Osteopatia em associação com técnicas de

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Osteopatia em associação com técnicas de mobilização articular no
tratamento de lombalgias crônicas
Priscila Mafra de Menezes1
Email: [email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-Graduação em Traumato-Ortopedia com Ênfase em Terapias Manuais – Faculdade Ávila
RESUMO
A presente pesquisa trata de um assunto que permeia constantemente o universo da
Fisioterapia: a lombalgia, pelo fato de que esta patologia detém altos índices de prevalência
na população mundial. A lombalgia crônica é uma afecção do composto lombar, de causas
multifatoriais, cujas queixas mais representativas são manifestações dolorosas. A
Fisioterapia se envolve no tratamento da lombalgia crônica através de um arsenal de
procedimentos que podem ser aplicados, dependendo do grau em que se encontra a doença.
A Osteopatia, apesar de seu recente envolvimento com o campo da Fisioterapia, tem sido
apontada como uma abordagem eficaz na normalização e equilíbrio das funções músculoesqueléticas, viscerais e cranianas, com resultados eficazes em pacientes com lombalgia
crônica, particularmente no que concerne à eliminação do quadro álgico e diminuição da
progressão do processo degenerativo. O objetivo da pesquisa foi de registrar a aplicação
fisioterapêutica das técnicas de mobilização articular em alinhamento com os princípios da
Osteopatia no tratamento da lombalgia crônica. A metodologia aplicada foi de caráter
essencialmente bibliográfico, cujos resultados evidenciam o conhecimento sobre a lombalgia
crônica, Osateopatia e mobilização articular, concluindo-se, com base nos autores adotados
como fontes de pesquisa, que a associação desse método com os princípios holísticos da
Osteopatia são indicados para as pessoas que sofrem de lombalgia crônica, principalmente
por favorecer a redução da sintomatologia dolorosa, respeitadas as restrições de
recomendação inseridas nos pressupostos funcionais de aplicação da técnica.
Palavras-chaves: Lombalgia crônica; Osteopatia; Mobilização articular.
1. Introdução
A coluna lombar é constituída por um conjunto de vértebras e ligamentos, possuindo como
característica a capacidade de suportar a carga do corpo e as forças gravitacionais que atuam
sobre este. As vértebras lombares, por sua vez, são as mais freqüentemente envolvidas em
processos dolorosos, por suportarem a maior parte da carga do corpo (HEBERT, 2003).
Entre esses processos, a lombalgia se destaca, por ser considerada um dos maiores problemas
de saúde pública. Registros da Organização Mundial de Saúde (OMS), confirmada na maioria
dos estudos brasileiros, dão conta de que entre 70% a 80% da população mundial concentrada
em cidades industrializadas sofre, em algum momento de sua vida, dores lombares,
principalmente em decorrência de esforço físico requerido para as atividades diária ou má
postura (PIRES e DUMAS, 2008).
Existem diversas especialidades de tratamentos indicadas para o problema das lombalgias, e a
Osteopatia, desde 2001 oficialmente reconhecida no Brasil – a Resolução nº 220/2001, do
Conselho Federal de Fisioterapia (COFFITO), reconheceu a osteopatia, juntamente com a
quiropraxia, como práticas fisioterapêuticas - vem conquistando espaço entre as terapêuticas
alternativas para os problemas de lombalgia.
1
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Pós-Graduanda em Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual
Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Orientadora.
2
O tratamento osteopático é realizado pela aplicação de técnicas específicas para o órgão
trabalhado, considerando-se sua abordagem em tratar o corpo como um sistema único. Nesse
sentido, pode empregar mecanismos que trabalhem regiões específicas, como é o caso da
coluna vertebral nas situações de lombalgia. A mobilização articular, nesse contexto, é
considerada uma das técnicas mais promissoras quando se trata da lombalgia crônica, face aos
resultados imediatos de redução álgica (COUTO, 2007).
Pelo caráter de afetação de grande parte da população, no que diz respeito à lombalgia
crônica, justifica-se a escolha pela apresentação dessa temática, uma vez que o interesse maior
é de mostrar como determinados métodos fisioterapêuticos em associação com a Osteopatia
podem ajudar a solucionar este problema.
Com base nesses pressupostos, estabeleceu-se como problemática norteadora da pesquisa a
seguinte indagação: os efeitos da mobilização articular, quando utilizados no conjunto de
práticas da Osteopatia, podem ser considerados como mais indicados ao tratamento da
lombalgia crônica?
Portanto, essa pesquisa teve como objetivo geral: registrar a aplicação fisioterapêutica das
técnicas de mobilização articular em alinhamento com os princípios da Osteopatia no
tratamento da lombalgia crônica.
Como objetivos específicos, foram estabelecidos: descrever a patologia lombalgia, em seus
aspectos de tipicidade, características e peculiaridades; mostrar a aplicação dos princípios de
Osteopatia no tratamento da lombalgia crônica; apresentar uma sintetização sobre os trabalhos
que evidenciam e comprovam a eficácia da técnica de mobilização articular alinhada aos
princípios de Osteopatia no tratamento da lombalgia crônica.
A pesquisa foi totalmente baseada em achados literários, desde a seleção de livros e
compêndios sobre Anatomia e Fisiologia e doenças da coluna, até artigos científicos
publicados em editorações eletrônicas disponíveis ao domínio público, baseados
principalmente nas bibliotecas virtuais Scielo, Medline, Lilac e Bireme, no período de 2005 a
2011.
A estrutura da pesquisa compreende sua configuração em três seções principais, divididas em
suas respectivas subseções: na primeira, apresenta-se uma abordagem destinada à
identificação da patologia estudada; na segunda, apresentam-se, de forma breve, os
procedimentos metodológicos utilizados para a consecução da pesquisa; na terceira, registrase a revisão literária – em caráter de discussão - a respeito das constatações acerca da
provável eficácia das técnicas de mobilização articular e da Osteopatia no tratamento da
lombalgia crônica.
2. Definição e fisiopatologia da lombalgia
Segundo Brazil et al. (2001), a lombalgia é a dor que ocorre na região inferior do dorso, em
uma área situada entre o último arco costal e a prega glútea. Ela pode ser acompanhada de dor
que se irradia para uma ou ambas as nádegas ou para as pernas no trajeto do nervo ciático (dor
ciática).
Por sua vez, Amoedo (2000) enfatiza que lombalgia é qualquer sensação dolorosa localizada
na área compreendida entre a 12ª costela e as pregas glúteas; englobando-se ainda neste
conceito a ciatalgia e a cruralgia, mesmo que dissociadas do envolvimento lombar. Podem
estar relacionadas com sua gênese estruturas tão diferentes como os músculos, os ligamentos,
as fáscias, fibras externas dos anéis fibrosos, facetas articulares, o perióstio vertebral, os vasos
sanguíneos e as raízes nervosas espinais.
