o conhecimento transdisciplinar na sala de aula, a partir do estudo

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Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 4 • Número 10 • julho 2013
O CONHECIMENTO TRANSDISCIPLINAR NA SALA DE AULA,
A PARTIR DO ESTUDO DE PAISAGEM NAS TOADAS DE
BUMBA-MEU-BOI
Marcelo Nicomedes dos Reis Silva Filho (UCB)1
[email protected]
Delcimara Batista Caldas (UCB/FAMA) 2
[email protected]
Heridan de Jesus Guterres Pavão Ferreira (UFMA)3
[email protected]
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo estudar a paisagem de forma mais concreta, em uma
perspectiva que extrapola o método tradicional com que vem sendo tratados os conteúdos, possibilitando
ao aluno conhecer o espaço geográfico, no qual habita, tendo como aporte o resgate de algumas das
toadas maranhenses, cantadas nas brincadeiras de bumba meu boi, patrimônio imaterial do Brasil, cujas
letras retratam a geografia, desde a localização da escola até a cidade. Aborda-se também neste trabalho a
relação professor e aluno, em uma perspectiva onde se demonstre que é possível associar o estudo da
língua portuguesa, da história, da cultura e da geografia, além de outros tantos conhecimentos, de forma
interdisciplinar e, principalmente, dinâmica e significativa, a partir da exploração em sala de aula, dos
conhecimentos empíricos, advindos da cultura popular, ou seja, dos saberes que de melhor o povo pode
oferecer em prol de seu crescimento pessoal e intelectual.
Palavras-chave: Bumba-meu-boi. Cultura. Conhecimento. Paisagem.
ABSTRACT: This work aims to study the landscape more concretely, in a perspective that goes beyond
the traditional method that has been treated with the contents, allowing the student to know the
geographical area in which dwells, were supported the rescue of some of the tunes Maranhão, sung to the
amusement of my ox bumba, intangible heritage of Brazil, whose lyrics depict geography, since the
location of the school to the city. It also discusses in this paper the relationship between teacher and
student, in a perspective which demonstrates that it is possible to associate the study of Portuguese
language, history, culture and geography, and other so much knowledge, in an interdisciplinary way, and
especially dynamic and meaningful, from the farm in the classroom, the empirical knowledge, arising
1
Bolsista da CAPES, Professor – Secretaria Municipal de Educação de São Luís e Secretaria de Estado
da Educação do Maranhão. Professor do curso de Linguagens e Códigos da Universidade Federal do
Maranhão – UFMA, Graduado em Letras – Universidade Federal do Maranhão - UFMA; Mestrando em
Educação – UCB e Pesquisador da Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade – Universidade
Católica de Brasília -UCB.
2
Mestra em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Graduada em Letras pela UFMA,
Professora da Faculdade Atenas Maranhense – FAMA e Pitágoras São Luís.
3
Professora do Curso de Linguagens e Códigos, Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e
Pesquisadora do grupo de Linguagens, Cultura e Identidades (UFMA).
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from popular culture, ie, the knowledge that the best people can offer on behalf of his intellectual and
personal growth.
Keywords: Drum-my-ox. Popular culture. Literacy.
1. Introdução
O pensamento científico até o final do século XIX foi marcado por um
paradigma denominado positivista, que concebe a ciência como dona da verdade,
separando sujeito e objeto do conhecimento. Este pensamento influenciou as diversas
áreas do conhecimento, entre elas educação.
No século XX, porém, houve significativas mudanças no pensamento
científico. Tais mudanças ocorreram porque as soluções e/ou explicações propostas pelo
paradigma positivista já não conseguiam responder aos problemas que se apresentavam
na sociedade contemporânea.
Nessa perspectiva, grandes cientistas foram responsáveis pela ruptura com o
pensamento cartesiano-newtoniano, podendo-se citar Einstein e sua Teoria da
Relatividade, Heisenberg com Princípio da Incerteza, Niels Bohr com a Lei da
Complementaridade e Prigogine e seu conceito de Estruturas Dissipativas (MORAES,
2010).
