SOCIEDADEDEPATOLOGIADOTOCANTINS REVISTADE PATOLOGIA DOTOCANTINS ISSN2446-6492 PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMCIÊNCIASDASAÚDE Vol.3,Nº04 RevPatTocantins V.3,n.04,2016 SOCIEDADEDEPATOLOGIADOTOCANTINS CONTEÚDO FEOCROMOCITOMA E PARAGANGLIOMA: UM ARTIGO DE REVISÃO.......................................................................................................................................1 NEOPLASIAS MALIGNAS DE GLÂNDULAS SALIVARES: UMA REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................................................35 DEFICIÊNCIA DE HORMÔNIO DO CRESCIMENTO EM CRIANÇA COM SITUS INVERSUS.......................................................................................................................................44 ATUALIZAÇÃO EM CARCINOMA FOLICULAR DA TIREOIDE...................................................................................................................................56 CARCINOMA PAPILÍFERO DA TIREOIDE E TIREOIDITE DE HASHMOTO............................................................................................................................71 CARCINOMA ESPINOCELULAR ORAL: UM PANORAMA ATUAL......................................................................................................................................82 ANALGESIA EM PACIENTES COM DOR CRÔNICA ONCOLÓGICA......................................................................................................................103 JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E CRISE ECONÔMICA: UMA BREVE ANÁLISE QUANTO À NECESSIDADE DE PONDERAÇÃO EM TEMPOS DE CRISE....................112 HANSENÍASE VIRCHOWIANA E MÚLTIPLAS REAÇÕES EM PACIENTE ATENDIDO PELA PRIMEIRA VEZ NA DERMATOLOGIA...................................................................122 REAÇÃO CUTÂNEA DESENCADEADA POR DROGA...................................................130 LINFADENITE CERVICAL SUPURATIVA COMO SINAL DE DOENÇA DE KAWASAKI EM PALMAS-TO...................................................................................................................135 SÍNDROME DE LERICHE - RELATO DE CASO................................................................145 FATORES ASSOCIADOS À MORTALIDADE NEONATAL EM PALMAS, TOCANTINS, BRASIL..................................................................................................................................157 RevPatTocantins V.3,n.04,2016 SOCIEDADEDEPATOLOGIADOTOCANTINS APRESENTAÇÃO Criada em 2013, a Revista de patologia do Tocantins é um periódico quadrimestral, que publica resultados de investigação na área da saúde, artigos originais, revisões de literatura, casos clínicos ou relatos de casos, comunicações breves, cartas ao editor, editoriais, sobre uma grande variedade de temas de importância para ciência da saúde. EXPEDIENTE REVISTA DE PATOLOGIA DO TOCANTINS SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS (SPT) Editor Dr. Virgilio Ribeiro Guedes, Universidade Federal do Tocantins, Brasil Comissão editorial • Ana Maria Castro Morillo, Faculdade de Medicina Matanza, Cuba • Ângela María Castañeda Muñoz, Faculdade de Medicina Matanza, Cuba • Arthur Alves Borges de Carvalho, ITPAC - Porto Nacional, Brasil • Danielle Rosa Evangelista, UFT - Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Edson de Oliveira Andrade, Universidade Federal do Amazonas, Brasil • Gessi Carvalho de Araujo Santos, UFT - Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Guilherme Nobre Nascimento, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Jaqueline das Dores Dias Oliveira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • José Gerley Díaz Castro, UFT, Brasil • Kelly Cristina Gomes Alves, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Leila Rute O. Gurgel do Amaral, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Leonardo Rodrigo Baldaçara, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Maria Cristina da Silva Pranchevicius, Universidade Federal de São Carlos, Brasil • Marta Azevedo dos Santos, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Neilton Araujo de Olivera, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Poliana Guerrino Marson Ascêncio, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Renata Junqueira Pereira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Sandra Maria Botelho Pinheiro, Universidade Federal do Tocantins, Brasil RevPatTocantins V.3,n.04,2016 SOCIEDADEDEPATOLOGIADOTOCANTINS • Tales Alexandre Aversi-Ferreira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Virgilio Ribeiro Guedes, Universidade Federal do Tocantins, Brasil SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS (SPT) Dr. Virgilio Ribeiro Guedes Presidente Dr. Mário de Souza Netto Vice-Presidente Dr. Arthur Alves Borges de Carvalho Tesoureiro Dra. Rosangela Francisco Alves Secretária NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista de Patologia do Tocantins é uma revista publicada quadrimenstralmente pela Sociedade de Patologia do Tocantins. A revista publica artigos originais, comunicações breves/short communications artigos de revisão/artigos de atualização (quando solicitados pelo Conselho Editorial), cartas ao editor e ensaios clínicos, em português, espanhol e inglês. A submissão de um manuscrito requer que este seja conciso e consistente no estilo, não tenha sido publicado anteriormente (exceto na forma de resumo) e que não esteja sendo considerado para publicação em outra revista. As idéias, os conceitos emitidos, a veracidade das informações e das citações são de responsabilidade exclusiva dos autores. Os manuscritos serão analisados por pelo menos dois pareceristas; a aprovação dos trabalhos será baseada no conteúdo científico e na apresentação. Os manuscritos que não estiverem de acordo com estas instruções serão devolvidos. O manuscrito (incluindo tabelas e referências) deve ser preparado em um software para edição de textos, com espaçamento duplo entre linhas, fonte Times New Roman tamanho 12 e paginado. As margens devem ser de pelo menos 3 cm e o tamanho do papel, A4 (210 mm x 297 mm). Para serem submetidos aos consultores, os artigos deverão ser enviados pelo email da revista [email protected]. Os autores devem apresentar também as tabelas, ilustrações e folha de rosto sob forma de documentos suplementares na mesma submissão. A folha de rosto deve apresentar o título em português, RevPatTocantins V.3,n.04,2016 SOCIEDADEDEPATOLOGIADOTOCANTINS o título em inglês, o nome completo de todos os autores, suas respectivas filiações institucionais, além de e-mail e endereço do autor para contato. O manuscrito deve conter título (com até 250 caracteres), título em inglês, resumo (com até 250 palavras), palavras-chave (entre três e seis, separadas por ponto), abstract e keywords. Os tópicos variam de acordo com o tipo do trabalho (artigo de revisão, artigo original e caso breve). Todos os tópicos devem conter texto, mesmo aqueles que se dividem em subtópicos. As palavras-chaves e seus respectivos keywords devem ser descritores existentes no DeCSBireme. As referências citadas no texto deverão ser apresentadas no último tópico, organizadas em ordem alfabética, segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a NBR 6023. Tabelas e ilustrações deverão ser inseridos no texto, sendo que os arquivos destes dois últimos devem ser enviados também como documentos suplementares no formato em que foram criados. Todas as ilustrações devem possuir legenda, citação no texto e estar em formato tiff ou jpg com resolução mínima 300dpi. As tabelas deverão seguir as normas do IBGE, ter preferencialmente 7,65 cm de largura e não deverão ultrapassar 16 cm. Ilustrações em cores podem ser submetidas, entretanto, caso publicadas, estas serão em tons de cinza. Mais informações, entrar em contato com: Prof. Virgílio Ribeiro Guedes (Editor) Plano Diretor Sul – Setor Sudoeste Quadra 306 Sul (ACSV- SE 32), Av. LO 05, Lote – 23, Loja Comercial, nº 01 Centro - Palmas – TO CEP: 77021-026. Tel. (63) 3213 2322 e-mail: [email protected]. Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE FEOCROMOCITOMA E PARAGANGLIOMA: UM ARTIGO DE REVISÃO Caroline André Souto¹; Taissa Bezerra Correia Arêdes¹; Isabella Oliveira Carvalho2; Virgílio Ribeiro Guedes3 RESUMO INTRODUÇÃO: Os tumores neuroendócrinos comumente encontrados na adrenal e em alguns gânglios extra adrenais são chamados de feocromocitomas e paraglangliomas, respectivamente. A maioria tem apresentação esporádica, benigna e unilateral, porém há também as formas familiar, maligna e bilateral. METODOLOGIA: Trata-se de um artigo de revisão no qual, a partir das palavras “feocromocitoma” e “paraganglioma”, a busca por periódicos foi feita nos bancos de dados: PubMed, Scielo, Portal.Periódicos CAPES e Google acadêmico. CONCLUSÃO: O quadro clínico clássico facilita o diagnóstico desses tumores, mas deve ser confirmado com testes bioquímicos, genéticos e avaliação imaginológica para a conduta cirúrgica. Tumores malignos apresentam diagnóstico somente quando avançados. Dessa forma, ainda se faz necessário uma melhor investigação científica na área, com intuito de melhorar as condutas a serem tomadas no seguimento e cura desses tumores. Palavras-chave: Feocromocitoma; Paraglanglioma; Hipertensão paroxística; Genética 1 Médicas formadas na Universidade Federal do Tocantins; 2 Acadêmica de medicina da Universidade Federal do Tocantins; 3 Médico Patologista e Docente do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins. Email para contato: [email protected] 1 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS PHEOCHROMOCYTOMA AND PARAGANGLIOMA: A REVIEW ARTICLE ABSTRACT INTRODUCTION: Neuroendocrinetumorscommonlyfound in the adrenal and in some extra-adrenalglands are calledpheochromocytomasandparagangliomas, respectively. The most are sporadic, benignand unilateral apresentation, butthere are alsothe familiar, malignantand bilateral forms. METHODOLOGY: Thisis a reviewarticle, based in severaldatabasesresearch: PubMed, Scielo, Portal.Periódicos CAPES andAcademic Google, usingthekeywords CONCLUSION: The "pheochromocytoma" and "paraganglioma". classicclinicalfacilitatesthediagnosisofthesetumors, shouldbeconfirmmedwithbiochemical, genetictestingandimages. Thisis but it importante toevaluatethesurgical management. Malignanttumorshavediagnosedonlywhenadvanced. Thus, a betterscientificresearchisneed in theareato improve themeasurestogetintothe follow-up andthe cure ofthesetumors. Key words: Pheochomocytoma; Paraganglioma; Paroxistichipertension; Genetic 2 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS o INTRODUÇÃO O quarto grupo é compreende Feocromocitoma/Paraganglioma mais raro e “gangliocytic” paraganglioma (intestino delgado e (Feo/PGL) é um tumor neuroendócrino pâncreas), cauda equina, órbita ocular e que de forma habitual se origina da nasofaringe (LAM, 2015). medula da suprarrenal (80-85% dos casos) e mais raramente em gânglios Esses tumores se apresentam de extra-adrenais (15-20%), que são os forma esporádica (90%) ou familiar, Feo/PGL extra-suprarrenal (MASSÓ, sendo frequentemente associados aos GONZALEZ, tumores diagnósticos de neoplasia endócrina neuroendócrinos originados das células múltipla (MEN) tipos 2A e 2B, doença cromafins e sua manifestação mais de comum é a elevação da pressão arterial neurofibromatose de von Recklinhausen sistêmica. tipo 1 (NF1) e na síndrome de 2008). Os São von HippelLindau paragangliomas paragangliomas (VHL), hereditários (PGH) (PAKAT, et al., 2001). estãosubdividos em 4 tipos de acordo com localização e propriedades. O A maioria dos feocromocitomas primeiro grupo é o mais comum e surge e paragangliomas são benignos, porém dos paragânglios distribuídos ao longo estão associados a uma alta mortalidade da cadeia parassimpática da região de e cabeça e pescoço e mediastino, que são hipersecreção os carótida, metanefrinas, levando a hipertensão, “jugulotympanic”, vagal, laríngeo e doença cardiovascular e mesmo óbito aórtico-pulmonar. O segundo grupo são do paciente. O diagnóstico de Feo/PGL os parangliomas derivados nos gânglios pode ser desafiador e o tratamento ao longo da cadeia simpática com quando presença de mestástase, em sua distribuição retroperitoneal, incluindo maioria, não alcançam a cura. tumores de aorta, suprarrenal, hilo renal e sítios infra-renais. O terceiro paragangliomas advém grupo morbidade de secundárias à catecolaminas e Estima-se que menos de 0,2% de dos das cadeias pacientes hipertensos feocromocitoma, devido simpáticas pré e para-vertebrais e das tenham a raridade dessa patologia. Entretanto, é a urgência fibras nervosas simpáticas que invercam de causa endocrinológica mais grave e pelve e órgãos retroperitoneais. Por fim, exige um manejo correto, uma vez que 3 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS diagnósticos e tratamento incorretos podem ter consequências EPIDEMIOLOGIA fatais A incidência anual do Feo/PGL (DELGADO, BOTAS, 2005). Tendo é de aproximadamente 2-8 casos por em vista a gravidade desse tumor milhão neuroendócrino, essa revisão tem o diagnóstico genética, e (KIERNAN, 2016; FISHBEIN, 2016; HARARI, clínica, manejo pessoas SOLÓRZANO, 2016; PILLAI, et al., intuito de discutir a epidemiologia, fisiopatologia, de INABNET III, 2011). A prevalência na do população é de 1:6500 a 1:2500. O Feo feocromocitoma. é mais frequente que o PGL; este, em isolado, apresenta cerca de 0,5 casos por milhão (PILLAI, et al., 2016; SANTOS, MATERIAIS E MÉTODOS et al., 2014). Este estudo constitui-se de uma Essas neoplasias são a causa de revisão da literatura especializada no hipertensão e de incidentaloma de qual realizou-se uma consulta a livros e periódicos selecionados através adrenal em 0,2%- 0,6% e 5% dos casos, de respectivamente busca no banco de dados do Pubmed, nos estudos com relação a esses dados A pesquisa dos que demonstram uma frequência de 4%- artigos foi realizada entre março e abril 8% desses incidentalomas e de 0,05%- de 2016. Foram utilizadas as palavras- 0,2% dos pacientes com hipertensão “pheochromocytoma”, chave: 2016). Entretanto, há uma certa divergência Scielo, Portal.Periódicos da Capes e Google acadêmico. (FISHBEIN, sustentada (KIERNAN, SOLÓRZANO, “paraganglioma”. 2016; SANTOS et al., 2015). Contudo, Em seguida, buscou-se estudar e esse tipo de hipertensão só ocorre em compreender os principais aspectos do 50% dos pacientes com tumores de feocromocitoma e paraganglioma e células cromafins, porque a outra realizar um estudo comparativo entre as metade fontes adquiridas. paroxística (KIERNAN, apresenta ou são hipertensão normotensos SOLÓRZANO, 2016). Hoje em dia, 10% a 49% dessas neoplasias são diagnosticadas incidentalmente durante um exame de 4 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS imagem solicitado por outras razões FISIOPATOLOGIA (STROSBERG, 2014 apud FISHBEIN, Feocromocitomase 2016). Paragangliomas A recorrência é muito rara (4,6% a 6,5%), com tumores neuroendócrinos que surgem das cristas de neurais e se desenvolvem em células malignização de cerca de 10% nos paragânglionares do sistema simpático e feocromocitomas e 15% a 35% nos parassimpático em todo o corpo. Os paragangliomas (HARARI, INABNET paragânglios III, 2011). Cerca de 8% dos esporádicos medula adrenal, o órgão de Zuckerkandl e de 25% dos hereditários tem uma (na bifurcação da aorta) e outros apresentação bilateral (LAM, 2015). É paragânglios ao longo da distribuição estimado que pelo menos 24% dessas dos neoplasias esporádicas tenham alguma simpático. Os parassimpáticos estão no base mutações corpo carotídeo e ao longo dos ramos somáticas, e atualmente sabe-se que a cervicais e torácicos dos nervos vago e bilateralidade, extra glossofaríngeo. Dessa forma, podemos adrenal e a prevalência de malignidade, encontrar esses tipos de tumor em dependem diretamente de mutações qualquer local do corpo (KIERNAN, genéticas. SOLÓRZANO, 2016). genética, percentual são como a localização nervos simpáticos do incluem sistema a nervoso No geral, os novos estudos Com relação aos tumores com mostram que mutações genéticas da base simpática, os feocromocitomas se linha somática e germinativa estão desenvolvem nas células cromafins das presentes em 60% dos feocromocitomas suprarrenais; e paragangliomas, precisando de maior ocorrem mais comumente em torno da desenvolvimento na área para uma artéria mesentérica inferior ou na conclusão mais fidedigna (PILLAI, et bifurcação al., Zuckerkandl. Entretanto, pode ocorrer 2016; FAVIER, AMAR, GIMENEZ-ROQUEPLO, 2015). e os aórtica paraglangliomas no órgão de em qualquer outro tecido com células cromafins, como no tórax, abdome ou pelve (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). Todos os citados produzem, metabolizam e secretam catecolaminas 5 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ou seus metabólitos. Os tumores extra mais adrenal parassimpáticos são comumente taquiarritmias e hipertensão arterial. No encontrados na região da cabeça e do plasma, essa elevação de catecolaminas pescoço e normalmente não estão aumenta a glicogenólise e inibe a associados a secreção de catecolaminas secreção de insulina pelas células da (LAM, 2015). ilhota pancreática, como consequência As células tumorais relacionados a taquicardia, surgem sinais e sintomas de diabetes são mellitus (KIERNAN, SOLÓRZANO, classicamente formadas por citoplasma 2016). granular e uma rica rede vascular; células de sustentação com S-100 positivo também frequência. ocorrem Outros com tipos GENÉTICA de A apresentação como hiperplasia cortical, degeneração vacuolar das grande feocromocitomas células maioria são dos tumores tumorais, presença de feocromoblastos esporádicos, não familiares. Entretanto, (pequenas ele pode se apresentar como uma células) hiperpigmentação, mudanças e calcosferitos, cistos também e patologia outras podem patologias. Muitos estudos genéticos estão A secreção incontrolável de grandes efeitos repetitiva de noradrenalina desenvolvidos, e nas diversas descobertas, dentre elas mais em de 20 mutações associadas à patogênese órgãos-alvo. Uma liberação prolongada e sendo últimas duas décadas foram realizadas catecolaminas leva a intensas alterações e ocorrendo isoladamente ou associada a outras ser observadas (KASEM, LAM, 2014). fisiológicas genética, do Feo/PGL (LAM, 2015). está de Atualmente é notório que a vasoconstrição e contração do sistema susceptibilidade genética do Feo/PGL é venoso, uma a maior entre todos os tipos de tumores diminuição do volume circulante de sólidos (GHAYEE, 2015). As principais sangue mutações genéticas nesse grupo de associada a com longos isso, (KIERNAN, períodos ocorre SOLÓRZANO, tumores são (listadas por ordem de 2016). Os tumores predominantemente que descoberta): NF1, RET, VHL, SDHx, secretam epinefrina EGLN1, KIF1B, IDH, TMEM 127, estão 6 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS MAX, BAP1, EPAS1, FH, MDH2 e em 1A, que incluem os genes SDHx e ATRX (LAM, 2015; FISHBEIN, et al., FH, e grupo 1B, composto por HIF2A e 2015). melhor VHL. O grupo 2 é separado em 2A, classificação, eles foram divididos em com os genes RET, MAX, NF1 e dois grupos, dependendo do perfil de TMEM127; 2B e 2C, são tumores expressão do gene (PILLAI, et al., esporádicos, e 2D que compreendem os 2016). genes associados aos tumores não Com isso, para classificados em outras áreas (LÓPEZ- O grupo 1 está relacionado a JIMENEZ, et al., 2010 apud PILLAI, et mutações genéticas que envolvam a via al. 2016). de pseudo-hipóxia e redução da resposta oxidativa. Há um aumento importante Os genes que entrariam no grupo da vascularização e da expressão do 2D incluem o GDNF, H-ras, K-ras, fator de crescimento vascular endotelial GNAS, CDKN2A, p53, ATRX, BAP1 e (VEGF) e destes receptores. Fazem BRCA 1 e 2, porém parte desse grupo os genes: VHL, extremamente raros. A maioria desses EGLN1, SDHx, PHD2, MDH2, IDH, genes associados ao Feo/PGL podem HIF2A e FH (PILLAI, et al., 2016; levar a alguma síndrome genética, LAM, 2015). sendo as mais importantes a NF1; as estes são NEM; a VHL e as PGH. Já o grupo 2 é formado por genes com mutações associadas a Nos casos de Feo/PGL ativação anormal das vias de sinalização esporádicos, existe baixa frequência de da cinase e incluem mutações dos genes mutações somáticas dos genes clássicos, RET, como NF1, VHL e RET; porém não dos NF1, KIF1Bβ, MAX e TMEM127. Alguns exemplos de vias de genes SDHx. cinase envolvidas são PI3kinase/AKT, tumores apresentam mutação no gene RAS/RAF/ERK e via mTOR. Não está H-ras e cerca de 13% no gene ATRX, e muito claro todos os mecanismos estas neoplasias estão clinicamente envolvidos nesse grupo (LAM, 2015; associadas PILLAI, et al., 2016). feocromocitoma ou do paraganglioma Os grupos ainda Mais de 10% desses a (GHAYEE, 2015). são subdivididos de acordo com o perfil de transcrição. O grupo 1 é desmembrado 7 agressividade do Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ansiedade, hipertensão sustentada ou CLÍNICA paroxística, hipotensão ortostática, febre A característica mais importante e hiperglicemia (LENDERS, et al., do Feo/PGL é a sua variabilidade 2014; CHEN, et al, 2010). clínica, reflexo da variação da liberação hormonal e das diferenças individuais do organismo à sensibilidade Dependendo às catecolaminas, do o nível de paciente pode catecolaminas. Logo, as manifestações apresentar infarto agudo do miocárdio clínicas desse tumor podem variar desde (IAM), assintomáticas encefálico (AVE) ou edema agudo de hipertensivas a emergências (DELGADO, arritmia, acidente vascular BOTAS, pulmão (EAP). Entretanto, o trabalho 2005). Ele pode ocorrer em todas as de Bravo et al (1979) demonstrou uma faixas etárias, porém é uma doença mais falta de correlação entre níveis de frequente adulta, pressão arterial e de catecolaminas, uma preferencialmente entre a 3ª e 4ª vez que havia pacientes com mesmo décadas de vida e não apresenta maior nível de catecolaminas e com pressão relação arterial na com vida nenhum dos sexos (PEREIRA, SOUZA, FREIRE, 2004). de desde também acontecia. sintomas, o mais típico deles é a tríade paroxismos diferentes, normal até muito elevada e contrário Apesar da grande variedade de clássica: bastante Comumente cefaleia, diagnosticado o Feo/PGL com uma é massa taquicardia e sudorese. A hipertensão “assintomática” na adrenal; uma história arterial detalhada, acompanhada por esses entretanto, clássicos e (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). As de 94% para feocromocitoma, tendo assim um valor manifestações preditivo positivo para o diagnóstico de estarão Feo/PGL associadas (MASSÓ, GONZALEZ, em clínicas função a já os sintomas tem uma sensibilidade de 91% especificidade sintomas mostra ele: mencionados deste das tumor condições benignidade ou 2008). Além disso, existem demais malignidade, idade do paciente, tempo sintomas em decorrência do excesso de de evolução, condições associadas, se é catecolaminas: náuseas, um tumor esporádico ou familiar, o tipo constipação, flushing (vermelhidão com predominante de catecolamina secretada afogueamento), perda de peso, fadiga, e a secreção associada de outros palidez, 8 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 hormônios. SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Desta forma, diastólica (PAD). O quadro pode se principais complicar com angina pectoris ou IAM; manifestações nos tópicos seguintes caso a secreção seja de noradrenalina, (MASSÓ, GONZALEZ, 2008). pode ocorrer bradicinesia e caso seja de destrincharemos as 1. HIPERTENSÃO adrenalina, pode ocorrer taquicardia. ARTERIAL Existem SISTÊMICA (HAS) descrições de gangrena isquêmica de extremidades associadas A HAS é a manifestação mais ao fenômeno de Raynaud; dor consistente de feo/pgl. Deve-se pensar abdominal, que pode ser acompanhada numa HAS causada por este tipo de de necrose intestinal. Cerca de 75% das tumor diante de uma HAS lábil e morte por Feo em pacientes não resistente a tratamento convencionais; diagnosticados ou não tratados, se paroxismos devem de picos hipertensivos às crises hipertensivas ou acompanhados de cefaleia, palidez, hipotensivas graves, IAM ou AVE taquicardia, dor abdominal e sensação (PLATTS, DREW, HARVEY, 1995). de morte iminente; HAS em crianças e Os fatores que desencadeiam jovens; HAS induzida por anestesia, parto, cirúrgica ou essa crise adrenérgica não estão bem procedimentos elucidados. No estudo de Pereira, invasivos; HAS com achado de massa Souza, adrenal; HAS em um pacientes com identificados MEN, VHL, NF1 ou PGH (MASSÓ, fatores GONZALEZ, 2008). A crise adrenérgica aguda se à liberação nos como: (2004) foram pacientes alguns palpação abdominal, aumento da pressão abdominal durante 2. CRISE ADRENÉRGICA deve Freire, maciça evacuação, micção feocromocitomas vesicais), drogas de (nos uso de (metoclopramida, quimioterápicos, glucagon) e problemas catecolaminas pelo tumor. A duração emocionais (em sua maioria). dessa crise varia geralmente de 15 a 30 minutos, está associada a cefaleia e sua 3. CARDIOVASCULAR frequência é variável, de esporádicas a O paciente com Feo possui várias vezes ao dia. Os níveis tensionais comprometimento cardíaco devido ao podem atingir 300mmHg de pressão aumento da pós-carga (miocardiopatia sistólica (PAS) e 150mmHg de pressão hipertensiva); à injúria miocárdica, pois 9 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 há um efeito SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS direto lesivo das Alguns casos há descrição de angina catecolaminas na musculatura cardíaca; abdominal, à da hemorragia digestiva. Caso o tumor vasoconstrição (PEREIRA, SOUZA, secrete peptídeo vasoativo intestinal FREIRE, 2004). Assim, 30% dos (VIP), pacientes podem apresentar miocardite, aquosas manifestada por arritmia, insuficiência GONZALEZ, 2008). isquemia crônica cardíaca decorrente ou alterações PEREIRA, 1961 SOUZA, e cursar hipocalemia Podem apud metabólicas FREIRE, existir como 2004).Ademais, se o tumor secretar diabetes somente adrenalina, pode cursar com hipermetabolismo. quadro de hipotensão, culminando com choque, alternando com com e diarreias (MASSÓ, METABÓLICAS repolarização e sobrecarga ventricular (KLINE, pode isquêmica 5. MANIFESTAÇÕES eletrocardiográficas como alterações na esquerda entecolite O crises mellitus, níveis alterações acidose lática, hipercalcemia de lactato e estão aumentados, devido à secreção crônica hipertensivas (MASSÓ, GONZALEZ, de catecolaminas, desencadeando a 2008). acidose lática. O metabolismo de 4. MANIFESTAÇÕES hidrocarbonetos está alterado, pois há ABDOMINAIS uma condição hiperglicemiante causada pelo tumor, que pode culminar com Com frequência o tumor sofre diabetes mellitus. necrose hemorrágica, em maior ou atividade metabólica devido ao excesso menor grau e isso se traduz em dor de catecolaminas gera intolerância ao abdominal, cursando com clínica de abdome agudo. calor e pode estar associado com febre. Quando a necrose é É importante notar que, muitas vezes, grave, isso pode desencadear uma crise adrenérgica por liberar essa febre pode vir acompanhada de grandes neutrofilia, decorrente do aumento de quantidades de catecolaminas. catecolaminas Em 13% dos pacientes há a descrição de constipação O aumento da (principalmente adrenalina), o que pode desviar o intestinal diagnóstico para uma causa infecciosa crônica, sendo acompanhado, em alguns (FRED, et al, 1967).Nos casos de casos, de um quadro pseudo-obstrutivo. MEN2, a hipercalcemia pode ocorrer, 10 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS embora infrequente. O surgimento de Frequentemente o aumento do osteoporose pode ser induzida, devido a hematócrito está presente, uma vez que secreção de algum fator tumoral. temos um conteúdo celular normal, 6. SECREÇÃO DE porém VÁRIOS redução de volume plasmático, devido à vasoconstrição HORMÔNIOS Os com crônica (MASSÓ, GONZALEZ, 2008). feocromocitomas podem É importante ter esse conhecimento no produzir outros peptídeos e aminas, momento da cirurgia, uma vez que o incluindo aumento do hematócrito pode mascarar somatostatina, vasopressina, ACTH, calcitonina, histamina e uma possível anemia ou hemorragia em serotonina, dentre outras (PEREIRA, SOUZA, FREIRE 2004). curso. Essas 8. FORMAIS substâncias podem modular ou mesmo DE FEOCROMOCITOMA/PARAG neutralizar os efeitos das catecolaminas ANGLIOMA e sua produção não tem tanta tradução 8.1.SÍNDROMES FAMILIARES clínica, mas pode ser demonstrada em estudos ESPECIAIS imunohistoquímicos. Os casos de Feo/PGL familiar Entretanto, algumas substâncias podem podem predominar e determinar manifestações patologia atípicas no Feo/PGL. Isso pode ser autossômica ilustrado penetrância, ocorrendo isoladamente ou nos feocromocitomas: se apresentar genética, como com dominante de alta associado provocam com (HERMANN, MORNEX, 1960 apud tendência à hipotensão; produtores de PEREIRA, SOUZA, FREIRE, 2004). ACTH, levando à síndrome de Cushing; As causas genéticas desse tumor estã produtores de fatores eritropoéticos, ilustradas na tabela 1. alérgicos apresentando policitemia; produtores de paratormônio (PTH), outras herança produtores de aminas vasoativas que quadros a uma patologias Tabela 1 – Genes suscetíveis e com síndromes associadas ao Feo/PGL. hipercalcemia. 7. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Síndrom Clínica Muta Ris e ção co de FE 11 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 NEM CMT 2A FEO SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS RET O manchas café 50 com leite Fonte: adaptado de KIERNAN, SOLÓRZANO, % 2016. Hiperparatireo idismo NEM CMT 2B FEO VHL A apresentação clínica do Feo RET 50 hereditário % esporádico. Entretanto, a diferença de é a mesma do Feo Ganglioneuro idade média de apresentação entre os matose de dois tipo é diferente: menor nos mucosa e pacientes intestino + paragangliomas ou mutações no gene da com VHL e com hábito succinil-desidrogenase(SDH) marfanoide (VHL=18,3 anos, SDHB=25,6 anos e Hemangioblas 14 SDHD=28,7anos); toma SNC % pacientes intermediária com nos NEM2 Angiomas (NEM2=36,4anos); maior nos pacientes retina com feocromocitomas não sindrômicos Carcinoma e (Feo VHL 10 esporádico=43,9anos)(NEUMANN, a 30% cistos renais, cistos e et al, 2002). Na NEM 2, o Feo ocorre em 4050% dos tumores casos e, geralmente, é detectado numa fase mais agressiva. Na pancreáticos VHL, o tumor se apresenta em 14% dos Síndrom Paragangliom SDH 20 e D % as cervicais parangli SDH oma B casos e sempre na variedade VHL 2, sobretudo na forma 2C, onde só existe o Feo. Nessa síndrome, o Feo é produtor de mas não de adrenalina; frequentemente é bilateral, familiar NEF 1 noradrenalina, Neurofibroma s NF1 1% de nervos periféricos raramente maligno multifocal com e às vezes localizações extra adrenais (mais em abdome e tórax). e 12 é Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 Na NF1 raro, são atípicos ou ausentes e o tumor pode correspondendo aproximadamente a 1% não ser detectado, com consequências dos casos; em necropsias, contudo, de letais para o paciente. Logo, uma pacientes com NF1, essa incidência possibilidade levantada pelo médico aumenta para quase 13% (MASSÓ, deve ser aprofundada com exames GONZALEZ, 2008). Estes são tumores complementares para a exclusão de que Feo/PGL. produzem o SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Feo tanto é noradrenalina, quanto adrenalina. Existem A mutação do gene da SDH gera quatro subtipos de algumas condições clínicas que entram como diagnóstico paragangliomas diferencial deste tumor: hipertensão (1,2,3 e 4). É importante conhecer qual arterial essencial, ansiedade, síndrome mutação, pois prognóstico: isso mutação interfere no do pânico, hiperplasia adrenomedular tipo 4 primária, hipertireoidismo, taquicardia corresponde à 50% de malignidade. paroxística, lesão O Feo/PGL também podem estar Sturge-Weber, e ataxia síndrome intra-caraniana, epilepsia eclampsia ou pré- eclampsia, hipertensão por inibidores da frequentes como: algumas facomatose, tuberosa enxaqueca, diencefálica, associados a outras patologias pouco esclerose menopausa, MAO, de hipoglicemia, neuroblastoma, ganglioneuroblastoma, telangiectasia, infecções agudas, falência barorreflexa, ingestão complexo de Carney. de drogas (anfetamina, cocaína, ácido lisérgico, efedrina, fenilpropanolamina), suspensão de clonidina, insônia familiar DIAGNÓSTICO fatal. Dessas entidades clínicas, existem Podemos dividir o diagnóstico duas que simulam bastante do Feo/PGL em 3 etapas: clínico, feocromocitoma/paraganglioma bioquímico e topográfico. merecem destaque: a o e hiperplasia adrenomedular primária e a falência 1. AVALIAÇÃO CLÍNICA barorreflexa. O diagnóstico clínico é feito A com facilidade quando o Feo apresenta primária seu quadro clínico característico. O bastante problema consiste quando os sintomas 13 hiperplasia é uma rara adrenomedular condição e clínica precede o Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS desenvolvimento do Feo. Ela não está associada a nenhuma hereditária, mas semelhança no apresenta síndrome sinais clínicos sugestivos de Feo/PGL grande deve ser investigado bioquimicamente. e Essa investigação visa demonstrar a laboratorial do tumor (VISSER, AXT, produção excessiva de catecolaminas, 1975 SOUZA, principalmente noradrenalina (NA) e FREIRE, 2004; YUNG et al, 2000 apud adrenalina (A). Sempre que possível, PEREIRA, SOUZA, FREIRE 2004). deve-se preferir os exames laboratoriais apud Outra quadro Qualquer paciente que apresente clínico PEREIRA, condição que antes dos exames de imagem, uma vez simula que o paciente pode ser submetido à bastante o Feo é a falência barorreflexa, irradiação caracterizada pela alteração na função exames dos barorreceptores dos vasos da região desnecessária, laboratoriais pois são os altamente sensíveis. O inverso só deve ocorrer cervical. Com essa anormalidade, o quando, incidentalmente, se descobre sistema nervoso simpático (SNS), que uma massa. normalmente é bloqueado pelo arco reflexo dos barorreceptores, não é Os testes laboratoriais incluem bloqueado e o organismo fica exposto à dosagem plasmática e urinária de ativação simpática inadequada. Essa catecolaminas; estimulação constante do SNS pode urinária e de metanefrinas livres no desencadear uma hiperplasia secundária plasma; dosagem urinária de ácido da medula adrenal, levando a um vanilmandélico (VMA). Quando se tem conglomerado de corpos celulares de a neurônios pós-ganglionares simpáticos. recomendado inicialmente é a dosagem Diante desse quadro, essa entidade só plasmática livre de metanefrinas ou a pode ser diagnosticada quando se dosagem da fração urinária em 24 horas excluiu a possibilidade de Feo extra (LENDERS, et al., 2014; CHEN, et al, adrenal (ROBERTSON, et al., 2003 2010; GROSSMAN, et al, 2006). A apud PEREIRA, SOUZA, FREIRE escolha das metanefrinas se dá por dois 2004; SHARABI, et al, 2003 apud motivos: o Feo apresenta a enzima que PEREIRA, SOUZA, FREIRE, 2004). converte suspeita dosagem de as de Feo/PGL, fração o catecolaminas teste em metanefrinas na célula tumoral e a 2. AVALIAÇÃO produção LABORATORIAL dessas metanefrinas é contínua no tumor, refletindo sua massa 14 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS tumoral secretora. O tumor metaboliza a consumir cafeína; realizar exercício noraepinefrina e a epinefrina com a físico extenuante; fumar. Além disso o enzima paciente não pode ter usado medicações catecol-O- metiltransferase(COMT) norametamefrina simpatomiméticas, que devem ser metamefrina, interrompidas pelo menos 2 semanas respectivamente e a falta dessa enzima antes da avaliação. Outros agentes como nos nervos simpáticos determinam que levodopa, o descongestionantes nasais, metildopa e metabólitos marcadores e em O-metilados específicos de são tumores acetominofen cromafins (EISENHOFER, et al 2003). Esses metabólitos continuamente são produzidos pelo tumor, testes (KIERNAN, metanefrina urinária, é superior à 2016; associeção de dosagem plasmática e urinária (LENDERS, et al., 2002). al., 2002). os dois testes inicialmente forma, parece que dosagem isolada de SAWKA, et al., 2003; LENDERS, et Entre diagnósticos porém diminui a especificidade. Dessa Feo/PGL. SOLÓRZANO, ser aumentam a sensibilidade diagnóstica, assim, os mais específicos e sensíveis de devem Foi constatado que múltiplos e tem-se monstrado, biomarcadores também interrompidos. independente da secreção fisiológica de catecolaminas diuréticos, Os demais testes como dosagem de urinária metanefrinas (dosagem livre plasmática de VMA tem baixa sensibilidade (68%) e, por isso, não é e urinária fracionada de metanefrinas) usado como rotina para investigação não há um consenso dizendo qual é o inicial. O teste de dopamina plasmática melhor (LENDERS, et al., 2014). ou urinária e seus metabólitos também Ocorre uma tendência de se solicitar não são usados como investigação mais a dosagem plasmática, por sua alta incial, porém diante de um Feo com sensibilidade e praticidade para o alterações genéticas SDHB e SDHD, paciente. A coleta desse exame deve ser podem ter valia para seu manejo feita após 15-20 minutos da inserção do (EISENHOFER, et al., 2011). cateter venoso, em posição supina. Para reduzir dosagens falso-positivas, em Após uma dosagem urinária ou pelo menos 12 horas prévias ao exame, plasmática de metabólitos normal, o o paciente não pode: se alimentar; diagnóstico de Feo/PGL pode ser 15 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS excluído, graças a alta sensibilidade preferível desses testes. O estudo de Lenders, et al. ressecção da massa, principalmente (2002) mostrou uma sensibilidade de quando 99% e especificidade de 89% para esses cirúrgicas testes. Se os níveis de metabólitos da imagens típicas tumorais (KIERNAN, urina e/ou plasma alcançarem 4 vezes o SOLÓRZANO, 2016). limite superior normal dado pelo indicar diretamente a paciente possui indicações como grande massa e 3. AVALIAÇÃO TOPOGRÁFICA laboratório, o diagnóstico de Feo/PGL é níveis Feito o diagnóstico bioquímico, apresentarem uma elevação leve ou prossegue-se com a localização do moderada (mais que 1 vez e menos que Feo/PGL. Em 95% dos casos os 3 vezes o valor do limite normal tumores são intra-abdominais, sendo superior) dos dois ou pelo menos de um 90% na suprarrenal; apenas 2-3% se metabólito, o teste deve ser repetido e localizam no tórax e 1% na região causas de falso-positivos devem ser cervical. identificadas e removidas. feocromocitomas são múltiplos e nas altamente provável. Se os formas Finalmente, se os testes de suprarrenais elevados, deve-se prosseguir com o de na bilaterais (DELGADO, dos infância e extra BOTAS, Os principais exames de imagem confirmar diagnóstico. Ele será positivo, níveis são e 10% 2005). teste de supressão de clonidina para o adultos, familiares geralmente plasma e urina indicam metabólitos caso Nos utilizados noraepinefrina são tomografia permanecem elevado após 3 horas de computadorizada (TC) e ressonância administração de 0,3mg de clonidina magnética (RM). Para complementar por via oral. Esse teste é útil para investigação, pode-se lançar mão do diferenciar entre níveis plasmáticos mapeamento de corpo inteiro com I- altos de noraepinefrina causados por meta-iodo-benzil-guanidina liberação da inervação simpática ou MIBG) e octreotide (111In-Octreodite), pelo tumor. tomografia com emissão de pósitron (123I- (PET), usando fluordeoxiglicose (FDG- Quando o teste dos metabólitos é PET). suspeito, mas não definitivo e existe uma massa nos exames de imagem, é 16 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS 4. TOMOGRAFIA assim, COMPUTADORIZADA utilizar outros populações de risco para esse tipo de manifestação (JALIL, et al., 1998 apud mais utilizado para diagnóstico de KIERNAN, feocrocitoma/paraganglioma, sendo um SOLÓRZANO SOLÓRZANO, 2016). tumor. Ela pode ser o exame de primeira escolha, em detrimento da RM, 5. RESSONÂNCIA uma vez que oferece uma boa dimensão MAGNÉTICA espacial em relação a outras estruturas A do tórax, abdome e pelve; sendo que para fazê-la com e sem contraste intravenoso detectar pacientes sem mesma feocromocitomas da e sem necessidade de contraste (LENDERS, et al., 2014). especificidade, uma vez que a massa pode a de ser um método que não irradia sensibilidade desse exame de imagem é tumor tem suprarrenal. Ela apresenta a vantagem (IV) (LENDERS, et al., 2014). A desse RM sensibilidade e especificidade da TC para melhores resultados, é aconselhado porém 2016; SAHDEV, et al., 2005 apud KIERNAN, método excelente para localização do (88%-100%), de imagem como RM para investigação de A TC é o exame de imagem alta métodos A apresentar-se RM apresenta homogênea ou heterogênea, pode ter superioridade aspecto sólido ou cístico e pode ter paragangliomas focos algumas familiares. A hiperteintensidade em T2 calcificações (MAUREA, et al., 1996 mas não em T1 é bastante característica apud KIERNAN, SOLÓRZANO 2016). do Feo/PGL, o que pode diferenciá-lo Quando a TC é feita com contraste, dos outros tumores de suprarrenal que pode apresenta isointensidade em relação ao de ser necrose com demonstrada uma rica em uma e detectar feocromocitomas fígado (DELGADO, BOTAS, 2005). vascularização na massa tumoral. 6. CINTILOGRAFIA Na maioria das vezes, a TC já é COM suficiente para planejar a abordagem do META-IODO-BENZIL- Feo/PGL. Entretanto, alguns estudos GUANIDINA (123I-MIBG) sugerem que a sensibilidade desse I- Quando existem dados clínicos e exame para tumores extra-adrenais ou bioquímicos importantes que apontam bilaterais pode ser baixa; deve-se, para Feo/PGL, porém a TC e a RM são 17 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS negativas, devemos realizar a MIBG marcada com 123 especificidade simpaticomiméticos, I, que tem uma causas sensibilidade de 78% (DELGADO, positivos são: BOTAS, 2005). A meta-iodobenzil- existência de tumor carcinoide ou de guanidina apresenta uma semelhança carcinoma estrutural a existência de captação aumentada e administração do composto marcado medula de adrenal normal (DELGADO, ( com 100%, anatagonistas do cálcio e labetalol. As principais 123 de reserpina, NA. mas Com I-MIGB), as vesículas adrenérgicas é realizado um mapeamento de imagens áreas que contém falsosfalsos técnica medular incorreta, de tireoide, BOTAS, 2005). das células cromafins o captam e, assim, em de grande 7. CINTILOGRAFIA COM OCTREOTIDE (111IN- OCTREOTIDE) concentração de vesículas adrenérgicas. Dessa forma, o exame proporciona O radiofármacooctreotide se liga informação anatômica e funcional do aos receptores de somatostatina do tumor. Ele está indicado para pacientes tumor, porém essa captação é variável e com alto risco de metástase ou quando dependente dos receptores presentes no estas identificadas por outro método de Feo/PGL. imagem (LENDERS, et al., 2014). que 111In-Octreotide nos sítios primários 123 131 sensível para doença metastática e pode I-MIBG por causa de sua maior estar positivo em pacientes que não sensibilidade, menor tempo de meia tiveram captação com 123I-MIBG; sendo vida, menor dose de irradiação e melhor qualidade de imagem. assim, deve-se usar I-MIBG pode a MIBG In-Octreotide nos 123 I- MIBG e/ou em doença metastática (KIERNAN, suspeita (BAEZ, et al, 2012). SOLÓRZANO, 2016). 8. TOMOGRAFIA É importante lembrar que alguns EMISSÃO fármacos podem interferir na captação DE COM PÓSITRON (PET) de MIGB, contribuindo para falsos A PET tem uma disponibilidade negativos, são eles: antidepressivos tricíclicos, 111 casos de captação negativa com ser usado para tratar metástases que se ligam I-MIBG é mais sensível do tumor, porém 111In-Octreotide é mais I-MIBG é mais usado que 131 123 diminuída e altos custos, o que faz com guanetidina, 18 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS que não seja um exame comumente paraganglioma utilizado mutações na investigação feocrocitoma/paraganglioma. de Sua de quais genes devem ser testados. Entretanto, a maioria concorda que deve doença metastática e é preferível a pacientes 123 com I-MIBG existir um algoritmo para esses testes em genéticos que leve em consideração a paragangliomamestastático presença de síndrome clínica, história (LENDERS, et al., 2014). familiar, perfil bioquímico, presença ou 9. TESTES GENÉTICOS não mutações genéticas de metástase, apresentação, Como Feo/PGL está associado a múltiplas manifestação – Tabela Feo/PGL, apesar do alto custo disso. recomendados 2 Testes pela apresentação bioquímico. genética é baseada em algumas razões: estima-se que um quarto ou um terço de Apresentação todos Clínica Feo/PGL / Gene(s) Perfil analizados apresentam alguma mutação genética; bioquímica sabe-se que mutações do gene SDHB se Síndrome / história correlacionam com doença metastática familiar em 40-50% dos pacientes; quando se VHL VHL estabele um diagnóstico de síndrome MEN2 RET hereditária no paciente acometido, isso NF1 NF1 antecipar o diagnóstico genéticos clínica, localização tumoral e perfil A realização dessa pesquisa pode extra 2. genéticos para todos os pacientes com com de O algoritmo está representado na tabela encorajamento e a realização de testes pacientes idade adrenal, presença de múltiplos tumores. e síndromes familiares, é recomendado o os (KIERNAN, Não há um consenso de quem e F-FDG é mais utilizado para mapear pacientes com cintilografia SDH para al., 2014). conforme o marcador utilizado. Dentre 18 da testados SOLÓRZANO, 2016; LENDERS, et sensibilidade e especificidade variam esses, PET com sejam e Doença mestastática SDHB, se tratamento nos demais familiares. Sobre negativo: SDHD, a mutação SDHB, é importante que SDHC, todos os pacientes com diagnóstico de 19 VHL, Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ainda não se sabe e as condutas muitas MAX, FH vezes Extra-adrenal Dopaminérgica VHL, estão completamente estabelecidas e pragmatizadas. SDHB, SDHD Norametanefrina não SDHB, O objetivo do pré-operatório é SDHC, SDHB fazer um diagnóstico completo do Adrenal paciente, tratar a hipertensão arterial, Dopaminérgica SDHB, SDHD Norametanefrina VHL, evitar SDHD, paroxismo e corrigir uma eventual hipovolemia. Uma vez que SDHB com a retirada do tumor, há um risco de Metanefrina RET, NF1 hipovolemia, hipoglicemia e choque Bilateral ou VHL, RET hipovolêmico (SANTOS, et al., 2015).O idade < 45 anos excesso de catecolaminas durante o Fonte: adaptado de KIERNAN, SOLÓRZANO, procedimento cirúrgico faziam com que 2016. as taxas de mortalidade fossem de 30 a 40%, porém as técnicas cirúrgicas atuais, TRATAMENTO aliadas medicamentoso ao manejo pré-operatório, Após feito o diagnóstico de diminuíram a mortalidade para taxas de Feo/PGL é recomendado que o paciente 0% a 2,9% (BRUYNZEEL, et al., 2010 seja acompanhado por uma equipe apud multidisciplinar 2016). - com KIERNAN, SOLÓRZANO, endocrinologistas, anestesista, cirurgião No - em centro especializado e preparado plasma em pacientes que apresentaram 2014). Atualmente o único tratamento níveis normais de metanefrina e 3- curativo é a cirurgia, outras opções são metoxitiramina no plasma ou na urina. usadas em casos de recorrência e Esse teste deve ser realizado como um tumores malignos como tratamento marcador paliativo, porém há muitos estudos na alternativo de atividade funcional do tumor, contudo cabe área com drogas de ação seletiva, e indica-se, ainda, o teste de cromagranina A no para tal patologia (LENDERS, et al., quimioterapias pré-operatório ressaltar que feocromocitomas com radioterapias metanefrina normal são extremamente (FISHBEIN, 2016). Cabe ressaltar que raros, sendo que na maioria desses por se tratar de um tumor raro, muito 20 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS casos são de tumores não-secretores: Normalmente a dosagem de doxazosina paraglangliomas de cabeça e pescoço inicial é de 5mg. O efeito colateral mais (PLOUIN, et al., 2016). comum é a hipotensão ortostática (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). O bloqueio adrenérgico deve ser realizado previamente a cirurgia em todos os pacientes Feo/PGL cálcio são os mais utilizados em funcionais. É considerado na literatura, associação aos alfa-bloqueadores para como tratamento de primeira escolha, as melhorar os níveis pressóricos. Essa drogas bloqueadoras alfa-adrenérgicas. medicação age bloqueando o influxo de Estas com cálcio no músculo liso vascular, levando posologia mínima e aumento gradativo então a diminuição da pressão e até taquiarritmias devem ser controle com Os bloqueadores do canal de iniciadas sintomatológico ou (KIERNAN, apararecimento de efeitos colaterais SOLÓRZANO, 2016). Alguns estudos (LENDERS, et al., 2014). sugerem que essa droga poderia ser A droga utilizada como tratamento de primeira tradicionalmente escolha, porém isso ainda não é muito recomendada é a fenoxibenzamina, um bloqueador alfa-adrenérgico difundido. A monoterapia com essa não medicação específico, porém é pouco disponível 2014). Nicardipina é a droga mais As medicações, na prática, mais usada, iniciando com 20mg, 3 vezes ao bloqueadoras dia (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). adrenérgicas alfa-1 específicas, como A metirosina é uma droga por exemplo, prazosin, doxazosina ou terazosina. menos Essas taquicardia, drogas inibidora da síntese de catecolaminas produzem apresentam que pode ser usada associada ao alfa- um bloqueador por um pequeno período de melhor custo, maior distribuição no tempo, mercado e uma posologia mais fácil de hipotensão no antes da cirurgia, para estabilização da pressão arterial e, (uma vez ao dia), além de uma menor frequência em de alfa-bloqueadores (LENDERS, et al., (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). as recomendada hipotensão ortostática grave com o uso típica de início do tratamento é de 10mg são é pacientes com hipertensão leve ou (SANTOS, et al., 2015). A posologia utilizadas só durante a cirurgia, para reduzir a perda pós- de sangue e depleção de volume operatório (SANTOS, et al., 2015). 21 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS (LENDERS, et al., 2014). Não é uma levar à redução da dose da medicação droga de primeira escolha, porque é (FISHBEIN, 2016). cara e apresenta uma quantidade Com significativa de efeitos colaterais, com retrospectivos isso somente é usada após o insucesso ortostática. inicial de 250mg, 4 vezes ao dia Por fim, deve ser sempre manter bloqueio alfa-adrenérgico, para evitar a uma dieta rica em sódio e hidratação teórica estimulação alfa-adrenégica com oral vigorosa alguns dias após inicio do crise bloqueio adrenérgico (SANTOS, et al., hipertensiva (FISHBEIN, 2016). As 2015; LENDERS, et al., 2014). Estudos são retrospectivos indicadas para controle da taquicardia. mostram que essas medidas revertem a diminuição do No relato de caso de Santos (2015), foi volume usado o carvedilol (beta-bloqueador não sanguíneo, previnem a hipotensão ortostática antes da cirurgia cardiosseletivo) que reduziu ainda mais e reduzem os riscos de hipotensão grave a pressão arterial, por ser também alfa1- (KIERNAN, bloqueador. SOLÓRZANO, 2016; LENDERS, et al., 2014). O tratamento medicamentoso é Administração recomendado de 7 a 14 dias antes da até frequência (LENDERS, et al., 2014). ser sempre introduzido após o completo cirurgia, a bpm sentado e 70-80 bpm em ortostase O bloqueio beta-adrenégico deve beta-bloqueadoreas Quanto cardíaca, preconiza-se um alvo de 60-70 (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). drogas experiências superior a 90mmHg de PAS em posição do tratamento e apresenta uma dose e e estudos é menos de 130/80 mmHg sentado e é Seu pico de ação é 3 dias após o inicio severa em institucionais, o alvo de pressão arterial dos outros agentes (FISHBEIN, 2016). vasoconstrição base o completo continua de solução salina (1-2 litros) na noite controle anterior ao procedimento cirúrgico, pressórico e da frequência cardíaca, também é recomendada, com o devido entretanto não há nenhum padrão-ouro cuidado aos pacientes que apresentem (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). O insuficiência desenvolvimento de hipotensão arterial renal ou cardíaca (LENDERS, et al., 2014). Todavia, não e taquicardia são efeitos colaterais se esperados e não deve, necessariamente, justifica o uso de hidratação endovenosa associada a oral dias antes 22 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS da cirurgia, por não haver evidências de benefícios em relação à cirurgia aberta, benefícios, e sim um aumento nos sendo custos operatório, menor perda de sangue, hospitalares (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). diversos do tipos de Todavia, cirurgião, por cirurgia aberta, para uma ressecção ou completa, com vistas a prevenir ruptura e evitar recorrência local (LENDERS, et al., 2014). posterior (KIERNAN, SOLÓRZANO, cirurgia laparoscópica transabdominal/transperitoneal, tumores adjacentes deverá ter o tumor retirado posterior; aberta, flanco lateral ou A com com e/ou com envolvimento de orgãos retroperitoneal); robótica anterior ou 2016). paciente grandes, com suspeita de malignidade das tumor. Os tipos de cirurgia incluem: (transperitoneal um mutação no SDHB, condições do paciente e do tipo de laparoscópica tempo BITTNER, et al., 2013). escolha de cada uma delas vai depender experiência do complicações (LENDERS, et al., 2014; abordagem cirúrgicas para o Feo/PGL, a da diminuição menor tempo de internação e menos 1. TRATAMENTO CIRÚRGICO Existem eles: Em razão de os paraglangliomas ou estarem mais associados à malignidade também chamada de cirurgia de Gagner, e frequentemente serem encontrados em permite uma avaliação abdominal e localizações de difícil acesso pela apresenta mais espaço para dissecar laparoscopia, a abordagem mais comum tumores a nesses casos é a aberta. Porém em retroperitoneal – ou de Walz - é paragagliomas pequenos, não invasivos preferível para pacientes com cirurgia e abdominal prévia ou necessidade de laparoscópica adrenalectomia bilateral (LENDERS, et (KIERNAN, al., 2014). LENDERS, et al., 2014). maiores; enquanto Resultados semelhantes foram observados com a de fácil Nos localização, pode a ser cirugia realizada SOLÓRZANO, Feo/PGL 2016; hereditários, cirurgia principalmente nos pacientes com VHL laparoscópica e a aberta (AGARWAL, e MEN2, se faz necessário, com et al., 2012). Contudo para a maioria frequência, a adrenalectomia bilateral. dessas neoplasias, a laparoscopia é a via Existem 3 tipos de abordagem cirúrgica de escolha, uma vez que esta apresenta nesses casos: adrenalectomia bilateral 23 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS total; adrenalectomia, poupando cortical cirurgia. A hipotensão pós-operatoria de uma adrenal e ressecção total da não é incomum e o tratamento inicial é outra; ressuscitação volêmica, entretanto 11% e adrenalectomia, poupando cortical das duas adrenais. dos pacientes são refratários a volume e necessitam do uso de vasopressores O objetivo de manter a cortical é evitar a esteroides adrenal, necessidade crônica devido insuficiência a entretanto esse tipo (KIERNAN, et al., 2014 apud PLOUIN, de et al. 2016). Outra complicação bem descrita é a hipoglicemia, que ocorre em de 4% a 17% dos pacientes, normalmente procedimento apresenta um risco maior nas primeiras horas do pós-operatório. de recorrência tumoral (GRUBBS, et A conduta é administração de glicose al., 2013). No caso desses tumores hereditários, o mais hipertônica, sem grandes repercuções recomendado clínicas (CHEN, et al., 2014 apud atualmente é a adrenalectomia bilateral PLOUIN, et al. 2016). poupando a cortical, uma vez que estas neoplasias tem um baixo risco de Após a ressecção do tumor malignidade (FISHBEIN, 2016). primário, há um risco de persistência do 2. PÓS-OPERATÓRIO tumor ou da ocorrência de um novo E evento tumoral. Persistência tumoral SEGUIMENTO ocorre Os estudos recomendam que no pós-cirúrgico seja realizada quando há uma retirada incompleta do tumor, particularmente a em casos de neoplasia maligna, monitorização da pressão arterial, da paraganglioma primário de cabeça e frequência cardíaca e da glicemia. pescoço ou de derrame durante a Devido insuficiência cirurgia. Um novo Feo/PGL é aquele adrenal, uma atenção especial deve ser que surge na adrenal contralateral ou dada num ao aos risco de pacientes que foram paraganglio previamente não submetidos ao procedimento cirúrgico afetado. Por último, recorrência local para surge a partir de células remanescentes ressecção de tumor bilateral (LENDERS, et al., 2014). do tumor primário, que permaneceram após Vários estudos mostram que a intervenção cirúrgica e, porteriormente, se tornam detectáveis cerca de 8% a 23% das cirurgias na mesma localização inicial. Feo/PGL evoluem com complicação após a funcionais 24 - que a dosagem de Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS metanefrina urinária ou plasmática deve com isso não é necessário rastreio ser feita após a recuperação cirúrgica, intenso destes, a não ser que indicado cerca de 2 a 8 semanas após o por sinais e sintomas; no outro extremo, procedimento. Nos casos hereditários, a alta morbidade associada aos tumores anualmente por toda a vida; e nos em pacientes com mutação no SDHB esporádicos, por pelo menos 10 anos, exige que sejam realizados, além dos com objetivo de avaliar a persistência testes bioquímicos padrão, imaginologia tumoral, a doença recorrente ou a periódica – RM para os tumores doença metastática (FISHBEIN, 2016). silenciosos e TC para os tumores Nos casos de elevação das metanefrinas detectados (LENDERS, et al., 2014). fracionadas, deve-se realizar exames de imagem para completa Algumas literaturas recomendam avaliação que um exame de imagem deve ser (PLOUIN, et al., 2016). realizado 3 meses após a cirurgia em Nos casos em que a metanefrina pacientes com elevação e a 3-metoxitiramina forem normais no metanefrinas pré-operatório, a operatório, ou nos pacientes com estas dosagem de cromogranina A com 2 a 6 normais ou não dosadas no pré- semanas após a intervenção cirúrgica, operatório. Com relação ao seguimento, como preconiza-se ser realizado a cada 1 ou 2 teste é recomendada alternativo, se esta fracionadas das anos, operatório. O mesmo vale para a porém isto depende dos fatores de risco avaliação e do tipo de tumor (PLOUIN, et al., de seguimento (PLOUIN, et al., 2016). O seguimento vai condutas ainda estão em estudo e não há depender um consenso, havendo literaturas que falam a favor do acompanhamento por fenotípicas do tumor dos distintos imagem (TC, RM ou FDG-PETscan) a feocromocitomas/paragangliomas É RM, 2016). Cabe lembrar, que todas essas também das características genótipo- hereditários. com pós- apresentar níveis elevados no pré- anual preferencialmente no recomendado cada 6 a 12 meses nos primeiros 3 anos uma e abordagem personalizada para a gestão anual até completar 10 anos (KIERNAN, SOLÓRZANO, 2016). de cada paciente. Em pacientes com NF1, por exemplo, o percentual de 3. FEOCROMOCITOMA/PARAG malignização é extremamente baixo, LANGLIOMA MALIGNO 25 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Atualmente, não há nenhum PheochomocytomaandParaganglioma). método para descartar potencial de A malignidade ou reincidência tumoral, histopatológica, já a segunda inclui por um também análise bioquímica e o índice A Ki67. Entretanto, todas elas ainda definição de malignidade dos Feo/PGL precisam ser validadas antes de serem é a presença de metástase, recorrência implantadas tumoral, ou evidência de invasão local (FISHBEIN, 2016; KIMURA, et al., das estruturas adjacentes (PLOUIN, et 2014). isso seguimento há necessidade por longo de prazo. primeira al., 2016; HARARI, INABNET III, dos do fecromocitoma/paraglanglioma (FISHBEIN, 2016). prática médica feocromocitomas/paragangliomas hormonal e cirurgia tumoral. Tratamentos de ressecção alternativos, como quimioterapia e altas doses de Feocromocitomas um análise benignos, com controle medicamentoso são ossos, fígado, pulmão, rim e linfonodos apresentam na uma O tratamento inicial é o mesmo 2011). Os locais mais afetados por metástases é malignos prognóstico metaiodobenzilguanina ruim, radioterapia, são (MIBG) utilizados como devido ao fato de incialmente ser um tratamento tumor único e mais tarde devenvolver tirosina-cinase, como a sunitinib, é metástases. utilizada As metástases ocorrem paliativo. na em Inibidores pacientes da específicos, geralmente nos primeiro 2 anos, mas porém não leva a cura (GHAYEE, podem ocorrer até com 40 anos do 2015; VAN HULSTEIJN, et al., 2014). diagnóstico inicial. A taxa de A cirurgia objetiva diminuir a sobrevivência em 5 anos é de cerca de exposição dos órgãos aos altos níveis de 20% a 50% (FISHBEIN, 2016). catecolaminas e aumentar a absorção Foram feitos diversos estudos das lesões restantes ao radioisótopo 123I- em busca de alguma avaliação que leve MIBG, caso essa terapia seja viável. Se à suspeita de malignidade, assim duas o tumor for de fácil ressecabilidade, a escalas foram desenvolvidas: o PASS intervenção cirúrgica é indicada; ainda (Pheochromocytomaofthe não Adrenal está determinada, relação system aumento da sobrevida. Todavia, se o Adrenal 26 procedimento com a GlandScale Score) e o GAPP (Grading for do contudo, o Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 paciente SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS apresentar metástases tratamento específico para o perfil disseminadas, o procedimento cirúrgico genético não é uma opção, nestes casos a melhor 2016). opção é o (FISHBEIN, tratamento sistêmico 2016; ósseas e específicos pacientes paciente Radioterapia HARARI, INABNET III, 2011). Esses do necessitam outros (FISHBEIN, das metástases métodos mais ablação por (como radiofrequência, crioablação, realizar o controle farmacológico dos quimioembolização efeitos fisiológicos e patológicos do arterial) são utilizados para melhora das excesso de catecolaminas circulantes, complicações locais e somente para o com isso o bloqueio adrenérgico se faz alívio de sintomas. Novos estudos estão necessário para manutenção dessesos avaliando a possibilidade de cura com o pacientes (HARARI, INABNET III, uso do radioisótopo, porém ainda sem 2011). comprovação (HARARI, INABNET III, Atualmente, a e embolização 2011). doença metastática necessita de quimioterapia com várias quimioterápicos comum é combinações possíveis, com a de CONCLUSÃO mais ciclofosfamida, vincristina e dacarbazina (CVD); no Feocromocitomas entanto, esta é utilizada para somente controle INABNET de III, doença 2011). Paragangliomas (HARARI, A últimas décadas foram feitas muitas descobertas da sua genética. Os sinais ciclos e a duração dela é em média de clássicos são hipertensão paroxística, 20 a 40 meses (NIEMEIJER, et al., cefaleia, suor e palpitações; muitas 2014 apud FISHBEIN, 2016). Novos vezes, estudos estão sendo realizados para pacientes contudo, essa neoplasia apresenta-se de uma forma atípica ou é avaliar a troca da dacarbazina pela em tumores neuroendócrinos raros, mas que nas resposta tumoral ocorre normalmente após 2 a 4 temozolomida são e descoberta de maneira incidental por com exames de imagem ou testes genéticos. mutação do SDHB, isso é importante O diagnóstico é confirmado com o por se tratar de um avanço no aumento das metanefrinas fracionadas 27 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS na urina ou no plasma e a imaginologia BAEZ, J.C.; JAGANNATHAN, J.P.; é importante para determinação da KRAJEWSKI, localização e avaliação da propedêutica Pheochromocytomaandparaganglioma: cirúrgica. O manejo clínico, apesar de imagingcharacteristics. estar CancerImaging, Michigan, v. 12, p. em estudo, principalmente adrenérgico é caracterizado pelo bloqueio pré-operatorio, pela MATTHEWS, conversion, isso, é series possível melhorar tratamento o diagnóstico destes al. a for single-institution of 402 patients. SurgicalEndoscopy, Berlin, v. 27(7), p. observar a necessidade de mais estudos para et andmorbidity adrenalectomy: ruim e mais investigações na área são Com B.D.; Riskfactorsaffectingoperative approach, tumores invasivos apresentam um prognóstico necessárias. al. BITTNER, J.G.T.; GERSHUNI, V.M.; pós-cirúrgico em busca de recorrência e Infelizmente et 62-153, 2012. ressecção cirúrgica e pelo seguimento metástases. K.; 2342–2350, 2013. e BRAVO pacientes, E.L.; TARAZI, JUNIOR, R.C., principalmente com relação à suspeita GIFFORD R.W.; de malignidade e aos tumores que já STEWARD, apresentam metástases. Circulatingandurinarycatecholamines in B.H. pheochromocytoma. 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Este trabalho tem por finalidade apresentar uma revisão sobre os principais tumores malignos de glândulas salivares, contribuindo assim, para maior elucidação desse tema complexo. Palavras-chave: Neoplasias. Glândulas salivares.Adenocarcinoma. ¹Graduando do Curso de Medicina pela Fundação Universidade Federal do Tocantins; ²Professor orientador: Professor do Curso de Medicina da Fundação Universidade Federal do Tocantins, Brasil. 35 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS MALIGNANT NEOPLASMS OF SALIVARY GLANDS: A LITERATURE REVIEW ABSTRACT Salivary gland neoplasms are a group of relatively low incidence. Their study is complex, given the wide variety of biological behavior and histological types as well as divergence in the literature. They can be classified into several groups according to histological and composition characteristics. It is unanimous among the authors that the most affected glands are the parotid. However, the most common histological type varies according to the study. This study aims to present a review of the main malignant salivary gland tumors, thereby contributing to further elucidation of this complex subject. Keywords: Neoplasms.Salivary Glands.Adenocarcinoma. 