(Terceira Lição) Introdução ao Sistema de Casos

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Grego Antigo − TRITON DIDAGMA (Terceira Lição)
Introdução ao Sistema de Casos Grego
Para iniciarmos nossos estudos da gramática grega propriamente dita, teremos de partir
inevitavelmente de uma explicação do sistema de casos do grego e de considerações acerca do
que corresponde a esse sistema no português, se é que algo assim existe. Costuma-se dizer que
estudar grego é, invariavelmente, estudar gramática; aos que ainda não estudaram grego ou
alguma outra língua de caso, isso ficará evidente a seguir.
Uma língua de caso é uma língua em que as funções sintáticas (que, a bem da verdade, são
também, em alguma medida, funções semânticas) dos substantivos se encontram condensadas
morfologicamente nesses mesmos substantivos. No caso do grego e das demais línguas indoeuropéias, essas funções se condensam morfologicamente como sufixos que se agregam aos
substantivos. Para explicar concretamente essa definição, formulemos o seguinte exemplo
hipotético:
Tomemos a seguinte frase:
Carlo comprou um carro.
Nessa frase, temos dois substantivos: Carlo e carro. Carlo, aqui, exerce a função sintática de
sujeito da oração; já carro desempenha a função de objeto direto da ação de comprar. Agora,
suponhamos que nossa língua pudesse marcar as funções sintáticas dos substantivos por meio de
um sufixo: digamos, o sufixo -s para a função de sujeito e o sufixo -m para a função de objeto
direto. Acrescentemos, pois, esses sufixos às palavras de nossa frase exemplar:
Carlos comprou um carrom.
Agora que temos as funções sintáticas condensadas morfologicamente em nossos substantivos,
isto é, que nossos substantivos apresentam em suas formas certas desinências que indicam suas
funções sintáticas na oração, podemos inverter a ordem dos substantivos na frase sem alterarmos
em nada o sentido da mesma, já que -s indica qual é o sujeito e -m indica qual é o objeto direto.
Assim:
Um carrom comprou Carlos. (Leia-se, portanto, Carlos comprou um carro).
Ou ainda:
Um carrom Carlos comprou.
Comprou Carlos um carrom.
Um Carlos comprou carrom. E assim por diante.
Na verdade, não seria necessário tomarmos exemplos tão arbitrários, já que existem, em
português, resquícios dos casos latinos, especificamente nos pronomes pessoais. Vejamos:
Eu comprei um carro. (Pronome pessoal subjetivo, ou pronome pessoal do caso reto).
Carlos me chamou. (Pronome pessoal objetivo direto, ou pronome pessoal do caso oblíquo).
Carlos deu um carro para mim. (Pronome pessoal objetivo indireto, ou pronome pessoal do caso
oblíquo).
Este carro é meu. (Pronome pessoal genitivo, ou possessivo).
Reparem que, nesses exemplos, de um modo geral, o referente semântico, ou o significado, dos
pronomes em itálico é o mesmo: Eu, quer dizer, uma primeira pessoa do discurso. O que muda é
apenas a função sintática desses pronomes (desconsiderando que uma função sintática também
expressa, de algum modo, uma informação semântica).
Por que, então, optei por criar exemplos hipotéticos? Porque, em primeiro lugar, esses resquícios
portugueses de caso são apenas resquícios, quer dizer, eles não são percebidos, hoje (de maneira
geral), como formas diferentes do mesmo pronome, mas como pronomes independentes. Por
isso, e porque em português as funções sintáticas são indicadas em grande parte pela posição das
palavras na frase (sendo a ordem canônica S-V-O), a mobilidade dos pronomes pessoais na frase
é reduzida, o que não é verdade para os substantivos em grego. É até possível dizer: Comprei um
carro eu − mas é bastante estranho. Ademais, usei exemplos criados arbitrariamente porque
queria exemplificar o funcionamento dos casos com substantivos, já que, em grego e nas demais
línguas indo-européias de caso, são eles sobretudo que apresentam flexão, isto é, variação, de
caso.
