Lúcia Estevinho Guido & Sônia Maria Aranha 2 Lúcia Estevinho Guido Sônia Maria Aranha Da Asa da Borboleta ao Nariz da Baleia Um livro para todos aqueles que gostam de ciências biológicas Concepção gráfica e ilustrações: Sônia Maria Aranha 3 Copyright ©2009 de Lúcia Estevinho Guido & Sônia M A R de Andrade Preparação: Sônia M A R de Andrade Revisão técnica: Profª Drª. Fernanda H. Nogueira-Ferreira Dirce Carvalho de Campos Elias Guido, L.E. e Andrade S.M..A. R de, 2009. Da Asa da Borboleta ao Nariz da Baleia Ilustrações: Sônia M A R Andrade – Campinas: SitEscola, 2009 1. ficção 2. Ciências Biológicas (Literatura Infantil) 4 Agradecimentos Em agradecimento aos nossos alunos da 4ª série do Ensino Fundamental do Colégio Evolução em Campinas, hoje mulheres e homens feitos: Renata, Mariana, Milena, Roberto, Ismael, Vanessa, Fernando, Rafael, e tantos outros, dedicamos este livro, fruto do estudo e dedicação de cada um deles. Professoras Lúcia e Sônia 5 Índice 1. A Borboleta ....................................................................................09 2. Aula sobre Locomoção ....................................................................20 3. Oi Leitor! .................................................................................... .... 25 4. O Sonho ...........................................................................................27 5. De volta a Sala de Aula ....................................................................63 6. Agora é com você e seus colegas.....................................................68 7. Eu preciso de ....................................................................................70 6 Prefácio Este livro foi construído na vivência de uma pesquisa de mestrado realizada com alunos, alunas e professora de uma 4ª série do ensino fundamental. Pesquisadora e professora se reuniam semanalmente para discutirem as aulas de Ciências que seriam ministradas. Dúvidas, preparação e avaliação das atividades eram realizadas nestes momentos permeados por discussões teóricas tanto do conteúdo específico de ciências como de metodologia do ensino. O tema iniciado pela professora e normalmente escolhido para ser trabalhado na 4ª série, Corpo Humano, nos incomodava 7 um pouco. Nas reuniões começamos a perceber que trabalhar apenas com os conteúdos relativos a este tema, não nos dava espaço para estabelecer relações entre ideias e conceitos, que se constituiu como o problema da pesquisa. Encontramos a solução para o estabelecimento das relações propondo o estudo do funcionamento do corpo humano atrelado com o funcionamento do corpo de outros seres vivos. Com isto integramos os conteúdos e estabelecemos as relações entre muitas ideias, o que possibilitou o desenvolvimento de conceitos importantes para o ensino de ciências: ser vivo, animal e vegetal. O que diferencia um animal de outro? O ser humano é um animal? Como as plantas se alimentam, condição necessária para a vida, se elas não se locomovem? Estas questões instigaram os alunos e as alunas a se envolverem com o ensino, pesquisando muito também. O resultado foi o 8 sonho de Felipe que se transformou no livro que apresentamos. Este sonho também deu corpo a dissertação de mestrado intitulada: A evolução conceitual da prática pedagógica do professor de Ciências das séries iniciais e alimentou o nosso sonho de buscar um ensino de ciências mais crítico, vivenciado no diaa-dia dos alunos, integrando conteúdos, menos fragmentado. É esse sonho que queremos compartilhar com você, para que assim ele vá se tornando aos poucos realidade. Professoras Lúcia e Sônia 9 A Borboleta 10 A través da janela uma brisa invade a sala de aula, trazendo consigo barulhos do pátio da escola, pequenas folhas de árvores e uma borboleta colorida, que, com movimentos suaves, pousa nas páginas do caderno iluminado pelo sol. Felipe assusta-se, mas, imóvel, começa a observá-la, esquecendo-se de tudo que o rodeia. Não se pode precisar quantos minutos Felipe ficou absorto a olhar aquela pequena invasora. --- Felipe, o que você acha? --- Como, professora? --- Você está distraído, Felipe. O que aconteceu? ---- Desculpe, mas eu estou olhando esta borboleta que pousou no meu caderno. 