UTILIZAÇÃO DE IMAGENS LANDSAT PARA ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO GRANDE, REGIÃO DO MÉDIO PARANAPANEMA, SÃO PAULO. Camila Jorge Moretti de Campos – discente do curso de Geografia da Unesp/Campus Experimental de Ourinhos. e-mail: [email protected] Prof. Dr. Rodrigo Lilla Manzione - docente do curso de Geografia da Unesp/Campus Experimental de Ourinhos. e-mail: [email protected] 1. INTRODUÇÃO A Bacia Hidrográfica é considerada uma unidade ambiental fundamental devido a sua significância para os processos fluviais e indiretamente para outros processos geomorfológicos, sendo uma unidade funcional de estudo cada vez mais utilizada por diferentes disciplinas. Segundo Christofoletti (1974), temos que: “É uma área drenada por um determinado rio ou por uma rede fluvial. A drenagem fluvial é constituída por um conjunto de canais de escoamento interligados. A área drenada por esse sistema fluvial é definida como bacia de drenagem, e essa rede de drenagem depende não só do total e do regime das precipitações, como também das perdas por evapotranspiração e infiltração.” As microbacias hidrográficas, são definidas de acordo com o grau de concentração da rede de drenagem , com áreas de drenagem direta ao curso principal da bacia, sendo estas menores que 100 Km². Estas unidades ambientais estão inseridas no espaço de forma a abarcar as diversas dinâmicas ambientais e antrópicas, muitas vezes, modificando seu funcionamento. É sabido que o desenvolvimento urbano apresenta permanente conflito com o meio ambiente, decorrente de razões econômicas e, muitas vezes, pela ausência de planejamento de ocupação. Os componentes do meio físico são de fundamental importância na avaliação ambiental de uma região, daí a necessidade de se ter um diagnóstico bem circunstanciado, para que a avaliação ambiental seja verdadeira e confiável. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 O estudo do uso e ocupação trata-se de conhecer toda a utilização por parte do homem ou pela caracterização das categorias de vegetação natural ou plantada que reveste o solo. Segundo Rosa (2004), “a expressão "uso do solo" pode ser entendida como sendo a forma pela qual o espaço esta sendo ocupado pelo homem”. O levantamento do uso do solo é então, de grande importância, já que o mau uso deste gera degradação ambiental, e diversos problemas para o homem e a natureza. Como exemplos de processos de degradação ambiental, causados pelo mau uso do solo, podemos citar erosões, inundações, assoreamentos desenfreados de reservatórios e cursos d' água, entre outros. Desta forma, afirmamos que a análise ambiental é de grande importância para o conhecimento do padrão territorial, ou seja, as características e organização da dimensão físico-natural, os processos econômicos, sociais, culturais, ecológicos, políticos e o sistema de infra-estrutura. Com a caracterização do meio, pretende-se coordenar as ações dos setores públicos e privados que resultam em impactos para o meio ambiente nas formas de ocupação territorial. Assim eleva-se qualidade de vida da população mantendo a harmonia com a natureza. As técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto constituem hoje, um importante conjunto de ferramentas aplicáveis ao planejamento geográfico, bem como para a obtenção de dados a serem utilizados no planejamento e zoneamento, tanto em níveis regionais quanto municipais. De fato, tem havido um desenvolvimento marcante das geotecnologias (Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento) que disponibilizam uma série de ferramentas que auxiliam sobremaneira a investigação da adequação do uso do solo (Corrêa et al., 1996). Desta forma, buscamos caracterizar fisicamente uma bacia hidrográfica no decorrer das últimas décadas para inferir sobre os padrões espaciais e temporais da dinâmica do território, a partir de produtos orbitais, elaborando mapas temáticos representativos do meio físico multitemporalmente, identificando as mudanças ocorridas ao longo do período de 1970 a 2009, e comparar as modificações ocorridas nos períodos analisados, identificando áreas agrícolas, pastagens, áreas preservadas e áreas a serem recuperadas, através da utilização de técnicas de Sensoriamento Remoto Orbital e SIG (Sistema de Informações Geográficas). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Para isso, foi escolhida uma bacia hidrográfica que representasse o cenário atualmente encontrado na região do Médio Paranapanema, com uso predominantemente agrícola e com poucos resquícios de vegetação nativa e/ou matas ciliares. OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho são caracterizar o uso e ocupação do solo na Bacia do Ribeirão Grande, utilizando-se de geotecnologias para determinar os padrões de modificação do uso da bacia pelas atividades agrícolas; Mapear os usos do solo a partir dos produtos disponíveis; e subsidiar o planejamento ambiental da bacia através de um diagnóstico sobre essas mudanças. METODOLOGIA A metodologia de trabalho incluiu levantamento e revisão bibliográfica e cartográfica sobre o tema e área da pesquisa em bibliotecas e sites do governo. De acordo com objetivo do trabalho, que é a análise do uso e ocupação do solo para o planejamento ambiental, foi utilizada a concepção metodológica de planejamento ambiental e análise integrada a paisagem de Rodriguez (1994, 2002) e Rodriguez et al. (2004), que pode ser sintetizada na Figura 1. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 Figura 1: Planejamento ambiental e análise integrada da paisagem. Fonte: Rodriguez (1994, 2002) e Rodriguez et al. (2004). Organização: Zacharias (2006). Quanto aos passos da fase de análise, foi realizado um mapeamento da bacia e as informações levantadas foram transpostas para uma base de dados cartográficos e transformada em um Sistema de Informações Geográficas – SIG. Um SIG constitui-se na sistematização e ordenação dos dados e informações utilizadas. Para CAMARGO (1997), o SIG é um ambiente computacional no qual dados espaciais representados por entidades gráficas podem ser relacionados entre si e com outros dados não espaciais com registros alfanuméricos de um banco de dados convencional e imagens “raster”. Para a montagem do SIG foram utilizadas imagens do satélite LANDSAT TM e o software Spring para a confecção das cartas e mapas. Além da pesquisas serão realizados trabalhos de campo em pontos específicos da área de pesquisa, mais precisamente nos municípios de Ourinhos, Ribeirão do Sul e São Pedro do Turvo como estudo de caso. As etapas para a produção do material cartográfico se deram pelos passos: registro da imagem, classificação, e geração dos mapas de uso do solo. O registro de uma imagem compreende uma transformação geométrica que relaciona, coordenadas de imagem (linha, coluna) com coordenadas de um sistema de referência. O registro apenas usa transformações geométricas simples (usualmente transformações polinomiais de 1° e 2° graus) para estabelecer um mapeamento entre coordenadas de imagem e coordenadas geográficas. Assim realizou-se o registro tendo como base as cartas topográficas digitalizadas e georreferenciadas dos municípios de Ourinhos e Concórdia, elaboradas pelo IBGE no ano de 1973. Inicialmente foi gerado o projeto dentro do SPRING 5.1 onde foram digitalizadas as cartas topográficas, dividindo em hidrografia, curvas de nível e rodovias. Essas cartas com suas respectivas coordenadas foram utilizadas para registrar as demais imagens dos anos de 1978, 1988, 1999, 2008 e 2009. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 A Classificação de imagens é um processo de extração de informação em imagens para reconhecer padrões e objetos homogêneos e são utilizados em Sensoriamento Remoto para mapear áreas da superfície terrestre que correspondem aos temas de interesse. O resultado da classificação digital é apresentado por meio de classes espectrais (áreas que possuem características espectrais semelhantes), uma vez que um alvo dificilmente é caracterizado por uma única assinatura espectral. É constituído por um mapa de "pixels" classificados, representados por símbolos gráficos ou cores, ou seja, o processo de classificação