É exatamente assim que funciona o grego. Só que, em vez de ter apenas duas marcas
morfológicas de funções sintáticas, o grego apresenta cinco tipos de marcas. E, para complicar, o
número de funções sintáticas que podemos identificar em qualquer língua ultrapassa em muito os
cinco casos gregos (algumas línguas, como o finlandês, chegam a ter 15 casos, e outras até mais),
o que significa que cada caso grego pode expressar mais de uma função sintática. No entanto,
não seria útil estudarmos agora, em detalhes, as inúmeras funções sintáticas existentes e suas
distinções finas. Em sua Gramática Latina, o professor Napoleão Mendes de Almeida explica o
sistema de casos com base apenas em seis funções sintáticas, o que é suficiente, de maneira
geral, tanto para o latim quanto para o grego. Contudo, eu gostaria de acrescentar mais duas
funções ao nosso estudo, que são as funções condensadas no sistema de casos do sânscrito (a
língua litúrgica e sagrada da Índia).
Digamos, pois, que em uma oração se podem encontrar oito funções expressas por substantivos
(ou pronomes, ou formas nominais de verbos):
1- O sujeito
2- O vocativo
3- O objeto direto
4- O adjunto adnominal restritivo
5- O objeto indireto
6- O adjunto adverbial de instrumento (e companhia)
7- O adjunto adverbial de lugar
8- O adjunto adverbial dos demais tipos
Em sânscrito, essas oito funções são expressas pelos seguintes casos:
1- Nominativo − Sujeito (e também predicativo do sujeito)
2- Vocativo
3- Acusativo − Objeto direto
4- Genitivo − Adjunto adnominal restritivo
5- Dativo − Objeto indireto
6- Instrumental − Adjunto adverbial de instrumento (e companhia)
7- Locativo − Adjunto adverbial de lugar
8- Ablativo − Adjunto adverbial de procedência (e, em latim, dos demais tipos)
Esses oito casos representam as oito funções sintáticas mais importantes de qualquer língua, a
meu ver. No grego, porém, há apenas cinco casos, porque as funções locativa, instrumental e
ablativa são expressas por outros casos − pelo dativo e pelo genitivo, para ser mais exato; em
outras palavras, o genitivo e o dativo gregos dão conta de todos (ou quase todos) os adjuntos
adverbiais. Porém, como a função locativa, a instrumental e a ablativa são muito recorrentes e
significativas, creio que seja interessante as considerarmos separadamente dos casos pelos quais
são expressas em grego. Vejamos, portanto, a função de cada caso em mais detalhes.
Mas, antes de prosseguirmos, fica uma ressalva: todos devem entender claramente as noções de
sujeito, objeto, adjunto etc.; do contrário, será dificílimo prosseguir no estudo do grego. Não
convém, no entanto, explicar aqui, em detalhes, essas noções, já que isso nos desviaria
demasiadamente do tópico e já que, suponho, a maioria de vocês deve estar suficientemente
familiarizada com essas noções. Aos que ainda têm dificuldades com elas, portanto, recomendo o
estudo das cinco primeiras lições da Gramática Latina de Napoleão Mendes de Almeida, que é
suficientemente esclarecedora a esse respeito. Se, após estudar essas cinco lições, o aluno ainda
tiver dúvidas quanto a essas noções, peço que me escreva uma mensagem com os problemas
encontrados e tentaremos solucioná-los.
1- Nominativo − O caso do sujeito e do predicativo do sujeito
Etimologia:
Nominativo > Latim nominativus "referente a nomeação; que nomeia".
Sujeito > Latim subjectus, de sub "sob" + jacere "jogar; dispor", como tradução
do grego hypokeimenon, de hypo "sob" + keimai "colocar, dispor".
Predicativo > predicativus "referente a predicado; que predica", de prae "adiante;
antes" + dicare "afirmar; proclamar".
O nominativo é, por excelência o caso do sujeito. Quer dizer, todo substantivo que, numa oração,
exerça a função de sujeito apresentará flexão do caso nominativo (há uma exceção a essa regra,
mas depois veremos isso). Além disso, quando temos um predicado nominal e, portanto, um
predicativo do sujeito, o predicativo se encontra também no caso nominativo. Vejamos um
exemplo em português e, em seguida, sua tradução em grego, aproveitando para introduzirmos
desde logo a primeira declinação grega (veremos mais adiante o que é uma declinação):
A alma é bela. − Nessa frase, alma é o sujeito; é bela é o predicado, quer dizer, aquilo que se diz
do sujeito; e bela é o predicativo do sujeito, quer dizer, o núcleo nominal do predicado. Agora,
em grego:
h9 yuxh/ e0sti/ kalh/.
