantação das plantinhas no
estado de 2 folhas).
 PARA IR MAIS LONGE
Viveiro rizícola sobre mesa
3 / As práticas
Ficha: Sistema de Rizicultura Intensiva - SRI (p. 173)
Fichas: Compostagem em leiras (p. 81) / Compostagem em composteira (p. 89)
Ficha: Curtição do estrume (p. 77)
Viveiro rizícola sob abrigo
AS PRÁTICAS / Rizicultura irrigada / Viveiro rizícola
181
Léxico
Acaricida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger a planta contra os
ataques de ácaros (artrópodos microscópicos da família dos aracnídeos – aranhas) pelo
seu efeito letal.
Adsorção: fixação dos elementos sobre um substrato (ex. adsorção dos elementos
minerais sobre o complexo argilo-húmico...).
Adubo verde: cultura temporária destinada a ser incorporada no solo de forma a fornecer
elementos nutritivos à próxima cultura.
Adubo de cobertura: adubo fornecido durante o cultivo em complemento da adubação
de fundo inicial. O fornecimento regular de adubo de cobertura permite satisfazer as
necessidades das plantas em função do seu estado de desenvolvimento.
Adubo foliar: adubo líquido pulverizado na folhagem das plantas.
Aeróbio: em presença de oxigênio.
Afrouxar o solo: ação que consiste em tornar a terra mais solta, através dos amanhos
culturais (lavoura, escarificação, sacha,...) que dividem a terra e tornam a camada
superficial mais permeável às raízes e aos elementos fornecidos.
Agrofloresta: modo de produção associando o cultivo de árvores e arbustos, e culturas
subjacentes ou intercalares (culturas hortícolas, forrageiras,...). A agrofloresta favorece
a biodiversidade no seio dos agro-ecossistemas e melhora a produtividade enquanto
limita a degradação dos solos.
Agrossistema ou agro-ecossistema: ecossistema onde o Homem intervém pela
implementação de técnicas de produção vegetal e animal.
Bocage: Tipo de paisagem rural criada pelo Homem, constituída por sebes de árvores
grandes que rodeam parcelas cultivadas ou prados.
Cacimba: poço largo e pouco profundo que explora o lençol freático superficial.
Complexo argilo-húmico: associação entre argila e húmus num complexo ligado pelos
iões cálcio ou ferro. O húmus protege a argila contra a dispersão, estabiliza a estrutura
e forma com a argila um “cimento” que permite a construção de agregados sólidos
capazes de resistir à degradação pela água (D. Soltner), também chamado “complexo
adsorvente”, tendo um pápel fundamental no armazenamento e na restituição da água e
dos elementos nutritivos à planta.
Cordão de pedras: dispositivo composto por blocos de pedras dispostos em curvas de
nível, para lutar contra a erosão hídrica, favorecendo a dispersão e a infiltração da água,
assim como o depósito dos elementos sólidos transportados na montante do cordão.
Correção de solo: melhoramento das propriedades físicas, químicas e biológicas de um
solo pelo fornecimento de elementos em défice (calcário, matéria orgânica,...).
Corte e queima: prática agrícola pela qual parcelas são desmatadas, limpadas pelo fogo
(ramos, cepas, resíduos,...) e cultivadas de forma descontinuada, implicando períodos de
pousio mais longos que a duração do cultivo.
Cultivo pluvial / de sequeiro: cultivo de plantas cujo crescimento e desenvolvimento
depende do fornecimento natural de água das chuvas, sem recorrer a qualquer sistema
de rega artificial.
Cultura alimentar: cultura principalmente destinada ao consumo alimentar local.
Cultura anual / bianual: cultura realizada com um ou 2 ciclos anuais: culturas hortícolas,
mandioca, amendoim, milho,...
Anaeróbio: na ausência de oxigênio.
Cultura perene: cultura presente na mesma parcela durante vários anos (> 5 anos):
pomares, plantações florestais,...
Ascensão capilar: subida das águas subterrâneas nos capilares do solo provocada pela
evaporação.
Cultura semi-perene: cultura presente na mesma parcela durante alguns anos (2 a 5
anos): ananás, bananeira, papaieira,...
Bacteriose: doença provocada por uma bactéria.
Banqueta: pequeno terraço de culturas.