A partir de então, surge uma nova forma de pensar ciência enquanto
proposta de interpretação. Nesta nova visão, o conhecimento científico é construído,
desconstruído e reconstruído pelo sujeito histórico que está interconectado com o seu
objeto do conhecimento e ambos estão imbricados em uma realidade dinâmica, mutável,
ou seja, um todo relacionado, onde se insere este estudo sobre a paisagem, o qual visa
relacionar o conhecimento formal com os saberes advindos da sociedade.
Neste sentido, objetivando contextualizar o conhecimento formal e o
empírico, este estudo visa relacionar paisagem, toadas de bumba-meu-boi e as
disciplinas abordadas em sala de aula, mostrando que é possível trabalhar-se a partir de
um novo paradigma, ou seja, buscando estabelecer uma relação direta com o ambiente
em que vivem os discentes.
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Vale ressaltar que, assim como a língua, a cultura popular está em constante
mutação dentro das suas formas de manifestação, quer seja pela mudança promovida
pela forma como ela é transmitida a outras gerações, quer seja pela pouca interferência
da escola na vida dos alunos (FAZENDA, 1996).
Nesta perspectiva, observando-se a necessidade de aperfeiçoar uma
metodologia para o trabalho docente nas séries iniciais, este artigo enseja um estudo
sobre paisagem, na perspectiva real de entrelaçar as principais disciplinas abordadas em
sala de aula, a partir da análise de algumas toadas de conhecidos nomes da cultura
maranhense.
Para tanto, é necessário entender primeiramente o que significa o estudo de
paisagem e qual a relação que pode ser feita entre ele e o conteúdo que se almeja em
alcançar em sala, fugindo dos velhos métodos tradicionais que, muitas vezes afastam o
aluno do professor e da escola.
Ressalta-se, portanto, que é bastante eficaz no contexto do ensino e da
aprendizagem promover a aproximação do estudante do ambiente onde o mesmo se
insere, pois assim pode-se atender melhor às suas expectativas e ainda colocá-lo em
contato com a cultura e com os demais conhecimentos, sem deixa-lo à margem do
processo, em uma posição de pouca relevância, como muitas vezes ainda ocorre.
2. O que é o estudo de paisagem?
A paisagem é uma parte perceptível ao observador, na qual é descrita uma
série de fatores visíveis e invisíveis, além de interações realizadas em momentos
simultâneos, onde se vai considerar a busca do todo e não apenas um aspecto isolado.
Assim, Passos (1998) diz que a paisagem é percebida e descrita a partir de formas, as
quais são resultantes de dados do meio ambiente natural ou que ainda podem
representar consequências de modificação, alteração do homem, onde este possa
imprimir sua marca neste espaço.
A combinação da natureza com elementos sociais resulta em traço comum
da paisagem. Assim, a cada alteração sofrida pelo ambiente, representa uma alteração
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sofrida pelo homem em sua crescente busca pela superação e pelo desejo de satisfazer
necessidades. (SANTOS, 1986).
No sentido de contextualizar o estudo realizado, pode-se dizer que a
aprendizagem efetiva dos discentes perpassa por múltiplas habilidades que dificilmente
são exploradas e, com um trabalho diferenciado, a partir do entendimento do que é
paisagem e da sua relação direta com as toadas aqui apresentadas e de tantas outras
existentes na história do bumba-meu-boi, o conhecimento passa a ter um significado
especial em sala de aula, pois as relações extrapolam o usual.
3.
O conhecimento transdisciplinar na sala de aula, a partir do estudo de
paisagem nas toadas de bumba-meu-boi
O Maranhão é um dos estados brasileiros com maior diversidade de sons e
ritmos. Sua música é materializada principalmente nas manifestações folclóricas, que
vivificam-se no meio do povo durante todo o ano, seja no carnaval, no período junino
onde o bumba meu boi, o tambor de crioula, o lelê e o cacuriá embalam corpos
frenéticos seja em homenagens aos santos católicos ou apenas como folguedos
populares, herança dos antepassados maranhenses.