Silva et al. (2004) incorporam na definição de lombalgia a terminologia “duração mínima de
24 horas” para se evitar possíveis analogias com dores lombares ocasionais decorrentes de
fadiga e/ou resultantes de posturas viciosas que se resolvam em poucas horas ou mesmo
minutos.
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A lombalgia, assim como o lumbago - dor reumática na região lombar - se encaixa na
categoria de dores lombares, assim conhecidas as manifestações dolorosas que ocorrem na
coluna ao nível da cintura ou abaixo da mesma. Sua origem pode estar localizada em qualquer
região desde a cabeça até o cóccix, incluindo a cavidade abdominal, ocorrendo na região
posterior da cintura, de um lado só ou bilateralmente, e em casos mais graves refletir para a
região posterior da perna, como no caso da ciatalgia (SILVA et al., 2004).
Segundo Guyton e Hall (1996), a causa mais comum de dor lombar, fisiológica, parece estar
relacionada a um distúrbio mecânico crônico da coluna-principalmente alterações na função
articular ou dos discos intervertebrais. Estas alterações funcionais podem estar relacionadas a
doenças ou esforços excessivos sobre a coluna, como depois de um longo período sentado,
após uma atividade de carregar peso ou decorrente de um movimento brusco de torção da
coluna.
Entre os fatores que sustentam ou influenciam este distúrbio está a má postura em posição
ortostática ou sentada. Em certas áreas profissionais, nota-se uma maior incidência do
problema, talvez pela sobrecarga imposta à coluna. O distúrbio da coluna pode também ser
reflexo de alterações das extremidades inferiores - pés planos, “pernas gordas”, joelhos
valgos, diferença no comprimento dos membros inferiores (GUYTON e HALL, 1996).
A dor pode se instalar de forma abrupta ou ir piorando aos poucos. Quando a dor é aguda ela
pode ser incapacitante, pois a pessoa é impedida de fazer até as pequenas coisas cotidianas,
porém, de acordo com Gomes et al. (2004), cerca de 80% a 90% das crises de lombalgia se
resolvem em seis semanas.
Tem-se ainda o ponto de vista de Caillet (2001) sobre a dificuldade em se constatar a
lombalgia em um paciente, pela falta de um “teste categórico” de confirmação. Desse modo, o
autor alerta que não se deve emitir diagnóstico de lombalgia até que se completem os exames
clínico, radiológico e de laboratório que o caso requer.
É o que confirmam Brazil et al. (2001), quando enfatizam que as dificuldades do estudo da
dor lombar e de sua abordagem decorrem de vários fatores, dentre os quais: a inexistência de
uma fidedigna correlação entre os achados clínicos e os de imagem; ser o segmento lombar
inervado por uma difusa e entrelaçada rede de nervos, tornando difícil determinar com
precisão o local de origem da dor, exceto nos acometimentos radiculo-medulares; pelo fato
das contraturas musculares, freqüentes e dolorosas, não se acompanharem de lesão histológica
demonstrável; e, por serem raramente cirúrgicas, há escassas e inadequadas informações
quanto aos achados anatômicos e histológicos das estruturas possivelmente comprometidas, o
que torna difícil a interpretação do fenômeno doloroso.
3. Classificação das lombalgias
No ponto de vista de Amoedo (2000) as lombalgias podem ser classificadas em específicas e
inespecíficas. As inespecíficas são aquelas onde a causa anatômica e neurofisiológica não é
identificada, e as específicas são resultantes de hérnia de disco, espondilólise e
espondilolistese, estenose do canal raquidiano (canal medular estreito), instabilidade definida
no estudo dinâmico em flexão e extensão da coluna, fraturas, tumores e infecção e doenças
inflamatórias da coluna lombar.
No entanto, Silva et al. (2004) entendem que, frequentemente, a dor lombar crônica não
decorre de doenças específicas, mas sim de um conjunto de causas como, por exemplo,
fatores sócio-demográficos (idade, sexo, renda e escolaridade), comportamentais (fumo e
baixa atividade física), exposições ocorridas nas atividades cotidianas (trabalho físico pesado,
vibração, posição viciosa, movimentos repetitivos) e outros (obesidade, morbidades
psicológicas).
Por sua vez, Cruz (2000) classifica a lombalgia em agudas – ou lumbagos -, subagudas e
crônicas, podendo ainda ser primárias ou secundárias (neoplasias, inflamatórias, infecciosas,
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metabólicas, traumáticas, degenerativas e funcionais). A lombalgia mecânica comum é a
forma mais prevalente das causas de natureza mecânico-degenerativa.
Existe ainda a classificação interposta por Hall-Faerbank apud Mercúrio (1993), cuja
apresentação foi identificada pela International Society for Study of the Lumbar Spine em
1990, e que consiste de diversos níveis que vão de 0 (zero) a N. No nível 0 (zero) existe
apenas dor lombar como queixa, enquanto que no nível N aparece a relação das causas de dor
lombar, assim verificadas: Nível 0: dor lombar; Nível 1: lombalgia e dor visceral; Nível 2:
lombalgia com irradiação para membros inferiores; Nível 3: lombalgia com radiculalgia; nos
níveis 4 e 5 encontram-se os processos patológicos que acometem as vértebras e as estruturas
neuronais; Nível N: a) congênita: espondilolistese, espinha bífida, acondroplasia,
diastematomielia; b) adquirida: infecção, neoplasia, inflamatória, metabólica, traumática,
iatrogênica, degenerativa, visceral e psicogênica.
No nível 0 estão as lombalgias do tipo mecânica, postural e ocupacionais. Estas são em geral
autolimitadas e constituem o maior número de pacientes com dor lombar. No nível 1 estão as
patologias viscerais que cursam com lombalgia, representando um pequeno número de
portadores da doença. Entre o nível 2 e 3 se encontra uma diferença entre uma lombalgia
irradiada sem ciatalgia (nível 2) e uma com ciatalgia mais lombalgia (nível 3) (MERCÚRIO,
1993).
Conforme informações trazidas por Serpa e Cruz (2005), as lombalgias representam um grupo
heterogêneo de doenças, com várias etiologias e aspectos fisiopatológicos diferenciados. A
literatura costuma classificar a lombalgia em dois grandes grupos: a lombalgia falsa e a
verdadeira.
A lombalgia falsa pode ser simulada, psicogênica ou referida, e caracteriza-se na seguinte
forma:
a) Lombalgia simulada: é uma dor criada e utilizada conscientemente pelo paciente que quer
tirar proveito da mesma;
b) Lombalgia psicogênica: é a dor lombar sentida realmente pelo paciente que tem um
evidente distúrbio emocional;
c) Lombalgia referida: é a sensação dolorosa da região lombo-sacra por sofrimento não das
estruturas anatômicas da coluna lombo-sacra, mas dos elementos localizados na cavidade
abdominopélvica. Trata-se de uma sensação transmitida pela proximidade ou por via nervosa.
