RELAÇÕES ENTRE ELEMENTOS CLIMÁTICOS E A OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS EM VEGETAÇÃO NO PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA/RJ CÁS S IA BARRETO BRANDÃO Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, Instituto de Geografia - Rio de Janeiro - RJ, [email protected]. RESUMO: A possibilidade de ocorrência de fogo em vegetação bem como a freqüência dos incêndios está relacionada com as condições climáticas e geográficas locais. A partir da análise climática é possível determinar os locais e os períodos mais propícios à ocorrência de incêndios no Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), podendo facilitar a formulação de medidas de prevenção contra incêndios. Para a realização do estudo foram utilizadas séries temporais de temperatura, precipitação e dados estatísticos fornecidos pelo Centro de Operações do Corpo de Bombeiros de fogo em vegetação. De acordo com os resultados obtidos as vertentes norte do maciço demonstram as maiores incidências de casos notificados no período de 1999 a 2009, além de apresentarem as maiores probabilidades de ocorrências futuras. Palavras-chave: clima, incêndio, susceptibilidade 1-INTRODUÇÃO: Com exceção dos incêndios provocados por rios, a maioria é resultado da negligência, descuido e ignorância da população. Segundo HERDE (1996) incêndio florestal é todo fogo sem controle sobre qualquer vegetação, podendo ser provocado antropicamente ou naturalmente. De acordo com SOARES (1985) e HERDE (1996) a ocorrência de fogo em vegetação possui estreita correlação com as condições atmosféricas locais. Localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro o Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) foi criado em 1974 abrangendo todo o maciço e ocupando uma área de 12.500 hectares. Sua demarcação é estabelecida a partir da cota altimétrica de 100 metros, ao redor de todo o maciço da Pedra Branca, o que representa 16% do território do município. Apesar de ser legalmente definido como uma área de proteção integral, o que Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 impediria a presença de residentes, estima-se que a unidade de conservação abrigue cerca de 45.000 habitantes em seu interior. Os impactos ambientais sobre a Mata Atlântica da área em estudo estão sendo cada vez mais intensificados pela ocupação desordenada da população sobre o maciço. Os principais vetores de destruição da vegetação na região são os incêndios florestais, o desmatamento, a ocupação das encostas e a deposição de poluentes. A importância de se conhecer as relações entre os elementos climáticos e os incêndios em vegetação está na possibilidade de se criar formas de prevenção, mas como se não bastassem os fatores climáticos , associa-se também o hábito de moradores de áreas urbanas e rurais em utilizar o fogo para eliminar resíduos de diferentes naturezas. Outro problema recorrente principalmente durante o inverno devido à época de festas juninas no Rio de Janeiro se refere à prática de soltar balões, que agravam ainda mais o problema. O objetivo deste artigo é analisar os elementos climáticos que mais se relacionam com as ocorrências de fogo em vegetação, determinando quais são os períodos mais propícios para a ocorrência de incêndio e auxiliando em programas de prevenção e controle de incêndios florestais. 2. MATERIAL E MÉTODOS: Este trabalho consiste no estudo da relação entre os elementos climáticos e as ocorrências de fogo em vegetação no Parque Estadual da Pedra Branca (RJ), localizado entre os paralelos 22º 55’ e 23º 05’S e os meridianos 43º 20’ e 43º 40’W. Os dados das ocorrências de fogo em vegetação durante o período de 1999 a 2009 foram fornecidos pelo Centro de Operações do Corpo de Bombeiros, localizado no quartel central do Centro do Rio de Janeiro. Os dados climáticos foram obtidos de variadas fontes, entre elas a GEO-RIO (Fundação Instituto de Geotécnica do Rio), fornecendo através do site http://www2.rio.rj.gov.br/georio/site/alerta/alerta.htm dados pluviométricos da estação de Jacarepaguá/Cidade de Deus, localizado na Long (W) 43° 21' 46.0" e Lat (S) 22° 56' 44.3" com cota altimétrica de 15m e Bangu, localizado Long (W) 43° 27' 57.3" e Lat (S) 22° 52' 49.2", com cota altimétrica de 15m. Os dados de temperatura da estação de Jacarepaguá e Realengo foram obtidos no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Devido à ausência de uma estação meteorológica no interior do Parque Estadual da Pedra Branca, tornou-se necessário a coleta de dados de estações representativas da vertente norte e leste do maciço, pois tal feição geomorfológica é capaz de criar microclimas distintos em regiões da própria região metropolitana do Rio de Janeiro. Esta análise permite verificar, de uma maneira objetiva, a influência que os fatores climatológicos exercem nas ocorrências de fogo em vegetação no Maciço da Pedra Branca. 