Untitled - Meloteca

Propaganda
A Câmara Municipal de Coimbra e o JACC – Jazz ao Centro Clube
apresentam
“Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra,
2010”
24 de Maio a 5 de Junho
Introdução
A VIII edição do “Jazz ao Centro” mantém o formato
experimentado pela primeira vez em 2008, concentrando a sua
programação na última semana de Maio e primeira de Junho. De
24 de Maio a 5 de Junho, vários espaços da cidade de Coimbra
acolherão dez concertos, actividades pedagógicas, um pequeno
ciclo de cinema, exposições de fotografia.
O primeiro fim de semana de concertos terá como protagonistas
dois grupos norte-americanos. O quarteto Mostly Other People
do The Killing actuará, por três dias consecutivos (27, 28 e 29 de
Maio), nas “after-hours” do Salão Brazil, enquanto que os Digital
Primitives subirão ao palco do Teatro Académico de Gil Vicente,
na noite de 29 de Maio.
Na segunda semana de festival, o TAGV é o local escolhido para
o encontro entre duas figuras cimeiras da música criativa de
ambos os lados de Atlântico, o americano Tim Berne e o francês
Bruno Chevillon. O Salão Brazil receberá, nos dias 3 e 4 de
Junho, a European Movement Jazz Orchestra, constituída por
alguns dos mais promissores músicos europeus e onde Portugal
está bem representado. No dia 5 de Junho, e com honras de
fecho do festival, é a vez do Convergente Quartet (GB, EUA)
actuar no salão da Baixa coimbrã.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha acolhe duas propostas
pensadas para o seu espaço. Na Sexta-feira, dia 28 de Maio,
actuará, a solo, o trompetista Peter Evans. Na Sexta-feira, 4 de
Junho, será a vez do duo Jean-Luc Guionnet (saxofone alto)
Seijiro Murayama (percussão). Ambos os concertos terão lugar às
19h00, em finais de tarde que se prevêm plenos de
encantamento.
Em Coimbra, despedimo-nos da Primavera com jazz.
Concertos
»Mostly Other People Do the Killing (EUA)
27, 28 e 29 de Maio - 23h00 / 23h45 / 23h45
Salão Brazil
Peter Evans - trompete
Jon Irabagon – saxofone alto
Kevin Shea - bateria
Moppa Elliott – contrabaixo
A banda cyborg de bebop terrorista, tal como o seu fundador, Moppa
Elliott, gosta de lhe chamar, vem a Coimbra com um novo disco, "Forty
Fort". E se o anterior "This Is Our Moosic" copiava a capa do álbum "This Is
Our Music" de Ornette Coleman, este emula a de "Out of the Afternoon",
de Roy Haynes. Não se trata apenas de uma piada: com este
procedimento, é a própria caracterização do projecto Mostly Other
People Do The Killing que fica anunciada. O compositor / contrabaixista e
os seus parceiros, Peter Evans (trompete, trompete piccolo), Jon Irabagon
(saxofone alto) e Kevin Shea (bateria, electrónica), têm como propósito
não só rever toda a história do jazz como virá-la do avesso, e se o formato
escolhido é o do free bop (ou seja, a junção das coordenadas do hard bop
e do free jazz, com inspiração nos princípios pré-harmolódicos do Ornette
da década de 1960), a música pode fluir para zonas do mais radical
experimentalismo improvisado, incidindo no virtuosismo técnico dos
músicos envolvidos, ou conter rítmicas vizinhas do punk e do metal,
apelando a que o público bata o pé e abane a cabeça. Fá-lo este singular
quarteto de duas formas: mediante a interpretação de endiabradas
versões dos "standards" básicos do repertório jazzístico ou partindo de
simples temas e estruturas com intencionais conotações estilísticas, o que
em muitos casos passa pela integração de citações dos grandes nomes
deste género musical. Daqui resultam performances celebratórias e com
dimensão de festa a que ninguém consegue ficar indiferente.
