A Câmara Municipal de Coimbra e o JACC – Jazz ao Centro Clube apresentam “Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, 2010” 24 de Maio a 5 de Junho Introdução A VIII edição do “Jazz ao Centro” mantém o formato experimentado pela primeira vez em 2008, concentrando a sua programação na última semana de Maio e primeira de Junho. De 24 de Maio a 5 de Junho, vários espaços da cidade de Coimbra acolherão dez concertos, actividades pedagógicas, um pequeno ciclo de cinema, exposições de fotografia. O primeiro fim de semana de concertos terá como protagonistas dois grupos norte-americanos. O quarteto Mostly Other People do The Killing actuará, por três dias consecutivos (27, 28 e 29 de Maio), nas “after-hours” do Salão Brazil, enquanto que os Digital Primitives subirão ao palco do Teatro Académico de Gil Vicente, na noite de 29 de Maio. Na segunda semana de festival, o TAGV é o local escolhido para o encontro entre duas figuras cimeiras da música criativa de ambos os lados de Atlântico, o americano Tim Berne e o francês Bruno Chevillon. O Salão Brazil receberá, nos dias 3 e 4 de Junho, a European Movement Jazz Orchestra, constituída por alguns dos mais promissores músicos europeus e onde Portugal está bem representado. No dia 5 de Junho, e com honras de fecho do festival, é a vez do Convergente Quartet (GB, EUA) actuar no salão da Baixa coimbrã. O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha acolhe duas propostas pensadas para o seu espaço. Na Sexta-feira, dia 28 de Maio, actuará, a solo, o trompetista Peter Evans. Na Sexta-feira, 4 de Junho, será a vez do duo Jean-Luc Guionnet (saxofone alto) Seijiro Murayama (percussão). Ambos os concertos terão lugar às 19h00, em finais de tarde que se prevêm plenos de encantamento. Em Coimbra, despedimo-nos da Primavera com jazz. Concertos »Mostly Other People Do the Killing (EUA) 27, 28 e 29 de Maio - 23h00 / 23h45 / 23h45 Salão Brazil Peter Evans - trompete Jon Irabagon – saxofone alto Kevin Shea - bateria Moppa Elliott – contrabaixo A banda cyborg de bebop terrorista, tal como o seu fundador, Moppa Elliott, gosta de lhe chamar, vem a Coimbra com um novo disco, "Forty Fort". E se o anterior "This Is Our Moosic" copiava a capa do álbum "This Is Our Music" de Ornette Coleman, este emula a de "Out of the Afternoon", de Roy Haynes. Não se trata apenas de uma piada: com este procedimento, é a própria caracterização do projecto Mostly Other People Do The Killing que fica anunciada. O compositor / contrabaixista e os seus parceiros, Peter Evans (trompete, trompete piccolo), Jon Irabagon (saxofone alto) e Kevin Shea (bateria, electrónica), têm como propósito não só rever toda a história do jazz como virá-la do avesso, e se o formato escolhido é o do free bop (ou seja, a junção das coordenadas do hard bop e do free jazz, com inspiração nos princípios pré-harmolódicos do Ornette da década de 1960), a música pode fluir para zonas do mais radical experimentalismo improvisado, incidindo no virtuosismo técnico dos músicos envolvidos, ou conter rítmicas vizinhas do punk e do metal, apelando a que o público bata o pé e abane a cabeça. Fá-lo este singular quarteto de duas formas: mediante a interpretação de endiabradas versões dos "standards" básicos do repertório jazzístico ou partindo de simples temas e estruturas com intencionais conotações estilísticas, o que em muitos casos passa pela integração de citações dos grandes nomes deste género musical. Daqui resultam performances celebratórias e com dimensão de festa a que ninguém consegue ficar indiferente. Com um percurso paralelo como pedagogo, Moppa Elliott é claramente um homem de estratégias e conceitos. A