Podemos observar que yuxh/ e kalh/, que são duas palavras femininas da primeira declinação,
apresentam a mesma terminação. Ou seja, elas concordam em número (singular), gênero
(feminino) e caso (nominativo). Logo, podemos depreender daí que o sufixo de nominativo
singular é, provavelmente, -h. Mas isso é verdade apenas para as palavras da primeira
declinação. Uma declinação é um grupo de palavras cujas terminações, ou flexões, de caso são,
no geral, idênticas. Isso quer dizer que todas as palavras da primeira declinação apresentarão os
mesmos sufixos para cada um dos casos.
Uma outra observação que podemos fazer é que, até este ponto da apresentação, falávamos de
flexão de caso em substantivos. Mas kalh/ é um adjetivo. Isso indica que, em grego, os
adjetivos concordam com os substantivos não apenas em número e gênero, mas também em
caso. Porém, veremos os adjetivos em detalhes mais adiante; por hora, basta notar isso.
2- Vocativo
Etimologia: > Latim vocativus "referente a chamado", de vocare "chamar".
O vocativo é o caso da função vocativa, ou seja, da função de chamado. Em geral, usamos o
vocativo quando queremos chamar alguém ou dirigir a palavra a uma segunda pessoa do
discurso. Vejamos:
Ó deusa, a alma é bela.
A interjeição ó, embora seja pouco usada hoje, indica precisamente esse chamado ou
interpolação e não deve ser confundida com a interjeição oh!, que expressa espanto ou surpresa.
Em grego:
w} qea,/ h9 yuxh/ e0sti/ kalh/.
Vemos que a terminação de qea/, que é também uma palavra de primeira declinação, é idêntica à
de yuxh/ e kalh/. Contudo, ainda que as desinências sejam iguais para o vocativo e o
nominativo de primeira declinação, tratam-se de casos distintos, de funções sintáticas distintas.
Não há o risco de confundirmos as funções, no entanto, porque, muitas vezes, nos textos
editados, o vocativo grego se destaca do resto da frase por vir entre vírgulas e, ademais, costuma
ver acompanhado da interjeição w}. O vocativo, portanto, é um elemento de certo modo à parte
na oração e, por isso, pode vir em qualquer posição na frase.
3- Acusativo − O caso do objeto direto
Etimologia: > Latim accusativos, de ad "contra; junto a" + causari "dar como causa ou motivo",
como tradução do grego aitiatike "caso do que é causado", de aitia "causa; acusação". A
tradução mais apropriada seria, então, "causativo".
O acusativo é, por excelência, o caso do objeto direto, conquanto desempenhe em grego também
outras funções. Tomemos um exemplo em português:
A deusa ama a alma.
"Alma", aqui, é o objeto direto da ação de amar, da qual deusa é sujeito agente. Em outras
palavras, a ação de amar, iniciada no sujeito deusa, tem seu término em alma, que é,
evidentemente, o objeto da ação. Em grego:
h9 qea/ file/eiv th/n yuxh/n.
Podemos observar, com isso, que a desinência do caso acusativo singular para as palavras de
primeira declinação é -n. Assim, se quiséssemos dizer "a alma ama a deusa", bastaria que
trocássemos os sufixos das palavras em questão pelas formas apropriadas: h9 yuxh/ file/eiv
th/n qea/n. Vale lembrar também que, uma vez que as palavras se encontram no caso adequado,
sua ordem na frase é, em geral, de pouca importância.
Outra observação importante é que em português o objeto direto nunca vem acompanhado por
uma preposição; do mesmo modo, quando o acusativo grego expressa sua função primária, isto
é, a função de objeto direto, tampouco o acompanhará uma preposição. Fica, porém, a ressalva
de que nem todos os verbos que pedem complemento direto em português necessitam do mesmo
complemento em grego, e vice-versa.
Aproveitamos para introduzir também o verbo file/w, um verbo da conjugação em -w, que é a
primeira que iremos estudar. Uma conjugação é, para um verbo, algo bastante similar ao que
uma declinação é para um substantivo, adjetivo ou pronome; isto é, uma conjugação é um grupo
de verbos que são formados mais ou menos da mesma maneira e que, portanto, se comportam
mais ou menos da mesma forma. No futuro, estudaremos detidamente as peculiaridades de cada
conjugação verbal. Mas, embora conjugação e declinação sejam coisas semelhantes, não se deve
confundi-las jamais: conjugação é para verbos; declinação, para substantivos (e adjetivos e
pronomes).