Com um percurso paralelo como pedagogo, Moppa Elliott é claramente
um homem de estratégias e conceitos. A filosofia revisionista e
provocatória dos Mostly Other People Do The Killing é de sua inteira
formulação. Não podia ter melhor companhia para a tornar numa
realidade. Peter Evans é um camaleão, capaz de se inserir da melhor
maneira em qualquer contexto musical e de introduzir no seu riquíssimo
vocabulário elementos das mais díspares influências, mas conhecido
sobretudo pelas técnicas inovadoras que desenvolveu para o trompete. De
pés bem assentes na tradição (foi o vencedor em 2008 da Thelonious
Monk International Saxophone Competition), Jon Irabagon proporciona
uma sólida ancoragem na identidade do jazz, mas também está à vontade
nas situações mais inesperadas e indefeníveis. Vindo de um passado no
rock alternativo, com, por exemplo, os Stormandstress, Kevin Shea é a
"wild card" do grupo e um músico constantemente irrequieto e
compulsivo, sempre disposto a "arrastar" tudo diante de si. Um concerto
dos MOPDTK só pode constituir um acontecimento, daqueles que ficam
para sempre guardados na memória.
NOTA: Este concerto será gravado para posterior edição discográfica
(JACC Series/Clean Feed)
»Peter Evans solo (EUA)
28 de Maio – 19h00
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Peter Evans - trompete
Se o trompete conta na actualidade com uma importante frente de
inovadores do instrumento, como Axel Dorner, Nate Wooley, Franz
Hautzinger, Greg Kelley e Birgit Uhler, será talvez Peter Evans aquele que
mais se tem destacado. A sua actividade não podia ser mais variada:
interpreta Bach como solista e integra orquestras sinfónicas e de câmara,
trabalha na área da música erudita contemporânea (com, por exemplo, o
International Contemporary Ensemble) ou colabora com músicos
electrónicos, toca jazz "straight-ahead" ou surge em projectos da
vanguarda deste género musical (entre muitos outros, com Peter
Brotzmann), improvisa livremente com uma grande diversidade de nomes,
mas muito especialmente Evan Parker e a sua trupe, e ainda tem tempo
para encontros com músicos inclassificáveis como Keiji Haino e Okkyung
Lee. Além dos seus muitos investimentos actuais, como o duo Sparks, com
Tom Blancarte, o quarteto Mostly Other People Do The Killing ou o Evan
Parker Electro-Acoustic Ensemble, Evans tem dedicado também a sua
atenção ao formato do solo absoluto, em disco (o recente "Nature /
Culture") e em concerto. É ao vivo, precisamente, que melhor
oportunidade temos de usufruir do seu extraordinário virtuosismo e de
uma criatividade que parece inesgotável. O trompetista consegue manternos surpreendidos até ao último momento, com recursos e ideias a
surgirem como coelhos da cartola de um mágico.
Enquanto improvisador, e mesmo em contextos não-idiomáticos, Peter
Evans invoca toda a história do trompete de jazz em cada sequência de
notas e em simultâneo inventa-lhe um futuro de possibilidades. Mas não é
só: a exploração das capacidades da sua ferramenta de trabalho tem um
claro propósito, e este é a abertura de novas vias estéticas para a música.
Inéditas técnicas de sopro, de colocação da embocadura, de salivação, de
utilização da língua e das cordas vocais somam-se às, antigas e originárias
do Oriente, técnicas de respiração contínua. Às lógicas convencionais do
fraseado, com base em escalas, acrescenta uma laboração a nível das
texturas e do ruído, rompendo com a habitual linearidade do discurso.
Utiliza o microfone em interface com o trompete, para produzir
"feedbacks" e agir com estes como um escultor. O leque de recursos a que
Evans lança a mão é vasto e indiscriminatório, nada colocando de lado à
partida, numa atitude pós-moderna que lhe tem merecido o mais rendido
aplauso por todos os palcos por onde passa.