filosofia revisionista e provocatória dos Mostly Other People Do The Killing é de sua inteira formulação. Não podia ter melhor companhia para a tornar numa realidade. Peter Evans é um camaleão, capaz de se inserir da melhor maneira em qualquer contexto musical e de introduzir no seu riquíssimo vocabulário elementos das mais díspares influências, mas conhecido sobretudo pelas técnicas inovadoras que desenvolveu para o trompete. De pés bem assentes na tradição (foi o vencedor em 2008 da Thelonious Monk International Saxophone Competition), Jon Irabagon proporciona uma sólida ancoragem na identidade do jazz, mas também está à vontade nas situações mais inesperadas e indefeníveis. Vindo de um passado no rock alternativo, com, por exemplo, os Stormandstress, Kevin Shea é a "wild card" do grupo e um músico constantemente irrequieto e compulsivo, sempre disposto a "arrastar" tudo diante de si. Um concerto dos MOPDTK só pode constituir um acontecimento, daqueles que ficam para sempre guardados na memória. NOTA: Este concerto será gravado para posterior edição discográfica (JACC Series/Clean Feed) »Peter Evans solo (EUA) 28 de Maio – 19h00 Mosteiro de Santa Clara-a-Velha Peter Evans - trompete Se o trompete conta na actualidade com uma importante frente de inovadores do instrumento, como Axel Dorner, Nate Wooley, Franz Hautzinger, Greg Kelley e Birgit Uhler, será talvez Peter Evans aquele que mais se tem destacado. A sua actividade não podia ser mais variada: interpreta Bach como solista e integra orquestras sinfónicas e de câmara, trabalha na área da música erudita contemporânea (com, por exemplo, o International Contemporary Ensemble) ou colabora com músicos electrónicos, toca jazz "straight-ahead" ou surge em projectos da vanguarda deste género musical (entre muitos outros, com Peter Brotzmann), improvisa livremente com uma grande diversidade de nomes, mas muito especialmente Evan Parker e a sua trupe, e ainda tem tempo para encontros com músicos inclassificáveis como Keiji Haino e Okkyung Lee. Além dos seus muitos investimentos actuais, como o duo Sparks, com Tom Blancarte, o quarteto Mostly Other People Do The Killing ou o Evan Parker Electro-Acoustic Ensemble, Evans tem dedicado também a sua atenção ao formato do solo absoluto, em disco (o recente "Nature / Culture") e em concerto. É ao vivo, precisamente, que melhor oportunidade temos de usufruir do seu extraordinário virtuosismo e de uma criatividade que parece inesgotável. O trompetista consegue manternos surpreendidos até ao último momento, com recursos e ideias a surgirem como coelhos da cartola de um mágico. Enquanto improvisador, e mesmo em contextos não-idiomáticos, Peter Evans invoca toda a história do trompete de jazz em cada sequência de notas e em simultâneo inventa-lhe um futuro de possibilidades. Mas não é só: a exploração das capacidades da sua ferramenta de trabalho tem um claro propósito, e este é a abertura de novas vias estéticas para a música. Inéditas técnicas de sopro, de colocação da embocadura, de salivação, de utilização da língua e das cordas vocais somam-se às, antigas e originárias do Oriente, técnicas de respiração contínua. Às lógicas convencionais do fraseado, com base em escalas, acrescenta uma laboração a nível das texturas e do ruído, rompendo com a habitual linearidade do discurso. Utiliza o microfone em interface com o trompete, para produzir "feedbacks" e agir com estes como um escultor. O leque de recursos a que Evans lança a mão é vasto e indiscriminatório, nada colocando de lado à partida, numa atitude pós-moderna que lhe tem merecido o mais rendido aplauso por todos os palcos por onde passa. »Digital Primitives (EUA/Israel) 