Cultura subjacente: cultura implementada debaixo de outra cultura (ex. culturas
hortícolas debaixo de pomares).
Biodiversidade: a biodiversidade ou diversidade biológica diz respeito à diversidade
natural dos organismos vivos, animais e vegetais, que contém um ecossistema.
Debulhar: ação que consiste em limpar os grãos, a debulha pode ser realizada com ajuda
de um cesto utilizado como uma peneira.
Biomassa: conjunto de matéria orgânica de origem vegetal (folhas de árvores, ervas de
savana, resíduos de culturas,...). A biomassa pode ser reciclada para produzir fertilizantes
orgânicos (compostagem) ou para cobrir os solos.
Desbaste: ação visando eliminar algumas plântulas em excesso provenientes de uma
sementeira em viveiro ou numa parcela agrícola, para favorecer o desenvolvimento das
plântulas restantes.
182
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Destorramento: ação que consiste em quebrar os torrões de terra.
Dispositivos anti-erosivos: conjunto de meios que permitem combater a erosão.
Doença critogámica: doença provocada por um fungo.
Drenagem: ação que consiste em favorecer a evacuação da água presente em excesso
nos solos.
Ecossistema: conjunto de elementos (fauna, flora, solo, água, clima,...) que constituem
um meio natural e interagem uns com os outros.
Efluentes: produtos líquidos ou semi-líquidos lançados no meio, que são às vezes
capazes de contaminá-lo, podem ser de natureza orgânica ou química.
Emurchimento: perda de rigidez dos talos ou das folhas de um vegetal que pode ser
causada por uma doença ou um estresse hídrico.
Encanamento: processo pelo qual uma gramínea produz a sua semente (estado inicial
da produção das sementes).
Encharcamento dos solos: saturação em água de uma terra agrícola devido à elevação
do nível do lençol freático, a escoamentos superficiais importantes, ou a uma irrigação
excessiva, o encharcamento dos solos torna-os mais compactos privando as raízes das
plantas do oxigênio.
Erosão eólica: designa um fenômeno de erosão causada pelo vento. O vento é um
agente importante da erosão nas zonas onde os solos são pouco estruturados, secos, nus
ou cobertos por uma vegetação de forma dispersa.
Evapotranspiração: quantidade total de água transferida do solo e das plantas para a
atmosfera pela evaporação da água a nível do solo e pelas perdas de água através da
respiração das plantas.
Extração da água: ato de extrair as águas subterrâneas ou da superfície, os meios de
extração são os sistemas de extração da água.
Farelo: resíduo fino da debulha das cereais (pedaços de sabugo, glumas e glumelas).
Fenótipo: conjunto de caracteres aparentes de um ser vivo, corresponde à realização do
genótipo (expressão dos genes).
Fungicida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra as
doenças provocadas por fungos.
Gema vegetativa: gema que vai produzir ramos ou folhas.
Gretamento: aparecimento de gretas, de fendas.
Hábitat ecológico: lugar de vida das espécies vivas animais e vegetais.
Herbicida: substância ativa ou preparação utilizada para destruir as espécies herbáceas
tais como as infestantes.
Higrometria: carateriza o teor em humidade no ar.
Humificação: processo de transformação da matéria orgânica fresca em húmus graças,
entre outras, à ação da microfauna e microflora do solo.
Húmus: no solo, o húmus é o produto da decomposição da matéria orgânica (restos vegetais
e animais). Tem um pápel determinante na fertilidade do solo.
Erosão hídrica: designa um fenômeno de erosão causada pela água, as precipitações
e os escoamentos são responsáveis pela separação e pelo transporte das particulas
do solo, até um lugar de sedimentação, este tipo de erosão é fortemente ligado à
morfologia do sítio, às caraterísticas do solo existente, à presença e à repartição da
vegetação.
Inseticida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os
ataques dos insetos pelo seu efeito letal.
Escarificação: (v. escarificar) ação que consiste em trabalhar a camada superficial de
um solo com ajuda de uma escarificador (quadro equipado com dentes).
Insetifuga: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os
ataques dos insetos pelo seu efeito repulsivo.
Estomatos: pequenas aberturas localizadas na parte inferior das folhas, onde se
realizam a transpiração e as trocas gasosas das plantas.
Irrigação por alagamento: sistema de irrigação que consiste em inundar os canteiros das
culturas.
