Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 A GENÉTICA AO ALCANCE DAS MÃOS: CONFECÇÃO E UTILIZAÇÃO DE MODELOS TÁTEIS PARA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO REGULAR Gabriele de Almeida Liaño (Colégio Pedro II – Unidade Realengo II) Leandro Dorna dos Santos (Colégio Pedro II – Unidade Realengo II) Leandro Lopes Varanda (Colégio Pedro II – Unidade Realengo II) Resumo Promover a inclusão de alunos com deficiências visuais em turmas regulares é desafiador. Dificuldades vão do contato com o ambiente físico escolar à carência de materiais didáticos adequados, até a falta de qualificação docente. Adicionalmente, o ensino de genética na educação básica frequentemente ocorre através da exposição de imagens e esquemas feitos no quadro durante as aulas, mecanismos dificultam o aprendizado de alunos portadores de deficiências visuais, levando-os a uma situação de exclusão e prejudicando sua progressão. No presente trabalho relatamos as estratégias utilizadas para o ensino de genética para alunos deficientes visuais incluídos, através da produção de modelos didáticos táteis, que resultaram numa melhor percepção e acompanhamento das aulas regulares por estes. Palavras-chave Educação especial; ensino de genética; modelos táteis Introdução A inclusão de alunos portadores de necessidades especiais no ensino regular é um desafio atual para todas as instituições de educação básica no Brasil, que é previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996). Essa Lei trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como a inclusão do Capítulo V, de nome Da Educação Especial. Este, em seu Artigo 58 diz: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.” Dessa forma, entende-se que o atendimento dos alunos que apresentam necessidades especiais deve ser realizado visando uma educação inclusiva em escolas regulares. Segundo SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7279 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Mrech, (1998, p.38), educação inclusiva é “o processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou dos distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus níveis, da pré-escola ao quarto grau”. A realização de uma educação inclusiva de forma efetiva demanda a adequação das estratégias de ensino e dos recursos didáticos nos diversos componentes curriculares do ensino regular. Segundo Perrenoud (2000), os recursos didáticos e as novas tecnologias assumem um importante papel para que a escola se torne inclusiva. No âmbito da inclusão de alunos deficientes visuais, estratégias tais como anotações em cadernos, textos transcritos no quadro negro, provas escritas, livros didáticos, entre outras, fazem com que o aluno deficiente visual caminhe para o fracasso escolar e a não socialização. Portanto, devem-se buscar alternativas para que estes alunos não sejam novas vitimas dos sistemas educacionais que, apesar de se enquadrarem na legislação no sentido de promover a Educação Inclusiva, ainda trazem traços de um modelo excludente (MANTOAN, 2002). Neste contexto, a escola precisa se questionar, não mais sobre a necessidade evidente da inclusão de todos neste meio, mas sobre o quê e como ensinar, que recursos metodológicos utilizar, que concepções de educação norteiam a ação pedagógica e mais do que isso, que formação oferecer aos profissionais envolvidos neste processo. É preciso formar professores comprometidos com a aprendizagem e o desenvolvimento de todos os seus alunos (MANTOAN, 1997). A Instituição O Colégio Pedro II, campus Realengo II se localiza no município do Rio de Janeiro, no bairro de Realengo. Sendo uma das principais instituições de educação básica da rede federal de ensino. Esta unidade do Colégio Pedro II é responsável por atender cerca de 2000 alunos, incluindo o segundo segmento do ensino fundamental, o ensino médio e o Programa de educação de jovens e adultos (Proeja). Entre os alunos regularmente matriculados, encontram-se portadores de deficiência visual de variados níveis. De acordo com a definição da Secretaria de Educação Especial (1994), a deficiência visual é a “perda ou redução total da capacidade de ver com o melhor olho e após a melhor correção ótica”. A deficiência visual pode ser definida como a incapacidade total ou a diminuição da capacidade de ver, provenientes