36 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS varia de 28% a 96,1% com base INTRODUÇÃO glândulas comparativa de 5 estudos nacionais2. salivares (TGS) são patologias raras que Segundo Nagano (2014) os seguintes compreendem cerca de 3 a 5% dos sítios são os predominantes por ordem tumores de cabeça e pescoço14, tendo de uma incidência global anual de 0,4 a submandibular, 13,5 por 100.000 habitantes, segundo a menores e sublingual. Contudo, os Organização Mundial de Saúde (OMS, dados presentes na literatura são muito 2005).A literatura científica é unânime divergentes quanto ao tipo neoplásico em afirmar que cerca de 80% dos TGS mais frequente. Os tumores de frequência: parótidas, glândulas salivares são considerados benignos, sendo que o Em um estudo realizado por adenoma pleomórfico é o mais comum Vargas em 2002, no qual foram 10 A etiopatogenia dos TSG não foi analisados 104 pacientes em tratamento bem definida, apesar dos avanços da para neoplasia de glândulas salivares biologia molecular com relação às entre 1993 e 1999 no Hospital das alterações Clínicas da Faculdade de Medicina- . algumas genéticas envolvidas em neoplasias21. Sabe-se, USP, observou-se que entre os tumores entretanto, que alguns fatores de risco malignos, podem ser associados com o surgimento mucoepidermoide foi o mais comum, dessas patologias, como o tabagismo e a correspondendo a 52% dos casos, 11 exposição à radiação ionizante . o carcinoma seguido pelo carcinoma adenoide cístico com 20% e carcinoma ex-adenoma pleomórfico detectado em 12% dos casos. REVISÃO DE LITERATURA A neoplasias incidência de anual glândulas das Já outro estudo retrospectivo, salivares realizado em 2005 por Barbosa, representa 0,3% de todas as neoplasias analisou 914 prontuários arquivados do malignas12. Perfazem apenas cerca de Hospital Dr. Napoleão Laureano, em 2% a 6,5% dos tumores da região da João Pessoa-PB, e do Centro de cabeça e pescoço18. Cancerologia Ulisses Pinto, em Dentre os órgãos acometidos, é Campina Grande-PB nos anos de 1998 a unânime que as parótidas são as mais 2003 e apontou que dos 29 casos de envolvidas, representando um total que neoplasias 37 malignas de glândulas Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS salivares encontrados, o tipo neoplásico variado com maior representação da amostra foi geralmente bem delimitado por tecido o carcinoma adenóide cístico com conjuntivo fibroso, sendo que a sua 58,6%, seguido do adenocarcinoma com arquitetura histológica interna variada 24,1%, carcinoma acinar com 13,8% e contém tecido com células epiteliais finalmente ductais e mioepiteliais6. o carcinoma mucoepidermoide com apenas 3,4%. tipo histológico, sendo Trata-se de tumor de caráter A etiologia desses tumores ainda benigno com capacidade de não é totalmente elucidada, mas alguns malignização que varia em torno de 6% fatores podem ser apontados como dos casos1, que geralmente se apresenta determinantes para o surgimento dessas como massa de consistência firme, lesões malignas, tais como radioterapia crescimento lento, indolor e recoberto da região de cabeça e pescoço e a de exposição a elementos radioativos11.De normal15. Seu diagnóstico pode ser feito acordo com a OMS pela clínica e através de exames de (2005), são mucosa íntegra coloração conhecidos 23 tipos histológicos de imagem neoplasias ressonância magnética ou tomografia, salivares. malignas Deste de total, glândulas destacam-se como de principalmente se ultrassonografia, ele salivares acomete maiores. as alguns seja por sua alta incidência seja glândulas O por seu comportamento biológico. tratamento geralmente se faz com excisão cirúrgica, tendo bons resultados terapêuticos15. Adenoma Pleomórfico (AP) Embora seja um tumor de comportamento benigno, será explanado Carcinoma ex adenoma pleomorfo nessa (CAP) revisão associação com devido sua forte malignidade. Esse O carcinoma adenoma tumor é considerado por muitos autores pleomorfo como sendo o mais frequente em transformação maligna do adenoma humanos, representando cerca de 70% pleomorfo. O que explicaria, segundo dos casos, acometendo indivíduos de Harada (2000) citado por Prado (2006), qualquer faixa etária e com leve o maior surgimento em pacientes com predomínio em mulheres. É considerado idade avançada cujo tratamento de um tumor “misto” em virtude de seu adenoma pleomorfo não foi instituído. 38 (CAP) ex corresponde à Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Nesse tipo de neoplasia estão presentes Acometem, componentes benignos (adenomatoso) e glândulas salivares maiores e menores malignos (carcinomatoso). Na porção intraorais. benigna, a característica morfológica menores, em geral o palato e soalho da mais representativa é o estroma fibro- boca hialino, Histologicamente, enquanto que na porção principalmente, Nas são glândulas os mais salivares envolvidos. podem classificados parte malignidade (baixo, intermediário e alto vezes, espinocelular. o carcinoma Dentre normais, graus de grau)19. outras características, existem destruição dos tecidos três ser maligna, podemos observar, na maior das em as Microscopicamente, apresenta invasividade, células escamosas, células mucosas e pleomorfismo celular e mitoses atípicas. células do tipo intermediário. O tipo Para a maior parte dos estudos, os CAPs celular predominante e sua configuração são mais comuns no palato, entretanto variam entre os tumores e dentro da Lewis (2001) citado por Prado (2006), mesma observou Macroscopicamente, maior frequência nas massa o CME apresentar-se Comumente, apresentam-se de forma variando do azul ao vermelho ou assintomática púrpura19. podem ainda lesão pode parótidas, totalizando 80% dos casos. ou como tumoral. de cor manifestar dor. A evolução de tal neoplasia é ainda pouco esclarecida Carcinoma adenoide cístico (CAC) devido à ausência de informações Histologicamente, o CAC possui disponíveis. O que justificaria maior uma mistura de células mioepiteliais e cooperação dos médicos clínicos com ductais que são arranjadas de forma patologistas, ao detalhar a história variada, apresentando-se como três clínica junto com o envio do material padrões análise17. para morfológicos: cribiforme, tubular e sólido12. Em 2009 Persson descobriu uma translocação envolvendo os genes MYB-NFIB que pode ser Carcinoma mucoepidermoide (CME) Os carcinomas identificada como a precursora do CAC, mucoepidermoides (CME) são tumores levando a uma superexpressão desse malignos oncogene. originados de ductos excretores de estruturas glandulares. 39 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Caracteristicamente, esse tipo histológico tem tendência à invasão perineural, mesmo em células de curto curso clínico, justificando a sintomatologia dolorosa relatada pelos pacientes3. Carcinoma de células acinares O carcinoma de células acinares é uma neoplasia considerada rara. Em uma coorte histórica feito por Lima em 2005 analisando histopatológicos de os laudos 245 pacientes diagnosticados com tumor de glândulas salivares entre 1980 e 1999, encontrou uma incidência de 4,9% desse tipo de Adenocarcinoma tumor. Trata-se de um tumor originário O adenocarcinoma é um tumor de células pluripotentes que unem os maligno derivado de células glandulares ácinos e os condutos intercalados, tendo epiteliais secretoras, que pode ser histologicamente uma aparência similar originado em qualquer tecido glandular com o tecido parotídeo normal, ainda do corpo. Na região oral, ocorre mais mantendo a capacidade de secretar comumente nas glândulas salivares 7 amilase em muitos casos . Clinicamente essa menores, seguida pelas parótidas como neoplasia segundo local mais frequente. apresenta-se como massas de evolução Apresenta comportamento agressivo, lenta e crescimento assintomático. com alta propensão para metástase e em propôs uma recorrência13. Entretanto, apresenta uma classificação histológica em 3 graus de alta taxa de sobrevida em pacientes com acordo com a diferenciação tecidual e menos de 50 anos12. Batsakis 1990 agressividade do tumor (Tabela 1). Tabela 1 - Graduação Histopatológica do Carcinoma de Células Acinares proposto por Batsakis et al 1990 40 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Ciência – Fac. Odonto/PUCRS, CONCLUSÃO As glândulas neoplasias malignas de salivares compreendem v. 20, n. 50, out./dez. 2005. 3. BARNES, Leon et al. World tumores de baixa incidência, com ampla Health variedade Classification de comportamentos Organization of Tumors: biológicos e tipos histológicos (e, Pathology and Genetics of Head consequentemente, de classificações), and Neck Tumors. Lyon: IARC de etiopatogenia não definida e ainda Press. 2005. pouco estudados, com presença de 4. BATSAKIS, John et al. grading of algumas divergências na literatura. O Histopathologic tema, portanto, carece de mais estudos salivary gland neoplasms: II científicos. acinic cell carcinomas. Ann As informações apresentadas nesta revisão de literatura Otol corroboram Houston, v. 99, n. 11, Nov, uma série de estudos anteriores e, portanto, são relevantes Rhinol Laryngol, 1990. para entender as diversas características 5. CRIVELINI, Marcelo Macedo. exibidas por estes tumores. Carcinoma de células acinares de glândulas salivares menores: estudo clínico, histológico e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS imunohistoquímico. Biblioteca 1. ARAÚJO, Fábio Adriano de. Virtual em Saúde, Epub, São Adenoma glândula Pleomorfo salivar Paulo, 1994. de 6. FERREIRA, Jean Carlos menor: revisão de literatura e relato Barbosa. Adenoma de caso. Dissertação – Curso de pleomórfico de glândulas Odontologia, salivares menores: Universidade Estadual da Paraíba - Campina investigação do potencial Grande, 2013. neoplásico baseado na 2. BARBOSA, Renata Pereira de apoptose, atividade Sousa et al. Neoplasias malignas mucosecretora e proliferação de glândulas salivares – Estudo celular. Dissertação – Mestrado retrospectivo. Revista Odonto em Odontologia, Universidade 41 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Federal do Goiás – Goiânia, comparativa do fenótipo de 2014. tumores primários e tumores 7. FRANCO, Carmen et al. metastáticos de glândulas Carcinoma de células acinares: salivares. gradación (Mestrado em Patologia Bucal) - histológica. Rev. 2014. Chilena de Cirugía, v. 55, n. 2, Faculdade Abril, 2003. Universidade de São Paulo, São 8. KOWALSKI, Luiz Paulo et al. Manual de de Dissertação Paulo, 2014. 13. OGAWA, Allex Itar et al. condutas diagnósticas e terapêuticas em Neoplasias Oncologia. 2ª ed. São Paulo: salivares. Âmbito Editores; 2002. Internacionais 9. LIMA, Solange Souza et al. Perfil epidemiológico neoplasias de Odontologia, de Glândulas Arquivos de Otorrinolaringologia. das São Paulo, v. 12, n.3, 2008. glândulas 14. OLIVEIRA, Filipa et al. salivares: análise de 245 casos. Tumores das glândulas parótidas Rev - Casuística dos últimos 10 anos Bras Otorrinolaringol, v.71, n. 3, Mai-Jun, 2005. do serviço de ORL do IPO de 10. MAAHS, Gerson et al. Parotid Lisboa. Revista Portuguesa de gland tumors: a retrospective Otorrinolaringologia study of 154 patients. Braz J Cirurgia Otorhinolaryngol, São Paulo, Lisboa, v. 51, n. 3, Set, 2013. v. 81, n.3, Jun, 2015. 11. MATAMALA S, e Cérvico-Facial, 15. OLIVEIRA, Leandro Junqueira MARÍA et al. Treatment of pleomorphic ANGÉLICA et al . Lesiones adenoma of the palate: Report of intraorales de glándulas salivales two cases and review of the menores. Rev Cir, literature. Revista Portuguesa Santiago, v. 64, n. 4, p. 335- de Estomatologia, Medicina 340, agosto 2012 . Dentária Chil 12. NAGANO, Pidorodeski. Análise histopatológica Cibele e Cirurgia Maxilofacial,v. 57, n. 1, Jan- clínica, Mar, 2016. e 16. PERSSON, Marta et al. Recurrent fusion of MYB and imunoistoquímica 42 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS NFIB transcription factor genes 21. WANG, Kai et al. Profiling of in carcinomas of the breast and 149 salivary duct carcinomas, head and neck. Proc Natl Acad carcinoma Sci U S A, Epub, v. 106, n. 44, adenomas, Out., 2009. adenocarcinomas, not otherwise 17. PRADO, Renata Falchete do. Adenoma pleomorfo carcinoma specified e genomic ex-adenoma 2016. Ciência Odontológica Brasileira, São Paulo, v. 9, 2006. 18. SANTOS, Gilda da Cunha et al . Neoplasias salivares: de glândulas estudo de 119 casos. J. Bras. Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro , v. 39, n. 4, p. 371-375, 19. TINOCO, 2003 . Paulo et al . Carcinoma mucoepidermoide de glândulas salivares menores.Arquivos Int. Otorrinolaringol. (Impr.), São Paulo , v. 15, n. 1, p. 99-101, Mar. 2011 . 20. VARGAS, Pablo Agustin et al . Salivary gland tumors in a Brazilian retrospective population: study of pleomorphic and reveals alterations. actionable Clinical Care Research, Epub, Jun, pleomorfo: uma revisão clínica e morfológica. ex a 124 cases. Rev. Hosp. Clin., São Paulo , v. 57, n. 6, p. 271-276, 2002 . 43 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS CASE REPORT DEFICIÊNCIA DE HORMÔNIO DO CRESCIMENTO EM CRIANÇA COM SITUS INVERSUS Jorge Francisco de A. Paulino¹, Mateus Barbosa de Queiroz¹, Pedro Henrique Alves², Ana Cláudia Zanfolin Lóis¹, Patrícia Bastos Amorim³. RESUMO No presente relato, os autores descrevem um caso de baixa estatura associada à presença de situs inversus totalis em um adolescente de 13 anos do sexo masculino. A baixa estatura pode ser definida como uma situação em que o indivíduo encontra-se abaixo do 3º percentil de altura média esperada para certa idade, sexo e população. Situs inversus é uma condição rara onde os órgãos assimétricos do corpo encontram-se espelhados em relação à anatomia normal. Ela é associada a diversas malformações anatômicas, entretanto os relatos dessa condição somados a deficiências hormonais são raros. Palavras-chave: Baixa estatura; Situs inversus totalis; Deficiência de GH; Desenvolvimento puberal. ¹Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Palmas – TO, Brasil ²Médico pela Universidade Federal do Tocantins ³Docente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Palmas – TO, Brasil 44 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS GROWTH HORMONE DEFICIENCY IN CHILD WITH SITUS INVERSUS ABSTRACT In this report, the authors describe a case of short stature associated with the presence of situs inversus totalis in a 13-year old male. Short stature may be defined as a situation in which the individual height is below the 3rd percentile average expected for certain age, sex and population. Situs inversus is a rare condition where the asymmetric organs are mirrored relative to the normal anatomy. It is associated with various anatomical malformations, but the reports of this condition added to hormone deficiencies are rare. Key-words: Short stature; Situs inversus totalis; Growth Hormone deficiency; pubertal development. 45 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Dentre os distúrbios secundários do INTRODUÇÃO crescimento, figura a deficiência de O situs inversus totalis é uma condição IGF-1 secundária a deficiência de GH, rara na qual a orientação de todos os apresentando boa resposta a terapia de órgãos assimétricos do corpo adquirem reposição hormonal com GH. conformação espelhada comparado a anatomia normal. O caso abordado apresenta um distúrbio Sua prevalência estimada é de 1:10000 de crescimento associado ao situs na população geral.¹ Existem diversos inversus com dextrocardia. Em nossa relatos de alterações anatômicas e pesquisa não evidenciamos relatos de funcionais que acompanham pacientes deficiência de GH associada a situs com situs inversus. Os relatos desta inversus alteração manifestações sindrômicas. somados a deficiências isolados de outras hormonais são escassos na literatura. A baixa estatura (BE) é uma condição RELATO DE CASO na qual o indivíduo apresenta estatura menor que o 3º percentil ou menor que V. S. D, sexo masculino, com 13 anos e dois desvios-padrão (DP) abaixo da 3 meses de idade iniciou investigação altura média para determinada idade, para baixa estatura com especialista sexo e grupo populacional.² endócrino-pediatra por apresentar A baixa estatura pode ser classificada déficit estatural acompanhado pela mãe. em três grupos principais: distúrbios Genitora refere que o adolescente primários do crescimento (condições sempre se apresentou pequeno e intrínsecas à placa de crescimento), atualmente encontra-se menor que o distúrbios secundários do crescimento irmão mais novo. Na história (condições que alteram a fisiologia da gestacional, mãe apresentou pré-natal placa de crescimento) e um terceiro sem intercorrências, negando doenças grupo em que nenhuma causa da baixa prévias à gestação. Nascido de parto estatura é identificada. A esse último vaginal, segundo filho de uma prole de grupo dá-se a nomenclatura de baixa três (G3P3nA0), a termo, com peso e estatura idiopática (BEI).² altura dentro dos padrões de 46 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS normalidade sem intercorrências somatomedina C) e IGFBP-3 (insulin neonatais documentadas. Durante growth fator binding protein 3 ou anamnese foi referido pela mãe que proteína ligadora do IGF do tipo 3) para criança foi diagnosticada aos seis anos avaliação indireta da ação do hormônio de idade com a situs inversus totalis, GH (hormônio do crescimento). porém não apresenta associação com Radiografia de mão e punho malformações ou outras comorbidades. pelo método de Greulich– Pyle revelou Pais e irmãos sem queixas e saudáveis. idade óssea de 12 anos. Hemograma Na primeira consulta sem anormalidades, glicemia de jejum pré- de 88 mg/dL, TSH = 1,88 e T4 livre = adolescente mostrava-se assintomático e 1,13. A dosagem de IGFBP-3 = 2,4 sem outras queixas concomitantes. Ao (valor de referência para faixa etária 3,1 exame físico, apresentava peso de a 9,5 mcg/ml) e IGF-1 = 52 (valor de 28,500 Kg e 134,5 cm de altura (Z score referência para faixa etária 183 a 850 = -3). Seu alvo genético (estatura alvo) ng/ml). era de 178,5 cm baseado na altura dos de Maturação do exame físico teste da clonidina e o teste de tolerância sem a insulina (ITT) juntamente com a ressonância nuclear magnética (RNM) Realizada a avaliação inicial, para melhor avaliação anatômica da foram solicitados exames laboratoriais, região radiográficos e testes específicos para até 0,53 e o teste de tolerância à insulina avaliação de idade óssea pelo método de (ITT) revelou glicemia até 35; GH até Greulich – Pyle, hemograma, TSH e T4 da e O teste da Clonidina revelou GH como radiografia de mão e punho para avaliação hipotalâmica/hipofisária eletrocardiograma (ECG). melhor avaliação de baixa estatura, tais para vieram solicitados testes específicos, como o anormalidades. livre exames IGFBP3. Devido a esta alteração foram e Desenvolvimento de Tanner G2P1. Restante os normais, exceto as dosagens de IGF1 e pais (pai: 174 cm e mãe: 170 cm). Estágio Todos 1,93 e cortisol (F) de 27,23. A RNM função evidenciou uma glândula hipófise de tireoidiana e as dosagens séricas de dimensões IGF-1 (insulin growth factor I ou fator de crescimento similar à insulina I ou 47 reduzidas, sem outras Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 alterações e ECG SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS indicando situs Mundial de Saúde (OMS) preconiza que inversus em dextrocardia. toda criança ou adolescente deve ter seu As alterações descritas na anamnese crescimento e desenvolvimento puberal (baixa de avaliado a cada consulta médica e as crescimento reduzida) associadas aos medidas devem ser plotada nos gráficos resultados de de crescimento adequados para idade e IGF1/IGFBP3 mais os testes específicos sexo e a velocidade de crescimento (Clonidina e ITT) e a avaliação calculada. Por ter sido elaborada com imagiológica permitiram um número maior de indivíduos em concluir o diagnóstico de baixa estatura diferentes estágios puberais, as curvas secundária a deficiência de hormônio do de crescimento. Iniciou tratamento com adequadas para avaliar o crescimento, Somatotropina Recombinante Humana justamente por levar em consideração as na dose de 0,1 U/kg/dia, via subcutânea, variações uma vez ao dia, a noite, contínuo. puberdade. (PEREIRA, 2009), (FERRAN, estatura e das velocidade dosagens (RNM) apresentou boa são de consideradas início e mais tempo de PAIVA, 2015), (OOSTDIJK et al., 2009) Após dois meses de tratamento paciente Tanner Qualquer resposta criança que for de verificada altura inferior ao percentil 2,5 complicações, com ganho estatural de 4 ou que apresenta Z de altura < -2; tem cm no período, elevando a velocidade indicação para investigação laboratorial de crescimento de 3 cm/ano para 10 de deficiência de GH. A investigação cm/ano. clínica terapêutica, sem presença e laboratorial de qualquer paciente com baixa estatura deve ser bastante DISCUSSÃO do crescimento permitindo afastar outras causas de baixa estatura que Há mais de um século o monitoramento ampla, podem estar sendo encobertas. (JORGE, na 2008), (GH RESEARCH SOCIETY, 2000) infância e adolescência tem sido parte Existem alguns elementos na dos programas de prevenção em saúde da criança, sendo que a baixa estatura e história atrasos no crescimento são sinais de pesquisados. uma saúde deficiente. A Organização gestação, como pesquisa de crescimento 48 médica que devem Informações sobre ser a Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS intrauterino restrito, intoxicação com escolar, comportamento, personalidade, drogas o papel e atuação dos pais. (PEREIRA, e infecções; dados do 2009) nascimento como peso, comprimento, idade Não há consenso de quais gestacional, apresentação ao nascimento doenças sistêmicas devem ser excluídas e asfixia; intercorrências no período antes do diagnóstico de baixa estatura neonatal, como icterícia, são dados ser fechado. Hemograma e ferritina para importantes. Na história patológica afastar pregressa os pontos importantes a serem velocidade abordados são a idade do início de (VHS) sinais de puberdade: telarca, pubarca, inflamatórias crônicas; albumina sérica menarca, para pesquisa de puberdade na avaliação do estado nutricional, precoce ou tardia; informações sobre transaminases para afastar hepatopatias doenças prévias, cirurgias ou uso de crônicas, dosagem de uréia, creatinina, medicações. familiar, sódio (Na), potássio (K), gasometria doenças venosa e urina tipo I nos casos de endócrinas, suspeita de doenças renais, cálcio, circunferência cefálica, Na história devem-se pesquisar autoimunes, doenças a presença de anemias; hemossedimentação para afastar fósforo avaliar diagnóstico de raquitismo e outras genética. Dados fosfatase doenças alterações de crescimento e ósseas para doença e de doenças são úteis para calcular o canal familiar e anticorpo antiendomísio, antigliadina ou estatura antitransglutaminase Outras informações para ósseo, descartar parentais, como idade da puberdade doença materna e paterna, são úteis para avaliar para afastar verminose e TSH e T4L na um padrão familiar de atraso de avaliação puberdade. A presença de retardo Radiografia de mãos e punhos na mental a determinação da idade óssea, dosagem síndromes, alterações cromossômicas e de IGF-1 e IGFBP-3 para se avaliar o doenças metabólicas. Deve-se avaliar o eixo GH-IGF-1 e cariotipagem em todas ambiente dinâmica as meninas para pesquisa de Síndrome psicossocial familiar, o desempenho de Turner e em meninos com alterações pode estar social e associada a 49 celíaca, metabolismo no antropométricos dos pais, como a altura, alvo. do alcalina da corotoparasitológico função tireoidiana. Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 em genitália. descrito indireta da secreção do GH, através da apresenta altura no Z score de -3 e não dosagem dos peptídeos IGF-1 (Insulin- apresenta outras causas que pudessem like growth factor-I ou Somatomedina- justificar como: C), IGFBP-3 (proteína ligadora do IGF- sistêmicas 1) e a subunidade ácido-lábil (ALS), descompensadas, iatrogenias, ambiente mostraram-se eficazes por apresentarem familiar hostil, bem como baixa estatura concentrações sanguíneas relativamente familiar (avaliação da estatura alvo / estáveis em 24 horas e refletirem a potencial genético) secreção genéticas familiares a O SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS paciente baixa desnutrição, estatura, doenças ou doenças conhecidas. A do GH. (CONSELHO FEDERAL DE ausência de anormalidades genitais (PAULA; CZEPIELEWSKI, tornou desnecessária a avaliação do (JORGE, 2008) Por cariótipo deste paciente. (JORGE, 2008), diagnóstico (PEREIRA, 2009) MEDICINA, definição, a ser 2004), o utilizado 2008), teste no o rastreamento da DGH deve ser sensível, diagnóstico da deficiência de hormônio ou seja, deve oferecer a possibilidade de do crescimento (DGH) foi estabelecido incluir todos os verdadeiros portadores em do Durante muitas bases puramente décadas clínicas, distúrbio em uma população considerando- se, principalmente, o avaliada. Além da alta sensibilidade, grau de retardo de crescimento, a deve ser de fácil aplicação, baixo custo velocidade de crescimento (VC), o e pouco invasivo. Rotineiramente a quadro as abordagem laboratorial inicial dos casos deficiências hormonais associadas, a de baixa estatura onde se suspeita de presença hipotálamo- uma deficiência ou insensibilidade ao hipofisária estabelecida e a história GH é realizada com a dosagem de IGF- familiar. A análise direta da secreção do 1 e IGFBP-3 e radiografia de mão e GH por meio da dosagem basal do punho para determinação de idade hormônio se mostrou ineficaz para o óssea. A avaliação da idade óssea por diagnóstico de sua deficiência, em meio da radiografia de mão e punho virtude e esquerdos é recomendada já que o grau predominantemente noturna. A análise de atraso de idade óssea pode auxiliar a clínico de da característico, doença secreção pulsátil 50 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS definir o grupo de doença em que se encaixa o paciente e é usada para calcular a previsão da estatura final. O paciente em questão apresentou dosagem de IGF-1 = 52 (valor de referência para faixa etária 183 a 850 ng/ml), dosagem de IGFBP-3 = 2,4 (valor de referência para faixa etária 3,1 a 9,5 mcg/ml) e radiografia de mão e punho pelo método de Greulich– Pyle revelou idade óssea de 12 anos. (PAULA; CZEPIELEWSKI, 2008), (JORGE, 2008), (PEREIRA, 2009) Depois de serem realizados os testes de rastreamento, faz-se necessário utilizar testes que confirmem com segurança o diagnóstico da DGH (tabela Os valores do ponto de corte 1). Em 1999, foi realizada uma pesquisa devem ser específicos para cada tipo de pelos médicos da Sociedade Europeia teste. Esses testes podem apresentar de resultados falso-positivos, por isso, um Endocrinologia Pediátrica que identificou 13 testes de estimulação de segundo secreção de GH em uso. Não há teste deficiência de GH tem sido feito. No ideal, caso todos apresentam efeitos do teste para paciente confirmar relatado a foram colaterais (hipoglicemia para o teste de solicitados dois testes confirmatórios: estímulo da insulina e hipotensão teste da clonidina e teste de estímulo da associado à sonolência para o teste da insulina. O primeiro apresentou valores clonidina) sendo a avaliação do melhor (pico) de GH abaixo da referência para teste feita de maneira individualizada. a idade indicando a deficiência de GH. (PAULA; Posteriormente a GHD foi confirmada CZEPIELEWSKI, 2008), pelos valores (picos) de GH abaixo da (PEREIRA, 2009) referência para idade no teste de 51 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS estímulo da insulina (ITT). Para se hormonais (TSH e T4-livre, tentar diminuir o índice de falso- exemplo) dentro positivo o uso de esteróides em altas referência. doses por um curto período de tempo (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, antes do teste de secreção de GH, ao 2004) dos por valores (PEREIRA, de 2009), qual se dá o nome de “priming”, pode No caso clínico apresentado o ser utilizado. Porém não há consenso na diagnóstico feito foi de baixa estatura sua prática. (PAULA; CZEPIELEWSKI, por deficiência do hormônio GH, sendo 2008), (PEREIRA, 2009) a principal vertente de tratamento a Na avaliação da criança com reposição do hormônio. Os objetivos do diagnóstico confirmado de GHD, o tratamento são vários, abrangendo os exame de RNM da região hipotálamo- aspectos físicos e psicossociais da hipofisária deve ser realizado para criança, tais como: atingir boa altura na avaliação vida região. anatomo-morfológica Uma deficiência da adulta, permitir normalização hormonal uma rápida (catch-up) do criança não crescimento, atingir pico de massa óssea permanecerá como satisfatório, permitir à criança qualidade única, isoladamente. Assim, a DGH de vida satisfatória, permitir que a pode ser a primeira manifestação de um criança entre na puberdade (induzida ou pan- hipopituitarismo e, posteriormente, espontaneamente) manifestarem-se as outras deficiências. normal ou atingir uma altura que Portanto, devemos estar atentos para a permita uma puberdade normal. O necessidade reavaliações tratamento deve ser individualizado de diagnósticas No caso citado a RNM acordo com as necessidades de cada realizada de criança. A dose inicial recomendada de dimensões reduzidas. hGH , ou Somatotropina Recombinante diagnosticada na necessariamente de evidenciou hipófise com presença com uma altura glandulares Humana, é de 0,67 mg/m2 de superfície reduzidas, o paciente não apresenta corpórea (equivalente a 2 U/m2) ou 33 sinais e sintomas que nos façam pensar μg/kg de peso (equivalente a 0,1 U/kg), na eixos administrado níveis subcutânea, à noite (3U = 1 mg). A dose Apesar das dimensões deficiência hormonais, de outros apresentando 52 diariamente por via Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS de hGH pode ser aumentada caso não inversus, porém se apresentando com haja do quadro multissistêmico e com presença crescimento nos primeiros dois anos de de outras características (polidactilia, tratamento ou em pacientes com baixa por exemplo). estatura mais grave e idade mais suspeita etiológica no caso apresentado, avançada. O necessita-se de investigação diagnóstica apresentou resultados satisfatórios com compensação (catch-up) paciente avaliado terapêuticos ganho adicional estatural do Portanto, apesar da paciente apresentado, podendo a BE estar associada a alguma adequado e elevação da velocidade de síndrome crescimento. (CONSELHO FEDERAL apresentação atípica ou serem duas DE MEDICINA, 2004) características que apenas coexistem. Outro ponto que merece atenção pouco CONCLUSÃO GHD neste paciente. Evidenciou-se a O da dimensões glândula hipófise reduzidas, porém ou de (OOSTDIJK et al., 2009) se relaciona à natureza etiológica da presença conhecida de presente relevância sem devido caso a merece raridade de associação de BE e situs inversus, uma nenhuma outra alteração estrutural ou vez hormonal específica. No entanto, o semelhante paciente Apesar da existência de múltiplas apresentou outro achado que existe apenas relatado na caso literatura. expressivo que leva a questionar a síndromes associação da GHD como parte de uma estatura manifestação Segundo corporal, não se sabe se este caso trata- Oostdijk et al. (2009), existem múltiplas se de uma síndrome pouco conhecida ou síndromes associadas à baixa estatura e apenas quando se comprova a presença de características, alterações da estrutura corpórea, no caso aprofundamento apresentado o situs inversus totalis, a diagnóstica. investigação sindrômica. diagnóstica deve que um e relacionem alterações da de coexistência baixa estrutura de duas necessitando de da investigação ser REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS focada na presença de síndromes. Existe 1. CONSELHO apenas um relato de caso na literatura FEDERAL DE MEDICINA (Brasil). Sociedade da associação entre BE por GHD e situs 53 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Brasileira de Pediatria. Baixa Crescimento. Estatura Endocrinol Metab, [S.L], v. 52, por Hormônio Deficiência de do Crescimento: 6. LIMA, São Paulo, p.1-14, 31 ago. 2004. FEDERAL Bras n. 5, p. 1056-1065, 2008. diagnóstico. Projeto Diretrizes, 2. CONSELHO Arq Thalita Fonseca. 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Devido a sua baixa incidência e evolução relativamente benigna e arrastada, além da baixa especificidade que apresenta o estudo anatomopatológico, a variante folicular é alvo de controvérsias e, ao contrário do carcinoma papilífero, existem poucos estudos na literatura abordando diagnóstico, tratamento e evolução do CF. Este trabalho consiste na análise de 20 artigos publicados no período de 2006 a 2016, tendo por objetivo uma revisão atualizada sobre o diagnóstico e conduta do carcinoma folicular de tireoide, ressaltando as principais mudanças na abordagem desse carcinoma nos últimos dez anos. Palavras-chave: Carcinoma folicular; Carcinoma folicular de tireoide; Anatomopatológico. PAAF; Tireoidectomia. ¹Acadêmica(o) do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, TO, Brasil. E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected] ²Médica graduada pela Universidade Federal do Tocantins, médica da Estratégia de Saúde da Família do município de Silvânia-GO. E-mail: [email protected] ³Médico da Estratégia de Saúde da Família do município de Ribeirão Preto-SP. E-mail: [email protected] 4 Professor e Chefe da disciplina de Patologia do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, TO, Brasil. E- mail: [email protected] Autor para correspondência: Rafaela Enely Coelho Moraes, Quadra 308 Sul Alameda 10 Nº 09 Residencial Porto Seguro Bloco 06 Apt 403 Plano Diretor Sul, Palmas-TO, CEP: 77021068; Tel.: (63) 99986-0686; e-mail: [email protected]. 56 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE: UPDATE ON FOLLICULAR THYROID CARCINOMA ABSTRACT The thyroid gland cancer is a relatively rare disease, and accounts for approximately 1% of all cancers. The differentiated carcinomas account for 80% of thyroid tumors and include two different histological subtypes: papillary carcinoma (PTC) and follicular (CF). Although similar, they have different prognoses, and follicular subtype responsible for 1025% of malignant tumors of this gland, varying widely with the population studied. Because of its low incidence and relatively benign and dragged evolution, also it's low specificity in the present pathological study, the follicular variant is the subject of controversy and, unlike the papillary carcinoma, there are few studies addressing diagnosis, treatment and evolution of the CF . This work consists of the analysis of 20 articles published in the period 20062016, with the objective of an updated review on the diagnosis and management of follicular thyroid carcinoma, highlighting the major changes in approach that carcinoma in the last ten years. Keywords: Follicular Carcinoma. Follicular Thyroid Carcinoma. Anatomic pathology. PAAF. Thyroidectomy. 