29 de Maio - 22h00 TAGV – Teatro Académico de Gil Vicente Cooper-Moore – voz, banjo, diddley bow, mouth bow, flauta e percussão Assif Tsahar – sax tenor, clarinete baixo Chad Taylor – bateria, percussão, m’bira Numa época em que cada vez são menos possíveis as manifestações de singularidade artística, o trio Digital Primitives faz toda a diferença. Se a filiação musical do projecto no jazz é clara, a forma como este é praticado não pode ser comparada com nada mais do que presentemente se faz. A música de Cooper-Moore (instrumentos por si mesmo inventados como o "diddley-bo", o "mouth bow", o "twinger" ou o "bango", um sucedâneo do banjo com três cordas, a que eventualmente se associam outros, convencionais, como a flauta ou o piano), Assif Tsahar (saxofone tenor, clarinete baixo, didgeridoo) e Chad Taylor (bateria, percussão) agrada pelo jogo que propõe entre o reconhecimento das formas (os blues, o funk, as alusões pan-africanistas ou de um folclore imaginário) e a estranheza dos processos e das soluções encontradas, algo que poderia resultar do encontro da Sun Ra Arkestra ou do Art Ensemble of Chicago com Harry Partch ou com Moondog. O grupo tem raiz em aspirações que remontam ao início do século XX, altura em que as vanguardas começaram a interessar-se pela arte criada pelas crianças, pelos loucos dos hospícios e pelas tribos dos lugares mais longínquos e isolados do planeta. Se a linguagem é jazzística, o alinhamento estético aproxima os Digital Primitives daquilo a que se vai chamando de "arte bruta" ou mesmo do dadaísmo. E é assim que, se detectamos algum esoterismo, ou algum iniciático mistério, num disco como "Hum, Crackle & Pop", as improvisações tematizadas que este nos oferece são um convite à dança e à celebração colectiva da vida. É como se o jazz tivesse redescoberto a sua etnicidade primeira, e a música o papel ritualístico que teve nas origens. O percurso de Cooper-Moore é o de um desalinhado face às tendências dominantes. Multi-instrumentista com preferência pelos teclados, iniciouse como flautista. Tocou Fender Rhodes e Hammond B-3 em bandas de rhythm 'n' blues, mas depressa optou pelo Grand Piano nas suas colaborações com David S. Ware. Descobriu a electrónica e mais tarde decidiu-se pelo desenho, pela construção e pelo uso de instrumentos exóticos. Israelita de nascimento, Assif Tsahar é igualmente um soprador incaracterístico. Herdeiro das premissas da "new thing", faz delas uma abordagem que o distingue, preferindo a melodia ao "grito" e o grão sonoro ao expressionismo, o que o levou a ter colaboradores como Mat Maneri, Lê Quan Ninh ou Agustí Fernandez. E para não fugir à regra, Chad Taylor é um baterista na fronteira do jazz com o rock e com o experimentalismo, de forte personalidade, mas invulgarmente flexível, o que faz com os "post-everything" Tortoise e Chicago Underground não chocando com as suas associações mais tradicionalistas a Fred Anderson ou a Ernest Dawkins. Três ovelhas negras para uma música diferente. »EMJO – European Movement Jazz Orchestra (Portugal/Alemanha/Eslovénia) 3 e 4 de Junho - 23 / 23h45 Salão Brazil Izidor Leitinger - condução Beny Brown, Mathias Schriefl, Alexander Hartmann, Igor Matkovic, Susana Santos-Silva - trompetes Uwe Steinmetz, Jaka Kopac, Philipp Gropper, Jure Pukl, Elmano Coelho saxofones Jörn Marcussen-Wulff, Lars Arens, Paulo Perfeito, Rui Bandeira trombones Jani Moder- guitarra Kaja Draksler - piano Robert Jukic, André Carvalho – contrabaixo, baixo eléctrico Tobias Backhaus - bateria Mesmo quando "pensam" globalmente, os projectos musicais dos nossos dias agem ainda na sua maior parte a nível local, e até os agrupamentos de carácter