da imperfeição do sistema visual ou do próprio órgão da visão. Esta definição orientou o desenvolvimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, Adaptações Curriculares: Estratégias SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7280 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Para A Educação De Alunos Com Necessidades Especiais, com o intuito de nortear o atendimento desses alunos. O colégio atende a deficientes visuais com cegueira total, os quais apresentam dependência do Sistema Braille e de equipamentos específicos para o desenvolvimento educacional e integração social, e com visão subnormal ou baixa visão, que são alunos capazes de realizar a identificação de resíduos visuais, permitindo-os ler impressos em tinta com letra ampliada ou com a utilização de recursos ópticos, distinguir vultos, a claridade ou objetos a pouca distância. A origem da cegueira dos alunos matriculados varia bastante. Ela pode ser congênita, devido a malformações no sistema visual durante o desenvolvimento embrionário, ou adquirida, quando surge ao longo da vida. Neste último caso, o indivíduo guarda memórias visuais, incluindo luzes, cores e formas que conheceu antes da perda da visão, o que facilita bastante sua readaptação. O mesmo não ocorre com aqueles que já nascem cegos, e devido à falta de memórias visuais, sua percepção do mundo é única e intrínseca de cada indivíduo. De acordo com Gil (2000), as principais causas de cegueira no Brasil são doenças como a retinopatia, a catarata congênita e o glaucoma congênito. Adicionalmente, complicações visuais relacionadas à diabetes, descolamento de retina e traumatismos oculares também são frequentes. A influência da deficiência visual sobre o desenvolvimento escolar e psicológico varia muito entre os indivíduos, visto que depende da idade, do grau da deficiência, da personalidade, das relações familiares, entre outros fatores. O aluno pode ficar frustrado e deprimido ao se deparar com as barreiras causadas pelas limitações visuais, isolando-se. Para que estas barreiras sejam transpostas e as potencialidades educacionais desse indivíduo sejam aumentadas, é necessário que haja a inclusão social em todos âmbitos, sobretudo c através de apoio familiar e uma formação escolar integradora. Neste sentido, os alunos deficientes visuais do Colégio Pedro II recebem acompanhamento de pedagogos, psicólogos, professores e fonoaudiólogos, que compõem o quadro de especialistas do Núcleo de Atendimento de Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE), um setor existente no Colégio Pedro II desde 2004, em todas as suas unidades, que visa fornecer subsídios que viabilizem a progressão nos estudos de alunos portadores de necessidades específicas de forma inclusiva, estabelecendo, inclusive, parcerias com os pais dos alunos e os professores das diversas disciplinas que compõem a matriz curricular da educação básica desta instituição de ensino. SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7281 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 O ensino de genética O Ministério da Educação e Cultura (MEC) define por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) que esse segmento de ensino, além de ser a etapa final da educação básica, tal como proposto pela LDB (1996), deve proporcionar uma formação humana do aluno, de maneira que os conteúdos relacionados à ciência e à tecnologia proporcionem uma educação para cidadania e não apenas para a profissionalização (BRASIL, 2000). No âmbito do ensino de genética, os PCNEM propõem que: O desenvolvimento da Genética e da Biologia Molecular, das tecnologias de manipulação do DNA e de clonagem traz à tona aspectos éticos envolvidos na produção e aplicação do conhecimento científico e tecnológico, chamando à reflexão sobre as relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade. Conhecer a estrutura molecular da vida, os mecanismos de perpetuação, diferenciação das espécies e diversificação intraespecífica, a importância da biodiversidade para a vida no planeta são alguns dos elementos essenciais para um posicionamento criterioso relativo ao conjunto das construções e intervenções humanas no mundo contemporâneo (BRASIL, 2000, p.14-15). Neste mesmo documento é também proposta a integração entre a genética molecular e a genética mendeliana, quando