12 ---- E o que você viu de tão interessante nela que o fez distrair da aula?– perguntou a professora dirigindo-se lentamente para a carteira de Felipe na tentativa de também observar a borboleta. ----- É que ela entrou pela janela, deu algumas voltas pela sala e pousou no meu caderno e agora ela enrola e estica uma linguinha preta. O que será isso, professora? 13 Os colegas de classe de Felipe largaram suas carteiras e foram pouco a pouco aproximando-se para poder ver a intrusa que agora era o centro das atenções de todos. --- Felipe, é só a gente pensar um pouco... A língua serve para ajudar na nossa alimentação. A borboleta, por exemplo, se alimenta de néctar. ---- Néctar! O que é isso? 14 ---- Jonas, você é bobo mesmo, néctar é aquela água docinha que tem dentro das flores, disse Felipe. ---- Ah! Então ela usa esse açúcar das flores, o néctar, né, para produzir energia. --- Muito bem Jonas, mas sabemos que para produzir energia é necessário açúcar e oxigênio. O açúcar ela retira do néctar das flores, então, como a borboleta consegue oxigênio se ela não tem pulmão como nós? pergunta a professora animada com a discussão que a borboleta invasora trouxera para a sala de aula. 15 16 ---- É que a borboleta é um inseto. Possui um sistema respiratório diferente do ser humano, mas não menos eficiente. A borboleta tem traqueias como órgão respiratório e é boa voadora. --- Muito bem! Se a borboleta não tem pulmão, ela também não possui sangue para conduzir o oxigênio do pulmão até todas as partes do seu pequeno corpo! exclamou Nyana. 17 Aí a confusão foi geral: uns diziam que a borboleta tinha sangue e outros que não tinha. A classe estava dividida e para resolver a situação, a professora pediu que eles pensassem que o sangue não tem só a função de transportar alimentos e gases, que na borboleta, por exemplo, o sangue também tem a função de manter as asas, recém saídas do casulo e ainda molhadas, esticadas até ficarem secas e bem firmes. Mas, voltando à professora: ---- Sabemos que para produzir energia é necessário oxigênio e alimento. O oxigênio ela retira do ar por meio da traqueia como 18 vocês disseram. E como ela retira o néctar se ele fica no interior das flores? --- Ah! Descobri para que serve a língua enrolada! A borboleta pousa na flor e introduz a língua lá dentro para puxar o néctar e junto com o oxigênio irá produzir energia que dá vida à borboleta! disse Juliana orgulhosa com a sua descoberta. 19 A discussão estava tão boa que os alunos nem perceberam que a pequena intrusa havia saído da sala pela mesma janela que entrou, quem sabe à procura de flores para sugar o néctar que não havia encontrado no caderno do Felipe. Depois que resolveram o problema da alimentação da borboleta, que faz com que ela possua uma língua enroladinha, a professora continua sua aula sobre locomoção dos seres vivos, inserindo nela a discussão que a borboleta trouxera. 20 Aula sobre Locomoção ---- Eu gostaria de propor uma outra questão para vocês pensarem: Em um cercado completamente fechado do chão até a altura de uma casa e coberto por uma tela que só deixa passar luz, ar e chuva, são colocados um cachorro, uma formiga, um ninho de abelhas, uma árvore, um cavalo, uma borboleta e uma cobra. Se ninguém colocasse alimento dentro do cercado, quais desses seres vivos sobreviveriam? 21 Victor foi o primeiro a responder: --- Aí seis sobreviveriam: a formiga se alimentaria do mel das abelhas; as abelhas e a borboleta, das flores da árvore; a árvore, da água; o cavalo, do capim e a cobra, do cachorro que morreu. Foi uma gargalhada só e Daniel foi logo dizendo: ---- Como você sabe, Victor, que o cachorro morreu antes da cobra? 