A INFLUÊNCIA DOS AGENTES ECONÔMICOS NA (RE) ESTRUTURAÇÃO DAS CIDADES MÉDIAS: UM OLHAR SOBRE A CIDADE DE CHAPECÓ– SC Cristiane Gretzler Henn Mestranda em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] 1. Introdução Uma das primeiras cidades criadas no impulso colonizador do Oeste catarinense, Chapecó durante vários anos foi à sede administrativa de vasto território, situação que conferiu à cidade uma centralidade que se manifesta ainda hoje, pois esta acabou se tornando um centro regional. A partir da década de 1940, instalaram-se em Chapecó agroindústrias (algumas delas hoje comercializam seus produtos em diversos países europeus e asiáticos), que centralizaram ainda mais as atividades econômicas da região. A concentração de determinadas atividades na cidade foi um condicionante importante para a organização espacial. Chapecó, como pólo regional, é o núcleo urbano mais expressivo da região e participa do processo de expansão capitalista nas escalas mundial e nacional. A partir dos anos 1990, com o franco processo de globalização, perceberam-se mudanças na estrutura das diferentes cidades, independente de seu porte, suscitando com isso novas análises e interpretações. As metrópoles assumiram novos papéis em escala mundial e as pequenas e médias cidades também estão passando por uma nova dinâmica antes não presente nos seus espaços. A definição de cidade média está atrelada principalmente ao processo de produção do espaço urbano e sua importância no contexto local e regional. A partir disso, o objetivo do presente artigo é investigar os fatores que contribuíram para o crescimento da cidade de Chapecó e que a elevaram ao nível de cidade média. As metodologias utilizadas podem ser caracterizadas por uma abordagem qualitativa e quantitativa, adotando métodos distintos para o levantamento dos dados, e para este artigo, será utilizado basicamente um levantamento documental e bibliográfico que darão embasamento ao nosso objeto de estudo. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 2. Um pouco da história da região Oeste catarinense e da cidade de Chapecó Para fazermos uma análise mais aprofundada da cidade de Chapecó, não podemos deixar de contextualizar a história da região, para depois reportarmos à análise do local. As frentes colonizadoras começaram a chegar à região por volta da década de 1920, depois de terem sido definidos pontos de fixação populacional (BAVARESCO, 2005). Como o objetivo do governo era ocupar o espaço para que este não fosse mais motivo de disputas regionais e com a política de povoar a região, deu a concessão das terras a empresas colonizadoras para promoverem a ocupação da mesma. Segundo Bavaresco (2005), o objetivo do governo era integrar definitivamente a região ao território catarinense. Os primeiros colonizadores que chegaram, eram provenientes do estado do Rio Grande do Sul e vinham com a promessa, sonho, de terem suas próprias terras e se fixaram ao longo do Rio Uruguai, mais tarde foram expandindo até chegarem à divisa com o Paraná. Dessa forma, a região que era coberta por mata nativa foi dando espaço à produção agrícola, no começo, baseada na agricultura de subsistência, que logo gerou um excedente que servia para troca e venda. Em função das inúmeras dificuldades, principalmente de transporte, esse excedente passou a ser utilizado para a criação de galinhas e porcos, os quais eram vendidos aos comerciantes locais que os industrializavam, com o intuito da comercialização principalmente da banha. O Oeste catarinense se caracteriza por pequenas propriedades rurais que são uma das bases econômicas regionais. A agricultura, não é mais um espaço responsável exclusivamente pelo fornecimento de produtos para a sobrevivência da humanidade, o que se observa é que ela “é cada vez mais transformada em simples ramo da indústria e é dominada completamente pelo capital” (MARX, 1986, p. 18). A partir desta agricultura forte e dinâmica, que surgiram na região inúmeras agroindústrias para a industrialização da produção agrícola e em Chapecó se instalou um grande complexo agroindustrial. Um elemento importante para a constituição e consolidação dessas agroindústrias na região foi o Estado, principalmente entre as décadas de 1970 e 1980, quando foram disponibilizados empréstimos expressivos para investimentos nas unidades fabris. Segundo Alba (2002, p. 46): Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Os créditos, ou eram direcionados para a reestruturação produtiva das empresas, ou eram direcionados aos agricultores, que de qualquer