se aponta para a necessidade da relação entre o estudo da estrutura e da composição do material genético, com a herança mendeliana e algumas de suas derivações, como alelos múltiplos, herança quantitativa, herança ligada ao sexo, recombinação gênica, ligação fatorial, o que é tido como fundamental para a compreensão sobre a hereditariedade (BRASIL, 2000). Ainda segundo os PCNEM: De posse desses conhecimentos, é possível ao aluno relacioná-los às tecnologias de clonagem, engenharia genética e outras ligadas à manipulação do DNA, proceder a análise desses fazeres humanos identificando aspectos éticos, morais, políticos e econômicos envolvidos na produção científica e tecnológica, bem como na sua utilização; o aluno se transporta de um cenário meramente científico para um contexto em que estão envolvidos vários aspectos da vida humana. É um momento bastante propício ao trabalho com a superação de posturas que, por omitir a real complexidade das questões, induz a julgamentos simplistas e, não raro, preconceituosos. (BRASIL, 2000, p.19). SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7282 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Diante do exposto, percebe-se que é fundamental para o pleno exercício da cidadania pelo aluno em formação o acesso aos conhecimentos biológicos proporcionados pelo estudo da genética. Entretanto, a genética como componente curricular de Biologia no ensino médio envolve temas de níveis variados de complexidade que podem ser de difícil compreensão para os alunos, tal como defendem Cid & Neto (2005) ao relatarem a dificuldade apresentada pelos alunos com os conceitos e a terminologia específica da genética. Na tentativa de favorecer a aprendizagem dos alunos é comum, tanto no ensino de genética mendeliana, quanto de genética molecular, a utilização por parte dos professores de esquemas, desenhos, heredogramas, feitos no quadro em sala de aula, assim como a exibição de animações e vídeos, com o intuito de favorecer o entendimento dos alunos. Essas estratégias dependem fundamentalmente da percepção visual daquilo que é produzido e exposto pelo professor, o que se torna ineficaz, e até mesmo excludente, quando a sala de aula é frequentada por alunos que apresentam deficiência visual. Sendo assim, torna-se necessária a adoção de metodologias que favoreçam a inclusão destes alunos, de forma que eles também possam adquirir conhecimentos, que segundo os PCNEM, são essenciais para o pleno exercício da cidadania. Relato e Discussão No Colégio Pedro II, os conteúdos de genética são abordados na disciplina de Biologia, no terceiro ano do Ensino Médio para as turmas do Ensino Médio Regular, Curso Técnico Integrado de Música e PROEJA. Os conteúdos programáticos de genética nessa série abordam os seguintes assuntos: fundamentos da hereditariedade, probabilidade e heredogramas, Primeira Lei de Mendel, ausência de dominância, genes letais, polialelia, grupos sanguíneos, Segunda Lei de Mendel, pleiotropia e interação gênica, epistasia, herança quantitativa, ligação gênica, herança sexual, aneuploidias, genética molecular (transgênicos, clonagem, células-tronco, testes de DNA). Considerando que, por sua natureza molecular, o ensino de genética depende de uma série de modelos esquemáticos, do conhecimento de uma linguagem de termos específicos (geralmente associados a eventos ou estruturas), além de uma capacidade de abstração por parte dos alunos, a presença de alunos deficientes visuais incluídos nas turmas regulares criou uma demanda. Assim, foi necessário desenvolver estratégias que permitissem incluir, de fato, SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7283 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 tais alunos nas aulas, para que eles pudessem ter acesso aos mesmos esquemas apresentados no quadro, permitindo o acompanhamento da aula simultâneo pelos alunos deficientes visuais e pelos os demais. Tais estratégias incluem a adequação na linguagem adotada na exposição dos conteúdos, evitando-se termos que demandem conhecimento prévio de determinadas formas e cores, a produção de textos e áudios contendo a explicação de cada conteúdo abordado em sala de aula, além da confecção de maquetes e modelos didáticos táteis que reproduzem os esquemas feitos no quadro durante as aulas. Neste trabalho relatamos a