Com tanta diversidade cultural, é inadmissível que a escola enquanto espaço
onde se entrelaçam saberes formais e informais não aproveite os conhecimentos
populares em prol da construção e reconstrução de conhecimentos essenciais para a
formação de um senso crítico e participativo, essenciais para o exercício da cidadania.
Assim, pensando no sentido de se contribuir com a melhoria do processo de
ensino e de aprendizagem, apresentam-se algumas das toadas escolhidas para a
composição deste trabalho. Vale, porém, destacar os autores Moraes e Batalloso Navas
(2010) quando dizem que há necessidade de se acreditar na mudança da educação,
principalmente diante de tantas dificuldades enfrentadas por todos os que nela exercem
sua atividade profissional. A adaptação a uma nova cultura de trabalho requer profunda
revista na forma de ensinar e de aprender.
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3.1 As toadas do bumba meu boi
As toadas são os cânticos entoados no bumba meu boi. Expressam os modos
de sentir e vivenciar o mundo que rodeia os amos ou cantadores, como são conhecidos
os que compõem ou cantam uma toada.
As toadas podem falar do cotidiano, de contextos políticos, de amor, de
amizade ou mesmo como forma de atingir adversários reais ou imaginários,
observando-se que há nesse contexto, uma relação com o trovadorismo português, nos
séculos V e VI. Enaltecem ainda, os lugares onde vivem, os costumes e também se
constituem como forma de construção de identidades.
Nesse sentido, as toadas que são gêneros textuais de bastante relevância
para a análise e interpretação de textos são uma estratégia de resistência e preservação
cultural, razão pela qual ilustram este trabalho sobre o estudo de paisagem, buscando
uma interdisciplinaridade entre a Língua Portuguesa e outras áreas de conhecimento.
Maranhão, meu tesouro, meu torrão
Fiz esta toada, pra ti Maranhão
Maranhão, meu tesouro, meu torrão
Eu fiz esta toada, pra ti Maranhão
Terra do babaçu
Que a natureza cultiva
Esta palmeira nativa
É que me dá inspiração
Na praia dos lençóis
Tem um touro encantado
E o reinado
Do rei Sebastião
Sereia canta na proa
Na mata o guriatã
Terra da pirunga doce
E tem a gostosa pitombatã
E todo ano, a grande festa da Jussara
No mês de Outubro no Maracanã
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No mês de Junho tem o bumba-meu-boi
Que é festejado em louvor à São João
O amo canta e balança o maracá
A matraca e pandeiro
É quem faz tremer o chão
Esta herança foi deixada por nossos avós
Hoje cultivada por nós
Pra compor tua história, Maranhão !
Acredita-se que todo maranhense, seja pequeno, ou adulto já ouviu essa
toada de bumba meu boi, seja na voz marcante da cantora maranhense Alcione,
reconhecida nacionalmente, pela sua voz e talento musical, seja na expressiva voz do
Guriatã, Humberto de Maracanã.
A toada carrega consigo a representação da identidade de um povo, pois a
mesma descreve lugares, a fauna, a flora e o cotidiano de um povo e de um lugar
chamado Maranhão. O poeta dá uma aula de Geografia do Maranhão, salientando os
aspectos sociais, geográficos e históricos do estado, que fica localizado no extremo
norte do Brasil, na região nordeste.
Verifica-se que o cantador inicia a toada evocando seu estado, para que os
ouvintes o identifiquem. Ele afirma ainda seu apreço ao dizer que o Maranhão é seu
tesouro, seu torrão, ratificando a importância do estado para sua vida em: “Maranhão,
meu tesouro, meu torrão. Fiz esta toada pra ti Maranhão”.
Em “Terra do babaçu, que a natureza cultiva. Esta palmeira nativa que me
dá inspiração”, o autor faz alusão aos babaçuais, que caracterizam a flora maranhense e
já evocada em “Canção do Exílio”, do poeta Gonçalves Dias.
Os versos que dizem “Na praia dos lençóis tem um touro encantado e o
reinado do Rei Sebastião” verifica-se que o autor chama a atenção para a Praia dos
Lençóis, que considerada uma das belezas naturais do mundo. Faz alusão ainda a uma
das muitas lendas maranhenses, que diz que o rei Sebastião4, vive sob as areias dos
4
Segundo a história, o Rei português D. Sebastião foi morto em combate com os mouros.