»Digital Primitives (EUA/Israel)
29 de Maio - 22h00
TAGV – Teatro Académico de Gil Vicente
Cooper-Moore – voz, banjo, diddley bow, mouth bow, flauta e percussão
Assif Tsahar – sax tenor, clarinete baixo
Chad Taylor – bateria, percussão, m’bira
Numa época em que cada vez são menos possíveis as manifestações de
singularidade artística, o trio Digital Primitives faz toda a diferença. Se a
filiação musical do projecto no jazz é clara, a forma como este é praticado
não pode ser comparada com nada mais do que presentemente se faz. A
música de Cooper-Moore (instrumentos por si mesmo inventados como o
"diddley-bo", o "mouth bow", o "twinger" ou o "bango", um sucedâneo do
banjo com três cordas, a que eventualmente se associam outros,
convencionais, como a flauta ou o piano), Assif Tsahar (saxofone tenor,
clarinete baixo, didgeridoo) e Chad Taylor (bateria, percussão) agrada
pelo jogo que propõe entre o reconhecimento das formas (os blues, o
funk, as alusões pan-africanistas ou de um folclore imaginário) e a
estranheza dos processos e das soluções encontradas, algo que poderia
resultar do encontro da Sun Ra Arkestra ou do Art Ensemble of Chicago
com Harry Partch ou com Moondog. O grupo tem raiz em aspirações que
remontam ao início do século XX, altura em que as vanguardas
começaram a interessar-se pela arte criada pelas crianças, pelos loucos
dos hospícios e pelas tribos dos lugares mais longínquos e isolados do
planeta. Se a linguagem é jazzística, o alinhamento estético aproxima os
Digital Primitives daquilo a que se vai chamando de "arte bruta" ou
mesmo do dadaísmo. E é assim que, se detectamos algum esoterismo, ou
algum iniciático mistério, num disco como "Hum, Crackle & Pop", as
improvisações tematizadas que este nos oferece são um convite à dança e
à celebração colectiva da vida. É como se o jazz tivesse redescoberto a sua
etnicidade primeira, e a música o papel ritualístico que teve nas origens.
O percurso de Cooper-Moore é o de um desalinhado face às tendências
dominantes. Multi-instrumentista com preferência pelos teclados, iniciouse como flautista. Tocou Fender Rhodes e Hammond B-3 em bandas de
rhythm 'n' blues, mas depressa optou pelo Grand Piano nas suas
colaborações com David S. Ware. Descobriu a electrónica e mais tarde
decidiu-se pelo desenho, pela construção e pelo uso de instrumentos
exóticos. Israelita de nascimento, Assif Tsahar é igualmente um soprador
incaracterístico. Herdeiro das premissas da "new thing", faz delas uma
abordagem que o distingue, preferindo a melodia ao "grito" e o grão
sonoro ao expressionismo, o que o levou a ter colaboradores como Mat
Maneri, Lê Quan Ninh ou Agustí Fernandez. E para não fugir à regra, Chad
Taylor é um baterista na fronteira do jazz com o rock e com o
experimentalismo, de forte personalidade, mas invulgarmente flexível, o
que faz com os "post-everything" Tortoise e Chicago Underground não
chocando com as suas associações mais tradicionalistas a Fred Anderson
ou a Ernest Dawkins. Três ovelhas negras para uma música diferente.