experiência da confecção e utilização de modelos didáticos táteis para o ensino de genética, desenvolvidos durante o ano letivo de 2015. Sua receptividade pelos alunos deficientes visuais, assim como sua importância como ferramenta no processo de ensino-aprendizagem, foram avaliados mediante a experiência vivida pelos professores regentes e os depoimentos dos alunos envolvidos. Para desenvolver os modelos táteis, buscamos materiais de fácil acesso, baixo custo e com texturas variadas, tomando por base as orientações existentes no Guia Prático para Adaptação em Relevo (FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2011). Entre eles, destacamos: tinta relevo, papel vegetal, barbante, lixas, emborrachado, miçangas e botões. Ao longo do referido ano letivo, todos os esquemas e demais informações visuais a serem desenvolvidos ou projetados pelos professores durante as aulas de genética foram previamente confeccionados e disponibilizados em relevo, originando assim os modelos táteis. Deve-se ressaltar a necessidade de um constante replanejamento de ações pedagógicas, assim como a importância do desenvolvimento de um planejamento uniforme pela equipe de Biologia do Colégio Pedro II, campus Realengo II, para o sucesso de tais ações. Os modelos táteis eram desenhados em folhas de papel milimetrado, de tamanho A3 ou A4, a fim de manter o tamanho e proporcionalidade das formas. Priorizamos formatos geométricos e de fácil compreensão, visto que essas formas já eram previamente conhecidas pelos alunos, sendo amplamente trabalhas nas aulas de Desenho Geométrico da mesma instituição. Após serem desenhados, escolhíamos materiais que pudessem apresentá-los fora do plano, aonde, através do tato, pudessem ser facilmente identificados pelos alunos deficientes visuais. A escolha dos materiais baseou-se nos critérios anteriormente apresentados. Após a confecção do esquema, as legendas eram impressas em braille em impressora específica, por intermédio de parceria com o NAPNE, e confeccionadas com tinta relevo, ou escritas em papel comum ou vegetal com a utilização de uma reglete. SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7284 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Durante as aulas, os modelos táteis eram entregues aos alunos e, ao longo da exposição dos conteúdos, o professor indicava o momento em que era necessário utilizá-los, orientando para que o aluno fosse capaz de fazê-lo de maneira autônoma, posteriormente. Geralmente mais de um modelo era utilizado em cada aula e, após o término, os alunos podiam ficar com o material para auxiliá-los em seus estudos. Ao longo do ano letivo de 2015, confeccionamos modelos de mitose, meiose, permutação, Primeira e Segunda Lei de Mendel, heredogramas, entre outros. Esses modelos foram feitos em duas dimensões, utilizando principalmente cola relevo, papel milimetrado, papel vegetal, cola comum e barbante. Cada material foi desenvolvido de acordo com a especificidade e proposta do modelo. A ideia era projetar o modelo desenhado no quadro, de modo que ficasse acessível ao tato dos alunos deficientes visuais. A cola relevo foi mais utilizada para reproduzir desenhos feitos na lousa, como os heredogranas, o barbante para criar estruturas, como os cromossomos, e o papel vegetal para fazer legendas em braile com uso da reglete, e todos esses tiveram como base o papel milimetrado. Como exemplo do exposto acima, as figuras 1 e 2 representam, respectivamente, modelos sobre Primeira Lei de Mendel e símbolos utilizados em heredogramas. Tais modelos foram produzidos com papel milimetrado e cola relevo, a qual é facilmente identificada pelo tato dos alunos deficientes visuais. Figura 1 – Modelo tátil da 1ª Lei de Mendel SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7285 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Figura 2 – Modelo tátil dos símbolos de um heredograma. Segundo Cerqueira & Ferreira (1996), a utilização de recursos didáticos na educação de alunos deficientes visuais é fundamental para o processo de ensino aprendizagem, dado que a instrução verbal pura e simples, oferecida pelos professores, dissocia o aprendizado da realidade e do ambiente físico. Neste caso, devido às dificuldades e limitações inerentes à deficiência visual, as informações táteis oferecidas por tais recursos enriquecerão