22 ---- Oras, é simples, a cobra é mais forte que o cachorro, disse Victor indignado. ---- Mas, então, depois que a cobra comeu o cachorro ela não vai ter mais alimento e morrerá, disse Juliana, tentando contrapor-se à ideia maluca de Victor. --- Não vai morrer não! A cobra depois de comer o cachorro iria ficar muito forte e cavaria um buraco e sairia do outro lado do cercado. 23 A turma toda já não aguentava mais de tanto rir das ideias de Victor, mas ele continuava defendendo-as com unhas e dentes, usando para isso todo tipo de argumentos. Empolgada com a discussão, mas verificando que sua questão não havia levado os alunos a perceberem a importância da locomoção para a alimentação dos animais, a professora foi tratando de bolar outra questão para seus alunos: --- E se tirássemos a borboleta do cercado, mas ela estivesse com as asas quebradas, o que poderia acontecer com ela? 24 Nesse momento os alunos perceberam porque as borboletas tinham que ter asas: lógico as flores geralmente ficam no alto, não é? E todos correram para a carteira do Felipe na tentativa de observar de perto as asas da borboleta e de como ela as utilizava para se mover. A decepção foi grande ao saberem que a pequena intrusa havia escapulido, e foi a professora novamente que, propondo uma pesquisa de observação a seus alunos, estava ao mesmo tempo amenizando a decepção e criando interesse para o tema da aula que era justamente a locomoção dos seres vivos. 25 Oi Leitor! Se você, leitor, também ficou curioso, não fique aí parado, corra atrás de um bichinho e veja como ele se locomove. Os passos para a observação, apresentados pela professora, estão no quadro da próxima página. 26 Tarefa de Cientista – para Casa 1. Escolha um bichinho e anote no caderno. 2. Acompanhe-o por algum tempo. 3. Verifique que partes do corpo o bichinho usa para se locomover e anote. 4.Se for possível, pegue o bichinho e observe mais de perto como são as partes que ele utiliza para se locomover. Não esqueça de anotar. 5.Cuidado com bichinhos que podem ser perigosos , as aranhas, por exemplo. 6.Seja um cientista, não esqueça de nenhum detalhe! 27 O Sonho 28 Era horário de verão. O sol ainda iluminava e Felipe aproveitou as últimas horas do dia para fazer a pesquisa que a professora havia pedido. Lógico que o ser vivo que o Felipe escolheu foi uma borboleta e não precisou esperar muito para que uma aparecesse no jardim de sua casa. Assim passou a observar seus movimentos anotando-os em seu caderno de pesquisa. Ele verificou tudo sobre a borboleta: quantidade de asas e pernas, quais eram suas cores, como era seu corpo e ficou 29 impressionado como ela usava sua língua para sugar o néctar das flores. Escreveu tudo que observou não esquecendo nenhum detalhe, descobrindo que na verdade a língua da borboleta quando está parada fica toda enroladinha, esticando-a quando quer sugar o néctar de alguma flor. 30 Felipe ficou entusiasmado com tudo que observou, mas uma coisa o intrigou: para que serviam as pernas na locomoção da borboleta? Então, refletiu: A locomoção ajuda o ser vivo encontrar seu alimento. O alimento da borboleta é o néctar das flores. As asas servem para a borboleta alcançar o néctar das flores nas mais diferentes alturas. E as pernas? Ajudam também na alimentação? 31 Anoitece, as borboletas dão lugar aos grilos que cantam. As luzes da cidade perversamente ofuscam o brilho das estrelas. Os pais chegam à casa, as crianças relutam em tomar banho. A televisão já está ligada na novela. O telefone toca. A panela de pressão chia. Um beliscão é sentido. O cachorro da vizinha late. O gato sai para buscar companhia. E a noite, a princípio, chega com sua vida borbulhando para, em seguida, se aquietar. E lá está Felipe inserido na noite tentando, depois do jantar, continuar sua pesquisa, agora nos livros de ciências. 