forma iriam ser revertidos em resultados positivos na produtividade e na qualidade da produção, beneficiando, assim, diretamente o capital agroindustrial. A produção agrícola passa a ser controlada pelas agroindústrias, selecionando produtos e produtores de acordo com as suas necessidades. Isso ocasionou a falência e exclusão de pequenos agricultores e da pequena propriedade familiar de subsistência e, consequentemente, o aumento da migração intra-regional e de famílias sem terra, agravando a problemática social no campo e na cidade. Neste processo é que se observa o aumento da população urbana de algumas cidades, entre elas, Chapecó. Segundo Peluso Júnior (1991, p. 284): [...] entre o censo demográfico de 1940 e de 1980, a importância da cidade de Chapecó de 53.238 habitantes, a ocupar o 8º lugar entre as 197 aglomerações que formavam o sistema de cidades catarinenses, distinguindo-se ainda como um centro econômico e social da região, na qual se contavam 34 cidades. Todas essas especificidades acabam tendo uma relação direta na reestruturação ou na reorganização do espaço urbano de Chapecó. Sobre isso Alba (2002, p. 163) escreve que “em Chapecó há uma produção e reprodução do espaço como lugar e meio de produção, que engloba o espaço local, o espaço regional, contextualizados com o espaço global, ou mundializado”. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) et al. (2001, p. 85): As cidades do Brasil desempenharam historicamente funções importantes no processo de ocupação do território, servindo como sítios de suporte ao povoamento, centros de controle político e de armazenamento da produção agroextrativa, núcleos de conexão com os circuitos mercantis, pólos de crescimento industrial e nós das redes financeira e informacional. Chapecó constitui-se como pólo regional e se apresenta como um importante nó da rede urbana. Segundo Henn e Alba (2008a, p. 261) Chapecó como pólo regional, apresenta uma expansão capitalista numa escala mundial e nacional, com suas especificidades e características próprias. A Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 cidade, mesmo não sendo de uma região metropolitana, constitui-se como pólo regional por que conduz ao seu redor atividades decorrentes dessas especificidades atraindo novos investimentos e, gerando interesses ao capital. 3. Chapecó no contexto da rede urbana A sociedade moderna, e com ela a industrialização, foi um dos fatores determinantes que aceleraram o processo de urbanização em diversos países da Europa e atualmente na maior parte do mundo. O modo de produção capitalista, nas suas diferentes fases de desenvolvimento, foi criando maneiras de organização do capital no espaço geográfico, de acordo com interesses e necessidades de acumulação e centralização de riquezas de alguns países em detrimento dos interesses sociais de boa parte da população mundial. A partir disto, muitas regiões e principalmente cidades, destacam-se impondo hierarquia superior e formando redes de localidades centrais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (1987, p. 16): A rede de localidades centrais aparece, como uma categoria de análise da rede urbana regional ou nacional, nas áreas marcadas pelo predomínio de uma economia agropastoril, influenciada indiretamente pela industrialização ou, quando esta se faz sentir diretamente, pela sua presença física, em setores limitados do território regional ou nacional. Essa hierarquia superior ou inferior de determinadas cidades ocorre principalmente devido as funções que cada uma delas desempenha, ou seja, quanto mais atividades ou funções são desempenhadas por determinadas cidades, maior será o seu nível hierárquico e consequentemente de influência. Segundo Corrêa (1989, p. 10) Uma das mais tradicionais vias de estudo da rede urbana pelos geógrafos é aquela que se interessa pela classificação funcional das cidades. Esta abordagem tem como pressuposto a existência de diferenças entre as cidades no que se refere às suas funções. O Oeste catarinense também se insere neste contexto, principalmente a cidade de Chapecó comparece com uma hierarquia privilegiada na rede urbana regional. Segundo o Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 estudo do IBGE – Regiões de Influência das Cidades 2007 (2008, p. 124), Chapecó é considerada Capital Regional B (2B), pois sua área de abrangência ultrapassa os limites do próprio estado. A importância estratégica que Chapecó possui do ponto de vista físico-geográfico enquanto localização privilegiada em relação aos estados do Rio Grande