PENSANDO A DEMOCRACIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

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PENSANDO A DEMOCRACIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Pensarmos a democracia na escola hoje é pensarmos democracia na sociedade, pois
a escola não pode ser compreendida como um lócus desgarrado da organização social que
estamos inseridos. Assim é necessário que analisemos a democracia na sociedade.
Considerando a democracia que temos na atualidade do Brasil muito restrita é essencial
entendermos a escola inserida neste contexto. Para tanto debateremos o ensino de geografia e
o articularemos com o processo de democratização da sociedade e da escola.
OBJETIVO
O trabalho tem como objetivo pensar a democracia na escola, mas especialmente no
ensino de geografia, portanto proponho fazer dois debates. Inicialmente, farei um debate
sobre a importância da democracia nas relações de interação entre os homens e destes com o
meio, ou seja, na sociedade e na apropriação do espaço em sua totalidade. Depois debaterei
a democracia no ensino de geografia e o papel do professor.
METODOLOGIA
Analisando a democracia que temos hoje, suas limitações e as possibilidades de
avanço rumo a uma maior democratização do poder político e econômico, iremos trabalhar a
partir do estudo de levantamento bibliográfico de Duriguetto, Neves, Saviani e Vieira. Assim
analisaremos os escritos desses autores no que tange aos estudos das diferentes concepções
de conceitos de democracia, utilizaremos Duriguetto. Para entendermos a democracia hoje, a
terceira via, e as novas estratégias da classe dominante para educar, nos apropriaremos dos
estudos de Neves. Para a democracia na escola e no ensino, Saviani e para o papel do
ensino de geografia,Vieira. Pensaremos estes escritos no contextos das escolas da rede
estadual de Juiz de Fora, através das observações feitas nos estágios das disciplinas de
estágio I e II, do curso de Geografia, ministradas pela faculdade de educação da UFJF.
RESULTADOS PRELIMINARES
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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Em sua tese de doutorado Duriguetto procura fazer uma análise das correntes teóricas
que conceituam democracia e sociedade civil, no contexto brasileiro, a partir da transição
democrática, levando em conta o processo histórico em que os fatos vieram sendo
construídos. Neste sentido, tentaremos mostrar a necessidade de se estudar a sociedade civil
e o entendimento da mesma para compreendermos a democracia, bem como os conceitos de
Estado, Cidadania e o chamado Terceiro Setor. Retomaremos aqui, a importância de se
discutir significados da democracia e como ela vem sendo aplicada, fazendo uma crítica ao
esvaziamento da discussão sobre a mesma:
“Também a democracia está sendo amplamente enaltecida, sendo
considerada como o único sistema legítimo de governo. Ao mesmo tempo,
nunca esteve mais carente de conteúdo quanto ao seu significado e seus
aspectos constitutivos: generalizou-se na forma e se esvaziou em
substância” (DURIGUETTO,2003)
Com a mesma necessidade temos que rememorar o termo cidadania, que muitas
vezes é utilizado para divulgar as práticas assistencialistas do chamado “terceiro setor”, no
qual surgem outros conceitos como “participação social”, “esfera pública”, “democracia
participativa”, “controle social sobre o Estado”, “realização de parcerias entre Estado e
sociedade civil”. Apontamos a necessidade de entender esses conceitos a partir da análise da
relação Estado e sociedade civil.
Para entendermos a relação entre sociedade civil e a questão democrática seguiremos
a linha do campo teórico marxista que discute a democracia e a articula com o socialismo. No
entanto para se entender sociedade civil no Brasil hoje é necessário compreender a chamada
“terceira via”, que se apresenta como a auto organização da sociedade civil entre o mercado
e o Estado. Essa nova categoria muito criticada por Duriguetto aponta a mudança de
concepção da tese de autonomia da sociedade, que passou da esfera pública não-estatal para
fazer às vezes do Estado, com propostas de parcerias entre Estado e sociedade civil, tendo
como objetivo a desresponsabilização do Estado com as políticas sociais, evidenciadas
através do projeto de reforma do Estado brasileiro implementado na década de 1990,
visando a transferência de responsabilidade às instâncias locais, ao mercado e à sociedade
civil. “Esta é identificada como espaço de um ‘terceiro setor’, situado além do Estado e do
mercado, espaço da solidariedade, do voluntariado, das ações despolitizadas e
fragmentadas”,
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Neves também ao estudar sobre terceiro setor na educação identifica-o como sendo
uma das novas estratégias mundiais da classe dominante para se manter no poder, através da
nova pedagogia da hegemonia:
“As ONGs, fundações e associações civis sem fins lucrativos que compõem o
chamado ‘terceiro setor’ constituem-se em sua maioria em aparelhos
privados de hegemonia que, direta ou indiretamente, reproduzem a
concepção de mundo burguesa mundial no espaço nacional”
(NEVES,2005)
Neves nos mostra o movimento deste terceiro setor em tentar transparecer a
confluência dos interesses divergentes, no qual surgem novos conceitos como
responsabilidade social das empresas para com a educação. No entanto a autora analisa
como sendo uma tentativa de ocultar os embates dos divergentes interesses da sociedade
civil, e assim, garantir a permanência da burguesia no poder, mantendo o consenso em nível
mundial.