Estrutura do solo: conjunto mais ou menos estável dos elementos constitutivos de um
solo (argila, areia, limo, húmus, cálcio, ferro,...) em agregados de tamanho variável, os
espaços livres formam uma porosidade que permite a passagem da água, dos nutrientes
que são dissolvidos e dos gases (oxigênio, azoto).
Irrigação por sulco: sistema de irrigação que consiste em levar a água às culturas por uma
rede mais ou menos densa de pequenos canais e sulcos cavados a céu aberto.
Limpeza: procedimento que consiste em extrair a matéria e os resíduos sólidos acumulados
naturalmente no fundo de uma vala, canal, poço,...
Estrutura pulverulenta: carateriza a estrutura de um solo composto por partículas
muito finas, fracamente agregadas.
Lixiviação: perda dos elementos minerais ou orgânicos dissolvidos e transportados pelas
águas de infiltração, podemos falar de lixiviação dos solos ou dos estrumes.
Infestantes: sin. ervas daninhas.
183
Margagem: técnica agrícola que consiste em enriquecer um solo com calcário e com
argila (fornecimento de calcário moído, de marga,...).
Micro-clima: clima próprio, referente a uma porção restrita de um território, distinguese do clima geral deste território.
Mineralização: processo durante o qual o húmus do solo é degradado e libera os seus
constituintes minerais.
Semi-lua: pequeno dique em forma de semi-lua, construído em zonas de vertentes que
permite a recolha e a infiltração das águas de escoamento superficial e o depósito dos
elementos sólidos transportados.
Solo aluvial (ou aluvional): solo constituído por aluviões que são depósitos geralmente
bastante finos, tais como: areia fina, limo ou argila, transportados pela água a correr e
depositados por sedimentação.
Natrão: mineral composto entre outros por sais de carbonato de sódio hidratado.
Solo coluvial (ou coluvional): solo constituído por coluviões que são depósitos,
relativamente grossos, provenientes da erosão eólica ou hídrica de uma vertente,
chamados depósitos de vertente, encontram-se no pé e nas vertentes de uma colina ou
montanha.
Nematicida: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os
ataques de nemátodos pelo seu efeito letal.
Solo ferralítico: solo de cor vermelha, típico das regiões intertropicais, rico em alumínio,
em óxido e hidróxido de ferro.
Nematifuga: substância ativa ou preparação utilizada para proteger as plantas contra os
ataques de nemátodos pelo seu efeito repulsivo.
Solo hidromórfico: solo encharcado com água (de forma temporária ou permanente).
Monda: ação que consiste em cortar com uma máquina de mondar as infestantes
presentes numa cultura.
Nemátodo: pequeno verme do solo (anguilula) que pode ser um parasita das plantas.
Podridão das sementeiras: doença das plantas provocada por micro-organismos (entre
outros do género Pythium) cujo principal síntoma é o apodrecimento do colo das plântulas.
Polinização: transporte dos grãos de pólen (elemento masculino) até o pistilo (elemento
feminino) da flor para assegurar a fecundação, este mecanismo natural (muitas vezes
realizado pelos insetos) pode também ser feito de forma artificial.
Produtos cúpricos: produtos que contêm cobre.
Produtos fitossanitários ou pesticidas: conjunto de substâncias ou preparações destinadas
a proteger as culturas contra as doenças e pragas, podem ser naturais (biopesticidas) ou
químicos.
Quebrar a dormência: a dormência é um mecanismo biológico dos vegetais que, na
natureza, tem por objetivo impedir que a semente germine enquanto as condições
climáticas não sejam favoráveis. Quebrar a dormência consiste em interromper este
mecanismo para que as sementes germinem, tendo previamente reunidas as condições
para o seu desenvolvimento.
Ressementeira / replantação: ação de substituir as plântulas mortas ou fracas numa
parcela cultivada.
Revegetar: ação que visa instalar num sítio uma vegetação herbácea, arbustiva ou
arbórea.
Sacha: ação que consiste em quebrar a crosta superficial de um solo compactado com
uma ferramenta agrícola, a sacha limita a evaporação por capilaridade da água do solo,
favorece a aeração do solo e a infiltração da água.
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AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
Substrato: suporte da cultura.