32 Folheando um dos livros, Felipe descobre que a borboleta é um inseto e por isso possui três pares de pernas, um par de antenas e que seu corpo é dividido em três partes: cabeça, tórax e abdômen. Mesmo com toda a empolgação que sentia ao fazer a pesquisa, o sono chega, e Felipe adormece em cima dos livros... 33 --- Felipe, Felipe, acorda! --- O que é isso? Uma borboleta faladora? --- Sou sim, porque nunca viu, não? --- Uma borboleta faladora, não! Mas qual é o motivo dessa braveza, me acordando desse jeito? 34 --- É que estes outros seres vivos estão me perguntando o que é respiração. Eu, como sou muito esperta, sei que a respiração é somente inspirar e expirar o ar e estes seres vivos acham que não é só isso! Foi por isso que eu o acordei, para me ajudar a convencêlos de que eu estou certa. ---- Mas na escola eu aprendi que respiração não é somente troca de gases como você falou. Respiração é a produção de energia necessária para a vida. 35 --- E como é produzida esta energia? --- Ora, o açúcar mais o oxigênio produzem energia e gás carbônico. --- Muito bem, muito bem. O oxigênio eu sei que retiramos do ar por meio do movimento mecânico da respiração. Eu, por exemplo, pego o oxigênio por meio da minha pele. E o açúcar, de onde vem? perguntou a Minhoca que estava ali por perto. --- Puxa! O açúcar vem dos alimentos que a gente come! 36 --- Isso mesmo, eu uso as minhas asas para conseguir chegar até as flores e sugar o néctar. ---- Ah! Mas como é que o oxigênio se encontra com o açúcar? perguntou ironicamente a Árvore. ---- Simples, para que temos circulação? perguntou Felipe. ---- Circulação? – a Borboleta circula em volta da Árvore e pergunta novamente – Isto é circulação? 37 38 ---- É também, mas eu estou falando da circulação do sangue. --- O SANGUE! Espantam-se a Minhoca, a Borboleta e a Árvore. ---- Sim. É o sangue que leva o oxigênio mais açúcar para as células onde produzirão energia. --- Mentiroso! Isso acontece no ser humano, porque eu acho que meu sangue, se é que eu posso chamá-lo assim, serve mais para 39 esticar as minhas asas quando ainda não estão secas! diz zangada a Borboleta. --- E o meu serve muito mais para a minha locomoção! exclama a Minhoca se arrastando. A Minhoca e a Borboleta ficam tão irritadas que resolvem voltar à sua vida cotidiana. Uma a fuçar a terra e a outra a sugar o néctar das flores. ---- Espera! Eu vou explicar... 40 --- Que coisa, eu não tenho sangue, então, como é que eu respiro? questionou preocupada a Árvore. ---- Bem, aí complicou! Eu vou ver se acho algum livro para lhe explicar. ---- Mas que chato! Para que saber dessas coisas todas! Vamos viver apenas, curtir! interferiu cinicamente o Peixe, que ouvia toda a discussão. 41 ---- Não seja ignorante! O conhecimento é muito importante. Se todos pensassem assim como teríamos desenvolvido todas as facilidades que temos em nossas vidas? O ser humano estaria ainda vivendo nas cavernas. disse sabiamente a Baleia. Enquanto Felipe está em busca da informação em uma montanha de livros, a Baleia resolve continuar a discussão: ---- Vamos entender melhor: as borboletas e as minhocas são muito pequenas em relação ao ser humano, não existindo nelas uma distância muito grande entre as partes internas de seus corpos, por 42 isso a circulação do sangue está muito mais ligada à locomoção que elas realizam do que ao transporte de gases e alimento. Já a árvore não tem circulação sanguínea... Felipe entusiasmado interrompe a explicação da Baleia, dizendo: --- Olha aqui, achei! --- Quieto, Felipe, não vê que a Baleia está nos explicando? 43 --- Não quero atrapalhar, mas eu fiquei pesquisando para saber como é que a Árvore se alimenta se ela não se locomove. --- Mas isto é muito fácil, as plantas retiram seu alimento da terra, afirmou o Peixe. ---- E o solo é doce por acaso? Pois para produzir energia é necessário o açúcar, como já havíamos comentado, falou a Borboleta. 