transnacional poucas vezes consistem em mais do que encontros fortuitos, ou com prazo de validade limitado (o mais não seja por motivos económicos), de músicos que abraçaram o característico nomadismo do jazz e da improvisação. Assim não acontece com a European Movement Jazz Orchestra. Já uma instituição, com arranque realizado em 2007, esta "big band" congrega jovens instrumentistas de três países europeus, Alemanha, Eslovénia e Portugal, tendo nascido por alturas da presidência germânica do Conselho Europeu. Desde então realizaram-se três digressões, cada uma com um diferente maestro. Numa delas, coincidindo com a liderança portuguesa da Comunidade Europeia, foi Zé Eduardo o condutor escolhido. O repertório da EMJO é constituído por partituras de alguns dos seus membros e por obras encomendadas a compositores de renome, sendo a única regra que, dentro do formato jazzístico, surjam elementos populares e da tradição das nações envolvidas, como já foi o caso relativamente ao fado ou à "blasmusik", música de fanfarra tipicamente alemã. Portugal está bem representado por Elmano Coelho (saxofone barítono), Paulo Perfeito (trombone), Rui Bandeira (trombone baixo), Susana Santos Silva (trompete) e André Carvalho (contrabaixo), mas a estrela da orquestra é, indubitavelmente, o extraordinário trompetista alemão Matthias Schriefl. Se o vocabulário deste tem raízes no jazz de New Orleans e em Louis Armstrong, incorpora igualmente no seu estilo irreverente as liberdades do free jazz e a pujança do rock. Um dos compositores da EMJO é o lusitano Paulo Perfeito, músico com estudos feitos no New England Conservatory (com o histórico Bob Brookmeyer) e no Berklee College of Music, depois de ter frequentado o Conservatório de Música do Porto e a Escola de Jazz do Porto. As suas superiores capacidades valeram-lhe, nos Estados Unidos, o Herb Pomeroy Award for Outstanding Jazz Composer and Arranger, só agora começando, finalmente, a ser reconhecido no seu próprio país natal. Acrescente-se que muito graças ao seu papel na Orquestra Jazz de Matosinhos, com a qual já teve a oportunidade de trabalhar com figuras internacionais como Carla Bley, Lee Konitz, John Hollenbeck e Mark Turner, entre outros. A construção da Europa está a passar pelo jazz, e só isso bastaria para o nosso aplauso. NOTA: Este concerto será gravado para posterior edição discográfica (JACC Series/Clean Feed) »Jean-Luc Guionnet/Seijiro Murayama (França/ Japão) 4 de Junho - 19h00 Mosteiro de Santa Clara-a-Velha Jean-Luc Guionnet – saxofone alto Seijiro Murayama – bateria, percussão A associação do francês Jean-Luc Guionnet e do japonês Seijiro Murayama é uma daquelas improbabilidades que somente a prática da improvisação integral podia tornar uma realidade. O primeiro tem um trajecto na área da experimentação e da electroacústica (a solo ou tendo como parceiros Eric Cordier, Eric La Casa, Pascal Battus e Taku Unami, entre outros), com ocasionais digressões pela ecomúsica criada a partir de "field recordings" e por um free jazz de abordagem europeísta (com o trio The Fish), e o outro vem de um trajecto no avant-rock que passou pelos Fushitsusha de Keiji Haino e pelos Absolut Null Punkt do guitarrista "destroyer" KK Null. Guionnet escolheu o saxofone alto como o seu instrumento de eleição, mas também utiliza o órgão de igreja e a electrónica. Murayama reduziu a bateria às suas componentes mais essenciais, uma tarola e um prato apenas. Juntos, tocam uma música feita de multifónicos, microtons e sustenidos irregularmente pontuados por afloramentos percussivos, combinando-se de formas inusitadas contínuos sonoros e pontilhismos. Uma música que concentra a nossa