PROCESSO ESPAÇO-DOENÇA EM RORAIMA (BR): REFLEXÕES

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
PROCESSO ESPAÇO-DOENÇA EM RORAIMA (BR): REFLEXÕES ACERCA
DE SEUS CONDICIONANTES AMBIENTAIS AO LONGO DA BR 174
JULIANA ARAÚJO ALVES / Geógrafa, Mestranda em Geografia pela Universidade
Federal do Amazonas (UFAM); Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas das
Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB)
[email protected]
JOSÉ ALDEMIR DE OLIVEIRA/Geógrafo, Professor Doutor Titular da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM); Líder e Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas
das Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB)
[email protected]
DEIVISON CARVALHO MOLINARI / Geógrafo, Professor Assistente 1 da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas das
Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB).
[email protected]
RAFAEL DE ALMEIDA ALBUQUERQUE / Graduando em Geografia pela Universidade
do Estado do Amazonas (UEA) e Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas das
Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB).
[email protected]
INTRODUÇÃO:
GEOGRAFIA MÉDICA E DA SAÚDE – E O PROCESSO ESPAÇO-DOENÇA
A geografia da saúde e/ou geografia médica se constitui num dos mais novos ramos
de pesquisa na ciência geográfica. Contudo, sua relação entre condicionantes
ambientais no processo espaço-doença é tão antiga quanto à própria consolidação da
Geografia enquanto ciência. A primeira manifestação desta relação é atribuída a
Hipócrates (460 a. C. a 377 a. C.) no texto Ares, águas e lugares. Segundo Silva (2000),
nesta obra já havia a coadunação de fatores ligados ao meio natural, ao clima
(especialmente), e de fatores relacionados ao social. Na obra de Hipócrates estava
clara a relação de determinada doença com um ambiente específico tratando-se de
uma doença própria de um lugar. Nesse sentido, o ambiente é entendido como
envolto numa gama de relações, entre elas: econômicas, sociais, culturais e
patológicas.
Para Hipócrates, tido como o pai da medicina, sustentava que o médico deveria
investigar a origem das enfermidades no ambiente. Para investigar devidamente, este
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
deveria ter o conhecimento geográfico do lugar em que vive, atendendo as condições
climáticas, da qualidade da água, a situação da cidade em relação as seus aspectos
astronômicos, em relação aos ventos e ao sol nascente. Esta relação forte entre o “ser
vivo” e o meio em que ele esta inserido começou durante o século XIX, com diversos
estudos, entre eles, o mais conhecido do médico anestesista John Snow, sobre a
relação entre cólera e consumo de água em Broad Street em Londres. Para explicar as
epidemias e endemias que ocorriam em diversos lugares, as ciências médicas se
aproximaram da Geografia e esse conteúdo passou a ser caracterizado de: Geografia
Médica, Climatologia Médica ou mesmo Topografia Médica. Dentre esses estudos, o
mais significativo no campo da Geografia Médica é o de Boudin (1857, 1842) que
inaugurou, na França, os estudos que pretendiam situar as doenças na relação
homem-ambiente. Fins do século XVIII e princípios do XIX – Topografia Médica –
renovação dos estudos que correlacionavam os aspectos ambientais. A viagem do
Médico francês Alphonse Rendu ao Brasil, entre 1844 e 1845, representa o interesse
europeu por esse ramo da medicina acarretando na mudança da visão dos trópicos no
século XIX (LACAZ, 1972).
Em 1930, o geógrafo francês Max. Sorre concebe o conceito de “complexo
patogênico” de uma doença – idealizador do conceito de reservatório silvestre de uma
doença. Max. Sorre sustentava que o homem modificava o meio, pois a doença não é
apenas resultado do ambiente, mas, também, das modificações que esta relação
produz. Para Silva (2000), outra importante contribuição é atribuída ao parasitologista
russo Pavlovsky, que durante a década de 1930, desenvolveu a teoria dos focos
naturais das doenças transmissíveis ou teoria da nidalidade natural das doenças
transmissíveis. Para Pavlovsky, as condições existem, mas a doença esta circunscrita a
determinado ambiente, se não houver determinadas condições ambientais não haverá
prevalência de determinada doença.