57 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS INTRODUÇÃO O METODOLOGIA carcinoma da glândula O presente estudo consiste em tireoide (CT) é relativamente raro, uma revisão da literatura publicada no correspondendo a aproximadamente 1% período de 2006 a 2016, com base na de todos os carcinomas. No entanto, a importância e diversidade do tema. incidência do câncer diferenciado de Foram definidos os descritores por meio tireoide (CDT) está aumentando de de pesquisa na Biblioteca Virtual em forma significativa nos últimos anos, Saúde (BVS), tendo por base os tanto a nível mundial quanto local3,14,36. Descritores em Ciências da Saúde Em contrapartida, a mortalidade vem (DeCS). Os critérios de inclusão foram diminuindo consideravelmente. artigos em inglês, português e espanhol que Dentre os tumores tireoidianos, maligno mais comum. aspectos A prognóstico. maioria dos estudos analisa em conjunto clínicos, As tratamento e palavras-chaves foram: “Follicular thyroid carcinoma”, prognóstico do carcinoma papilar (CP) “Follicular carcinoma”, “El carcinoma é diferente do carcinoma folicular (CF). folicular de tireoides”, “Carcinoma A variante folicular é menos frequente folicular” e “Carcinoma folicular de (10-25% dos carcinomas diferenciados) tireoide”. Os artigos foram selecionados e mais agressiva, sendo sua incidência nas bases de dados SciELO, LILACS, muito relacionada com o déficit de iodo PubMed e Bireme. Este trabalho visa populacional27,28,29. interpretar e sintetizar as informações Essa análise conjunta, por razões frequência, epidemiologia, utilizadas para pesquisa bibliográfica os diferentes subtipos, no entanto, o de sobre fatores de risco, tipos histológicos, o diferenciado já é considerado o subtipo discutem heterogeneidade destacando as principais mudanças no e que se refere ao carcinoma folicular de prognóstico, dificulta o conhecimento tireoide nos últimos dez anos. do real comportamento deste tumor. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE Além disso, os fatores prognósticos RISCO identificados na maioria dos estudos são mais preditivos para o CP do que para o Os CT representam 1 a 1,5% de CF, o que dificulta a abordagem dessa todos os tumores nos EUA, país onde última variante27,28,29. surgem dezessete mil novos casos, com 58 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS mil e duzentas mortes por ano devido a parte, estes tumores (o que perfaz cerca de diagnóstico e a redução da mortalidade 60% do número total de mortes ao diagnóstico precoce, ao tratamento provocadas por tumores endócrinos efetivo e à diminuição da incidência do malignos). No Brasil, estes números são carcinoma anaplásico3. proporcionais, ocorrendo 66 novos ao aperfeiçoamento Fatores ambientais, em especial casos em cada 100.000 habitantes por a deficiência de iodo, têm papel ano3. importante Correspondem às do na patogênese desses neoplasias tumores. Outros fatores de risco são a malignas endócrinas mais frequentes radioterapia externa na infância e (cerca de 90% do total) e têm uma adolescência, incidência anual de 0,5 a 10 casos por ionizante e doença preexistente. A cem mil habitantes no mundo. Tal como existência de duas síndromes familiares as patologias da tireoide em geral, os incomuns, Síndrome de Gardner e carcinomas dessa glândula são, também, Doença de Cowden, que incluem o mais frequentes em mulheres. Os CP carcinoma chegam a ser 3 a 4 vezes mais manifestações, e os carcinomas de frequentes em mulheres do que em tireóide homens e, apesar de poderem surgir em demonstra a importância de fatores qualquer idade, geralmente aparecem genéticos na patogênese do CT. antes dos 40 anos. Há, também, casos exposição de tireoide familiares não à radiação entre suas medulares, Desta forma, evidencia-se que a raros de CP congênito. carcinogênese é um processo complexo, A incidência do CF está muito constituído por uma série de eventos relacionada com o déficit de iodo, induzidos porém essa relação tem diminuído ambientais que alteram o controle do muito com a suplementação alimentar crescimento de iodo. Existem variações importantes devido a mutações sucessiva de genes na cujos produtos conferem vantagem no população, estima-se que sua incidência seja de 1-2 casos para cada por fatores celular, genéticos e provavelmente crescimento de células afetadas. 100.000 mulheres/ano e 0,4-0,5 casos TIPOS para cada 100.000 homens/ano. O HISTOPATOLÓGICOS CARCINOMA DE TIREOIDE aumento da incidência deve-se, em 59 DO Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS As neoplasias da tireoide são do número total de carcinomas desta classificadas de acordo com o tipo glândula histológico folicular, prognóstico, com curvas de sobrevida carcinoma papilar, carcinoma folicular, que se superpõe às da população em carcinoma anaplásico ou indiferenciado geral nos tumores restritos à glândula e carcinoma medular. A maioria dos tireóide. O CP apresenta as seguintes tumores tireoidianos, com exceção do variantes medular, deriva-se da célula folicular, folicular, que origina neoplasias benignas e colunares, células claras e carcinoma malignas com diferentes características esclerosante biológicas, fenotípicas e clínicas. Os multicêntrico em 20 a 80% dos casos e carcinomas papilífero e folicular são bilateral considerados carcinomas diferenciados, Recentemente, uma vez que mantêm semelhança avaliaram se focos não contíguos do estrutural e funcional com o tecido tumor sugerem metástases de um tumor em adenoma tireoidiano normal O tireóide, 3,24,28 . medular o histológicas: células encapsulado, altas, difuso. em melhor O cerca Shattuck células tumor de é 30%. e cols. clones com precursores independentes. da Os autores concluem que em pacientes neuroendócrino com carcinoma papilar multifocal os originário das células parafoliculares, tumores focais surgem como tumores corresponde a 5% dos casos, e o independentes3,24,27,28,29. carcinoma anaplásico que deriva da rediferenciação dos CDT é responsável por possuem primário único ou se originam de novos carcinoma tumor e aproximadamente O CF corresponde a 15 a 25% de 1% dos todas as neoplasias da tireóide, tendo a tireóide. O incidência aumentada nas áreas de destes deficiência de iodo e bócio endêmico. variado, Geralmente possui um comportamento baixo mais agressivo do que o carcinoma potencial letal até formas extremamente papilar, com tendência à disseminação agressivas e de alta mortalidade28,29. hematogênica carcinomas de comportamento biológico tumores muito é compreendendo formas de fígado Os CP são os mais frequentes da tireoide. Segundo a e para cérebro. ossos pulmões, Comparando a paciente com CP, os pacientes com CF literatura, apresentam, ao diagnóstico, idade e representam valores entre 60% a 80% estágio clínico mais avançado. 60 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS O CF é encapsulado e a invasão anaplásico de tireoide, porém ainda é de da cápsula e vasos é o que distingue do pouca adenoma folicular. Duas formas são diferenciar lesões foliculares. Isso se reconhecidas de acordo com o padrão deve à baixa sensibilidade do método de invasão: minimamente invasivo e para vastamente ou amplamente invasivo. O (adenoma folicular) e malignas (CF e a padrão de crescimento também pode variante folicular do CP). Além disso, variar de uma forma bem diferenciada a não uma forma pobremente diferenciada. O vascular nem capsular5,28. carcinoma de células de Hurtle é uma ajuda quando distinguir permite se trata lesões de benignas diagnosticar invasão Para melhorar a sensibilidade variante mais agressiva do carcinoma diagnóstica da PAAF no CF, novas folicular. A disseminação faz-se por via técnicas têm sido utilizadas, como hematogênica, com metástases para imunohistoquímica pulmão e ossos mais frequentemente28,29 e diagnóstico molecular. Várias moléculas têm sido relacionadas ao processo cancerígeno e propostas como malignidade marcadores tireoidiana, como: de a telomerase, a tireoperoxidase, o sulfato de queratan, o grupo de proteínas de alta Tabela 1.Tipos histológicos do CF de tireoide. mobilidade I (Y) (HMGI [Y]), antígeno DIAGNÓSTICO mesotelial HBME-1, Até o momento não existe uma citoqueratina técnica diagnóstica confiável, incluindo são e a a galectina-3 tendo detectado a expressão de mais de operatório. Aproximadamente 20% dos tireoide tiroperóxidas, sobre a expressão de vários genes, já carcinoma folicular de tireoide no pré- de 19 superfície (GAL3). Também se tem atualizado a PAAF, para distinguir e diagnosticar o nódulos as de o 100 gentes. A fusão do oncogene lesões PAX8/proliferador foliculares, e, destes, somente 20% são de peroxidase- receptor gama (PPARg) tem sido carcinomas. A PAAF tornou-se o identificada em aproximadamente 25- melhor método em termos de custo e 50% dos casos de CF, produzindo uma acurácia para diagnóstico pré-operatório translocação entre as regiões 3p25 e de neoplasia papilífera, medular e 2q136,10,17,27,28,29,33. 61 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Embora os avanços estejam intra-operatório depende de uma série acontecendo de maneira vertiginosa, os de fatores, incluindo a experiência do resultados patologista, são, frequentemente, o número de cortes discrepantes no que se refere a utilidade examinados e o tempo disponível para o de vários marcadores propostos como patologista analisar adequadamente as indicativos de malignidade. Alguns amostras, lembrando que quanto mais estudos mostram que em comparação material for utilizado neste exame, com menos restará para fixação e inclusão na a utilização isolada dos parafina14. marcadores, a combinação sequencial deles é mais útil. Nesse sentido, muitos Quando realizada de maneira estudos defendem que a combinação do correta, GAL3 e HBME-1, e a do GAL3 e da citoqueratina 19 melhoram a biópsia intra-operatória permite que o procedimento definitivo a seja sensibilidade da PAAF6,10,17,27,28,29,33. realizado logo na primeira intervenção, evitando uma segunda Por último, vale ressaltar a cirurgia ou uma cirurgia agressiva análise da mutação BRAF (V600E), desnecessária. embora sua utilidade maior seja para considerada uma técnica dispendiosa seleção de nódulos com com citologia indeterminada (AUS/FLUS), e possui uma No relação entanto, é custo-benefício ineficiente para o diagnóstico de CF. maior especificidade para o CP do que para o CF, não sendo muito útil para o ESTADIAMENTO DO CDT diagnóstico do CF. A mutação RAS O estadiamento clínico permite pode ser importante na identificação da variante folicular do CF e, inclusive, do determinar próprio CF, no entanto, são necessários tratamento, mais resultados obtidos no seguimento dos estudos para ratificar esses resultados3,6,10,17,28,33. pacientes. uma bem Várias estratégia como avaliar classificações de os de estágio já foram propostas e grandes O diagnóstico definitivo de CF séries de casos avaliadas de modo só pode ser dado com a análise retrospectivo, dentre elas: UICC/AJCC, histológica após a tireoidectomia, a qual EORTC, está sempre indicada. A sensibilidade e AGES, AMES, MACIS, 13 Classificação clínica e de Ohio . especificidade do exame de congelação 62 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS total ou subtotal é o procedimento de escolha. O principal problema é que o diagnóstico definitivo do CF geralmente só é estabelecido com o paciente já operado, o que dificulta uma abordagem mais conservadora. Atualmente existe Tabela 2.Comparação dos diferentes fatores um consenso que defende que a usados em sete diferentes classificações de lobectomia é adequada somente em dois estadiamento. A classificação casos: tumores menores que 01 cm, UICC/AJCC é unifocal, sem invasão vascular nem determinada pelo sistema TNM (tumor, exposição prévia a radiação ou CF lymph nodes, metástases) incorporando minimamente invasivo inferior a 3-4 cm idade ao diagnóstico e tipo histológico2,23,25 sem invasão vascular8,27,28,29. . Em todos os outros casos a maioria dos estudos indica que a lobectomia é fator de risco independente para recorrência tumoral e, por isso, aconselham a realização de Tabela 4.Classificação TNM de extensão tireoidectomia total. Outra alternativa, tumoral e classificação UICC/AJCC de em casos de tireoidectomia subtotal, estadiamento tumoral. com diagnóstico pós-operatório de CF, é associar a ablação com radioiodo (I131) para ablação de remanescentes tireoidianos pós-cirúrgicos, destruição de focos microscópicos de câncer e Tabela 5.Parâmetros utilizados para tratamento de metástases1,27,28,29. No a entanto, sua efetividade é reduzida nos classificação TNM casos em que se deixa um lobo inteiro TRATAMENTO E PROGNÓSTICO da tireoide, sendo recomendada, nesses A excisão cirúrgica do tumor é o casos, um segundo tempo cirúrgico para tratamento primário para CDT, e, em se realização da tireoidectomia total. tratando do CF, se estabelece com base na extensão tumoral. A tireoidectomia 63 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS O CF possui menor tendência de inicial26,27,28. tratamento Alguns disseminação linfática do que o CP, pacientes apresentam logo o esvaziamento linfonodal só é agressiva, com indicado mediante forte suspeita de quando comprometimento linfonodal no pré ou tumores grandes e invasivos. Para esses intra-operatório. as chances de recorrência e morte Os benefícios do discutidos, e não há evidências de que diagnóstico tardio, apresentam metástases, Os indicadores de prognóstico reduzam os índices de recorrência ou mais comumente associados com a mortalidade e ainda pode aumentar a pós-operatória. doença aumentam drasticamente8,37. esvaziamento central profilático são morbidade já uma recorrência da doença, metástase e Alguns morte incluem a idade do paciente, o autores defendem o fato de permitir subtipo histológico e a extensão do uma maior segurança no estadiamento tumor no diagnóstico. Outros fatores do CF8,37. como a graduação histopatológica e Quanto às metástases à distância ploidia do DNA também foram do CF, a melhor opção terapêutica é a propostos em algumas classificações. ressecção sempre que acessível. Deve- Recentemente, a extensão do tratamento se associar o I131 nesses casos, ou cirúrgico e o uso da terapia adjuvante utiliza-lo como monoterapia, sempre têm que as lesões sejam captantes de importantes na evolução dos pacientes iodo27,28,29. Em casos refratários ao com tratamento com I131 a melhor opção é a apontado por alguns autores, sendo o radioterapia local1,8,37. sexo Aproximadamente 80% 5 a O como gênero masculino fatores também considerado é fator negativo independente . O tamanho do tumor e extensão desenvolverão da doença como fatores preditivos de metástases à distância. A chance de uma evolução positiva ou negativa são recorrência é maior nos primeiros 5 a 8 unanimidades anos após o diagnóstico, sendo de 50% principalmente no que se refere à nos primeiros 5 anos, mas podem invasão ocorrer distância. Há controvérsias quanto à várias 10% CDT. 8,36,37 inicial, 20% apresentarão recorrência e descritos prognóstico dos pacientes são curados com o tratamento local sido décadas após o 64 local entre e às os autores, metástases à Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 inclusão de SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS cervicais no CP e amplamente invasivo ou pouco ipsilaterais na classificação de risco. diferenciado no CF) são considerados Quanto de risco elevado29. ao prognóstico linfonodos tipo dos histológico, carcinomas o bem A extensão da terapia inicial diferenciados do epitélio folicular da também pode determinar uma melhor tireoide - papilares e foliculares - é ou pior evolução do CDT. Cirurgias excelente: a sobrevida aos 5 anos é de menos conservadoras, para retirada da 94% em mulheres e 90% em homens ; doença aos 10 anos a sobrevida mantém-se em cerca de 90%. Pelo prognóstico de carcinomas prognóstico diferenciados dos a um ano. carcinomas está entre de radioiodo adjuvante e terapia um prognóstico mais favorável. ruim: geralmente os doentes têm uma inferior exploração supressiva de TSH, parecem determinar indiferenciados (anaplásicos) é muito sobrevida a linfonodos cervicais, bem como o uso contrário, o dos residual, O pouco o Tabela dos 6. Estratificação de risco pós- operatório dos pacientes com carcinoma carcinomas bem diferenciados e o dos diferenciado da tireoide baseada na ressecção carcinomas anaplásicos29. tumoral e nas características do tumor O prognóstico dos definidas pela classificação do TNM. CDT é favorável na maior parte das vezes, no entanto a doença pode ter um curso agressivo e 20% dos casos desenvolvem SEGUIMENTO recorrência loco-regional ou metástases à distância. Pacientes com invasivo apresentam seguimento pós-cirúrgico é a detecção entanto, precoce de doença recidivante ou pacientes com menos de 16 anos ou persistente. A definição de um esquema mais de 45 anos, tumor grande (> 1,5 mais efetivo é alvo de grandes debates cm), extensão tumoral além da cápsula na tireoidiana ou comprometimento de monitoramento linfonodos e determinados subtipos através de exame clínico, exames de histológicos imagem (rastreamento corporal total minimamente ótimo prognóstico. (células No altas, CF O células colunares e variante esclerosante difusa com 65 principal literatura. radioiodo De objetivo forma deve e ser geral, do o realizado ultrassonografia Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS cervical) e da dosagem sérica de sendo a técnica preconizada e mais tireoglobulina (TG). Outros métodos utilizada na abordagem do CF. O podem esvaziamento linfonodal do CF só é ser adicionados conforme necessário, por exemplo, RX de tórax, recomendado tomografia computadorizada e o PET acometimento linfonodal, não devendo scan4,27,28,29. ser realizado de forma profilática. A Na ausência de mediante suspeita de ablação do tecido tireoidiano no CF tecido diminui a chance de recidivas e facilita tireoidiano normal, a TG é um marcador o sensível e específico da presença de seguimento com tireoglobulina, embora muitos pacientes nem precisem câncer, já que seus níveis devem ser dessa virtualmente indetectáveis em pacientes ablação para ter um bom prognóstico. com ablação total da tireoide. Sua detecção nesses pacientes indica doença residual ou recorrente32. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. M.; Et al. Thyroid lobe ablation CONCLUSÃO with radioactive iodine as an O CF além constitui a variante alternative de mais difícil diagnóstico entre os CDT term confiável para diferenciar o adenoma follow-up. Thyroid. 2012;22:369–76. folicular (benigno) do CF (maligno). A 2. PAAF ainda é o método mais utilizado, BESIC, N.; ZGAJNAR, J.; Et al., Is patient’s agea prognostic factor for mas somente a análise histopatológica follicular thyroid carcinoma in the da peça após tireoidectomia é capaz de Os after follicular thyroid carcinoma: Long- não existe uma técnica diagnóstica diagnóstico. completion hemithyroidectomy in patients with comparação com o CP. Até o momento o to thyroidectomy o que o torna de prognóstico ruim, em definir BARBESINO, G.; GOLDFARB, TNMclassification vários system? Thyroid. 2005;15:439---48. marcadores citológicos moleculares em 3. estudo não são úteis para aplicação BOTAS, J.; VIDAL, C. Grupos de riesgo en carcinomas diferenciados clínica e diagnóstico pré-operatório do de tiroides. Acta Otorrinolaringol CF. A tireoidectomia total continua Esp. 2011;62(1):14-19. 66 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 4. BRASSARD, M.; BORGET, I.; Et identification of minimally invasive al. 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Sua associação com a Tireoidite de Hashimoto é reconhecida e investigada há seis décadas e muitos fatores dessa relação permanecem inexplicados. o O objetivo deste trabalho é avaliar a associação entre o Carcinoma Papilífero de Tireóide e a Tireoidite de Hashimoto.Foi realizada revisão integrativa de artigos que objetivavam compreender essa relação sob qualquer aspecto, fosse ele epidemiológico, histopatológico ou clínico.Foram avaliados 8 estudos no total e observado que todos compararam pacientes com ambas as condições e pacientes que apresentavam somente o câncer. Uma média de 33,3% dos pacientes com o carcinoma também apresentaram a tireoidite. Neste grupo a média de idade foi de 44,8 anos, houve uma predominância de 92,6%de pacientes do sexo feminino e dentre as variantes histológicas do carcinoma, a multicêntrica foi a mais associada à presença da tireoidite. Além disso foi observado uma tendência a tumores de menor diâmetro e menos invasivos. Há uma relação importante entre as duas doenças e uma origem ainda indeterminada para essa associação. PALAVRAS CHAVE: Tireoidite; Doença de Hashimoto; Câncer de Tireóide ¹ Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Tocantins; ²Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Tocantins; ³Cirurgião de Cabeça e Pescoço e Professor na Universidade Federal do Tocantins na disciplina Saúde do Adulto 71 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS PAPILLARY THYROID CARCINOMA AND HASHIMOTO’S THYROIDITIS: AN INTEGRATIVE REVIEW ABSTRACT Papillary Thyroid Carcinoma is the most common malignant neoplastic disease of the thyroid gland. Its association with Hashimoto’s Thyroiditis is well known and has been studied for six decades. Many factors of this association remain unexplained. The main objective is to evaluate the association between the papillary thyroid carcinoma and Hashimoto’s thyroiditis. It was held an integrative review of articles whose goal was to research this association under epidemiological, histophatologycal or clinical aspects. There were 8 studies evaluated and in all of them, pacients with both conditions were compared with patients with the cancer only. An average of 33,3% of the patients with the carcinoma were also diagnosed with Hashimoto’s thyroiditis. On the group with both diseases the average age of diagnosis was 44,8 years old, there was a predominance of 92,6% of female patients, and among the histological variations of the carcinoma, the multicentric variation was the most present in association with Hashimoto’s thyroiditis. In addition, it was observed a tendency of smaller and less invasive tumors. There’s a significant relation between both diseases and the origins of this relation are still unknown completely. KEYWORDS: Thyroiditis; Hashimoto’s Disease; Thyroid Cancer 72 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS reconhecidamente pouco invasivo e INTRODUÇÃO O câncer neoplasia de endócrina tireóide bem diferenciado(COELI, 2005). a comum A Tireoidite de Hashimoto por (INCA, 2002), sendo o carcinoma sua vez é a principal causa de papilífero a neoplasia maligna mais hipotireoidismo em áreas onde não há comum tecido deficiência de iodo (CAMBOIM et al., tireoidiano (GIRARDI et al., 2013). Sua 2009). É doença auto-imune associada a incidência é estimada nos EUA em 30 a incapacidade 60 casos por milhão de habitantes destruírem anualmente, média compatível com a sensibilizados média global (MACIEL, 1998). Apesar tireoidianos(SEFERIN et al. , 2013), de valores gerando destruição imunomediada de pequenos, especialmente se comparados folículos tireoidianos. É um distúrbio com outras modalidades de carcinoma que afeta mais frequentemente mulheres maligno – os carcinomas de tireóide que homens, numa proporção de 5:1, e a representam prevalência aumenta com a idade. a serem se mais é originar em considerados 1% neoplasias da incidência na de população entidades associado a avanços tecnológicos que possibilidades por carcinoma de tireóide, o que por sua então busca-se diagnósticas e terapêuticas aos pacientes acometidos vez é um fator associado diretamente ao por ambas as patologias.O presente (COLONNA, artigo tem, portanto, o objetivo de, alta através incidência, a sobrevida média global de revisão integrativa, condensar os conhecimentos obtidos por dos pacientes diagnosticados é de 95%, carcinoma desde âmbito do oferecimento de melhores mas uma redução na mortalidade global o e consequências que essa relação gera no demonstram um aumento na incidência sendo antígenos que sustentam tal relação e quais as hipótese é corroborada por estudos que relativa por compreender as bases histopatológicas permitem um diagnóstico precoce e essa da linfócitos conhecida a associação entre as duas Coeli (2005). Este aumento pode estar Apesar de de estudo de Dailey et al. (1955), é últimos anos como demonstrado por 2002). clones T Já desde a década de 1950 com o incidência tem aumentado muito nos precoce linfócitos (BRENTA et al., 2013). mundial(SEFERIN et al., 2013) – esta diagnóstico de papilífero 73 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS pesquisadores a fim de compreender Foram encontrados 21 artigos e globalmente essa relação. após avaliação preliminar dos resumos dos textos, foram selecionados 8, que preenchiam adequadamente o critério de MÉTODOS inclusão, em LILACS/SciELO com as excluídos 3 por duplicidade e 10 por não possuírem Foi realizada busca de artigos originais sendo plataforma como escopo o estudo da relação entre palavras- carcinoma papilífero de tireóide e chave “papilífero” “hashimoto” e o Doença operador booleano “AND” a fim de trabalhos restringir que estudos transversais retrospectivos com abordassem sob qualquer aspecto, seja pequenas variações individuais em seus ele histopatológico, epidemiológico ou métodos, essencialmente no que diz clínico, respeito à forma de obtenção dos a a busca relação a textos entre as duas de Hashimoto. selecionados Todos os constituem valores da variáveis analisadas. entidades clínicas, a saber, o Carcinoma Papilífero de Tireóide (CPT) e a Os oito estudos selecionados Tireoidite de Hashimoto (TH). Essa buscaram pacientes com diagnóstico de abordagem foi o único critério de CPT e avaliaram a presença de TH inclusão utilizado. Após seleção e associada. A partir daí definiram-se dois leitura dos artigos, foi realizada uma grupos: os pacientes com CPT isolada, catalogação das variáveis utilizadas e ou seja, sem TH; e os pacientes com aquelas que fossem comuns a dois ou CPT + TH concomitante. Por fim, esses mais artigos foram comparadas. As dois grupos foram comparados a partir variáveis não compartilhados foram da seleção de variáveis diversas. compiladas e foram devidamente Apenas as variáveis idade, sexo citadas neste estudo quando houve e a taxa de concomitância entre as significância estatística. Após definição doenças dentre os pacientes portadores dos resultados, foi realizada análise do câncer estão presentes em todos os crítica dos estudos selecionados e seus estudos. Em cinco, há avaliação da respectivos resultados variante histológica do CPT; Em quatro, RESULTADOS há comparação quanto ao diâmetro do tumor; 74 A necessidade de Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS linfadenectomia por invasão linfonodal variante multicêntrica do CPT, que seria e ocorrência de invasão neurovascular a variante mais associada à presença da foram TH. Os demais autores relataram uma considerados em dois dos estudos; e as variáveis: estágio clínico possível do CPT; estadiamento pelos parâmetros associação, sem no entanto estabelecer N e M; presença de cápsula; e expressão uma significância estatística sólida. do fator de transcrição FOXP3 foram, tendência O cada qual, avaliadas em somente um quanto diâmetro do a essa tumor foi comparado em 4 dos estudos e em todos estudo. foi A porcentagem média entre observado tumores de a associação menor entre diâmetro em todos os trabalhos avaliados da presença pacientes que apresentam ambas as de TH em pacientes diagnosticados com condições CPT foi de 33,3% com máximo de Cordioli et al. (2013) demonstrou 42,5% e mínimo de 25%. estatisticamente a relevância desses clínicas, mas somente valores. Quanto à idade, não houve diferença significativa entre os dois Percebeu-se uma tendência à grupos. A média de idade do grupo de multifocalidade em tumores associados pacientes que apresentou somente o à TH e no trabalho realizado por CPT, dentre todos os estudos, foi de Cordioli et al. (2013), essa diferença foi 44,3 anos. Os pacientes com CPT + TH estatisticamente significativa. A invasão tiveram uma média de idade de 44,8 neurovascular foi identificada como anos. razoavelmente menor em pacientes CPT + TH, mas não se pode afirmar a Quanto ao sexo, foi observada existência de uma associação direta. Já uma predominância do sexo feminino a invasão linfonodal foi buscada em com 81,7% dos casos de CPT isolado. dois estudos e em ambos foi observada Em 92,6% dos casos de concomitância, uma as pacientes eram do sexo feminino. maior necessidade de linfadenectomia por invasão linfonodal A variante histológica foi no grupo de pacientes CPT + TH. comparada entre os dois grupos mas Apenas Girárdi et al. (2015) somente Seferin et al. (2013) observou realizou o estadiamento TNM dos significância estatística entre os dois tumores grupos quanto ao acometimento da 75 avaliados e avaliação de Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS estágio clínico da doença. Foi observada entre o CPT e a TH e de que ela uma tendência a estágios mais precoces representa uma maior chance de um de evolução, com T1, N0 e M0 mais prognóstico satisfatório e uma neoplasia prevalentes no grupo CPT + TH e menos invasiva. Diversos estudos como estádios T2, T3, T4, N1a, N1b e M1 os de Loh et al.(1999) e Kashima et mais prevalentes em pacientes com CPT al.(1998) apresentam esta mesma noção isolada. otimista Além disso 80,4% dos quanto à concomitância pacientes CPT + TH encontravam-se diagnóstica. Nesses estudos houve ainda em estágio clínico I, contra 67,2% dos o acompanhamento a longo prazo dos pacientes CPT isolado. pacientes a fim de avaliar a taxa de recorrência do CPT, que foi avaliada Camboim et al.(2009) decidiu como menor nos grupos CPT + TH. considerar a presença de cápsula, Essa variável não foi avaliada em observando que em pacientes com CPT nenhum sem TH, 50% dos tumores eram afirmando não haver diferença no apresentavam cápsulas. O teste de a selecionados. quanto a este tema, com autores + TH apenas 16,7% do tumores demonstrou estudos Apesar de ainda existir certo debate encapsulados, e em pacientes com CPT Fischer dos prognóstico de pacientes CPT + TH significância (MUZZA et al., 2010), estatística desse valores. a hipótese inicial tem mais força, e todos os Neves Junior et al. (2013), por estudos sua vez buscou a associação entre a expressão do fator de avaliados nesta revisão a corroboram. transcrição Um debate importante no meio FOXP3 e a relação entre o CPT e a TH científico diz respeito à origem desta e concluiu que o fator de transcrição associação. Nesse âmbito é importante está igualitariamente distribuído entre recordar pacientes com CPT isolada e pacientes o papel de fatores imunológicos na gênese da neoplasia. O com CPT + HT. papel da inflamação na carcinogênese é notório e o microambiente tumoral é, por natureza, inflamatório (MAITRA; DISCUSSÃO ABBAS, 2004). Este fato pode nos Os estudos avaliados reforçam a direcionar para a ideia de que o CPT noção de uma associação significativa nos casos de associação com a TH tem 76 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS sua gênese na própria TH. Vários FOXP3 estudos debatem esse assunto, mas não independentemente da presença da TH, há conclusões definitivas. Existem sim, esse estudo representa um passo na diversos marcadores tumorais como busca pela compreensão desta relação. Gal-3, Hbme-1, Fn-1 e P63, que podem feminino duas patologias como demonstrado por na promovem a carcinogênese, como a condizente com a realização de uma análise comparativa entre a incidência por regulação da apoptose, por exemplo. gênero Além disso, há uma associação já bem entre os dois grupos de pacientes, já que a amostra de pacientes definida entre a apresentação de CPT + TH é que possivelmente gerou dificuldades em diversos processos que se alterados com CPT (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2004), o al., 2013). Tais marcadores podem atuar pacientes ao epidemiologia de ambas as doenças Prasad et al. (2004 apud SEFERIN et em associado A predominância do gênero ter relação causal na associação entre as TH está do gênero masculino em todos os que estudos foi muito reduzida. expressam os oncogenes RET/PTC-1 e A RET/PTC-3 (RHODEN et al., 2006 variante histológica apud ALCANTARA-JONES et al., multicêntrica do CPT foi a mais 2015) observada em todos os estudos revisados que se propuseram a analisar Dentre os estudos revisados, essa variável. Esse dado tem muita apenas Neves Junior et al. (2015) relevância por ter sido pouco abordado buscou respostas dentro desta linha de em estudos internacionais e pode guiar pesquisa através da busca do FOXP3 – futuras investigações quanto à origem um fator de transcrição com papel ainda indefinido no desenvolvimento dessa associação. de alguns tipos de neoplasia, incluindo o CPT– nos dois grupos de pacientes a CONCLUSÃO fim de encontrar um ponto de partida Observa-se uma relação clara para compreender a diferença a nível entre celular entre o CPT isolado e o CPT + TH. Apesar do resultado as duas doenças estudadas. Existem, no entanto diversas incertezas não na fundamentação de tal relação. Os demonstrar diferenças entre os dois estudos revisados corroboram em sua grupos indicando que a expressão do 77 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS maioria as noções já obtidas no meio 2.BRENTA, G. et al. (Comp.). Clinical científico no que se diz respeito a essa practice guidelines for the management associação. A possibilidade da definição of hypothyroidism. Arquivos Brasileiros de um novo subtipo de CPT no futuro – de Endocrinologia & aquele associado à TH – apresenta-se Metabologia, [s.l.], v. 57, n. 4, p.265- como bastante concreta por existirem 291, jun. 2013. Disponível em: características <http://www.scielo.br/scielo.php?script que diferenciam significativamente a evolução clínica do =sci_arttext&pid=S0004- CPT isolado e do CPT + TH. No 27302013000400003&lng=en&nrm=iso entanto, na prática clínica pouco ou &tlng=pt>. Acesso em 01 maio 2016. nada muda. Não há estudos descrevendo possibilidades 3.CAMBOIM, D. C. et al. Carcinoma terapêuticas papilífero da tireóide associado à diferenciadas ou adaptadas a esse tipo tireoidite de Hashimoto: frequência e de caso e tanto os métodos diagnósticos aspectos histopatológicos. J. Bras. quanto os tratamentos descritos na Patol. Med. 