Por sua vez, a lombalgia verdadeira é classificada em: lombalgia de origem mecânicopostural;
lombalgia orgânica; displasia ou congênita; inflamações; artrose da coluna (SERPA e CRUZ,
2005).
4. Lombalgia com comprometimento neurológico
Na explicação de Cecin et al. (2001) as dores lombares podem ou não ter envolvimento
neurológico. O comprometimento neurológico pode ser progressivo ou acentuado. Entre as
que se situam no primeiro caso, encontram-se: déficits neurológicos progressivos ou graves
em membros inferiores, tumor de cauda eqüina, abscesso peridural e hérnias de disco.
Greenberg (2003) destaca entre os sinais neurológicos: o Sinal de Laségue, que é realizado se
o paciente tiver referido lombalgia com irradiação para a perna, sendo positivo em 98% dos
casos de hérnias de disco (Figura 1); Manobra de Valsalva, que é realizada com o paciente na
posição sentada, onde é solicitado que o mesmo realize uma expiração forçada com a boca
fechada e esforço análogo ao gesto de evacuar, confirmado pelo surgimento ou piora do
quadro doloroso (Figura 1); Manobra de Romberg, cujo resultado é apresentado como
positivo caso o paciente não consiga ficar com os pés juntos e os olhos fechados durante 10
segundos, o que pode sugerir comprometimento do distúrbio do equilíbrio (lesão cerebelar ou
vestibular), além de outros sinais que caracterizam o comprometimento radicular.
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Fonte: www.sistemanervoso.com/pagina.php?
Figura 1. Ilustração do teste “Sinal de Laségue”, à esquerda, e ilustração da irradiação dolorosa durante o teste
“Manobra de Valsava”, à direita
5. Lombalgia sem comprometimento neurológico
Considera-se lombalgia inespecífica a que ocorre sem uma causa específica identificável
(anatômica ou neurofisiológica), em oposição ao termo lombalgia específica, inerente à
herniação discal, espondilolistese, estenose do canal vertebral, instabilidade vertebral que
excede os 4-5 mm nas radiografias em flexão-extensão, fraturas vertebrais, tumores, infecções
e doenças inflamatórias (CRUZ, 2000).
Na ausência de compromisso neurológico o repouso não se justifica, e por isso os doentes
com lombalgia inespecífica devem ser incentivados a manter as atividades consentidas pela
dor (CRUZ, 2000).
6. Classificação quanto ao tempo de duração
Segundo esclarece Madalena (2008), a lombalgia pode classificar-se como aguda, subaguda
ou crônica, dependendo de seu tempo de duração, que pode corresponder a até 4 semanas, até
3 meses ou superior a 3 meses.
Amoedo (2000) também explica que a lombalgia pode ser classificada de acordo com o tempo
de duração em: a) aguda, quando apresenta inicio súbito e duração inferior a 6 semanas; b)
subagudas, quando apresentam duração de 6 a 12 semanas; e c) crônicas, quando apresentam
duração superior a 12 semanas. Há ainda a lombalgia recorrente, assim considerada aquela
que reaparece após períodos de acalmia.
7. Incidência
Com base na literatura internacional pode dizer-se que a lombalgia disputa o primeiro ou
segundo lugar entre as queixas dolorosas freqüentes, só perdendo em posição para a
constipação comum, e é o principal motivo de visita médica (GARCIA FILHO et al., 2006).
Conforme os autores supracitados, nenhuma população é imune a este problema, e sua
prevalência é estimada entre 60% e 90% do período existencial do indivíduo, apresentando
uma incidência anual na ordem dos 5%. A maioria dos sofredores exibe uma história de
múltiplos episódios, podendo 15% a 37% dos mesmos revestir-se de expressiva intensidade.
Os que apresentam queixas crônicas continuamente, podem chegar aos cerca de 25% da
prevalência total.
Segundo Moore e Dalley (2001), a lombalgia ocorre tipicamente dos 30 até os 60 anos de
idade, referindo ainda que esta patologia afeta uma média de 75% da população geral na
maioria das cidades industrializadas. Também ocorre em 50% dos períodos gestacionais.
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Não existe nenhuma hegemonia sexual estatisticamente significativa, nem é inequívoca a
influência da idade. A prevalência entre os trabalhadores sedentários é de 35%, contra 47%
para os que desempenham atividade física importante. Cerca de 50% dos adultos ativos
podem sofrer um episódio agudo de lombalgia (GARCIA FILHO et al., 2006).
A grande maioria dos quadros reconhecidamente clínicos inscreve-se no tipo inespecífico, não
sendo a representatividade da lombalgia específica superior aos 15%. Não existe evidência de
que a freqüência da lombalgia esteja aumentando, mas verifica-se um crescimento de
notificações de incapacidade imputáveis à lombalgia (GARCIA FILHO et al., 2006).
Ainda para esses autores, o risco de sofrer uma lombalgia parece ser maior entre os 25 e os 55
anos, possuindo incidência máxima a partir da terceira década de vida e decaindo a partir da
5ª. Também existem indicações de predisposição relacionadas a um baixo nível educacional,
bem como os antecedentes lombálgicos constituem uma forte probabilidade de futuros
episódios.
Fatores como a obesidade e a assimetria dimensional dos membros inferiores (superior a 2
cm), também são referidas na literatura como fundamento causal. Certas profissões, como a
de motorista, trabalhador de construção civil ou enfermeira, onde a replicação freqüente de
movimentos de flexão, rotação e inclinação lateral do tronco influencia a região lombar,
parecem estar relacionadas com maior prevalência de lombalgia (GARCIA FILHO et al.,
2006).
De igual forma, o estresse profissional, a dificuldade em lidar com o mesmo e a falta de
satisfação pessoal com a profissão parecem acentuar o risco de sofrer de lombalgia. A
presença de depressão e a tendência somatizante têm sido igualmente conotadas com a
lombalgia, embora Cruz e Sardá Jr. (2003) considerem ser pouco clara a sua posição relativa
na hierarquia causa-efeito.
Como identifica Velloso (s. d., p. 2), a lombalgia e as dores da coluna vertebral em condições
crônicas “[...] geram limitação da atividade física após a idade de 45 anos e representam a
terceira causa mais freqüente de absenteísmo ao trabalho nas pessoas entre a faixa de 45 a 64
anos”. Afiançam ainda o autor que a lombalgia representa nítida prevalência em indivíduos do
gênero masculino. Por fim, também se tem uma associação estatística entre o tabagismo e a
freqüência da lombalgia, embora não haja nenhum fundamento fisiopatológico
cientificamente provado.