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lençóis maranhenses, aparecendo em noites de lua cheia, sob a forma de um touro
negro, com uma estrela5 na testa. Contam que no dia em que alguém conseguir acertar a
estrela do touro negro, o reino submerso emergirá em toda sua plenitude.
Essa lenda se relaciona com a lenda da serpente encantada, na Ilha de São
Luís, que conta que sob a cidade há uma serpente adormecida, que se despertada, dará
um abraço na cidade, fazendo-a desaparecer sob as águas do Atlântico.
Nos versos “Sereia canta na proa, na mata o Guriatã, terra da pirunga
doce e tem a gostosa pitombatã. E todo o ano, a grande festa da Jussara, no mês de
outubro, no Maracanã”, verifica-se que o poeta alude ainda a uma divindade dos mares
e da religião de matriz africana e indígena, a sereia. No texto a sereia canta na proa da
embarcação, o que pode se constituir um perigo para o pescador, em razão da
proximidade, pois uma lenda conta que o cantar da sereia encanta o pescador causandolhe a morte.
O poeta alude ainda a uma festa do calendário maranhense, a Festa da
Juçara, que ocorre durante todo o mês de outubro em uma comunidade da periferia
ludovicense, conhecida por Maracanã, enfatizando as frutas da região, tais como a
pitomba. Verifica-se aí, uma contextualização com datas e lugares, além de lendas
maranhenses, que possibilitam um estudo da paisagem, de forma interdisciplinar,
situando a língua portuguesa, a história, a geografia, além dos temas transversais
Pluralidade Cultural e Meio Ambiente.
Em “No mês de Junho tem o bumba meu boi, que é festejado em louvor a
São João. O amo canta e balança o maracá. A matraca e pandeiro
É quem faz tremer o chão”. Os versos chamam a atenção para o período onde o bumba
meu boi alcança seu auge no estado: o mês de junho. Ele descreve ainda o papel do amo
ou cantador, que canta e balança (toca) seu maracá, que é um instrumento percussivo
muito usado no bumba meu boi, assim como o pandeiro e a matraca, os quais na toada
fazem o chão tremer a partir de seus sons.
5
Mancha, pinta branca.
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A toada é finalizada com os versos “Esta herança foi deixada por nossos
avós, hoje cultivada por nós, pra compor tua história, Maranhão!” Observa-se que há
uma ênfase em colocar o boi e todas as belezas naturais e lendas enquanto heranças dos
antepassados do cantador, assim como de mostrar que as novas gerações se preocupam
em preservar os valores herdados.
Assim sendo, em um mundo onde se tem muitos recursos didáticos e no
qual o mapa não perdeu sua utilidade em sala de aula; pelo contrário, ganhou uma
roupagem mais dinâmica nos aplicativos que existem nos dias hodiernos, disponíveis na
web, fazer uma leitura de paisagem não se tendo uma figura, mas uma letra de música é
pode fazer o processo inverso, ou seja, a partir do texto escrito escrever, ou melhor,
reescrever, tendo como contexto a realidade, o cotidiano, o espaço, onde é valorizada a
experiência empírica.
Para se conseguir atingir esses objetivos, necessita-se perpassar por pelo
menos dois atores do processo de ensinar e aprender, o professor e o aluno. Nele, cada
um tem seu papel definido como temos descrito por Schäffer (1998, p. 91),
O papel do professor, planejando com atenção a leitura da paisagem e
sensibilizando o grupo para o exercício, permite aprofundar o trabalho e
qualificar os resultados. Com frequência afirma-se que não é possível
promover um aluno leitor sem que haja um professor leitor. Também, para
que haja um aluno leitor de paisagem, é indispensável que o professor
consiga fazer essa leitura, ultrapassando, no seu planejamento, o objetivo da
mera retratação do que ali é oferecido como visível.
Fica bem definido que por esse processo, o qual envolve professor e aluno,
passa por diversas áreas: o ler e o escrever que perpassam as aulas de português; o ler os
mapas contextualiza o ensino de geografia; os fatos ocorridos em um determinado
espaço, em tempos mais remotos estimulam e referendam o ensino da história.