Terroir: Espaço geográfico delimitado, definido a partir de uma comunidade humana
que construi ao longo da sua história um conjunto de traços culturais distintivos, de
saberes, e de práticas baseadas num sistema de interações entre o meio natural e os
fatores humanos. Os conhecimentos e as práticas envolvidos revelam uma originalidade,
conferem uma tipicidade e permitem um reconhecimento para os produtos ou serviços
originários deste espaço, e daí para os homens que ali vivem. Os terroirs são espaços
vivos e inovadores que não podem ser assimilados à única tradição. (Definição proposta
por um grupo de trabalho da INRA/INAO e validada durante os Encontros internacionais
da UNESCO, Novembro 2005).
Textura de um solo: define-se pela proporção relativa das diferentes frações de um solo
(areia, limo, argila, calcário, matéria orgânica,...), determina o tipo de solo: ex. solo
argiloso, solo limo-argiloso,...
Unidade ecológica: espaço apresentando grupos de espécies vegetais e animais
específicas e em interação com o meio.
Zona baixa: zona baixa geralmente húmida ou hidromórfica, dominada por vertentes que
a rodeam e dos quais recebe as águas e as coluviões.
O presente guia pode ser também descarregado gratuitamente em formato ebook no site www.agrisud.org
Sob reserva de mencionar a Agrisud, a reprodução do formato papel é livre de direito.
A Agrisud apreciará ser informada do uso e da difusão que podem ser feitos com esta reprodução,
assim como qualquer observação ou comentários sobre este guia.
Concepção gráfica e formatação:
iden studi o
www.idenstudio.com
Traduzido do Francês por
Simon Baliteau e António Pinto Santos
Imprimido utilizando processos preservando o meio ambiente numa tipografia certificada IMPRIM’VERT
185
Conselho de administração
Direção geral
Presidente
Diretor geral
Robert Lion, inspetor geral das Finanças, antigo diretor geral, Caixa dos
Depósitos
Yvonnick Huet, agrónomo, INP-ENSAT Toulouse
Secretária
Raphaël Vinchent, agrónomo, FUSAGx Gembloux (Belgique)
Geneviève Ferone, diretora do desenvolvimento durável, grupo Véolia
Environnement
Diretor das operações
Tesoureiro
Diretor financeiro
Sylvain Berton, agronomo, IRC Montpellier
Frédéric Pascal, membro do Conselho económico e social
Administradores
Fatima-Zohra Akalay, presidente da associação marroquina AMAID
Sylvain Breuzard, empreendedor, antigo presidente do Centro dos Jovens
Dirigentes
Nathalie Delapalme, inspetora geral das Finanças
Marc Gastambide, agrónomo, diretor da federação dos parques naturais
regionais
Jacques Godfrain, antigo ministro da Cooperação
Laurence Harribey, presidente da câmara de Noaillan, professora na Escola de
Management de Bordeaux
Stéphane Hessel, embaixador de França
Charles Josselin, antigo ministro da Cooperação, presidente de Cités Unis
France
Observador
Laurent Vigier, Diretor dos Assuntos europeus e internacionais, Caixa dos
Depósitos
186
AGRISUD - A agroecologia, guia prático - GUIA Edição 2010
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Índia
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(243) 997 231 182 [email protected]
Josiane Falla, C/O Projeto PADDFA Nord-Kivu C/O SYDIP 25/27 Avenue Walikale
Quartie Kimemi, Butembo, Província do Norte-Kivu
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Sri Lanka
Sylvain Berton,
+33 (0) 971 539 106 [email protected]
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Depois de 20 anos dedicados à promoção da pequena
exploração agrícola familiar, como proteção frente às
crises alimentares e alavanca para o desenvolvimento
nos países do sul, a Agrisud apresenta este guia das
boas práticas agroecológicas*.
Esta recolha de experiências tem como ambição,
ser útil para todos os que, no terreno, desejam
escolher técnicas agrícolas respeitosas do meio
ambiente, economicamente eficientes, portadoras
de um desenvolvimento humano, atentas à segurança
alimentar e à saúde das populações.
Uma contribuição para este enorme desafio que é o acesso
à alimentação para todos, em quantidade e em qualidade.
*também disponível em formato ebook em www.agrisud.org
Este guia foi realizado com o apoio:
15 € TTC
ISBN: 978-2-9537817-2-4
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