44 ---- Eu como vivo dentro do solo sei que lá tem água, sais minerais e outras coisas, mas açúcar, não. Bem que eu gostaria que tivesse um docinho, comentou a Minhoca. ---- Calma, calma, pois até agora ninguém me deixou falar sobre a pesquisa que eu fiz: bom, aqui neste livro está escrito que as plantas necessitam da luz solar, pois ela tem energia. Hum... mas o resto eu não estou conseguindo entender... me ajudem, eu vou ler exatamente como está escrito: 45 “Os vegetais necessitam da luz solar para realizarem a fotossíntese, que é a síntese de substâncias orgânicas mediante a fixação do gás carbônico do ar através da radiação solar.” ---- Entenderam tudo? --- NÃO! exclamaram todos. 46 --- Vocês são muito apressados e querem saber tudo de uma vez, assim ninguém aprende nada. Para entender essa tal de “fotossíntese”, primeiro temos que lembrar tudo o que já sabemos sobre as plantas, disse a Baleia calmamente, assemelhando-se muito com a professora de Felipe. Todos queriam falar ao mesmo tempo, e a Baleia foi logo tratando de organizar a discussão. --- Calma, calma, cada um de uma vez. Se todos falarem ao mesmo tempo, ninguém irá entender. Vamos começar pelo Peixe, se não é 47 bem capaz de saltar da água para esganar a minhoca, se esquecendo de que ele só consegue captar oxigênio da água, pois tem como órgão respiratório as brânquias, e isso tudo poderá acabar em morte. ---- Eu sei, blublu, eu sei, blublu, que as plantas, como todos os seres vivos, necessitam respirar, blublu, e elas retiram o oxigênio da água pela superfície de suas folhas, disse o Peixe ofegante. 48 --- Ora, seu bobo, isso acontece com as plantas aquáticas, mas se você não sabe, existem também plantas que retiram o oxigênio do ar. Falou a Minhoca irritada com a arrogância do Peixe. ---- Vocês ficam brigando e se esquecem de que respiração não é apenas troca gasosa e sim produção de energia e, para que isso ocorra, todo ser vivo necessita de oxigênio e açúcar, resmunga a Borboleta. --- Se a planta é um ser vivo e, portanto, respira, produz energia, não é Borboleta? E se o solo não tem açúcar, provavelmente a 49 planta, como está escrito no livro, usa a energia do sol para produzir açúcar, que é uma substância que tem bastante energia, falou a Baleia bastante pensativa. ---- Isso mesmo, é usando a energia da luz e outros componentes que eu fabrico o açúcar e, portanto, não preciso ficar andando de um lado para o outro a procura de alimento. Tudo o que necessito eu tiro do solo e o que falta eu mesmo fabrico. Por isso sou especial, seus reles animais! --- Ah! Agora eu entendi o que é fotossíntese, exclamou Felipe. 50 --- Mas não pensem que é só isso, para entender tudo sobre fotossíntese é preciso estudar muito, mesmo porque os cientistas estão sempre descobrindo alguma coisa nova sobre ela. --- Então, conte-nos, Árvore, tudo o que você sabe, já que entre nós você é a única que realiza este processo que a princípio nos pareceu tão complicado, disse a Baleia curiosa. ---- A fotossíntese é um processo muito especial e importante para que exista vida no nosso planeta, pois além de fabricar açúcar eu 51 também fabrico oxigênio, por isso não preciso ter um órgão respiratório especial, pois o oxigênio de que necessito é produzido quando realizo a fotossíntese e, quando fabrico mais do que uso, eu solto para o ar, por isso me chamam de purificadora de ar. ---- Todo mundo sabe que não devemos destruir as plantas porque elas purificam o ar, mas por que o ser humano fala que dormir com plantas dentro de casa não é bom? perguntou a Borboleta. ---- Isto acontece porque as pessoas confundem fotossíntese com respiração, o que não é a mesma coisa. Eu vou explicar: às vezes 52 quando não tem luz suficiente, por exemplo, à noite, eu retiro oxigênio do ambiente por meio de minhas folhas para poder respirar, mas é tão pouco o que retiro que não prejudico ninguém. Fico muito irritada