»EMJO – European Movement Jazz Orchestra
(Portugal/Alemanha/Eslovénia)
3 e 4 de Junho - 23 / 23h45
Salão Brazil
Izidor Leitinger - condução
Beny Brown, Mathias Schriefl, Alexander Hartmann, Igor Matkovic, Susana
Santos-Silva - trompetes
Uwe Steinmetz, Jaka Kopac, Philipp Gropper, Jure Pukl, Elmano Coelho saxofones
Jörn Marcussen-Wulff, Lars Arens, Paulo Perfeito, Rui Bandeira trombones
Jani Moder- guitarra
Kaja Draksler - piano
Robert Jukic, André Carvalho – contrabaixo, baixo eléctrico
Tobias Backhaus - bateria
Mesmo quando "pensam" globalmente, os projectos musicais dos nossos
dias agem ainda na sua maior parte a nível local, e até os agrupamentos de
carácter transnacional poucas vezes consistem em mais do que encontros
fortuitos, ou com prazo de validade limitado (o mais não seja por motivos
económicos), de músicos que abraçaram o característico nomadismo do
jazz e da improvisação. Assim não acontece com a European Movement
Jazz Orchestra. Já uma instituição, com arranque realizado em 2007, esta
"big band" congrega jovens instrumentistas de três países europeus,
Alemanha, Eslovénia e Portugal, tendo nascido por alturas da presidência
germânica do Conselho Europeu. Desde então realizaram-se três
digressões, cada uma com um diferente maestro. Numa delas, coincidindo
com a liderança portuguesa da Comunidade Europeia, foi Zé Eduardo o
condutor escolhido. O repertório da EMJO é constituído por partituras de
alguns dos seus membros e por obras encomendadas a compositores de
renome, sendo a única regra que, dentro do formato jazzístico, surjam
elementos populares e da tradição das nações envolvidas, como já foi o
caso relativamente ao fado ou à "blasmusik", música de fanfarra
tipicamente alemã. Portugal está bem representado por Elmano Coelho
(saxofone barítono), Paulo Perfeito (trombone), Rui Bandeira (trombone
baixo), Susana Santos Silva (trompete) e André Carvalho (contrabaixo),
mas a estrela da orquestra é, indubitavelmente, o extraordinário
trompetista alemão Matthias Schriefl. Se o vocabulário deste tem raízes no
jazz de New Orleans e em Louis Armstrong, incorpora igualmente no seu
estilo irreverente as liberdades do free jazz e a pujança do rock.
Um dos compositores da EMJO é o lusitano Paulo Perfeito, músico com
estudos feitos no New England Conservatory (com o histórico Bob
Brookmeyer) e no Berklee College of Music, depois de ter frequentado o
Conservatório de Música do Porto e a Escola de Jazz do Porto. As suas
superiores capacidades valeram-lhe, nos Estados Unidos, o Herb Pomeroy
Award for Outstanding Jazz Composer and Arranger, só agora começando,
finalmente, a ser reconhecido no seu próprio país natal. Acrescente-se que
muito graças ao seu papel na Orquestra Jazz de Matosinhos, com a qual já
teve a oportunidade de trabalhar com figuras internacionais como Carla
Bley, Lee Konitz, John Hollenbeck e Mark Turner, entre outros.
A construção da Europa está a passar pelo jazz, e só isso bastaria para o
nosso aplauso.
NOTA: Este concerto será gravado para posterior edição discográfica
(JACC Series/Clean Feed)
»Jean-Luc Guionnet/Seijiro Murayama (França/ Japão)
4 de Junho - 19h00
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Jean-Luc Guionnet – saxofone alto
Seijiro Murayama – bateria, percussão
A associação do francês Jean-Luc Guionnet e do japonês Seijiro Murayama
é uma daquelas improbabilidades que somente a prática da improvisação
integral podia tornar uma realidade. O primeiro tem um trajecto na área
da experimentação e da electroacústica (a solo ou tendo como parceiros
Eric Cordier, Eric La Casa, Pascal Battus e Taku Unami, entre outros), com
ocasionais digressões pela ecomúsica criada a partir de "field recordings"
e por um free jazz de abordagem europeísta (com o trio The Fish), e o
outro vem de um trajecto no avant-rock que passou pelos Fushitsusha de
Keiji Haino e pelos Absolut Null Punkt do guitarrista "destroyer" KK Null.
Guionnet escolheu o saxofone alto como o seu instrumento de eleição,
mas também utiliza o órgão de igreja e a electrónica. Murayama reduziu a
bateria às suas componentes mais essenciais, uma tarola e um prato
apenas. Juntos, tocam uma música feita de multifónicos, microtons e
sustenidos irregularmente pontuados por afloramentos percussivos,
combinando-se de formas inusitadas contínuos sonoros e pontilhismos.