8. Sintomatologia
Na lombalgia de origem mecânicopostural, há a incidência de dores de origem mecânica ou
postural, que caracteristicamente pioram com movimentos, atividade e esforço físico e
melhoram com o repouso. A dor pode ser discogênica (lombalgia do compartimento anterior),
dor lombar facetária (lombalgia do compartimento posterior), dor predominantemente ciática
com sinais de radiculopatia ou dor da claudicação neurogênica (KNOPLICH, 2003).
A dor discogênica é a mais frequente. Acomete indivíduos após a segunda década de vida
sendo seu pico de incidência entre 30 e 50 anos. Sua etiologia está relacionada à desidratação
e a degeneração do disco intervertebral, principalmente nos segmentos motores mais caudais
(L4/L5 e L5/S1). A degeneração discal causa fissuras no ânulo fibroso do disco intervertebral
e o núcleo pulposo desidrata e protui em direção ao canal vertebral.
Com situação de aumento de pressão sobre o disco intervertebral e deslocamento do núcleo
pulposo, há estiramento das fibras colágenas do ânulo fibroso e inflamação do mesmo,
causando dor crônica diária leve, que piora, se agudiza em situações de pequena sobrecarga.
Cabe ressaltar que indivíduos idosos normalmente não apresentam lombalgia de origem
mecânica discogênica (KNOPLICH, 2003).
Por sua vez, a dor lombar facetária ocorre em indivíduos mais velhos com processo artrósico
das articulações facetárias. No processo ocorre lesão das cartilagens articulares deflagrando
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dor articular, que piora em situação de extensão do tronco e melhora em posição sentada. Nos
casos onde há hérnia discal, pode se instalar a dor predominantemente ciática. A dor
manifesta-se no trajeto da raiz comprimida e inflamada (KNOPLICH, 2003).
Ainda como dor associada às causas mecanicoposturais, encontra-se a dor da claudicação
neurogênica dos membros inferiores, devidO a estenose do canal vertebral. Os pacientes em
geral são idosos e apresentam dor ciática em um dos membros inferiores durante a marcha, o
que os impede de continuar caminhando. No grupo das lombalgias posturais, a desarmonia
funcional produz a lombalgia a partir dos 25 a 30 anos, daí a importância da profilaxia na
idade juvenil, realizando educação postural e adequado condicionamento físico (SALTER,
2001).
9. Etiologia
Quanto à lombalgia orgânica, entre outras causas para as dores da região lombar, excluindo-se
todas as dores referidas de órgãos internos (renais, genitais, intestinais, etc.), encontram-se:
tumores da medula espinhal e da cauda eqüina, malignos e benignos, primários e metastáticos;
tumores do esqueleto, malignos e benignos, primários e metastásicos; alterações ósseas
sistêmicas, como a osteoporose e a "Doença de Paget", que acentua o trabeculado ósseo da
vértebra, dando-lhe o aspecto típico da “vértebra em moldura”; espondilite anquilosante;
“Coluna em Bambu” ou “Linha de Trem”, representada pelo surgimento de calcificações nos
ligamentos lombares; e anomalias congênitas, como a espondilólise e espondilolistese
(KNOPLICH, 2003).
Outra forma de lombalgia apontada na literatura é a que ocorre na forma de displasia ou
congênita, e que corresponde à má formação na parte superior do sacro ou do arco de L5. As
inflamações são caracterizadas como discites, enquanto que a artrose da coluna é também
conhecida pelos termos: discartrose, osteoartrose e osteofitose lombar. São caracterizadas por:
diminuição da altura relativa dos espaços intervertebrais, osteofitose posterior (existe a
anterior e lateral também, porém, sem importância clínica) e diminuição do orifício de
conjugação. Nos casos em que existe uma degeneração mais acentuada do disco, há imagem
mais escura no espaço discal, resultante da perda de substância e substituída por vácuo ou ar
(sinal do vácuo) além da acentuação do contato das superfícies articulares que produz uma
esclerose subcondral (SALTER, 2001).
Apesar dessa classificação, Gray e Goss (1998) alertam que a lombalgia apresenta um
ascendente etiológico complexamente multifatorial, sendo que nenhum modelo integrador da
relação entre os fatores etiológicos foi cientificamente validado. Para uma melhor
visualização dos enunciados acima, o Quadro 1, abaixo, apresenta de forma sintetizada as
condições que propiciam o acometimento de lombalgias.
Condições mecânicas
- Entorse ou distensão lombar;
- Processo degenerativo do disco
ou faceta, relacionado com a idade;
- Hérnia de disco;
- Estenose do canal vertebral;
- Espondilolistese;
- Doença congênita;
- Cifose grave;
- Escoliose grave;
- Vértebra de transição.
Condições não-mecânicas
- Fratura osteoporótica;
- Fratura traumática;
- Neoplasias;
- Mieloma múltiplo;
- Carcinoma metastásico;
- Linfoma e leucemias;
- Tumores vertebrais;
- Tumores retroperitoniais;
- Infecção;
- Osteomielite;
- Discite séptica;
- Abscesso paraespinhal;
- Abscesso epidural.
Fonte: Rocha e Pinheiro (2008)
Quadro 1. Condições para o acometimento de lombalgias
Condições viscerais
- Doença de órgãos pélvicos;
- Prostatite;
- Endometriose;
- Doença inflamatória crônica;
- Doença renal;
- Nefrolitíase;
- Pielonefrite;
- Abscesso perinefrético;
- Aneurisma aórtico;
- Doença gastrintestinal;
- Pancreatite;
- Colescitite;
- Úlcera penetrante.
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Comprovadamente, o que se tem como fatores associados para o acometimento de lombalgias
são, de acordo com Salter (2001):
1) Fatores relacionados ao trabalho (lombalgias ocupacionais): levantar, carregar ou empurrar
peso exagerado (trabalhadores braçais, demolidores de estruturas com brocas vibratórias,
enfermeiros que manipulam doentes acamados), posturas erradas prolongadas nas posições
sentada ou em pé (acometem dentistas, desenhista em pranchetas, operadores de
computadores, motoristas profissionais; médicos cirurgiões e profissionais de escritório);
2) Fatores relacionados ao condicionamento físico e estado de saúde em geral: vida
sedentária, falta de condicionamento físico, escorregões e quedas que produzem distensões
e/ou espasmos musculares, desvios dos eixos normais da coluna vertebral, como o aumento
da lordose lombar (hiperlordose). Nas grávidas, a dor lombar é causada principalmente pelo
aumento da lordose lombar, que aparece devido ao aumento do abdome, desviando para frente
o centro de gravidade da coluna, sobrecarregando músculos, ligamentos e discos vertebrais.