seu acervo de conhecimentos, permitindo a mesma autonomia na absorção dos conteúdos que aquela oferecida para os outros alunos do ensino regular. Cerqueira & Ferreira (1996) indicam, ainda, algumas orientações que devem ser consideradas e avaliadas na construção dos recursos didáticos para alunos deficientes visuais, tais como: a confecção de recursos didáticos com materiais de baixo custo e recicláveis; a utilização de materiais resistentes, considerando o manuseio freqüente por alunos cegos; o tamanho, que não pode ser nem muito grande, nem muito pequeno, pois dimensões extremas atrapalham o entendimento do material produzido; a representação tão exata quanto possível do modelo original; a significação tátil, pois os relevos e texturas utilizadas devem ser facilmente perceptíveis e distinguíveis para os alunos deficientes visuais. O uso de modelos táteis concretos reduz a abstração nas situações de aprendizado, facilitando o entendimento dos conteúdos. Contudo, sempre que possível, tais modelos devem ser oferecidos aos alunos com descrições verbais, em Braile, permitindo que os mesmos SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7286 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 possam entender as informações contidas nos modelos de forma autônoma (CERQUEIRA & FERREIRA, 1996). Consideramos que a estratégia adotada teve grande sucesso e alcançou aquilo a que se propôs. A receptividade por parte dos alunos com deficiência visual foi altíssima e considerada muito eficiente para as aulas de genética, mediante o melhor acompanhamento das aulas por estes alunos, assim como por seu desempenho acadêmico satisfatório. Os alunos relataram que os modelos facilitaram o acompanhamento das aulas e que, através do material a eles dado, era possível compreender melhor as estruturas moleculares, assim como esquemas muito visuais, como as árvores genealógicas, além de ajudar na assimilação dos conteúdos abordados. Os modelos confeccionados em cola relevo tiveram a maior aceitação pelos alunos e se mostraram mais eficientes, uma vez que as formas por ela produzida foram consideradas mais facilmente identificáveis e sua textura considerada mais agradável. Contudo, tais relatos foram obtidos durante as aulas, não realizamos nenhum tipo de entrevista formal para saber a aplicabilidade dos modelos produzidos. Nossas impressões corroboram outros trabalhos encontrados na literatura, os quais demonstram o sucesso do uso de recursos didáticos táteis como estratégia de ensino e de inclusão aos alunos deficientes visuais. Motta et al. (2008) relataram que o uso de brinquedos com material emborrachado, madeira e cordões coloridos facilitaram o aprendizado de crianças deficientes visuais; Almeida & Melo (2006/2007) produziu material cartográfico tátil, com o objetivo de ensinar Geografia a alunos deficientes visuais; finalmente, Retondo e Silva (2008) contam como os alunos de um curso de licenciatura em Química de Ribeirão Preto, em São Paulo, produziram materiais adaptados para alunos deficientes visuais, tais como caixa aromática, livro sensorial e quebra-cabeça de material emborrachado. A partir de nossa experiência, comprovamos que é possível fazer a inclusão de alunos deficientes visuais com um baixo custo de material e em relativo período reduzido de tempo, mesmo em conteúdos abstratos, impalpáveis e, por vezes, distantes do cotidiano desses alunos. Através da utilização dos modelos táteis, todos os alunos, deficientes visuais ou não, puderam acompanhar as aulas simultaneamente e ter acesso ao mesmo material e aos mesmos recursos didáticos, promovendo assim, de fato, a inclusão. SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7287 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Referências ALMEIDA, D. C. S. & MELO, A. A. O Ensino de Geografia para alunos com necessidades educacionais especiais: o caso dos alunos cegos e baixa visão. Universidade Federal de Uberlândia. 2006/2007. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Ministério da Educação e Cultura, Brasília, 109 p. 2000. BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.394 de 20 de dez. de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF. CERQUEIRA, B.J. & FERREIRA, B.M.E. Os recursos didáticos na educação especial. 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