Uma música que concentra a nossa atenção nos mais ínfimos pormenores
de um fluxo de acontecimentos que corre pelo tempo como um rio e que
testa a cada momento as virtualidades do espaço, beneficiando da
ressonância providenciada pela arquitectura – a estreia do duo foi num
mosteiro budista do Japão, tal como ficou registado em "Le Bruit du Toit",
e agora vamos ouvi-lo numa capela. O volume é geralmente baixo, sem
prejuízo das dinâmicas criadas, e, em vez da típica articulação por
fraseados que encontramos no jazz e na música improvisada, o trabalho
dos dois músicos realiza-se ao nível das texturas, regra geral esparsas,
generosamente incluindo o silêncio, e apenas por ocasiões ganhando mais
complexos emaranhamentos.
Não estranha que Jean-Luc Guionnet tenha completado os seus estudos
de Filosofia com uma tese sobre o rumor e que o antes hiperactivo Seijiro
Murayama se convertesse ao minimalismo baterístico: as explorações a
que procedem do som e dos seus respectivos instrumentos baseiam-se no
entendimento de que dar forma, por via musical, ao tempo e ao espaço
não implica ocupá-los e, em última consequência, iludi-los, mas fazê-los
viver tal como são. Neste sentido, o pouco que lhes acrescentem arrisca-se
sempre a ser demasiado: a "escreverem" invasivamente sobre as suas
superfícies, preferem somente "assiná-las", razão pela qual utilizam uma
linguagem musical sem gramática nem vocabulário, tal como o "pidgin".
Com esta parceria de cunho Zen, a música é, assim, nada mais do que uma
"assinatura", o registo da presença humana num quadro de respeito pelo
cosmos. E o certo é que o efeito final é de uma beleza que tem tanto de
avassaladora quanto de frágil, exigindo-nos disponibilidade, atitude de
espera e uma escuta imersiva. Não para deixar o mundo lá fora, mas
precisamente para mergulharmos nele por inteiro.
»Tim Berne / Bruno Chevillon (EUA/França)
5 de Junho - 22h00
Teatro Académico de Gil Vicente
Tim Berne – saxofone alto
Bruno Chevillon – contrabaixo
Se bem que por via de uma linguagem comum – a do jazz, considerado na
globalidade das suas manifestações –, com a colaboração de Tim Berne e
Bruno Chevillon são duas perspectivas bem distintas desta música que se
cruzam. Um ex-jogador de basquetebol, o saxofonista americano traz
consigo a sua velha paixão pela soul e pelo rhythm 'n' blues das editoras
Motown e Stax, a admiração que nutre pela música de Julius Hemphill,
talvez o mais sofisticado dos protagonistas históricos do free jazz e seu
mestre, e um entendimento da tradição que nunca se coibiu de aproveitar,
nos grupos Bloodcount, Big Satan, Science Friction e Paraphrase,
elementos "estranhos" como a energia do rock. Com formação em artes
plásticas (fotografia), o contrabaixista francês fez estudos clássicos e
incluiu na sua actividade performativa a música erudita contemporânea e
a livre-improvisação. Se André Jaume o introduziu nas formas do jazz,
Louis Sclavis tem sido o seu mais habitual companheiro de lides em
projectos que alargaram a fronteira deste género musical e lhe deram uma
identidade europeia. Em anos mais recentes, abriu-se também à
experimentação electroacústica, com parceiros que desafiam
catalogações como Franck Vigroux, Elliott Sharp e Joey Baron. Chevillon
começou a integrar as bandas de Berne por indicação do guitarrista deste,
Marc Ducret, seu ocasional colaborador, mas nunca como neste duo
esteve tão em causa o equacionamento de duas visões cujas diferenças
foram proporcionadas pela distância que as águas do Atlântico impõem.