Para Cruz e Sardá Jr (2003), a obesidade também produz seus efeitos sobre a região lombar.
Primeiramente, o excesso de peso acima do nível da cintura produz uma maior pressão sobre
as estruturas envolvidas na síndrome da dor: os nervos, as articulações e os discos
intervertebrais. Em segundo lugar, os músculos abdominais flácidos e distendidos podem não
fornecer o suporte adequado para manter a coluna estável em seu eixo. Por esta razão, muitos
médicos enfatizam os exercícios para o fortalecimento dos músculos abdominais.
Salter (2001) também indica como causas os fatores relacionados a aspectos emocionais:
estresse psicológico, tensão emocional, insatisfação no trabalho, problemas econômicos e
familiares, problemas psiquiátricos, abuso de drogas. Atualmente se aceita que fatores
psicossociais podem até ser determinantes de dores nas costas, já que a tensão emocional pode
transformar a coluna em órgão de choque, onde o indivíduo descarrega as suas ansiedades e
frustrações;
Por sua vez, Madalena (2008) cita sobre os fatores genéticos, apontando certa freqüência de
lombalgias, hérnia de disco ou dor ciática em uma mesma família, entretanto, não existem
ainda comprovações científicas sobre se realmente o fator genético tem influência importante
ou não.
10. Quadro clínico/exame
No aspecto clínico, Madalena (2003) indica que a avaliação inicial do paciente deve incluir
uma história clínica completa, com revisão dos vários sistemas e um exame físico em busca
de pistas e sinais de alerta de alguma doença sistêmica oculta. Na prática, isso significa
identificar pacientes com dor causada por infecção, câncer, doença inflamatória como a
espondilite anquilosante, e condições não reumatológicas, especialmente aneurisma de aorta.
Para uma avaliação mais completa do quadro clínico, a autora acima citada refere que o
exame deve se concentrar nos eventos próximos ao início da dor, salientando que os
distúrbios mecânicos freqüentemente têm início agudo, com duração de algumas semanas,
mas não é comum acontecer uma história clara de trauma anterior.
Por outro lado, a dor mecânica, de modo geral, melhora com uma posição confortável e piora
ao final do dia. Como exemplo, Madalena (2003) considera que a dor em repouso ou à noite
levanta a suspeita de câncer. Além disso, as doenças sistêmicas têm um início insidioso, com
uma duração mais prolongada e não se alteram significativamente com a posição.
Também é indicado que as doenças inflamatórias da coluna vertebral cursam com rigidez e
dor pela manhã, e a síndrome da cauda eqüina ou a ruptura de um aneurisma de aorta são
causas raras de dor lombar, mas exigem diagnóstico precoce para intervenção cirúrgica
imediata. Uma história de dor ciática bilateral, anestesia perineal ou incontinência urinária ou
fecal deve chamar atenção para a compressão de cauda eqüina. Já uma história de tonteira
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súbita em um paciente mais idoso com queixas de claudicação levanta a possibilidade de um
aneurisma de aorta (MADALENA, 2003).
Para uma constatação do quadro clínico, Cruz (2000) sugere técnicas específicas de exame.
Embora o exame da coluna não sugira uma causa específica para a dor, vários sinais físicos
devem ser procurados porque eles ajudam a identificar os poucos pacientes que precisam mais
que o tratamento conservador.
O exame físico, assim, inclui a observação do paciente de pé, sentado, e deitado nas posições
de supinação e pronação. A coluna também deve ser examinada em repouso e em movimento
de modo a observar posições ou movimentos que exacerbem a dor. A palpação da coluna
usualmente não fornece muitas informações diagnósticas (MADALENA, 2003).
Por seu turno, a dor localizada provocada pela palpação de uma vértebra pode sugerir
osteomielite (associação incomum), fraturas do corpo vertebral ou expansão do espaço da
medula óssea. Qualquer doença sistêmica que aumente a perda mineral do osso e a
substituição da medula óssea por células inflamatórias ou neoplásicas enfraquecerá o osso
vertebral até o ponto em que fraturas podem ocorrer espontaneamente ou com trauma mínimo
(CRUZ, 2000).
De igual forma, o exame do quadril deve fazer parte de um exame completo, já que alguns
pacientes com artrite de quadril apresentam dor em região glútea ou lombar. Nos casos de
pacientes com dor em membro inferior associada à dor lombar deve se proceder a um exame
neurológico completo (MADALENA, 2003).
Madalena (2008) explicita que, nesses casos, o exame neurológico dos membros inferiores irá
detectar pequenos déficits produzidos por doença discal e déficits maiores acompanhando
patologias como os tumores de cauda eqüina. Um teste positivo da extensão do membro
inferior indica irritação da raiz nervosa. O examinador executa o teste elevando passivamente
o membro inferior no paciente na posição supina. O teste é positivo se produz dor com o
membro inferior elevado a 60º ou menos. Esse teste é particularmente sensível para hérnias
em L4-L5 ou L5-S1, mas pode ser falso negativo para hérnias acima desses níveis.
Segundo Teixeira e Yeng (2004), o quadro doloroso que identifica os sintomas deve ser
diagnosticado e tratado de forma precoce, uma vez que os resultados terapêuticos são mais
eficazes e menos onerosos nessas condições.
E continuam: Na avaliação da lombalgia é comum dividirmos os tipos de apresentação
dolorosa em: dor somática superficial, representada pelos distúrbios que afetam a pele e os
tecidos subcutâneos; dor somática profunda, que se origina no eixo da coluna vertebral,
músculos adjacentes, tendões, ligamentos e fáscias; dor radicular, que se relaciona ao
envolvimento dos nervos vertebrais próximos ao sítio da inflamação ou nos processos que
reduzam o fluxo sanguíneo ao nervo; dor neurogênica, que denomina os sintomas decorrentes
do envolvimento sensorial de um nervo periférico e pode resultar de anormalidades em órgãos
que compartilham a inervação segmentar com a vértebra lombar ou sacral; dor psicogênica,
que, por sua vez, não segue padrão dermatogênico e é percebida no córtex cerebral
(TEIXEIRA e YENG, 2004, p. 211).
Portanto, verifica-se que o objetivo do exame físico tem como pressuposto demonstrar as
anormalidades estáticas e dinâmicas que podem auxiliar a descartar doenças responsáveis pelo
quadro de lombalgia.