Seguindo a corrente Marxista analisamos a democracia no capitalismo,
considerando-a muito restrita, pois na realidade a igualdade jurídica-política das pessoas não
se dá. Conforme a análise de Duriguetto no liberalismo:
“a sua existência só é compatível com ordenamentos políticos democráticos
restritos cuja restritividade impede a transformação da igualdade formal em
igualdade real (ou seja, igualdade em face da propriedade, posse e gestão
dos meios de produção e da participação sócio-política nas decisões
societárias) Ou seja, aprofundar a democracia no capitalismo é aprofundar
uma contradição que o capitalismo não pode resolver. Seus princípios
constitutivos são irreconciliavelmente antagônicos.” (DURIGUETTO,2003)
Neste contexto de obscuridade está inserida a escola, que é lócus para aplicação
dessa nova pedagogia da hegemonia, através das reformas educacionais aplicadas pelo
estado, que visam a desresponsabilizaçao da educação por parte do mesmo, transferindo
para o setor privado, através das Instituições privadas e da responsabilidade social das
empresas que as financiam.
Há um movimento de centralização das decisões e descentralização da execução,
como é o caso das escolas da rede estadual em Juiz de Fora. Elas têm autonomia para decidir
sobre pequenas ações, mas não discutem as orientações das secretarias, as novas leis, as
novas reformas, os novos métodos aplicados pelo governo, como provinha Brasil, avaliação
de desempenho, os ciclos, que os professores tanto reclamam. As decisões acerca da
macro-política não são debatidas.
Diante desse contexto temos criar estratégias para defender um ensino crítico de
geografia. Para tanto faço a reflexão sobre duas propostas, que, obviamente, precisarão ser
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mais desenvolvidas e trabalhadas. A reafirmação de um ensino crítico de geografia (que não
seja reprodutivista), que explicarei logo em seguida e, diante deste contexto, a compreensão
da profissão professor como um transformador social, que pensará estratégias de
transformação em conjunto da Instituição escola e da sociedade no sentido de
democratizá-los, o que debaterei melhor ao final.
Para analisarmos a democracia na escola, utilizaremos os escritos de Saviani, que
através de seus estudos tentou fazer uma relação entre escola e democracia, dialogando com
as correntes de pensamentos que desenvolviam teorias para a educação. Assim, o autor
construiu estudos que faziam reflexões críticas sobre o autoritarismo e a democracia em sala
de aula.
Na defesa da democracia o autor vem estabelecer uma relação entre a escola e a
sociedade, onde a escola deve cumprir um papel importante na democratização da
sociedade. Não queremos acreditar aqui que a escola por si só irá transformar a sociedade,
mas acreditamos que ela pode contribuir para esse processo de democratização. Assim,
Saviani vem defender a importância da relação da educação com a política, mostrando que a
educação tem papel crucial de formar politicamente os indivíduos, para que se tornem
cônscios de suas responsabilidades e direitos e, reciprocamente, possam conviver de maneira
civilizada e pensar a melhor transformação do espaço e da sociedade. Neste sentido,
defenderemos aqui um ensino de geografia histórico-crítico.
O ensino de geografia tem papel importante no sentido de fazer análise crítica da
realidade a qual o aluno está inserido. Fazer com que o aluno se entenda enquanto um agente
ativo neste processo de transformação da sociedade e do espaço. Para tanto defenderemos
um ensino que compreenda criticamente esta nova estratégia de dominação da classe
dominante, expressada no Terceiro Setor, que camufla os conflitos de classes, a exploração
através da hegemonia cultural, que deve ser analisada criticamente, conforme propõe Vieira:
“a Geografia deve ser uma ciência comprometida em esclarecer que o contínuo
processo de modernização vivenciado pela humanidade se manifesta de modo
desigual e injusto pelo espaço e que na maioria das vezes esta modernização
está voltada para atender interesses particulares e não interesses coletivos.”
(VIEIRA, 2004)
Assim, é necessário compreendermos a importância de um ensino histórico-crítico de
geografia como um instrumento de conscientização do indivíduo a respeito de sua realidade
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social, de maneira que entenda a produção do espaço como um processo histórico e se
reconheça nele como um agente transformador:
“A Geografia como disciplina do currículo escolar deve estar
comprometida com a transmissão de conteúdos teóricos que conduzam o
aluno a compreender a organização espacial como um processo histórico
que ocorre a partir do momento que os homens transformam a natureza
para satisfazer as suas necessidades, lembrando que esta transformação se
faz através do trabalho e que estes homens estão organizados em
sociedade.” (VIEIRA, 2004)
Para garantirmos uma maior democratização do espaço e transpormos as barreiras
que impedem que a democracia se efetive na prática, compreendemos, que conforme propõe
Duriguetto, é necessário pensarmos a emancipação das classes subalternas em direção de
uma sociedade socialista, que não só democratize o poder político, mas também o poder
econômico. Para tanto será necessário que as estratégias sejam construídas em coletivo para
superar a nova conjuntura.
A outra estratégia que deverá caminhar em conjunto com a do ensino crítico é o
professor como ativista social, que através do conhecimento, atuará para além da sala de
aula, junto à comunidade, na exigência de um ensino de qualidade para que assim, possa ter
autonomia para desenvolver um ensino crítico e pensar a melhor transformação da sociedade,
rumo a democratização do poder econômico, político e cultural, em conjunto com a
sociedade, através da ação coletiva e democrática, atuando assim, junto aos sindicatos,
movimentos sociais, associações de bairros, partido político, associação de profissionais,
compreendendo também a importância de sua dimensão como ativista social organizado,
atuando no local, más porém articulado com global, conforme propõe Duriguetto ao citar
Mandel: “A única possibilidade está na ação coletiva; democrática [...] Essa é a orientação
que devemos adotar para resolver a crise da humanidade”.
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