Porque o expressionismo das execuções de um convive bem com o
enfoque estrutural do outro e a fidelidade às coordenadas básicas do jazz
não contradiz o espírito aventureiro que tantos novos caminhos tem
desbravado para este idioma musical, Tim Berne e Bruno Chevillon
colocam-se assumidamente numa posição de desafio, não para
confrontarem os seus respectivos argumentos, em monólogos paralelos,
mas com a finalidade de interagirem num jogo de propostas e reacções,
de troca de ideias, de diálogo efectivo. Não nos surpreendamos, pois, se
Berne adoptar uma intervenção "de câmara" e se Chevillon nos soar
"bluesy": a improvisação, mesmo quando existem pautas, tem esta
capacidade transformativa. Não é só a música que muda, mas também
quem a toca. Isso se os músicos envolvidos tiverem uma atitude de
abertura, e a verdade é que estes em concreto não buscam outra coisa
senão isso a que a biologia dá o nome de osmose. Mais do que
testemunhas, nós seremos os cúmplices.
» The Convergence Quartet (EUA/GB)
5 de Junho - 23h45
Salão Brazil
Taylor Ho Bynum – corneta, fliscórnio
Harris Eisenstadt – bateria
Alexander Hawkins – piano
Dominic Lash – contrabaixo
À partida, a própria designação do Convergence Quartet alude à
convergência geográfica de termos no mesmo palco dois músicos
britânicos, o pianista Alexander Hawkins e o contrabaixista Dominic Lah,
um americano (de ascendência asiática), o cornetista Taylor Ho Bynum, e
um canadiano (cuja paixão por África, será de assinalar, lhe tem
determinado os rumos musicais), o baterista Harris Eisenstadt. O nome
tem, no entanto, outros significados e o mais importante é o facto de este
quarteto fazer a ponte entre o "free jazz" e a "free music", esta entendida
como a máxima libertação da criatividade musical, prescindindo da
utlização de um idioma. Neste particular, o termo "convergência" não
mascara o que poderia parecer conflitual: para todos os efeitos, se a dita
"free music" é praticada por improvisadores que se emanciparam do jazz e
da música erudita, o certo é que essas matrizes persistiram sempre como
referência. Neste contexto, a música livremente improvisada volta a
encontrar-se com um dos seus progenitores, o jazz. O resultado só vem
demonstrar que o cordão umbilical que os ligou não foi totalmente
cortado. Curioso, mesmo, se torna verificar que entre "filhos" (Hawkins e
Lash, figuras da nova geração europeia de livres-improvisadores) e "pais"
(Bynum e Eisenstadt, novos valores do jazz tocado na América do Norte)
não há tantas diferenças quanto seria de supor: se os primeiros voltam
"atrás" com a maior das desenvolturas, os outros atiram-se para a "frente"
igualmente sem preconceitos. Às tantas, percebemos que as divisões entre
estes dois campos da música de hoje são mais artificiais do que
julgávamos. Ora, um grupo com tais características só existe porque já não
é possível delimitar territórios exclusivos de acção. Depois de Hitler, de
Karadzic e dos Hutus do Ruanda, ficámos a saber não apenas que qualquer
intuito de pureza é uma ilusão, como também que é algo de sinistro e
potencialmente perigoso.
Mas atenção, que a música do Convergence Quartet não é de
compromisso. Pelo contrário, são os contrastes que se exploram, e muitas
vezes até às últimas consequências. Não das maneiras que seriam de
esperar: por exemplo, o mesmo músico que já esteve ao lado dos muito
radicais John Butcher, Eddie Prévost e John Russell, Alexander Hawkins, é
quem surge no recém-editado álbum "Song / Dance" em situações mais
conotáveis com o jazz vernacular. Por exemplo também, sendo
estruturalmente um "jazzman", Taylor Ho Bynum é um solista de
audaciosos abstraccionismos, ou não tivesse sido aluno de Anthony
Braxton. Todos intervêm com as armas que possuem. Dominic Lash não se
fica pela articulação de texturas e atmosferas; tem sólidas e afirmativas
noções de ritmo e estas vão beber ao funk e ao rock. Harris Eisenstadt foi à
Gâmbia, ao Gana e ao Senegal estudar com os locais a percussão africana
e são precisamente as polirritmias que aí aprendeu que dão corpo ao seu
trabalho na bateria. Com este quarteto, juntar o jazz e a música
improvisada não é improvisar à maneira do jazz, o que seria demasiado
confortável, mas experimentar outros relacionamentos do composto
jazzisticamente com o tocado livremente. As improvisações nunca surgem
dentro de molduras temáticas, mas podemos encontrar temas dentro de
improvisos, virando os processos convencionais às avessas. Por tudo isto, é
bom que o público se agarre às cadeiras: as suas convicções vão ser
abaladas.