SCHÄFFER (1998) afirma que, na geografia, ler exige conhecimento e interpretação do
espaço geográfico e, na escrita, a representação deste espaço.
Atualmente, estudos diversos, como os de WAGNER e MIKESELL (2003),
entre outros discorrem acerca do estudo da paisagem. A publicação dos PCN culminou
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com o alavancamento desse estudo, pois insere o aluno em seu ambiente, ou seja, o
bairro, a cidade, o estado onde vive e até mesmo a escola onde estuda, trazendo pra
perto do discente esses espaços.
Verifica-se desse modo que o estudo da paisagem possibilita, entre outros
aspectos, a visitação de lugares como recurso no auxílio da aprendizagem, que é uma
prática que acompanha o ensino de geografia desde seu adentramento no universo
escolar.
SCHÄFFER (1998, p. 91) possibilita um vislumbrar de matizes no contexto
do ensino e da aprendizagem de diferentes componentes curriculares ao analisar os
Parâmetros Curriculares Nacionais, no que os mesmo fomentam nas aulas das escolas:
O conceito de paisagem como um recorte visível do espaço geográfico é ao
mesmo tempo, importante recurso pedagógico. Ler a paisagem na perspectiva
dos procedimentos tradicionais significa observar e descrever (relatar) o
maior número de elementos presentes. É relatar, tornando estático aquele
momento, naquele lugar, ler a paisagem, na perspectiva da construção de um
conhecimento mais significativo voltado à construção de um conhecimento
mais significativo e voltado à construção da identidade do sujeito, parte da
definição prévia dos objetos desta leitura.
Há ainda outra composição de Humberto que fala das vinte e sete aldeias
que formavam a Ilha do Maranhão, que na toada chama a capital do estado de UpaonAçu, um dos primeiros nomes da Ilha de são Luís.
UPAON-AÇU
Upaon-Açu é São Luís presente
Tinha vinte e sete aldeias
Hoje em alguns povoados moram os seus descendentes
Inhauma, TaimTendá, Mojó
Cumbique, Uarapirâ
Juçatuba, Iguain, Tajipuru
Araçagi, Miritiua, Turu e Maracanã
Arapapaí, Mapaúra, Itapicuraìba
Tibiri, Mocajutuba, Itapera,Pinandiba
Parnauaçu e Maioba, Pindaí, Ubatuba e Vinhais
Panaquatira e Igaraú
As aldeias da Ilha foram dos Tupinambás
Juniparã era uma aldeia
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Lugar dos índios chamada hoje pelo povão
Japiaçu foi o seu Morubixaba
E de todas as aldeias da ilha do Maranhão
Assim como na música “Maranhão meu tesouro meu torrão”, pode-se
trabalhar na toada Upaon-Açu, outras matérias de forma conjunta e interdisciplinar
potencializando o aprendizado tanto do aluno como do professor, com relação a isso
Barbosa (2005, p. 74) assevera:
Como a competência implica uma visão cultural e também um
posicionamento político do educador, considero que a interdisciplinaridade
poderá caminhar naturalmente na prática pedagógica, realizando-se de forma
plena quanto às finalidades cognitivas e de produção do conhecimento que se
propõe.
Assim como nas aulas de geografia, as de história podem ajudar os alunos
de forma geral a descobrir sua identidade a partir deste estudo de paisagem, refletindo
de forma coletiva sobre suas origens, possibilitando que os mesmos sejam conduzidos a
lugares onde nunca estiveram e que alguns só conhecem por nome e outros porque
moram nele, mas sequer sabem o porquê do nome do bairro.
A partir do trabalho com a toada Upaon-Açu, pode-se ter uma ideia ampla
de como a Ilha de São Luís mudou com o passar dos anos sugerindo-se aos alunos um
estudo mais aprofundado sobre os nomes dos bairros, por exemplo.