4- Genitivo − O caso do adjunto adnominal restritivo
Etimologia: > Latim genitivus "que expressa posse, fonte, origem", de gignere "gerar", como
tradução do grego genike "genérico (isto é, que expressa raça ou tipo)".
Comecemos nossa explicação do genitivo com um exemplo:
A deusa ama a glória da alma.
"Da alma", aqui, tem a função de adjunto adnominal restritivo, isto é, trata-se de uma locução
adjetiva que amplia o sentido e restringe a aplicação da palavra glória. No exemplo, não falamos
de qualquer glória, mas da glória da alma, que pertence à alma. O genitivo é, então, por
excelência, o caso para indicar posse. Vejamos o mesmo exemplo em grego:
h9 qea/ file/eiv th\n do/can th=v yuxh=v.
Da tradução do exemplo, podemos depreender que a desinência de genitivo singular para a
primeira declinação é -v, acompanhado do acento circunflexo sobre a vogal precedente. Como
regra de tradução do genitivo grego, podemos adotar o seguinte preceito: todo genitivo grego, na
passagem para o português, deverá vir acompanhado da preposição de; mas, como essa
preposição tem também outras funções, nem tudo o que em português se segue à preposição de
deverá ser vertido para o grego como um genitivo.
Quem já estudou inglês e tem familiaridade com a língua já deve estar acostumado com o caso
genitivo. Em inglês, expressa-se pelo sufixo -'s, como no exemplo this is John's car. Pois bem, a
função do genitivo grego, via de regra, é precisamente a mesma. Ele agrega também outras
funções, assim como a maioria dos outros casos, mas essas funções secundárias não nos devem
ocupar agora.
5- Dativo − O caso do objeto indireto
Etimologia: > Latim dativus, de datus "dado", como tradução do grego dotike "de natureza
doadora; que dá".
O dativo é, por natureza, o caso do objeto indireto. O caso recebeu esse nome, imagino, porque
seu paradigma nos é fornecido pelo verbo dar, que é de predicação duplamente incompleta:
O marinheiro dá a rosa para a rainha.
Em outras palavras, o verbo dar exige dois objetos, um direto (rosa) e outro indireto (para a
rainha). Notem que, neste exemplo, a ação tem seu término propriamente no objeto indireto, a
rainha, que recebe o objeto direto como resultado da ação que o sujeito exerce sobre ele.
Vejamos agora um exemplo em grego:
A deusa narra o dia para a alma.
h9 qea/ e0ne/peiv th/n h9me/ran th|= yuxh|=.
Como se pode ver, a desinência de dativo singular para a primeira declinação é: um iota
subscrito, acompanhado do acento circunflexo sobre a vogal.
O dativo grego também pode expressar uma outra função bastante comum. Vejamos a seguinte
frase:
yuxh/ e0sti/ th=| qea.|=
Traduzindo essa frase literalmente, teríamos algo como "uma alma há para a deusa", ou, melhor
ainda, "há uma alma para a deusa". Esse dativo se chama dativo de posse ou de interesse.
Poderíamos traduzir essa frase, para que ficasse mais adequada ao português, por: "A deusa tem
uma alma". A idéia geral é a mesma. Posteriormente veremos outros usos do dativo de posse,
mas por hora basta essa observação.
6- Instrumental − O caso do adjunto adverbial de instrumento ou de companhia
O caso instrumental, em sânscrito, tem por excelência duas funções: de adjunto adverbial de
instrumento e de adjunto adverbial de companhia. Em grego, ambas as funções são
desempenhadas pelo uso do caso dativo. Vejamos um exemplo para cada uma dessas funções:
1) O marinheiro agrada a rainha com uma rosa.
2) O poeta louva a rainha com o marinheiro.
No exemplo 1, "com uma rosa" indica o instrumento da ação de agradar − trata-se, portanto, de
um adjunto adverbial de instrumento. Em outras palavras, a rosa é o meio pelo qual o marinheiro
agrada a rainha. Já no exemplo 2, o poeta louva a rainha em companhia do marinheiro; "com o
marinheiro", portanto, tem a função de adjunto adverbial de companhia, isto é, indica a pessoa
com quem o poeta realiza sua ação.
