ENTENDENDO O FENÔMENO RELIGIOSO 1. O sentido do fenômeno religioso Entendemos como fenômeno religioso aquilo que aparece, que apresenta e que se mostra. A religiosidade quando se expressa através de gestos, palavras, atitudes e ritos, é percebida como fenômeno, que se denomina fenômeno religioso. Trata-se do comportamento religioso enquanto fenômeno social. O fenômeno religioso pode ser expressão da busca de autêntico relacionamento com o Transcendente. O fenômeno religioso necessita de um rito, ele perpassa todas as dimensões do ser humano: biológico, psicológico e sociológico. Cada fenômeno tem o seu modo próprio de mostrar-se na verdade do seu ser. 2. Manifestação do fenômeno religioso Sua manifestação é um fato. O fenômeno pode ser representado em diversas formas e oportunidades na vida do homem: na questão do bem e do mal, da vida e da morte, na saúde e na doença, nos medos e nos ritos, nas teologias e na sua relação com a economia, na política, na liberdade, na moral e na justiça. 3. A necessidade da religiosidade O homem é por natureza um ser religioso; tem uma dimensão natural que é anterior a toda religião. Segundo a tradição cristã a pessoa humana foi criada por Deus como uma unidade inacabada e em construção. A dimensão religiosa impulsiona o ser humano a buscar sua realização plena e definitiva na constante superação e transcendência de seus limites. A pessoa humana é um ser finito, chamado ao infinito. A religiosidade suscita no ser humano uma atitude dinâmica de busca e realização do sentido radical de sua existência e de abertura ao Transcendente, a Deus. 4. O sentido da religião Religião é a atitude de uma pessoa em relação ao Sagrado. Religião deriva do termo latino "ReLigare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo metafísico, ou seja, de além do mundo físico. A definição de religião mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de organização e análise, tem sido a seguinte: religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobrehumanos dentro de universos históricos e culturais específicos. Para ser religioso não basta só acreditar na existência de Deus, é necessário reconhecer que somos criaturas e temos um Criador que nos ama e quer se comunicar conosco. O diálogo do Criador com a criatura é o que dá sentido à vida. Essa comunicação com Deus acontece por meio dos ritos e das orações. 5. Religião como resposta do homem para Deus Todo homem, mesmo aquele que diz não acreditar em Deus, sente no profundo do seu ser uma inquietação, um vazio, uma pergunta sem resposta. Todo homem sente a necessidade de responder a Deus e desse desejo inato em nós nascem as religiões. As religiões são sistematizações da crença na divindade. A religião é a maneira de um povo viver e manifestar o seu culto à divindade e de ser aperfeiçoar pessoal e coletivamente para conseguir a salvação. As religiões apresentam caminhos característicos, considerado pelos iniciadores como os melhores para alcançar a salvação e cultuar a Deus. 6.Movimentos religiosos Um dos fenômenos da atualidade é o grande crescimento de novos grupos e movimentos religiosos, de forma especial na religião cristã. Nos meios de comunicação ou popularmente são denominados de seitas. As seitas, não devem ser consideradas como termo negativo, mas como um grupo que se separa ou se opõe ao grupo religioso de origem. Porém, é comum das seitas manter características da religião de origem. 7. Várias religiões Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões. Concluindo Não basta crer, é preciso viver a religião em todas as suas conseqüências. Por isso, que no catolicismo a moral da Igreja ensina: “Deveis ser perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,1-48). Por isso, devemos ter atitudes de respeito, diálogo religioso, caridade e acolhida aos que professam a religião diferente da nossa. Jesus deixou o exemplo do profeta que anunciou sua palavra e acolheu a todos. “Como todos os seres vivos, o homem se preocupa com muitas coisas necessárias como o alimento e moradia. Mas à diferença de outros seres vivos o homem também tem preocupações espirituais, isto é, estéticas, sociais, políticas e cognitivas.” (Tillich) MUITAS VERDADES Buda contou a seguinte história a respeito de um rei, cujos súditos viviam em disputas religiosas sem fim, cada qual se considerando o único representante da verdade: (...) O rei serviu-se de cegos para jazer uma demonstração (...). Ordenou a seus emissários que percorressem o reino em busca de todos os cegos de nascimento com o objetivo de levá-los a porta do palácio. (...) O rei então foi informado de que todos se achavam reunidos de acordo com seus desejos. Ele disse: "Ide e mostrai-lhes os elefantes." Os oficiais obedeceram sem vacilar e levaram os cegos para junto dos elefantes, guiando suas mãos para que pudessem tocá-los. Entre os cegos, um pegou uma perna, outro a cauda, outro a raiz da cauda, outro mexeu na barriga, outro numa presa, outro na tromba. Os cegos depois começaram a discutir ruidosamente sobre os referidos animais. Cada um afirmava que sua definição era a correta e não a dos outros. Os emissários levaram os cegos ao rei e este lhes perguntou: "Vocês viram os elefantes?" "Nós os vimos perfeitamente.” O rei perguntou: "Com que se parece um elefante?" Aquele que tinha mexido na perna respondeu: "Oh, sábio rei, um elefante é como um tubo torneado." O que tinha mexido na cauda disse que o elefante era como uma vassoura. O que tinha mexido na raiz da cauda afirmou que era como bastão. O que tinha mexido na barriga disse que era como um grande tambor. O que tinha mexido no lado do corpo assegurou que era como um muro. O que tinha mexido no lombo disse que era como uma mesa muito alta. O que tinha tocado a orelha comparou-o a um pedaço de couro esburacado. O que tocou a cabeça disse que era como um grande dosador de grãos. O que tinha tocado a presa afirmou que era como um grande chifre e o que tocou a tromba respondeu; “Oh, sábio rei, o elefante é como uma grande corda grossa.” Quando todos já haviam dado suas versões, começaram a discutir entre si diante do rei, cada um assegurando que a verdade era tal como ele a tinha definido e não de acordo com os outros. (Trecho do conto “A face do espelho”, Contos budistas na China. São Paulo, 2003 )