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Acesso em 01 maio 2016. 81 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE CARCINOMA ESPINOCELULAR ORAL: UM PANORAMA ATUAL Carolina Nimritcher Valle1, Renata Moreira Marques Passos2, Jéssica Thaís Campos Lopes Gonçalves3, Camila Gomes4, Argemiro Manuel Torres Novaes Bastos5, Virgílio Ribeiro Guedes6 RESUMO O carcinoma espinocelular (CEC) representa o tumor mais frequente dentre todos dos cânceres localizados na topografia de cabeça e pescoço. Segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é que em 2007 cerca de 10,91 casos de câncer de boca foram diagnosticados para cada 100.000 homens e 3,58 para cada 100.000 mulheres. Este presente estudo é uma revisão da literatura, que foi baseado, e posteriormente construído, através da análise de dados, levantados na literatura, sobre o tema abordado. Foram realizadas pesquisas bibliográficas por meio, exclusivamente, das bases de dados da Pubmed, Scielo e LILACS, onde selecionou bibliografias entre os anos de 2001 a 2016. O câncer da cavidade oral, apesar de todos os avanços relacionados às técnicas de tratamento, ainda apresenta um prognóstico desfavorável, com elevadas taxas de mortalidade. O câncer de boca é uma patologia incidente mundialmente, sendo representada, principalmente, através do carcinoma espinocelular. Por isso, se faz necessário o seu estudo, para que assim, o diagnóstico e tratamento precoce sejam prontamente instituídos. Palavras chave: Câncer de boca; Neoplasia; Saúde; Diagnóstico; Prevenção; Tratamento. 1,2,3,4,5 - Graduandos do Curso de Medicina pela Fundação Universidade Federal do Tocantins. 6- Professor orientador: Mestrando em ciências da Saúde e Professor da Fundação Universidade Federal do Tocantins, Brasil. 82 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ORAL SQUAMOUS CELL CARCINOMA: ACTUAL OVERVIEW ABSTRACT Squamous Cell Carcinoma (SCC) is the most frequent tumor among all cancers located in the topography of the head and neck. According to the Ministry of Health, it is estimated that in 2007 about 10.91 cases of oral cancer were diagnosed for each 100,000 men and 3.58 for each 100,000 women. This study is a literature review, which was based, and later created, through data analysis, raised in the literature on the topic discussed. Literature searches were performed using exclusively Pubmed, Scielo and LILACS databases, which selected bibliographies between the years 2001-2016. The oral cancer, despite all the advances related to treatment techniques, still has a poor prognosis, with high mortality rates.Oral cancer is an incident worldwide disease and is represented mainly by squamous carcinoma. Therefore, its studies are necessary, so that the early diagnosis and treatment can be promptly institute. Keywords: Oral Cancer; neoplasia; Health; Diagnosis; Prevention; Treatment 83 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS caracteriza pela presença de atipias INTRODUÇÃO celulares e na perda da estratificação O carcinoma espinocelular (CEC) representa o tumor normal do tecido6. mais Dentre frequente dentre todos dos cânceres agentes fumo apresenta localizados na topografia de cabeça e carcinogênicos pescoço. Segundo o Ministério da importante função na etiologia de tal Saúde, a estimativa é que em 2007 cerca patologia, visto que em sua composição de 10,91 casos de câncer de boca sejam há presença de alcatrão e nicotina, diagnosticados 100.000 substâncias carcinogênicas, aumentando homens e 3,58 para cada 100.000 em duas vezes o risco para desenvolver mulheres19. tal neoplasia. Além disso, a associação para cada O CEC tem demonstrado o os entre fumo e etanol eleva em 141 vezes forte associação com a presença do a possibilidade vírus papiloma humana (HPV 16), patologia6. constituindo, atualmente, um fator de No de adquirir quadro clínico essa do risco adicional para o desenvolvimento carcinoma de células escamosas o sinal deste tipo de tumor26. Apresenta maior mais clássico é uma lesão ulcerada incidência entre as faixas etárias de 50 a persistente, 60 anos e uma predileção em localizar endurecimento e infiltração periférica, na região de língua e assoalho bucal6. podendo estar ou não associada à A etiopatogenia manchas está normalmente avermelhadas com ou relacionada com a presença de múltiplos esbranquiçadas e a vegetações22. Com fatores carcinogênicos atuando sobre o isso, todos os pacientes com lesões de epitélio normal, o que resulta em um mucosa de origem desconhecida e processo duração maior que 2 semanas deve ter de displasia, a qual se 84 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS um acompanhamento especial como um Foram selecionados artigos especialista26. publicados entre os anos de 2001 a O câncer da cavidade oral, 2016, sendo esses, escritos em inglês ou apesar de todos os avanços relacionados às técnicas de tratamento, português. ainda Devido as diferentes formas apresenta um prognóstico desfavorável, de indexação, nas bases de dados com elevadas taxas de mortalidade. bibliográficas avaliadas, optou-se por Segundo Sessions et al. (2002) a não usar controle do vocabulário. Com sobrevida ainda continua sendo baixa, isso, possibilitou a análise de uma maior cerca de 48% (sobrevida global) e 57% gama de referências envolvendo o tema (sobrevida específica para a doença) em em estudo. 5 anos19. Foram incluídos no estudo os artigos originais, realizados com humanos, relato de caso, artigo de revisão, contemplando ensaios clínicos MATERIAIS E MÉTODOS randomizados e controlados, e nos Este presente estudo é uma quais, foram avaliados os seguintes revisão da literatura, que foi baseado, e desfechos: epidemiologia, fatores de posteriormente construído, através da risco, análise na tratamento, prognóstico e seguimento. literatura, sobre o tema abordado. Artigos que apresentavam duplicidade Foram nas bases de dados avaliadas foram de bibliográficas dados, levantados realizadas por pesquisas quadro clínico, diagnóstico, excluídos do presente estudo. meio, Após exclusivamente, das bases de dados da aplicação de um método criterioso, para seleção dos Pubmed, Scielo e LILACS. 85 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS estudos, foram definidos os artigos que de cavidade oral e de orofaringe são compõem mais incidentes em indivíduos com o nosso trabalho. Vale salientar, que foram excluídos do ascendência estudo, as responsáveis pesquisas que não se Africana, por sendo estes, dos casos 13% diagnosticados14. enquadraram dentro do padrão adotado por essa revisão, já descrito acima. No Brasil, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de boca e de orofaringe representam REVISÃO DA LITERATURA incidentes as na neoplasias cabeça e mais pescoço, acometendo cerca de 390 mil novos Epidemiologia células casos por ano. Dentre estas, a maior escamosas da cabeça e pescoço é um parcela é representada, também, por grupo composto por variadas neoplasias neoplasias epiteliais do tipo carcinoma que possuem etiologia anatômica da de células escamosas ou carcinoma superfície mucosa da cavidade oral, espinocelular (CEC), sendo responsável orofaringe, hipofaringe, seios e outros por cerca de 95% dos tumores de locais dentro do trato digestivo superior. boca19. Carcinoma de Atualmente, representa uma patologia O câncer de boca e de bastante incidente e com altas taxas de orofaringe representa a quinta neoplasia mortalidade, sendo, respectivamente, mais incidente entre homens (9,2% dos em volta de 54.000 e 271.000 por ano14. casos de câncer) e a sétima entre as Um estudo, realizado nos mulheres (3,6% dos casos), excluindo o EUA, com pacientes com idade inferior câncer de pele. Além disso, apresenta a 45 anos, demonstrou que os cânceres uma variação da sua frequência dentro 86 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS do território brasileiro, sendo mais diversos fatores facilitadores de sua elevada em determinadas localidades iniciação, assim como alguns fatores de quando comparadas as demais, como é risco o caso da região Sul e o Sudeste19. probabilidade O carcinoma espinocelular, no Brasil, apresenta uma capazes de do aumentar a desenvolvimento neoplásico. A exposição a fatores de maior risco ambientais, relacionada ao prevalência na raça branca, gênero processo de industrialização, além das masculino e na faixa etária de 50 a 60 disparidades sociais, contribuem para a anos. Outro fator interessante associado distribuição a esse tipo de tumor é a incidência diversos tipos de câncer no Brasil25. epidemiológica dos relacionada à sua localização, que Dentre os fatores de risco geralmente ocorre na língua e assoalho clássicos, destacam-se o álcool e o bucal6. Além está tabagismo. Segundo Gupta; Metgud os (2013), o câncer bucal é, em grande fatores de risco do tabagismo ou parte, atribuível a agentes cancerígenos consumo tais ambientais. Dessa forma, a maioria das atividades, uma frequência mais elevada neoplasias em cavidade oral pode ser entre pacientes do sexo masculino e facilitada por hábitos como o álcool e o acima de 50 anos6. tabagismo, disso, o CEC frequentemente de associado álcool, com tendo combinados. principalmente se Majchrzak et al. (2013) mostraram em seus estudos que, em países onde a noz de betel é frequentemente mastigada, como em Fatores de Risco O carcinoma de células Taiwan, pacientes jovens representam escamosas da cavidade oral apresenta 16% e 28% de todos os pacientes com 87 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS câncer de língua. Wollf; Follmann; Nast Em seus estudos, Wollf; (2012) concordam com esse ponto de Follmann; Nast (2012) ressaltaram a vista, e em um estudo elaborado, faixa mostraram que em casos de carcinoma primordial para a neoplasia epidermóide de células escamosas de cavidade oral, o em odds ratio (OR) é de 19,8 para os autores, o câncer de cavidade oral é fumantes em comparação com os mais frequente em homens entre 55 e 65 pacientes que nunca fumaram, e 5,9 anos e em mulheres entre 50 e 75 anos. para o consumo de álcool (> 55 drinks/ Majchrzak semana). A combinação de tabaco e demonstram em seus estudos o papel da álcool leva a um efeito de multiplicação idade no câncer de células escamosas de (OR = 177). cavidade oral. Para eles, o carcinoma de etária como cavidade et oral. al. fator de Segundo (2013) risco estes também Em contraste a esse ponto células escamosas da cabeça e pescoço é de vista, Majchrzak et al. (2013) relatam primariamente uma doença de adultos que os pacientes mais jovens muitas mais velhos. Porém, ressaltam que vezes não apresentam os tradicionais estudos epidemiológicos têm mostrado fatores de risco de álcool e/ou exposição um aumento constante na incidência ao tabaco. Isso nos leva a suspeitar que desses cânceres em adultos jovens outros potenciais agentes, tais como (idade entre 18-45 anos), especialmente fatores inerentes genéticos, infecções em cânceres de orofaringe e cavidade virais risco oral. Sassi et al. (2009) realizaram uma estar revisão que concluiu que a idade média de dos pacientes é de 60 anos, e 95% dos e outros comportamentais envolvidos no fatores de podem processo carcinogênese. casos ocorrem após os 45 anos de idade. 88 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Numerosos relatos de virais. Os oncogenes virais carcinoma espinocelular concluíram que desempenham um papel central no a doença foi mais agressiva e com pior desenvolvimento prognóstico em adultos jovens do que cavidade oral. Grupta; Metgud, (2013) em pacientes de idade mais avançada. realizaram uma revisão a respeito do No entanto, nos resultados de estudos papel de partículas virais no processo de mais recentes, como os de Gilroy et al., oncogênese em neoplasias de células Goldenberg et al. ou Hafkamp et al. não escamosas em cavidade oral. Um dos foram encontradas quaisquer diferenças principais vírus que representa um fator significativas de risco para estas neoplasias são os nos resultados entre grupos de idades diferentes idades14. Além da idade, papilomavírus neoplásico (HPV), em implicados Gaetti- comumente na iniciação e progressão do Jardim et al. (2010) mostraram que câncer, sendo que a expressão de sua outro fator de risco inerente ao paciente atividade parece ser fundamental para a é o sexo. Em seus estudos, estes autores transformação neoplásica. Genótipos o afirmam que o carcinoma de células como HPV do tipo 1, infectam as escamosas de cavidade oral tem maior células predileção pelo sexo masculino. Para os HPVs do tipo 6, 11, 16, e 18 infectam as autores, a proporção homem:mulher no células epiteliais da cavidade oral e câncer de boca é de 8:1 na população outras superfícies mucosas11. abaixo de 60 anos e de 3:1 na população Outros acima de 60 anos. epidérmicas, enquanto vírus que também desempenham um papel importante na Outros fatores de risco para oncogênese do câncer de boca. Além do câncer oral incluem dieta, índice de HPV, os mais comumente implicados massa corporal, higiene oral, e infecções na transformação são os vírus do grupo 89 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS herpes, os adenovírus e os vírus da estados de imunodeficiência crônica hepatite C11. (como por exemplo, a síndrome de Segundo Sassi et al. (2009), Bloom, síndrome de Wiskott-Aldrich), os principais fatores de risco para CEC regimes de boca são o álcool e o tabaco. Porém, transplante estudos recentes sugerem a associação existentes nas síndromes de Patterson desta neoplasia com o uso de maconha. Kelly e Plummer Vinson. Além disso, a Segundo tais pesquisas, a maconha anemia contém químicas autossômica alcatrão, defeitos de reparo do DNA, está considerado como fator de risco para associada a um elevado risco de câncer de boca. Além disso, a fumaça malignidade das neoplasias de boca em da maconha acarreta a inalação três pacientes jovens. As dietas ricas em vezes maior de partículas e a retenção frutas e vegetais e óleos de peixe são 33% maior delas no trato respiratório, geralmente em relação à fumaça do cigarro. Ainda correlacionadas com menor risco de nesta pesquisa, os autores pontuam que câncer oral14. substâncias carcinogênicas, como o de imunossupressão de órgão, Fanconi, e uma recessiva após anemias síndrome causada por inversamente a maioria dos jovens com câncer de boca não relata história familiar de Quadro Clínico carcinoma espinocelular22. O quadro clínico do CEC Além dos fatores de risco previamente discutidos CEC, distintas, qualquer que seja a idade do existem vários outros elementos que paciente. O sinal mais clássico é uma podem lesão ulcerada persistente, normalmente desempenhar para parece não apresentar características um papel importante na carcinogênese, incluindo com 90 endurecimento e infiltração Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS periférica, podendo estar ou não desconhecida e duração maior do que associada a manchas avermelhadas ou duas semanas devem ser imediatamente esbranquiçadas e a vegetações. Tais encaminhados para um especialista. lesões ocorrem com maior frequência na Essas lesões incluem: ● língua, mais comumente na borda posterior22. Manchas brancas ou manchas vermelhas em qualquer região Segundo Gaetti-Jardim et al. da mucosa oral; ● (2010), o carcinoma epidermóide de cavidade oral pode apresentar-se como defeito ● Edema em qualquer parte em um estágio mais inicial pode ser leucoplásica, ou mucosa; uma lesão exofítica ou endofítica, que caracterizada Ulceração da cavidade oral; uma lesão ● Afrouxamento de um ou eritroplásica ou mais dentes por razão desconhecida, como eritroleucoplásica. Algumas evidências não relacionados clínicas auxiliam no diagnóstico do periodontal; com doença carcinoma de células escamosas, tais ● Sensação persistente de como as lesões que não cicatrizam corpo estranho, principalmente quando espontaneamente em 15 dias, de base unilateral; cartonada, lesões ulceradas de bordas ● Dor em região bucal; evertidas e endurecidas, com ausência ● Disfagia ou odinofagia; de halo eritematoso e indolores no ● Dificuldades ou alterações início6. na fala; ● Redução da mobilidade da Dessa forma, alguns autores defendem que todos os pacientes com lesões de mucosa de língua; origem 91 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ● Dormência da língua, especialista em endoscopia deve ser considerado26. dentes ou lábios; ● Sangramento de origem Segundo alguns autores, a desconhecida; tomografia computadorizada (TC) ou ● Edema em região do ressonância magnética nuclear (RMN) pescoço; devem ● Halitose26 ser realizadas. A secção panorâmica é uma das ferramentas É importante a realização básicas no diagnóstico e esta deve ser do exame físico de toda a região obtida antes do início da terapia tumoral cervical já que, segundo Majchrzak et específica. A tomografia por emissão de al. (2013), os carcinomas de células pósitrons (PET-TC) não desempenha escamosas relacionados ao HPV de alto nenhum papel no diagnóstico primário risco tendem a apresentar doença com da extensão local de um câncer de linfonodos positivos. cavidade oral. Os pacientes com câncer de cavidade oral avançado (estágio III, IV) devem ser submetidos a tomografia Diagnóstico computadorizada Além da caracterização do do tórax para avaliação de envolvimento pulmonar26. quadro clínico, através de anamnese e Para os pacientes com exame físico bem realizados, para os suspeita de recorrência do tumor e pacientes submetidos a um diagnóstico pacientes em que a TC e/ou RMN foram primário de câncer de cavidade oral inconclusivas, pode ser realizada PET- também devem ser examinados por um TC. De acordo com os resultados de otorrinolaringologista e o acesso a um uma meta-análise, no diagnóstico de excluir tumores secundários, recorrência de tumor, o PET-CT possui 92 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS sensibilidade mais elevada (80%) do atendimento a pacientes portadores de que a combinação de TC e/ou RMN lesões bucais, sobretudo no que tange a (75% e 79%) (11); já a especificidade efeitos deletérios dos tratamentos destas (86%) é reduzida por muitos resultados patologias, como os inúmeros resultados falso-positivos em lesões inflamatórias. clínicos encontrados após radioterapia No entanto, a Fluoro-desoxiglicose de cabeça e pescoço. Hinerman et al. (FDG)-PET, parece ser mais confiável (2006) observaram que, em pacientes do ressonância irradiados submetidos magnética, com sensibilidade de 100% dentárias, 26% e especificidade de 71%. Tumores complicações primários não detectados previamente e exposição óssea, necrose de tecidos metástases à distância também podem moles, fístulas, e 15% apresentaram ser diagnosticados de forma mais complicações severas como é o caso da confiável com PET-TC do que com TC osteorradionecrose. que a TC e/ou ou ressonância magnética26. em seus estudos a como Follmann; Nast (2012) afirmam em sua pesquisa que não foram encontrados estudos com que muitas vezes a demora do paciente fontes concretas para estabelecer o em procurar atendimento, além da falta melhor tratamento para o câncer de de treinamento dos profissionais para o cavidade oral. Um grande número de diagnóstico, levam a um prognóstico estudos mais desfavorável. descreveram as taxas de sobrevivência ou qualidade de vida após Isto nos leva a pensar na de apresentaram moderadas, Wolff; importância do diagnóstico precoce, já importância extrações Tratamento Gaetti-Jardim et al. (2010) ressaltaram a protocolos a cirurgia e após a radioterapia, contudo, de 93 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS nenhuma recomendação de terapia pode Tabela 1 - Classificação TNM dos ser feita, devido a deficiências na sua tumores de lábio e cavidade oral: Tumor concepção ou conduta. Primário O estádio clínico do tumor T– (Tabelas 1, 2, 3 e 4) têm grande influência no tipo de Tumor conduta. Primário Entretanto, não existe um tratamento O tumor primário não pode ser avaliado TX específico para o câncer de cavidade Não há evidência de tumor primário T0 oral. Este deve ser decidido através de Carcinoma in situ Tis análise individual do paciente por uma Tumor com 2 cm ou menos em sua maior T1 equipe interdisciplinar7,26. dimensão Tumor com mais de 2 cm e até 4cm em sua T2 maior dimensão Tumor com mais de 4 cm em sua maior T3 dimensão (Lábio) Tumor que invade estruturas adjacentes: cortical óssea, nervo alveolar inferior, assoalho da boca, ou pele da face (queixo ou nariz) (Cavidade oral) Tumor que T4a invade estruturas adjacentes: cortical óssea, músculos profundos/extrínsecos da língua (genioglosso, hioglosso, palatoglosso e estiloglosso), seios maxilares ou pele da face (Lábio e cavidade oral): Tumor que invade o espaço mastigador, lâminas pterigóides ou T4b base do crânio ou envolve artéria carótida interna Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. TNM: 94 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS classificação de tumores malignos / traduzido por Ana Lúcia Amaral Eisenberg. 6. ed. - Rio de Janeiro: Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à INCA, 2004. Saúde. Instituto Nacional de Câncer. TNM: classificação de tumores malignos / traduzido por Ana Lúcia Amaral Eisenberg. 6. ed. - Rio de Janeiro: INCA, 2004. Tabela 2 - Classificação TNM dos tumores de lábio e cavidade oral: Tabela 3 - Classificação TNM dos Linfonodos Regionais tumores de lábio e cavidade oral: N– Metástases Linfonodos Regionais Os linfonodos regionais não podem ser M– Metástases NX avaliados A presença de metástase à distância Ausência de metástase em linfonodos não pode ser avaliada N0 regionais Metástase em um único MX linfonodo Ausência de metástase à distância M0 Metástase à distância M1 homolateral, com 3 cm ou menos em sua N1 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à maior dimensão Saúde. Instituto Nacional de Câncer. TNM: classificação de Metástase em um único linfonodo tumores malignos / traduzido por Ana Lúcia Amaral homolateral, com mais de 3 cm e até 6 cm Eisenberg. 6. ed. - Rio de Janeiro: INCA, 2004. N2a em sua maior dimensão Metástase em linfonodos homolaterais múltiplos, nenhum deles com mais de 6 cm N2b em sua maior dimensão Metástase em linfonodos bilaterais ou contralaterais, nenhum deles com mais de 6 N2c cm em sua maior dimensão Metástase em linfonodo com mais de 6 cm em sua maior dimensão Nota: Os linfonodos N3 de linha média são considerados linfonodos homolaterais. 95 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Tabela 4 - Estadiamento dos tumores de devendo ser sempre confirmada no ato lábio e cavidade oral cirúrgico por exame de congelação. M0 N0 Tis Estádio 0 Outros M0 N0 T1 Estádio I margem segura corresponde a 5mm ou M0 N0 T2 Estádio II mais9,26. M0 N1 T1, T2 Estádio III M0 N0, N1 T3 M0 N2 T1, T2, M0 N0, N1, M0 T4a N3 Qualqu afirmam que uma Segundo Wolff; Follmann; Nast (2012), em 20% a 40% dos casos de câncer da cavidade oral, existe Estádio IVA T3 N2 estudos metástase oculta para os nódulos linfáticos cervicais. Já segundo Brener Estádio IVB et al. (2007) essa porcentagem varia de er T M0 Qualqu er N 10% a 26%. Os níveis cervicais I, II e T4b III são quase sempre afetados e o nível M1 Qualqu Qualqu er N er T Estádio IVC V muito raramente26. Todos os pacientes com Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à estado Saúde. Instituto Nacional de Câncer. TNM: classificação de tumores malignos / traduzido por Ana Lúcia Amaral clinicamente normais dos linfonodos (cN0), independentemente Eisenberg. 6. ed. - Rio de Janeiro: INCA, 2004. da sua categoria T, devem ser deve submetidos a esvaziamento cervical permanecer como terapia de escolha eletivo26. Nos pacientes com metástase para o CEC bucal, e deve sempre incluir cervical, é indicado toda a lesão tumoral16,20. A margem de esvaziamento radical tecido livre de tumor, de acordo com o quando houver apenas um linfonodo Ministério da Saúde (2001), deve ser de metastático mínimo de 1,0 cm em todas as direções, capsular. Quando houver mais de um A cirurgia 96 e sem realizar o modificado extravasamento Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS linfonodo metastático ou paliativa, ficando restrita a lesões extravasamento capsular, é necessário extensas e irressecáveis4,5. Entretanto, incluir, no tratamento cirúrgico, o não se tem verificado redução na taxa esvaziamento cervical radical16. de Doença avançada mortalidade ou melhora no prognóstico com a sua realização4. da cavidade oral é melhor gerida com terapia multimodal. A radioterapia pósoperatória ou é A sobrevida do câncer de tumores cavidade oral é baixa, variando de 30- avançados (T3/T4), em caso de margem 57% para sobrevida global, e 43-60% de para sobrevida específica para a doença aconselhável radioquimioterapia Prognóstico e seguimento no ressecção caso estreita de ou positiva, invasão perineural, comprometimento em de linfonodos, ou incapacidade de estudos1,3,23. submissão à cirurgia4,7,26. recuperação são muito mais favoráveis 5 anos, As segundo diferentes perspectivas de A radiação pré-operatória (cerca de 70%) se o tumor é detectado pode ser empregada em alguns casos, em um estágio inicial (T1/T2). A taxa para diminuir a massa de tumor e, de sobrevida em 5 anos para pacientes portanto, facilitar a sua ressecção. cujos cânceres são descobertos mais Contudo, ela está associada a uma taxa tarde (T3/T4) é de 43%26. Um estudo mais elevada de complicações pós- retrospectivo com 335 pacientes feito operatórias. Por estas razões, a maioria por Pandey et al. (2016) mostrou dos centros executam a cirurgia seguida sobrevida livre de doença média de 13 de radioterapia pós-operatória4,7. meses, e sobrevida global média de 30 Já a indicação da meses, em pacientes com tumores quimioterapia costuma ser uma escolha operáveis. 97 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Além disso, o prognóstico conclusão do tratamento primário26. Em é bastante variável a depender da região um estudo realizado por Matos et al. anatômica afetada, como mostra a tabela (2014) observou-se que a espessura 5. tumoral superior a 10 mm representa um fator de risco para a recorrência precoce. Tabela 5: Sobrevida de acordo com o Segundo Montoro, et al. estadiamento tumoral Sítio Primário (2014) apenas as variáveis: metástase 35-85 Língua oral cervical, radioterapia pós-operatória e 40-64 58-75 Assoalho da boca margens 17 41 73 Rebordo gengival significância estatística no prognóstico 0-18 20-27 44-65 77-83 Mucosa jugal da doença. Contudo, segundo uma 0-10 46,5 57,8 70 Área retromalar revisão feita por Taghavi e Yazdi 0-30 20-40 40-60 60-80 Palato Duro (2015) as variáveis idade, sexo, uso de IV III II I 0-26 10-50 26-77 0-15 21-43 0-10 comprometidas tabaco/álcool, Fonte: Ministério da Saúde; Secretária de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Serviço de Cirurgia de têm estadiamento, recorrência, parâmetros histológicos e a Cabeça e Pescoço – Rotinas Internas do INCA. Rio de presença de marcadores moleculares Janeiro: INCA; 2001. também Cerca de um quinto dos pacientes tratados cavidade oral recorrência com câncer experimentam local do tumor. possuem influência no prognóstico desta patologia. Resultado de este, similar ao descrito por Almeida, et uma al. (2011) A Mesmo em pacientes recorrência é diagnosticada dentro de 2 assintomáticos, o intervalo máximo anos em 76% dos casos e em 11% dos entre as visitas de acompanhamento casos durante o terceiro ano após a deve ser mensal no primeiro ano, 98 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS trimestral no segundo, semestral após o terceiro, e anual após o quinto ano16. CONCLUSÃO Este acompanhamento é Cânceres da cavidade oral necessário para a detecção precoce de representam grande parte dos tumores recidiva malignos de cabeça e pescoço e da lesão primária ou metastática. Este exame deve incluir, apresentam segundo o Ministério da Saúde (2001): morbidade e maximizar a chance de ● Manchas brancas desafios para limitar ou cura. A grande maioria são carcinomas manchas vermelhas em qualquer região de células escamosas, sendo o tabaco o da mucosa oral; fator causal mais comum. A revisão ● Inspeção e palpação da ressalta a importância do diagnóstico cavidade bucal e cadeias linfáticas precoce de lesões de câncer bucal, e do cervicais; estabelecimento do tratamento a fim de ● Avaliação geral do paciente do estado (qualidade reduzir a propagação do tumor e de oferecer melhor prognóstico. vida/ganho ponderal); ● Radiografica simples REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (RX) de tórax, realizada anualmente; ● Esofagoscopia, realizada 1. AFFONSO, V. R. et al. anualmente - pesquisa de segundo Peritumoral infiltrate in the prognosis of tumor primário no trato aerodigestivo epidermoid carcinoma of the oral superior; cavity. Braz. ● Laringoscopia indireta - j. otorhinolaryngol, vol.81, n.4, pp.416-421, 2015. pesquisa de segundo tumor primário, no 2. trato aerodigestivo superior. Fatores Prognósticos no Câncer de 99 ALMEIDA, F. C. S. et al. Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Boca. Revista Brasileira de Ciências Araçatuba, Araçatuba, v. 31, n. 2, p.09- da Saúde, v. 15, n. 4, p.471-478, 2011. 13, dezembro, 2010. 3. 7. BONFANTE, G. M. S. et al. GENDEN, E. M. et al. Sobrevida de cinco anos e fatores Contemporary management of cancer of associados ao câncer de boca para the pacientes em tratamento oncológico Otorhinolaryngol, v. ambulatorial pelo Sistema Único de 1017, janeiro, 2010. Saúde, Brasil. Cad. Saúde Pública, 8. vol.30, n.5, pp.983-997, 2014. young age on prognosis for head and 4. neck BRENER, S. et al. Carcinoma de oral cavity. Eur 267, Arch p.1001- GILROY, J. S. et al. Impact of cancer: a matched-pair células escamosas bucal: uma revisão de analysis. 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No corpo dessas análise será explicitado os principais métodos de controle da dor e melhoria da qualidade de vida em pacientes oncológicos. Palavras-chave: Analgesia ;Dor crônica; Oncologia; Opióides. 1 Graduandos do curso de Medicina pela Universidade Federal do Tocantins. e-mail: [email protected]; [email protected] . José Carlos Carvalho Miele Junior. Endereço para correspondência: Quadra 404 norte, Alameda 28, n. 1, Plano diretor norte, CEP. 77006-450 Palmas –TO. 2 Professor orientador: Médico, Bacharel em Direito, licenciatura em Ciências Biológicas e Filosofia. Especialização em Saúde da Família e Saúde Coletiva. 103 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE: ANALGESIA IN PATIENTS WITH CHRONIC PAIN ONCOLOGIC ABSTRACT This study aims to investigate and research the importance, the main and most effective methods to cure or control pain effectively in cancer patients with chronic pain. The painful condition is an important finding in most patients with cancer, and is closely linked to decreased quality of life of these patients. In the body of these analyzes will be explained the main methods of controlling pain and improving the quality of life in cancer patients. Keywords: Analgesia; Chronic pain; Oncology; Opioids . 104 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS obtêm INTRODUÇÃO analgesia adequada. A prevalência diária mundial de dor A dor é, atualmente, definida neoplásica é de 4 milhões de pessoas e a como uma experiência sensorial e prevalência anual é de 19 milhões. emocional desagradável, relacionada a (Hammack). dano tecidual real ou potencial, sendo A dor associada ao câncer pode sempre uma experiência subjetiva. A ser devida ao tumor primário ou suas percepção da dor envolve, portanto, metástases, à terapia anti cancerosa e é dois componentes: o estímulo doloroso descrita como “dor total”, pois além da (nocicepção) e a reação emocional à dor nocicepção, (MELZACK). emocionais, sociais e espirituais influem O sistema fatores físicos, central na gênese e na expressão da queixa (SNC), juntamente com outras inúmeras (Saunders CM).Seu controle merece ser estruturas pela tratado como prioridade devido a vários percepção dolorosa, e essa sensação é fatores, primeiramente o não tratamento mediada da dor causa sofrimento desnecessário, são nervoso outros responsáveis por neurotransmissores realizam a inúmeros diferentes função bioquímica que levando a uma dificuldade de realizar as de atividades diárias e certa exclusão social transmitir a dor. e dependência do paciente a família e Uma das principais causas de cuidadores. dor crônica no mundo é aquela dor Com base nos fatores definidos relacionada com neoplasias. Dentre os anteriormente, desconfortos pelos importância dos sintomas dolorosos no pacientes com câncer, a dor é apontada contexto do binômio saúde-doença, como muito frequente, acometendo tem-se cerca de 50% dos pacientes em todos os sintoma estágios da doença e em torno de 70% doenças, principalmente aqueles com daqueles neoplásicas. Esse estudo de revisão da experimentados com doença avançada a motivado em a revisão pacientes desse várias literatura milhões de pessoas, nos EUA, sofriam melhores métodos de sanar a dor de de algum tipo de neoplasia. Entretanto, pacientes com câncer que apresentam dados demonstram que 50% a 80% dos esse quadro. 