digital transforma um grande número de níveis de cinza em cada banda espectral em um pequeno número de classes em uma única imagem. Quando existem regiões da imagem em que o usuário dispõe de informações que permitem a identificação de uma classe de interesse, o treinamento é dito supervisionado. Para um treinamento supervisionado o usuário deve identificar na imagem uma área representativa de cada classe. É importante que a área de treinamento seja uma amostra homogênea da classe respectiva, mas ao mesmo tempo deve-se incluir toda a variabilidade dos níveis de cinza. Recomenda-se que o usuário adquira mais de uma área de treinamento, utilizando o maior número de informações disponíveis, como trabalhos de campo, mapas, etc. Para a obtenção de classes estatisticamente confiáveis, são necessários de 10 a 100 "pixels" de treinamento por classe. O número de "pixels" de treinamento necessário para a precisão do reconhecimento de uma classe aumenta com o aumento da variabilidade entre as classes. Já com a utilização de algoritmos para reconhecer as classes presentes na imagem, o treinamento é dito não-supervisionado. Ao definir áreas para o treinamento não-supervisionado, o usuário não deve se preocupar com a homogeneidade das classes. As áreas escolhidas devem ser heterogêneas para assegurar que todas as possíveis classes e suas variabilidades sejam incluídas. Os "pixels" dentro de uma área de treinamento são submetidos a um algoritmo de agrupamento ("clustering") que determina o agrupamento do dado, numa feição espacial de dimensão igual ao número de bandas presentes. Este algoritmo assume que cada grupo ("cluster") representa a distribuição de probabilidade de uma classe. Servindo de base para o estudo multitemporal, foram importadas imagens Landsat TM dos anos de 1978, 1988, 1999, 2008 e 2009, sendo utilizadas as bandas 3, 4 e 5. Posteriormente, passou-se para a etapa de transformação e fusão das imagens para facilitar a análise visual da cena, e geração dos mapas de uso do solo. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 RESULTADOS PRELIMINARES A bacia do Rio Paranapanema totaliza aproximadamente 100.800 km², dos quais 45.500 km² no Estado de São Paulo e 55.300 km² no Estado do Paraná (SP-SRHSO-DAEE, 2002 e SUDERHSA, 1998). O rio Paranapanema nasce na Serra Agudos Grandes, no sudeste de São Paulo, acerca de 100 km da costa Atlântica e 900 m de altitude. Tem sua foz no Rio Paraná, com altitude de 239 m, possuindo extensão aproximada de 830 km e desnível de cerca de 570 m, intensamente utilizado para geração de energia elétrica (LEAL, 2000). De acordo com o Relatório do Comitê de bacias, que tem como base de dados o projeto LUPA, o Relatório Zero, temos as seguintes percentagens das áreas de categorias de usos do solo para toda a UGRHI: (i) áreas de pastagens (54,9%); (ii) áreas de culturas temporárias (14,85%); (iii) áreas de culturas semi-perenes (13,6%); (iv) cobertura vegetal natural (6,2%); (v) área de reflorestamento (4,8%); (vi) áreas de culturas perenes (2,2%); (vii) áreas urbanas (1,0%) e (viii) outros usos (2,5%). Na Figura 2, apresenta-se a divisão hidrográfica da bacia do Rio Paranapanema, sendo a divisão paulista em UGRHIs e a divisão paranaense em bacias hidrográficas. A área de abrangência desses Comitês no estado de São Paulo é de 51.331 km², com 91 municípios e cerca de 1.800.000 habitantes (IBGE, 2007). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Figura 2: Divisão hidrográfica da Bacia do Rio Paranapanema (Fonte: SUDERSHA (1998) e SP-SRHSO-DAEE (2002)). Já a bacia do Médio Paranapanema localiza-se na porção centro-oeste do Estado de São Paulo, é definida pelas bacias hidrográficas de vários afluentes do rio Paranapanema pela margem direita, destacando-se os seguintes: rio Pardo cuja foz situa-se no reservatório de Salto Grande e tem como seu principal afluente o rio Turvo; rio Novo que tem sua foz no mesmo reservatório acima citado; rio Parí e rio da Capivara que desemboca no reservatório de Capivara. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Quanto à conjuntura socioeconômica, a UGRHI em foco é constituída predominantemente por municípios com menos de 10 mil habitantes. Como se observa no Quadro 1, em 2000 apresentava uma população de 593.770 habitantes; Ourinhos, Assis e Avaré são os municípios com maior população e se consolidaram como pólos regionais, e embora nenhum deles tenha ultrapassado os 100.000 habitantes, concentravam cerca de 42% da população total da UGRHI. Quadro 1- Projeção Demográfica da UGRHI. Fonte: Estudos de Projeção Demográfica SEADE/SABESP (populações) e CORHI (Critérios para Distribuição das Populações, proporcionalmente à área da UGRHI). Dentre os tributários da sub-bacia do Rio Pardo, que por sua vez são os mais importantes da bacia do Paranapanema, temos o objeto de estudo deste trabalho, o Ribeirão Grande, ou mais comumente conhecido como Ribeirão das Onças, sendo o rio principal de uma microbacia de mesmo nome. Esta microbacia está localizada ao norte do Rio Pardo, abrangendo 3 municípios: Ourinhos, São Pedro do Turvo e Ribeirão do Sul. Está basicamente inserida no contexto agropecuário, com a maioria da extensão de suas terras ocupadas por atividades agrícolas como a cana-de-açúcar ou por pastagens. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 Após a caracterização da área, foi iniciado o processo do uso das geotecnologias para inferência das características do uso e ocupação do solo. No primeiro momento, foi georreferenciado o mosaico das Cartas Topográficas dos municípios de Ourinhos e Concórdia, confeccionadas pelo IBGE no ano de 1973, que são abrangidos pela microbacia. Em seguida foi iniciado o mapa temático de uso e ocupação do solo na microbacia, que mostrou grande parte do território sendo utilizado para agricultura, principalmente a cultura de café, seguida da cultura de cana-de-açúcar. A cultura cafeeira ainda presente no município no início da década de 70 advém de áreas remanescentes da expansão cafeeira pelo oeste paulista no final do século XIX, que sobreviveram à crise do café ocorrida no ano de 1929, ocasionada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque. Devido a isso, a cultura da cana-de-açúcar é inserida na região. Podemos constatar durante a produção do mapa de 1973, que essas duas culturas se intercalam em áreas muito próximas, denunciando a substituição de uma cultura por outra. Assim, notamos o início da expansão da cana-de-açúcar (em detrimento do café) ao longo dos municípios do Médio Paranapanema, principalmente da microbacia do Ribeirão Grande, que possui o predomínio de Latossolos Vermelhos (LV) e os Nitossolos Vermelhos (NV), sendo este de menor expressividade (OLIVEIRA et al., 1999), considerados de grande fertilidade para diversos tipos de cultivo, inclusive o da cana-de-açúcar. Os mapas ainda encontram-se em processo de produção, necessitando de idas a campo para constatação de feições detectadas pelas imagens de satélite. BIBLIOGRAFIA CHIRSTOFOLLETTI, A. Condicionantes geomorfológicas e hidrológicas aos programas de desenvolvimento. In: Análise Ambiental: Uma visão multidisciplinar TAUK, S. M. T. (organizadora). São Paulo: UNESP, 1995. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 CORRÊA, T., COSTA, C., SOUZA, M. G., BRITES, R. S. Delimitação e Caracterização de Áreas de Preservação Permanente por Meio de um Sistema de Informações Geográficas (SIG). Revista Árvore. Viçosa - MG, v.20, n.1, p.129 - 135, 1996. CURRAN, P. J. Principles of Remote Sensing. London: Longman, 1988. GIOTTO, E. Levantamento do uso atual da terra com imagem RBV do Landsat 3 no município de Tapera – RS. 1981, 66 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1981. RODRIGUEZ, J. M. M, SILVA, E. V da & CAVALCANTI, A. P. B. Geoecologia das Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza, Editora UFC, 2004. 222 p. RODRIGUEZ, J. M. M. Planejamento Ambiental como campo de ação da Geografia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 5, 1994, Curitiba. Anais... São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1994. RODRIGUEZ, J. M. M. Planificación Ambiental. 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