11. Testes para região lombar
Segundo Aguilar et al. (2007) alguns testes são indicados para a detecção de problemas de
lombalgia na coluna lombar. Entre os mais indicados, os autores citam:
a) Região ciática: para avaliar se há hérnia de disco ou uma lesão que ocupa espaço capaz de
comprimir as raízes nervosas podendo sensibilizar o nervo. O examinador deve fletir o quadril
10
do paciente e localizar o ponto médio entre as tuberosidades isquiáticas e os grandes
trocanteres. Então deve pressionar firmemente, palpando o nervo que é de fácil palpação;
b) Flexão lateral: movimento contralateral, com dor no outro lado, tratar a cápsula articular;
c) Inclinação: detecta lesão ligamentar. Deve-se fixar a crista ilíaca do paciente e pedir para
que ele incline o tronco pela direita e/ou para a esquerda. Comparar os dois lados. Para
realizar o teste passivo de inclinação, fixar a pelve do paciente e segurar o ombro, inclinandoo para direita e depois para a esquerda, verificar os dois lados;
d) Rotação: colocar-se atrás do paciente e fixar a pelve, colocando a mão sobre a crista ilíaca
e outra sobre o ombro. Em seguida, fixar o tronco, o que será conseguido rodando a pelve e o
ombro posteriormente. Verificar os dois lados;
e) Teste de Lasegue modificado: flexão + adução + rotação interna (inversão) + elevação da
perna. Se o paciente sentir dor, suspeitar-se-á de lombociatalgia (dor ciática verdadeira).
12. Atuação fisioterapêutica no tratamento das lombalgias
Não se pode afirmar, categoricamente, que existe um conjunto de procedimentos específicos
para o tratamento das lombalgias, principalmente as crônicas. Para Madalena (2008), tais
procedimentos envolvem desde o aconselhamento à manutenção de atividades físicas, ao
desencorajamento de repouso no leito; e prescrição medicamentosa, se necessário.
A recomendação desta autora quanto à manipulação da coluna vem de encontro às sugestões
aplicadas por profissionais da área de saúde, de que o repouso e exercícios específicos para as
costas seriam os mais indicados, tendo os avanços e achados atuais considerado que essa base
de tratamento é ineficaz.
Por sua vez, Cecin et al. (2001) apoiam o repouso como técnica eficaz nas lombalgias,
recomendando, no entanto, o seu não prolongamento, já que a inatividade possui ação
deletéria sobre o aparelho locomotor, recomendando-se o retorno às atividades habituais de
forma mais rápida possível.
Dentre as técnicas de tratamento utilizadas, Madalena (2003) considera que as terapias
manuais e os exercícios não específicos continuam sendo os métodos mais utilizados para o
tratamento das dores musculoesqueléticas.
Em relação a tratamentos de ordem medicamentosa, e alguns não tão convencionais, como a
acupuntura, por exemplo, Pires e Dumas (2008) consideram que a Fisioterapia é a que tem
sido mais evidenciada para o tratamento das lombalgias, principalmente pela combinação de
exercícios com outros tipos de tratamento, tais como: ultra-som, massagem, laser, tração e
estimulação elétrica transcutânea, porém, esses autores indicam não haver muitos achados que
comprovem evidências de seus efeitos benéficos.
Para efeitos de registro sobre técnicas específicas de tratamento envolvendo a Fisioterapia, a
discussão promovida mais adiante envereda especificamente pela apresentação de estudos
sobre mobilização articular, no intuito de apresentar, de forma mais evidente, as
considerações acerca de pesquisas direcionadas para o uso dessa técnica em pacientes que
refiram lombalgias crônicas.
Conforme explicita Britto (2002, p. 13) a atuação fisioterapêutica no tratamento das
lombalgias pode ser conduzida através de exame físico; avaliação dos achados; decisão de
tratar; seleção da técnica e do teste para determinar o efeito do tratamento; discussão com o
paciente em relação à prevenção de recidivas ou tratamento da dor crônica. [...] durante o
exame subjetivo, o fisioterapeuta deve formular uma hipótese de trabalho para o componente
objetivo, identificar indicações para métodos de tratamento e excluir as contra-indicações.
Ressalta ainda esta autora sobre a condução do exame objetivo, que começa a partir da
observação de como o paciente caminha, como responde às saudações iniciais e ao convite
para sentar-se ou deitar-se, quando então são realizados os exames correspondentes de
palpação e testes definidos.
11
Segundo Money et al. (1997), o tratamento das dores lombares via mobilização articular –
objeto principal da presente pesquisa – se inclui no rol de outras técnicas passivas, tais como a
manipulação espinhal e a massagem profunda, sendo considerados métodos apropriados para
a primeira fase do tratamento, e que podem surtir melhores efeitos do que as denominadas
“terapias ativas”, que envolvem técnicas como aplicação local de calor, por exemplo.
Na opinião de Britto (2002), os efeitos benéficos da mobilização passiva das articulações, em
função de promover o aumento gradual da amplitude de movimento, fazem com que o
paciente supere gradativamente as barreiras dolorosas dos cuidados ativos. A única
dificuldade, no entendimento desta autora, é com relação à mensuração do sucesso de
aplicação desse método, uma vez que depende da avaliação subjetiva quanto à sintomatologia
dolorosa pelo paciente.
Vale ressaltar que nenhum método, por si só, é indicado como adequado em Fisioterapia, se
não estiver associado a outras técnicas e manobras. Dessa forma, Money et al. (1997) sugerem
que se apliquem, conjuntamente, exercícios de conscientização diafragmática e corporal, bem
como para a realização de movimentos corretos e reeducação postural.
13. O tratamento osteopático
Conceituamente, a Osteopatia é tratada como uma forma holística de medicina alternativa,
que se vale da aplicação de técnicas manuais para o diagnóstico e tratamento de uma grande
variedade de problemas de saúde (QUEF, 2003).
Mais especificamente, a Osteopatia é indicada para um melhor funcionamento fisiológico do
corpo. Para tanto, envolve-se com o sistema músculo-esquelético, articulações e fáscias, bem
como promove uma melhora na circulação, nas funções do sistema nervoso e imunológico,
digestivo e respiratório (RICHARD, 1996).
Segundo Junqueira (2003), por intermédio da Osteopatia pode-se conseguir um equilíbrio
entre as cadeias musculares, através do alinhamento do centro, bacia e coluna vertebral.
Por sua vez, Tixa (2003) considera que a Osteopatia tem por finalidade restabelecer o
equilíbrio corporal através da terapia manual, com base no princípio de que o corpo é capaz
de fabricar seus próprios processos curativos contra as doenças, desde que suas relações
estruturais se encontrem em estado de normalização.