quando os seres humanos dizem que faz mal dormir com plantas dentro de casa, já que muitas vezes eles dormem com muitas pessoas dentro do quarto, que absorvem muito mais oxigênio e soltam muito mais gás carbônico do que eu. ---- Deixa prá lá, Árvore! É que muita gente acredita que você possa competir com elas por oxigênio e por isso julgam que faz mal dormir com plantas dentro de casa. 53 ---- E vocês acham que algum ser vivo pode parar de respirar por alguns instantes? ---- É claro que não, exclamam todos. ---- Pois é, a respiração eu realizo dia e noite, a fotossíntese só quando tem luz, não sei o porquê de tanta confusão, resmungou a Árvore. 54 ---- Oras, se fotossíntese é um processo tão importante por que não posso realizá-la? perguntou o Peixe desapontado. ----- Por acaso você é verde? Nós, as plantas, realizamos fotossínteses porque temos uma estrutura muito importante que nos ajuda, ela é chamada pelos seres humanos de clorofila e é quem nos dá essa maravilhosa cor verde, respondeu a Árvore toda orgulhosa. ---- E também fazer clorofila é uma das coisas que nos diferencia: animal de vegetal, disse a Baleia. 55 ---- Como assim? perguntou a Borboleta. ----- Seres vivos somos todos nós, mas aqueles que fazem seu alimento, não se locomovem, não têm circulação sanguínea, são diferentes e chamados pelos seres humanos de vegetais, respondeu a Baleia. ---- Ah! Vocês vivem na água, são peixes - apontando para o Peixe e para a Baleia –, a borboleta é um inseto, eu sou um anelídeo. Nós 56 somos todos diferentes apesar de sermos animais! exclamou a Minhoca. ---- Não, não. Eu sou muito parecida com os seres humanos, disse sorridente a Baleia. ---- Vá ser besta assim na China! Eu e você somos peixes e peixes vivem na água, por isso somos parecidos. ---- Não é verdade! exclamou a Baleia cinicamente. 57 ---- Uma das coisas que os diferencia é que você, Peixe, tem as brânquias como órgão respiratório, e a Baleia tem o pulmão que é igual ao dos seres humanos, explicou a Borboleta. ---- Tem dó! Como pode? Por acaso a Baleia tem nariz? perguntou indignado o Peixe. --- É claro que tenho! Olhe aqui! Eu respiro igual aos seres humanos, falou a Baleia apontando para o seu nariz. ---- E como os seres humanos respiram? perguntou o Peixe. 58 ---- Como todos os seres vivos, ao respirar produzo energia e gás carbônico. Só que retiro o oxigênio do ar pelos meus pulmões como a Baleia, respondeu Felipe. ---- A Árvore é então um vegetal, e nós somos animais. Por que os seres humanos vivem classificando tudo que encontram? perguntou a Minhoca. ----- Isso os ajuda a compreender melhor o mundo e a estudá-lo. Mas, como a classificação foi construída pelos seres humanos, está 59 sujeita a ser modificada ao longo da história, falou orgulhoso Felipe que nesse momento se lembrou da pesquisa que estava fazendo sobre a locomoção e de sua dúvida a respeito da utilidade das pernas da borboleta, afinal para que servem? E você, leitor, já descobriu? Se ainda não, ouça com atenção o que a Borboleta tem a falar: ---- Felipe, você é tão estudioso e observador, não percebeu que quando alcanço uma flor, tenho que me apoiar para conseguir sugar o néctar? São as minhas pernas que me ajudam. Sem elas, 60 minhas asas não poderiam parar de bater um só minuto. E, então, gastaria mais energia do que posso produzir. ---- Como não pensei nisso antes? Pois tudo tem uma ligação e um porquê neste mundo! Por isso quero ser cientista para descobrir cada vez mais sobre tudo, falou Felipe caminhando nas nuvens. ---- Eu, heim? Tá maluco? Quero ficar borboleteando e bem bonita! disse a Borboleta abaixando e levantando as suas asas. 61 ---- Eu também quero nadar em outras praias e bronzear todo o meu corpo, saiu nadando o Peixe. ---- Ignorantes! exclamou a Baleia, ao mesmo tempo, que pedia um livro a Felipe para continuar estudando. --- Cada um tem a sua mania... disse a Minhoca cavando um buraco na terra. ---- Humm... ficarei aqui vendo o mundo passar, espreguiçou a Árvore. 