Essas contribuições nos fazem refletir que o objeto de estudo da Geografia Médica
e/ou da Saúde são os fatores geográficos determinantes e condicionantes da saúde e
das doenças e suas relações sociais, culturais e econômicas produto da relação do
homem com o meio. Portanto, na geografia médica, o estudo da saúde e da doença é
inseparável do biótipo onde se desenvolvem os fenômenos do meio físico da ecologia.
Longe de esgotar a temática, e necessitando desenvolver para além do exposto a
distinção entre geografia médica e geografia da Saúde, esta pesquisa prima pela
análise dos condicionantes ambientais (na arrolação de fatores físicos) que
corroboram para a prevalência da relação espaço-doença. Desde as suas origens, com
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Hipócrates na idade antiga, a geografia médica concebia a relação entre as endemias e
o meio. Pairando um determinismo geográfico atrelado a patologias, em que
determinada doença poderia ser relacionada com as condições climáticas, sanitárias,
sociais e econômicas de específico lugar. Nesse sentido, essa pesquisa apresenta uma
reflexão inicial sobre os condicionantes ambientais no processo espaço-doença em
cinco cidades, que possuem suas sedes municipais ao longo da rodovia BR-174, no
Estado de Roraima/Brasil.
Cabe salientar, que esta pesquisa compõe um conjunto de estudos estruturados
sobre a influência do Pólo Industrial de Manaus (PIM) na consolidação dos núcleos
urbanos ao longo da BR 174 que liga Manaus (Estado do Amazonas) a cidade de Boa
Vista (Estado de Roraima) e, no plano do litoral, a Venezuela. Faz parte do projeto
maior “As transformações na rede urbana na Amazônia Ocidental: análise da
influência do Pólo Industrial de Manaus na fronteira norte – Amazonas-Roraima”
financiado pelo Edital MCT/CNPq/CT-Amazônia nº 55/2008 (Processo 575517-20080-5)
e em desenvolvimento no Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia
Brasileira (NEPECAB).
MATERIAS E MÉTODOS:
Este artigo tem como objetivo identificar os condicionantes ambientais no processo
espaço-doença em Roraima, bem como, apresentar o perfil epidemiológico e as
possíveis áreas de risco a saúde humana, próximas a indústrias, igarapés, áreas
florestadas e etc. Portanto, trata-se de uma pesquisa qualitativa na busca de
identificar os condicionantes ambientais no processo espaço-doença em Roraima. Para
tanto, foram aplicados 99 questionários em cinco cidades, sem qualquer critério
estatístico. Realizou-se pesquisa de campo nas cidades de Rorainópolis, Caracaraí,
Iracema, Mucajaí e Boa Vista no Estado de Roraima – na fronteira Norte – AmazonasRoraima/Brasil;
Foram aplicados nas cinco cidades as seguintes quantidades de questionários: Boa
Vista (64); Rorainópolis (8); Caracaraí (9); Iracema (9); Mucajaí (8). Para articulação
com os impactos ambientais urbanos, foram eleitos os seguintes critérios para a
aplicação dos questionários: Proximidade com os canais urbanos; áreas periféricas;
limites da área urbana e proximidade com a vegetação.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO:
A área em estudo compreende as cidades de Rorainópolis, Caracaraí, Iracema, Mucajaí e
Boa Vista, localizadas no eixo da rodovia federal BR 174 no estado de Roraima (FIGURA 01).
Figura 01 – Localização da área de estudo: fronteira norte – Amazonas-Roraima (BR)
Fonte: Acervo NEPECAB, 2010.
No que tange aos aspectos físico-naturais, estes municípios apresentam predomínio
do clima tropical úmido, do tipo climático “Am”, na classificação de Köppen, com
temperaturas médias anuais entre 22 a 24° C, sendo que no 30 período chuvoso nas
áreas de altitudes superiores a 700 metros (BRASIL, 1975).