105 como com da (BONICA, 1990). Em 1991, cerca de 7 pacientes portadores de neoplasias não tem observação enfoque os Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Degrau 1 DISCUSSÃO Pacientes que não estão sob tratamento A Organização de analgésico e com dor leve a moderada Saúde (OMS) lançou, em 1986, uma deve ser tratada com drogas anti- norma de conduta para controle de dor inflamatórias. As drogas empregadas em pacientes oncológicos, que é usada incluem até hoje como parâmetro apesar de já inflamatórios não hormonais (AINES). existirem outras condutas paliativas e A baixa potência associada aos efeitos alternativas a escada analgésica da colaterais desses medicamentos, como OMS. Esse método, quando aplicado de gastropatia, forma correta, tem sucesso em cerca de hepatopatia, limitam sua eficiência. 90% (OMS) dos casos Mundial (VENTAFRIDDA, paracetamol e insuficiência anti- renal e 1990). Existem basicamente cinco Degrau 2 princípios que devem ser considerados nesse algoritmo que são: Via Oral: Em pacientes com dor preferencialmente a medicação deve ser moderada, a despeito do uso dos AINE, oferecida pela via oral; Tempo de devemos Administração: opióides fracos como tramadol ou É respeitarmos o fundamental intervalo de codeÌna. adicionar ao Alguns tratamento investigadores administração, de acordo com a meia preconizam o uso precoce do degrau 2, vida para pacientes com dor moderada e sem de cada droga; Avaliação individual: uma avaliação contínua deve ser empregada tratamento, adversos e durante todo tratamento prévio.(OMS) o antecipando os efeitos corrigindo as doses; Degrau 3 Respeitar a escada analgésica da OMS; O degrau 3 é reservado para os Orientação correta: Orientar o paciente pacientes que não obtiveram controle da e aos cuidadores é fundamental. dor com o uso de opióides fracos e A escada é formada pelos AINES. Nesse degrau, substituímos os seguintes degraus: opióides fracos por opióides fortes como morfina, metadona, oxicodona ou fentanil. (OMS) 106 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS A morfina é o opióides mais utilizado para o controle da dor oncológica, sendo o fígado o principal sítio de metabolismo da droga. Além da via oral, podemos subcutânea, domiciliar, para utilizar o a via tratamento respeitando sempre os princípios básicos da administração de OPIÓIDES FORTES Os opióides fortes mais fentaniltransdérmico, metadona e avaliação oxicodona. individual, Outra droga bastante utilizada é o fentaniltransdérmico. Apesar de alguns estudos utilizarem a droga no receptores opióides. Estes existem em tratamento da dor aguda, seu uso deve neurônios de algumas zonas do cérebro, ser recomendado apenas durante o medula espinal e nos sistemas neuronais tratamento da dor crônica. Ele é do intestino. utilizado geralmente em pacientes com receptores opióides são tumor importantes na regulação normal da pelos opióides de cabeça e pescoço, impossibilitados de ingerir analgésicos sensação da dor. A sua modulação é pela via oral, seu uso é bem indicado. endógenos Outros grupos que se beneficiam da (fisiológicos), como as endorfinas e as droga são crianças e pacientes com encefalinas. Os administração, de medicação. Os opióides são agonistas dos feita intervalo a orientação correta sobre o uso da (VENTAFRIDDA, 1990). Os o respeitar a escada analgésica da OMS e empregados no nosso meio são a morfina, analgésicos: efeitos colaterais severos à morfina, opióides endógenos são como delírio, constipação e vômitos peptídeos, ou seja, possuem caráter (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). protéico, já os fármacos opióides usados Outro em terapia não são proteínas, porém têm bastante conformações semelhantes em solução opióide que ganhou notoriedade nos últimos tempos foi a oxicodona. Ele possui às dos opióides endógenos, ativando os características que o fazem um bom receptores em substituição destes. fármaco, como o como baixo custo, 107 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 excelente ausência SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS biodisponibilidade de metabólitos oral, ativos PROCEDIMENTOS INVASIVOS e facilidade de administração. Infelizmente, cerca de 10% dos pacientes EFEITOS COLATERAIS DOS não satisfatória OPIÓIDES obtém com analgesia medicamentos considerados refratários ao tratamento, enquanto que outros não toleram os O uso crônico dos opióides esta efeitos colaterais como a sedação associado a uma grande variedade de excessiva, náuseas, vômito e delírios. efeitos colaterais. Os mais comuns são Neste náuseas, distúrbios procedimentos invasivos podem ser cognitivos. A prevalência desses efeitos empregados como bloqueios de nervos, é influenciada pela extensão da doença, analgesia idade cirúrgicas. (PANCHAL, 2000). vômitos do e paciente, presença de grupo de pacientes, espinhal e alguns intervenções insuficiência renal ou hepática, o uso de O principal método invasivo outros medicamentos, dose e via de utilizado pelos anestesistas para esses administra-o do opióides (MAHONY, casos é a Neurólise Química do Eixo 2001). Simpático, Sintomas gastrointestinais são empregados que são como procedimentos adjuvantes no bastante frequentes. Náusea e vômitos controle da dor de origem visceral. Os são comuns no início do tratamento, principais bloqueios são realizados no mas plexo hipogástrico superior e no plexo tolerância a esse efeito se desenvolve rapidamente, por outro lado, celíaco. a constipação intestinal persiste ao longo do Plexo concomitante de laxativos é quase empregado em pacientes com dor universal. Nesses pacientes, uma dieta pélvica de difícil controle, como, por rica pelo exemplo, no tumor de útero. O plexo nutricionista é importante. (BRUERA, hipogástrico superior é uma estrutura 1989) bilateral e retroperitoneal localizada em orientada o do Hipogástrico Superior é usualmente fibras, e bloqueio uso em tratamento, O nível do terço inferior de L5 e do terço superior de S1. A interrupção das fibras nervosas aferentes que inervam as 108 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS estruturas pélvicas e que caminham ao ESTIMULAÇÃO longo de nervos simpáticos e gânglios é TRANSCUTÂNEA o (TENS) objetivo da técnica.(PANCHAL, ELÉTRICA DO NERVO 2000). O bloqueio do Plexo Celíaco é A estimulação elétrica pode normalmente empregado nos pacientes trazer inúmeros com dor abdominal localizada no andar indicada no controle da dor oncológica, superior do abdome, como no tumor de pois, com a redução da dor, o paciente pâncreas. O plexo celíaco também é aumenta o seu nível de função e responsável pela inervação do fígado, atividade, pode participar de programas vesícula biliar, omento e o trato de exercícios físicos e melhorar a sua alimentar desde o estômago até a porção qualidade de vida. É um recurso não transversa do cólon. O plexo celíaco invasivo e de fácil aplicação, que pode esta situado no espaço retroperitoneal, ser utilizado em pacientes jovens, em nível de T12 e L1, envolvendo a adultos e idosos, com possibilidades de aorta e as artérias celíaca e mesentérica. induzir analgesia provoca ANALGESIA ESPINHAL benefícios efeitos quando prolongada. Não colaterais, tem pouquíssimas contraindicações e não apresenta A administração intraespinhal de custo elevado (PENA; BARBOSA; ISHIKAWA, 2007). opióides ganhou importância após o Existem vários subsídios que descobrimento de receptores opióides tentam explicar como a TENS pode na substância gelatinosa da medula, em atuar como adjuvante no controle da dor 1976 consequentemente oncológica, porém, concluem que muito reconhecimento de que os opióides se tem a discutir e descobrir sobre o real possuem ação analgésica supra-espinhal papel desta modalidade analgésica uma e espinhal. A indicação mais aceita vez que a maioria dos estudos enfatiza sobre a utilização da via espinhal, em que a dor associada ao câncer é pacientes com câncer, é a incapacidade multifatorial e, por isso, a grande de obter um balanço satisfatório entre dificuldade de encontrar comprovações analgesia científicas mais concretas para tal e com o efeitos adversos dos opióides.(ONOFRIO, 1990). tratamento (PENA; ISHIKAWA, 2007). 109 BARBOSA; Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS 2.DAUT. R.L.; CLEELAND, C.S. The CONCLUSÃO prevalence and severity of pain in Sendo assim o controle da dor cancer.. PubMed, 50:1913-1918, nov. no paciente oncológico é de extrema 1982. Disponível em: < importância http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7 para o sucesso do 116316>. Acesso em: 03 set. 2016. tratamento e para a manutenção da qualidade de vida desse grupo de pacientes. Estão surgindo várias terapias 3.MAHONY S, Coyle N.; PAYNE, R. inovadoras que tentam substituir o uso Current management of opioid -related de opióides ou outros analgésicos side devido ao seu grande número de reações effects. Oncology, 15(1): 61-81, 2001. colaterais indesejáveis. Cabe ao profissional de saúde se situar nesse 4.MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2001. mundo de inovações e utilizar aquelas Instituto Nacional de Câncer: cuidados que são comprovadamente eficazes no paliativos oncológicos controle da dor. tratamento desse sintoma. Portanto a Rio de Janeiro, 2001. 130 p. Disponível atualização médica no estudo, manejo e em: conduta relacionada à dor é de extrema http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco importância acadêmica e profissional. es/inca/manual_cuidados_oncologicos.p df. Acesso em: 03 set. 2016. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 5.OLIVEIRA, Charles. Escada 1.BRUERA E, Macmillan K, Hanson J. analgésica da dor de câncer (OMS). The cognitive effects of the Campinas, SP: 2010. 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Rev 111 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E CRISE ECONÔMICA: UMA BREVE ANÁLISE QUANTO À NECESSIDADE DE PONDERAÇÃO DE INTERESSES EM TEMPOS DE CRISE Pedro Ribeiro de Sales Netto¹, Mateus Mendes Machado², Láskara Thamires Sousa Silva³, Sabrina da Silva Costa4, Virgílio Ribeiro Guedes5, Raquel Lima de Abreu Aoki6 RESUMO Observa-se uma crescente busca de amparo pelo Poder Judiciário, por parte dos usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, para resolução de conflitos. Os juízes dentro de seu âmbito jurídico tendem a responsabilizar Governo Federal, Estado e Município, para cumprimento das decisões judiciais dentro da saúde, sem avaliar os impactos orçamentários e a relação custo versus benefícios dos tratamentos. Este trabalho busca mostrar um panorama nacional sobre esse ativismo judicial, as causas e possíveis soluções. Palavras-chave: Políticas de saúde; SUS; Ativismo judicial, Poder Judiciário. ¹Graduando do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins ²Graduando do curso de direito da Universidade Federal do Maranhão ³Graduanda do curso de medicina da Universidade Federal do Maranhão 4 Graduanda do curso de direito da Faculdade de Educação Santa Terezinha 5 Professor orientador: Médico patologista, Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Tocantins Professora co – orientadora: Doutora em estudos linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais 6 112 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS LEGALIZATION OF HEALTH AND ECONOMIC CRISIS: A BRIEF ANALYSIS ON THE NEED FOR BALANCE OF INTERESTS IN TIMES OF CRISIS ABSTRACT Notes a growing if for protection at Judiciary, on behalf of the unified Health System Users - SUS, paragraph conflict resolution. The Judges within your legal framework tend to blame the Federal Government, State and County, paragraph compliance with the Judicial within health decisions without assessing the budgetary impacts and value for x treatments benefits. This work seeks show um national overview of this judicial activism, as causes and possible solutions. Keywords: Health policies; SUS; judicial activism, judiciary 113 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS concluir por certo resultado quando dados INTRODUÇÃO elementos estiverem presentes em certa É cediço que cada vez mais o Poder situação- o quanto pode ser comprometido Judiciário tem-se feito presente na vida do orçamento destinado à saúde por causa social, seja por consolidar direitos ou por de impor deveres legalmente previstos. Tal escândalos e envolvendo corruptos concedem cirúrgicos ou Sistema Único de Saúde (SUS). diminuição dos estimados demais poderes, corriqueiros que medicamentos não contemplados pelo inovador eis que há por vezes uma aos judiciais procedimentos fato se demonstra como importante e frente decisões cotidianos E por fim, pretende-se propor e possíveis alterações, que provavelmente corruptores. Todavia, é evidente, que esse auxiliarão o Poder Judiciário na tomada de excesso de ativismo judicial pode sufocar o decisões que envolvam o aumento de sei o social e produzir mais malefícios que despesas ao Poder Executivo, ponderação benefícios: não custa refletir sobre o que se impõe necessária atualmente. fatoque qualquer remédio, na medida certa cura, mas em excesso transforma-se em veneno. E isso se torna ainda mais sério se 2. Ativismo judicial: Breves linhas de um esse ativismo tiver por conseqüência a longo capítulo invasão da competência de outros poderes. O presente buscará se nortear Ao longo da história nacional e mundial, trabalho pelo como será demonstrado ulteriormente, o Poder Judiciário tem seguinte caminho, sequencialmente: primeiramente, agregado, apresentar um panorama geral sobre o funções um protagonismo nunca visto ativismo e antes, com reflexos diretos na vida social, tentando apontar as principais causas que econômica e política de toda a sociedade. levaram a sociedade a dar ao Poder Tal fenômeno, é Judiciário maior crédito no que tange à “ativismo judicial”, pode ser entendido, em possibilidade de efetivação do direito à sentido amplo, como o posicionamento saúde. objetiva proativo de juízes singulares e tribunais exemplos colegiados, deixando- se a posição de pontuais, porém que podem ser usados julgadores passivos -como deve ser por para retratar a situação de todo o Brasil por força do Princípio da Inércia-e agindo meio do método indutivo–já que se poderá ativamente, e quiçá, arbitrariamente, na judicial, Por demonstrar, conceituando-o conseguinte, por meio se de 114 progressivamente, às suas conceituado como Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS busca de efetivação de direitos, que se tiveram sua validade decidida pelas julga serem necessários. O ativismo por mais altas cortes. Na Coréia, a Corte parte do Poder Judiciário é um tema tão Constitucional restituiu o mandato de relevante e urgente que foi o primeiro um presidente que havia sido destituído por Impeachment. questionamento feito a então juizado trabalho Rosa Weber, na época de sua sabatina pelo Congresso Nacional em Os defensores dessa postura mais decorrência de sua indicação para ocupar o enérgica por parte do Poder Judiciário posto de ministra da Suprema Corte usam Brasileira. como principal argumento a necessidade de se efetivar direitos, já que Esse posicionamento enérgico por haveria por parte dos demais poderes, uma parte do Poder Judiciário é necessário que omissão ou ação no sentido de dificultar a se registre não ocorre apenas no Brasil, fruição como salienta Barroso (2008): legislação pátria. Exemplos desse pró- dos direitos plasmados na ativismo não faltam, como ocorreu no caso No Canadá, a Suprema Corte foi do reconhecimento da possibilidade de chamada para se manifestar sobre a constitucionalidade de os Estados união estável entre pessoas do mesmo Unidos fazerem testes com mísseis sexo1, no da possibilidade de pesquisa com em solo canadense. Nos Estados células-tronco2, no da descriminalização da Unidos, o último capítulo da eleição posse de drogas para consumo próprio3, na presidencial de 2000, foi escrito pela possibilidade Suprema Corte, no julgamento de banheiros de acordo com sua identidade Bush x Gore. Em Israel, a Suprema sexual4 e etc. Tais decisões importam em Corte decidiu sobre a atos internacionais modos e estilos de vida. com o território palestino. A Corte da Turquia Em tem corrente contrária, perigoso essa atitude ativa por parte dos preservação de um Estado Laico, do se encontram os que acham no mínimo desempenhado um papel vital na protegendo-o usarem que definem ou possibilitam a definição de da construção de um muro na fronteira Constitucional pessoas consequências diretas na vida social, eis compatibilidade, com a Constituição e com das 1 fundamentalismo ADIN4277/DF,Rel.Min.AyresBritto ADIN3510/DF,Rel.Min.AyresBritto. 2 islâmico. Na Hungria e na Argentina, 3RecursoExtraordinário635.659 planos econômicos de largo alcance 4 RecursoExtraordinário845.779 115 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS juízes e tribunais, justamente, por refletir com a reivindicação para que o Estado diretamente no seio social, acabando por fornecesse fármacos para o tratamento de criar à portadores do vírus do HIV. Segundo “judicialização da vida’’5, onde o Poder Ferraz (2014) esse “sucesso’’ das ações Judiciário é instado a agir desde a propostas pelos soros positivos: um ambiente favorável regulação de um processo de impeachment Tornou-se um exemplo para os – que pode destituir um presidente da pacientes República do cargo – até a necessidade de que sofrem de outras doenças. Hoje em dia, a diversidade 6 dar parecer se o “colarinho’’ do chope faz de doenças para as quais tratamentos ou não parte do todo para fins de são exigidos é enorme e varia de tributação. doenças muito raras (por exemplo, a doença 2.1. Judicialização da de muscular s a ú d e e c r i s e e c o n ô m i c a : uma Gaucher, de distrofia Duchenne, a epidermólise bolhosa) para doenças análise necessária. que afetam um grande setor da população. Atualmente, a pesquisa Tal conjuntura tem fundamento no mostra que a maioria dos processos fato de cada vez mais, a sociedade buscar a judiciais exige medicamentos para proteção do Poder Judiciário em questões doenças que envolvem a efetivação do direito crônicas, tais como a diabetes, o cancro, a artrite, a hepatite 7 constitucional à saúde , como nos casos de C e a hipertensão arterial, a par de internações em Unidades de Tratamento outros Intensivo (UTI), compra de medicamentos relacionados ao sistema digestivo e pela Administração Pública, realização de metabolismo, procedimentos cirúrgicos não autorizados cardiovascular e o sistema nervoso ou não disponíveis na rede pública de SUS, central. problemas de o saúde sistema ou ainda tratamento de doenças crônicas. Segundo escritores especializados, esse A presença do Poder Judiciário nos ativismo judicial das cortes, em questões hospitais é tão forte, que recente pesquisa relacionadas à área médica, se deu realizada apontou dados alarmantes que notadamente a partir da década de 1990, demonstram uma verdadeira “ditadura do poder judiciário’’, já que esse não mais se 5 Termo originariamente cunhado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. 6 Apelação Cível2003.72.05.000103-2/SC. 7 Art.196,ConstituiçãoFederal.‘’ A saúde é direito de todo se dever do Estado (...)’’. limita a apenas efetivar a legislação 116 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS vigente que disciplina o direito à saúde8, políticas públicas de saúde construídas como também se passou a realizar para toda a sociedade, dessa feita acaba o prognósticos de Poder Judiciário decidindo onde, quando, tratamentos, procedimentos e até mesmo como e a quem parte dos recursos da saúde fármacos9, em afronta direta aos princípios serão destinados, recurso, é cediço, já constitucionais da separação de poderes, bastante escasso. Para se ilustrar se pode que a citar o caso do Paraná, onde mais de15%– necessidade de se observar a área de algo em torno de 90 milhões de reais por competência de cada órgão, ente ou ano- do total de recursos destinados à profissão. Reductioad absurdum, se estar saúde são aplicados pelo judiciário, para o cada vez mais perto de presenciar juízes atendimento de menos de 4 mil pessoas,10 realizando procedimentos cirúrgicos em já no Rio Grande do Sul tais recursos salas de audiência. Apesar do exemplo podem chegar a 200 milhões de reais. parecer incoerente, eis que a invasão de Situação essa que consequentemente acaba competências alta aos olhos porque é por gritante, todavia, se deve lembrar que administrativa, já que impede a alocação corriqueiramente isso ocorre de forma sutil de recursos de forma racional. por meio de decisões liminares. bastante esclarecedor é o de apenas uma em sobre essência, a eficácia visa traduzir desorganizar a atividade Caso11 decisão judicial que favoreceu uma pessoa Decisões monocráticas tomadas por juízes e que comprometeu 20% dos recursos singulares acabam concedendo a poucos previstos para todo o ano. É preciso que se indivíduos direitos não plasmados nas tenha em mente que não estar advogando até que o direito à saúde não possa e não 8Art.196 e seguintes da Constituição deva ser efetivado pela via judicial quando Federal, inverbis,‘’a saúde é direito de preciso for, outros sim que a decisão todos e dever do Estado’’e lei nº 8080/90,conhecida como “lei do SUS’’,e 10 Segundo dados o governo gasta em saúde $ 3.05 por dia por habitante ou mais precisamente $1.113.25 ao ano. Enquanto, algumas pessoas, por meio de decisões judiciais, gastam em média $61.65 por dia, ou $22.500,00, por ano. Ou seja, se gasta quase 17vezes a mais com tratamentos impostos por decisões judiciais que no mais das vezes não encontram respaldo empírico. 1112 OLIVEIRA, Vanessa E.; NORONHA, Lincoln. Judiciary-Executive relation sin policy making: the case of drug distribution in the estate of São Paulo. Brazilian Political Science Reviem, v.5,n.2,p.10-38,2011. ainda, aleinº8142/90. 9FRANCA,G1Ribeirãoe.Mesmo sem testes, Justiça autoriza venda de “pílula do câncer”. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/ribeirao-pretofranca/noticia/2016/05/mesmo-sem-testesjustica-autoriza-venda-de-pilula-do-cancer-porr-6.html>.Acesso em:11jul.2016. 117 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS judicial de levar em conta fatores de ordem americano e nunca foi avaliada prática como a disponibilidade de corpo pela ANVISA. Outro exemplo: um técnico, a situação financeira do município estudo de 2009 dos professores e/ou Estado e tantos outros, já que por Ferraz e Vieira calculou que, se o mais necessário e urgente que possa sistema de saúde pública no Brasil parecer aos familiares do doente certos decidiu fornecer a totalidade dos tratamentos/procedimentos é preciso que medicamentos da hepatite C e de se multidisciplinar pacientes com artrite reumatóide (profissionais da saúde, promotores e (1% da população), com as drogas juízes) imparcial quanto à eficácia e o mais modernas (e caras) para estas custo do tratamento, principalmente em doenças, seriam gastos com esses tempos de contenção de gastos próprios medicamentos cerca de 4,32% do de países em situação de crise financeira. PIB nacional. Isto é mais do que o É bom que se frise que recente pesquisa governo federal, todos os estados e conduzida pelo médico e cientista político municípios norueguês a saúde. O que significa que o conclusão que a grande maioria dos sistema de saúde tem de gastar em medicamentos conseguidos por meio de 1% da população mais do que o decisões judiciais no Estado de São Paulo que é gasto com o sistema público devem ser classificados como de baixa de saúde como um todo. faça uma análise Olle Norheim chegou prioridade, nesse sentido Daniel Wang juntos gastam em Aponta ainda o eminente autor que: apud Ferraz (2014) aponta que: O litígio de saúde no Brasil No caso STA 223, o Supremo está fazendo o sistema Tribunal Federal decidiu que o público sistema de saúde deve pagar por racional. Os tribunais estão uma cirurgia que só podia ser criando um sistema público prestada de saúde de dois níveis – um por um cirurgião menos para trazido para o Brasil com todas as recorrer despesas qualquer tipo de tratamento, hotel e um outro pago pelo Estado. A cirurgia não aprovação do ter podem acesso a independente dos custos, e tratamento de EUA $150,000), tinha e que e americano, que teve que ser (voo, aqueles justo para população, FDA o que resto da não tem acesso a cuidados irrestritos. 118 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS A forma como o judiciário cerca de R$513 milhões (WANG decide tem também obrigado apud FERRAZ, 2014). o Estado a fornecer drogas e serviços baseados em evidencias científicas pobres Nessa mesmíssima linha eles lecionam e, às vezes, sem considerar a que: relação custo– efetividade ou as prioridades pública da saúde O Judiciário brasileiro (...) tende a apud desconsiderar o impacto orçamentário (WANG de uma decisão judicial em que FERRAZ,2014). obriga o sistema de saúde a fornecer um determinado tratamento. Para os juízes, em geral, questões relativas ao Ainda nessa linha o autor faz um orçamento público, como a escassez alerta, que é ainda mais alarmante em tempos de recursos e não previsão de gasto, de crise econômica onde a bem como o não pertencimento do contenção de gastos é uma vertente medicamento pedido às listas do SUS, inafastável, quando aponta que se pôde não são razões suficientes para se constatar em sua pesquisa que só no denegar o pedido de um tratamento município de São Paulo: médico, dado que este encontra respaldo O gasto do Ministério da Saúde com medicamentos determinada cuja por provisão ordem no direito à saúde assegurado pela Constituição Federal foi (WANG apud FERRAZ, 2014). judicial passou de R$2.5 milhões em 2005 para aproximadamente R$266 E por fim arrematam afirmando que milhões em 2011(Advocacia–Geral da União e Ministério da Saúde, no Estado Brasileiro ações judiciais e 2012). No mesmo período, o número medicamentos têm afetado cada vez mais de os medicamentos fornecidos orçamentos públicos municipais de comprometendo dessa forma as políticas Saúde do Estado de São Paulo (SES- públicas direcionadas ao todo – a parte da SP) subiu de 799 para 14.563, um sociedade crescimento de 1.722.76% em cinco possibilidade judicialmente pela Secretaria anos. A estimativa mais recente do que medicamentos gasto da SES-SP com demandas não de ou tem acesso pleitear a seus procedimentos cirúrgicos junto ao Poder Judiciário. O judiciais calcula um gasto anual de Sistema Único de Saúde (SUS) é o 119 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS responsável por criar e na máxima medida Aids. Monografia vencedora do Concurso possível tornar real políticas públicas que de Monografias “Prêmio IPEA 40 anos”, visem a promoção da saúde e da qualidade 2004. devida da população, o termo “sistema” FERRAZ, Octavio Luiz Motta. Pesquisa vem do latim systema significando um em foco: Judicialização: um risco para a todo organizado, e vindo do grego, saúde significa tornar um conjunto ajustado, a pública no Brasil. 2014. Disponível partir do momento em que há ainda em: <http://direitosp.fgv.br/node/71962>. gerência de um poder sobre outro e esse Acesso em: julho de 2016. outro tenha sua essência justamente na individualidade organizada, possivelmente FRANCA, G1 Ribeirão. Mesmo sem ocorrerá uma desprogramação que mais testes, Justiça autoriza venda de “pílula trará danos que benefícios. do câncer”. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/ribeirao-pretofranca/noticia/2016/05/mesmo-sem-testesjustica-autoriza-venda-de-pilula-do- CONSIDERAÇÕES FINAIS cancer-por-r-6.html>. Acesso em: 11 jul. Deve–se haver ponderação nas decisões judiciais, principalmente 2016. no âmbito da saúde pública, uma vez que, OLIVEIRA, Vanessa E.; NORONHA, ocasionará Lincoln. Judiciary-Executive relations in significativo um impacto nos recursos orçamentário financeiros policy making: the case of drug destinados à saúde. É sabido que a saúde é distribution in the state of São Paulo. um Brazilian Political Science Review, v.5, direito de todos assegurado constitucionalmente, todavia, as decisões n.2, p.10-38, 2011. judiciais não podem comprometer o REVISTA gerenciamento da saúde pública, ainda ÉPOCA. O paciente de R$800mil. 16mar. 2012. Disponível em: mais, em tempos de controle de gastos que <http://revistaepoca.globo.com/tempo/noti passa o país. cia/2012/03/o-paciente-de-r-800mil.html>. WANG, Daniel ET al. Judiciário e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS fornecimento de insulinas análogas pelo Sistema Público de Saúde: direitos, FERREIRA, Camila D. et al. O Judiciário ciência e política pública. Relatório de e as políticas de saúde no Brasil: o caso 120 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS pesquisa do Projeto Caso teca Direito GV, 2011. WANG, Daniel. Poder Judiciário e políticas públicas de saúde: participação democrática e equidade. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, v. 14, n.54, p.51-87, jan./jun. 2009. ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO; MINISTÉRIO DA SAÚDE. Intervenção Judicial na saúde pública: panorama no âmbito da Justiça Federal e apontamentos na seara das justiças estaduais. Brasília, 2012. 121 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS CASE REPORT HANSENÍASE VIRCHOWIANA E MÚLTIPLAS REAÇÕES EM PACIENTE ATENDIDO PELA PRIMEIRA VEZ NA DERMATOLOGIA RESUMO A Hanseníase é um problema de saúde pública, devido a sua endemicidade em todo território brasileiro. Esta afecção crônica é causada pela Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente, de alta infectividade e baixa patogenicidade. Relaciona-se com uma grande variedade de lesões cutâneas. O objetivo deste artigo é apresentar um caso de hanseníase virchowiana diagnosticado em fase avançada e com manifestações clínicas exuberantes; caso que, felizmente, é pouco comum, na atualidade. Palavras-chave: Hanseníase. Hanseníase Virchowiana. Doençasendêmicas. 122 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS LEPROMATOUS LEPROSY AND MULTIPLE REACTION IN PATIENTS ATTENDED THE FIRST TIME IN DERMATOLOGY ABSTRACT Leprosy is a public health problem due to its endemicity throughout Brazil. This chronic disease is caused by Mycobacterium leprae, a bacillus resistant acid-high infectivity and low pathogenicity. It relates to a variety of skin lesions. The aim of this paper is to present a case of lepromatous leprosy diagnosed at an advanced stage and with exuberant clinical manifestations; case, fortunately, is not common today. Keywords: Leprosy. Leprosy, lepromatous. Endemic diseases. 