14. Especialidades osteopáticas
Segundo Ricard (2001), são três as especialidades da Osteopatia:
a) Osteopatia estrutural: consiste no tratamento das alterações músculo-esqueléticas e
desajustes mecânicos das articulações, partindo do princípio de que articulações que sofrem
perda de mobilidade podem provocar desequilíbrios estruturais no organismo, levando ao
acometimento de quadros álgicos e associação a diferentes patologias.
b) Osteopatia visceral: trata da relação existente entre lesões estruturais e seu efeito no
sistema visceral, ou vice-versa. Um bom funcionamento dos órgãos internos é fundamental
para a realização das complexas e variadas funções orgânicas, mantendo-se a mobilidade
entre os mesmos. Por exemplo, uma avaliação osteopática pode detectar a relação entre uma
disfunção visceral causada pela diminuição de mobilidade intestinal ou ginecológica, e a
ocorrência de dores lombares.
c) Osteopatia craniana: os ossos do crânio também possuem mobilidade, já que nunca se
soldam por completo. Nesse sentido, a Osteopatia craniana se dedica à manipulação delicada
das estruturas cranianas, com vistas a restaurar a circulação normal do líquido céfaloraquidiano nessa área.
Apesar das especialidades da Osteopatia, é comum verificar na literatura que o tratamento
direcionado a apenas uma destas não é o correto, já que o caráter holístico da terapêutica
envolve o tratamento de forma global.
12
15. A técnica de mobilização articular
Como caracterização preliminar, vale destacar que a mobilização articular é uma técnica de
terapia manual que consiste no movimento de deslizamento de uma superfície articular,
através de uma mobilização passiva. Segundo Carvalho et al. (2008), a mobilização articular é
comumente utilizada para o tratamento de diversas disfunções do sistema músculoesquelético, inicialmente nos casos de restrição dos movimentos articulares acessórios que
causam dor ou restrição do movimento fisiológico normal, possibilitando através de um
tratamento conservador a eliminação de queixas álgicas. Essas técnicas são aplicadas em
geral, tanto para afetar diversos segmentos de movimento, quanto, ou especificamente, para
libertar uma determinada articulação com perda do movimento artrocinemático.
Também contribuem Corrigan e Maitland (2000), ao definirem que a mobilização articular é
uma técnica de movimentos passivos onde o paciente, em todo o tempo, possui controle sobre
os movimentos.
Explica ainda Pereira (2005) que as superfícies articulares são movidas por movimentos
conhecidos como “tração” ou “separação”. Trata-se, na opinião deste autor, de uma técnica
onde a articulação pode ser movimentada de modo rítmico em sua amplitude normal, cuja
velocidade do movimento é resistida ou impedida voluntariamente pelo paciente.
Em relação à quantidade de movimento que deve ser aplicada no uso da técnica de
mobilização articular, Corrigan e Maitland (2000) asseguram que esta deve ser conduzida de
acordo com a dor, o espasmo muscular e a restrição de movimento apresentados pelo
paciente.
Pereira (2010), a exemplo, cita a mobilização articular de baixa velocidade, considerando que
esta manobra pode ser aplicada diretamente na coluna vertebral ou em articulações periféricas
(Figura 2).
Fonte: Pereira (2010)
Figura 2. Aplicações da técnica de mobilização articular com o paciente em decúbito ventral (esquerda) e de
baixa velocidade (direita)
Corrigan e Maitland (2000) apresentam ainda a classificação dos movimentos em função da
amplitude, sendo: grau I, onde o movimento representa pequena amplitude, e pode ser
realizado na posição de início desta; o grau II permite movimentos de grande amplitude, o que
permite a obtenção de bom desempenho, sem atingir seu limite; o grau III também representa
movimentos de grande amplitude dentro de seu limite; o grau IV consiste num movimento de
pequena amplitude no final da mesma.
Via de regra, o uso da técnica de mobilização articular é indicada para os casos de reabilitação
após lesão da região lombar, como sugerem Hanrahan et al. (2008). Porém, não se descarta a
13
possibilidade de efeitos específicos em curto prazo, decorrentes da mobilização sobre lesões
lombares, onde a sintomatologia dolorosa e a força muscular estejam limitadas.
16. Achados sobre estudos de mobilização articular
Briganó e Macedo (2005) compararam os efeitos da terapia manual com a cinesioterapia, em
pacientes com diagnóstico de lombalgia crônica, em uma amostra de 25 indivíduos com
faixas etárias entre 18 e 65 anos, avaliados através do método da Escala Visual Analógica
(EVA), e pelo Teste de Shöber para mobilidade lombar. O tratamento escolhido foi de 30
sessões de terapia manual e cinesioterapia, com avaliações posteriores da escala de dor. Em
função da diferença estatística apresentada, os autores concluíram que essas técnicas
apresentam melhoras significativas no quadro álgico da lombalgia, com diminuição da
mobilidade lombar em indivíduos assintomáticos.
Carvalho et al. (2008) realizaram estudos objetivando analisar os efeitos da manipulação do
osso ilíaco na dor lombar. Através da aplicação desta técnica em onze pacientes do sexo
masculino, de faixas etárias entre 20 a 40 anos, onde preliminarmente foram aplicados testes
de Finger-Floor, Gillet e Downing para identificação dos graus disfuncionais. Após a
tabulação dos resultados alcançados com a aplicação de técnicas de mobilização articular,
chegaram à conclusão de que esta é efetiva no alívio imediato da dor e no aumento da
flexibilidade da coluna vertebral, com irradiações benéficas para os membros inferiores.
Tratando de estudo piloto sobre manipulação articular em pacientes com dor lombar crônica,
Couto (2007) explica efetua uma correlação desta técnica com a de mobilização articular,
salientando que esta última gera um efeito hipoalgésico central, o que sugere, portanto, não
ser necessária sua aplicação diretamente sobre o segmento afetado.
Na descrição dos estudos realizados por Hanrahan et al. (2008), foram avaliados os efeitos das
mobilizações articulares de grau 1 e 2 sobre um grupo de pacientes com lesões lombares
mecânicas, constatando-se um aumento imediato e em 24 horas há habilidade da musculatura
paravertebral quanto á produção de força, além de diminuição em um período de até 24 horas
da dor.
Cavalcante (2009) realizou estudos em indivíduos que se encontravam em tratamento
fisioterapêutico de dores lombares em clínica universitária. Após avaliação da intensidade da
dor, escolheu-se a submissão ao tratamento de terapia manual, através de mobilização
articular, durante cinco sessões semanais de dez minutos cada, com posterior avaliação da
intensidade álgica. Nos resultados apresentados, houve uma redução significativa ao final de
todas as sessões, com o registro de redução quase total dos sintomas de lombalgia crônica ao
final das cinco sessões.
Em revisão literária, Cherkin et al. apud Germinari et al. (2009) identificaram que as terapias
manuais que envolvem manipulação e mobilização possuem efeitos similares, sendo o uso
dessas técnicas recomendado como importantes ferramentas para o fisioterapeuta no
tratamento de disfunções da coluna lombar, principalmente no que diz respeito à redução da
dor.