A precipitação média anual registra em torno de 2.250 mm (BRASIL, 1975). Uma
sazonalidade marcante caracteriza as chuvas da região, podendo distinguir dois
períodos: o mais chuvoso que se estende de abril a setembro, com ápice em junho,
com média de 433,4 mm e o período mais seco que ocorre normalmente de outubro a
março, com média de 38,2 mm para o mês de dezembro. Segundo Barbosa (1997), no
tipo climático “Am”, predomina uma estação seca de baixo rigor e a precipitação é
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bem distribuída ao longo do ano, devido à influência de dois sistemas de circulação
atmosférica predominantes em Roraima: a massa de ar equatorial continental (mEc) e
a convergência intertropical (CIT).
Na área de estudo, observa-se duas fitofisionomias vegetacionais bem distintas: o
domínio de floresta densa tipicamente amazônica e a vegetação aberta e campestre
definida por Veloso et al. (1975) como refúgio ecológico por ser constituída por uma
flora autóctone (comunidades relíquias), enquanto Silva (1997) denomina essa
vegetação aberta de savana estépica graminosa.
Geologicamente, Roraima ocupa a porção centro-sul do Escudo das Guianas e
envolve os grandes elementos estruturais de seu arcabouço tectônico. CPRM (1999)
define uma compartimentação tectônica para o Escudo das Guianas, parte que recobre
o Estado de Roraima, individualizadas em quatro domínios: Parima (setor noroeste),
Guiana Central (setor central), Urariqüera (setor norte) e Anauá Jatapu (setor sudeste).
Sob estes domínios geológicos desenvolve-se o planalto sedimentar de Roraima
composto por formas tabulares que apresentam altitude de 1.100 a 2.734m, com
contornos de escarpas erosivas, recuo de planos de falhas normais, platôs horizontais
a sub-horizontais (BESERRA NETA, 2007).
Os solos encontrados nesses municípios são neossolo quartzarenico e argissolo
vermelho-amarelo. O primeiro consiste em solos areno-quartzosos, pouco evoluídos,
contendo percentagem de argila menor que 15% até 150 cm de profundidade ou até
um contato lítico, sendo que mais de 95% da fração areia está representada por
quartzo. Possuem seqüência de horizontes A e C, sem contato lítico dentro de 50 cm
de profundidade, sendo encontrados em relevo plano e suave ondulado; enquanto
que, os argissolo vermelho amarelo – São solos bem desenvolvidos, com espessura
média do horizonte A de 30 cm, e com horizonte B textural, resultante do acúmulo de
argila, devido ao processo de iluviação. Estes solos apresentam textura franco arenosa
e ocorrem em relevo que varia de suave ondulado a forte ondulado (BESERRA NETA,
2007).
OS CONDICIONANTES AMBIENTAIS NO PROCESSO ESPAÇO-DOENÇA
EM RORAIMA (BR):
Comumente, se confere a melhor definição das relações entre o homem e o meio
geográfico a Max. Sorre (1955) em Os fundamentos biológicos da Geografia Humana.
Lacaz (1972) atribui os seguintes obstáculos para a adaptação do homem ao meio
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
ambiente: a) fatores físicos, geográficos ou ambientais; b) fatores humanos, sociais e
culturais; c) fatores biológicos; e d) condições sociais negativas.
Para Carlos Lacaz (1972), entre os fatores que garantem a endemicidade de algumas
“doenças tropicais” que originam processos mórbidos autóctones, se arrolam os
seguintes: 1 – Primordialmente, o clima: pois, este se apresenta como condicionante
marcante no aparecimento e na manutenção de determinadas doenças infecciosas e
parasitárias, pois a temperatura, a pressão barométrica, a umidade relativa do ar, o
índice pluviométrico, o grau de nebulosidade, os ventos, etc. constituem elementos
dos mais importantes no desenvolvimento de certos vetores, bem como no ciclo
evolutivo de determinados protozoários em numerosos artrópodes (LACAZ, 1972).
Além do clima outros fatores são determinantes, tais como: o solo e o relevo;
paisagem botânica e zoogeografia; hidrografia; moradia, tipos de habitação.
No que tange aos condicionantes ambientais de Roraima, destacar-se-á o município
de Rorainopolis, por ser o segundo maior espacialmente e populacionamente, depois
da capital e por ser representativo, no que fere, as demais cidades de Roraima.