123 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS atingindo uma incidência de 2,3 casos INTRODUÇÃO em 10.000 habitantes. Apesar da A Hanseníase é uma infecção diminuição expressiva de casos no granulomatosa crônica, causada pelo mundo, a meta inicial estabelecida pela bacilo Mycobacterium leprae, que afeta OMS ainda não foi alcança em 9 países, a dentre eles o Brasil. pele, nevos ocasionalmente, periféricos outros e, órgãos¹. A De acordo com dados da OMS infecção evolui de diversas formas, de para 2013, o Brasil com 31.044 casos acordo com a resposta imunológica novos é o segundo país em incidência específica de cada hospedeiro, frente ao de Hanseníase, atrás apenas da Índia bacilo. Quando esta resposta não é que registrou 126.913, nesse mesmo efetiva, uma forma difusa e contagiosa é ano³. No território brasileiro, a situação desenvolvida, a forma virchowiana. As lesões cutâneas simétricas e são os da doença é heterogenia, com regiões geralmente grandes mostrando troncos deformidades de menos de 1 caso a cada 10 mil e habitantes, somente foi alcançada pelos incapacidades. A partir implantação da de 1981, com em controle da doença. A meta estabelecida é curável, mas, se não tratada, pode para distintas relação a incidência, prevalência e nervosos podem ser afetados. A doença evoluir tendências estados de Santa Catarina, Rio Grande a do Sul e São Paulo ate o ano de 2010. poliquimioterapia, novas perspectivas surgiram e os países No país, o estado do Tocantins endêmicos passaram a trabalhar com a se destaca por ser hiperendêmico, sendo possibilidade de eliminação da doença. Gurupi a cidade com maior número de A Organização Mundial de Saúde casos registrados entre 2001 e 2012, (OMS), em 1991, estabeleceu como com 2.952 casos. Em Palmas, capital do meta para o ano 2000, a redução da Tocantins, prevalência mundial da Hanseníase para casos no mesmo período de tempo, menos ficando em segundo lugar no estado4. de habitantes. mundiais um caso por Atualmente da doença as 10.000 foram registrados 2.886 Apesar do Brasil ser o segundo taxas país reduziram, com maior incidência de quando hanseníase, é incomum encontrar casos comparadas às de duas décadas atrás, em fase avançada. Sendo, portanto, o aproximadamente, 90%, 125 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS objetivo deste estudo, relatar o caso de purulenta. Além de espessamento e dor um em troncos nervosos. paciente com hanseníase Virchowiana, diagnosticado em fase avançada da doença e apresentando Figura 1: Presença de mão reacional e neurite hansênica. quadros reacionais graves. RELATO DE CASO Paciente R.N.B.R., masculino, 64 anos, pardo, ex-lavrador, analfabeto, residente em assentamento na zona rural de Palmas-TO. Atendido no Hospital Geral Público de Palmas (HGPP), em dezembro de 2014, encaminhado da Unidade Básica de Saúde por apresentar lesões cutâneas há quatro anos. Referia que eram friáveis, sangrantes, nodulares, purulentas, dolorosas, com formação crostosa cicatrizavam. e Associado que não também Figura 2:Paciente com madarose, eritema nodoso em proximidades de lábios e mento. a febre, astenia, adinamia e queda do estado geral. Na ectoscopia, encontrava-se em regular estado geral, emagrecido, febril, hipocorado ++/4+, com edema de mãos. Ao exame dermatológico, as lesões apresentavam-se polimórficas, sendo eritêmato-infiltradas, disseminadas; Figura 3:Paciente com eritema nodoso em abdome superior e perimamilar; fenômeno de Lúcio e infecção secundária em tórax anterior . nodulares e nódulo-ulceradas; ulceronecróticas. De aspecto friável, sangrante, dolorosas, com formação de crostas e algumas com secreção 126 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS confirmaram a suspeita clínica (figuras 4 a 7). O paciente foi internado, iniciado suporte geral, antibioticoterapia Figuras 4 e 5: histopatológicos com presença de células inflamatórias perianexiais e no interstício, mostradas pela hematoxilina-eosina venosa e poliquimioterapia multibacilar (PQT-MB), junto a prednisona e talidomida via oral. Evoluindo com melhora geral do seu quadro clínico, recebendo alta em bom estado geral (imagem 9). Após quatro meses do início da PQT-MB, Figura 6 e 7: presença de bacilos de Hansen e globias demonstradas pelo método de fite- faraco. apresentou novo quadro reacional, tipo I, sendo hospitalizado e tratado - recebendo alta em bom estado geral. Em outubro de 2015, enquanto apresentava melhora progressiva da MHV, iniciou quadro pneumônico grave, sendo hospitalizado, evoluindo rapidamente para sepse e óbito. Figura 8: paciente apresentando melhora clínica. DISCUSSÃO A forma de transmissão do O diagnóstico estabelecido como Virchowiana (MHV), clínico foi bacilo de Hansen é através da via Hanseníase respiratória, por contato íntimo e diário. com eritema A transmissibilidade sofre influência de I, neurite, fatores como aglomeração de pessoas, Fenômeno de Lúcio, mão reacional e situação de pobreza e vulnerabilidade infecção secundária de lesões (figuras 1 social. Tal como precárias condições de a moradia, nodoso, 3). reação A tipo biópsia e baciloscopia residências com pouca ventilação e muito próximas; como do 127 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS paciente sobredito, que vivia em um CONCLUSÃO assentamento5. A hanseníase apresenta quatro formas clínicas, Apesar da prevalência da indeterminada, Hanseníase no Brasil ter apresentado tuberculóide, dimorfa e virchowiana. uma queda significativa nas últimas Das quais, a forma virchowiana é a de décadas, a doença se mantém em níveis nosso interesse nesse estudo. Esta forma alarmantes.Este cenário atual deve-se à o bacilo multiplica-se e dissemina-se deficiência de busca ativa de casos nas por via hematogênica, pela ausência de áreas endêmicas, ao diagnóstico tardio, resposta imunocelular do hospedeiro. políticas As lesões cutâneas são de aspecto precariedade das unidades de saúde, variado, abandono do tratamento, baixo nível de múltiplas caracterizam-se hipocrômicas, acastanhadas, e simétricas, por máculas eritematosas com bordas esclarecimento, ou mal A vista, dos supercílios (madarose)6. existência de casos em o tratamento acessível, diagnóstico simples, baixo risco de Um dos principais fatores de contágio e deformidades evitáveis. A pior prognóstico na hanseníase é a falta despeito da redução da carga da doença, de diagnóstico precoce. A demora no a hanseníase se mantém como um início do tratamento pode levar a formas importante problema de saúde pública, graves e avançadas da doença e a necessitando de estratégias de saúde complicações como no caso relatado. bem elaboradas e esforço unificado, Dentre os fatores relacionados ao para que se consiga sua erradicação. diagnóstico tardio estão a falta de sobre e atualidade é preocupante, tendo em fácies leonina, com infiltração e queda população preconceito estágios avançados de hanseníase na Com a progressão, formam-se nódulos e da ao inconsistentes, estigma da doença. definidas, geralmente sem anestesia. informação públicas a doença e a dificuldade de acesso ao sistema de saúde, fatores modificáveis, portanto, sensíveis às medidas de saúde pública efetivas. 128 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS município no Norte do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Janeiro, 1. LOPES, V.A.S.; E.M. RANGEL, Hanseníase vunerabilidade 5. World uma Health WklyEpidemiol de 34:317-28. em Organization. Global leprosy situation, 2012. análise do perfil socioeconômico usuários mai, 2013 e social: 29(5):909-920, tratamento irregular. Saúde Debate, Rio de 6. World Health Rec 2012; Organization. Janeiro, v. 38, n. 103, p. 817- Global leprosy situation, 2014. 829, out-dez 2014 Weekly 2. LASTÓRIA, J.C.; M.A.M.M. ABREU, Record. 2014;89:389‑400. Hanseníase: diagnóstico e tratamento. Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9. 3. MONTEIRO, L.D.; MARTINSMELO, F.R; BRITO, A.L.; LIMA, M.S.; C.H.M.; HEUKELBACH, ALENCAR, J. Tendências da hanseníase no Tocantins, um hiperendêmico do estado Norte do Brasil, 2001-2012. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(5):971-980, mai, 2015 4. MONTEIRO, L.D.; ALENCAR, C.H.M.; BARBOSA, J.C.; BRAGA, K.P.; CASTRO, M.D.; HEUKELBACH, Incapacidades pessoas J. físicas acometidas Epidemiological em pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um 129 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS CASE REPORT REAÇÃO CUTÂNEA DESENCADEADA POR DROGA Luciane Prado Silva Tavares1, Osterno Potenciano2, Yasmin Pugliesi3, Joaquim Alberto Lopes Ferreira Júnior4, Daniele Martins de Freitas5, Ana Carolina Vicente Araújo2, Taíssa Boechat Tose2, Nathalia Lelitscewa da Bela cruz Potenciano6, Aline Maria Marques7, Iara Silva Paixão8, Guilherme Assunção Godinho9 RESUMO Farmacodermia é uma erupção cutânea que surge em decorrência de uma reação alérgica, provocada por drogas, que tem um mecanismo de natureza imunológica. Qualquer tipo de medicamento pode causar uma farmacodermia. Entre as drogas mais comumente envolvidas estão os antibióticos, anti-inflamatórios, quimioterápicos, anticonvulsivantes e psicotrópicos. A maioria das farmacodermias são leves e desaparecem espontaneamente após a interrupção do uso do medicamento. Algumas podem ser graves e potencialmente letais, como a Síndrome de Stevens-Johnson e a Necrose epidérmica tóxica. Palavras-chave: Erupção por droga; Hipersensibilidade a drogas; Exantema. 1 Dermatologista do Hospital Geral de Palmas. Dermatologista da Clínica Luciane Prado Médico assistente da Clínica Luciane Prado 3 Médica residente em dermatologia do Hospital Geral de Palmas 4 Médico assistente do Hospital José Soares Hungria 5 Assistente de dermatologia do Hospital Geral de Palmas e Clínica Luciane Prado 6 Acadêmica de medicina da Associação Educativa Evangélica 7 Acadêmica de medicina da Faculdade Alfredo Nasser 8 Acadêmica de medicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás 9 Acadêmico de medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos 2 130 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS SKIN REACTION TRIGGERED BY DRUGS ABSTRACT Pharmacodermia is a rash that arises due to an allergic reaction caused by drugs, which have a mechanism of immune nature. Any type of medication can cause drug eruption. Among the drugs most commonly involved are antibiotics, anti-inflammatory drugs, chemotherapy drugs, anticonvulsants and psychotropic substances. Most drug reactions are mild and disappears espontaneously after discontinuation of the drug. Some can be serious and potentially lethal, such as Stevens-Johnson syndrome and toxic epidermal necrosis. Key-words: Drug eruptions; Drug hypersensitivity; Exanthema. 131 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS INTRODUÇÃO RELATO DE CASO A farmacodermia é uma reação Paciente do sexo masculino, 47 adversa cutânea causada por droga, anos, natural de Campos Sales-CE, levando a uma alteração na estrutura ou procedente de Palmas-TO. Há 35 dias função da pele e seus anexos e mucosas. apresentou lombalgia e fez uso de Qualquer órgão pode ser alvo de uma AINH. Após 5 dias, relata surgimento reação medicamentosa, portanto o órgão de mais comum a ser afetado é a pele, pois ela tem a função tanto metabólica lesões eritEmato-papulosas, disseminadas, intensamente pruriginosas, que coalesceram formando 1. quanto imunológica placas nodulares. Foi diagnosticado farmacodermia por uso de AINH. Ao Clinicamente a farmacodermia apresenta-se de diversas anatomopatológico: maneiras, focos palmas das mãos e regiões plantares, Existem o paciente a compatível com (Figuras 1, 3 e 5). duas Foi substâncias muito comuns que podem levar liquenóides farmacodermia ou pitiríaseliquenóide manchas avermelhadas no corpo e intenso. de padrão reacional vasculopático com podendo se manifestar com bolhas nas prurido dermatite prescrito Prednisona 1mg/kg/dia com melhora completa do apresentar quadro. Após 6 meses de tratamento farmacodermias, os antibióticos e os paciente apresentou remissão completa anti-inflamatórios. As farmacodermias do quadro (Figuras 2,4 e 6). podem chegar ao estágio mais avançado podendo levar o indivíduo a morte, por exemplo, no caso da Síndrome de Stevens-Johnson e a necrose epidérmica tóxica. Figura 1: foto pré-tratamento. 132 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Figura 2: foto após 12 dias de Figura 5: foto pré-tratamento. tratamento. Figura 6: foto após 12 dias de tratamento. Figura 3: foto pré-tratamento. DISCUSSÃO Os fármacos mais relacionados à reações adversas são as penicilinas, sulfonamidas, anticoagulantes aromáticos, antiinflamatórios não esteroidais do grupo dos oxicans, inibidores alopurinol, Figura 4: foto após 12 dias de dipirona, tratamento. da ECA, hidralazina, diuréticos, amoxacilina, captopril, tiabendazol, atropina e barbitúricos. A taxa de 133 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS frequência entre as drogas mais intensiva. São Paulo, vol.18 incriminadas é de cerca de 10 a 20 casos no.3, July/Sept. 2006 a cada 100.000 administrações do 2. MONIZ, P.; et al, Síndrome de fármaco. Stevens-Johnson De todos os pacientes tratados Tóxica e Necrólise Epidérmica. Acta com qualquer tipo de medicamento, MedPort, 24(1):059-070, 2011 cerca de 5 a 10% irão desenvolver 3. SILVARES, M.R.C.; ABBADE, alguma forma de farmacodermia. Os L.P.F.; antibióticos são os fármacos que mais LAVEZZO,M.;GONÇALVES,T causam .M; reações cutâneas ABBADE,J.F. Reações medicamentosas sendo quase 50% do cutâneas total. drogas. An. Bras. Dermatol. Rio No Brasil isso pode estar de ocorrendo pela facilidade em adquirir tais fármacos imprudência e até na mesmo pela prescrição. Na desencadeadas Janeiro. vol.83 por no.3, May/June 2008 4. TEO, L.; TAY, Y.K.; LIU, T.T.; KWOK, C. Stevens-Johnson classificação de fármacos que mais syndrome and toxic epidermal causam necrolysis: reações medicamentosas, logo cutâneas depois dos intravenous a efficacy of immunoglobulina antibióticos temos os antiinflamatórios, and review anticonvulsivantes e analgésicos. options. Singapore Med,50 (1) : 29, J 2009. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BULISANI, A.C.P.; SANCHES, G.D.; GUIMARÃES,H.P.; LOPES,R.D.; VENDRAME, L.S.; LOPES, A.C. Síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica em medicina intensiva. Rev. bras. ter. 134 of treatment Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS CASE REPORT LINFADENITE CERVICAL SUPURATIVA COMO SINAL DE DOENÇA DE KAWASAKI, EM PALMAS – TO Marlla Caroline Ribeiro Araújo1; Renata Ribeiro Rocha2; Larissa Nascimento Marques3; Mayara Soares Cunha4; LorranyCoelho Assunção1 RESUMO Paciente caucasiano, cinco anos de idade, previamente hígido, apresenta uma história de surgimento de nódulo cervical delimitado em nível II, associado à febre e queda no estado geral, evoluindo em torno de oito dias com o crescimento do nódulo e apresentando sinais flogísticos locais, mimetizando a hipótese diagnóstica de adenite bacteriana, evoluindo com sepse e drenagem purulenta local. Após melhor análise do caso, surgiram outros sinais e sintomas compatíveis com os critérios diagnósticos de doença de kawasaki (febre por cinco dias ou mais, conjuntivite bilateral não supurativa, linfonodomegalia cervical não purulenta, rash polimórfico, alterações em lábios e/ou mucosas, alterações em extremidades) o que justifica a suspeita diagnóstica e início do tratamento, mesmo que o paciente exiba o diferencial de apresentar uma linfadenite supurativa em vez de somente uma linfonodomegalia cervical. Após onze dias em investigação e avaliações de especialistas, o paciente iniciou tratamento com imunoglobulina humana, usou o esquema alternativo de cinco dias, e então, concluiu o tratamento com antibioticoterapia (ceftriaxona e oxacilina) por doze dias. Houve melhora significativa no primeiro dia de uso da imunoglobulina, o que confirma ainda mais a hipótese de doença de kawasaki, foi de alta hospitalar em uso de aspirina por mais seis semanas, e com acompanhamento ambulatorial. Portanto, linfadenite cervical supurativa pode ser sinal de doença de kawasaki, o uso do esquema alternativo de tratamento pode ser bastante eficaz tanto quanto o tradicional. Palavras-chave: doença de kawasaki; linfadenite supurativa; imunoglobulina. ¹Interna do curso de medicina, Centro Universitário UNIRG, Palmas (TO); ²Residente em pediatria, Universidade Federal do Tocantins, Palmas (TO); ³Preceptora em pediatria do Hospital Infantil de Palmas, Universidade Federal do Tocantins, Palmas (TO). 136 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS CERVICAL SUPPURATIVE LYMPHADENITIS AS KAWASAKI DISEASE SIGN IN PALMAS – TO ABSTRACT Caucasian patient, five years old, previously healthy, presents a history of cervical nodule emergence defined as Level II, associated with fever and decrease in general condition, evolving around eight days with nodule growth and showing signs of inflammation sites, mimicking the diagnosis of bacterial adenitis, progressing to sepsis and local purulent drainage. After further analysis of the case, there were other signs and symptoms consistent with the diagnostic criteria of Kawasaki disease (fever for five days or more, non-suppurative bilateral conjunctivitis, not purulent cervical lymphadenopathy, polymorphous rash, changes in lips and/or mucous membranes, changes in extremities) which justifies the suspected diagnosis and early treatment, even if the patient displays the differential presenting a suppurative lymphadenitis instead of only a cervical lymphadenopathy. After eleven days in research and expert reviews, the patient began treatment with human immunoglobulin, used the alternative scheme of five days, and after that completed treatment with antibiotics (ceftriaxone and oxacillin) for twelve days. There was significant improvement on the first day of use of immunoglobulin, which confirms the hypothesis of Kawasaki disease even more, he was discharged on aspirin for six weeks and ambulatory monitoring. Finally, suppurative cervical lymphadenitis can be Kawasaki disease sign, the alternate treatment regimen can be quite effective as traditional. Keywords: Kawasaki disease; suppurative 137 lymphadenitis; immunoglobulin. Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS INTRODUÇÃO Doença RELATO DE CASO de ou Paciente caucasiano, 5 anos de idade, síndrome de kawasaki, trata-se de uma previamente hígido, proveniente de Paraíso vasculite aguda, grave e multissistêmica – que compromete vasos de médio a surgimento de nódulo cervical delimitado pequeno calibre. Geralmente ocorre em em nível II, associado a febre e queda no lactentes e crianças menores de 5 anos de estado geral, evoluindo em torno de 8 dias idade. Tem etiologia desconhecida, mas a com epidemiologia e a apresentação clínica apresentando sugerem Além disso, durante a evolução do quadro, uma kawasaki(DK), infecção imunológica anormal à ou resposta infecção(1).Após a TO, o apresenta uma crescimento sinais história do de nódulo flogísticos e locais. após o surgimento do nódulo, apresentou púrpura de Henoch-Schonlein, a DK conjuntivite constitui a vasculite mais comum da exantema infância, e atualmente é a principal causa alterações puntiformes em língua, fissuras de cardiopatia adquirida da criança nos labiais, mucosite labial, descamação de países extremidades plantar e palmar, aumento do desenvolvidos, por sua vez bilateral não pruriginoso contribuindo para a morbimortalidade volume abdominal, cardiovascular do adulto (4). persistente(Figuras 1, 2,3). supurativa, generalizado, e febre Geralmente é caracterizada por febre prolongada, exantema, conjuntivite, inflamação de mucosas, poliarterite de intensidade cervical (1). variável e linfadenopatia Dessa forma, sabe-se que não há relatos de linfadenite cervical supurativa como sinal para critério diagnóstico de DK. Ao mesmo modo, não há casos publicados em periódicos relacionados à DK no estado do Tocantins. Em suma, relatamos a seguir um caso de uma criança de 5 anos de idade, apresentando uma linfadenite supurativa Figura 1. Mucosite e alterações puntiformes em esquerda associada a doença de kawasaki, língua em Palmas – TO. 138 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS no Hospital Infantil de Palmas (HIP), uma vez que a febre se mantinha persistente, e foi realizada uma ultrassonografia de abdome total que demonstrou hepatomegalia discreta. Durante a passagem ao setor de emergência, o exame físico de entrada evidenciou um sopro sistólico pancardíaco, melhora da conjuntivite e exantema, mas o paciente persistia com febre e descamação em lábios e extremidades, realizou ainda Figura 2. Descamação Plantar exames de entrada evidenciando hemoglobina (Hb) 7.5/mm³, hematócrito (Ht) 23.1%, leucócitos 15.560/mm³(78% de neutrófilos totais, 15% de linfócitos, 5% de monócitos, 2% de eosinófilos, 0% de basófilos), plaquetas 167.000/mm³, creatinina 0.6 mg/dl, ureia 34 mg/dl, aspartatoaminotransferase 42 U/L, alanina aminotransferase 20 U/L, PCR foi solicitado mas não foi realizado. Também foi realizado radiografia de tórax AP e Perfil, onde sugeriu imagens de adenomegaliasmediastinais e alargamento do mediastino, e uma ultrassonografia de abdome Figura 3. Descamação Palmar hepatoesplenomegalia A partir daí, foi internado no hospital de Paraíso, diagnosticado onde com foi avaliado linfadenite, total, e concluído leve e com pequena ascite. e Com isso, foi internado com a foi hipótese realizada drenagem cirúrgica local. Após a diagnóstica de doença de kawasaki, e dessa forma foi solicitada uma drenagem do abscesso, o paciente foi avaliação encaminhado ao nosso serviço de pediatria, infectologia 139 do setor de reumatologia, e solicitado um Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 ecocardiograma. SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Enquanto isso, foi humana (5g/100ml) 7g-140ml em 4h em instituído o tratamento de Ceftriaxona bic, por 5 dias. Também foram solicitadas (850mg EV 12/12h), Oxacilina (850mg Ev as 6/6h), AAS (8,5ml VO 1x/dia). Após 1 dia reumatológicos. sorologias virais e marcadores de internação no HIP, o paciente mantinha febre e ascite leve, o setor de infectologia nos orientou a realizar exames sorológicos para descartar doenças virais como zyka, dengue, parvovírus, e pedido de hemoculturas, a equipe de reumatologia também confirmou a hipótese diagnóstica de DK, com isso sugeriu a manutenção do tratamento e avaliar o uso de imunoglobulina humana após a realização do ecocardiograma. Neste 2º dia de Figura 4. Adenite supurada após drenagem internação foram realizados mais exames laboratoriais com as seguintes alterações: Hb 7.8 g/dl, leucócitos paciente evoluiu com melhora clínica 22.830/mm³ (79% de neutrófilos totais, significativa, passou a não apresentar mais 16% de linfócitos, 3% de monócitos, 2% febre, exibiu resolução total da ascite, de apresentando um bom padrão de apetite e eosinófilos plaquetas Ht e 24.1%, Após o início do tratamento, o 0% de 308.000/mm³, aminotransferase sono, com melhora da mucosite e descamações, e apresentando somente um aminotransferase 30 U/L, DHL 392 U/L, sopro sistólico mitral discreto à ausculta glicemia de 51mg/dL, albumina de 2.1 cardíaca. mg/dL, uma continuava drenando secreção purulenta tomografia de tórax com contraste para em moderada quantidade, com isso foi melhor avaliar as alterações observadas em realizada uma ultrassonografia de região radiografia. cervical que demonstrou: coleção de solicitado U/L, aspartato alanina foi 52 basófilos), também Mas o abscesso cervical contornos irregulares e debris de permeio Somente no 3º dia de internação, foi medindo 2.7 x 1.6 x 1.6 cm, com volume realizado o ecocardiograma, onde não estimado em 4cm³ na região cervical evidenciou alterações, e após isso, foi esquerda, compatível com abscesso, nota- iniciado o tratamento com imunoglobulina se 140 ainda linfonodomegalia unilateral Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS esquerda com o maior medindo 2.3 x 1.2 radiografia de tórax para reavaliar as cm (Figura 4). Após 3 dias de uso da Ig H, alterações vistas anteriormente, e com isso, foram exames não foi evidenciada nenhuma mudança do laboratoriais, onde evidenciou: Hb 8.4 padrão normal, e com isso foi cancelada a g/dL, Ht 25.3%, leucócitos 18.680/mm³ realização da tomografia.Através disso, o (67% de neutrófilos totais, 26% de paciente foi reavaliado pela equipe de linfócitos, 6% de monócitos, 1% de pediatras e reumatologistas, e foi decidido eosinófilos basófilos), pela alta hospitalar baseada na melhora 626.000/mm³ de plaquetas, cálcio total de clínica e laboratorial do paciente, porém, 8.6 aspartato foi encaminhado para acompanhamento alanina ambulatorial com a equipe de pediatras e realizados mg/dL, e novos 0% VHS aminotransferase de 16mm/h, 46 U/L, aminotransferase 23 U/L, albumina de de 1.4mg/dL, e foi adicionada à conduta consulta para após 4 semanas, com um compressas mornas na região cervical e novo ecocardiograma, e em uso de AAS mantida as outras medicações. por 8,5ml via oral por 6 semanas, em relação Enfim, após completar 5 dias de uso foram realizados ao sendo abscesso marcada cervical, se apresentava ainda secretivo, mas com uma de imunoglobulina, e 12 dias de oxacilina e ceftriaxona, reumatologistas, ótima novos melhora clínica, sem sinais flogísticos locais, e a orientação foi a exames onde foi demonstrado uma Hb 9,4 manutenção das compressas mornas e uso g/dL, Ht 29%, leucócitos 7.300/mm³ (43% de curativo em casa. neutrófilos totais, 47% linfócitos, 6% monócitos, 4% eosinófilos e 0% de basófilos), 485.000/mm³ de plaquetas, 2.7 mg/dL de DISCUSSÃO albumina, aspartatoaminotransferase 50 U/L, alanina Após uma ampla busca na literatura aminotransferase 42 U/L, 1.16 INR com vigente em torno do tema, observamos que atividade de 77.1%, PCR de 1.6 mg/L, não há casos relatados de linfadenite VHS de 10 mm/L. Além disso, realizou supurativa como sinal de doença de também um novo ecocardiograma onde se Kawasaki, há casos de adenite associada à apresentou da flegmão e celulite, mas não há drenagem normalidade. Uma vez que realizado tais de material purulento local. Ao mesmo exames, houve uma demora na realização modo, não há casos de doença de kawasaki da tomografia de tórax, foi solicitada uma no estado do Tocantins (Brasil) publicados dentro do padrão 141 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS em revistas, o que é um avanço importante linfadenopatia cervical não supurativa, demonstrado por este relato. dolorosa (> ou = a 1/ > ou = a 1,5cm), presente em todo o curso da doença em Em relação à prevalência da doença, aproximadamente 50% dos casos.(1)Em como foi dito anteriormente, é comum ser relação ao caso apresentado, observamos manifestada em crianças menores que 5 que o paciente preencheu todos os critérios anos de idade(2), o que foi demonstrado (quadro 1) de doença de kawasaki, neste artigo. Além disso,milhares de casos cumprindo todos os estádios da doença, já foram reportados no mundo, em diversos geralmente no tempo adequado, entretanto, grupos étnicos e raciais, mas crianças de ascendência japonesa têm houve o diferencial, o fato de ele maior apresentar a linfadenopatia supurada, o que prevalência, o que escapa um tanto, uma nos leva ao atraso diagnóstico, levantando vez que a criança do caso relatado tem a ascendência caucasiana (5). hipótese de adenite bacteriana, provavelmente levando a uma síndrome da De acordo com a literatura a doença resposta inflamatória sistêmica, pelas tende a progredir em estádios, começando alterações detectadas posteriormente, como com febre, em geral remitente, associada sopro com irritabilidade, às vezes extrema, hepatomegalia, ascite, e leucocitose com letargia desvio para a esquerda. ocasional e dor abdominal sistólico pancardíaco, intermitente em cólicas. Usualmente, um dia ou dois após o início da febre, aparece injeção bulbar conjuntival bilateral sem Quadro 1. Critérios exsudato. Em 5 dias surge um exantema DiagnósticosDoença de polimorfo, Kawasaki macular, eritematoso, Frequência primariamente sobre o tronco, quase 1.Febre por 5 dias ou mais 100% sempre 2.Conjuntivite bilateral 85% ser 3.Linfadenomegalia 70% ou cervical, perineal. com Tal acentuação exantema morbiliforme, em pode urticariforme região aguda, não escarlatiniforme e é acompanhado por supurativa hiperemia de faringe, lábios hiperemiados, 4.Rash secos e com fissuras e língua vermelha vesicular como 5.Alterações nos lábios e/ou 90% pacientes. A descamação periungueal, palmar e plantar, começa em polimórfico, não 80% mucosas (vermelhos, secos, torno do 10º dia. E, geralmente, há uma 142 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS em 2g/kg/infusão de IgIV, é 400mg/kg ao dia framboesa, eritema difuso de IgIV, diariamente, durante 4 dias da orofaringe) (novamente em combinação com altas fissuras, língua 6.Alterações doses de aspirina).(1) das 70% extremidades (eritema das Sobre o caso relatado, foi optado palmas ou plantas, edema e pelo uso do esquema alternativo, uma vez descamação dos dedos) que o paciente já apresentava 11 dias de evolução da doença sem tratamento, Por outro lado, todas as manifestações da podendo ser um maior risco de ter doença de Kawasaki detectadas (critérios disfunção cardíaca, associado ao exame diagnósticos), e o atraso no diagnóstico, físico nos levaram a iniciar ao tratamento pancardíaco, além disso, ele faz uso da protocolo de DK. O tratamento na fase aspirina aguda, segundo os estudos, visa reduzir a primeiro dia de internação, quando houve a resposta inflamatória na parede da artéria suspeita. O tratamento do abscesso em si, coronária e prevenir a vasculite e suas foi realizado com antibioticoterapia, com consequências (trombose e aneurisma), boa cobertura para gram negativos e enquanto a terapêutica nas fases subaguda positivos, e a programação é que seja e de convalescença objetiva prevenir a usada no mínimo por 14 dias, já que a isquemia miocárdica e o infarto.(4)A terapia drenagem é introduzida o mais breve possível, secreção purulenta. idealmente nos primeiros 10 dias de doença, com uma combinação bucal regrediu a total resolução. As sorologias solicitadas não foram todas esquema alternativo, que pode levar a uma disponibilizadas pelo serviço, mas as que resolução discretamente mais lenta dos foram colhidas estão com os resultados em sintomas, mas que pode beneficiar aqueles conseguem tolerar o volume bastante plantar e palmar, e as alterações em região há um que apresenta o febre, diminuiu o processo de descamação a 100 mg/kg ao dia em 4 doses cardíaca ainda desde dose de IgIV, passou a não apresentar 12 horas) e aspirina oral em altas doses (80 disfunção recomendada sistólico mostrou evidente já com o uso da primeira (dose única 2g/kg administradas em 10 a com dose sopro A boa evolução do paciente se de imunoglobulina intravenosa em altas doses fracionadas), porém, também apresentando andamento, estas ajudarão a elucidar não possivelmente a etiologia primária da de doença. A programação para o futuro é o 143 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 acompanhamento SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ambulatorial do paciente, para prever e evitar possíveis 2. complicações futuras. CONCLUSÃO Lindafenite cervical supurada pode 3. estar associada à doença de kawasaki, mesmo que na literatura vigente e 4. observada não tenham casos relacionados a este dado. Outro ponto importante é o fato do uso do tratamento humana, esquema usando uma vez alternativo de imunoglobulina que os estudos demonstram ser de baixo espectro e levam a uma resolução discretamente mais lenta 5. dos sintomas, porém, o caso observado evidencia uma rápida resposta já no primeiro dia de tratamento. E não menos importante, o caso é relatado em Palmas – Tocantins, nunca antes publicado em qualquer revista apresentado médica, casos e 6. somente esporádicos em congressos através de pôsteres, o que demonstra o grande avanço tocantinense na 7. área da pesquisa médica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BERKOW, Robert et al. Seção 19: Doença de kawasaki. In: BERKOW, Robert et al. Manual Merck: Diagnóstico e 8. 144 Tratamento. 19. ed: Roca, 2014. Cap. pediatria. p. 2338-2340. CASTRO, Patrícia Aparecida de; URBANO, Lílian Mendes Ferreira; COSTA, Izelda Maria Carvalho. Doença de kawasaki. Anais Brasileiros de Dermatologia, Brasília, v. 84, n. 4, p. 317-331. 29/05/2009. Eleftheriou D, et al. Management of Kawasaki disease. Arch Dis Child 2014;99:74–83. RANGEL, Maria Adriana Paias da Silva Torres. Doença de Kawasaki: diagnóstico e segmento. 2011. 45 f. Dissertação (Mestrado integrado em Medicina)-Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Portugal, 2011. ROSSI, Felipe de Souza et al. Extensa linfadenite cervical mimetizando adenite bacteriana como primeira manifestação da doença de Kawasaki. Einstein, São Paulo, 2014. SILVA, Josenilson Antonio da et al. Abordagem Diagnóstica das Doenças Exantemáticas na Infância. Rev Med Saude Brasilia 2012; 1(1):10‐9. 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Paciente foi diagnosticado com síndrome de Leriche, sendo que além do acometimento aorto-ilíaco, também apresentava lesão multissegmentar de artérias de membros inferiores, incluindo o acometimento difuso da artéria femoral profunda, em um paciente relativamente jovem. Para a realização do diagnóstico foi utilizado somente um exame complementar pré-operatório, a angiografia por tomografia computadorizada, devido à dificuldade de punção da artéria femoral. O tratamento de escolha foi a derivação anatômica aorto-femoral e femoro-poplítea em um único tempo cirúrgico, já que o paciente apresentava isquemia crítica de membros inferiores e condições clínicas adequadas para o tratamento proposto. Palavras-chave: Síndrome de Leriche. Doença Arterial Periférica. Angiografia. ¹ Cirurgião Vascular e Professor Efetivo do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins ² Cirurgião Vascular e Preceptor do Internato da Universidade Federal do Tocantins 3,4,5,6,7,8 . Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Tocantins Endereço: 401 Sul, Avenida LO 11, Conj. 02, Lote 2, Edificio Palmas Medical Center, 11 andar, Sala 1106 – Plano Diretor Sul, Palmas (TO) Brasil. CEP 77015-558. Telefone: (63) 99283-6333, E-mail: [email protected]. 145 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS LERICHE SYNDROME – CASE REPORT ABSTRACT The following report brings the case of a patient of 49 years who had the triad of thigh claudication, diminished or absent femoral pulses and erectile dysfunction. Patient was diagnosed with Leriche syndrome, and beyond aortoiliac involvement also showed multisegmental lesions of arteries of lower limbs, including diffuse involvement of the deep femoral artery in a relatively young patient. For the diagnosis only a further examination before surgery, angiography by computed tomography was used because of the difficulty of femoral artery puncture. The treatment of choice was the anatomic bypass aorto-femoral and femoro-popliteal in one surgical time, since the patient had critical ischemia of the lower limbs and appropriate clinical conditions for the proposed treatment. Keywords: Leriche syndrome; Peripheral arterial disease; Angiography. 