4. FATORES CLIMÁTICOS: Os fatores climáticos mais importantes para a avaliação do comportamento do fogo é a temperatura, a umidade relativa do ar e o regime eólico SAMPAIO (1991). Tais elementos são fundamentais para o entendimento do comportamento do fogo, sendo que os demais fatores como a vegetação e a topografia são também influenciadas pelas condições climáticas, embora o contrário também ocorra. A temperatura é um dos fatores que tem grande importância na origem dos incêndios, pois sua influência ocorre sobre a combustibilidade da mata ao facilitar a evaporação e ao diminuir o grau de umidade das madeiras. A umidade relativa do ar baixa afeta o material combustível, pois a quantidade de vapor de água encontrada no ar não é o suficiente para manter o material florestal úmido. Os incêndios florestais são mais freqüentes durante o dia, pois o ar é mais seco, mas durante a noite os materiais florestais estão mais úmidos dificultando a propagação do fogo. As precipitações mantêm o material florestal permanentemente úmido, dificultando a ignição e a propagação do fogo. Durante os períodos de estiagem o ar torna-se mais rarefeito e a vegetação passa a se constituir em material combustível. O regime eólico é responsável por controlar a forma e a velocidade da propagação de um incêndio. Os ventos de forte intensidade podem prejudicar o controle das chamas e podem permitir a propagação do fogo para áreas próximas. 5. FATORES GEOGRÁFICOS: 5.1 Características Topográficas: Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 De acordo com FREIRE, CARRÃO E CAETANO (2004) as formas que o relevo apresenta têm influência no vento, na temperatura e na umidade relativa do ar. As características da superfície terrestre e em particular à posição e configuração das colinas, montanhas, planos, vales, lagos e rios são importantes e decisivos no comportamento do fogo. Os córregos, rios, terrenos pedregosos e os caminhos atuam como barreiras naturais dificultando ou impedindo a propagação do fogo. Embora a forma de relevo típica da cidade do Rio de Janeiro seja representada por planícies, os maciços de Gericinó-Mendenha, Tijuca e da Pedra Branca representam entre as suas características físicas a topografia acidentada e extremamente diversa, cujas encostas originalmente são cobertas por florestas de Mata Atlântica, apresentando altos graus de declividade. A presença desses maciços contribui para a grande variabilidade espacial da precipitação e da circulação dos ventos. 5.2 Vegetação: O maciço da Pedra Branca atua como barreira aos ventos e propicia a ocorrência de chuvas orográficas a barlavento, caracterizando a porção Sul, Leste e Oeste do maciço como área de maior densidade vegetacional. No lado oposto a sotavento, a vegetação vai rareando devido à maior escassez de chuvas. Segundo OLIVEIRA et al (1995), as vertentes norte dos maciços cariocas são áreas que estão mais distantes das influências das chuvas orográficas, propiciando um clima mais seco em bairros como Bangu e Realengo. Estas áreas também recebem maior incidência de raios solares e menos umidade, cooperando para que a vegetação nestas áreas seja menos densa. 6. ESTATÍSTICAS DE FOGO EM VEGETAÇÃO NO PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA (1999-2009): O gráfico a seguir representa as ocorrências de fogo em vegetação no Parque Estadual da Pedra Branca segundo os meses de ocorrência durante o período de 1999 a 2009. Gráfico1- Frequência Mensal de Ocorrências de Fogo em Vegetação (1999-2009) Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 De acordo com os dados representados pelo gráfico 1, o mês de julho obteve maior percentual de ocorrências. Cabe ressaltar que o número de ocorrências em cada ano analisado pode ser maior devido a focos de incêndio que sequer são detectados e controlados pela corporação. Os dados representados nesta análise se referem apenas aos casos notificados pelo Corpo de Bombeiros. Devido à complexidade climática da região em estudo, que em parte está relacionada com a presença do próprio maciço, considera-se como referência de dados meteorológicos duas estações, uma representando a porção norte que está voltada para os bairros de Sulacap, Realengo, Bangu e Senador Camará e outra representativa da vertente leste, voltada para os bairros da Taquara, Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Vargem Pequena, Vargem Grande, Recreio e Grumari. Entre os bairros situados na área de conservação os mais afetados por incêndios são: Realengo com 63,4% dos casos, Bangu com 34,14% e Taquara representando 4,87% das ocorrências. Por vários motivos as vertentes norte do maciço apresentam os maiores índices de ocorrência de incêndios. Entre os motivos está a crescente ocupação ilegal de moradias no interior do parque, a modificação da cobertura vegetal nativa por gramíneas que possuem alto potencial de combustibilidade e as condições climáticas que através do maciço propiciam a distribuição irregular da precipitação, contribuindo para um clima mais seco na região e para uma vegetação naturalmente menos densa. As vertentes norte também recebem a maior incidência dos raios solares como demonstra os estudos realizados por COURA et al (2009) Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 