O município de Rorainopolis localizado na porção sul do Estado, distante 291km da
capital Boa Vista pela rodovia federal BR 174 foi criado pela Lei n 100, de 17 de
outubro de 1995. O município constitui-se na porta de ligação do Estado com o
restante do Brasil, por meio da vila de Jundiá, nas proximidades da reserva Indigena
Waimiri-Atroari.
O sitio urbano de Rorainopolis é entrecortado pelo igarapé Chico Reis. Este canal
apresenta sinais de assoreamento (figura 04), no qual se desenvolve uma vegetação
pioneira (figura 02) composta por cecropias e lacre, favorecendo o aparecimento de
ratos, pernilongos, comuns no período de verão, transmitindo diversas doenças a
população local.
Figura 02 – Igarapé Chico Reis: trecho canalizado (A); pontos de assoreamento (B),
vegetação pioneira (C)
Fonte: Acervo NEPECAB, 2009.
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Nas áreas não canalizadas do igarapé a poluição é generalizada e a decadência dos
aparelhos urbanos é expressiva, pois as ruas não apresentam revestimento asfáltico e
as pontes de madeira encontram-se em avançado estágio de degradação (figura 03).
Figura 03 – Risco ambiental: Poluição e proliferação de vegetação pioneira.
Fonte: Acervo NEPECAB, 2009.
Em termos gerais, a cidade é muito arborizada, principalmente por espécies
frutiferas localizadas nos quintais e nas ruas, e ao que, a disposição espacial atesta,
estas espécies foram plantadas pela população. No entanto, quando se refere a
questão do saneamento básico é praticamente inexistente, pois o esgoto das
residências é, em quase a totalidade despejado no canal (figura 04).
Figura 04 – Esgoto sanitário em igarapé (A) e Arborização (B)
Fonte: Acervo NEPECAB, 2009.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
No que concerne a destinação do lixo urbano, a cidade possui um lixão, localizado
no km7 de uma vicinal, contudo, não apresenta nenhuma forma de reaproveitamento
desses resíduos sólidos. O significativo desnível topográfico entre a área do lixão e as
porções adjacentes sinaliza para possível alteração geomorfológica que associada a
presença de igarapé a jusante (na porção mais baixa) sugere que, a água da chuva em
contato com o lixo orgânico e hospitalar escoa para esse canal fluvial gerando
problemas ambientais contaminando-o (Figura 05).
Figura 05 – Área do lixão: queima do lixo orgânico e hospitalar (A); sulcos e ravinamentos
entre o lixão e o igarapé (B) e, Desnível entre o lixão e o igarapé, ao fundo (C)
Fonte: Acervo NEPECAB, 2009.
Rorainópolis é a primeira cidade após a Reserva Indígena Waimiri-Atroari, sua
importância advém pelo fato de ser um dos pontos nodais na rede urbana da
Amazônia Ocidental. Por ser uma cidade de intenso fluxo populacional e de carga e,
por ainda apresentar, infraestrutura incipiente os dados apontam a emergência de
doenças típicas do processo recente de urbanização.
Os maiores indíces de patologia são atribuídos a malária e a dengue. Em 2008 foi
realizada uma campanha de prevenção e controle da dengue no município que,
segundo os funcionários da FUNASA pode ter corroborado para a diminuição da
incidência da malária em Rorainópolis. Os bairros considerados endêmicos de
Rorainópolis na notificação de malária e dengue são: Conjunto Gentil Carlito
(Portelinha) e Bairro Novo Horizonte - bairros periféricos que se situam nas frentes de
expansão da malha urbana da cidade; A incidência de patologias cutâneas são baixas,
sendo notificados poucos casos de Hanseníase e Leishmaniose. Os casos de
Leishmaniose (tanto como os de malária) podem ser atribuídos a expansão do tecido
urbano de Rorainópolis que avança para a floresta.