do Sul e Paraná e na própria Santa Catarina, constitui-se como eixo rodoviário privilegiado, e participante das redes internacionais. O interesse em pesquisar e analisar Chapecó no contexto da rede urbana brasileira, parte do princípio que a cidade, mesmo distante da capital do estado ou de regiões metropolitanas, sempre teve forte centralidade regional e nacional, devido à infra-estrutura e aos bens e serviços de que disponibiliza. Segundo Corrêa (1989, p. 5): [...] a rede urbana passou a ser o meio através do qual produção, circulação e consumo se realizam efetivamente. Via rede urbana e a crescente rede de comunicações a ela vinculada, distantes regiões puderam ser articuladas, estabelecendo-se uma economia mundial. A cidade de Chapecó desde a sua criação, sempre assumiu o caráter de coordenação e liderança das relações políticas, econômicas, sociais e culturais regionais, esta, supriria a demanda técnico-científica da região. Se ficássemos numa análise apenas local para um estudo da organização do espaço, sem buscar elementos numa escala mundial, correríamos o risco de sermos parciais. Pois hoje, “os subespaços do mundo subdesenvolvido são dominados pelas necessidades das nações que estão no centro do sistema mundial” (SANTOS, 1992, p. 21), e não resultado das necessidades imediatas do lugar. (ALBA, 2002, p. 11). Neste sentido, as pesquisas sobre rede urbana confirmam a relevância do estudo sobre a região Oeste de Santa Catarina e sobre sua área de abrangência, apontando Chapecó com uma morfologia peculiar que merece ser melhor caracterizada em relação a trama em que se desenvolve. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 4. Chapecó enquanto cidade média Além de pólo regional, Chapecó se apresenta também como cidade média devido às especificidades por ela apresentadas. Segundo a definição de Pontes (2006, p. 334), a cidade média: [...] seria um centro urbano com condições de atuar como suporte às atividades econômicas de sua hinterlândia, bem como atualmente ela pode manter relações com o mundo globalizado, constituindo com este uma nova rede geográfica superposta à que regularmente mantém com suas esferas de influência. Esta segunda rede à que nos reportamos, diz respeito ao sistema de relações realizadas sob o território com áreas rurais ou outras cidades próximas ou mais distantes sobre as quais ela exerce uma condição de comando. Sposito (2007) caracteriza as cidades médias como aquelas que desempenham papéis de intermediação entre cidades maiores e menores no âmbito de diferentes redes urbanas. Ainda a autora destaca que as cidades médias se diferem das cidades de porte médio, cujo reconhecimento advém somente do seu tamanho demográfico. Corrêa (2007) contribui quando escreve que cidades médias são uma tipologia de cidades que se caracteriza pela combinação de inúmeros fatores, como tamanho demográfico, aliado às funções urbanas e organização de seu espaço intra-urbano. Considerando essas interpretações sobre cidades médias podemos afirmar que Chapecó pode ser caracterizada enquanto cidade média. Como cidade pólo regional, Chapecó acaba centralizando diversos serviços e agentes não encontrados em outras cidades da região, podemos aqui nos reportar aos serviços de saúde de média e alta complexidade, bem como a educação, principalmente no ensino superior, pois, além de ter extensão da Universidade Federal de Santa Catarina, um Campus da Universidade do Estado de Santa Catarina e agora ainda a recém criada Universidade Federal da Fronteira Sul que são universidades públicas, possui também outras universidades filantrópicas e particulares que oferecem cursos que não tem em outras universidades/faculdades da região, além de ser pólo de instituições superiores que promovem a educação à distância. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Podemos também destacar o serviço bancário, pois possui agências dos principais bancos brasileiros, atualmente são 19 agências bancárias estabelecidas na cidade, além de inúmeras financeiras. Corrêa (2007, p. 31) aborda a questão das cidades que são consideradas centro de atividades especializadas e destaca que “este tipo de cidade média, caracteriza-se pela concentração de atividades que geram interações espaciais a longas distâncias, pois se trata de atividades destinadas ao mercado nacional e internacional”. Além destes aspectos, existe forte influência do setor agroindustrial na economia. Henn e Alba (2008b, p. 17) apontam que “do ponto de vista do capital agroindustrial, Chapecó ocupa uma posição central