que também ressalta que a porção norte possui maior susceptibilidade à ocorrência de incêndios. Os bairros localizados ao Sul, Leste e Oeste do PEPB recebem a ação direta das brisas marinhas que suavizam as temperaturas em bairros como Jacarepaguá, Barra e Recreio. As chuvas orográficas a barlavento possibilitam uma formação vegetal mais desenvolvida e densa, dificultando devido ao baixo grau de combustibilidade dessas formações a incidência de fogo em vegetação. Apesar das poucas ocorrências existentes nestas regiões, a ocupação das encostas do maciço nos últimos anos vem aumentando consideravelmente, contribuindo para a degradação do parque e possibilitando que as características físicas naturais que conferem a estes locais menores propensões a incêndios possam se modificar ao longo dos anos. 7. CORRELAÇÕES ENTRE PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA NAS OCORRÊNCIAS DE FOGO EM VEGETAÇÃO NO PEPB: A análise das séries de temperatura e precipitação das duas estações representativas do PEPB possibilita demonstrar quais os locais e períodos em que há maior propensão a incêndios. A análise da umidade relativa e dos ventos não foi possível de ser realizada, pois não se tem registros destas variáveis nas estações correspondentes, portanto o estudo será restrito apenas as análises da temperatura e da precipitação, embora vários estudos apontem que a umidade e o regime eólico exercem grande influência na ignição e na propagação de incêndios florestais. Através do Gráfico 2, pode-se observar que a média da precipitação mensal da série de 1999 a 2009 de Bangu, apresenta durante o inverno escassez de chuvas, concentrando os meses mais chuvosos em janeiro e dezembro. Em Jacarepaguá (Gráfico 3) a distribuição da precipitação é mais regular, embora tenda a declinar durante o inverno, mas permite que a estação não seja tão seca quanto em Bangu. Gráfico 2 - Precipitação Média Mensal de Bangu Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Gráfico 3 - Precipitação Média Mensal em Jacarepaguá A média das temperaturas máximas em Realengo (Gráfico 4) alcança as maiores médias de temperatura durante o verão, atingindo máximas absolutas de até 40,4ºC. Em Jacarepaguá (Gráfico 5) a máxima absoluta nunca atingiu durante os oito anos da série 40ºC, apresentando em geral uma tendência de médias de temperaturas máximas menores que as registradas em Realengo. Gráfico 4 - Média das Temperaturas Máximas e Máximas Absolutas em Realengo Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Gráfico 5 - Média das Temperaturas Máximas e Máximas Absolutas em Jacarepaguá 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os incêndios podem iniciar-se de forma espontânea ou ser conseqüência de ações e ou omissões humanas, mas mesmo nesse último caso, os fatores climatológicos e ambientais são decisivos para incrementá-los, facilitando sua propagação e dificultando seu controle. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Atualmente o Parque Estadual da Pedra Branca encontra-se bastante alterado pela ação antrópica, contribuindo para que algumas áreas do parque fiquem vulneráveis a incêndios, especialmente nas vertentes norte do maciço. Normalmente os incêndios ocorrem com freqüência e intensidade nos períodos de estiagem e está intrinsecamente relacionada com a redução da umidade e com a elevação da temperatura. A análise envolvendo o risco de incêndios é uma ferramenta importante para preservar o que ainda resta do bioma Mata Atlântica, mas é importante combater também algumas ações antrópicas que contribuem para o aumento de incêndios florestais como o desmatamento e a soltura de balões. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 REFERÊNCIAS: COURA, F.H.P et al. Mapeamento Geoecológico da Susceptibilidade à Ocorrência de Incêndios no Maciço da Pedra Branca, Município do Rio de Janeiro. Anuário do Instituto de Geociências: UFRJ, vol.32-2/2009, p.14-25. FREIRE, S; CARRÃO, H. e CAETANO, M.R. Produção da Cartografia de Risco de Incêndio Florestal com Recurso a Imagens de Satélite e Dados Auxiliares. Lisboa: Instituto Geográfico. HERDE L.C. Plano de prevenção e combate aos incêndios florestais para o Estado do Paraná. In: REUNIÃO TÉCNICA CONJUNTA FUPEF/SIF/IPEF. Anais... Curitiba: FUPEF/SIF/IPEF, P.130-139, 1996. OLIVEIRA, R.R et al. Significado ecológico da orientação das encostas no maciço da Tijuca, Rio de Janeiro. Oecologia Brasilienses, vol.1, p. 523-541. SAMPAIO, O.B. Estudo comparativo de índices para a previsão de incêndios florestais na região de Coronel Pacheco, Minas Gerais. Viçosa, MG: UFV, 1991. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Viçosa, 1991. SOARES, R.V. Incêndios florestais: controle e uso do fogo. Curitiba: Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, 1985. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 SOUSA, G.M. Mapeamento Geoecológico da Potencialidade à ocorrência de incêndios no maciço da Pedra Branca/RJ; Programa de Pós-Graduação em Geografia, Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 11