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O antigo lixão da cidade era situado onde foi assentado o Conjunto Gentil Carlito
(Portelinha) que é próximo de uma área florestada da cidade, dos 2 moradores
entrevistados, ambos citaram casos de dengue e malária (presume-se que seja pela
proximidade com a floresta). Uma das moradoras entrevistadas estava com dengue
hemorrágica, sendo a segunda vez que já havia contraído a patologia. A moradora
relata que não recebeu atendimento médico no hospital da cidade e precisou se
deslocar para Boa Vista salientando as precárias condições no que diz respeito a
infraestrutura hospitalar, que não encaminha o doente para Boa Vista e nem possuem
condições de viabilizar o deslocamento do doente para a capital, pois se o morador
necessitar ir a Boa Vista para ser consultado é necessário que o mesmo abasteça a
ambulância. Umas das questões interessantes no que diz respeito a riscos a saúde
humana é que neste conjunto há a presença de poços, mas os moradores ficam
retraídos e impossibilitados de utilizar, visto que, o local onde foi assentado o conjunto
outrora ter sido o lixão da cidade, presumindo-se a contaminação do lençol freático.
Os dados demonstram (do universo de formulários aplicados em Rorainópolis) que
o tipo de construção dessas moradias é de madeira, o que possibilita a prevalência de
doença de chagas; O armazenamento de água em sua maioria é em camburão:
possibilitando criadouro de Aedes aegypti. Do universo da pesquisa, essas pessoas
mantêm contato intenso com a floresta, pela prevalência de atividades voltadas ao
setor primário da economia – agricultura, esse contato estreito com a floresta
demonstra a prevalência de doenças como malária (Plasmodium falciparum) e dengue
(Aedes aegypti) a falta de tratamento da água (que é utilizada para múltiplas
finalidades) acarreta em diarréia. No que diz respeito aos animais e insetos que
circulam na moradia são arrolados os seguintes: moscas, mosquitos, muriçocas, ratos e
cobras que se apresentam tanto dentro da moradia como na área que a circunda
(quintal). Esses dados justificam a prevalência de picadas de animais peçonhentos,
como cobras e ratos, prevalência de doenças como a leptospirose. A leptospirose é
uma zoonose (doença de animais) atrelada a falta de saneamento básico, enchentes e
inundações em que as pessoas ficam expostas às águas contaminadas com a urina de
ratos. O agente etiológico é a Leptospira interrogans; pertencente à ordem
Spirochaetales; da família Leptospiraceae; do gênero Leptospira. O principal
reservatório é o rato, pois este elimana por todo o seu ciclo de vida microorganismos
pela urina.
Percebeu-se no caso de Rorainópolis a predominância de moradias na área de um
antigo lixão, que se situava próximo a um curso d’água. Segundo informações da
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
pesquisa de campo, o lixão estava na estrada, com a sua mudança houve
contaminação do lençol freático o que acarretou doenças nos peixes que morreram. A
falta de tratamento da água e a proximidade com o curso d’água acarretam em
doenças intestinais, tais como a diarréia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto da BR 174, as patologias mais freqüentes detectadas nessas cidades
foram: malária Plasmodium falciparum transmitida por mosquitos do gênero
Anopheles e, a dengue causada por Flavivirus (arbovírus) transmitida pelo mosquito
Aedes aegypti ou o Aedes albopictus, sendo o primeiro vetor principal da patologia no
Brasil e, o segundo na Ásia e nos EUA. Trata-se de doenças que refletem o processo de
ocupação recente desse lugar, o processo de urbanização acelerado e a falta de um
controle rígido da política de uso e ocupação do solo, que nesse caso é de competência
do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a ausência de
políticas de vigilância ambiental. Pode-se a priori indicar os seguintes condicionantes
ambientais responsáveis pelo processo espaço-doença em Roraima: a proximidade
com a floresta, que quase sempre se apresenta como vetor de expansão, aumentando
as possibilidades de casos de malária. Canais, igarapés e terrenos baldios (sem
qualquer cuidado de limpeza) que aumentam a incidência de casos de dengue, devido
à água parada. A proximidade de áreas de pasto (criação de gado e outros animais)
com áreas de ocupação, áreas desmatadas, esgotos a céu aberto, lixões e aterros
sanitários sem qualquer cuidado na seletividade do lixo hospitalar são alguns dos
condicionantes detectados nessas cidades que possibilitam o processo espaço-doença.
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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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