Como já vimos todas as desinências de caso para o singular da primeira declinação, não vejo
necessidade de fornecer e explicar, agora, um exemplo grego dessas funções, nem do locativo e
do ablativo, que vêm a seguir. Por hora, basta que vocês entendam essas funções e saibam que
elas se expressam em grego pelo dativo, no caso do adjunto adverbial de instrumento e do
adjunto adverbial de lugar, e pelo genitivo, no caso do adjunto adverbial de procedência
(ablativo).
7- Locativo − O caso do adjunto adverbial de lugar
A função locativa é, creio, bastante simples. Assim como as funções de instrumento e
companhia, expressa-se em latim essa função por meio do caso ablativo. O adjunto adverbial de
lugar indica, simplesmente, um lugar, de forma estática, sem idéia de movimento. Vejamos:
O poeta está na ilha.
Como se trata do caso dativo, a desinência é idêntica à usada nas funções instrumental e
associativa. Só temos duas coisas a observar aqui, por conseguinte: (1) como eu disse há pouco,
o locativo indica um lugar estático: o poeta está na ilha, não se dirige para lá (a idéia de
movimento para algum lugar se expressa, em grego, pelo caso acusativo); (2) o locativo grego
vem acompanhado, em geral, de alguma preposição que indica local ou posição, como e0n "em".
8- Ablativo − O caso do adjunto adverbial de procedência
Etimologia: > Latim ablativus, de ab "de, a partir de; para longe" + latus "carregado; levado".
O caso ablativo, por excelência, tem a função de adjunto adverbial de procedência; isto é, ele
indica o ponto de partida de um movimento ou ação. No grego, essa idéia de procedência,
propriamente ablativa, é expressa pelo caso genitivo e, em geral, vem acompanhada das
preposições e0k ou a0po/. Vejamos:
O poeta canta a lua a partir da terra.
"A partir da terra" expressa aqui a idéia do ablativo; quer dizer, a terra é o ponto desde o qual o
poeta canta, ou celebra, a lua. Em outras palavras, o ablativo indica o ponto de partida da ação do
poeta.
Já aprendemos a desinência do genitivo singular de primeira declinação: -v. Resta, portanto,
apenas observar que os demais tipos de adjunto adverbial, em grego, se distribuem pelos casos
dativo e genitivo, sobretudo, mas que alguns também são expressos pelo caso acusativo. Em sua
Gramática Latina, o professor Napoleão identifica os seguintes tipos de adjunto adverbial:
1) Lugar −
onde: Estou na sala (função locativa − expressa pelo dativo)
donde: O avião vai sair do campo (função ablativa − expressa pelo genitivo)
por onde: Vim pelo melhor caminho (expressa pelo acusativo)
2) Tempo −
quando: No verão os corpos se distendem (expressa pelo acusativo)
há quanto tempo: Somos assim desde crianças (expressa, se não me engano, pelo
genitivo)
3) Modo −
Não peça com tanta insistência (expressa pelo dativo ou pelo acusativo adverbial)
4) Companhia − Farei fortuna com meu irmão (função associativa − expressa pelo dativo)
5) Instrumento ou Meio − Comemos com garfo (função instrumental − expressa pelo dativo)
6) Causa − Quebrou-se por culpa do menino (expressa, se não me engano, pelo genitivo)
7) Matéria − Anel de ouro (função expressa pelo genitivo)
Há, no entanto, outros tipos de adjunto adverbial, mas esses são os principais. Além dos tipos
estudados aqui em mais detalhes, estudaremos os demais de forma mais cuidadosa no futuro. Por
hora, bastam essas indicações.
Com isso, concluímos nossa introdução ao sistema de casos grego, espero que de modo
satisfatório.
Deixo apenas um exercício para a próxima aula: vocês devem ter reparado que, em nossos
exemplos, empregamos o artigo definido feminino em diversos casos; pois bem, creio que seja
extremamente útil vermos todas as formas do artigo definido feminino e as decorarmos, porque
suas terminações correspondem, de modo geral, às desinências da primeira declinação grega.
Aprendamos, por conseguinte, a declinação desse artigo, como forma de introdução ao estudo da
primeira declinação:
Caso
Singular
Plural
Nominativo
h9
ai9
Vocativo
Acusativo
th/n
ta/v
Genitivo
th=v
tw=n
Dativo
th|=
tai=v
Obs.: Não há formas de vocativo para os artigos definidos; em geral, o vocativo se acompanha
apenas da interjeição w}.
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