atenção nos mais ínfimos pormenores de um fluxo de acontecimentos que corre pelo tempo como um rio e que testa a cada momento as virtualidades do espaço, beneficiando da ressonância providenciada pela arquitectura – a estreia do duo foi num mosteiro budista do Japão, tal como ficou registado em "Le Bruit du Toit", e agora vamos ouvi-lo numa capela. O volume é geralmente baixo, sem prejuízo das dinâmicas criadas, e, em vez da típica articulação por fraseados que encontramos no jazz e na música improvisada, o trabalho dos dois músicos realiza-se ao nível das texturas, regra geral esparsas, generosamente incluindo o silêncio, e apenas por ocasiões ganhando mais complexos emaranhamentos. Não estranha que Jean-Luc Guionnet tenha completado os seus estudos de Filosofia com uma tese sobre o rumor e que o antes hiperactivo Seijiro Murayama se convertesse ao minimalismo baterístico: as explorações a que procedem do som e dos seus respectivos instrumentos baseiam-se no entendimento de que dar forma, por via musical, ao tempo e ao espaço não implica ocupá-los e, em última consequência, iludi-los, mas fazê-los viver tal como são. Neste sentido, o pouco que lhes acrescentem arrisca-se sempre a ser demasiado: a "escreverem" invasivamente sobre as suas superfícies, preferem somente "assiná-las", razão pela qual utilizam uma linguagem musical sem gramática nem vocabulário, tal como o "pidgin". Com esta parceria de cunho Zen, a música é, assim, nada mais do que uma "assinatura", o registo da presença humana num quadro de respeito pelo cosmos. E o certo é que o efeito final é de uma beleza que tem tanto de avassaladora quanto de frágil, exigindo-nos disponibilidade, atitude de espera e uma escuta imersiva. Não para deixar o mundo lá fora, mas precisamente para mergulharmos nele por inteiro. »Tim Berne / Bruno Chevillon (EUA/França) 5 de Junho - 22h00 Teatro Académico de Gil Vicente Tim Berne – saxofone alto Bruno Chevillon – contrabaixo Se bem que por via de uma linguagem comum – a do jazz, considerado na globalidade das suas manifestações –, com a colaboração de Tim Berne e Bruno Chevillon são duas perspectivas bem distintas desta música que se cruzam. Um ex-jogador de basquetebol, o saxofonista americano traz consigo a sua velha paixão pela soul e pelo rhythm 'n' blues das editoras Motown e Stax, a admiração que nutre pela música de Julius Hemphill, talvez o mais sofisticado dos protagonistas históricos do free jazz e seu mestre, e um entendimento da tradição que nunca se coibiu de aproveitar, nos grupos Bloodcount, Big Satan, Science Friction e Paraphrase, elementos "estranhos" como a energia do rock. Com formação em artes plásticas (fotografia), o contrabaixista francês fez estudos clássicos e incluiu na sua actividade performativa a música erudita contemporânea e a livre-improvisação. Se André Jaume o introduziu nas formas do jazz, Louis Sclavis tem sido o seu mais habitual companheiro de lides em projectos que alargaram a fronteira deste género musical e lhe deram uma identidade europeia. Em anos mais recentes, abriu-se também à experimentação electroacústica, com parceiros que desafiam catalogações como Franck Vigroux, Elliott Sharp e Joey Baron. Chevillon começou a integrar as bandas de Berne por indicação do guitarrista deste, Marc Ducret, seu ocasional colaborador, mas nunca como neste duo esteve tão em causa o equacionamento de duas visões cujas diferenças foram proporcionadas pela distância que as águas do Atlântico impõem. Porque o expressionismo das execuções de um convive bem com o enfoque estrutural do outro e a fidelidade às coordenadas básicas do jazz não contradiz o espírito aventureiro que tantos