146 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS na bifurcação aórtica. A síndrome é INTRODUÇÃO A isquemia crônica de membros uma variante não usual da doença inferiores, também conhecida como arterial que acomete a Aorta Abdominal doença arterial obstrutiva periférica e/ou ambas as artérias ilíacas6. A (DAOP), incidência oclusão é usualmente devido à presença populacional e é umas das causas mais de placa aterosclerótica associada a um comuns de perda/dificuldade de se trombo. Em relação à localização do locomover. do acometimento, o Leriche é mais comum estreitamento e enrijecimento arterial no segmento inter-renal da Aorta com periférico e está associada a elevado 52%, em segundo lugar está a porção risco de eventos cardiovasculares fatais infrarrenal com 25%, em 11% há o e não-fatais, como infarto agudo do acometimento da Aorta suprarrenal e miocárdio e acidente vascular cerebral.4 em 12% há o acometimento difuso da tem A alta DAOP decorre Aorta.6 A DAOP atinge 8 milhões de americanos intermitente, com sendo tornozelo-braço é claudicação que um o Esta síndrome é categorizada índice método atualmente como tipo D pelo Trans- de Atlantic Inter-Society Consensus for the extrema importância para o diagnóstico Management of Peripheral Arterial e avaliação da progressão da doença9. A Disease (TASC II)12 e é caracterizada prevalência de doença arterial periférica pela seguinte tríade: ausência de pulso está entre 3 e 10%, sendo que para femoral pacientes com mais de 70 anos, esta glúteos, impotência em homens e prevalência aumenta para 20%6. Entre amenorreia secundária em mulheres. Os os principais fatores de risco da doença sintomas geralmente aparecem entre as estão o tabagismo, a hipertensão arterial quarta e quinta décadas de vida, ou seja, sistêmica e a dislipidemia, sendo que a desenvolvem-se de maneira lenta muito arteriosclerose constitui a principal provavelmente pela formação de uma causa de insuficiência arterial crônica rede vascular colateral que ameniza a nos membros inferiores. isquemia dos membros inferiores. A chamada Síndrome de Leriche constitui uma insuficiência bilateral, claudicação de O quadro clínico da doença foi arterial descrito pela primeira vez em 1814 por crônica aortoilíaca bilateral, cuja causa Sir Gilbert Blane, no entanto, o mais comum é a presença de um trombo mecanismo fisiopatológico e a proposta 147 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS de tratamento foram definidos mais de RELATO DO CASO um século depois pelo cirurgião francês Leriche7. Rene A doença VJS, sexo masculino, 49 anos, afeta casado, leucodérmico, católico, igualmente mulheres e homens, e é mecânico, acompanhado pelo Serviço geralmente diagnosticado entre 40 e 60 de Cirurgia Vascular do Hospital Geral anos de idade7. de Palma. Paciente refere que no ano O diagnóstico da Síndrome é de 2009, iniciou quadro de dor de confirmado por exames de imagem: caráter tomografia ou membros inferiores - mais intensamente O em coxa, panturrilha e dorso de pé tratamento considerado padrão-ouro é a esquerdos – que se iniciava após longas cirurgia caminhadas, computadorizada ressonância magnético6. nuclear de revascularização e progressivo em aliviava ao ambos os repouso, dependendo da localização, extensão e associada à fraqueza muscular. Sendo natureza da obstrução, as abordagens que permaneceu todo esse período sem cirúrgicas têm sido compostas pela procurar assistência médica. Refere que endarterectomia no ano de 2012, houve piora importante e/ou ressecção do segmento ocluído com colocação de do enxerto; ponte aorto-bifemoral (padrão- distâncias cada vez mais curtas. Em ouro); ponte aorto-femoral unilateral dezembro de 2013, refere que observou com uma ligação femoro-femoral; e pequena lesão hiperemiada em região uma de calcanhar esquerdo, relatou que a ponte extra-anatômica axilo- 7 femoral . O quadro com claudicação para lesão aumentou de tamanho, tornandoobjetivo desse relato é se ulcerada com base escurecida e apresentar um caso de Síndrome de progressivamente Leriche associada à doença arterial de especialmente durante a noite, associada membros inferiores, ou seja, doença a isso, também relatou que começou a multissegmentar, apresentar disfunção sexual. Em virtude relativamente utilização de complementar em jovem, um um paciente enfocando único pré-operatório mais dolorosa, a da lesão procurou assistência médica e exame foi admitido pelo serviço de cirurgia e a vascular do HGP. Iniciou tratamento realização da revascularização cirúrgica com Cilostazol 100mg, AAS 100mg, combinada em um único tempo. Clopidogrel 75mg e Sinvastatina 40mg 148 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS desde então, não apresentando melhora também evidenciou reenchimento do quadro. isolado de artérias femorais comuns Paciente foi diagnosticado com direita e esquerda, oclusão de artérias Diabetes Melito no ano de 2012, faz uso femorais superficiais direita e esquerda, de e Metformina e Glibenclamida. aterosclerose severa de artérias Tabagista desde os 12 anos de idade femorais profundas direita e esquerda. (carga tabágica: 74 maços/ano); fazia Apesar destes achados, o exame não uso diário de bebida alcoólica: 1 cerveja possibilitou uma adequada avaliação de e uma dose de bebida destilada após o membros inferiores, necessitando de trabalho. Ao exame físico de admissão, abordagem cirúrgica a fim de confirmar paciente apresentava ausência de pulsos a perviedade das artérias poplíteas. femorais, membros inferiores com temperatura diminuída, lesão trófica de base escurecida em região de calcanhar esquerdo (Figura 1), Índice TornozeloBraquial < 0,5. Figura 2 – Angiotomografia de abdome superior/inferior. A seta aponta a oclusão ao nível da aorta infrarrenal. Figura Figura 1- Lesão Trófica de evolução de cerca de 5 meses em A partir dos dados clínicos Calcanhar de Membro Inferior associados aos achados do exame de imagem, Paciente foi submetido a uma chegou-se a hipótese angiotomografia de abdome superior e diagnóstica de Síndrome de Leriche inferior que constatou oclusão de aorta associada abdominal justarrenal e de artérias extremidades inferiores, ou seja, havia ilíacas (Figura 2). A angiotomografia 149 à oclusão arterial das Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 uma combinação SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS de doença temporário de artérias renais direita e aortofemoral e femoropoplítea. esquerda e de aorta suprarrenal. Tal A terapia de escolha foi a manobra teve como finalidade prevenir intervenção cirúrgica onde foi realizada fenômeno tromboembólico para artérias ponte mais renais e reduzir o fluxo sanguíneo em endarterectomia aorto-ilíaca direita e região infrarrenal a ser abordada. Logo esquerda mais endarterectomia íleo- após, femoral mais ponte fêmoro-poplítea longitudinal seguida de endarterectomia direita e esquerda, ou seja, optou-se pela de aorta infrarreanal. Em seguida, reconstrução combinada em um único realizou-se tempo cirúrgico. proximal, a fim de se obter segmento de aorto-bifemoral Inicialmente foi foi realizada rafia a parcial arterotomia da aorta realizada aorta infrarrenal que foi imediatamente incisão em face medial de coxa direita e clampeado, seguido da liberação do esquerda com dissecção de artérias fluxo em aorta suprarrenal e artérias poplíteas suprapatelares renais. esquerda. Depois de perviedade das artérias direita e avaliada a Prosseguiu-se com anastomose poplíteas, latero-terminal de segmento de aorta decidiu-se estender o enxerto até as infrarrenal com prótese de Dacron mesmas. (16x8 mm) (Figura 3). Em seguida, foi realizada incisão de região inguinal direita e esquerda com dissecção de artérias femorais comuns, a abordagem inicial destas teve por objetivo avaliar se as mesmas poderiam receber segmento de prótese. Após abordagem de membros inferiores, seguiu-se à realização de laparatomia e exposição da aorta Figura 3- A figura mostra a anastomose abdominal. Foi realizada a dissecção de látero-terminal de segmento de aorta toda a extensão de aorta infrarrenal, de infrarrenal com prótese de Dracon. A segmento de aorta suprarrenal e de seta branca aponta para a rafia proximal artérias renais direita e esquerda. Em em aorta infrarrenal. A seta preta aponta seguida, foi realizado o clampeamento a veia renal esquerda. 150 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS recebeu alta no 12° dia de pós- Seguiu-se com de operatório. Vale ressaltar que paciente artéria femoral comum com posterior apresentava creatinina de 0,9 no pré- anastomose com ramo da Prótese de operatório, sendo que avaliação renal do Dacron, 4° dia de pós-operatório evidenciou bilateral. arterotomia Segui-se o clampeamento da prótese com incisão creatinina de 0,8. longitudinal da mesma e anastomose Paciente retornou 23 dias após o látero-terminal Dracon - Prótese de procedimento para consulta de PTFE 70 mm (Figura 4). A seguir, foi seguimento pós-operatório, com relato instalada prótese de PTFE em membros de melhora da claudicação em coxa e inferiores direito e esquerdo. panturrilha e da disfunção sexual. Ao exame, paciente apresentava pulsos femorais palpáveis; ITB de 0,9. Em relação à lesão, esta se encontrava ulcerada com mais ou menos 2 cm, com presença de tecido de granulação no centro e tecido fibrinoso em periferia (Figura 5). Figura 4- A figura mostra a Anastomose látero-terminal de um ramo da prótese de Drácon com a Prótese de PTFE Prossegui-se com clampeamento e arterotomia de artéria poplítea com posterior anastomose Figura 5 - Lesão em calcanhar esquerdo término-lateral no 23° dia de pós-operatório. PTFE – artéria poplítea com exxcel soft 6.0 bilateral; concluindo então a DISCUSSÃO realização do bypass aorto-femoral- A Síndrome de Leriche, também poplíteo. referida como doença oclusiva aorto- Paciente permaneceu dois dias ilíaca (DAOI), é caracterizada pela na Unidade de Terapia Intensiva, foi presença de oclusão trombótica da aorta encaminhado para a enfermaria e 151 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS infrarrenal.5 É definida classicamente de calcanhar esquerdo, e como Brewster em homens pela tríade: claudicação tipo 3, pelo acometimento de múltiplos intermitente, diminuição ou ausência de segmentos pulsos femorais e disfunção sexual.7 infrarrenal, artérias ilíacas bilaterais, As principais comorbidade arteriais, aterosclerótica mellitus femorais profundas. difusa em artérias mal controlada, dislipidemia, hipertensão Em um estudo realizado por arterial e idade avançada. Determinado Krankenberg, 11 pacientes com Leriche demonstrou foram acompanhados, sendo que quatro tabagismo, 2 aorta arterial femoral superficial e doença relacionadas à DAOI são: diabetes tipo sendo: valores inversamente proporcionais entre a pressão arterial possuíam acometimento sistólica e o ITB, além disso, mostrou multissegmentar, porém todos com que a prevalência da DAP se eleva uma artérias femoral profunda pérvia.7 A vez e meia em pacientes com DM.9 artéria femoral profunda pode estar com Classicamente, Fontaine et al, estenose significante ou com oclusões propuseram quatro classes de isquemia em 15% dos doentes com lesão crônica de extremidades: assintomático; combinada claudicação; dor em repouso; e lesão poplítea), trófica.5 diabéticos, a lesão desta artéria é mais Já Brewster propôs uma (aorto-ilíaca sendo que e fêmoro- nos doentes frequente e grave.1 classificação anatomopatológica para doença oclusiva aorto-ilíaca em três O diagnóstico inicial da DAOI é tipos: Tipo 1 - doença localizada na presumido bifurcação da aorta e nas artérias ilíacas confirmado comuns; tipo 2 - complementares. Atualmente, quatro segmento doenças difusa do aorto-ilíaco, envolvendo pelo exame pelos clínico e exames exames de imagem são utilizados: desde a aorta até o início da artéria arteriografia femoral; tipo 3 - doenças oclusiva ultrassonografia Doppler, angiografia multi-segmentar, que envolve tanto o por tomografia axial computadorizada e segmento aorta ilíaco quanto as artérias angiografia por ressonância magnética. infra-inguinais.3 Os No caso acima relatado, o três últimos com são contraste, considerados exames alternativos á arteriografia com contraste.8 paciente é classificado como Fontaine 4, pela presença de lesão trófica em região 152 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 No caso angiografia SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS em por discussão, tomografia a apresentava axial exame complementar das principais indicações para tratamento cirúrgico. computadorizada (angio-TAC) foi o único uma De acordo com a Recomendação pré- 21 do Management of Peripheral 12 operatório utilizado, pois a arteriografia Arterial Disease (TASC II) , antes de com contraste (AC) foi descartada por se oferecer a um claudicante qualquer dificuldade de punção das artérias tratamento invasivo, endovascular ou femorais cirúrgico, que estavam difusamente devem ser levadas em comparativos consideração: ―1) a falta prevista ou mostram claramente que a angio-TAC é constatada de resposta adequada ao tão acurada quanto a AC na avaliação tratamento com exercício e modificação do Estes de fator de risco; 2) o paciente deve ter concluíram que a angio-TAC tinha severa incapacidade para trabalhar ou acurácia e para realizar outras atividades que lhe estenoses graves (>80%).10,11 Além de sejam importantes; 3) ausência de ser um bom exame, apresenta outras outras comorbidades que poderiam ser vantagens, responsáveis acometidas. Trabalhos segmento aorto-ilíaco. perfeita como nas oclusões ser minimamente pela claudicação; 4) invasivo, não necessitar de punção história natural individual e prognóstico arterial, e ser de simples e rápida esperados; 5) a morfologia da lesão execução. deve ser tal que Em relação ao a intervenção tratamento apropriada teria baixo risco e alta cirúrgico, deve-se dar maior atenção as probabilidade de sucesso inicial e a lesões classe 3 e 4 de Fontaine. Estas longo prazo‖. lesões oferecem grande risco de perda A doença localizada no setor da extremidade, sendo esperada uma aorto-ilíaco, em paciente com boas amputação maior dentro de 6-12 meses condições clínicas, classicamente é na tratada ausência de uma melhora 5 por intermédio de aorto-bifemoral ou hemodinâmica significativa. O paciente revacularização em discussão apresentava lesão trófica aorto-bi-ilíaca, sendo o procedimento com evolução há 5 meses sem melhora unilateral menos utilizado.5 Quando há com presença de contra-indicações clínicas tratamento vasodilatadoras, clínico (drogas anti-agregantes para plaquetários e hipolipemiantes), logo a reconstrução anatômica aortoiliaca ou aortofemoral podemos 153 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS utilizar as derivações extra-anatômicas Em relação ao segmento e como axilobifemoral ou femorofemoral avaliação de comorbidades no pós- cruzada.1 operatório, a melhora da claudicação No caso em discussão, tratava-se de um paciente jovem, com intermitente boas condições clínicas e comorbidades aortofemoral em portadores de doença devidamente controladas, logo, a equipe multissegmentar é difícil de predizer, optou embora os sintomas sejam aliviados de pela revascularização aorto- na reconstrução 26 a 95% dos casos.1 bifemoral. Durante o procedimento O paciente se encontra em cirúrgico do caso relatado, optou-se pela acompanhamento clínico pela equipe de derivação anatômica sincrônica aorto- cirurgia femoral e fêmoro-poplítea, visto que o consulta de pós-operatório, verificou-se paciente apresentava isquemia crítica de melhora importante da claudicação, membros inferiores e boas condições além do quadro de disfunção sexual. cirúrgicas. A realização de operações Também houve melhora da cicatrização aortofemoral e femorodistal em um da lesão trófica e do ITB (0,90). vascular, sendo que em único tempo cirúrgico aconteceu em apenas 4% dos doentes. Embora o planejamento de reconstrução combinada nem sempre seja simples, CONSIDERAÇÕES FINAIS devemos ter em mente que realizar os A equipe esteve diante de um dois procedimentos em um único caso atípico de uma Síndrome de tempo, quando houver indicação, é Leriche associada a um acometimento melhor, segundo multissegmentar de artérias de membros procedimento cirúrgico, sempre um inferiores, incluindo o acometimento risco a mais para o doente.1 difuso da artéria femoral profunda, em pois evitar um Vale ainda ressaltar que o um paciente relativamente jovem. O clampeamento da aorta suprarrenal e quadro de isquemia crítica dos membros das artérias renais objetivou a proteção inferiores exigiu tomada de decisão dos terapêutica em curto espaço de tempo e vasos renais de processos tromboembólicos, processos possíveis a durante estes planejamento cirúrgico alternativo, visto da que as artéria femorais se encontravam realização endarterectomia de segmento distal. difusamente doentes. Logo, conclui-se 154 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 que envolvimento SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS multissegmentar Membros Inferiores. requer tratamento para salvamento de Sociedade de membro e as decisões terapêuticas são Grande do Sul - Ano XIII nº 02 complexas e difíceis. Mai/Jun/Jul/Ago 2004. 6. Cardiologia KELLER BALZER Revista K., do BEULE J.O., da Rio J., COLDEWEY, MUNZEL T., DIPPOLD W., WILD P. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A 56-year-old man with co-prevalence 1. BAPTISTA-SILVA Lesões Combinadas Aortofemoral e femorodistal na J.C.C. of Aortoilíaca ou Femoropoplítea Isquemia Leriche syndrome cardiomyopathy: ou case and dilated report and review. Wien Klin Wochenschr (2014) Crônica 126:163–168. Crítica. Angiologia e cirurgia vascular: 7. guia ilustrado. Maceió, 2003. SCHLUTER M., SCHWENCKE C., 2. BREWSTER D.C., PERLER KRANKENBERG WALTER D., B.A., ROBINSON JG, DARLING R.C. SANDSTEDE Aortofemoral Endovascular occlusive graft for multiievei PASCOTTO A., TUBLER T. 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Ann Rehabil Med 2014;38(1):132-137. 156 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ORIGINAL ARTICLE FATORES ASSOCIADOS À MORTALIDADE NEONATAL EM PALMAS, TOCANTINS, BRASIL Pedro Henrique Borges Sardinha2, Gustavo de Sá Vasconcelos2, Ronan Fernando Andrade2, Caren Lopes Wanderlei2 e Virgílio Ribeiro Guedes1 RESUMO Introdução: A taxa de mortalidade neonatal vem caindo nas últimas décadas e está associada à grande mudança nas políticas de saúde, após a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). A média nacional continua um pouco acima do esperado pela ONU (10 mortes por 1000 habitantes). Existem problemas como o contraste entre região Norte e Nordeste com o Sul, onde essas possuem taxas duas vezes maiores. Essas taxas servem como base para o SUS traçar políticas para a qualidade de um bom indicador de saúde para a população. Objetivo: analisar os fatores associados da mortalidade neonatal no período de 2010 a 2013 na cidade de Palmas - Tocantins. Método: trata-se de um estudo de corte transversal. Foram inclusos osóbitos neonatais (ON) e nascidos vivos (NV) do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos e do Sistema de Informação sobre Mortalidade. Os coeficientes de mortalidade apresentados são por 1000 NV. Foramestudados apenas dados dos neonatos (0-27 dias), e os fatores associados foram: idade e escolaridade da mãe, tipo de parto, tipo de gravidez, peso ao nascer. Resultados: Registrou-se 207 ON em 18670 NV no período analisado. Tais taxas (médias) estavam associadas aos seguintes fatores: peso ao nascer de 500g a 999g (816,4), mãe sem nenhuma escolaridade (142,9), extremos de idade, parto vaginal (10,8) e gestação dupla (44,6). Conclusão: Os dados relacionados aos ON estão relacionados principalmente com: baixo peso ao nascer, baixa escolaridade, extremos de idade, gestações duplas e partos vaginais. Os valores de Palmas estão abaixo do esperado pela ONU. Palavras chaves: Mortalidade Infantil. Fatores de Risco. Indicadores Básicos de Saúde. 157 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS FACTORS ASSOCIATED WIHT INFANT MORTALITY IN THE PALMAS,TOCANTINS, BRAZIL ABSTRACT Introduction: The neonatal mortality rate has been falling in the last decades and is associated with the great change in health policies, after the implementation of the Single Health System (SUS). The national average is still a little above the expected by the UN (10 deaths per 1000 inhabitants). There are problems such as the contrast between the North and Northeast region with the South, where these have two times higher rates. These rates serve as basis for the SUS lay down policies for the quality of a good indicator of health for the population. Objective: To analyze factors associated with neonatal mortality in the period 2010 to 2013 in the city of Palmas - Tocantins. Method: this is a cross-sectional study. Were included neonatal deaths (ON) and live births (NV) Information SystemLive Births and Mortality Information System. The mortality coefficients presented are per 1000 NV. Only data were studied of neonates (0-27 days), and the associated factors were: age and educational level of the mother, delivery type, type of pregnancy, birth weight. Results: It registered 207 ON in 18670 NV in the period analyzed. Such fees (medium) were associated to the following factors: birth weight of 500g to 999g (816,4), mother with no schooling (142.9), extremes of age,born of vaginal birth (10.8) and pregnancy double (44.6). Conclusion: The data related to online are mainly related with: low birth weight, low schooling, age extremes, twin pregnancies and born of vaginal birth. The values of Palmas are below expected by the UN. Key Words: Infant Mortality risk factors, 158 basic indicators of health. Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS com as maiores taxas de mortalidade 1 INTRODUÇÃO infantil. Em 2010 a taxa de mortalidade A Taxa de Mortalidade infantil é neonatal da região Norte foi de 14,6, um indicador da qualidade de saúde comparada à taxa nacional de 11,2, e a prestada à população e ajuda no região Sul, na mesma data, apresentou planejamento de políticas de promoção uma taxa de 7,9; refletindo na saúde as de saúde, a sua redução é ainda um condições sociais da região. (BRASIL, desafio para o serviço de saúde e a sociedade como um todo. 2010) A A realização desse serviço de mortalidade neonatal (0 a 27 dias de vida) passou a ser o promoção da saúde é de grande principal importância,já que, no ano de 2000, foi componente da mortalidade infantil, em instituído pelo Ministério da Saúde o termos proporcionais, a partir do final Programa de Humanização no Pré-natal da década de 80, e representa entre 60% e Nascimento (PHPN), que teve como e 70% da mortalidade infantil em todas objetivo as regiões do Brasil atualmente. Essas mortes precoces podem natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao recém-nascido, na fatores biológicos, sociais, culturais e perspectiva dos direitos de cidadania. falhas no sistema de saúde. (BRASIL, (MINISTÉRIO 2009). SAÚDE, atendimento de qualidade à gestante é a de óbitos neonatais por 1000 nascidos Rede Cegonha, lançado em 2011 pelo vivos, no período de 2000 a 2010, Governo Federal, com o objetivo de apresentou um decréscimo (14%) e, observado, DA 2002).Outro programa para garantia de No Brasil, sabe-se que o número declínio a qualidade do acompanhamento pré- são produtos de uma combinação de do assegurar melhoria do acesso, da cobertura e da ser consideradas evitáveis.Em sua maioria, apesar primordial reduzir a ainda mais as taxas de mortalidade infantil e materna. O mortalidade infantil permanece como programa iniciou sua atuação pela uma grande preocupação em saúde Amazônia legal e o Nordeste, que são as pública. (BRASIL, 2010) regiões que registraram as maiores taxas As taxas de mortalidades em de todas as regiões do Brasil também mortalidade Brasil.(Disponível refletem esse decréscimo, no entanto, as materno-infantil no em: <dab.saude.gov.br/portaldab/ape_redece regiões Norte e Nordeste continuam 159 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS gonhaphd>. Acesso em 18 de fevereiro analisada a região metropolitana de de 2016). Palmas, situada no estado do Tocantins, As tentativas de assegurar um norte do Brasil. O município observado bom pré-natal às gestantes brasileiras possui um território de 2.218,943 km2, se dão, dentre outros motivos, pelo fato densidade desse serviço auxiliar na redução dos habitantes por km2, população em 2010 óbitos neonatais. Apesar da redução de 228.332 habitantes e estimada em importante da mortalidade infantil no 272.726 para o ano de 2015. (IBGE) Brasil nas indicadores últimas de décadas, óbitos os demográfica neonatais Sistema de Informação Mortalidade (SIM) aquém informação de desejado. Um 102,90 Os dados foram retirados do apresentaram uma velocidade de queda do de número e Sobre Sistema Nascidos de Vivos expressivo de mortes ainda faz parte da (SINASC), entre o período de 2010 e realidade do nosso país. Tais mortes 2013. ainda ocorrem por causas evitáveis, variáveis: idade da mãe, peso ao nascer, principalmente no que diz respeito às tipo de parto, escolaridade da mãe e tipo ações dos serviços de saúde e, entre de elas, a atenção pré-natal. (BRASIL, Departamento 2013). Sistema de Saúde (DATASUS) através Sabe-se que a maioria das gestação, do mortes neonatais são relacionadas à principalmente usadas sendo de as seguintes extraídos do Informática do endereço eletrônico www.datasus.gov.br. prematuridade, asfixia e às infecções decorrentes Foram Os dados foram coletados em de relação ao ano de óbito, utilizando-se condições potencialmente controláveis estatística descritiva e, em seguida, por meio de ações efetivas no pré-natal, foram parto, nascimento e período neonatal. gráficos na forma de óbitos por mil (BRASIL, 2011). nascidos vivos (taxa de mortalidade apresentados neonatal). MÉTODOS Estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa. Foi 160 em tabelas e Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS De RESULTADOS acordo com os fatores maternos, no período de 2010 a 2013 No período de 2010 a 2013 observou-se que,em escolaridade, as observou-se 207 óbitos infantis em mães que não possuíam nenhum estudo, 18670 nascidos vivos, resultando em apresentaram uma média de 11 óbitos por 1000 (TABELA 2) nascidos vivos. Tabela 2 relacionados ao Óbitos/1000 nascidos vivos Quando analisados os fatores recém-nascido, verificou-se que as maiores taxas estão relacionadas ao peso de 500 a 999g. (TABELA 1) Óbitos/1000 nascidos vivos Tabela 1 Peso ao nascer 1200 1000 800 600 400 200 0 Pa lm as Pa lm as Pa lm as Pa lm as 500 0 0 de 146,3. 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 20 10 20 11 20 12 20 13 0 0 0 0 Nenhuma 153, 125 181, 111, 1 a 3 anos 13,8 18,1 44,4 14,4 4 a 7 anos 9,46 18,0 12,1 21,4 8 a 11 anos 10,3 9,21 7,74 8,43 12 anos e mais 3,59 11,5 4,65 4,90 500 500 a 999g 666, 777, 1071 750 1000 g a 1499 g 102, 200 266, 179, 1500 g a 2499 g 19,7 25,7 26,7 24,3 2500 g a 2999 g 4,13 1,88 3,78 7,72 3000 g a 3999 g 1,38 2,32 0,98 0,95 4000 g e mais taxa Escolaridade da Mãe Escolaridad e 2010 2011 2012 2013 Menos de 500g um Já em relação à idade da mãe, tivemos no ano de 2010 uma maior taxa nas idades de 15 a 19 anos (13,8). Nos dois anos seguintes, as maiores taxas foram observadas nas idades entre 40- 0 9,66 3,83 44 anos(28,36 e 26,31). Já no ano de 0 2013 as maiores taxas foram observadas entre as idades de 10-14 anos(27,02). (TABELA 3) 161 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS 2010 a 2013 foram de 10,8, em Óbitos/1000 nascidos vivos Tabela 3 Idade da Mãe comparação 30 Tabela 4 a 8,8 de cesarianas. (TABELA 4 e 5) Tipo de parto 25 20 14 15 10 12 5 0 Pal ma s Pal ma s Pal ma s 10 Óbitos/1000 nascidos vivos Pal ma s 10 a 14 2010 2011 2012 2013 27,0 anos 15 a 19 anos 13,8 9,95 8,13 12,9 20 a 24 anos 8,50 10,6 9,89 14,5 25 a 29 anos 6,49 16,0 6,41 3,77 30 a 34 anos 9,02 11,3 7,76 5,84 35 a 39 anos 8,87 2,89 7,71 9,43 40 a 44 anos 0 8 6 4 28,1 26,3 11,3 2 De acordo com os fatores Vaginal 13,909 12,200 7,1394 0 assistenciais associados à mortalidade 9,995 Cesário 6,5627 Palm 10,705 Palm 8,8940 Palm 9,1970 Palm as as as as infantil, observou-se uma maior taxa em 2010 gestações duplas, média de 44,60 e maiores taxas em partos vaginais nos anos de 2010, 2011 e 2013, porém as médias de partos vaginais no período de 162 2011 2012 2013 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Tabela 5 DISCUSSÃO Tipo de Gestação A taxa de mortalidade é um grande indicador de saúde em um país, 60 refletindo a efetividade e abrangência das políticas socioeconômicas. O baixo peso ao nascer e a prematuridade são os fatores de risco 50 descritos na literatura que apresentam a maior força de associação com a mortalidade infantil. O peso ao nascer e a duração da gestação não devem, no Óbitos/1000 nascidos vivos 40 entanto, ser estudados como fatores de risco isolados, mas como mediadores, através dos quais determinantes 30 e atuam diversos condicionantes mortalidade infantil, escolaridade e tais da como: características socioeconômicas da mãe, morbidade materna, características biológicas e 20 hábitos de vida da mãe, acesso a serviços de saúde durante a gestação e qualidade desses serviços, entre outros. Estas variáveis devemser consideradas 10 marcadores de saúde capazes de predizer os riscos de mortalidade nos períodos neonatal e pós-neonatal de 0 Única Dupla 9,151 Palm 57,14 as 11,40 Palm 45,45 as 8,055 Palm 32,96 as 9,259 Palm 42,85 as 2010 2011 2012 2013 uma determinadacriança. Recém- nascidos com baixo peso são mais vulneráveis a problemas como imaturidade pulmonar e transtornos metabólicos, que podem causar ou agravar alguns eventos que acometem 163 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS os recém-nascidos, aumentando o risco nascidas de mães jovens estariam sob de mortalidade (Buchalla, 1988). O maior risco de morrer durante o resultado primeiro ano de vida (Pampel&Pillai, dessa pesquisa apresenta maiores taxas para crianças de baixo 1986). peso ao nascer (< 2500g). A gravidez em adolescentes é O baixo peso ao nascer é um dos considerada de alto risco, em função de principais fatores relacionados ao risco aspectos de estatura, morte no período neonatal, fisiológicos estado como peso, nutricional geralmente associado a fatores de desenvolvimento origem biológica, social e ambiental. reprodutivo da mãe. Entretanto, os Também é um previsor para a sobrevida riscos biológicos são agravados pelas do recém-nascido nos primeiros 28 dias condições socioeconômicas, culturais e de vida. Muitos estudos têm apontado psicológicas que a alta mortalidade neonatal devida adolescentes, já que a proporção de ao baixo peso e aos altos custos durante mães adolescentes é, em geral, maior a entre a população mais pobre, onde a permanência em especializados serviços poderiam ser desnutrição do e em e que o aparelho vivem baixo estas nível de minimizados com intervenções efetivas escolaridade estão mais presentes e o para aumentar a duração da gestação8, 9. acesso à assistência médica é mais A literatura sugere que filhos de limitado (Gale et al., 1989; Victora et mães adolescentes estariam sob maior al.,1989). risco de morrer durante o primeiro ano Podemos concluir, no estudo, de vida, se comparados às crianças que nascidas de mães que têm seus filhos maiores taxas de mortalidade. Esse fator após os 20 anos de idade. No entanto, de risco, idade da mãe, pode também se não relacionar há consenso em relação ao mães adolescentes com as apresentam condições mecanismo pelo qual a idade opera. socioeconômicas e não só isoladamente. Alguns autores argumentam a favor do O fator de risco escolaridade da efeito-idade — mães jovens não mãe é inversamente proporcional às estariam fisiologicamente prontas para taxas, uma gravidez em termos de peso, altura menores as taxas de acordo com o e desenvolvimento reprodutivo. Desta quanto maior do aparelho estudo forma, crianças relacionar com a idade da mãe como 164 analisado. escolaridade, Podemos, ainda, Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS mostra no estudo realizado em Belo presente estudo não foi delineado para Horizonte (Cesar, CC et al),que indica investigar especificamente o papel da uma maior representação das mulheres variável tipo de parto na causalidade da sem nenhuma instrução entre as mãe mortalidade neonatal, estudos adicionais mais velhas. Para o grupo de mãe com são idade inferior a 15 anos não se esperava questão. necessários para abordar esta participação expressiva no grupo com maior nível de instrução, uma quevez que 14 anos é a idade de conclusão do 1º grau para quem adequadamente no CONCLUSÃO progrediu processo Os óbitos neonatais nessa região educacional. são menores que a média nacional, Embora não haja um consenso mostrando um bom indicador de saúde na literatura sobre a indicação do parto local. Sabe-se que a maior mortalidade cesariana para recém-nascidos de muito está relacionada aobaixo peso ao nascer, baixo peso. Alguns autores observaram à baixa escolaridade da mãe, gestações uma redução da mortalidade neonatal duplas ou mais, e extremos de idade da nestes mãe. Já o tipo de parto mostrou pouca grupos de recém-nascidos submetidos ao parto cesariana, quando significância. comparados aos nascidos por parto Nota-se que, para uma possível espontâneo (Bottoms et al., 1997; Jonas redução neonatal no Brasil, deve-se &Lumley, 1997). Com relação aos investir na reestruturação da assistência nascidos vivos em hospital privado, o à gestante e ao recém-nascido, com efeito protetor do parto cesariana pode participação do serviço de atenção estar relacionado a outros fatores, tais básica e assistência ao parto. O foco não como: nível socioeconômico da mãe, pode ser exclusivamente a melhoria da acesso a um serviço pré-natal e de assistência pré-natal, como ocorreu atenção ao parto e ao recém-nascido de durante várias décadas no Brasil, tendo melhor qualidade. Estudos realizados no sido Brasil mostram uma correlação positiva educação em saúde e escolaridade. O entre as taxas de cesariana e o nível investimento na prevenção do baixo socioeconômico peso ao nascer deve ser intensificado, (Faúndes&Cecatti, das 1991). mães Como o negligenciadas medidas como pois sua incidência é elevada em todo o 165 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS território nacional e, principalmente, nas 6. BRASIL. Cadernos de Atenção regiões presentes no estudo em questão. Básica. Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. 1. ed. Ministério da Saúde. Brasília, 20013. 7. Feitosa AC, Santos JLS, Bezerra REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS IMP, Nascimento VG, Macedo CC: 1. 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