62 TRIM!!! TRIM!!! TRIM !!! 63 De Volta a Sala de Aula 64 O boné não permitia que o cabelo ficasse à mostra. Os óculos, às vezes, escorregava para a ponta do nariz, e os olhos grandes e negros brilhavam ao contar com detalhes o sonho que tivera na noite anterior, para a professora e para a classe. 65 ---- Dá até para fazer um teatro, falou Juliana para a sua colega ao lado. ---- O que você falou, Juliana? ---- Que o sonho do Felipe dá até para fazer uma peça de teatro. --- Que ideia ótima! Poderíamos apresentar na Feira de Ciências da escola, sugeriu a professora. Toda a classe aplaudiu e começaram a escolher os personagens. 66 --- Eu quero ser a Baleia! --- Eu serei a Minhoca! A confusão foi geral, e depois de muito falatório os personagens foram escolhidos. Felipe contava novamente seu sonho para a professora que registrava tudo na lousa, elaborando junto com a classe o texto de uma peça teatral. 67 A janela estava novamente aberta e por ela a brisa voltava a invadir a sala de aula bulindo nas folhas dos cadernos e nos cabelos dos alunos, mas não trazia mais consigo a pequena borboleta. 68 Agora é com Você e seus Colegas Se você gosta de fazer pesquisa como eu, faça como a minha classe que até montou uma peça de teatro de nome Da Asa da Borboleta ao Nariz da Baleia . Monte um grupo com seus colegas e crie, juntamente com a sua professora, uma atividade de ciências para fazerem juntos e depois me conte o resultado de suas descobertas, entrando em contato por intermédio do email: [email protected] 69 Abraços e até breve, Felipe. 70 Eu preciso de.... Aqui você encontrará uma lista alfabética dos conceitos apresentados neste livro. Aprofunde os seus estudos! Açúcar: Fonte de energia para o corpo. Obtido a partir de alimentos de origem vegetal. Brânquias: Órgão componente do sistema respiratório da maioria dos peixes. Formadas por filamentos ricos em vasos sanguíneos, responsáveis pelas trocas gasosas. O oxigênio necessário no processo 71 de respiração é retirado da água que após entrar pela boca dos peixes, passa pelas brânquias. Casulo: Casulo, pupa ou crisálida é uma fase do desenvolvimento de alguns insetos, como por exemplo das borboletas. Nesta fase, a larva ou lagarta fica envolta por um material parecido com seda, o que limita ou não permite a mobilidade do animal. Célula: Unidade fundamental dos seres vivos. O corpo humano é formado por trilhões de células, que se arranjam de diferentes maneiras formando os órgãos. No interior das células, ocorrem reações químicas num processo denominado metabolismo. Neste processo, os nutrientes obtidos através dos alimentos são quebrados e transformados permitindo a reprodução e o crescimento das células do corpo. 72 Circulação sanguínea: Movimento do sangue pelo corpo do animal, levando alimento e oxigênio para todas as partes do corpo e retirando as impurezas necessárias. Os insetos possuem sistema circulatório aberto, permitindo que a hemolinfa (semelhante ao sangue, que existe nos mamíferos) circule livremente em torno dos órgãos internos. Ela é na maioria dos insetos, de cor clara ou incolor, mas pode ser pigmentada de diferentes cores, como amarelo, verde ou azul. Classificação dos seres vivos: Agrupamento dos seres vivos de acordo com as características parecidas (semelhanças) que possuem. A formação destes grupos de organismos facilita o acesso às informações e o estudo da biodiversidade. Clorofila: Pigmento de cor verde, existente na maioria das plantas, responsável pela captação da energia da luz solar para a realização da fotossíntese. 