Pode-se ainda, solicitar aos estudantes, a identificação dos lugares que
conheçam, assim como também, dos lugares onde residem, fazendo assim um trabalho
de campo, onde serão trabalhados os limites geográficos, a origem dos nomes. Outra
atividade que pode ser realizada é a entrevista de campo, ou seja, os estudantes
entrevistam seus avós e outros familiares ou vizinhos, resgatando informações que
possivelmente jamais serão encontradas em livros. Assevera-se que o conhecimento
ligado só a livros didáticos muitas vezes, amarra as possibilidades de os alunos
crescerem independentemente. Veja o que diz Seffner (1998):
O livro didático é, muitas vezes, a única leitura histórica que o aluno tem à
disposição. Se ficarmos apenas nele, as possibilidades de discussão e troca de
idéias se empobrecem muito. A leitura do livro didático deve ser estimulada,
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mas não como sendo a única fonte de explicação histórica. Nesse sentido, é
bom trabalhar com diferentes livros didáticos, percebendo as diversas
modalidades de construção de cada episódio histórico, e consultando
também, acerca do mesmo episódio, as enciclopédias, os dicionários
(históricos ou não) e os atlas históricos. (SEFFNER, 1998, p. 113).
O fato de o livro didático constituir-se muitas vezes, o único recurso do qual
dispõe professores e alunos na abordagem dos conteúdos, faz com que o estudante seja
cerceado em seu direito de construir novos conhecimentos, razão porque é fundamental
que a escola esteja atenta, no sentido de estimular um olhar para além dos recursos que
dispõe, lançando mão dos saberes populares na abordagem dos saberes formais.
4. Considerações Finais
A construção de conhecimentos é assunto bastante importante no contexto da
sala de aula, que faz com que educadores e estudiosos venham ao longo dos tempos,
empreendam meios no sentido de fazer com que haja sucesso em sua consecução.
Para facilitar o alcance do objetivo na sala de aula verifica-se que na maioria das
vezes, o conhecimento é fragmentado, dividido em disciplinas e matérias, sem
preocupação com a integração entre elas.
Ainda que muitos avanços tenham sido observados no contexto do que é
ensinado e aprendido na escola o conhecimento continua sendo repassado da mesma
forma para diferentes alunos em diferentes realidades, cabendo tão somente a
preocupação com a fixação do conteúdo e com o cumprimento do currículo
estabelecido. Esse processo educativo é concebido como via de mão única, produzindo
indivíduos incapazes de se conhecerem como protagonistas de sua própria história
(MORAES; BATALLOSO NAVAS, 2010).
Entre as estratégias efetivadas no sentido de impingir significado no âmbito da
construção de conhecimentos está o uso dos saberes oriundos do povo, entre eles, da
cultura popular.
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O estudo acerca da paisagem ao entrelaçar-se com o bumba meu boi possibilita
ao educando a construção significativa de saberes, constituindo-se elemento importante
no âmbito de uma metodologia cujas bases são os aspectos da vida dos educandos,
superando-se o tradicionalismo que ainda impera no processo de ensinar e aprender.
Este estudo teve, pois, enquanto pretensão mostrar que é possível associar
conhecimentos diversos, oriundos do cotidiano, possibilitando ao aluno a aprender a
partir do ambiente em que está inserido e da cultura da qual faz parte, cabendo, para
tanto, apenas uma dose de criatividade e sabedoria, pela escola e seus educadores.
REFERÊNCIAS
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86p, il.
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do conhecimento. In. FAZENDA, Ivani C. Arantes.[org.]. Práticas interdisciplinares
FAZENDA, Ivani Catarina Alves et al. (Org.). Práticas Interdisciplinares na escola.
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SCHÄFFER, Neiva Otero. Ler a paisagem, o mapa o livro... Escrever nas
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compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1998,
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SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara Conceição (org.).
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Editora da Universidade/
UFRGS, 1998, 107 – 120.
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WAGNER, P.L.; MIKESELL, M.W. Os temas da geografia cultural. In: CORRÊA,
R.L; ROSENDAHL, Z. (Org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003, 27-61.
Recebido Para Publicação em 15 de julho de 2013.
Aprovado Para Publicação em 26 de julho de 2013.
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