na produção e na articulação do território e da economia regional. Os grupos aí instalados encorajam outras funções em nível local e regional”. Podemos ainda destacar, um comércio diversificado, competitivo, especializado que atrai consumidores não somente da cidade de Chapecó, como também de diversas cidades da região. Henn e Alba (2008a, p. 261) destacam que “esses fatores acabam gerando fluxos de capital e fluxos de pessoas consideráveis, fazendo com que a cidade tenha uma dinâmica diferente das outras cidades da região”. Numa publicação do IPEA et al. (2001, p. 370) o trabalho aponta que: Chapecó é o centro de um importante eixo do complexo da carne do Sul, com nível de centralidade forte e tipo urbano de média dimensão, mas distinguindo-se por possuir uma estrutura ocupacional com grande diversificação e grande peso em atividades urbanas. Muitas das cidades médias são constituídas tendo um vínculo muito próximo com o rural, ou seja, a sua economia tem forte relação com a produção rural. Como já comentado acima, o setor agroindustrial pode ser considerado o motor propulsor da economia local. Sobre essas relações, Elias (2007, p. 121) destaca que “[...] algumas cidades poderiam ser classificadas como cidades locais ou mesmo médias por ter uma forte ligação com alguma produção agrícola e/ou agroindustrial, compondo exemplos de desenvolvimento urbano associado ao consumo produtivo agrícola”. Como este artigo é um pontapé inicial de um trabalho maior, a dissertação, pretendemos abordar não somente as fortes relações com o rural, mas com outras atividades que vão se destacando na cidade e na região. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 5. Considerações finais Esse artigo é uma prévia de uma pesquisa maior, mas já podemos reforçar algumas teorias, ou ainda, constatar outras. Em função do processo de ocupação do Oeste catarinense e da importância que Chapecó adquiriu na rede urbana, a cidade acabou centralizando diversos serviços não encontrados em outros centros urbanos da região. Isso gera fluxos de capitais e fluxos de pessoas consideráveis fazendo com que atraiam investidores para se estabelecer na cidade. Chapecó, mesmo não fazendo parte de uma região metropolitana, constitui-se como pólo regional porque conduz atividades decorrentes de especificidades apresentadas atraindo novos investimentos e gerando interesses ao capital. Além de pólo regional, Chapecó também pode ser considerada cidade média, pois apresenta diversas características que apontam para isto, tais como: serviços de saúde especializados, educação em nível universitário (sendo sede de umas das mais recentes Universidades Federais criadas, a Universidade Federal da Fronteira Sul, e também, tendo campi de várias universidades privadas e públicas), comércio variado e um importante complexo agroindustrial. Essas características reforçam a condição de Chapecó como uma cidade média, especialmente pela (inter)relação que se estabelece com as cidades do seu entorno. Essas relações no âmbito regional não são próprias somente de Chapecó, elas são percebidas na maioria das cidades médias brasileiras. Essa posição de pólo regional, na maioria das vezes, cria e recria novas dinâmicas no espaço intra e interurbano, e, a partir disso, novas funções e diferentes atividades vão sendo desenvolvidas por estas cidades, fazendo com que se imprimam novas dinâmicas no urbano. Chapecó assume assim, uma dinâmica importante para o contexto regional e nacional, que significa uma forte integração entre as redes que conectam essas diferentes escalas. Essa integração entre as redes pode ser percebida, principalmente, nas relações que se estabelecem a partir das agroindústrias, que geram circuitos produtivos que (inter-re)conectam os espaços rurais, fornecedores das agroindústrias, e o espaço urbano, fornecedor de insumos, profissionais, processos de industrialização, consumo, processamento, estocagem e exportação, envolvendo as pequenas e médias cidades e as metrópoles. Nessa dinâmica, a cidade média é um espaço de intermediação entre as Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 pequenas cidades e os grandes centros. Portanto, pesquisar questões relacionadas à cidade de Chapecó, que é uma cidade média, contribui com um debate atual e de extrema importância para a Geografia Urbana brasileira e latino-americana. 6. Referências ALBA, Rosa Salete. Espaço Urbano: Os Agentes da Produção em Chapecó. Chapecó: Argos, 2002. (Debates) BAVARESCO, Paulo Ricardo. 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