novos caminhos tem desbravado para este idioma musical, Tim Berne e Bruno Chevillon colocam-se assumidamente numa posição de desafio, não para confrontarem os seus respectivos argumentos, em monólogos paralelos, mas com a finalidade de interagirem num jogo de propostas e reacções, de troca de ideias, de diálogo efectivo. Não nos surpreendamos, pois, se Berne adoptar uma intervenção "de câmara" e se Chevillon nos soar "bluesy": a improvisação, mesmo quando existem pautas, tem esta capacidade transformativa. Não é só a música que muda, mas também quem a toca. Isso se os músicos envolvidos tiverem uma atitude de abertura, e a verdade é que estes em concreto não buscam outra coisa senão isso a que a biologia dá o nome de osmose. Mais do que testemunhas, nós seremos os cúmplices. » The Convergence Quartet (EUA/GB) 5 de Junho - 23h45 Salão Brazil Taylor Ho Bynum – corneta, fliscórnio Harris Eisenstadt – bateria Alexander Hawkins – piano Dominic Lash – contrabaixo À partida, a própria designação do Convergence Quartet alude à convergência geográfica de termos no mesmo palco dois músicos britânicos, o pianista Alexander Hawkins e o contrabaixista Dominic Lah, um americano (de ascendência asiática), o cornetista Taylor Ho Bynum, e um canadiano (cuja paixão por África, será de assinalar, lhe tem determinado os rumos musicais), o baterista Harris Eisenstadt. O nome tem, no entanto, outros significados e o mais importante é o facto de este quarteto fazer a ponte entre o "free jazz" e a "free music", esta entendida como a máxima libertação da criatividade musical, prescindindo da utlização de um idioma. Neste particular, o termo "convergência" não mascara o que poderia parecer conflitual: para todos os efeitos, se a dita "free music" é praticada por improvisadores que se emanciparam do jazz e da música erudita, o certo é que essas matrizes persistiram sempre como referência. Neste contexto, a música livremente improvisada volta a encontrar-se com um dos seus progenitores, o jazz. O resultado só vem demonstrar que o cordão umbilical que os ligou não foi totalmente cortado. Curioso, mesmo, se torna verificar que entre "filhos" (Hawkins e Lash, figuras da nova geração europeia de livres-improvisadores) e "pais" (Bynum e Eisenstadt, novos valores do jazz tocado na América do Norte) não há tantas diferenças quanto seria de supor: se os primeiros voltam "atrás" com a maior das desenvolturas, os outros atiram-se para a "frente" igualmente sem preconceitos. Às tantas, percebemos que as divisões entre estes dois campos da música de hoje são mais artificiais do que julgávamos. Ora, um grupo com tais características só existe porque já não é possível delimitar territórios exclusivos de acção. Depois de Hitler, de Karadzic e dos Hutus do Ruanda, ficámos a saber não apenas que qualquer intuito de pureza é uma ilusão, como também que é algo de sinistro e potencialmente perigoso. Mas atenção, que a música do Convergence Quartet não é de compromisso. Pelo contrário, são os contrastes que se exploram, e muitas vezes até às últimas consequências. Não das maneiras que seriam de esperar: por exemplo, o mesmo músico que já esteve ao lado dos muito radicais John Butcher, Eddie Prévost e John Russell, Alexander Hawkins, é quem surge no recém-editado álbum "Song / Dance" em situações mais conotáveis com o jazz vernacular. Por exemplo também, sendo estruturalmente um "jazzman", Taylor Ho Bynum é um solista de audaciosos abstraccionismos, ou não tivesse sido aluno de Anthony Braxton. Todos intervêm com as armas que possuem. Dominic Lash não se fica pela articulação de texturas e atmosferas; tem sólidas e afirmativas noções de ritmo e estas