73 Expirar: Saída de ar pelos pulmões durante o processo de respiração. Fotossíntese: Processo de produção de alimento efetuado pelas plantas em que convertem água e gás carbônico em matéria orgânica, utilizando a luz do sol como fonte de energia. Gás carbônico: Absorvido do ar pelas plantas, usado no processo de fotossíntese e liberado pelos animais como resultante do processo da respiração. Horário de verão: Alteração do horário de uma região do país, apenas durante uma determinada época do ano, adiantando o relógio em uma hora, no fuso horário oficial local. Isto ocorre normalmente durante o verão, quando os dias são mais longos, em função da 74 posição da Terra em relação ao Sol. O Brasil tem adotado esta prática há algum tempo como uma medida de economia de energia elétrica. Inspirar: Entrada de ar no sistema respiratório, que vai até os pulmões, onde as trocas gasosas irão ocorrer. Língua da borboleta: A língua da borboleta, chamada de espirotromba, é parte do aparelho bucal deste inseto. Ela é bem longa e quando está em repouso, fica enrolada. Ao se alimentar a borboleta estende a língua e a introduz na flor para coletar o néctar. Locomoção: Deslocamento dos animais utilizando-se para isso estruturas especializadas, evolutivamente desenvolvidas, como: flagelos, cílios, pseudópodos, nadadeiras, asas e pernas. 75 Néctar: Substância secretada pelos vegetais, cuja constituição química inclui açúcares. Normalmente o néctar é procurado por certos animais (insetos, aves e mamíferos) como fonte de água e carbohidratos, usados na produção de energia. Órgão respiratório: Componente do sistema respiratório, que associados a outras estruturas, são responsáveis pelas trocas gasosas nos animais, indispensáveis à sobrevivência das espécies. Dentro do diversificado grupo dos animais, nos peixes, encontramos brânquias (maioria) ou pulmões (poucas espécies). Nos anfíbios existem pulmões, mas a respiração também ocorre pela pele, a chamada respiração cutânea. Nos répteis, nas aves e nos mamíferos a respiração é pulmonar. Nos invertebrados, a respiração pode ser traqueal, branquial, pulmonar, cutânea, ou ocorrer por difusão dependendo do grupo em questão. 76 Oxigênio: O oxigênio respirado pelos organismos aeróbicos, é liberado pelas plantas no processo de fotissíntese e participa na conversão de nutrientes em energía para o corpo. Pulmão: Órgão respiratório responsável pelas trocas gasosas no processo de respiração. Sais minerais: Resultantes da digestão dos alimentos, importantes para o bom funcionamento do organismo. Exemplos: cálcio, ferro, fósforo, potássio, magnésio, sódio, flúor, entre outros. Sangue: É um líquido que transporta pigmentos respiratórios, nutrientes, resíduos tóxicos e hormônios pelo corpo dos animais. Nos insetos estas funções são realizadas pela hemolinfa. 77 Seres vivos: Organismos constituídos por células, que se desenvolvem, crescem, se reproduzem e respondem a estímulos do meio ambiente. Traquéias: Parte do sistema respiratório dos insetos. Conjunto de tubos ramificados preenchidos por ar, que possuem finas ramificações por todo o corpo. Responsáveis pelo transporte de oxigênio aos tecidos. Troca gasosa: Troca do gás oxigênio pelo gás carbônico nos tecidos do corpo. Efetuada pela molécula de hemoglobina. 78 As Autoras Profª. Drª. Lúcia Estevinho Guido é professora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia. Ministra as disciplinas de: Estágio de Ciências e de Biologia; Educação Ambiental; Metodologia de Ensino. Realiza pesquisa na área de Educação Ambiental com ênfase na produção e análise das imagens de natureza e na área de Biologia, Educação e Cultura. E-mail [email protected] Profª.Sônia Maria Aranha Rodrigues de Andrade é Diretora de Estudos e Pesquisa do Centro de Estudos Prospectivos de Educação e Cultura – CentrodEstudos. Consultora escolar , palestrante e professora de cursos de formação lpresenciais e a distância pelo SitEscola.com, tais como: Uma Pedagogia para Diferença; Projetos Interdisciplinares: quais os desafios; Avaliação: como desatar o nó, dentre outros. Mantém um blog do CentrodEstudos http://blog.centrodestudos.com.br. E-mail: [email protected]