Pezolato et al. (2009) realizaram estudo na tentativa de identificar as diferenças entre as
técnicas de mobilização articular aplicadas em meio aquático ou em solo. Para tanto,
aplicaram mobilização póstero-anterior em todos os segmentos lombares – de L1 a L5 –
durante um minuto, com repetições duplas para cada vértebra em quatro semanas, registrando
ter havido um aumento na amplitude de movimento e na diminuição da intensidade da dor,
porém não identificando diferenças significativas na aplicação entre os ambientes utilizados.
Somente em relação à diminuição do quadro doloroso é que fizeram uma inferência, tendo em
vista que o calor do meio aquático pode ter provocado pelo calor da água, hipótese em que se
considera esse meio como possibilitador de melhoras no que diz respeito à sintomatologia
dolorosa.
14
17. Metodologia
Como procedimentos metodológicos para a consecução da pesquisa, procedeu-se à escolha de
uma abordagem qualitativa, por meio de revisão bibliográfica onde foi enfatizada a busca por
estudos que evidenciassem as condições necessárias para o alcance do objetivo geral da
pesquisa. A temática central foi tratada a partir da seleção de artigos e outros trabalhos de
natureza científica, indexados em bases de dados de acervos eletrônicos, concentrados
principalmente nas publicações Scielo, Lilacs, Medline e BVS-Bireme, delimitados ao
período de 2000 a 2012. Os descritores de pesquisa utilizados foram: lombalgia crônica;
osteopatia; mobilização articular.
18. Resultados e discussão
No conjunto de elementos utilizados para a elaboração dessa pesquisa, identifica-se que a
osteopatia é um tratamento que envolve uma abordagem diagnóstica e terapêutica das
disfunções de mobilidade tissulares em geral, e articular, em particular (RICARD, 2001).
Durante muito tempo, a osteopatia carregava consigo uma certa mística, que foi aos poucos
obtendo seu lugar como uma forma terapêutica aplicada a vários tipos de patologia
articulares, em função de sua fundamentação na anatomia, na fisiologia e na semiologia. Na
verdade, a osteopatia não se fundamenta em fórmulas, procedimentos ou manobras
específicas, mas em exames clínicos apurados (RICHARD, 1996).
Por sua vez, a dor lombar é a queixa mais comum registrada em ambulatórios e clínicas de
fisioterapia, sendo considerada um dos principais males que acometem a sociedade
contemporânea. Como mostram as estimativas, entre 70% a 80% de toda a população
experimental alguma dor lombar alguma vez na vida (COUTO, 2007).
Esses episódios ocorrem geralmente nas faixas etárias entre 30 a 50 anos, justamente por ser
considerado o período humano mais produtivo. Apesar de muitos episódios de dor lombar
serem eliminados sem qualquer tipo de tratamento, a recidiva pode trazer preocupações, em
função da necessidade reeducação postural ou até mesmo mudanças de hábitos (CARVALHO
ET AL., 2008).
A osteopatia, conjuntamente à aplicação de técnicas de mobilização articular, pode ser
considerada uma opção menos traumática, de custo mais acessível, e com efeitos mais
duradouros, servindo amplamente para o tratamento de disfunções do sistema músculoesquelético, notadamente em casos de restrição de movimentos articulares que ocasionam
dores ou limitam o movimento fisiológico normal (TIXA, 2003).
Através do uso da mobilização articular com associação dos princípios osteopáticos, é
possível a eliminação de queixas álgicas de origem vertebral e periférica. Sua aplicação se dá
justamente na eliminação das causas mais comuns para a perda do movimento
artrocinemático, que são: rigidez ou aderência cápsulo-ligamentar, desarranjo interno,
espasmo muscular reflexo, mudanças degenerativas hipertróficas, entre outras (TEIXEIRA e
YENG, 2004).
O campo de aplicação da osteopatia no tratamento das disfunções do sistema músculoesquelético, em que pese o avanço das pesquisas nessa área, ainda carece de estudos que
possibilitem uma constatação mais efetiva dos benefícios que sua utilização pode trazer. No
entanto, pode-se considerar que, quando associada a técnicas já suficientemente comprovadas,
como a mobilização articular, pode-se esperar efeitos significativamente benéficos para os
pacientes que sofrem de lombalgia crônica (RICARD, 2001; TIXA, 2003).
17. Conclusão
Apesar de a maioria dos achados tenderem a uma quase unanimidade no que diz respeito à
eficácia da aplicação de mobilização articular no tratamento das lombalgias, são poucos os
15
estudos que efetivamente mostram uma evolução positiva em relação a este tipo de
tratamento.
O que se tem como certo, na literatura, é a opinião de que as técnicas de mobilização articular
promovem melhora imediata no tratamento da dor, sendo que esta é relatada de forma
subjetiva pelos pacientes, fator que interfere na mensuração da dor, particularmente no que
diz respeito à avaliação e registro de sua intensidade, de maneira análoga à percepção dos
sinais vitais.
Esses registros são considerados como importantes, já que os principais indicativos de
lombalgia se referem justamente à sintomatologia dolorosa, a qual deve ser acompanhada de
forma regular e continuamente pelos profissionais de Fisioterapia e Osteopatia, no interesse
de otimização da terapêutica e da busca por melhores resultados para a qualidade de vida dos
pacientes.
Nesse sentido, a mobilização articular prescinde do uso da análise objetiva, e métodos como a
Escala Visual Analógica podem favorecer o rumo do tratamento. Além disso, as restrições de
mobilidade se apresentam como outro forte componente para associações com a patologia e
seu esquema de tratamento, incluindo procedimentos osteopáticos.
Seja qual for a circunstância, no entanto, concorda-se que as técnicas de terapia manual são
mais evidenciadas nos achados literários do que a utilização de outras técnicas menos
convencionais para o caso, como a hidroterapia ou a cinesioterapia, por exemplo, quando
aplicadas isoladamente. Esta técnica vem sendo apresentada como significativa no que tange à
melhora do paciente, em relação às terapias de exercícios ativos.
Portanto, é de se concordar que, pelo menos no que diz respeito aos achados literários, a
mobilização articular, quando associada aos procedimentos de Osteopatia, é indicada para o
tratamento de lombalgias crônicas, notadamente as derivadas de alterações posturais,
inatividade física e estresse mecânico prolongado. As técnicas de mobilização articular
propiciam um significativo alívio da dor que se manifesta com a biomecânica alterada, além
de promover uma melhora da função articular e aumento da amplitude de movimento na
região afetada.
Para efeito de comprovações mais eficazes, no entanto, sugere-se a realização de estudos e
ensaios clínicos, com o devido acompanhamento contínuo sobre a evolução da diminuição da
dor lombar, a partir da aplicação de técnicas de mobilização articular ou em associação com
outras modalidades terapêuticas.
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