vão beber ao funk e ao rock. Harris Eisenstadt foi à Gâmbia, ao Gana e ao Senegal estudar com os locais a percussão africana e são precisamente as polirritmias que aí aprendeu que dão corpo ao seu trabalho na bateria. Com este quarteto, juntar o jazz e a música improvisada não é improvisar à maneira do jazz, o que seria demasiado confortável, mas experimentar outros relacionamentos do composto jazzisticamente com o tocado livremente. As improvisações nunca surgem dentro de molduras temáticas, mas podemos encontrar temas dentro de improvisos, virando os processos convencionais às avessas. Por tudo isto, é bom que o público se agarre às cadeiras: as suas convicções vão ser abaladas. Acção Didáctica » Oficina de Jazz para Miúdos 1 de Junho - 10h30/14h30 Casa Municipal da Cultura (Sala Polivalente) Maria Morbey - voz e narração José Soares - guitarra Abrem-se as portas de um lugar misterioso, desconhecido. Um clube de Jazz que espera grandes intérpretes, públicos solenes, emoções intensas, jazzisticamente vividas. Um sítio atravessado por países exóticos, rios de improviso, tempos remotos, tempos presentes e tempos futuros, experiências materializadas em sons, imagens e arrepios. Convidamos os Miúdos a experimentar o Jazz como algo que pode ser vivido na primeira pessoa, partindo do universo infanto-juvenil através do cinema, as histórias que o jazz tem para contar, atravessando os elementos musicais específicos desta linguagem, e terminando numa experiencia de improvisação colectiva. Cinema » My Name is Albert Ayler 26 de Maio - 22h00 Sala Arte à Parte Suécia | 2007 Realizador: Kasper Collin Língua: Inglês | Duração: 79 m O profético saxofonista Albert Ayler, hoje visto como um dos maiores inovadores no jazz, vivia obcecado com a sua música e pela esperança de que, no futuro, as pessoas a iriam compreender. Ayler dizia frequentemente “If they don't like it know, they will”. Em 1962, gravou o seu primeiro álbum, na Suécia. Oito anos mais tarde, foi encontrado morto no New York East River. Tinha 34 anos de idade. Este documento segue o percurso de Ayler, desde a sua Cleveland natal, passando pela Suécia e por Nova Iorque e encontrando família, amigos e colegas mais próximos. O próprio Ayler nos guia, com a sua voz e a sua música. » Amplified Gesture 2 de Junho - 22h00 Sala Arte à Parte GB/Austria/França | 2009 Realizador: Phil Hopkins Produção: David Sylvian Língua: Inglês | Cor: p/b | Duração: 55 m Quando David Sylvian terminou o seu mais recente disco, intitulado “Manafon”, sentiu necessidade de documentar as filosofias individuais do conjunto extraordinário de músicos que tinham colaborado na feitura do disco, perguntando-lhes o que os tinha guiado nas suas carreiras dedicadas à experimentação e pesquisa sonoras. Este conjunto de músicos inclui Christian Fennesz,Toshimaru Nakamura, Evan Parker, Eddie Prévost, Keith Rowe, John Tilbury, Otomo Yoshihide, John Butcher, entre outros. O filme acaba por documentar as opiniões dos músicos acerca do seu trabalho, das suas influências, da evolução das suas ideiais e das suas filosofias pessoais. Exposições 24 de Maio a 5 de Junho Salão Brazil Fotografia Retrospectiva Portugal Jazz 2008 - Fotografias de Hélio Gomes Ficha Técnica: Organização Câmara Municipal de Coimbra JACC – Jazz ao Centro Clube Direcção Geral Pedro Rocha Santos Produção Executiva José Miguel Pereira Produção JACC – Jazz ao Centro Clube Comunicação Marcelo dos Reis Design Cartaz Rui Garrido Coordenação Gráfica Paulo Pereira Web Design Rodrigo Baptissta Redacção de textos Rui Eduardo Paes Contactos JACC – Jazz ao Centro Clube Adro de Baixo, 6, 3000-420 Coimbra [t] 329 837 078 [e] [email protected]