Acção Didáctica
» Oficina de Jazz para Miúdos
1 de Junho - 10h30/14h30
Casa Municipal da Cultura (Sala Polivalente)
Maria Morbey - voz e narração
José Soares - guitarra
Abrem-se as portas de um lugar misterioso, desconhecido. Um clube de
Jazz que espera grandes intérpretes, públicos solenes, emoções intensas,
jazzisticamente vividas. Um sítio atravessado por países exóticos, rios de
improviso, tempos remotos, tempos presentes e tempos futuros,
experiências materializadas em sons, imagens e arrepios.
Convidamos os Miúdos a experimentar o Jazz como algo que pode ser
vivido na primeira pessoa, partindo do universo infanto-juvenil através do
cinema, as histórias que o jazz tem para contar, atravessando os elementos
musicais específicos desta linguagem, e terminando numa experiencia de
improvisação colectiva.
Cinema
» My Name is Albert Ayler
26 de Maio - 22h00
Sala Arte à Parte
Suécia | 2007
Realizador: Kasper Collin
Língua: Inglês | Duração: 79 m
O profético saxofonista Albert Ayler, hoje visto como um dos maiores
inovadores no jazz, vivia obcecado com a sua música e pela esperança de
que, no futuro, as pessoas a iriam compreender. Ayler dizia
frequentemente “If they don't like it know, they will”. Em 1962, gravou o
seu primeiro álbum, na Suécia. Oito anos mais tarde, foi encontrado morto
no New York East River. Tinha 34 anos de idade. Este documento segue o
percurso de Ayler, desde a sua Cleveland natal, passando pela Suécia e por
Nova Iorque e encontrando família, amigos e colegas mais próximos. O
próprio Ayler nos guia, com a sua voz e a sua música.
» Amplified Gesture
2 de Junho - 22h00
Sala Arte à Parte
GB/Austria/França | 2009
Realizador: Phil Hopkins
Produção: David Sylvian
Língua: Inglês | Cor: p/b | Duração: 55 m
Quando David Sylvian terminou o seu mais recente disco, intitulado
“Manafon”, sentiu necessidade de documentar as filosofias individuais do
conjunto extraordinário de músicos que tinham colaborado na feitura do
disco, perguntando-lhes o que os tinha guiado nas suas carreiras
dedicadas à experimentação e pesquisa sonoras. Este conjunto de músicos
inclui Christian Fennesz,Toshimaru Nakamura, Evan Parker, Eddie Prévost,
Keith Rowe, John Tilbury, Otomo Yoshihide, John Butcher, entre outros.
O filme acaba por documentar as opiniões dos músicos acerca do seu
trabalho, das suas influências, da evolução das suas ideiais e das suas
filosofias pessoais.
Exposições
24 de Maio a 5 de Junho
Salão Brazil
Fotografia
Retrospectiva Portugal Jazz 2008 - Fotografias de Hélio Gomes
Ficha Técnica:
Organização
Câmara Municipal de Coimbra
JACC – Jazz ao Centro Clube
Direcção Geral
Pedro Rocha Santos
Produção Executiva
José Miguel Pereira
Produção
JACC – Jazz ao Centro Clube
Comunicação
Marcelo dos Reis
Design Cartaz
Rui Garrido
Coordenação Gráfica
Paulo Pereira
Web Design
Rodrigo Baptissta
Redacção de textos
Rui Eduardo Paes
Contactos
JACC – Jazz ao Centro Clube
Adro de Baixo, 6, 3000-420 Coimbra
[t] 329 837 078
[e] [email protected]
Download